terça-feira, 27 de outubro de 2009

Com ciúme de si mesmo, Serra cria internet pedagiada - Bye, bye, Serra

http://byebyeserra.wordpress.com/2009/10/26/com-ciume-de-si-mesmo-serra-cria-internet-pedagiada/

Nova obra de Serra, a transposição do rio Tietê - Bye, bye, Serra

http://byebyeserra.wordpress.com/2009/10/22/nova-obra-de-serra-a-transposicao-do-rio-tiete/

A oposição abandonou o barco da mídia - por Luis Nassif

Um dos fenômenos mais ridículos dessa longa noite de insanidade política dos últimos anos, foi a terceirização da política pelo PSDB (clique aqui para ler post sobre o tema).
Aqui analisei esse fenômeno, que é facilmente explicável:
José Serra assumiu a herança de FHC. Juntos, vieram colunistas políticos e econômicos adeptos da internacionalização, do suposto papel civilizatória dos mercados, do racionalismo vesgo contra qualquer forma de gastos sociais, tendo como tacape um iPod que repetia mantras, slogans e refrões. Jamais conseguiram entender o pais como um todo, composto de mercados eficientes, sim, mas também de políticas públicas, políticas sociais, indústria, agricultura, movimentos sociais.
As idéias de Serra não batiam com o reducionismo deles. Em vez de cumprir o papel de líder, convencendo-os de que os tempos mudaram, de que esse neoliberalismo exacerbado era coisa velha até para os mercadistas empedernidos, que política e política econômica são feitas com pragmatismo e não com ideologização de porta de banco de investimento, o neo-Serra decidiu não entrar em nenhuma dividida. E se eximiu da função básica de qualquer candidato a líder: fornecer o fio condutor das idéias capaz de organizar o discurso de seus liderados.
Com o campo das idéias em aberto, sem ninguém para os coordenar, a comitiva midiática desembestou. Imersos em um ataque continuado de megalomania, colunistas se viram como os novos heróis da civilização cristã ocidental, que fez com que as meninas daqui, colunistas culturais e de variedades dali, colunistas políticos e econômicos, até cronistas de costumes, poetas e produtores musicais do eixo Paulista-Ipanema se transmudassem em condutores de povos. Disseminando o quê? Slogans, preconceitos e fel.
Imagino meus amigos colunistas políticos e econômicos em um palanque lavando as mãos com álcool depois de cumprimentar qualquer um do “povo” – aliás, único ponto em comum com Serra. Só o fato de se lembrarem que um dia foram povo já os deixa com crises existenciais profundas. E foram eles que passaram a “ensinar” ao PSDB como falar para o povo e como falar para a elite.
No continente, todas as políticas neoliberais geraram derrotas políticas estrondosas e o advento de governos populares (como Lula), ou populistas (como Chávez). No campo popular, essa insensibilidade sepultou partidos e governantes. No campo dos conceitos, o neoliberalismo virou pó com a eclosão da crise. E nossos condutores de povos, conhecendo apenas o ambiente restrito e auto-referenciado de suas fontes, pretendendo orientar a oposição sobre como se comunicar com o Brasil. Mal conhecendo a Avenida Paulista e o Itaim, queriam expelir regras para o país. O Brasil se tornou o museu da cera desse neoliberalismo de orelha de livro.
Agora, caiu a ficha da oposição. E as meninas, impossíveis, passam a puxar a orelha de todo mundo, do governador A, que teve um gesto de gentileza aqui; do B, que compareceu a uma cerimônia com Lula ali; do C, que não xingou o Judas do presidente acolá.
A oposição abandonou os condutores de slogans. Porém, tarde demais para reconstruir seu discurso político.
O grande desafio, daqui para frente, será a construção de uma nova oposição, provavelmente de centro-direita – elemento fundamental para o aprimoramento das instituições nacionais. A atual, morreu. Ou melhor, suicidou-se.

Comentário meu:
Não acho que a oposição tenha abandonado a mídia. Não a interessa isto, a despeito da licenciosidade moral de tal escolha.

Serra cria o mensalão da banda lerda - Bye, bye, Serra

http://byebyeserra.wordpress.com/2009/10/16/serra-cria-o-mensalao-da-banda-larga/

Para enfrentar a bolha especulativa - blog do Nassif

Há dois movimentos explicando essa imensa euforia com o Brasil.
O primeiro, baseado nos fundamentos da economia, na constatação de que o Brasil foi o primeiro país a sair da crise.
Em cima desse movimento, há um segundo, que é o de manada, a bolha de capitais especulativos inflando a Bolsa de Valores e rebaixando o câmbio.
É um movimento óbvio, percebido até pelos pais da ortodoxia neoliberal dos anos 90 – como John Williamson, no artigo abaixo, homem que escreveu os mandamentos do “consenso de Washington”. Por aqui, diretores do Banco Central agem irresponsavelmente, com entrevistas em off, visando alimentar essa bolha.
A decisão da Fazenda – de impor o IOF – está sendo defendida por todos os analistas e jornais sérios de outros países. A autoridade reguladora brasileira joga contra. E o presidente do BC, Henrique Meirelles, mostra que é e sempre foi conduzido por sua tropa.
FMI deveria ajudar o Brasil a enfrentar fluxo de capitais

Da Folha

Mundo precisa de uma abordagem menos doutrinária sobre capital estrangeiro, e discutir o IOF sobre remessas sinalizaria que o Fundo pode facilitar essa mudança

ARVIND SUBRAMANIAN
JOHN WILLIAMSON
DO “FINANCIAL TIMES”

A ação brasileira ao impor um tributo sobre certas formas de fluxo de capital estrangeiro, a fim de controlar a alta da moeda do país, tem grande importância, prática e simbólica.
O valor simbólico está no fato de que a decisão sinaliza o fim da era em que os mercados emergentes viviam enamorados dos financiamentos estrangeiros e na expressão de uma disposição de agir para moderar fluxos de capital externo. Em termos práticos, a importância está na ampliação do arsenal de que os países podem dispor para moderar o superaquecimento de suas economias. O caso serve como boa ilustração do tipo de medida que as autoridades econômicas podem usar para deter um superaquecimento incipiente nos preços dos ativos.
A resposta do FMI (Fundo Monetário Internacional) à medida foi cálida ou até ligeiramente negativa. Um importante dirigente da instituição afirmou que “esse tipo de imposto oferece alguma margem de manobra, mas nem tanto, e por isso os governos não deveriam se sentir tentados a postergar ajustes mais fundamentais. Em segundo lugar, implementar esse tipo de taxa é muito complexo, porque ela precisa ser aplicada a todos os possíveis instrumentos financeiros”; ele acrescentou que esse tipo de imposto se havia provado “poroso” em diversos países.
A resposta é decepcionante não porque esteja errada, mas porque reflete que a abordagem intelectual do FMI quanto à globalização das finanças continua a mesma. Essa abordagem sempre envolveu desaprovação implícita a esse tipo de medida, por meio de apelos aos países para que tomem medidas complementares (melhor governança empresarial, reforço de regulamentações financeiras etc.), a fim de preservar influxos estrangeiros, que o FMI vê como sacrossantos.
Para os países de mercado emergente, o problema vem sendo o de que nem sempre é fácil implementar medidas como essas em curto prazo, de modo que a questão prática premente do que fazer quanto aos influxos excessivos persiste, e não há muita orientação do FMI quanto a respostas.
Taxas sobre os fluxos de capital têm seus problemas, mas isso não é argumento contra elas. Nenhuma pessoa sensata acredita que taxas não devam ser impostas porque podem ser, e serão, sonegadas. Em lugar disso, seria necessário procurar as melhores maneiras de ordenar essas medidas (a base deveria ser o preço ou a quantidade?
Que espécie de influxo deve ser visado preferencialmente, para títulos de dívida ou de capital? Qual é a duração mais efetiva para essas limitações? Quando elas devem ser retiradas?), de modo a que os benefícios sejam maximizados, e os riscos, minimizados.
Em lugar de continuar recebendo medidas como essa com um banho de água fria, o FMI deveria considerar que elas oferecem uma oportunidade intelectual. Deveria continuar a apoiar os países em sua busca de fluxos de capital mais abertos, como objetivo estrutural, de longo prazo. Mas também é preciso que reconheça que surtos de alta no fluxo de capitais podem representar um sério desafio macroeconômico, capaz de requerer resposta cíclica diferenciada.
Para os mercados emergentes, o arsenal de medidas de política econômica contra crises futuras precisa abarcar medidas de restrição em forma contracíclica do crescimento de crédito e do endividamento, especialmente as altas no influxo de capital. O motivo mais importante para que o FMI leve a sério a medida tomada pelo Brasil se refere a ideologia e narrativa.
Se a crise mundial deriva, em parte, de um sistema de crenças que elevava de maneira indevida o status das finanças, o FMI contribuiu, de forma explícita ou implícita, para que fosse santificado o capital estrangeiro. Isso impôs um custo pesado, e subestimado, aos países de mercado emergente: caso tomassem medidas de restrição ao fluxo de capital, corriam o risco de ser vistos como avessos ao livre mercado e imprudentes em suas políticas econômicas.
Ao reconhecer que, em certos casos, limitações sensatas aos fluxos podem ser uma resposta de política econômica pragmática e razoável, o Fundo eliminaria o estigma de aversão ao livre mercado que ações como as empreendidas pelo Brasil correm o risco de sofrer.
De fato, o medo desse estigma fica evidente na recente medida brasileira: as magnitudes são pequenas, e o Brasil vem se esforçando por enfatizar a natureza temporária das limitações e as duas coisas fazem com que o mercado leve a medida menos a sério, o que prejudica sua eficiência.
Caso o estigma não existisse, o imposto sobre o fluxo poderia ter sido definido de forma melhor e aplicado com mais confiança, a fim de garantir sua efetividade. O mundo precisa de uma abordagem menos doutrinária quanto aos influxos de capital estrangeiro. Ajudar o Brasil em sua decisão, em lugar de divulgar uma resposta negativa, sinalizaria que o FMI está desempenhando papel construtivo para facilitar essa mudança.

ARVIND SUBRAMANIAN e JOHN WILLIAMSON são pesquisadores sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Roberto Freire e a virtude da gratidão - bye, bye, Serra

http://byebyeserra.wordpress.com/2009/09/11/roberto-freire-e-a-virtude-da-gratidao/

A casa da Mãe Joana do Banco Central - por Luis Nassif

No final do ano passado, em pleno burburinho da crise, um diretor do Banco Central deu uma entrevista em “off” alertando que, se a Fazenda decidisse tomar qualquer medida para conter fluxos de capital, a diretoria do banco se demitiria em bloco.
Na ocasião, sugeri que a Polícia Federal abrisse um inquérito e processasse o irresponsável que se escondia atrás do sigilo de fonte para cometer essas irresponsabilidades.
O BC atua em área de alta sensibilidade a notícias e a boatos. Exige de seus diretores maturidade, responsabilidade, espírito público. Mas não ocorre. A extrema auto-suficiência do banco acabou consolidando em sucessivos diretores a idéia de que só devem prestar contas ao mercado.
***
Meses atrás, quando o BC foi instado a compor reservas para reduzir a volatilidade do dólar, outra declaração irresponsável, desta vez do diretor Mário Torós em “on”, afirmando que a compra de reservas não segurava a queda do dólar, praticamente induzindo o mercado a apostar na manutenção da queda do dólar.
***
As atas do Copom (Comitê de Política Monetária) são outra forma de indução do mercado, não para reduzir mas para manter os juros elevados. A última apontou riscos inflacionários possíveis, mas não prováveis, para o próximo ano. Não há nenhuma garantia, nenhuma certeza, apenas a análise da evolução da demanda, sem levar em conta o impacto antiinflacionário das tarifas, do câmbio. Simples assim. No momento seguinte, o mercado estava apostando em inflação maior. Hoje, a pesquisa Focus indicava que o mercado “aposta” na inflação de 2010 batendo no centro da meta.
Não existe rigor científico, modelitos, planilhas que justifiquem essa aposta. No fundo, o que o mercado faz apenas é apostar em qual será o cenário em que o BC aposta. É o próprio banco induzindo a uma alta nas expectativas de inflação para justificar a manutenção ou elevação dos juros.
***
Não se fica nisso. Na semana passada, em duas matérias no “Valor Econômico”, o misterioso diretor em “off” – que é o Torós ou o Mário Mesquita – valentemente (porque protegido pelo abuso do “off” por parte dos jornalistas entrevistadores) despejou críticas contra a introdução da cobrança de IOF sobre os investimentos externos em bolsa e na renda fixa.
Disse que haveria um desestímulo ao mercado de capitais. Mesmo que houvesse, qual a responsabilidade do BC sobre o mercado de capitais? Nenhuma. Esse irresponsável usou o nome do BC – caso contrário sua afirmação não teria nenhuma relevância – para investir contra uma decisão de governo, obrigando o próprio BC a uma nota oficial.
***
Nenhuma medida contra esses descalabros verbais continuados, contra uma indisciplina óbvia, que não seria aceita em nenhum outro escalão da República, contra um lobby escancarado de quem não entendeu os novos tempos.
A cada entrevista em “off”, a cada indução ao aumento dos juros, o país perde nas contas públicas, perde no crescimento, embaralha as exportações, embaralha a capacidade das empresas de definirem taxas de retorno de seus investimentos (já que a volatilidade do câmbio atrapalha).
Está na hora de se dar um basta nessas leviandades.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Kamel e a rota da manipulação - por Marco Aurélio

“Nós erramos em São Paulo”, admitiu o todo-poderoso chefe daquele que é considerado – e pior – alardeado pelas organizações, como o mais importante instituto de pesquisas do país. Era 2004, campanha para a prefeitura de São Paulo. Por ‘desvio metodológico’ ou ‘desvio na tabulação dos dados’ (explicações dadas à época) foi ‘impossível’ prever a arrancada de Marta Suplicy de cinco pontos percentuais – fora portanto da margem de erro da pesquisa. Essas mudanças de comportamento influenciam muito a parte dos indecisos que vota para ganhar, como já expliquei em 20/08/2009 (arquivo do blog).
A prefeita disputava a reeleição e se transformou em inimiga da elite, que a apelidou de ‘Martaxa’ (vocês já viram rico gostar de imposto? Nem eu.). Marta também deu as costas aos motoristas brancos e endinheirados das regiões centrais da cidade (um erro) e decidiu investir em infra-estrutura e ensino de qualidade para pretos e pobres da periferia (um acerto). Perdeu a eleição para Serra, com um empurrãozinho das organizações. Mas não é esse o ponto. O ponto é que, escalado para fazer a reportagem que mostrava o erro em São Paulo, estava um repórter acima de qualquer suspeita: Carlos Dorneles. Num telefonema a partir da redação, o chefe do instituto admitiu o erro. Quando Dorneles voltou da entrevista estava incomodado. O entrevistado havia mudado sua versão. Independentemente disso, sentamos e o repórter escreveu a história como deveria ser contada. Que o instituto errou em São Paulo, mas que na entrevista o chefe relativizava o erro. O texto foi submetido ao Rio, onde o Guardião da Doutrina da Fé faria uma ‘revisão’.
Quando voltou, o texto tinha sido reescrito. Mostrava todos os acertos do instituto em várias capitais do país e lá no meio, escondida, uma frase dizendo que, em São Paulo, a pesquisa não foi feliz. Quando lemos a versão recebida de volta, olhamos um para o outro e exclamamos: – Esta não é a matéria. Estava distorcida e protegia o instituto. Perguntei a ele: – O que vamos fazer? Dorneles respondeu: – Eu não vou gravar. Eu não sou pago para proteger o instituto.
Disse a ele que precisava submeter aquela decisão ao diretor de jornalismo – o tal que foi editor de texto do principal telejornal da emissora e foi afastado por incompetência, anos antes. O sujeito coçou a cabeça, leu, releu, consultou o Guardião e nos chamou. Aí exclamou:
– Mas o que é que você acha que tem que mudar?
Dorneles respondeu: – Eu não acho que tem que mudar nada. Essa não é a matéria que eu fiz e não vou gravar esse off.
O ‘diretor-editor afastado’ voltou a coçar a cabeça (quanta coçeira…) e disse para mim:
– Transforma em nota coberta. (Nota coberta é um texto mais curto, lido pelo apresentador e ilustrado pelo editor).
Talvez tenha começado aí o martírio do nosso repórter. Ao lado dele ainda viveríamos outras histórias cabeludas, que vamos relembrar aos poucos. Se pudesse dar um conselho, diria para os postulantes à próxima eleição deixarem um instituto independente, de preferência estrangeiro, na manga. E fazer pressão para o voto vir impresso da urna. Caso contrário, não sei não…

http://maureliomello.blogspot.com/2009/10/nos-erramos-em-sao-paulo-admitiu-o-todo.html#links

Manifesto em defesa do MST

http://resistir.info/brasil/manifesto_mst_out09.html

O profissional das novas mídias - por Por Rui Daher (blog do Nassif)

Nassif, tomando como fato a impossibilidade desses jornalistas deixarem de ser manipulados mudando de emprego ou algo parecido, sugere que se discuta a ampliação do mercado de trabalho, sobretudo, nas novas mídias muito menos comprometidas. Mas, como, se na internet, por exemplo, a possibilidade de remuneração é tão limitada, inexistente ou sub-avaliada?

Comentário

O mercado de trabalho está às vésperas de uma revolução. Com o fim do monopólio da notícia pela mídia, toda associação empresarial, grande empresa, partido político, sindicato, ONGs, municípios, passarão a ser geradores de notícias.
Hoje em dia eles são apenas geradores de fatos – que, para virar notícia, depende da publicação em um jornal. No novo modelo, todos produzirão notícias e haverá jornais, sites e Blogs organizadores. Para obter informação sobre o agronegócio no centro-oeste, muito melhor consultar o site de uma cooperativa de lá – desde que tenha os dados organizados e confiáveis – do que aguardar a notícia de jornal que dificilmente virá de forma correta.
O mesmo sobre a cidade do interior da Bahia, sobre a ONG da Amazônia, sobre a entidade que foi atacada pela mídia.
Os casos pioneiros da UFMG (respondendo aos ataques do Estado de Minas) e o Blog da Petrobras são apenas o início do processo.

O último dogma econômico - por Luis Nassif

O País de hoje é totalmente diferente daquele de um ano atrás. O Lula de agora nada tem a ver com o ultracauteloso e ortodoxo presidente do ano passado.
Esses cortes históricos são curiosos. Na música popular, por exemplo, o Brasil de 1930 era totalmente diferente do de 1929, mesmo sendo o mesmo. É como se um conjunto de ideias novas, conceitos novos que estavam encobertos viessem à tona.
No campo econômico, a crise acabou com inúmeros dogmas responsáveis pela anorexia econômica brasileira, por essa maluquice da opinião pública midiática entrar em pânico a cada respiro de crescimento do País.
***
Um dos dogmas era a questão do PIB potencial. Montavam-se planilhas com cenários, cruzavam-se dados para provar que, dadas as condições do momento, o País não poderia crescer mais do que alguns pontos ao ano. Ano após ano essa asneira foi sendo retificada pelos fatos. Os “cabeções” passaram a adaptar suas planilhas para níveis de crescimento maiores.
Outro dogma era o da taxa de juros de equilíbrio. Abaixo de determinado nível de taxa de juros real (descontada a inflação) as empresas passariam a remarcar preços. Uma monumental asneira, pela qual, em vez de observar o seu mercado para definir o preço – mais competição, menos preço; menos competição, mais preço –, a empresa apenas olharia inflação futura e compararia com a taxa de juros futura. Outra asneira que, embora desmentida ano a ano pelos fatos, foi mantida graças ao expediente dos cabeções de reduzir gradativamente o que entendiam como ponto de equilíbrio.
***
Entrou-se, então, no dogma do superávit nominal. No dia em que o País conseguisse cobrir até a conta de juros com superávit fiscal, as taxas de juros despencariam e o céu seria alcançado. Elas despencaram sem que se tivesse que cortar a alma para obter o equilíbrio nominal.
***
O último dogma que falta para ser superado – possivelmente só no próximo governo – é que não dá para conviver taxa de câmbio desvalorizado com controle inflacionário. É um modelo que exige taxas de juros compatíveis com as internacionais, para evitar esquemas de arbitragem de dinheiro (o investidor tomar dólares a uma taxa mais barata e entrar no País, lucrando com a taxa mais elevada e com a apreciação do real).
Quando Lula assumiu, em 2003, a economia passara por uma aguda desvalorização cambial seguida de inflação. Por volta de abril o câmbio continuava desvalorizado mas a inflação já cedia. Mesmo assim, permitiu-se a apreciação excessiva do real.
Só vai-se conferir que o câmbio desvalorizado permitirá à economia brasileira alçar voo – sem colocar em risco as metas inflacionárias – quando se conferir na prática. Só que a passagem de um modelo para outro – do câmbio apreciado para o desvalorizado – cria fricções, passageiras, mas que tiram o sono dos governantes.
Por isso mesmo, será necessário – em um ponto qualquer do futuro – mais uma visita do Sr. Crise para se demover das miragens econômicas brasileiras o último dogma que falta ser transpostos para a economia alçar voo de cruzeiro.
O imposto internacional sobre transações
Países ricos e emergentes querem criar impostos sobre transações financeiras, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento. “Decidimos criar um grupo de trabalho para definir várias opções de financiamento ao desenvolvimento, aplicadas às transações financeiras”, afirmam os 12 países fundadores do grupo – o Brasil incluso. Até maio de 2010, os países querem avaliar meios de cobrar uma taxa sobre transações financeiras.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O que Gilmar vai fazer contra as viagens de Lula? Abater o helicóptero? - por Paulo Henrique Amorim

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=20629

Comentário: FHC e Serra jamais correriam este risco, afinal de contas, não inauguravam nada – já que nada construíram.

Veja a foto que o PiG(*) quer esconder - por Paulo Henrique Amorim

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=20604

Oposição em queda - por Mauricio Dias (Cartacapital)

A eleição presidencial de 2010, a sexta que se realiza após o ciclo da ditadura, talvez seja a primeira com destaque incomum para a escolha dos representantes no Congresso que, de fato, expressa a soberania popular.

Lá, desde o fim dos anos 1990, o voto tem marcado o progressivo abandono do eleitor dos apelos dos mais tradicionais partidos conservadores, gêmeos quase univitelinos – o PSDB e DEM – em oposição a um crescimento constante das facções da esquerda, identificada com o interesse da população mais pobre. Notadamente, neste caso, o PT.

Em oito anos, o DEM, herdeiro do PFL, perdeu quase a metade dos deputados. Em 2006 elegeu 65 deputados. A perspectiva eleitoral do próximo ano afugentou mais gente do partido e ele tem, hoje, 58 representantes. Também em queda sucessiva, os tucanos saíram de 99, em 1998, para 65, em 2006. Essa fase marca a derrota dos candidatos do PSDB à Presidência, José Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006.

Os números indicam que a ênfase na eleição do Congresso não se dá especialmente por razões de ordem moral, pregada ultimamente por duvidosos arautos da ética. Talvez seja mais certo apostar na crescente identidade da população com as propostas de conteúdo mais social e de inspiração mais nacionalista.
É no confronto político travado no Congresso que a cobra fuma.

Não por acaso, o golpe de 1964 também se deu quando a composição da Câmara dos Deputados, na eleição de 1966, poderia tornar-se majoritariamente de centro-esquerda, naquela época capitaneada pelo PTB, por Jango e Brizola, sob a inspiração de Getúlio Vargas. O PTB abrigava, também, os representantes da esquerda comunista, cujos partidos ainda eram ilegais.

A mesma tendência eleitoral percebida nas eleições para a Câmara ocorre nas eleições para as prefeituras municipais. Nas últimas três competições, para a chefia dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros, tucanos e pefelistas, descem a ladeira. De nada adiantou ao PFL, que sustentava a ditadura, adotar o nome de fantasia Democratas (DEM), em 2007.

O fracasso eleitoral dos dois partidos é gritante. Ela vai da façanha eleitoral do PFL em 2000, quando conquistou mais de mil prefeituras, para o insucesso do DEM, em 2008, quando ficou com apenas 495. Porcentualmente isso expressa mais de 40%.

Para o PSDB, a perda das prefeituras é ainda maior. Em 2000, após seis anos de administração Fernando Henrique Cardoso, os tucanos se aproximaram da conquista do PFL: 989 prefeituras. Em 2008, o número baixou para 779. Queda notável. O que os aguarda em 2010?

Os dois partidos já tentaram a maquilagem e não deu certo. Agora buscam uma cirurgia plástica. Os tucanos, inspirados por Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do partido, editaram milhares de exemplares de uma revista em que invocam a autoria da legislação social de Lula. Tentativa bizarra, na velha, e não na nova, acepção do termo. O DEM, para se livrar do passado, escolheu um jovem parlamentar na presidência (o deputado Rodrigo Maia) e anunciou que quer se livrar do estigma de partido de direita. Por isso vai apregoar o compromisso de manter os programas sociais do governo petista.

PSDB e DEM vão para um processo de canibalização um ao outro na disputa de eleitores. Não há votos suficientes no País para sustentar dois partidos de direita.

::

Alianças por Dilma
O fortalecimento da base petista no Congresso para facilitar Dilma Rousseff, caso seja eleita, dificulta a montagem de palanques aliados nos estados, para 2010.
Até agora, nas contas do PT, a aliança com o PMDB é bem provável no Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Goiás e Amazonas. Em Roraima, Alagoas, Amapá e Mato Grosso, a situação não está definida, mas a tendência é a mesma. Em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, o PT será caudatário do PSB.
Na Bahia, Acre, Brasília, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Rondônia, Sergipe e Tocantins, no entanto, os candidatos petistas parecem irremovíveis.

Palanque estadual (1)
Mas as favas ainda não podem ser contadas com tanta certeza. Candidato à reeleição, em 2010, Sérgio Cabral aposta parte do seu cacife no interior.
Dispõe de 150 milhões de reais para tocar o Programa de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios (Padem), uma versão local do PAC federal. Já assinou 30 convênios, mas deixou de fora Nova Iguaçu, em clara retaliação ao prefeito petista Lindberg Farias, que insiste em disputar o governo do estado.
Esse é um dos complicadores da aliança no terceiro maior colégio eleitoral do País.

Palanque estadual (2)
Divididos entre dois ex-prefeitos de Belo Horizonte, Patrus Ananias e Fernando Pimentel, os petistas mineiros reagem à tentativa de impor ao partido o apoio à candidatura de Hélio Costa, do PMDB.
Eles argumentam que a candidatura de Costa não tem futuro. Ele já perdeu a eleição para o estado duas vezes. Em 1990, para Hélio Garcia, e, em 1994, para o tucano Eduardo Azeredo. A reação mais forte à aliança parte dos aliados de Patrus.

Casa de ferreiro...
Além dos abacaxis da política externa, o Itamaraty tem alguns outros para descascar internamente. Agentes consulares reagem ao Novo Sistema Consular Integrado, que estabeleceu punição para quem errar na emissão de passaportes.
Há 3 milhões de brasileiros no exterior e, anualmente, cerca de 10% dos passaportes perdem validade. São 300 mil novos, além dos emitidos em segunda via. O custo de um novo passaporte, que o agente passará a pagar em caso de erro, varia de acordo com a moeda do país.
Não há sinais de que a questão possa ser resolvida diplomaticamente.

Precisão suspeita
Depois de ficar sob fogo cerrado com as acusações de irregularidades nas obras do Pan, em 2007, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia vai à forra. Ele meteu o olho no valor das desapropriações para fazer o corredor viário T5 da Barra da Tijuca (zona sul) à Penha (zona norte): 544 milhões de reais, 979 mil e 99 centavos.
Diz Maia: “É a primeira vez que se cadastram imóveis a serem desapropriados em obra a ser licitada, sem se conhecer o projeto executivo da obra”. E conclui cismado: “Isso sem falar nos 99 centavos”.

O poder não cansa
Em 2007, o advogado Flavio D’Urso criou o movimento “Cansei” e levou para as ruas de São Paulo meia dúzia de militantes para fazer parte do coro de oposição a Lula. O movimento cansou, mas D’Urso parece incansável. Vai tentar, em novembro, o terceiro mandato consecutivo para a presidência da OAB paulista. E parece que leva.

Família refeita
Consolidou-se no Brasil a importância das famílias reconstituídas.
Um estudo de Rosa Ribeiro e Ana Lúcia Saboia, do IBGE, indica uma queda de casamentos entre solteiros. Em 14 anos, esse tipo de união foi reduzido em mais de 7 pontos porcentuais. O aumento de casamentos nos quais um dos cônjuges é divorciado é expressivo: entre solteiras e divorciados saiu de 3,3%, em 1991, para 6,3,% em 2005; entre divorciadas e solteiros subiu de 1,1% para 3,1%.
A nova união entre casais divorciados, que era de 0,6%, chegou a 2% no período.

::

Rio de Janeiro
A Serra o que é de Cesar

As circunstâncias tornaram o ex-prefeito carioca Cesar Maia, do DEM, a única opção real de palanque no Rio de Janeiro para o governador paulista José Serra, caso seja mesmo ele o candidato do PSDB à Presidência da República, em 2010.

Maia constrói, discretamente, a própria candidatura ao governo do estado. Com isso, pretende servir a Serra servindo ao DEM.

Com muito cuidado, ele abordou o tema no diário virtual chamado Ex-Blog, que mantém com grande audiência há alguns anos.

“Em geral, os partidos fortes e com candidatos a governador competitivos ganham duplamente o voto de legenda para seus deputados (...) Com um número de maior força para governador, os votos de legenda crescem”, escreveu.

A tradução é a seguinte: o número do partido é fundamental para eleger mais deputados e quem dá destaque a ele é o candidato majoritário, desde que competitivo. “É o meu caso”, ele deve segredar para seus botões.

Embora o DEM, no Rio de Janeiro, não seja forte – na última semana perdeu quatro deputados estaduais que migraram para outras legendas – ,- ao pontuar a força do candidato majoritário, Cesar Maia não pode deixar de se candidatar. Caso contrário, estará dizendo para os aliados: salve-se quem puder.

Ele, em caso de fracasso, mas com vitória do candidato tucano, terá garantido uma vaga ministerial.

Os demos estão em extinção - por Paulo Henrique Amorim

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=20550

Brasil será ‘a grande história’ de 2010, diz ‘Financial Times’ - por blog do Nassif

Eventos esportivos colocarão país no centro das atenções
Um artigo publicado na edição desta terça-feira do jornal Financial Times afirma que “o Brasil é a potência do século 21 a se observar”.
Assinado pelo comentarista Michael Skapinker, o artigo compara duas visões antagônicas do país – uma negativa, na qual se sobressaem problemas de violência e desigualdade social, e uma positiva, que ressalta uma economia pujante e plena de recursos naturais.
Sem tomar partido por uma das visões, o comentarista diz que o país será “a grande história do próximo ano”.
Os fundamentos de sua avaliação foram apresentados por ele em um recente encontro que reuniu jornalistas de diferentes publicações internacionais.
“O Brasil acabava de passar por uma crise financeira em boa forma. O país estava sentado em uma vasta descoberta de petróleo em alto mar. Havia testemunhado a maior abertura de capital do mercado neste ano – os US$ 8 bilhões colocados em bolsa pelo braço brasileiro do Santander. Seria também a sede de dois dos maiores eventos esportivos do mundo: a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.”
Para Skapinker, o outro lado da moeda seria a violência. “Não pude esconder certa palpitação em relação às desvantagens conhecidas do Brasil”, diz ele, citando relatos e notícias de furtos, assaltos à mão armada a sequestros.
“Não vi nada disso”, diz o comentarista, que recentemente fez sua primeira visita ao Brasil. “Mas dois dias após minha saída do país, enfrentamentos armados entre gangues rivais no Rio custaram pelo menos 14 vidas, incluindo as de três policiais mortos quando o helicóptero em que estavam foi abatido.”
Para o comentarista, “é grande crédito do Brasil que, durante vários dias de encontros e entrevistas no Rio e em São Paulo, ninguém negou que o crime violento é uma realidade no país, e pode ter um sério impacto no seu desenvolvimento”.
Já pelo lado positivo, diz Skapinker, “o Brasil é um país com imenso potencial, um povo acolhedor e diverso, excelente comida e diversas empresas de porte mundial”.
“Diferentemente da China, o Brasil não tem conflitos étnicos agudos e é uma democracia partidária. Os brasileiros reclamam da corrupção de seus políticos, mas apontam que, ao contrário dos Estados Unidos, os resultados das eleições presidenciais – a próxima é em outubro de 2010 – são anunciados rapidamente.”
O comentarista acrescenta que a riqueza petroleira, em um país que produz a maior parte de sua energia de hidrelétricas e etanol, representa um “prospecto intrigante”.
“Os brasileiros sabem que o petróleo pode ser uma maldição ou uma bênção. A maneira como empregarem sua nova riqueza determinará se o país se tornará uma força no século 21.”
O comentarista encerra o artigo retomando sua idéia inicial. “O Brasil será uma grande história – não apenas no próximo ano mas por muitos anos.”

Como o PSDB terceirizou a política (e ainda o "caso" Lina) - por blog do Nassif

Continua a piada pronta.
Segundo matéria da Folha, a Casa Civil informa que na hora da tal reunião com Lina Vieira ela, Dilma, estava com o presidente da República e não participou de reunião alguma. Lina diz, em depoimento no Senado, que não houve reunião em 9 de outubro porque estava em São Paulo. Ambas – casa Civil e Lina (no Senado) informam que houve reunião na Casa Civil para tratar do tal encontro dos CEOs.
E, depois de pesar todos os elementos, o ponderado senador Arthur Virgílio encerra o samba do crioulo doido com uma frase lapidar:
“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).
Desde que a agenda política passou a ser comandada pelas manchetes do circuito Folha-Veja-Globo, a oposição só afunda. Criou-se um mundo virtual totalmente dissociado da realidade, auto-referenciado, sem auto-crítica, com esse nível de “provas novas e irrefutáveis”.
Esse fenômeno ainda há de ser estudado e, no futuro, considerado o maior engano de comunicação já produzido por uma liderança política no país: José Serra, o homem que terceirizou a estratégia política para os jornais.
O que está por trás dessa imprudência é o seguinte.
No mano-a-mano, a oposição perde a batalha da comunicação para Lula. Decide, então, curvar-se a essa realidade, deixa de lado o “feeling” político próprio – por não confiar nele – e terceiriza a estratégia comunicação para quem presumivelmente entende e comanda o processo: a mídia. Assim, a parte mais sensível de uma campanha política, a formação da imagem e das ideias, é substituída pelo exercício fácil de atender às demandas da mídia e deixar o trabalho por sua conta e risco. Só não entendeu que a demanda da mídia é distinta da agenda política. A lógica da mídia é imediatista. Em outros países, pode atuar como formadora de opinião, mas sempre comandada por ideias que emanam de partidos políticos.
Sem o fio condutor das ideias, a mídia desandou. No Brasil, aliás, há muitos e muitos anos a única ferramente de que dispõe é a escandalização. Não existe estratégia sequer para coberturas continuadas. Vive-se da mão para a boca, publicando amanhã a mera suspeita que foi aventada hoje e será repercutida depois de amanhã.
Antes, os estrategistas políticos eram pessoas como Tancredo Neves, Tales Ramalho, Ulisses.No campo das ideias, economistas, intelectuais, entre os quais o próprio Serra.
Na era Serra foram substituídos pelo Ali Kamel (!), Merval (!), o Otavinho (!), o Roberto Civita (!), as colunistas políticas – que diariamente mandam orientações à oposição sobre como proceder, dão broncas quando acham que a oposição está desanimando, passam pito, ordenam isso e aquilo. E as lideranças aceitam de cabeça baixa, entram em todas as geladas que esse processo desembestado gera, criam até CPI da Petrobras e, depois que a empresa lança uma monumental campanha midiática, ficam órfãs, sem saber porque a mídia se desinteressou pelo tema, depois de obrigá-las a entrar na fria.
Além disso, à falta de ideias condutoras, da capacidade de compreensão do processo político, da incapacidade de discutir propostas ou modelos de país (porque exige ir além dos slogans e porque não faz parte da lógica midiática), a mídia brasileira adotou a agenda neocon – um modismo norte-americano, minoritário até nos EUA que, no caso brasileiro, vinha pronto e embalado (criado pelo brilhantismo obcecado de Olavo de Carvalho e repetido por meia dúzia de papagaios). Um discurso restrito, de pouca ressonância, tornou-se hegemônico na mídia. E, pior: não por convicção, como em Olavo, mas por visão míope de mercado.
Não é mais a política comandando o discurso – como ocorreu com o PMDB de Ulisses, com o próprio Collor, até com o mercadismo de FHC. São as criaturas de FHC colocadas num liquidificador, resultando em um monstrengo ideológico, misturando neoliberalismo + pensamento neocon + intolerância + estilo esgoto de agressividade. Pior: condicionando o discurso político do herdeiro de seu criador, Serra.
Como a mídia, seguramente, não estava à altura do desafio de pensar programaticamente – e nem poderia estar, porque a lógica dos jornais é outra – criou-se essa mixórdia visceral, um debate circular em torno de Honduras, FARCs, cotas raciais, Venezuela, erros de português do Lula, Honduras, Bolsa Familia, Foro de São Paulo, FARCs, Moralez, erros de português do Lula, Honduras, Cuba, Fidel… Meu Deus! Essa temática só existe na cabeça deles e de leitores influenciáveis (e sem nenhuma relevância). Não há um ambiente minimamente esclarecido – seja entre empresários, intelectuais, classe média esclarecida, classes populares – que tenha saco para entrar nesse jogo.
Serra conseguiu transformar um partido que já representou esperança de mudança do país em sucursal da mídia. Não de um New York Times, mas da Veja.
Dá para entender sua diferença do, por exemplo, neto do Tancredo Neves? É a política, estúpido!, diriam os estrategistas de Obama.
Da Folha

Dilma volta a negar encontro com Lina e dá caso por encerrado

Afirmação foi feita após a ex-secretária da Receita ter dito que localizou a agenda com o registro do suposto encontro
Casa Civil admite ida de Lina ao ministério em 9.out.08, mas diz que reunião foi com secretária-executiva; Dilma estaria com Lula nesse dia
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
VERIDIANA RIBEIRO
ENVIADOS ESPECIAIS A ARARAQUARA E SÃO CARLOS (SP)
Ao término de mais um ato com todos os ingredientes de pré-campanha eleitoral, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse ontem, em Araraquara (SP), que dá por encerrado o caso Lina Vieira, apesar de a ex-secretária da Receita Federal afirmar ter encontrado a agenda na qual consta o registro do suposto encontro entre as duas no Palácio do Planalto, em 9 de outubro do ano passado.
“Repito e reitero: não tive reunião privada com a ex-secretária. Acredito que o processo esteja encerrado desde o depoimento dela no Congresso.”
A agenda reforça o relato que Lina fez à Folha em agosto, quando afirmou que Dilma havia solicitado o encontro para encaminhar o que a ex-secretária interpretou como uma ordem para encerrar logo auditoria sobre os negócios da família do senador José Sarney (PMDB-AP). Ordem que Lina afirma não ter acatado.
Ontem, a Casa Civil informou que a ministra não se encontrou com a Lina no dia 9 de outubro. Segundo a assessoria de Dilma, Lina esteve na Casa Civil naquele dia, pela manhã, para reunião com a secretária-executiva, Erenice Guerra, e com o coordenador do Fórum de CEOs, Alessandro Teixeira.
Na tarde do dia 9, a ministra viajou para São Paulo. A Casa Civil diz que no encontro de Lina com Erenice e Teixeira se tratou exclusivamente de assuntos relacionados ao fórum. Dilma, informou a assessoria, estava com o presidente Lula.
Nessa data, a agenda da ministra tinha quatro compromissos: despachos internos e três reuniões com Lula.
Cruzando com os compromissos presidenciais, a ministra teria participado às 10h de reunião com Lula e com o ministro José Pimentel (Previdência); de um encontro sobre estratégia nacional de defesa e, à tarde, de reunião com Lula e o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). A viagem não consta da agenda da ministra no site da Casa Civil.
Pré-campanha
Ontem, Dilma foi recebida em Araraquara com faixas que a saudavam em tom de campanha: “Dilma é o terceiro mandato de Lula” e “Copa do Mundo 2014, Olimpíada de 2016, é o PT com a força do povo”.
Ela participou da vistoria da reforma do estádio de futebol da Fonte Luminosa. No evento, estavam o prefeito de Araraquara, Marcelo Barbieiri (PMDB) e de Ribeirão Preto, Darcy Vera (DEM).
Em seu discurso, Dilma cometeu ato falho ao dizer que, se uma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) estiver concluída no começo de 2010 na cidade, portanto antes do prazo de desincompatibilização exigido pela lei, irá participar da inauguração.
Ao encerrar, disse: “Vamos com muita fé, com muita esperança, continuar as mudanças feitas pelo presidente Lula”.
Em São Carlos, a ministra defendeu os programas do governo federal para uma plateia de 26 prefeitos e representantes de 33 municípios do interior paulista: “Precisamos da mão protetora do governo para essa população”, disse.
O PSDB protocola hoje requerimento para ouvir a ex-secretária na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o que pode abrir caminho para a convocação da ministra.
“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).
Colaborou a Sucursal de Brasília

Caso Lina: como fica a Folha

Por Edvard Bagdonas
Caro Nassif,
A soberba da Folha de São Paulo continua e não tem limites. O exemplo mais claro disso é o “requentado” caso Lina, senão vejamos:
Desde domingo a FSP tem informado o encontro da “agenda” da Sra. Lina, com anotação da data do suposto encontro com a Ministra Dilma. Tal informação foi requentada pela “Veja” e repercutida pela FSP. Como todos sabem essa informação foi obtida através de “terceira” pessoa, amigo (a) da Sra. Lina.
Pois bem, hoje, após três dias deste “prato requentado”, a FSP sequer procurou a Sra. Lina para esclarecer esse fato. Sequer existe aquele clássico final de reportagem onde o jornal informa que “procurou e não obteve retorno”.
Pior, o caso foi literalmente “detonado” pela internet, pois o horário e o dia deste suposto encontro é totalmente contrario ao que a Sra. Lina afirmou em seu depoimento na CCJ. Tem até vídeo que prova isso, mas a FSP nada esclarece ao seu leitor.
MUITO PIOR. Nos últimos três dias a FSP publicou duas cartas em seu “PAINEL DO LEITOR”, uma hoje e outra na segunda, ambos com comentários favoráveis a FSP. Nada, repito: NADA foi publicado sobre as contradições da data e/ou horário do suposto encontro.
Pergunto: Será que os leitores da FSP perderam o senso critico ou foi a FSP que perdeu a noção da função pública de um jornal? Pelo que parece, a segunda hipótese é mais evidente.
O que a Folha de São Paulo tem feito nos últimos dias é, no mínimo, desinformar o seu leitor.

Governo x multinacionais brasileiras - por Luis Nassif

Do Último Segundo
Coluna Econômica 20/10/2009
A caminhada do país rumo a um papel mais relevante no cenário mundial esbarra em alguns problemas culturais entranhados. Um deles é a visão provinciana, de quem não consegue entender as relações entre governos e grandes empresas.
Grandes multinacionais são extensão dos governos nacionais.
Lembro-me de um episódio, anos atrás, em que um presidente da Volkswagem do Brasil – austríaco – teceu algumas considerações sobre o “apagão” energético. A reação transbordou as críticas contra a Volks e quase se tornou um caso diplomático.
***Grande parte do poderio norte-americano no mundo resultou dessa aliança governo-grandes empresas. Da parte do governo, essa relação se manifesta nos acordos comerciais, nos tratados sobre direitos autorais, nas disputas na Organização Mundial do Comércio, no financiamento da expansão dessas empresas.
De sua parte, as multinacionais nacionais têm a obrigação de oferecer a contrapartida, garantindo investimentos no país, abrindo espaço para outros setores poderem exportar, ajudando a reforçar a diplomacia comercial nos países em que estiver instalada.
***
O avanço da economia brasileira permitiu a montagem de várias frentes setoriais. Há as empreiteiras que, nas grandes obras em outros países, podem carregar consigo um bom volume de fornecedores, seja de insumos e alimentos para a obra, até como exportadores para os países em questão.
Uma segunda frente relevante é no agronegócios. Nos últimos anos foram feitos investimentos vultosos na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Simultaneamente, Lula montou caravanas de usineiros que visitaram a África, América Central oferecendo know how e equipamentos brasileiros para a produção de etanol nessas regiões. A diplomacia do etanol, aliás, é das mais promissoras, especialmente no relacionamento com regiões tropicais.
Outra frente que se abre é a dos grandes frigoríficos, que começam a se espalhar pelo mundo.
***
Ao provocar a Vale, para que aumente seus investimentos e, em seguida, fustigar as siderúrgicas, Lula deu o pontapé inicial no jogo – que terá que ser aprofundado por seus sucessores.
A Vale tem um programa de investimentos, sim. Ofereceu projetos a siderúrgicas brasileiras e a contrapartida do minério e de investimentos. Mas a situação interna do país, especialmente a defasagem do câmbio, inibiu os investimentos.
Se, de um lado, Lula, tem razão em cobrar investimentos da Vale e das siderúrgicas, tem que oferecer a contrapartida de um ambiente econômico mais competitivo.
Reside nessa dupla cobrança a riqueza desse relacionamento Estado-multi.
Esse ambiente passa por pressões sobre o Banco Central por taxas de juros civilizadas, melhoria de infra-estrutura, modelo cambial mais competitivo, racionalização das leis de meio ambiente (agilizando sem reduzir os cuidados).
***
É essa a dinâmica que irá vigorar nos próximos anos. Direitos e responsabilidades recíprocos preparando o Brasil para um papel cada vez mais relevante.

A nau sem rumo de Serra - por Luis Nassif

O jogo político está adquirindo uma dinâmica curiosa, intensa, previsível. Mas, quando explodir, apanhará grande parte da opinião pública de surpresa, porque a partidarização da mídia mantém esse movimento nos subterrâneos da política.
São esses os fatos:
1. O DEM está francamente desanimado com a candidatura José Serra. Não vê a hora de pular para o barco de Aécio. Considera a candidatura Serra pesada, sem oferecer o fato novo capaz de segurar a onda Dilma.
2. Na avaliação de alguns caciques do DEM, a exposição de Dilma a ajudará cada vez mais, anulando a campanha midiática para marcá-la como “mentirosa” e “truculenta. Já em relação do Serra, considera que a exposição será prejudicial, pela falta de empatia do candidato, por sua própria idade e pela dificuldade em articular discurso anti-Lula.
3. Está cada vez mais intensa a percepção de que Serra não sairá candidato a presidente, por seu receio histórico de correr riscos. Veja bem: é uma percepção que vai se formando, não necessariamente o que Serra estaria pensando neste momento.
4. Em São Paulo, a falta de jogo de cintura do governador provocou um racha inédito. Os três grupos debaixo do guarda-chuva Serra estão em guerra: o de Serra, o DEM de Kassab e o PSDB de Alckmin. Dois dos três candidatos favoritos – Kassab e Alckmin – mantêm um casamento de conveniência, mas não confiam em Serra. Esta guerra deve explodir em breve. Com essa falta de habilidade política, como seria em uma realidade infinitamente mais complexa, de governar o país?
5. Lula já conquistou totalmente o meio empresarial paulista. Há resistências contra Dilma, muito mais devido à campanha midiática do que ao conhecimento da candidata. Em relação à Serra, consolida-se a percepção de um político autocrático.

O retorno da suprema matraca - Por Justo (Blog do Nassif)

Você que gosta…taí um prato cheio!
http://www.youtube.com/watch?v=tkbvxHtuaAA
Comentário
Gilmar termina a entrevista ao Kennedy Alencar dizendo que “venceu o estado de direito”.
Em conluio com a Veja, participou de uma trama vergonhosa – a tal “escuta ambiental” no Supremo, tão falsa quanto o incêndio do Reichstag, -, de uma provável armação – o tal “grampo” que captou sua conversa com o senador Demóstenes -, ridicularizou conceitos básicos de Justiça (como a presunção da inocência), expôs a imagem do Supremo de uma maneira inédita, com uma volúpia para aparecer na mídia incompatível com sua função.
E, agora, torna-se juiz de si mesmo: segundo ele próprio, seu desempenho foi fundamental para salvar a democracia brasileira. Durma-se com uma modéstia dessas.

A voz de um PSDB que não mais há - por Luis Nassif

Luiz Carlos Bresser Pereira era de um tempo em que o PSDB era a esperança de muitos que sonhavam com um partido que juntasse todos os brasileiros, a preocupação com a modernização e a inclusão social, o não-dogmatismo e a não-elitização.
FHC matou os ideais sociais, com sua visão inteiramente focada no fortalecimento dos grandes grupos financeiros e na privatização branca (antes de vender as estatais transferiu o patrimônio público para grupos rentistas através da política de juros e câmbio – e nada mais. Serra foi a pá de cal, ao trocar o discurso desenvolvimentista pela agressividade desmedida de sua tropa de choque – Itagiba, Jungmann, os blogs da Veja -, pela insensibilidade social.
Entregaram a bandeira de graça para Lula.
Por Marco Aurelio
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Texto para Discussão EESP/FGV n. 186, maio 2009.

State and market are complementary institutions. The state is the major institution coordinating modern societies it is the constitutional system and the organizations guaranteeing it it is the main instrument through which democratic societies have been changing capitalism so as to achieve their own agreed political objectives. Markets are institutions based on competition which the state regulates so that they contribute to the coordination of the economy. While liberalism emerged in the 18th century to fight an autocratic state, since the 1980s neoliberalism (a major distortion of economic liberalism) became dominant and mounted a political assault to the state in the name of the market, but eventually also attacked the market. Neoclassical macroeconomics and public choice theory were the meta-ideologies that gave to this assault a “scientific” and mathematical allure.

http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=3104
O PDF em português é uma análise brilhante dessas questões.O que houve com esse PSDB????Baixem o PDF e leiam.Está em português e o texto acima é um pequeno resumo.

Indignação com as laranjeiras - por Luiz carlos Bresser Pereira (Folha)

Por que não nos indignamos com a captura do patrimônio público que ocorre todos os dias em nosso país?
HÁ UMA semana, duas queridas amigas disseram-me da sua indignação contra os invasores de uma fazenda e a destruição de pés de laranja. Uma delas perguntou-me antes de qualquer outra palavra: “E as laranjeiras?” -como se na pergunta tudo estivesse dito.
Essa reação foi provavelmente repetida por muitos brasileiros que viram na TV aquelas cenas. Não vou defender o MST pela ação, embora esteja claro para mim que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é uma das únicas organizações a, de fato, defender os pobres no Brasil. Mas não vou também condená-lo ao fogo do inferno. Não aceito a transformação das laranjeiras em novos cordeiros imolados pela “fúria de militantes irracionais”.
Quando ouvi o relato indignado, perguntei à amiga por que o MST havia feito aquilo. Sua resposta foi o que ouvira na TV de uma das mulheres que participara da invasão: “Para plantar feijão”. Não tinha outra resposta porque o noticiário televisivo omitiu as razões: primeiro, que a fazenda é fruto de grilagem contestada pelo Incra; segundo, que, conforme a frase igualmente indignada de um dos dirigentes do MST publicada nesta Folha em 11 deste mês, “transformaram suco de laranja em seres humanos, como se nós tivéssemos destruído uma geração; o que o MST quis demonstrar foi que somos contra a monocultura”.
Talvez os dois argumentos não sejam suficientes para justificar a ação, mas não devemos esquecer que a lógica dos movimentos populares implica sempre algum desrespeito à lei. Não deixa de ser surpreendente indignação tão grande contra ofensa tão pequena se a comparamos, por exemplo, com o pagamento, pelo Estado brasileiro, de bilhões de reais em juros calculados segundo taxas injustificáveis ou com a formação de cartéis para ganhar concorrências públicas ou com remunerações a funcionários públicos que nada têm a ver com o valor de seu trabalho.
Por que não nos indignarmos com o fenômeno mais amplo da captura ou privatização do patrimônio público que ocorre todos os dias no país? Uma resposta a essa pergunta seria a de que os espíritos conservadores estão preocupados em resguardar seu valor maior -o princípio da ordem-, que estaria sendo ameaçado pelo desrespeito à propriedade.
Enquanto o leitor pensa nessa questão, que talvez favoreça o MST, tenho outra pergunta igualmente incômoda, mas, desta vez, incômoda para o outro lado: por que os economistas que criticam a suposta superioridade da grande exploração agrícola e defendem a agricultura familiar com os argumentos de que ela diminui a desigualdade social, aumenta o emprego e é compatível com a eficiência na produção de um número importante de alimentos não realizam estudos que demonstrem esse fato?
A resposta a essa pergunta pode estar no Censo Agropecuário de 2006: embora ocupe apenas um quarto da área cultivada, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção e emprega quase três quartos da mão de obra no campo.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, nesta Folha listou esses fatos e afirmou que uma “longa jornada de lutas sociais” levou o Estado brasileiro a reconhecer a importância econômica e social da agricultura familiar. Pode ser, mas ainda não entendo por que bons economistas agrícolas não demonstram esse fato com mais clareza. Essa demonstração não seria tão difícil - e talvez ajudasse minhas queridas amigas a não se indignarem tanto com as laranjeiras.

A frente da Educação - por Luis Nassif

Do Último Segundo
Coluna Econômica – 19/10/2009
Um dos grandes desafios de políticas públicas, é como montar um modelo federativo de articulação de políticas de educação entre União, Estados e Municípios.Esse é um dos grandes desafios de políticas públicas universalistas em país continental, pois há que se montar uma comunidade tal – como na Saúde – que garanta a continuidade das políticas independentemente das autoridades e dos partidos de plantão.
Mas, segundo o Ministro da Educação Fernando Haddad, o setor de Educação conseguiu finalmente criar essa solidariedade.
***O primeiro passo foi a redefinição das políticas para o setor. Na gestão Paulo Renato, se utilizava a tese do “cobertor curto” para não atacar o problema das universidades públicas. Criou-se o falso mito de que todo investimento deveria ser apenas no ensino básico.
O Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) destinava-se a apoiar apenas o ensino fundamental. O Fundef ampliou para o curso médio. As verbas saltaram de R$ 500 milhões para R$ 5 bilhões.
Até então, o ensino médio não dispunha de livro didático, transporte e alimentação escolar. Até 2005, 7,8 milhões de alunos não recebiam livros didáticos.
***
Hoje em dia, a Rede Federal de Educação Profissional, que estava em 130 municípios, chega em 350. As Universidades chegam a mais de 200. A Universidade Aberta do Brasil atinge 600 municípios em cursos à distância semi-presencial.
As Universidades Federais já assumiram a incumbência de fornecerem educação continuada para os professores do ensino médio.
Enfim, uma série de iniciativas que, aparentemente, rompeu com o modo tradicional de enxergar educação – por parte do próprio setor.
***
O ponto central desse trabalho de coordenação é o Plano de Ações Articuladas, para a rede escolar – tanto estadual quanto municipal -, e o Plano de Desenvolvimento da Escola, para cada escola.
Todo sistema está interligado pela Internet. São 5.890 municípios.
O conjunto é monitorado pelo IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) que aplica provas em todo o país. A partir das provas, são identificados aquelas redes e escolas abaixo da média. Na última avaliação, foram 1.800 redes e 27 mil escolas.
A partir daí, os gestores de educação são instados a preencherem relatórios, para que se possa ter um diagnóstico da sua região – tudo pela Internet. Nesse diagnóstico, são identificados seus problemas e a lista de itens financiáveis para sua escola.
O MEC compatibiliza diagnóstico com demanda e passa a financiar um conjunto de ações. Todo o relacionamento se dá pela Internet. Consultores do MEC conversam com os gestores, trocam ideias, aconselham até se chegar às demandas necessárias.
***
Esse monitoramento é amarrado às metas de qualidade. Em uma escala de 0 a 10, a média brasileira medida pelo IDEB estava em 3,5% em 2001. Agora, em 4,2. A meta é chegar em 6 (média dos países da OCDE) até 2022, ano do bicentenário da Independência.
Importante: todas autoridades da área, na União, Estados e Municípios, subscreveram esse pacto.

Caso Lina - por Luis Nassif

O eixo Veja-Folha e o caso Lina

Não há limites para esse eixo Veja-Folha que se formou anos atrás e prossegue impávido, mesmo depois do desmoronamento da credibilidade da revista (clique aqui para ler a íntegra das matérias).
Esta semana, Veja apresenta um furo estrambólico: diz que Lina Vieira, a ex-Secretária da Receita Federal, finalmente (dois meses após o escândalo em torno da suporta reunião reservada com Dilma Rousseff) abriu sua mala e, ó surpresa!, encontrou a agenda perdida, onde estava escrito à mão a data da sua reunião com a Ministra Dilma Rousseff.
A reportagem da Veja é um desses primores do antijornalismo:
Em um trecho, admite (ufa!) que a Secretária tinha dito que a tal reunião talvez ocorrera em dezembro.

A ex-secretária, por sua vez, nunca apresentou provas convincentes, além do próprio testemunho, de que a conversa realmente existira. O dia? Lina não se lembrava. O mês? Lina dizia que fora próximo ao fim de 2008, talvez em dezembro. Quando questionada sobre a imprecisão, justificava afirmando que todos os detalhes estavam registrados em sua agenda pessoal.

Agora, a tal agenda apareceu. E, segundo a revista, tem um dado capaz de mudar tudo: uma anotação à mão (!).

ex-secretária da Receita fez uma anotação a mão em 9 de outubro de 2008, logo em seguida à reunião com Dilma. Ela escreveu: “Dar retorno à ministra sobre família Sarney”. De acordo com um amigo de Lina, a quem ela confidenciou ter achado a agenda, bem como detalhes ainda não revelados sobre o encontro, a reunião ocorreu pela manhã, próximo ao horário do almoço, fora da relação de compromissos oficiais da ministra.

Consultem-se os jornais da época (clique aqui):
Em 28 de agosto o Palácio informou os dias em que Lina esteve por lá. Entre os quais, 9 de outubro. Esse mesmo dia que a Veja, agora, apresenta como furo.
O non-sense da matéria produz essa pérola de jornalismo investigativo:

O registro feito pela ex-secretária em sua agenda pessoal não é, obviamente, prova irrefutável de que a reunião realmente ocorreu e, consequentemente, de que Dilma não disse a verdade. Mas sua existência é um avanço considerável, sobretudo quando analisado em conjunto com informações já conhecidas.

Mas que “informações já conhecidas” seriam essas?
A reportagem prossegue e, (surpresa!) admite o óbvio conhecido: que a tal data de 9 de outubro não era novidade nenhuma

Em agosto passado, o senador Romero Jucá, um dos principais defensores do governo no Congresso, divulgou um relatório com as entradas oficiais de Lina no Palácio do Planalto. De acordo com Jucá, a ex-secretária esteve no Planalto quatro vezes – em outubro de 2008 e nos meses de janeiro, fevereiro e maio de 2009. O único ingresso registrado no ano passado, portanto, ocorreu em 9 de outubro, às 10h13. Lina, segundo os registros oficiais, deixou o Planalto às 11h29 do mesmo dia.

Então, qual a novidade da matéria? E por que Jucá teria divulgado a data do encontro?

Na época, interessava ao governo divulgar a informação porque, embora afirmasse não lembrar com exatidão a data do encontro, Lina dizia que a reunião teria ocorrido no fim do ano, provavelmente em dezembro. A falta de registro de um ingresso de Lina naquele mês, portanto, seria um indício de que a ex-secretária mentia ao confirmar o encontro com a ministra. Agora, com o surgimento da agenda, e da anotação de que o encontro com Dilma ocorreu no mesmo dia 9 de outubro, a tentativa de desmentir a ex-secretária pode acabar confirmando sua versão.

Em 12 de agosto de 2009, Dilma Rousseff havia desafiado Lina a mostrar a agenda. Em 18 de agosto de 2008, foi a vez de Lula desafiar Lina, e nada.
Logo depois, Lina informara aos Senadores de oposição que a reunião secreta teria ocorrido em 19 de dezembro. O dia foi desmentido pela própria comparação das agendas de Dilma e Lina – uma em reunião com a Petrobras, outra viajando para o Rio Grande do Norte.
Sempre que apresenta uma denúncia inconsistente (ou seja, sempre), um velho truque da revista consiste em deixar no ar que existem mais coisas, mais provas. Só que não apresenta, porque não existem.
Quantas e quantas vezes desmascarei aqui matérias furadas, mentirosas. E sempre vinha um leitor indicando uma pista que a revista deixava no ar – como se fosse um trunfo guardado na manga. Semanas depois, o trunfo continuava na manga para sempre: era blefe.
Agora, o adicional – não mostrado pela revista – é um CD onde supostamente estariam todos os emails trocados entre Lina e seus subordinados, provando tudo. Ora, presume-se que Lina se valeria do sistema oficial de emails da Secretaria. Quando desafiada a mostrar provas de que tivesse buscado informações sobre Sarney após a reunião, bastaria a ela acessar sua caixa postal na Receita e mostrar as providências que teria tomado após a reunião.
No seu Blog, Paulo Moreira Leite aponta mais dois fatos extraordinários. O repórter da Veja sequer leu a agenda. Limitou-se a registrar o depoimento de alguém – provavelmente da própria Lina. E Lina, que era incapaz de saber o dia da reunião, na CPI foi capaz de afirmar peremptoriamente que no dia 9 de outubro não se reuniu com Dilma. Isto em depoimento na CPI – onde a mentira pode ser punida. Veja deixou de lado esse depoimento para se fiar em um depoimento em off, de alguém que disse ter visto a anotação na agenda.
É desmoralizante.
A intenção da revista é de uma obviedade que espanta:

A descoberta da agenda de Lina acontece em um momento especial para a ministra Dilma Rousseff, que, com a saúde recuperada, volta a empinar sua candidatura à Presidência. Apesar de ainda patinar nas pesquisas, a ministra tem conseguido apoios importantes, resultado de sua dupla jornada como ministra e candidata à sucessão de Lula.

Depois do Tico, o Teco

Depois que o Tico dá a senha, entra o Teco – matéria da Folha, de Leonardo Souza, repercutindo a “denúncia” da Veja.
Segundo a matéria da Folha, Lina conseguiu a agenda logo depois da sessão da CPI, mas não divulgou porque recebeu recados de “pessoas ligadas ao governo” para deixar o assunto morrer. Ou seja, a mulher que foi à CPI, que se transformou no principal instrumento dos senadores da oposição, que chamou a Ministra de mentirosa , e que foi chamada de mentirosa pelo governo, não divulgou a “prova” de que não mentia porque recebeu recados… do governo.
O mais incrível é que todo esse carnaval não repousa em cima de nenhuma acusação. Na primeira matéria à Folha, Lina diz que Dilma teria pedido para agilizar as investigações sobre Fernando Sarney. Ela – Lina – que deduziu que o pedido poderia ser para abafar o caso. Não tem acusação, não tem crime, não tem jornalismo. É uma discussão besta sobre se a reunião ocorreu ou não e se Dilma pediu ou para agilizar as investigações. Apenas isso. Criou-se um fato jornalístico, provavelmente falso, em cima de um não-escândalo.
O que disse Lina Vieira na CPI, segundo a própria Veja (clique aqui)
Questionada se Dilma teria pressionado a arquivar o processo, Lina disse que não. “A ministra me disse para agilizar a fiscalização do procedimento contra o filho de Sarney, mas, de forma alguma, o pedido foi para não investigar o filho de Sarney. Foi apenas para dar agilidade”, afirmou a ex-secretária.
O problema não é apenas o da manipulação. É da manipulação grosseira, porque desaprenderam princípios básicos de jornalismo. Esse é o drama principal de alguns veículos como Folha e Veja. Até a manipulação exige domínio de princípios jornalísticos. Anos e anos de uso do cachimbo deixaram a boca torta: não se sabe mais fazer jornalismo.
Como lembra o leitor Jeová Barros de Almeida Júnior:

A “veia”, que o trem matou, morreu.

Deu na revista “espia” que a agenda da ex-secretária da receita federal, Lina Vieira, apareceu e nela, pásmem!, consta o encontro que já havia sido divulgado pela própria casa civil, o qual se deu em 09 de outubro, e não como ela havia dito, em dezembro.
A revista “espia” (mas não olha) chega a uma conclusão que mudará a história da humanidade, da qual que discordo solenemente: A “VEIA”, QUE O TREM MATOU, MORREU!
Eu digo que não é factível, pois a verdade é que: Morreu a “veia” que o trem matou!

Por Romanelli

Reunião pela manhã?
Mas a sala não estava na penumbra? ..será que DILMA estava com conjuntivite?
e sobre o marido de LINA ter ligações com opositores de LULA e Dilma, ligados ao DEMO, a Agripino, nem uma palavrinha?
e DILMA? Finalmente, pro bem da nossa SOCIEDADE, vai processar a FAlha pela ficha falsa, a revistaVEJA (ou seria “Espia-ãh”) e LINA?
relembre aqui parte do depoimento dela:
http://www.blogdomarlon.com.br/tag/lina-vieira/
e o ESTADO brasileiro vai processar a mídia pelo pânico da Febre Amarela e da gripe suína?
sei não …se não …parce mesmo que tem algo a temer ..né não?

Por Bruno Galvão

É uma farsa tão mal feita. É triste saber que tem pessoas que acreditam numa farsa super mal feita dessas. Boa é a reportagem de Leila Swan no Globo em 20 de agosto:
“Segundo o relato da ex-secretária Lina Vieira a parlamentares do PSDB, a data de 19 de dezembro teria sido EXATAMENTE a data do encontro”. Pode-se ver na reportagem que a escolha dessa data foi por causa de furos na agenda da Dilma. Oh, episódio de mentiras fracas.
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/08/19/agenda-oficial-de-dilma-tem-erros-omissoes-757486430.asp

A Lina da CPI desmente a Lina da Veja

Por Nivea Maria de Figueiredo Moreno
POR FAVOR, ASSISTAM ESSE VIDEO
Esse video acaba com a versão da LINA….aos 043 segundos, o Senador Mercadante lembra que no dia 09 de outubro Lina esteve com a ministra tratando do FORUM DE SIOUX, que se realizaria no dia 10 de outubro.
TRANSCREVO A FALA DE MERCADANTE (clique aqui)
“…No dia nove de outubro a senhora teve uma audiencia, tratando do Forum dos CEOs, que se realizaria no dia dez de outubro…”

Por Alberto Porém Jr.

O que realmente importa.
Luis Nassif, para a FSP, mais importante do que o que diz a reportagem é o que sai na capa deste domingo ao qual transcrevo integralmente pois não pode ser copiado e colado.
Porque digo que é o que importa, veja bem:
Título: ” Lina afirma ter achado agenda que traz reunião com ministra”
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/10/18/a-lina-da-cpi-desmente-a-lina-da-veja/#more-36252

O episódio que gerou a série “Dilma mente”
Por Neves
Essa obsessão do Partido da Imprensa e demais partidos aliados dele no Congresso em pegar a Ministra Dilma na mentira não é novidade. Vale a pena recordar:
http://www.youtube.com/watch?v=OaW8MxxdcVY
Eles insistem obstinadamente em criar fatos que demonstrem que a ministra mente, porque a resposta que receberam na primeira tentativa é uma dor que percorre o corpo e consciência dessa gente até hoje:
http://www.youtube.com/watch?v=ntVZB12ktPg

”Foi proclamada a República no Judiciário” - por Rodrigo Rangel (Estadão)

Atuação do ministro, nomeado no governo FHC, causa reações e resistência em alguns colegas magistrados

Rodrigo Rangel, BRASÍLIA

Gaúcho de Passo Fundo, o ministro Gilson Langaro Dipp, 65 anos, corregedor nacional de Justiça, é um especialista no combate a crimes financeiros. É o idealizador das varas federais especializadas em lavagem de dinheiro.
Antes de virar juiz, Dipp era advogado em Porto Alegre. Formou-se em direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi colega de turma de Nelson Jobim, hoje ministro da Defesa. Seu ingresso na magistratura se deu em 1989, quando foi nomeado desembargador federal no TRF da 4ª Região. Nove anos depois, no governo Fernando Henrique (1995-2002), veio a nomeação para o STJ. O ministro sabe que seu protagonismo à frente do CNJ tem motivado reações. Alguns colegas dizem que a investigação de magistrados cria problemas para a imagem do Judiciário e tensiona o ambiente interno. “Tenho certeza de que as resistências são pouquíssimas”, diz. Para o ministro, a atuação firme do CNJ marca a “chegada da República ao Poder Judiciário”.
O que explica o envolvimento de juízes com corrupção?
O Judiciário é feito de homens, e não de vestais. É evidente que nossa responsabilidade com a ética deve ser maior que a de qualquer outro segmento da sociedade. Mas, infelizmente, há distorções que padeceram de insuficiência ética de cada um e também da falta de uma política pública de fortalecimento da instituição, que privilegiasse a ética.
As corregedorias dos tribunais não funcionavam?
Se as corregedorias estivessem atuando a contento, e se as administrações dos tribunais estivessem atuando a contento, não seria necessária toda essa mobilização do CNJ.
Como define o trabalho do CNJ?
O CNJ se consolidou como o grande interlocutor da sociedade com o Judiciário. Está promovendo políticas públicas necessárias ao aprimoramento do Judiciário, para dar eficácia às decisões judiciais em tempo hábil. Tem verificado toda a estrutura administrativa e financeira do Judiciário e adotado medidas drásticas quando se trata de infrações disciplinares ou desvios de conduta.
É um processo irreversível de depuração do Judiciário?
Não é por acaso que o conselho está sendo acionado cada vez mais. Isso se deve à consolidação do CNJ, degrau a degrau, e à nova postura que o conselho tem adotado em relação aos problemas nacionais.
O presidente Lula disse, anos atrás, que o Judiciário brasileiro é uma caixa-preta. É o que o CNJ está descobrindo?
Eu não diria caixa-preta, mas diria que nós não nos conhecíamos. Tínhamos um Judiciário que era desconhecido pelo próprio Judiciário, que dirá pela população.
Que diagnóstico faz da justiça brasileira hoje?
A justiça brasileira reflete a própria sociedade. A desigualdade social existente entre a população se reflete também entre os vários ramos do Judiciário e, muitas vezes, entre os Judiciários dos vários Estados da federação. Eu diria que, com a criação do CNJ, foi verdadeiramente proclamada a República no Judiciário. Hoje nós temos um órgão central de controle financeiro, administrativo e disciplinar, sem nunca ter adentrado, em hipótese alguma, em qualquer decisão judicial, não tolhendo, resguardando e fortalecendo a autonomia do juiz para decidir. O Brasil tem hoje, na América Latina, os juízes mais independentes, mais livres e com melhores salários.
A imagem do Judiciário como um poder intocável acabou?
Certamente. Hoje, todo o Judiciário, com algumas resistências, tem a consciência de que nós, juízes, somos servidores públicos. E, consequentemente, fazendo parte de um poder da União, temos de prestar contas à sociedade. Não estamos acima do bem e do mal. Não me preocupo com a demanda excessiva no Judiciário porque, se a população procura, é porque ela confia no Judiciário. Os desvios existem, mas não maculam a instituição. Temos que receber essa gama imensa de processos não como martírio, mas como um reconhecimento de que a sociedade confia em nós. Até porque os pobres já descobriram o Judiciário, mas os miseráveis ainda não. Temos de estar preparados para mais demanda.
Quando se falou em controle externo do Judiciário, houve resistência. Esse empecilho foi vencido?
Tenho certeza de que sim. A magistratura tem demonstrado que o CNJ foi uma criação necessária. Hoje praticamente não há mais resistências. Uma democracia ainda tênue como a brasileira precisa fortalecer as suas instituições, e nós só podemos fortalecer o Judiciário se tivermos credibilidade traduzida em transparência e eficácia.

A grande mídia e a democracia - Por weden (blog do Nassif)

Nassif,
O que vem acontecendo com você leva-nos a duas conclusões relativas ao papel social da grande mídia nas sociedades modernas e ao novo contexto inaugurado pela rede.
No mesmo dia em que o tal juiz resolveu, sabe-se lá com quais argumentos, “esquecer” todos os abusos cometidos pela revista Veja, com o sentido explícito de tentar silenciar seu trabalho…nesse mesmo momento, distante milhares de quilômetros daqui, nos EUA, Obama abria o verbo contra a postura absolutamente partidária, desrespeitosa e interesseira da Fox.
Na mesma semana, soubemos, também, dos resultados de uma auditoria internacional sobre a atividade dos barões da mídia no Equador; da reação selvagem à lei de imprensa na Argentina, e continuamos vendo a defesa indecente do golpe em Honduras por alguns órgãos de comunicação brasileiros.
Na mesma semana, vimos a Band aumentar sua campanha, utilizando-se de uma concessão pública, para defender a não atualização dos índices de produtividade, estacionados desde a era do arado a boi.
Vimos outras tantas e tantas notícias falsas, merecedoras de manchetes, tantos e tantos ataques estúpidos, tantos e tantos silêncios injustificáveis de colegas de trabalho.
A primeira conclusão a que chegamos é que a grande mídia, ao ter “exponenciado” seu poder, vem se tornando tão perniciosa à sociedade quanto qualquer facção cujo interesse seja absolutamente parcial.
Não há princípio republicano na grande imprensa. E a ela não interessa o “todo” das vozes sociais.
Nesse caso, temos que admitir que o Legislativo – cujas cadeiras são ocupadas por representantes de toda a sociedade – e o Executivo, de qualquer esfera, cuja ação é julgada periodicamente, são ainda a reserva de proteção que nós temos contra interesses tão graves como os representados pela grande mídia.
A grande mídia vem fracassando sistematicamente em ser um fórum ou tribuna para as mais distintas vozes sociais. Não porque não consegue ou não tem sensibilidade, mas porque não quer, a ela não interessa.
Ao contrário – e principalmente ao contrário do Congresso, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores – ela atua no sentido de calar e silenciar aqueles que não concordam com ela.
É hora de pensarmos seriamente se a ênfase da grande mídia sobre os males da política não são uma estratégia pensada e executada para destruir uma das instâncias que, apesar dos pesares, ainda tem o mérito da pluralidade.
É hora de pensarmos seriamente se ao tentar se colocar no lugar do Legislativo, e quiçá dos Executivos, e porque não das instâncias do Judiciário, a grande mídia não acabará mesmo é colocando a sociedade em risco, pelo menos a parte da sociedade que nela não está representada.
A segunda conclusão é de que a reação de revistas como a Veja ao seu trabalho em prol de uma cobertura mais séria mostra que a rede abriu um espaço que definitivamente incomoda este todo-poder que a grande imprensa percebe ter conseguido.
Embora você, Nassif, esteja no olho do furacão, e por isso sua luta acabe por se particularizar, saiba que o Caso Veja é claramente o emblema da luta dos novos espaços midiáticos abertos pela rede contra grupos oligárquicos que pretendem se instaurar como o único, e possivelmente um dos mais perigosos poderes que a sociedade Ocidental conheceu.
Sua luta, nada romântica, nada idealista, mas emblemática, aponta para muito longe, meu caro.
Aponta para um tempo que já se consolidou – a grande mídia deixando de ser o watchdog da sociedade e passando a ameaçar os poderes republicanos – e um tempo que vai se abrindo – o da rede colocando-se naquele lugar que outrora a grande mídia prometeu ocupar.

Os requisitos para a liberdade de imprensa - Por João Vergílio G. Cuter (Blog do Nassif)

Caro Luís Nassif,
Creio que todas as outras pessoas que vêm até aqui para lhe prestar solidariedade estão dando expressão a um mesmo sentimento: o da importância que tem seu blog para a democracia no Brasil. Isto tem uma razão muito simples.
Não existe democracia sem o exercício efetivo e amplo do contraditório. Ora, a grande imprensa brasileira resolveu, de uma década para cá, dar voz e vez a um dos lados somente, calando ou ignorando de modo sistemático todas as vozes discordantes.
Você foi dos poucos que resistiu. Criou um blog reunindo milhares de pessoas que o lêem todas as manhãs e dele participam dando suas opiniões, expondo suas discordâncias.
Foi vítima de uma campanha pessoal violentíssima, e continuou firme, resistindo à formidável pressão de um grupo editorial com força suficiente para dobrar vontades no âmbito dos três poderes da república. Um grupo que, como você bem disse, pouco se importa com sentenças pecuniárias, que nada significam em sua coluna de custos, e que se dispõe a pagar sem discussão qualquer eventual indenização devida por seus cães de guarda. Não levar isto em conta é não se habilitar à compreensão das situações em que o senhor se viu envolvido.
Nós todos, que o lemos diariamente, esperamos que a Justiça brasileira leve isso em conta ao julgar ações movidas (direta ou indiretamente) por grupos poderosos contra indivíduos desarmados.
Sem isso, a própria convivência democrática fica prejudicada, pois, na prática, os grandes grupos teriam poder para dizer o que bem entendem, sem temer nem mesmo a eclosão de um discurso que tenha a mesma força e contundência nas trincheiras do lado oposto.
Estaríamos imersos numa espécie de “totalitarismo de fato”, no qual as garantias formais ficariam tão preservadas quanto inócuas, transformando-se assim em meros balagandãs institucionais que os poderosos pendurariam no pescoço para legitimar o seu domínio. Precisamos de outra coisa. Precisamos, não de meras formalidades, mas sim de garantias efetivas à liberdade de expressão.
O direito de resposta é sagrado, mas indenizações milionárias são algo completamente diverso. Pela própria assimetria das condições financeiras dos atores envolvidos, as indenizações, nesses casos, tendem a reforçar ainda mais essa tendência perigosa que vemos, hoje, de a opinião pública ficar exposta a um único lado, a uma única versão dos fatos, uma única interpretação da realidade. Não há coisa pior que esse tipo de unanimidade numa democracia. Para que, afinal, combateríamos o método das ditaduras, se desde o início já estivessem estabelecidos alguns de seus principais resultados?

Comentário: quem leu o contrato social de Jean Jacques Rousseau, bem sabe o risco quando determinado ente político que não é a maioria se faz valer, ou representar como maioria. É a imprensa gorda de hoje. ¿Quem a elegeu? Ninguém. Mas ela se afirma como tal.

Lula autoriza taxação de capital externo - por Kennedy Alencar (Folha)

Lula autoriza taxação de capital externo
Presidente dá sinal verde para a elaboração de uma medida provisória criando imposto para tentar conter alta do real
Ideia é taxar mais o capital de curto prazo e aliviar tributação sobre os dólares que permanecem mais tempo no país
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer taxar a entrada de capitais estrangeiros no país. Autorizou a equipe econômica do governo federal a redigir uma medida provisória para implementar a tributação.
O objetivo é desestimular o ingresso de capital de curto prazo, chamado de especulativo. O governo tem dados mostrando que cresceu muito esse tipo de entrada de dinheiro, que valoriza o real e encarece as exportações do país. Só neste ano, o dólar se desvalorizou 26,8% ante o real.
O Planalto decidiu que, quanto menos tempo o capital externo ficar no Brasil, mais imposto pagará. Quanto mais tempo permanecer, menos imposto será cobrado. Não ocorrerá cobrança depois do cumprimento de determinado prazo de permanência.
Questionado em Cabrobó (PE) sobre eventual tributação ao capital externo, Lula disse que não gosta de dar “palpites” na área econômica nem antecipar decisões de governo.
“Essa coisa de economia a gente não pode falar. Estou viajando há três dias, vou voltar no fim de semana, e não tem nenhuma previsão de a gente fazer qualquer taxação em lugar nenhum. Não me pergunte o que eu não posso falar”, afirmou o presidente.
A decisão do governo é de estender a tributação também para o mercado acionário, e não apenas sobre renda fixa, aplicação que já foi tributada no passado por meio do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
De junho a agosto, o ingresso de capital de curto prazo somou US$ 322 milhões, segundo o Banco Central. Nos três meses anteriores, ele havia sido de US$ 186 milhões.
Esse ingresso de capital externo contribui para a valorização do real em relação ao dólar, o que traz dificuldades a setores exportadores.
O governo vinha resistindo a adotar a taxação, por avaliar que era interessante, durante a fase mais aguda da crise internacional, a imagem de um país que recebe capital externo. Isso ajudava o discurso do presidente Lula de que o Brasil se recuperava mais rapidamente do que outros países.
No entanto, com a desvalorização do dólar, que chegou ao patamar de R$ 1,70, o governo resolveu agir. A fórmula encontrada evita punir o capital de longo prazo, que chega ao Brasil para bancar investimentos e gera empregos.
A medida deve ser divulgada até o início da próxima semana. A Folha apurou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convenceu o presidente a adotá-la. O governo teme que setores exportadores prejudicados pelo dólar baixo façam demissões em massa e gerem problemas econômicos e políticos.
O governo descarta uma mudança no câmbio flutuante, por avaliar que tem poucos instrumentos. Um deles é agir pontualmente na taxação de capital externo de curto prazo, que vem ao Brasil lucrar com a alta taxa de juros na comparação com outros países. A taxa básica, a Selic, está hoje em 8,75%.
Mantega defende uma queda da taxa na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) na próxima semana. O Copom é o órgão formado pela direção do BC que se reúne a cada 45 dias para fixar a Selic. O BC, porém, avalia que a recuperação econômica do Brasil é forte e que não haveria justificativa para reduzir a Selic.
Entrada de dólares
Nos últimos quatro meses, houve um forte aumento na entrada de capital estrangeiro na Bolsa de Valores e no mercado de renda fixa, tanto de curto como de longo prazo. Com isso, esses indicadores já voltaram ao nível pré-crise e mantêm o ritmo de crescimento. No ano, já entraram US$ 13 bilhões na Bolsa e US$ 3,5 bilhões de investimentos em títulos.
Essa entrada de recursos já levou o Banco Central a revisar a estimativa para investimentos estrangeiros no mercado de ações e renda fixa neste ano.
Até junho, era esperada uma entrada de US$ 3 bilhões no país nessa área. Agora, a previsão subiu para US$ 22 bilhões, número que deve ser revisto novamente até o fim do ano. Em 2008, com a saída de recursos provocada pela crise, o saldo ficou positivo em apenas US$ 6,3 bilhões.
Na tentativa de enxugar esses dólares, as compras do BC no mercado de câmbio já estão próximas de US$ 20 bilhões. Esse dinheiro vai para as reservas internacionais, que ultrapassaram em outubro o patamar recorde de US$ 230 bilhões.

Por quem os sinos dobram - Terra magazine

Por quem os sinos dobram

Joana Camandaroba tem, segundo suas próprias palavras no instante desta conversa, "noventa e cinco anos, três meses, vinte dias e vinte horas". Ela é a matriarca da Barra, cidade fundada em 1752. O presidente da República visitou Barra em seu giro de três dias pelas obras de Transposição e Revitalização do Rio São Francisco, expedição esta, a da "Coluna Lula", que se encerra nesta sexta-feira.

Lula arrastou consigo quatro ministros, três presidenciáveis, oito governadores, numa viagem que mobilizou dois aviões da FAB, três helicópteros e mais de 150 funcionários federais.

Leão tenta fazer Joana Camandaroba passar pela segurança presidencial. Mas, junto, tenta enfiar o motorista, um amigo, e mais alguns. Joana é barrada. Jonas Paulo, presidente do PT, ex-diretor nacional e superintendente regional da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco. Jonas, também da vizinha Ibotirama, entra em cena.

Jonas e Joana estancam diante da segurança:
-... Ela quer entregar um livro escrito por ela para o presidente Lula...
- Mas por que pessoalmente?
- Ela foi professora da cidade inteira, já recebeu em sua casa candidatos a governador, a presidente da República... Joana Camandaroba é a matriarca da Barra.
- Então pode entrar.
Joana Camandaroba abraça Lula, a ele entrega o livro, "Barra, um retrato do Brasil", escrito por ela e pelo padre Arlindo Itacir Battistel. Barra, a diocese onde é bispo Dom Luiz Cappio, o religioso que chegou à greve de fome contra a Transposição do rio São Francisco. O que Joana Camandaroba e Lula conversaram, o que ela viu e ouviu, o que se passou em Barra nesta tarde de 39 graus, ela conta a seguir.

Terra Magazine - Que idade tem a senhora?
Joana Camandaroba - Tenho noventa e cinco anos, três meses, vinte dias e, neste momento, vinte horas, meu filho.

Que livro a senhora entregou ao presidente Lula?
Um dos quatro que escrevi, este com o padre Arlindo Itacir Batistel, é o "Barra, um retrato do Brasil".

Sobre o que é o livro?
Sobre a língua falada pelo Brasil, a língua do povo da Barra, a antropologia do povo, dos brejos, usos e costumes da região...

A senhora é escritora?
Fui professora por 40 anos. Parei de ensinar aos 80 e aí me deu um vazio. Preenchi com a literatura.

A senhora foi professora do quê?
De português, história... de quase tudo.

Aqui em Barra?
Ô meu filho, na Barra, em Formosa, em Santa Rita de Cásia, em Pilão Arcado, em Barreiras...

A senhora sabe quanto alunos teve?
Sei.

Quantos?
Todos da cidade, quase todos da região. Ensinei a todos. Ensinei tanto que não tive tempo para o amor, para namorar.

O que a senhora disse para o presidente Lula?
Pedi a ele que lesse a página 105.

Por quê?
Porque tem um texto belíssimo sobre a língua portuguesa, o português do povo. Língua que a gente esquece, a família e o povo esquecem.

E por que esse livro e para o Lula?
Porque ele é amigo do povo, se sente do povo e o povo se vê nele. Ouvi o discurso do presente, estava lá, senti isso nele, nos olhos dele, e nos olhos do povo.

O que a senhora ouviu no discurso dele?
Ouvir o discurso dele foi ouvir o discurso do povo. É a mesma coisa.

A senhora foi professora por 40 anos e defende o uso correto da língua. Ainda que se possa discutir essa questão da "correção", o próprio presidente cansa de se referir publicamente a erros que cometia e ainda comete ao falar...
Não é responsabilidade dele...

Por que não?
Aquilo que se escreve na alma de uma criança nunca mais se apaga.

E...?
...o Lula presidente ainda fala como escreveram na alma dele quando criança e por isso mesmo muito ainda não se apagou...

E que língua do povo é essa?
A língua de todos os tempos, a dos vaqueiros, a dos brejos, a das periferias das grandes e pequenas cidades, a língua dos brasileiros, do povo. O meu livro fala disso, fala disso, fala até do transporte de padiola.

Como?
Meu filho, até os carros chegarem aqui os doentes eram transportados em padiolas. Eram quinze, vinte léguas a pé até as cidades. Escrevi o livro com padre que é lá do sul, é filho de italianos e por isso não domina, mas ama, nossa língua. Escrevemos juntos.

E fala sobre mais o quê?
Dos nossos costumes, tradições, transportes, princípios, casamentos, homens, mulheres...

O que o presidente disse para a senhora?
Que eu sou a noiva dele que tem cem anos...

A senhora tem filhos?
Não fui casada, meu filho. Não tive tempo para o amor, para namorar. Passei minha vida, 40 anos dela, a ensinar as pessoas. Isso também é amar, embora de outra forma. Dediquei minha vida à educação e, depois que terminou, minha vida ficou vazia. Aí veio a literatura, escrever prencheu esse vazio.

E qual o outro livro?
É o "caminho do Cristianismo". Desde Roma, das catacumbas, sobre todos os papas, o Concílio Vaticano II e João XXIII, João Paulo II, tem até um pouquinho sobre esse Papa de agora. E tem também a história de Dom Luiz Cappio, o nosso bispo.

Como e quando começa essa história?
Dom Luiz chegou aqui no dia 20 de setembro de 1974. Ele e mais três frades. Veio da Vila Guilherme, lá em São Paulo, e quando chegou nós até pensamos que ele fosse Lamarca, que mataram aqui perto. Tinha gente que até pensava que era o Lamarca vivo de novo, e vestido de frade.

E vocês sabiam quem era Lamarca?
Ô meu fillho, eu sabia! Mas o povo hoje também sabe que ele foi um mártir, foi morto pelo exército no mato, homem de grande coragem. Lamarca foi um mártir do povo e por isso estará no santuário que Dom Luiz Cappio vai fazer.

Que santuário é esse?
Um santuário com os mártires do povo. Lamarca, um José de tal que morreu lá em Barreiras.

Sim, mas e o capítulo do livro sobre Dom Luiz Cappio?
A irmã dele, de São Paulo, me deu muito sobre a história dele. Quando chegou aqui ele dormia no chão. A mãe mandava roupas que comprava na Itália e ele dava tudo para o povo. O bispo é um homem muito firme. Quando ele decide uma coisa não tem mãe, pai, Cardeal, nem o Papa consegue fazer ele desistir. Eu sou muito amiga do bispo, ele é um homem de grande valor, muito próximo do povo.

Noto aí uma contradição. A senhora escreveu sobre o bispo, é amiga e admiradora dele, mas foi à recepção ao presidente Lula, abraçou-o, deu a ele um livro....
Fui, e ainda fui muito bem arrumada.

Foi? Como?
De vestido amarelo, com muita jóia. Brincos de ouro, anel de brilhante, uma pulseira de ouro branco, um medalhão com uma efígie de um dos reis da Inglaterra, coisa muito antiga, comprei em uma viagem a Portugal. Tenho e coleciono coisas antigas, vou doar para que se faça um museu na Barra.

A senhora tem muita coisa boa?
Muita história. Tenho duas arcas, cheias, que pertenceram às irmãs de João Maurício Vanderlei, o Barão de Cotegipe, a segunda figura do Segundo Império. Ele foi a favor das Leis do Ventre Livre, do Sexagenário, mas foi contra a Lei Áurea...

Por qual razão?
Ele disse à Princesa Isabel: "O Brasil não tem condições econômicas de suportar o fim da escravidão, a senhora libertará uma raça, mas perderá um trono". E a princesa respondeu: "Quantos tronos eu tivesse para dar pela liberdade humana eu daria".

Onde a senhora aprendeu isso?
Não aprendi, eu ensinei, por 40 anos. Está na história, nos livros.

A senhora se considera de que raça?
Eu sou mulata não, eu sou negra.

Dona Joana, o Bispo chegou à greve de fome contra a Transposição do São Francisco. Então, como é que senhora foi lá receber a comitiva? E o bispo, onde estava?
Fui, e muito arrumada, porque Lula merece. Já recebi muitos candidatos a governador em minha casa, até a presidente da República, mas Lula é o primeiro presidente, o primeiro Chefe de Estado que vem a Barra. E olha que Barra é muito antiga...

Quem foi o candidato a presidente que esteve em sua casa?
Jânio Quadros. Se hospedou aqui em casa. Meu irmão, que é médico, aposentado, trabalhou e dirigiu coisas importantes por muitos anos no Hospital das Clínicas, tinha um uísque muito bom. Jânio bebeu quase tudo...

E aí, o que aconteceu?
Saiu zonzo daqui de casa dizendo "Até o Planalto". E ele foi para o Planalto mesmo, mas depois fez aquela bagunça lá e nos deixou a todos na mão...

Deve ter tomado umas garrafas...
Olha, meu filho, acho que foi isso mesmo.

ACM esteve aqui?
Esteve. Ele era inimigo, adversário, mas ficou amigo depois que trouxe pra ele um remédio.

Que remédio?
Golbery, o general Golbery, me deu um remédio e pediu que eu mandasse pra Antônio Carlos quando chegase à Bahia. Fiz isso...

Remédio pra quê? E onde a senhora encontrou Golbery?
Pra uma dor que ele tinha na garganta e não sarava. Acho que foi de tanto gritar quando ele foi nomeado. Fui a Brasília pedir dinheiro para que as escolas não fechassem, fui ao Congresso, e depois encontrei Golbery que me pediu para entregar o remédio. Antônio Carlos tinha seus defeitos, nós sabemos, mas tinha uma grande qualidade, a gratidão.

Então a senhora foi ter com Lula porque gosta dele e...
Eu gosto e o povo gosta.

E Dom Luiz Cappio?
Não sei, pergunte a ele. Mas sei que ele me disse que agora não é mais Lula, é Luiz Inácio. Mas acho que ele ainda deve gostar.

Estão dizendo que tiraram a rádio comunitária da igreja do ar para que não se fizesse críticas ao presidente...
Não é isso não, é o contrário. E antes deixa eu te dizer uma coisa: Dom Benjamim Capelli tem oitenta e tantos anos. É um homem muito bom, quase um santo. Cuida da saúde do povo, cuidou sempre dos leprosos, já nem tem mais leprosos aqui na Barra. E ele foi ao aeroporto receber Lula, abraçou Lula, de quem ele gosta muito.

E como foi no aeroporto? Não estávamos lá.
Tinha duas, três mil pessoas, Lula quebrou o protocolo, falou e abraçou um bocado de gente do povo.

Mas e a história da rádio...?
Meu filho, o problema não é o Lula, que é amado pelo povo, nem o governador...

O Jaques Wagner?
Isso, ele é bem bonitão, sabe? É simpático, o povo gosta muito dele também. Acho que até porque sabe que ele também gosta de uma pingazinha, como o povo também gosta...

...se o problema não é Lula, se não é o Jaques Wagner, então qual é o problema?
O problema aqui, meu filho, é o Geddel.

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima? Mas por que ele é o problema se as decisões sobre o rio são tomadas acima dele?
Sim, mas ele se dizia contra a Transposição... aí arranjou esse emprego bom e ficou a favor. Mas isso não foi o pior, não...

O que foi, então?
Ele foi muito deselegante com o bispo, e o povo gosta do bispo. Ele foi mal comportado, não é flor que se cheire. Ou, como diz o povo daqui, Geddel não é boa abelha, não!

Mas, apesar disso tudo, a senhora foi ao Lula, deu um livro de presente a ele, o bispo ficou em silêncio e a rádio da igreja também.
Quem foi que disse que o bispo ficou em silêncio?

Ninguém ouviu uma palavra dele, tiraram a rádio do ar, dizem que foi o governo, ele nem ficou na cidade, não protestou...
...(Gargalhadas) Meu filho, quem tirou a rádio do ar, rádio que é da igreja, foi o bispo mesmo, para não ter que falar da festa. E o bispo falou o dia inteiro, a cidade inteira ouviu, de tempos em tempos, o dia todo...

Mas falou onde?
Falou com os sinos da igreja...

Como?
Falou com os sinos, eles tocaram o dia todinho.

A senhora me explica melhor, por favor, Dona Joana?
Meu filho, os sinos tocaram, dobraram o dia inteiro...

Dobraram o quê?
(Gargalhadas) ...Dobraram a Finados. Teve festa pro Lula, pro governador, mas os sinos daqui da Barra dobraram a Finados o dia inteiro. Para o Geddel.