terça-feira, 25 de março de 2008

Em carta, Venezuela reclama que "Washington post" já chamou presidente até de palhaço

O governo da Venezuela se manifestou, por carta, contra o que definiu como "cobertura hostil" do jornal americano Washington Post em relação ao país, especialmente em editoriais. Segue a íntegra da carta, endereçada ao subeditor da página editorial, Jackson Diehl:
"Durante os últimos anos temos lhe informado sobre nossa preocupação com a cobertura hostil, distorcida e imprecisa que seu jornal tem feito da Venezuela, particularmente na página de editoriais.
Previamente comunicamos nosso alarme com respeito às reportagens pouco equilibradas sobre a Venezuela durante o período 2000-2006, as quais evidenciaram análises parciais e julgamentos falsos sobre o governo do presidente Chávez e os eventos que se desenvolveram no país. Não obstante, desde então essa tendência do Post tem piorado.No ano passado foram escritos mais editoriais sobre a Venezuela do que em anos anteriores, 98% dos quais foram negativos ou agressivos, com informação falsa ou manipulada. Por isso, nos vemos forçados a crer que o Washington Post está promovendo uma campanha contra a Venezuela e contra seu presidente eleito democraticamente, Hugo Chávez.
Durante o último ano, ao referir-se ao presidente Chávez, os editoriais do Washington Post utilizaram qualificativos como "homem de força", "autocrata", "palhaço", "errático", "déspota" e "ditador" em oito ocasiões distintas e em sete oportunidades se fez referência ao governo como "ditadura", um "regime repressivo" ou uma forma de "autoritarismo". Estes juízos não são apenas falsos, como extremamente perigosos. O governo dos Estados Unidos já se utilizou de tais classificações para justificar guerras, intervenções militares, golpes de estado e outras técnicas de mudança de regime, ao largo das últimas décadas.
Longe de ser uma ditadura, o governo do presidente Chávez tem o índice mais alto de popularidade da história contemporânea da Venezuela e ganhou três eleições presidenciais com vitórias avassaladoras, assim como outros processos eleitorais importantes, incluindo um referendo revogatório contra seu mandato em agosto de 2004, em que venceu com clara maioria de 60% a 40%.Hugo Chávez é o primeiro presidente da História da Venezuela a incluir a maioria da população pobre do país na tomada de decisões chaves e na elaboração de políticas públicas. A criação de conselhos comunitários, que governam de maneira local, e o incremento da participação dos eleitores são sinais claros de uma democracia vibrante e aberta, demonstrando assim que a Venezuela está longe de ser uma ditadura.As inexatidões e distorções da página editorial do Washington Post se estendem além da mera desqualificação do presidente Chávez. Em mais de onze ocasiões os editoriais asseguraram, de maneira falsa, que o presidente "controla os tribunais e os meios televisivos". A Venezuela tem cinco poderes autônomos entre si por mandato constitucional: Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário, Poder Eleitoral e Poder Cidadão.
Diferentemente dos Estados Unidos, em que o Poder Executivo nomeia juízes para a Suprema Corte, na Venezuela os magistrados do Tribunal Supremo são eleitos através de uma processo de seleção e votação da Assembléia Nacional. O Poder Executivo não joga nenhum papel na designação dos juízes dos tribunais. Os meios de comunicação da Venezuela continuam sendo controlados majoritariamente pelo setor privado, apesar do que afirma a página editorial do Washington Post.Da mesma forma, em outras oito ocasiões os editoriais do Washington Post fazem referência errônea ao projeto de reforma constitucional apresentado em dezembro, como se este permitisse ao presidente Chávez "governar indefinidamente" ou se convertesse em "um presidente de fato por toda a vida." A reforma constitucional buscava a supressão do limite de mandatos eleitorais, mas não das eleições. Os venezuelanos teriam mantido o direito e o dever de escolher os candidatos e de votar por eles em um processo transparente.O interessante é que o Washington Post não fez qualquer acusação similar contra o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, quando ele agiu para reformar a Constituição e permitir a sua reeleição para um segundo mandato. Uribe teve êxito em 2004 e está tentando novamente uma modificação para aspirar a um terceiro mandato. Onde estão as queixas do Washington Post contra a ditadura e o governo por toda a vida na Colômbia?
O Washington Post também manipulou e censurou gravemente as informações sobre o crescimento econômico da Venezuela. Duas vezes, publicações recentes na página editorial descreveram as medidas econômicas do governo como "políticas econômicas excêntricas e desastrosas."
Sob as políticas econômicas de Chávez a pobreza extrema alcançou seu nível mais baixo de todos os tempos: 9,4% (2007), em comparação com 42,5% em 1996. O desemprego caiu para 6,9% (2007), de 16,6% em 1998.Durante o governo Chávez o salário mínimo aumentou substancialmente, a ponto de chegar a ser um dos mais altos do mundo em desenvolvimento e houve uma significativa redução da dívida pública. Igualmente, Chávez pagou a dívida com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional e aumentou os investimentos na produção agrícola nacional.
Ainda assim, o Washington Post não reflete nenhum destes avanços positivos e progressistas. De outra parte, seus editoriais se dedicam a acusar o presidente Chávez de envolver-se em uma "corrida armamentista" (quatro vezes), "violar os direitos humanos" (três ocasiões), "facilitar/aceitar o tráfico de drogas" (seis vezes) e "promover uma agenda anti-americana" (seis vezes). O pior de tudo é que, apesar das declarações de Chávez em contrário, o Washington Post continua perpetuando o mito perigoso de que Chávez é um "antisemita", "alinhado com nações ou grupos terroristas" (nove vezes).
Sr. Diehl, o senhor deve saber que os Estados Unidos estão levando a cabo atualmente uma guerra internacional contra o terrorismo. Neste mês de março, o governo Bush já declarou de forma clara que aquelas nações associadas com, ou amistosas com Estados ou grupos terroristas podem ser objeto de uma invasão preventiva ou de uma intervenção. É esse o fim que se busca na Venezuela?
O editorial de 15 de fevereiro de 2008, "O blefe de Chávez", vai um passo além. A peça é uma convocação pura e simples a um boicote do petróleo venezuelano, uma ato que afetaria irremediavelmente tanto ao povo da Venezuela quanto ao povo dos Estados Unidos. Através dos aplausos do Washington Post às táticas mafiosas de uma das corporações mais ricas do mundo, a Exxon Mobil, é evidente que sua lealdade é com os lucros corporativos, acima dos direitos do povo.
Seu mais recente editrorial, de 5 de março de 2008, "Aliados do terrorismo", mais que uma mera crítica às políticas do presidente Chávez é uma ameaça ao povo da Venezuela. Ao aceitar a priori - sem qualquer investigação ou verificação - documentos que se diz foram encontrados em um computador que teria pertencido a Raúl Reyes, das FARC, o Washington Post imprudentemente condena a Venezuela e o Equador como nações que promovem e protegem o terrorismo e justifica a violadora, injuriosa e perigosa doutrina Bush dos tempos modernos: a guerra preventiva.
Ao comparar a violação da soberania do Equador pela Colômbia com o ataque dos Estados Unidos à Al Qaeda, o Washington Post penosamente apóia a mais irracional das guerras da História e faz um chamado para que ela se expanda pela América Latina. Achamos extremamnente preocupante a defesa da violação da soberania do Equador e a satisfação que vocês demonstram com essas táticas agressivas e ilegais, acompanhadas da advertência de que a Venezuela é um "perigo".
Estamos indignados com o conteúdo da página editorial do Washington Post sobre a Venezuela. O Post foi um bastião da genuína reportagem investigativa e da busca da verdade. Esses dias acabaram e o Washington Post converteu-se agora em nada mais que um tablóide que serve aos interesses especiais. Os nobres princípios que Eugene Meyer imaginou para o Washington Post em 1935, que incluiam "dizer a verdade tão próxima da verdade que pode ser confirmada", "dizer TODA a verdade tanto quanto se possa, nos assuntos importantes para a América e o mundo" e "o jornal não será aliado de nenhum interesse especial, mas será justo, livre e sadio em suas perspectivas sobre os assuntos e as pessoas públicas" foram violados por editores como o senhor Diehl, que escolheu promover uma agenda pessoal nociva em vez de assegurar a grandeza de seu jornal."

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