sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Oposição em queda - por Mauricio Dias (Cartacapital)

A eleição presidencial de 2010, a sexta que se realiza após o ciclo da ditadura, talvez seja a primeira com destaque incomum para a escolha dos representantes no Congresso que, de fato, expressa a soberania popular.

Lá, desde o fim dos anos 1990, o voto tem marcado o progressivo abandono do eleitor dos apelos dos mais tradicionais partidos conservadores, gêmeos quase univitelinos – o PSDB e DEM – em oposição a um crescimento constante das facções da esquerda, identificada com o interesse da população mais pobre. Notadamente, neste caso, o PT.

Em oito anos, o DEM, herdeiro do PFL, perdeu quase a metade dos deputados. Em 2006 elegeu 65 deputados. A perspectiva eleitoral do próximo ano afugentou mais gente do partido e ele tem, hoje, 58 representantes. Também em queda sucessiva, os tucanos saíram de 99, em 1998, para 65, em 2006. Essa fase marca a derrota dos candidatos do PSDB à Presidência, José Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006.

Os números indicam que a ênfase na eleição do Congresso não se dá especialmente por razões de ordem moral, pregada ultimamente por duvidosos arautos da ética. Talvez seja mais certo apostar na crescente identidade da população com as propostas de conteúdo mais social e de inspiração mais nacionalista.
É no confronto político travado no Congresso que a cobra fuma.

Não por acaso, o golpe de 1964 também se deu quando a composição da Câmara dos Deputados, na eleição de 1966, poderia tornar-se majoritariamente de centro-esquerda, naquela época capitaneada pelo PTB, por Jango e Brizola, sob a inspiração de Getúlio Vargas. O PTB abrigava, também, os representantes da esquerda comunista, cujos partidos ainda eram ilegais.

A mesma tendência eleitoral percebida nas eleições para a Câmara ocorre nas eleições para as prefeituras municipais. Nas últimas três competições, para a chefia dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros, tucanos e pefelistas, descem a ladeira. De nada adiantou ao PFL, que sustentava a ditadura, adotar o nome de fantasia Democratas (DEM), em 2007.

O fracasso eleitoral dos dois partidos é gritante. Ela vai da façanha eleitoral do PFL em 2000, quando conquistou mais de mil prefeituras, para o insucesso do DEM, em 2008, quando ficou com apenas 495. Porcentualmente isso expressa mais de 40%.

Para o PSDB, a perda das prefeituras é ainda maior. Em 2000, após seis anos de administração Fernando Henrique Cardoso, os tucanos se aproximaram da conquista do PFL: 989 prefeituras. Em 2008, o número baixou para 779. Queda notável. O que os aguarda em 2010?

Os dois partidos já tentaram a maquilagem e não deu certo. Agora buscam uma cirurgia plástica. Os tucanos, inspirados por Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do partido, editaram milhares de exemplares de uma revista em que invocam a autoria da legislação social de Lula. Tentativa bizarra, na velha, e não na nova, acepção do termo. O DEM, para se livrar do passado, escolheu um jovem parlamentar na presidência (o deputado Rodrigo Maia) e anunciou que quer se livrar do estigma de partido de direita. Por isso vai apregoar o compromisso de manter os programas sociais do governo petista.

PSDB e DEM vão para um processo de canibalização um ao outro na disputa de eleitores. Não há votos suficientes no País para sustentar dois partidos de direita.

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Alianças por Dilma
O fortalecimento da base petista no Congresso para facilitar Dilma Rousseff, caso seja eleita, dificulta a montagem de palanques aliados nos estados, para 2010.
Até agora, nas contas do PT, a aliança com o PMDB é bem provável no Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Goiás e Amazonas. Em Roraima, Alagoas, Amapá e Mato Grosso, a situação não está definida, mas a tendência é a mesma. Em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, o PT será caudatário do PSB.
Na Bahia, Acre, Brasília, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Rondônia, Sergipe e Tocantins, no entanto, os candidatos petistas parecem irremovíveis.

Palanque estadual (1)
Mas as favas ainda não podem ser contadas com tanta certeza. Candidato à reeleição, em 2010, Sérgio Cabral aposta parte do seu cacife no interior.
Dispõe de 150 milhões de reais para tocar o Programa de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios (Padem), uma versão local do PAC federal. Já assinou 30 convênios, mas deixou de fora Nova Iguaçu, em clara retaliação ao prefeito petista Lindberg Farias, que insiste em disputar o governo do estado.
Esse é um dos complicadores da aliança no terceiro maior colégio eleitoral do País.

Palanque estadual (2)
Divididos entre dois ex-prefeitos de Belo Horizonte, Patrus Ananias e Fernando Pimentel, os petistas mineiros reagem à tentativa de impor ao partido o apoio à candidatura de Hélio Costa, do PMDB.
Eles argumentam que a candidatura de Costa não tem futuro. Ele já perdeu a eleição para o estado duas vezes. Em 1990, para Hélio Garcia, e, em 1994, para o tucano Eduardo Azeredo. A reação mais forte à aliança parte dos aliados de Patrus.

Casa de ferreiro...
Além dos abacaxis da política externa, o Itamaraty tem alguns outros para descascar internamente. Agentes consulares reagem ao Novo Sistema Consular Integrado, que estabeleceu punição para quem errar na emissão de passaportes.
Há 3 milhões de brasileiros no exterior e, anualmente, cerca de 10% dos passaportes perdem validade. São 300 mil novos, além dos emitidos em segunda via. O custo de um novo passaporte, que o agente passará a pagar em caso de erro, varia de acordo com a moeda do país.
Não há sinais de que a questão possa ser resolvida diplomaticamente.

Precisão suspeita
Depois de ficar sob fogo cerrado com as acusações de irregularidades nas obras do Pan, em 2007, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia vai à forra. Ele meteu o olho no valor das desapropriações para fazer o corredor viário T5 da Barra da Tijuca (zona sul) à Penha (zona norte): 544 milhões de reais, 979 mil e 99 centavos.
Diz Maia: “É a primeira vez que se cadastram imóveis a serem desapropriados em obra a ser licitada, sem se conhecer o projeto executivo da obra”. E conclui cismado: “Isso sem falar nos 99 centavos”.

O poder não cansa
Em 2007, o advogado Flavio D’Urso criou o movimento “Cansei” e levou para as ruas de São Paulo meia dúzia de militantes para fazer parte do coro de oposição a Lula. O movimento cansou, mas D’Urso parece incansável. Vai tentar, em novembro, o terceiro mandato consecutivo para a presidência da OAB paulista. E parece que leva.

Família refeita
Consolidou-se no Brasil a importância das famílias reconstituídas.
Um estudo de Rosa Ribeiro e Ana Lúcia Saboia, do IBGE, indica uma queda de casamentos entre solteiros. Em 14 anos, esse tipo de união foi reduzido em mais de 7 pontos porcentuais. O aumento de casamentos nos quais um dos cônjuges é divorciado é expressivo: entre solteiras e divorciados saiu de 3,3%, em 1991, para 6,3,% em 2005; entre divorciadas e solteiros subiu de 1,1% para 3,1%.
A nova união entre casais divorciados, que era de 0,6%, chegou a 2% no período.

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Rio de Janeiro
A Serra o que é de Cesar

As circunstâncias tornaram o ex-prefeito carioca Cesar Maia, do DEM, a única opção real de palanque no Rio de Janeiro para o governador paulista José Serra, caso seja mesmo ele o candidato do PSDB à Presidência da República, em 2010.

Maia constrói, discretamente, a própria candidatura ao governo do estado. Com isso, pretende servir a Serra servindo ao DEM.

Com muito cuidado, ele abordou o tema no diário virtual chamado Ex-Blog, que mantém com grande audiência há alguns anos.

“Em geral, os partidos fortes e com candidatos a governador competitivos ganham duplamente o voto de legenda para seus deputados (...) Com um número de maior força para governador, os votos de legenda crescem”, escreveu.

A tradução é a seguinte: o número do partido é fundamental para eleger mais deputados e quem dá destaque a ele é o candidato majoritário, desde que competitivo. “É o meu caso”, ele deve segredar para seus botões.

Embora o DEM, no Rio de Janeiro, não seja forte – na última semana perdeu quatro deputados estaduais que migraram para outras legendas – ,- ao pontuar a força do candidato majoritário, Cesar Maia não pode deixar de se candidatar. Caso contrário, estará dizendo para os aliados: salve-se quem puder.

Ele, em caso de fracasso, mas com vitória do candidato tucano, terá garantido uma vaga ministerial.

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