sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Em causa própria - por Luis Nassif

No Valor de hoje, o colunista Cristiano Romero trata de artigo de André Lara Rezende sobre a crise bancária.
Considera o artigo “brilhante”. Aliás, é curioso o fascínio que André exerce sobre o jornalismo. Passou bom tempo incumbido de encontrar uma saída para a Previdência Social. Uma jornalista do Estadão chegou a escrever que ninguém sabia nada sobre a proposta de André, apenas, que era brilhante. Não era. Pretendia resolver a questão da Previdência com ativos estatais - idéia do Plano K, do início dos anos 90, que ele próprio ajudou a torpedear. Detalhe: não havia mais estatais para garantir o "funding" do fundo previdenciário.
Romero certamente se impressionou com o texto preciso e o raciocínio lógico de André. Na hora de escrever seu artigo, no entanto, cumpriu o papel que lhe cabe: deixar as firulas de lado e concentrar-se nas idéias.
E o que emerge das idéias de André? Muito pouco. Apenas que a crise é profunda, não há mais viabilidade para bancos de investimentos e fundos de investimento. E que o governo tem dois caminhos para trilhar: fortalecer o setor privado ou o estatal.
No setor privado não haverá riscos de prejuízos futuros. No setor estatal, certamente haverá riscos de bilhões de prejuízos no futuro. É tudo.
Algumas observações:
1. André não é homem público, no sentido de pensar o que é melhor para o país. É um especialista em adaptar políticas públicas a seus interesses privados. É importante ter isso em mente antes de analisar qualquer proposta dele.
2. Foi um dos ideólogos da política monetária do início do Real, que lhe garantiu fortuna considerável. O preço foi a quebra do setor público e as sementes de uma crise bancária enorme que, mais tarde, custou bilhões do Proer. Além do nascimento de uma dívida pública que significou a maior transferência de riqueza da história do país para os gestores financeiros – dentre os quais, ele foi um dos mais bem sucedidos.
3. As sucessivas crises financeiras afetaram bancos privados e públicos e a culpa foi da falta de regulação e falta de transparência do Banco Central e dos demonstrativos de mercado.
4. Ele foi um dos economistas que impediu a transformação das empresas estatais em empresas públicas – isto é, com capital pulverizado em mercado e controladas pelos chamados fundos sociais. Em vez de empresas com governança, ajudando a consolidar um mercado de capitais modernos, teve-se, por exemplo, empresas adquiridas por Daniel Dantas. E ainda pretende se apresentar como um defensor do mercado. Só se for o mercado de favores.
Conclusão: já enriqueceu, já pode viajar levando cavalos de raça em aviões. Poderia poupar o país de outras jogadas lobísticas.

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