terça-feira, 2 de março de 2010

Uma análise, uma dúvida e uma torcida

Julgo haver erros graves cometidos pelos mais variados analistas, tanto os da mídia conservadora quanto os da mídia progressista sobre a queda nas intenções de voto na eleição presidencial para José Serra (PSDB), e a subida no mesmo tom da ministra Dilma Roussef (PT).
Esta diferença, antes de 14 pontos percentuais, agora de 4 pontos percentuais – já fora alertada pelo ilibado instituto Sensus, mas ignorada pela mídia gorda (neste meio tempo o Ibope, como sempre, arranjou números satisfatórios aos seu dono, o senhor Carlos Augusto Montenegro).
A maior parte dos analistas creditou a dois fatores esta diminuição da diferença.
Primeiro, ao fato de José Serra não assumir sua candidatura publicamente.
Isto é uma bazófia.
Como “quase-candidato” Serra tem ganhado uma enorme mídia. Como abandonado pelo Aécio ele tem ganhado enorme mídia. Com o atraso em anunciar sua candidatura, ele também tem ganhado enorme mídia.
Serra sempre ganhará este tipo de mídia dos conservadores. Se até quando ele se submete ao ridículo de tentar angariar algum marketing indo à inauguração de uma ciclovia (!) ele é amplamente divulgado...

Não é a admissão, ou não, da candidatura que tem feito com que ele caia nas pesquisas, é evidente que não.

O que tem realmente alterado as pesquisas, na minha singela opinião, é que a Dilma começa a ser veiculada como a pessoa que dará continuidade, a candidata do presidente Lula.

E isto começou a ficar claro através da propaganda partidária – e não pela admissão de sua candidatura no congresso do PT, que foi o segundo fator que muitos analistas creditaram sua ascensão.


Tal vértice descendente para o Serra é inexorável, pois a cada dia ficará mais cristalino que a Dilma é a candidata “do cara”. E isto começa a ter os efeitos óbvios.

Mantendo-se apenas Serra como candidato, a única coisa que pode alterar os rumos da campanha seria uma “denúncia bombástica” qualquer. É difícil, mas às vezes, mesmo sem nenhum tipo de embasamento, a mídia gorda consegue. Mas acho bastante improvável. A duras penas o PT aprendeu boas lições (algumas, não todas). Hoje o partido sabe que, se apresentar uma denúncia gravíssima e veraz contra um candidato qualquer da direita, a mídia ater-se-á a tais fatos como:
1 - A denúncia foi feita com papel que pagou imposto
2 - Se a tinta das páginas impressas não eram contrabandeadas
3 - Se a gasolina do carro que levava o denunciante ao ministério público não estava adulterada
Etc., etc., etc.

(Acho que) Nesta esparrela o PT não cai mais.

Tentando observar com alguma distância, vemos que o PSDB passará um grande aperto na campanha presidencial que se aproxima. Se criticarem a Dilma dizendo que ela é apenas a sombra do Lula, admitirão que o petista fez um grande governo.
Se batem de frente com tudo (estilo “serráqueo” de ser), vão de encontro ao presidente mais popular da história.

Uma forte caligem se abate sobre os tucanos – não há escapatória à vista.

De uma coisa eu ainda tenho dúvida: se a ida do Aécio como vice, será o melhor para a oposição. Porque imaginem se o Aécio entra nesta e a oposição perde, com os seus dois maiores candidatos juntos, com a tal chapa puro-sangue (que de “puro” não tem nada)? A direita perderia qualquer esperança de voltar ao poder em muitos e muitos anos. Seria uma derrota desmoralizante.
O Aécio, facilmente eleito como senador, sairá da próxima eleição como um vitorioso. O senhor inconteste do PSDB. O que foi injustamente preterido. Etc., etc, etc.
Se vencer como vice, será um nulo, um a mais a ser ignorado pelo magnânimo Serra. Se Aécio perder como vice, ficará sem mandato, sem perspectiva que não outra derrota para a mesma Dilma em 2014 e, a direita, sem um nome.
Não acho que ele entrará nesta barca furada.

Porém, como eu gosto de ganhar jogos disputados, eu prefiro que o Serra venha como cabeça, o Aécio como vice, e o Ciro tente destronar o PSDB de São Paulo.
Se o PSDB vier só com o Serra, ou só com o Aécio, a vitória será esmagadoramente fácil, não haverá graça nenhuma.
E o legal, é quando o circo pega fogo.

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