terça-feira, 10 de junho de 2008

Rosa dos Ventos - por Maurício Dias (Cartacapital)

A contestação da soberania brasileira sobre a Amazônia não é recente. Declarações feitas por influentes personalidades mundiais, nas duas últimas décadas, dão o tom das pressões. Abaixo uma amostra:

1. “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós.” (Al Gore, como vice-presidente dos EUA)

2. “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia.” (François Mitterrand, como presidente da França)

3. “As campanhas ecológicas internacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa que pode definitivamente ensejar intervenções militares diretas sobre a região.” (John Major, como primeiro-ministro da Grã-Bretanha)

4. “O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes.” (Mikhail Gorbachev, como presidente da extinta União Soviética)

5. “Os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão de montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus intentos.” (Henri Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA)

6. “Atualmente avançamos em uma ampla gama de políticas, negociações e tratados de colaboração com programas das Nações Unidas (...) e crescente participação da CIA em atividades de inteligência ambiental.” (Madeleine Albright, como secretária de Estado dos EUA)

7. “Caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que ponha em risco o meio ambiente dos Estados Unidos, temos de estar prontos para interromper este processo imediatamente.” (general Patrick Hughes, ex-chefe do Órgão Central de Informações das Forças Armadas dos EUA)

8. “A Amazônia e as outras florestas tropicais do planeta deveriam ser consideradas bens públicos mundiais e submetidas à gestão coletiva, ou seja, gestão de comunidades internacionais.” (Pascal Lamy, como Comissário da União Européia na ONU)

9. “Essa parte do Brasil (Amazônia) é muito importante para deixar para os brasileiros. Se perdermos as florestas, perderemos a luta contra o aquecimento global.” (The Independent/editorial)

10. “O que uns vêem como a salvação da soberania pode ser a destruição da floresta (...) as restrições refletem um debate maior sobre os direitos à soberania versus patrimônio do mundo.” (The New York Times/editorial) Como se sabe, essa gente é capaz. Capaz de tudo.


O Brasil e as Farc

A oposição tenta, sem sucesso, criar um caso a partir de supostas relações entre autoridades brasileiras e Olivério Medina, um representante informal das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Embora não apresente credenciais da função, Medina transita por aqui desde 1997, desenvolvendo ações políticas com a finalidade de conseguir adesão à tese de que as Farc são uma “força beligerante”.

Os primeiros contatos de Medina foram feitos no Congresso, em 1998, já no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A oposição de hoje, PSDB e PFL (atual DEM), era a situação. Na edição de 15/11/1998, a Folha de S.Paulo registrou que os primeiros parlamentares com os quais o representante das Farc esteve foram os deputados tucanos Tuga Angerami e Arthur Virgílio.

Ninguém lançou sobre FHC a suspeita de transacionar clandestinamente com as Farc. Mas a suspeita pesa sobre Lula, pelo simples fato de o atual governo executar uma política externa não-alinhada com os americanos como era no governo passado.

O ministro Celso Amorim deu de cara com esse contraste político quando esteve na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Senadores da oposição queriam saber por que o Brasil não incluía as Farc na categoria de “grupo terrorista”. Amorim explicou que o único país a usar esse critério de classificação são os EUA. Todos os outros acompanham as resoluções da ONU. Por isso, só a Al-Qaeda é considerada oficialmente, pelo Brasil, como uma “organização terrorista”.

Nem por isso, no entanto, o País apóia as ações de seqüestro das Farc.

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Cena brasileira
O registro da morte de um motorista de ônibus na primeira página do jornal O Globo, há 50 anos, mostra uma mudança radical ocorrida no País nas últimas cinco décadas.

O aumento da violência matou a sensibilidade da imprensa.

Batalha Naval
Está duríssima a luta pelo controle da diretoria de Planejamento da Secretaria Especial de Portos. De um lado, o deputado Marcio França, do outro, a ex-deputada Telma de Souza. Defendem interesses divergentes.

Marcio, do PSB paulista, tem forte influência no setor marítimo. Telma é da turma com trânsito informal com o banqueiro Daniel Dantas. Integra a ala informal petista chamada de PT do D.

Em jogo, a concessão, sem licitação, de um terminal de veículos à Santos Brasil, empresa do Opportunity, controlada por Dantas.

Telma quer Fabrício Pierdomênico, na secretaria. Um legionário da causa de mandar a licitação para o espaço.


A sonoridade do não
Raimundo Moreira, pré-candidato do PRB à prefeitura de Salvador, renunciou à disputa para apoiar o nome de ACM Neto, do DEM, embora liderasse as pesquisas de intenção de voto.

Ele era ambicionado pelo PSDB. Os tucanos garantem que o acordo envolveu do apoio do DEM ao senador Marcelo Crivella, do PRB, num provável segundo turno na eleição para a prefeitura carioca.

Perguntado por e-mail, escrito em “Arial tamanho 10”, se havia o acordo, o prefeito Cesar Maia respondeu em “Arial tamanho 24”: “Não!”

Meio ambiente
A exposição excessiva à luz dos flashes pode levar uma nova espécie para a lista oficial de animais em extinção.

Trata-se do “Minc-leão-dourado”.

Revés (1)
O prefeito do Rio, Cesar Maia, sofreu duas derrotas judiciais recentes.

Alguns empresários, que, segundo o alcaide, “só olham para o lucro”, conseguiram liminares contra a proibição do cigarro em qualquer ambiente fechado e a circulação de caminhões em horários de rush.

Pode-se suspeitar que o prefeito tenha sido movido pela proximidade das eleições municipais. Ele precisa resgatar o eleitorado que perdeu na zona sul da cidade, alvo principal das duas medidas.

A decisão, de qualquer forma, foi pior para a população. Mas essa não parece ser a causa que norteia certas decisões da Justiça.

Revés (2)
Quanto à liberação do cigarro, resguardados os direitos dos ex-fumantes e dos não-fumantes, melhor é adotar o lema que norteava o resmungado do cronista Rubem Braga: “Quem quiser fumar que se fume”.

Onde há fumaça...
O Ministério Público Federal, em Brasília, recebeu denúncia sobre possível malversação de verbas na Previ, a poderosa caixa de previdência dos funcionários do Banco do Brasil.

Na mira da investigação está a venda das ações da Inepar, a partir de uma desmobilização da totalidade da carteira na empresa.

O responsável por essa operação de venda já foi substituído em ato preventivo.

Dialética da conciliação
Ainda não há vencedor, no PT mineiro, em relação ao acordo com o PSDB para a eleição municipal em Belo Horizonte.

É um combate travado em silêncio entre o prefeito Fernando Pimentel e o ministro Patrus Ananias, contrário à aliança.

Em minoria no Diretório Nacional, e para evitar um veto formal à aliança, Pimentel comprometeu-se a costurar uma coligação informal.

Ficou parecendo que o prefeito perdeu. Mas as soluções mineiras nem sempre são o que parecem.

Nesse caso, o PT ficou fingindo, fingindo que não deixou.

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