terça-feira, 21 de agosto de 2007

A revolução não será televisionada

Certa vez li uma reportagem na revista Outracoisa que tinha como título “A Revolução não será televisionada”. Logo pensei, com certa tristeza, que era um sonho distante, apenas uma frase de impacto que carecia de sustância real. Linda, mas inexequível. A televisão impede qualquer revolução.

Basta ver o Araguaia, o único local onde houve um foco de resistência digno deste nome durante o regime militar. Houve lá porque não havia televisão. Quando os guerrilheiros socialistas se instalaram, ajudaram a população da forma que podiam, na construção de casas, no arado, trataram de doenças da população (havia estudantes de medicina dentre os guerrilheiros, que, aliás, eram mulheres), ajudaram na colheita, enfim, agiram como socialistas. Quando os militares chegaram, humilharam pais de família, constrangeram, ameaçaram, torturaram, mataram, enfim, agiram como militares.

Agiram tão bem como militares que muitos camponeses que sequer sabiam o que era comunismo ingressaram na guerrilha, dado o ódio angariado pelos militares pseudo-patriotas.


Ao acabar de ver os vídeos em http://br.youtube.com/watch?v=aQu8ic0WRXo&mode=related&search , que mostram como aconteceu o golpe que destituiu Hugo Chávez, vi que a frase tinha, sim, um sentido muito forte. Foi feliz quem nomeou os arquivos, porque eu nunca havia visto algo sequer semelhante em nenhum meio televisivo sobre o golpe da Venezuela.
O vídeo demora cerca de uma hora, quando tiverem tempo, aconselho imensamente que assistam. São dez vídeos (as continuações estão num quadrinho ao lado, 2/10, 3/10, etc.), que demonstram como se sucedeu um golpe de estado, fato que já aconteceu no Brasil em 64 (ano maldito) e quase aconteceu em 2005/06.


É engraçado quando leio alguns veículos “jornalísticos” daqui do Brasil acusando Chávez de ser um ditador. Muito engraçado, porque ele foi eleito democraticamente (eleição que conta com observadores internacionais que referendaram a lisura da votação, diferentemente de outra, de um certo grande país), porque seguiu estritamente a constituição do seu país ao não prorrogar a concessão de uma emissora (esta sim) sabidamente antidemocrática, sabidamente golpista, que clamou por um golpe, que apoiou de todas as formas quando foi executada esta tramoia para retirar um governo eleito pelo povo venezuelano do poder.

Ao assumir, Chávez teve a disposição de partir para o embate contra as forças econômicas constituídas, e venceu. O presidente Lula não quis fazê-lo, preferiu negociar. Não é certo o que aconteceria, não é certo que o presidente teria o apoio dos brasileiros como Chávez teve dos venezuelanos, aqui a correlação de forças é outra.

Independente do resultado, porém, acredito eu, que Lula com certeza conseguiu e conseguirá realizar uma quantidade muito menor de feitos que o seu colega venezuelano. Ao menos (provavelmente) conseguirá finalizar o seu mandato.

Até aonde as concessões valeram a pena, até onde compensava ter partido para luta, é um questionamento que não encontro resposta.

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