domingo, 7 de março de 2010

A visita da velha senhora – por Redação CartaCapital

O objetivo do passeio de Hillary Clinton pela América do Sul foi reaproximar-se da América Latina em geral, cada vez mais avessa à influência de Washington. Especialmente do Brasil, cuja influência internacional está em alta. Foi um fracasso, apesar de a mídia conservadora brasileira se prestar ao papel de porta-voz do Departamento de Estado (salvo quando sua titular apoiou as cotas e a ação afirmativa).

O discurso paternalista segundo o qual “o Irã está enganando o Brasil” caiu mal em um governo que sabe o que quer no plano internacional e um corpo diplomático que se orgulha de seu profissionalismo e maturidade desde o Barão do Rio Branco. A postura do Brasil, como da China, Turquia e outros países avessos a sanções ao Irã, é de mediador em um conflito complexo e não de caixa de repetição de slogans dos EUA e de Israel.

Caem igualmente no vazio as pressões dos EUA sobre o Brasil para reconhecer o novo governo de Honduras. Não antes que este acate as exigências latino-americanas, para, no mínimo, normalizar as relações com a oposição e aceitar o retorno à vida política de Manuel Zelaya e de seus partidários, que continuam a ser ameaçados, sequestrados e mortos. Em fevereiro, após a posse de “Pepe” Lobo, foram assassinados pelo menos três integrantes da resistência: os sindicalistas Vanessa Zepeda (dia 2) e Júlio Fúnez (dia 15) e a militante e filha Claudia Brizuela (dia 24), filha de um líder da Resistência.

Não adiantou querer que o Itamaraty isole a Venezuela e trate o respeito a “regras de mercado” como condição para o relacionamento diplomático e comercial. Mas ouviu de Celso Amorim a confirmação de que o Brasil está disposto a retaliar os subsídios ao algodão dos EUA com sanções aos produtos e à propriedade intelectual de empresas estadunidenses.

Hillary errou de roteiro. Suas falas teriam servido em 1997, quando visitou como primeira-dama uma Brasília disposta a prestar vassalagem à hiperpotência. No papel de representante de uma nação endividada e paralisada por divergências internas, negociando com potências emergentes que perseguem seus próprios ideais e interesses, é peixe fora d’água.

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