quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mudar ou continuar – por Marcos Coimbra (Correio Braziliense)

Já faz algum tempo, começou a se generalizar no meio político a convicção de que Dilma vai ganhar as eleições. Embora nem todos admitam, é o que pensam até as principais lideranças da oposição, assim como a quase totalidade dos formadores de opinião e da imprensa.

Para consumo externo, continuam a dizer que o processo está aberto, que nada está definido.

Mas não é o que, no íntimo, acreditam que vai acontecer.

Do lado governista, nem se fala. Não é de agora que os principais estrategistas do Planalto e do PT trabalham com o cenário de crescimento e vitória da candidata de Lula. A rigor, é nisso que apostam desde 2008, quando o presidente deixou claras duas coisas: que ele próprio não tentaria mudar as regras do jogo para disputar um terceiro mandato; e que achava que conseguiria ganhar as eleições com alguém que o representasse.

Tudo que está acontecendo na sua sucessão, até o momento, confirma seu cálculo. Ele não se baseava no que diziam as pesquisas sobre as intenções de voto do conjunto do eleitorado. Ao contrário, o raciocínio sempre foi sobre o potencial de crescimento de uma candidatura identificada com ele e com o governo, avaliados, pela grande maioria da população, como ótimos ou bons.

Nunca foi relevante considerar os resultados agregados das pesquisas (normalmente os que a imprensa divulga), pois misturavam respostas de quem sabia e quem não sabia qual era a candidatura apoiada por Lula. Enquanto não aumentasse a proporção dos que tinham essa informação, a vantagem de Serra era ilusória e não preocupava quem, no PT, sabia fazer as contas.

É de se notar que, na oposição, as pessoas pensaram de maneira oposta. A opção por Serra, em detrimento de Aécio, mostrou que ela preferia escolher em função do desempenho presente dos pré-candidatos, deixando em segundo plano seu potencial de crescimento. Serra prevaleceu pelo patamar de largada, não pela perspectiva de chegada.

Há quem defenda que é cedo para decretar que a eleição está resolvida. De fato, é preciso admitir que muita água ainda pode rolar por baixo da ponte.

Não é impossível que Dilma, sua campanha, seus apoiadores e o vasto conjunto de forças políticas mobilizadas para elegê-la cometam erros calamitosos.

É, apenas, pouco provável.

Em função da possibilidade cada vez mais concreta de que Dilma venha a ganhar (talvez já no primeiro turno), alguns setores da oposição andam à cata de novos argumentos para tentar convencer os eleitores a mudar de ideia. Um dos mais engraçados tem a ver com o conceito de alternância do poder.

Trata-se da tese de que é bom, para a democracia, que as eleições ensejem a mudança do partido ou da coalizão que está no poder, assim permitindo que ocorra uma salutar alternância de pontos de vista e de prioridades.

A continuidade seria ruim, ao impedir que novas agendas sejam discutidas e que outras políticas, mais adequadas a um novo momento, sejam formuladas.

O ápice dessa argumentação aconteceu outro dia, quando uma importante revista semanal entrevistou o candidato do PSDB e perguntou "por que é positivo" para "a democracia brasileira" experimentar "uma alternância de poder depois de oito anos de governo Lula".

Difícil imaginar algo mais sem sentido, a começar pelo fato da pergunta ser feita ao candidato interessado na alternância. É o mesmo que perguntar ao macaco se quer banana.

Ou alguém supõe que Serra diria que o melhor, para o país, é a continuidade? Mas o importante não é isso. A democracia não está na ideia abstrata de alternância. Para o ideal democrático, o relevante não é o conteúdo da escolha.

Tanto faz que os cidadãos prefiram continuar ou mudar. O que torna uma sociedade democrática é haver instituições que assegurem, a cada cidadão, a possibilidade real de escolher.

Se a maioria da sociedade brasileira quer a continuidade e votará em Dilma, é bom que todos se acostumem — incluindo os que querem a alternância. Em si, ela só é importante como uma possibilidade. Se não, nem seria preciso haver eleições. Bastaria trocar o governo a cada período estipulado. (O problema é que ninguém saberia como fazê-lo.)

Obras públicas têm expansão de 80% - por Renata Verissimo, Adriana Fernandes (Estado de São Paulo)

De janeiro a maio, o governo gastou com obras quase dez vezes mais do que os 8,4% de crescimento da folha de pagamento do funcionalismo


Os gastos do governo tiveram uma significativa mudança de perfil nos cinco primeiros meses de 2010. Enquanto em igual período do ano passado os investimentos cresciam a um ritmo muito semelhante ao dos gastos com pessoal, neste ano, o governo pisou forte no acelerador e levou as obras públicas para uma expansão de 80%, quase dez vezes mais do que os 8,4% de crescimento da folha de pagamentos do funcionalismo.

Além dos investimentos, o aumento dos benefícios previdenciários também teve forte peso nos aumentos das despesas este ano. Dos R$ 39,8 bilhões de expansão das despesas de janeiro a maio, R$ 12,1 bilhões foram com pagamento de aposentadorias e pensões, em função do reajuste do salário mínimo e dos benefícios acima do piso, além da ampliação dos beneficiários.

Por outro lado, os investimentos pagos tiveram aumento de R$ 7,4 bilhões no mesmo período, saltando de R$ 9,2 bilhões, de janeiro a maio de 2009, para R$ 16,7 bilhões este ano. A recuperação das receitas é que tem sustentado a expansão dos gastos públicos. Enquanto, de janeiro a maio de 2009, as receitas do governo apresentavam queda de 0,8%, no mesmo período deste ano houve um aumento de 17,9%.

O crescimento dos investimentos também provocou uma mudança na dinâmica do resultado primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) com o registro de déficit em meses que tradicionalmente apresentavam resultados positivos.

As contas do governo central apresentaram déficit primário de R$ 509,7 milhões, o pior dos últimos 11 anos para meses de maio. Os superávits elevados de janeiro (R$ 13,9 bilhões) e abril (R$ 16,6 bilhões) compensaram as contas vermelhas dos outros três meses.

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, disse que a tendência é que o resultado das contas do governo central em junho seja positivo. "A tendência é que seja positivo, mas um número normal. Não se esperam grandes emoções", disse

Augustin previu que o aumento dos investimentos é forte e deverá continuar assim até o fim do ano. Ele arriscou uma estimativa, que classificou de pessoal.

Segundo o secretário, os investimentos devem fechar o ano entre 1,3% e 1,5% do PIB. Em 2009, os investimentos pagos ficaram pouco acima de 1% do PIB.

Salários. As despesas com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) somaram R$ 7,1 bilhões de janeiro a maio, alta de 89% em relação ao mesmo período de 2009. Embora os recursos usados no PAC possam ser abatidos das despesas, para cálculo do superávit primário, Augustin disse que o governo trabalha para cumprir a meta de 3,3% do PIB neste ano sem abatimentos dos investimentos do programa ou uso dos recursos do Fundo Soberano do Brasil (FSB). "O governo decidiu fazer uma meta cheia. É isso que temos construído ao longo do ano e achamos que vamos conseguir", afirmou.

Augustin avaliou que o arrefecimento no ritmo de crescimento dos gastos com pessoal mostra que os reajustes salariais para servidores públicos, concedidos pelo governo nos últimos 4 anos, foram compatíveis com o crescimento econômico. "Como o PIB voltou a crescer, voltamos a ter uma tendência de queda com gastos com pessoal", disse. Mas afirmou que novos aumentos não devem ocorrer. Segundo ele, as carreiras do funcionalismo público já estão alinhadas e novos reajustes, como o que tramita no Congresso para o poder Judiciário, trariam "enormes preocupações" fiscais para o País.


Comentário
A imprensa passou anos clamando, implorando por um aumento dos investimentos e destratando o aumento dos gastos públicos. Agora, com estes resultados, eu pergunto: ¿e agora, José?

Despesas com juros sobem a R$ 179 bilhões, maior valor da história - Valor Econômico

A elevação da taxa Selic de 9,5% para 10,25% ao ano, definida na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) começa a ter impacto nos gastos do governo com juros. O montante pago pelo setor público subiu de R$ 14,485 bilhões, em abril, para R$ 16,191 bilhões, em maio. Além do ciclo de aperto monetário, a alta da inflação também se reflete em pagamentos mais elevados, já que boa parte da dívida está atrelada a índices de preços. O empréstimo do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é outro ponto que pressiona os gastos com o serviço da dívida.

No acumulado em 12 meses, as despesas com juros nominais atingiram o maior valor da série histórica, R$ 179,363 bilhões, equivalente a 5,42% do Produto Interno Bruto (PIB). Em abril, o montante estava em R$ 175,765 bilhões. O governo federal arca com a maior parte desse total (85%), seguido pelos governos estaduais (6%).

Esse aumento dos gastos com juros contrasta com o nível reduzido da Selic, que atingiu o piso em 8,75% entre o fim do ano passado e início deste ano. Em 12 meses, a taxa básica de juros acumula variação de 8,8%, menor valor dos últimos anos. Em maio de 2009, a taxa acumulada em 12 meses estava em 12,68%. Em 2008, era de 11,2%.

De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, essa redução da taxa de juros acompanhada ano a ano ainda deve se refletir no custo do financiamento do governo ao longo do tempo. "Em algum momento você vai se apropriar dessa baixa (da Selic)", afirmou.

Mas esse processo leva um certo tempo, diz, pois os papéis emitidos no passado ainda pesam na composição do passivo da União. Há também uma parcela considerável da dívida que é pré-fixada e não sofre com a variação da taxa básica.

Em maio, os títulos com remuneração vinculada à Selic consumiram R$ 6,5 bilhões, cerca de 40% do total gasto no mês. O valor é relativamente menor do que nos anos anteriores. Os papéis atrelados a índices de preços custaram R$ 5,068 bilhões e os pré-fixados custaram R$ 5,814 bilhões.

A dívida líquida do setor público deve manter a tendência de queda ao longo do ano, segundo Lopes. Em maio, o patamar foi de 41,4% e deve cair no mês de junho para 41,1% do PIB, neste mês, estima o Banco Central. A autoridade monetária tinha uma previsão para o fechamento do ano em 40% do PIB, mas uma nova estimativa deve ser apresentada hoje, no Relatório Trimestral de Inflação, quando o Banco Central divulgará novos parâmetros para a economia brasileira.

Também contribuiu para uma redução da dívida líquida a depreciação do real em relação ao dólar, em 4,98%. Quando a cotação do dólar sobe, o efeito é positivo sobre a dívida, porque o país tem créditos e ativos indexados ao câmbio.

Já a dívida bruta do governo geral fechou maio em R$ 1,991 trilhão, o equivalente a 60,1% do PIB. Segundo o Banco Central, o patamar deve cair para 59,7% do PIB em junho, estimou Lopes. (FT)


Comentário
Mas para os liberais, estes são bons gastos. Os gastos ruins são os gastos com custeio (quando se ler custeio, entenda-se: saúde, educação, segurança, etc.).

ONG: atual parlamento israelense é mais racista de todos tempos - Terra

O atual parlamento israelense (Knesset) é o mais racista de todos os tempos, segundo denúncia de uma organização de defesa dos direitos dos cidadãos árabes-israelenses feita por ocasião do Dia Internacional contra o Racismo. Segundo o Centro Mossawa, na legislatura iniciada em 2009 a Knesset estudou 21 leis consideradas "discriminatórias e racistas", o que representa um aumento de 75% em relação ao ano anterior.

A organização afirma que, em 2008, o parlamento israelense analisou 12 leis consideradas problemáticas nesse sentido, e que, em 2007, foram 11 as que chegaram à mesa dos legisladores com as mesmas características. Em seu relatório anual sobre a discriminação por racismo em Israel, o centro aponta que o fato de a atual câmara ser considerada a mais racista desde o estabelecimento do Estado, em 1948, é um fenômeno preocupante.

O documento também indica que as legislações com esse teor continuarão aumentando, a não ser que a Comissão Ministerial para Assuntos Legislativos intervenha rapidamente. "Nunca fomos testemunhas de uma Knesset tão ativa em leis discriminatórias e racistas contra os cidadãos árabes do Estado", afirmam os autores do relatório, Lizi Sagi e Nidal Ottman.

Deputados da Knesset com opiniões extremistas estão expressando seus pontos de vista sem nenhum tipo de vergonha nem oposição. Eles promovem legislações discriminatórias e racistas, que pintam aos cidadãos árabes do Estado de Israel como uma ameaça demográfica", declarou o diretor do Centro Mossawa, Jafar Farah.

Em 1966, a ONU aprovou o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial após o massacre de Sharpeville, na África do Sul de 1960, quando 69 manifestantes negros foram brutalmente reprimidos quando se manifestavam contra uma "lei de passes" para não-brancos. O Centro Mossawa advertiu hoje: "Já fomos testemunhas do massacre de cidadãos árabes nas mãos da Polícia em outubro de 2000 (no início da Segunda Intifada). Se esta tendência racista continuar, o que aconteceu em Sharpeville será um pequeno banho de sangue comprado ai o que sucederá aqui".


Comentário
¿O que fazer? Segundo o pensamento reinante nos EUA e em Israel, este último país pode tudo, tanto pelo fato de (seus descendentes) terem sofrido tanto no holocausto, quanto pelo fato de ser “o povo escolhido por Deus”, conforme escrito no velho testamento.
É uma lástima.

O vice é o homem da merenda? Leia o próprio PSDB - por Brizola Neto (Tijolaço)

O Blog do Noblat acaba de anunciar que o vice do Serra será o deputado Índio da Costa, do DEM. Apresenta-o como o relator do ficha-limpa. Mas não é bem assim. Ele foi um dos alvos da CPI na Câmara dos Vereadores que investigou superfaturamento e má-qualidade nos alimentos comprados para a merenda escolar, quasndo eu ainda era vereador. A CPI foi pedida pelo meu amigo e deputado Edson santos (PT) e relatada pela – atenção – vereadora tucana Andrea Gouvêa Vieira. Vou transcrever o texto que está numa das páginas dela na internet, de onde tirei também a ilustração:

O relatório de Andrea concluiu que a licitação para a compra de gêneros alimentícios para a merenda, entre julho de 2005 e junho de 2006, realizada pela Secretaria Municipal de Administração e pela Secretaria Municipal de Educação, no valor de R$ 75.204.984,02, causaram prejuízo aos cofres públicos. 99% do fornecimento ficaram concentrados numa única empresa, a Comercial Milano, que apresentou uma engenhosa combinação de preços em suas propostas. A licitação ocorreu num único dia, mas foi dividida 10 coordenadorias de educação (CREs). O “curioso” foi que esta empresa ofertou preços diferentes para o mesmo alimento. O preço do frango da proposta da Milano, por exemplo, para Santa Cruz, era cerca de 30 % mais caro do que o preço ofertado para Campo Grande. Detalhe: em Santa Cruz a Milano não teve concorrentes e em Campo Grande sim. Como ela soube da falta de concorrentes, um mistério. E a Prefeitura aceitou isso! Pagou à mesma empresa, pela mesma mercadoria, preços muito diferentes. Essa foi a característica geral dessa licitação: uma combinação de preços que otimizaram os ganhos de uma única empresa fornecedora em prejuízo dos cofres públicos.

Na primeira parte do relatório, a CPI concluiu que o então Secretário de Administração, Índio da Costa, deveria ter cancelado a licitação porque as regras do edital levaram a um resultado que contrariou o objetivo inicial de atrair dezenas de pequenos comerciantes locais a vender para as escolas dos bairros, descentralizando o fornecimento, e pelo melhor preço. Ao contrário, a licitação acabou por provocar a maior concentração de entrega de gêneros alimentícios na história da merenda escolar.

Como evidência incontestável do prejuízo aos cofres públicos, o relatório revelou que o pregão presencial adotado depois da instalação da CPI pelosucessor do Secretário Índio, um ano depois, possibilitou uma economia de cerca de R$ 11 milhões na compra da mesma merenda escolar.

Durante o processo licitatório, segundo o relatório da CPI, foram identificadas diversas irregularidades no registro das atas das reuniões de entrega, abertura e verificação de documentos. Chamou a atenção o fato de a empresa Milano ter sido a única a ter acesso aos documentos das empresas concorrentes ainda durante o período em que a Comissão de Licitação analisava a documentação dia 23 de março de 2005, enquanto os pedidos de vista das demais só ocorreram após o dia 31 do mesmo mês, quando já havia sido anunciado o julgamento dos documentos.

Uma das empresas eliminadas – a única que conseguiu na Justiça liminar para que a Secretaria de Administração não destruísse sua proposta de preços – mostrou, quase um ano depois, quando a Justiça obrigou a abertura do envelope, que se não tivesse sido desabilitada, teria vencido a Milano em vários quesitos, com condições mais vantajosas para o Município.

A Prefeitura não conseguiu demonstrar, de forma objetiva, como a empresa Milano conseguiu um resultado tão favorável. A única explicação dada peloentão Secretário de Administração, Índio da Costa, e pelos diretores da Milano, de que o acerto se deu em virtude do estudo das concorrências anteriores, levou a CPI a duas conclusões:

1- Se era possível antecipar resultados, houve falha nas regras do edital.

2- Se a Administração municipal aceitou pagar, pelo mesmo produto, preços significativamente diferenciados, sem que houvesse uma explicação objetiva para esse fato – custo de logística, por exemplo – não cumpriu um dos preceitos da licitação que é comprar pelo menor preço.

As duas conclusões deveriam ter levado a Secretaria de Administração a, obrigatoriamente, cancelar a licitação.

Na segunda parte do relatório apresentado pela vereadora Andrea Gouvêa Vieira, a CPI concluiu que houve omissão, negligência e despreparo na fiscalização do contrato assinado com a empresa Milano, que reiteradamente entregou, durante todo o ano, carne bovina e frango fora das condições exigidas, trazendo complicações ao funcionamento já precário de muitas escolas, dificultando o preparo das refeições, e, em muitas ocasiões reduzindo a quantidade de alimento, principalmente carne e frango, no prato das crianças.

Depoimentos de merendeiras e o relatório das visitas às escolas feito pelo Conselho de Alimentação Escolar (CAE), enviado à CPI, comprovaram a omissão da Secretaria de Educação que, apesar da continuada e permanente reclamação das escolas, não se posicionou de forma adequada para exigir o cumprimento do contrato.

Ao contrário, disse a CPI, o total de multas, de R$ 8.330,28, ao longo do ano, num contrato de R$ 75 milhões, claramente induziu a empresa Milano a insistir na entrega do alimento fora dos padrões contratuais, diante de tão pequena penalização.

Documento em poder da CPI revelou que auditoria da Controladoria Geral do Município responsabilizou a Secretaria de Educação pela fragilidade no acompanhamento da execução do contrato, vindo ao encontro das conclusões da CPI.

O documento propôs as devidas ações para responsabilização civil e criminal dos infratores, em especial dos dois secretários – de Administração e de Educação, principais responsáveis, no mínimo, pela relapsia no trato da coisa e do dinheiro públicos. O primeiro, Índio da Costa, ao homologar uma licitação cujo resultado era evidentemente contrário ao interesse da administração; e a segunda, Sonia Mograbi, ao negligenciar por completo a fiscalização da execução do contrato. “Em ambos os casos, é de ser aferida tanto a responsabilidade pessoal dos secretários quanto a dos agentes a eles subordinados, quer na condução da licitação, que levou à elaboração do contrato, no caso da SMA, quer na fiscalização e acompanhamento da sua execução, no caso da SME”.

Além do Ministério Público Estadual, a CPI encaminhou o relatório ao Ministério Público Federal, uma vez que parte dos recursos da merenda escolar são repasses de verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Também foram encaminhadas cópias do relatório à Delegacia de Polícia Fazendária, ao Tribunal de Contas do Município e à Prefeitura do Rio.

Há muito mais material sobre o tema na página da vereadora, repito, do PSDB, e nos jornais cariocas. Quem quiser – imagino que a imprensa queira – procurar, vai achar muito…


Comentário
É o vice certo para certo partido, compondo a chapa de certo candidato que também está no partido certo.
Tudo absolutamente coerente.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A nova Era Dunga: o fim do besteirol esportivo - por Leandro Fortes (Brasília, eu vi)

Foi na Copa do Mundo de 1986, no México, com Fernando Vanucci, então apresentador da TV Globo, que a cobertura esportiva brasileira abandonou qualquer traço de jornalismo para se transformar num evento circense, onde a palhaçada, o clichê e o trocadilho infame substituíram a informação, ou pelo menos a tornaram um elemento periférico. Vanucci, simpático e bonachão, criou um mote (“alô você!”) para tornar leve e informal a comunicação nos programas esportivos da Globo, mas acabou por contaminar, involuntariamente, todas as gerações seguintes de jornalistas com a falsa percepção de que a reportagem esportiva é, basicamente, um encadeamento de gracinhas televisivas a serem adaptadas às demais linguagens jornalísticas, a partir do pressuposto de que o consumidor de informações de esporte é, basicamente, um retardado mental. Por diversas razões, Vanucci deixou a Globo, mas a Globo nunca mais abandonou o estilo unidunitê-salamê-minguê nas suas coberturas esportivas, povoadas por sorridentes repórteres de camisa pólo colorida. Aliás, para ser justo, não só a Globo. Todas as demais emissoras adotaram o mesmo estilo, com igual ou menor competência, dali para frente.

Passados quase 25 anos, o estilo burlesco de se cobrir esporte no Brasil passou a ser uma regra, quando não uma doutrina, apoiado na tese de que, ao contrário das demais áreas de interesse humano, esporte é apenas uma brincadeira, no fim das contas. Pode ser, quando se fala de handebol, tênis de mesa e salto ornamental, mas não de futebol. O futebol, dentro e fora do país, mobiliza imensos contingentes populacionais e está baseado num fluxo de negócios que envolve, no todo, bilhões de reais. Ao lado de seu caráter lúdico, caminha uma identidade cultural que, no nosso caso, confunde-se com a própria identidade nacional, a ponto de somente ele, o futebol, em tempos de copa, conseguir agregar à sociedade brasileira um genuíno caráter patriótico. Basta ver os carros cobertos de bandeiras no capô e de bandeirolas nas janelas. É o momento em que mesmos os ricos, sempre tão envergonhados dos maus modos da brasilidade, passam a ostentar em seus carrões importados e caminhonetes motor 10.0 esse orgulho verde-e-amarelo de ocasião. Não é pouca coisa, portanto.

Na Copa de 2006, na Alemanha, essa encenação jornalística chegou ao ápice em torno da idolatria forçada em torno da seleção brasileira penta campeã do mundo, então comandada pelo gentil Carlos Alberto Parreira. Naquela copa, a dominação da TV Globo sobre o evento e o time chegou ao paroxismo. A área de concentração da seleção tornou-se uma espécie de playground particular dos serelepes repórteres globais, lá comandados pela esfuziante Fátima Bernardes, a produzir pequenos reality shows de dentro do ônibus do escrete canarinho. Na época, os repórteres da Globo eram obrigados a entrar ao vivo com um sorriso hiperplastificado no rosto, com o qual ficavam paralisados na tela, como em uma overdose de botox, durante aqueles segundos infindáveis de atraso de sinal que separam as transmissões intercontinentais. Quatro anos antes, Fátima Bernardes havia conquistado espaço semelhante na bem sucedida seleção de Felipão. Sob os olhos fraternais do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi eleita a musa dos jogadores, na Copa de 2002, no Japão. Dentro do ônibus da seleção. Alguém se lembra disso? Eu e a Globo lembramos, está aqui.

O estilo grosseiro e inflexível de Dunga desmoronou esse mundo colorido da Globo movido por reportagens engraçadinhas e bajulações explícitas confeitadas por patriotadas sincronizadas nos noticiários da emissora. Sem acesso direto, exclusivo e permanente aos jogadores e aos vestiários, a tropa de jornalistas enviada à África do Sul se viu obrigada a buscar informações de bastidores, a cavar fontes e fazer gelados plantões de espera com os demais colegas de outros veículos. Enfim, a fazer jornalismo. E isso, como se sabe, dá um trabalho danado. Esse estado de coisas, ao invés de se tornar um aprendizado, gerou uma reação rançosa e desproporcional, bem ao estilo dos meninos mimados que só jogam porque são donos da bola. Assim, o sorriso plástico dos repórteres e apresentadores se transformou em carranca e, as gracinhas, em um patético editorial.

Dunga será demitido da seleção, vença ou perca o mundial. Os interesses comerciais da TV Globo e da CBF estão, é claro, muito acima de sua rabugice fronteiriça e de sua saudável disposição de não se submeter à vontade de jornalistas acostumados a abrir caminho com um crachá na mão. Mas poderá nos deixar de herança o fim de uma era medíocre da crônica esportiva, agora defrontada com um fenômeno com o qual ela pensava não mais ter que se debater: o jornalismo.


Comentário:

É uma pena que o Dunga tenha levado sua teimosia a extremos injustificáveis, de quando da não escalação de Ganso e Neimar (para levar os incríveis Kléberson e Grafite).
Também peca em excessos, como nos xingamentos diretos contra jornalistas.
Senão, seria um exemplo raro e para sempre da postura que um técnico deve ter.
De qualquer modo, se o Brasil for campeão deste modo, com estes jogadores, será mais do que nunca o momento propício para o aforismo de Zagalo, destinado de Dunga para os que o criticam: "Vocês vão ter que me engolir!!!".

terça-feira, 8 de junho de 2010

Liberdade de expressão e de imprensa: Um manifesto – por Idelber Avelar (Agência Carta Maior)

A liberdade de imprensa inclui, como componente essencial e inalienável, a liberdade de exibir, ridicularizar, parodiar e pastichar as gafes, mentiras, barrigas e distorções veiculadas pela própria imprensa. Hoje, no Brasil, nove de cada dez gritinhos histéricos dos patrões e funcionários da grande mídia sobre um suposto cerceamento de sua liberdade de imprensa referem-se única e exclusivamente ao exercício dessa mesma liberdade. O artigo é de Idelber Avelar.


1. A irrestrita liberdade de imprensa de que se goza hoje no Brasil deve ser defendida por todos os brasileiros, independente de sua posição política. Essa liberdade se caracteriza pela ausência de censura prévia do Poder Executivo sobre o conteúdo daquilo que se diz, escreve ou publica no país. Literalmente qualquer coisa pode ser dita sem impedimento prévio no Brasil, e a mastodôntica coleção de mentiras, injúrias, calúnias, difamações, distorções e manipulações veiculadas regularmente por Veja, Globo, Folha, Estadão, Zero Hora e outros oferece a prova cabal de que vivemos em pleno exercício desta liberdade.

2. Não há democracia em que a ausência de censura prévia sobre o dizer se confunda com a ausência da possibilidade de responsabilização (inclusive penal) posterior ao dito. Muitos brasileiros, ainda escaldados pelas ditaduras, confundem com “censura” qualquer reclamo de responsabilização sobre o dito. Uns poucos brasileiros ligados à grande mídia manipulam de má fá essa confusão em benefício próprio. Na verdade, todas as democracias que asseguram a plena liberdade de expressão (a total ausência de censura prévia) possuem em comum, em seu arcabouço jurídico, alguma forma de penalização sobre o difamar e o caluniar. Essas leis são parte do que garante a plena liberdade de expressão. O problema no Brasil jamais foi a existência delas. O problema no Brasil é que só os poderosos têm podido recorrer à justiça evocando-as, e em geral para silenciar vozes discordantes. As reais vítimas da difamação dos grupos de mídia têm tido acesso quase nulo à reparação jurídica.

3. A liberdade de imprensa não está realizada em todo o seu potencial se apenas meia dúzia de famílias dela usufruem de forma massiva. O fato é óbvio mas, nos debates sobre o assunto, o óbvio com frequência clama por ser reiterado: a liberdade de imprensa estará tanto mais realizada quanto mais numerosos forem os grupos sociais com acesso a veículos que os representem; mais amplo for o leque de discursos acerca de cada tema; mais diversificados forem os pontos de vista em condições de encontrar expressão, entendendo-se que essas condições incluem não só a liberdade de dizer, mas também o acesso aos meios materiais que tornam possível a circulação do dito. Neste sentido, o grande obstáculo para a plena democratização da imprensa no Brasil (que avançou em função das novas tecnologias e algumas políticas do governo Lula) é justamente a mídia monopolista das famiglias, que se agarram aos seus velhos privilégios com enraivado, baboso rancor.

4. Não há liberdade plena de imprensa sem direito de resposta, o direito de expressão mais desrespeitado, historicamente, no Brasil. Tão fundamental é ele para a liberdade de imprensa que não faltariam teóricos do Direito alinhados com a tese de que se trata de direito antropologicamente universal, comparável à legítima defesa. Poucos blogueiros independentes, depois de publicar texto enfocado em outrem, negariam espaço comparável para a resposta do citado. No entanto, vivemos num país cujo maior jornal publica ficha policial falsa, adulterada, com falsa acusação, sobre o passado de uma ministra, e nem mesmo ela consegue exercer seu direito de resposta. Caso ela tivesse cometido o erro político de buscar judicialmente o exercício desse direito, teria sido insuportável a gritaria histérica dos funcionários das famiglias contra uma inexistente “censura”. É preciso que cada vez mais a sociedade civil diga a esses grupos de mídia: vocês não têm autoridade moral para falar em liberdade de imprensa nenhuma, pois apoiaram a instalação dos regimes que mais atentaram contra ela, além de que não a exercem em seu próprio quintal, negando sempre o espaço de resposta a quem atacam. A Folha chegou ao cúmulo de publicar um texto que lançava lama sobre dois seus próprios jornalistas, qualificando de “delinquência” uma reportagem feita por eles, sem que os profissionais pudessem exercer seu direito de resposta. Pense bem, leitor: essa turminha tem cara de guardiã da liberdade de imprensa?

5. A veiculação de sentença penal condenatória acerca de crime contra a honra cometido pelos grupos de mídia é um direito do público leitor/espectador/ouvinte. Especialmente no caso de sentença já transitada em julgado, é básico o direito do leitor saber que a justiça decidiu que naquele espaço foi cometido um crime contra a imagem de alguém. No entanto, até a data de produção desta coluna (03 de maio), continuam valendo as perguntas: como a Folha de São Paulo tem a cara de pau de não veicular a notícia de que foi condenada em definitivo por crime contra Luis Favre? Como a Zero Hora tem a cara de pau de não avisar ao leitor que se confirmou sua condenação por crime contra uma desembargadora?

6. A discussão democrática sobre a renovação (ou não) das concessões públicas a rádios e TVs não é contraditória com a liberdade de imprensa; pelo contrário, é parte de seu pleno exercício. Há uma razão pela qual a liberdade de que se imprima qualquer coisa é juridicamente distinta da autorização a que se transmita TV ou rádio em sinal emprestado pelo poder público. Só por ignorância ou má fé pode se comparar uma recusa do Estado a renovar uma concessão de TV ao ato de fechar um jornal (recordando que a má fé pode ser ignorante, e com frequência o é nestes casos). No Brasil, a discussão democrática sobre as concessões é de particular importância no caso do único grande império de mídia que sobrevive com inegável capilaridade e poder de fogo, o da famiglia Marinho, de tão nebulosa história.

7. A liberdade de imprensa inclui, como componente essencial e inalienável, a liberdade de exibir, ridicularizar, parodiar e pastichar as gafes, mentiras, barrigas e distorções veiculadas pela própria imprensa. Hoje, no Brasil, nove de cada dez gritinhos histéricos dos patrões e funcionários da grande mídia sobre um suposto cerceamento de sua liberdade de imprensa referem-se única e exclusivamente ao exercício dessa mesma liberdade, só que agora por leitores e ex-leitores, cujo direito à expressão essa mídia jamais defendeu, sequer com um pio.

Folha, drogas, mentiras & dossiês – por Saul Leblon (Agência Carta Maior)

Numa versão dissimulada da manipulação que Veja e Globo fizeram de forma escancarada na última semana, a Folha de S.Paulo resolveu contar ao seu leitor na edição de sábado, dia 5 de junho, um pedaço - ínfimo - da verdadeira história por trás do suposto dossiê contra José Serra que abala a campanha demotucana e ressuscita velhas torpezas presentes nas disputas presidenciais desde o fim da ditadura. O artigo é de Saul Leblon.


O resumo-malabarista dos acontecimentos não é assinado, o que desde já sugere um produto distinto da reportagem e mais próximo de uma alta "costura" política destinada a salvar as aparências perante leitores e eleitores depois do fiasco da operação-dossiê, que consistia em desqualificar denuncias graves –alucinadamente sempre omitidas - com o carimbo antecipado de conspiração petista. O que parece ter dado errado nesse exercício tantas vezes bem sucedido é que, primeiro, as informações negadas pelos jornalões vazaram e circulam livremente na Internet (leia http://www.conversaafiada.com.br/]; segundo, e mais complicado, a origem guarda credibilidade distinta dos dossiês eleitorais na medida em que se apóia em investigação minuciosa, ancorada em documentações muitas vezes chanceladas pela Justiça.

Na corrida contra o prejuízo, o produto oferecido aos leitores da Folha mantém a marca registrada de um certo padrão de jornalismo dissimulador , feito para confundir quando a missão de informar se revela inconveniente. É isso que está em marcha nesse momento em relação ao episódio do suposto dossiê. De forma coordenada, veículos diferentes armam um vertiginoso quebra-cabeças feitos de peças conflitantes que não se completam nunca. Dilui-se assim o que é central numa conveniente trama de sub-enredos reais ou imaginários. Valores em dinheiro totalmente contraditórios são jogados sem explicação. Declarações desencontradas diluem o principal em uma miríade de especulações laterais. Um mesmo personagem faz declarações diametralmente opostas em veículos diferentes, às vezes no mesmo dia. Sobre essa calda pegajosa que aos poucos satura e repugna mantém-se o guarda-chuva que interessa fixar. O vírus permanente da suspeição em relação ao governo, seu partido, sua candidata, seus métodos, a origem dos seus recursos, as relações internas entre seus membros enfim, tudo e todos que gravitam ao seu redor.

A chamada da primeira página da Folha segue a regra - "Jornalista e delegado são pivôs do caso do dossiê". Não há, a rigor, qualquer respaldo para essa manchete nas informações contidas na matéria interna que na verdade a desmente, ao admitir:

a) ao contrário do que Serra afirma e a Folha endossou obsequiosamente no noticiário generosos dos dias anteriores, e continua a insinuar na manchete, o comando da campanha de Dilma em Brasília não contratou nem produziu dossiê algum contra o candidato do conservadorismo brasileiro;

b) os personagens que a manchete arrola como ‘pivôs’ do caso do dossiê teriam participado, diz a matéria, de uma conversa com um publicitário indiretamente ligado à campanha do PT;

c) sempre segundo o padrão Folha de jornalismo, em meados de abril, cogitou-se criar um sistema de inteligência no comitê de Dilma, em Brasília, para detectar a presença de eventuais espiões de Serra –suspeita ancorada em sucessivos vazamentos de informações confidenciais sobre custos e recursos envolvidos na campanha;

d) a criação do ‘serviço’ relatado pela Folha –com as ressalvas anteriores sobre a qualidade da informação prestada por esse jornalismo— teria sido abortada por uma divergência de preço. Ponto. Mas e o dossiê que a Veja denunciou, o Globo repercutiu e a Folha escorou dando destaque às declarações de Serra que afirma ser de responsabilidade ‘exclusiva’ de Dilma? Aspas para o texto da Folha, novamente: a) ‘em 2 de maio’, diz o relato apócrifo, integrantes do PSDB souberam que a campanha de Dilma estaria montando [a mencionada] equipe de "inteligência" com o objetivo, deduziram, de espionar Serra’ Fecha aspas. Quem ‘deduziram’?

A matéria não esclarece, nem questiona. A Folha não revela sequer curiosidade em relação a esse núcleo central da trama que ao deduzir erroneamente –pelo que diz o próprio jornal-- criou o factóide surrado do ‘dossiê petista’, no qual embarcaram todos os veículos, bem como o candidato demotucuno, que o PT ameaça levar à justiça para provar a acusação criminosa contra Dilma Rousseff. Por fim, mas não por último, resta a embaraçosa omissão da matéria da Folha sobre o mais importante: o conteúdo efetivo dessas informações cuja divulgação – ‘circula na Internet’, diz o texto-- estremeceria a campanha demotucana, a ponto de se montar um coro despistador na tentativa de desqualifica-las por antecipação.

A dificuldade em tratar o principal é um sintoma da gravidade do que se tenta esconder. Um primeiro ponto remete ao autor das informações em litígio. Sobre esse personagem que a Folha conhece porque admite que já trabalhou na sua redação, bem como na de outros veículos de igual calibre, o texto faz menção curta sem abrir aspas para a entrevista óbvia que o assunto merece. Diz o jornal: ‘ Amaury Ribeiro Júnior ... investigou por anos o processo de privatização brasileiro iniciado nos anos do governo FHC (1995-2002)’.

Omitiu a Folha aquilo que ela e todo o meio jornalístico sabem : o jornalista Amaury Ribeiro Júnior é dono de três prêmios Esso; vernceu quatro prêmios Vladimir Herzog, é membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, apenas para citar alguns dados sobre a credibilidade do profissional que investigou e reuniu as informações escondidas pelo sistema midiático ao qual ele pertencia até recentemente. Não estamos falando portanto de uma Eliane Catânhede. Em frente.

Segundo a Folha a) ‘os dados começaram a ser coletados [por Ribeiro Jr] em sua passagem pelo "Estado de Minas", principal diário mineiro, próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG)’ ; b) ‘a apuração começou em 2009, depois que Aécio, então ainda um potencial presidenciável, foi alvo de reportagens críticas...” Alvo de quem? Curioso, no parágrafo anterior, a Folha desqualifica o trabalho investigativo do jornalista ao espetar no "Estado de Minas" o epíteto: ‘próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG)’, mas nada relaciona sobre a ‘proximidade política’ dos veículos responsáveis pelas ‘reportagens críticas’ citadas em seguida apenas de raspão. A reportagem-malabarista não assinada da Folha passa olimpicamente por indagações obrigatórias de qualquer pauta cuidadosa. Que tipo de ‘reportagens críticas’; em benefício de quem foram feitas; um trecho, um exemplo?

Nada. Na verdade, a abordagem isenta exigiria quase que uma auto-imolação do diário da família Frias, uma auto-investigação das perdas e danos causados à informação por seu esférico engajamento na candidatura José Serra , indissociável do anti-lulismo praticado disciplinadamente por quase toda a sua redação.

É inescapável recordar uma passagem que condensa a radicalização inscrita em todo esse episódio, traduzido por um jornalismo de campanha – nunca assumido abertamente - praticado pelo conjunto da mídia conservadora, sobretudo a de São Paulo. Em 4 de março de 2009, o jornal "O Estado de São Paulo", por exemplo publicou – numa seqüência de disparos da mesma cepa deflagrados pela Folha, Globo etc - um artigo criticando de forma agressiva a pressão do governador mineiro Aécio Neves pela realização de prévias democráticas no PSDB para a escolha do postulante à Presidência da República. Àquela altura, a sempre oportuna prontidão do Datafolha dava a Serra 45% das intenções de voto, contra apenas 17% de Aécio Neves, que mal disfarçava o propósito de implodir a blindagem erguida em torno do rival paulista levando a disputa para fora do jogo de cartas marcadas arbitrado pela endogamia entre a cúpula do seu partido e a mídia do eixo São Paulo-Rio.

Os xiliques de Serra e a agressividade dos recados emitidos pelos jornais serristas demonstravam que nem um, nem outro, confiavam de fato nos confortáveis índices oferecidos à opinião pública interna e externa pelo instituto de pesquisas da família Frias. É nessa linha de tensão que surge o artigo "Pó pará, governador?" cujo título trazia uma insinuação de represálias sem limite, caso Aécio Neves insistisse em se colocar na disputa contra o tucano paulista. A sombra da represália, por certo em munição letal, tanto que Aécio desistiu da candidatura - ficava explícita no parágrafo final do recado assinado pelo versátil porta-voz de interesses inconfundíveis, o jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas, pintor e etc, Mauro Chaves. Depois de denunciar o controle do mineiro sobre a imprensa do Estado [ "em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos"], o texto concluía: "Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário. E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?".
Era uma chamada enigmática para alguns, mas inteligível para os círculos que já ouviram insinuações recorrentes sobre hábitos pessoais do governador.

É sobre esse campo minado por uma luta que dificilmente fará de Aécio um cabo eleitoral mais que formal de José Serra, que explodiu o resultado de anos de trabalho de um premiado jornalistas investigativo do país. A coleção de dados e cifras envolvendo a família, os amigos, assessores de confiança de José Serra, seus laços societários e eleitorais com a família de Daniel Dantas e as ligações do conjunto com privatizações e movimentos milionários de dólares, dentro e fora do país, formam um latejante paiol em forma livro prestes a explodir no colo da coalizão demotucana. Desdobrado em 14 capítulos, com lançamento previsto para depois da Copa do Mundo, o artefato deixa o insone assumido, José Serra, cada vez mais distante de uma noite de sono dos justos. Pior que isso: torna mais improvável ainda que ela ocorra um dia na cama do Palácio do Planalto.

Jornalista envolvido com crise do dossiê diz que aceita acareação com ex-delegado - por Rubens Valente (Folha)

O jornalista Amaury Ribeiro Júnior disse que aceita ser acareado com o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa.

Em entrevista à revista "Veja", o delegado disse que recebeu pedido da campanha eleitoral de Dilma, durante uma reunião ocorrida em Brasília, em abril, para que investigasse "coisas pessoais" do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra (PSDB). Amaury, que participou do encontro, negou que o pedido tenha ocorrido.

Segundo o jornalista, na reunião o delegado relatou que pessoas ligadas ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estão levantando dossiês contra pessoas do PMDB, que vai indicar o vice na chapa de Dilma.

No sábado, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que pedirá uma investigação sobre a possível produção de dossiês pela campanha de Dilma Rousseff (PT).

A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Foi pedido ao delegado Onézimo que investigasse José Serra ou foi sugerido grampo telefônico?
AMAURY RIBEIRO JUNIOR - Não tem nada a ver com José Serra. A questão [da reunião] era para saber quem estava vazando informações. E saber quem roubou [as informações]. Na verdade se fala muito em espionagem, mas o que aconteceu é que roubaram coisas. Roubaram o cartão do próprio delegado. Eu fui chamado exatamente para tentar ver o que estava acontecendo na casa, o que estava vazando na casa.

Não foi sugerido ao delegado algum tipo de investigação sobre a família de Serra?
O que está parecendo agora é uma retaliação. Ele está falando isso agora como uma retaliação porque ele não foi contratado. [...] Agora, sendo um cara araponga, ele tem que provar. Eu tenho como provar que não rolou esse papo na conversa. Ele vai se dar mal, porque vou processá-lo. Porque tenho como provar tudo que se passou naquela conversa.

Como você pode provar?
Detalhes, diálogo por diálogo. Eu tenho como provar tudo o que foi falado. Agora, eu fui [à reunião] porque conheço outra pessoa, um amigo dele. Ele [Sousa] trabalhou na inteligência do Itagiba, no Ministério da Saúde, que o Serra montou.

Por que ocorreu a reunião?
Não era só vazamento, começaram a roubar coisas lá dentro. Sabotagem. [...] O Onézimo chegou nessa reunião dizendo que ele tinha condições de destruir isso porque ele havia trabalhado antigamente, e que tinha brigado com o pessoal, da inteligência do Itagiba. [...] Quando o Serra assumiu o Ministério da Saúde, ele montou --com o pretexto de investigar laboratórios-- uma central de espionagem, que era formado por quem? É só você ver quem estava cadastrado. Era um agente do SNI, o "agente Jardim", que até pouco tempo estava no gabinete [de Itagiba na Câmara], um ex-delegado... Isso quem falou foi o próprio Onézimo.

Ele chegou nessa reunião [e disse]: "Pô, vocês estão atrasados, porque essa equipe está trabalhando há dois anos". "Fazendo o quê?" "Ah, eles estão levantando dossiê contra o pessoal, esse povo do Itagiba está levantando 300 dossiês contra pessoas do PMDB, e quem do PMDB não votasse com o PSDB, estão fazendo chantagem, estão chantageando". [...] E disse o seguinte: que tinha sido convidado, inclusive, para integrar esse grupo. "Então pra gente descobrir quem está com vocês, aí, é muito fácil, porque eu já trabalhei lá". Ele contou também que trabalhou --o que facilitaria [seu trabalho]-- que já tinha trabalhado no grupo de inteligência da campanha de Fernando Henrique em 1994.

Ele disse que esse grupo do Itagiba, depois de vasculhar a vida do Aécio Neves e da Dilma e não ter encontrado nada contra, eles estavam desesperados. E disse que tem uns 500 dossiês contra o pessoal do PMDB. Essa é a verdade. Então qual era a intenção --ele falou-- "se esse pessoal [está atuando contra], nós temos que nos proteger". Mas acontece que havia problemas, e isso eu concordo com ele, sobre o direcionamento da campanha. Porque eu achei confuso. Primeiro, que daí o pessoal da reunião começou a falar que estava desconfiando de fogo amigo. Aí ele falou, "vamos investigar o [grupo do] Serra ou vamos investigar o fogo amigo?". E aí realmente não chegamos a um acordo. Eu abortei. Porque o pessoal que podia estar na casa, não podia fazer esse trabalho externo. Eram dois serviços: um era proteger a casa e outro era saber quem eram esses caras do Itagiba. Eu vou poupar o nome, mas ele chegou até a mandar um cara para conversar com o "Jardim", saber o que ele estava fazendo, deu um relatório sobre o "Jardim", tudo. [...] Então o que era o plano? Era desmontar essa base.

O empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto seria o responsável por pagar os serviços?
Eu acho que ele é um cara que coordena a casa e estaria ali para saber como que seria o pagamento, se fechasse. Tanto que ele foi para a reunião acho que para... ele foi como representante do esquema da QI [a casa no Lago Sul onde funcionava a área de imprensa da campanha de Dilma].

Qual o interesse direto dele em pagar esse custo?
Ele ia ver as planilhas de custos, avaliar os gastos, se valia a pena, como qualquer contrato empresarial. Ele é amigo de Lanzetta e era tipo um contador da casa. Ele tinha uma equipe. A maior parte do staff da casa é ligada a ele. Lanzetta pegou uma pessoa para organizar. [...] Eles são sócios. Foi lá para dar um apoio. Pepper, americanos e Lanzetta fizeram um pool para tocar a casa. Parece que ele largou um monte de contratos [no governo] para participar da campanha.
Na área empresarial, ele pegou as empresas do pai e transformou a gráfica numa das maiores do Brasil, tem um faturamento de milhões. Ele transita em vários meios e é amigo de várias pessoas. Ele e Lanzetta são amigos inseparáveis, um não faz uma coisa sem o outro. Lanzetta chamou Benedito para organizar as finanças da casa, desde o aluguel, contratação de pessoas. Mas eu estou dizendo o que eu acho, aquilo que entendi.

Haveria pagamento em dinheiro?
Não, só em contratos. Isso ficou bem claro [na reunião]. O Benedito falou bem claro que não era esse tipo de pessoa, que emitiria comprovantes de pagamento e serviços. Seria tudo declarado.

E a presença de Idalberto na reunião?
Foi ele que levou o Onézimo. Eu conheço o Idalberto há muitos anos e ele nunca pegou, nunca...

Ele foi contratado pela campanha?
Não foi contratado, não. Ia se formar esse grupo que não se formou, entendeu? [...] Eu nem cheguei a fechar contrato, foi abortado, eu não entrei na campanha. Eu fui lá para tentar desmontar um sistema de espionagem. [...] Havia espiões lá dentro [da casa]. A "Veja" mostrou fotos de todo mundo, o cartão roubado do delegado. Eu falei [para um repórter da revista] que "sua matéria é produto de roubo, de sabotagem".

Vocês chegaram a fazer uma denúncia sobre esse suposto roubo?
Eu procurei o Ministério Público Federal, um procurador da República amigo, mas fui demovido da ideia por Lanzetta, que pediu, encarecidamente, que eu não formalizasse a denúncia. Havia suspeitas sobre os próprios integrantes da casa, então como poderia ser uma denúncia contra? Eu não fiz na hora, mas agora vou entregar todos os documentos, junto com os resultados das minhas investigações, para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Foi o Lanzetta quem lhe convidou para a reunião?
O Lanzetta, porque ele não é da área, tem um perfil de empresário. Eu sou jornalista. Eu converso com esse povo há dez anos, como todo jornalista conversa.

Os achados que você fez para seu livro, sobre as privatizações, foram relatados a Fernando Pimentel, chegaram a conhecimento...
Não. Isso é um material que nunca passei para ele porque eu tinha feito em outra circunstância. (..) Na verdade, eles [PSDB] estão preocupados com o que eu tenho. Não é feito de espionagem, nada de grampo, nada de ilegalidade. O que importa é se o que eu tenho aqui é legal, se tem fé pública, se não tem. É isso que importa. Agora, ninguém quer saber disso, né? Ganhei mais de 30 prêmios de jornalismo e nunca fiz matéria com base em grampo telefônico. Nunca trabalhei assim.

Quando sairá o livro?
No livro eu vou contar a história desde o início. Toda essa rede de intrigas. Eu, como não tenho contrato com ninguém, posso falar de todos os lados. Tem fogo amigo dos dois lados. Vou publicar os documentos. Já estou procurando um laudo de um especialista, um tributarista com especialização em lavagem de dinheiro, para dar um parecer sobre todos os documentos. Vou entregar tudo para a Polícia Federal. Vou até o fim.

Figurinhas do álbum. Os amiguinhos do Zezinho – pacotinho n. 5 – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/06/03/figurinhas-pacotinho-n-5/

A vez do café - por Andréia Lopes (A Gazeta)

Já vimos por aqui um presidente da Assembleia Legislativa preso e um governador do Estado que quase acabou cassado. O Poder Judiciário também foi parar no banco dos réus com a Operação Naufrágio, e os atos do Tribunal de Contas já foram colocados em xeque num passado recente, no esquema que ficou conhecido como Beija-Flor. Agora parte da nata da sociedade capixaba, empresários que construíram fortunas trabalhando com o produto que é o principal da nossa economia – o café –, se vê envolvida num esquema de corrupção. Sim, porque sonegar impostos também é uma forma de corrupção.

Em outras palavras, a mesma (alta) sociedade que muitas vezes reclama da política e de suas mazelas se vê ligada a empresas laranjas fictícias que atuam como intermediárias entre o comprador de café e o exportador. Um modelo com o disfarce legal, mas que, segundo as investigações, foi construído para ganhar créditos tributários – em outras palavras, uma forma de ganhar mais dinheiro.

Segundo o que foi apurado pela Receita, Polícia e Ministério Público Federal, essas empresas laranjas existiam exclusivamente para vender notas fiscais para a geração de crédito de PIS e Cofins, que proporcionavam um total de 9,25% para os verdadeiros beneficiários do esquema – que seriam os grandes grupos econômicos de café.

Foram centenas de depoimentos tomados e meia dúzia de caixas de um inquérito que, agora que a Operação Broca foi deflagrada, vai ganhar um volume muito maior. Fora o manual da fraude ensinando a fugir da ação da Receita Federal, há, segundo autoridades envolvidas nas investigações, gravações e documentos que sugerem que os empresários ou apostavam num risco calculado ou na certeza da impunidade.

A prática parecia ser encarada de forma tão comum que provavelmente ninguém imaginava que o setor de café quase inteiro seria preso, que os maiores contribuintes de ICMS do Estado seriam apontados como laranjas e que as maiores e mais importantes empresas de torrefação local seriam enquadradas. É claro que todos terão a oportunidade de se defender – e o principal argumento dos grandes grupos é o de que toda a documentação das empresas laranjas, inclusive o CNPJ, estava em dia, o que dificultava a identificação de irregularidades –, mas a Operação Broca aparece como mais um exemplo de que não existem intocáveis, de que poder ou dinheiro não blindam ou livram ninguém da possibilidade de ir para a prisão – ainda que temporariamente. Permite refletir também que a política é um reflexo do que temos na sociedade – ou em parte dela.

Segundo fontes que têm ligação direta com a investigação, em alguns casos chegava-se a ganhar mais com o crédito fictício do que com a venda do café. Curioso é que, ao longo de dois anos e meio de apuração, as empresas laranjas que vendiam notas fiscais aparentemente não se intimidaram. Teria havido até uma tentativa de sofisticar o esquema para burlar ainda mais a Receita: se antes era um intermediário, criou-se mais um, dificultando a fiscalização.

De acordo com o que foi apurado, em alguns casos há indícios de que grandes empresas estimulavam a formação das empresas laranjas. Algumas, inclusive, eram comandadas por ex-funcionários desses grupos, segundo fontes ligadas às investigações. Consta ainda que os corretores se utilizavam abertamente do termo laranja (e similares) para se referir a um negócio irregular, mas que era tratado com naturalidade. A responsabilidade direta dos grandes empresários sobre os intermediários é uma tese que o MPF vai se dedicar a provar.

Ainda que a legislação em vigor tenha brechas e que mereça um debate sobre a necessidade de mudança, isso não isenta ninguém de responsabilidades. É verdade também que a carga tributária é pesadíssima e que há estudos que apontam que, quanto maior o tributo, maior a sonegação. No caso do café, a legislação que passou a valer a partir de 2003 deveria corrigir distorções. Mas, como disse o cientista político Bolívar Lamounier em recente entrevista ao Estadão , “o Brasil é essencialmente corrupto”: “Se fôssemos punir, segundo o que manda a lei, toda a corrupção que há no país teríamos que pôr na cadeia metade da população”. Operações como a que foi realizada terça-feira ajudam na profilaxia.

Sem mistério – por Delfim Netto (CartaCapital)

Os brasileiros trabalharam e voltaram a acreditar que é possível estimular o crescimento sem perder de vista os objetivos de justiça social


Em seu segundo mandato, com o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – o presidente Lula começou a devolver ao País a ideia do desenvolvimento. O Brasil vinha manquitolando há 20 anos, a economia patinava e os brasileiros pareciam ter perdido a crença na possibilidade de voltar a crescer de forma robusta e mais rapidamente.

Depois de enfrentar o sufoco de inesperados problemas políticos em seu primeiro período de governo e afastar o risco de uma recidiva inflacionária herdada do antecessor, ele interpretou corretamente o recado das urnas ao ser reeleito: a sociedade queria o desenvolvimento com mais justiça social.

Ao lançar o PAC, Lula reacendeu o ânimo do crescimento, mobilizou os empresários, estimulou os bancos oficiais a darem suporte aos investimentos privados, conseguiu reanimar o espírito animal do empresariado, que logo voltou a tocar os projetos, a aumentar a produção e criar empregos.
Muitas pessoas parecem bastante surpresas com o fato de estarmos hoje crescendo à taxa anual próxima de 6%, como se fosse um novo milagre, lembrando o crescimento dos anos 70 do século XX, quando na verdade o PIB cresceu 10% durante vários anos por conta de fatores bem reais que nada tinham a ver com o sobrenatural.

Da mesma forma que naquele período, o crescimento atual é fruto do trabalho dos brasileiros, que voltaram a acreditar que é possível acelerar o desenvolvimento sem perder de vista os objetivos de justiça social. O grande mérito do presidente Lula foi convencer a sociedade de que o Brasil tinha readquirido as condições para crescer vigorosamente, com inflação sob controle e melhorando a distribuição de renda. Três anos e meio depois, os dados sobre o consumo, a expansão da oferta de empregos e o aumento do salário real indicam um nível de crescimento anual do PIB provavelmente acima de 6% e não será nenhuma surpresa se esse ritmo se sustentar nos próximos anos.

Há fortes motivos para acreditar que, nessa nova fase de desenvolvimento, a economia brasileira estará bem menos ameaçada por crises internas ou externas, como aquelas que interromperam o robusto crescimento nas últimas três décadas do século XX. Nossa economia mostrou-se suficientemente sólida durante os momentos mais dramáticos da crise que abalou as finanças mundiais a partir de 2008. Mais importante é o fato de que reduzimos efetivamente os riscos de crises de energia ou de restrições de financiamento externo, graças à retomada dos projetos de geração hidrelétrica e ao bônus da natureza representado pelo petróleo do pré-sal.

Esses dois problemas interromperam o desenvolvimento brasileiro em diferentes ocasiões ao longo do século passado: as mais graves foram a crise produzida pela brutal elevação dos preços do petróleo nas décadas de 70 e 80 (o que obrigou o País a endividar-se para pagar as importações de petróleo, que correspondiam a 80% do consumo de combustível) e o inesperado apagão energético de 2001, que resultou numa queda de 2% do PIB brasileiro. Com o reinício da construção das grandes usinas hidrelétricas nas Regiões Centro-Oeste e Norte, vai se recompondo a matriz original brasileira de energia limpa, não poluente. Numa outra vertente, a extração de óleo e gás de petróleo do pré-sal consolida a autossuficiência em combustível e abre um vasto campo para investimentos na indústria petroquímica.

Devemos nos acostumar, então, com os problemas que habitualmente acompanham a aceleração do crescimento, a começar pelo fato de que desenvolvimento não significa equilíbrio. Já temos vários setores reclamando da falta de mão de obra e outros em que se generalizam as queixas quanto à situação precária da infraestrutura, especialmente o estado das rodovias e o estrangulamento dos acessos aos portos. O desenvolvimento é isso mesmo: cada problema resolvido cria mais dois para serem enfrentados mais adiante. Trata-se, portanto, de lidar com situações de desequilíbrio próprias de um processo de crescimento acelerado.

A difícil escolha do vice do pres. Zezinho – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/06/05/a-dificil-escolha-do-vice-do-pres-zezinho/

Dilma enfrenta Serra. Dilma não é só Lula – por Paulo Henrique Amorim

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/06/07/dilma-enfrenta-serra-dilma-nao-e-so-lula/

A supremacia da ignorância – por Luiz Gonzaga Belluzzo (CartaCapital)

Os Estados Unidos invadiram o Iraque a pretexto de extinguir um arsenal de “armas de destruição em massa”. Nada assemelhado foi encontrado nos alegados esconderijos de Saddam Hussein. Agora, Tio Sam ameaça torpedear o acordo com o Irã patrocinado por Brasil e Turquia. Seja qual for o alcance do combinado, o Poder Americano insistirá na imposição de sanções.

Nada de novo sob o sol. Os ideólogos conservadores que inspiravam o governo republicano eram claros quanto aos propósitos da intervenção no Iraque. Eles falavam do que interessa: superioridade militar e controle de áreas sensíveis para a preservação do poder que se pretende absoluto.

Há tempos, o jornalista americano William Pfaff, do International Herald Tribune, afirmou que “o dinheiro desregrado não apenas dirige o resultado das eleições americanas, mas influencia as decisões do Congresso e as atitudes da Casa Branca, em matérias tão improváveis como a luta contra o tráfico de drogas na América Latina”. Pfaff, um ícone do jornalismo mundial e crítico duro das ações de seu país, antecipou com grande precisão como seria o desempenho dos republicanos no governo. Resta saber o que pensa o insigne jornalista dos democratas sob a presidência de Obama.

As transgressões aos direitos dos povos continuam a ser executadas com persistência, mas hoje edulcoradas com a preocupação de invocar – apenas invocar – a chamada comunidade internacional para justificar as tropelias. Agora, sob o acicate da crise, a razão imperial precisa, mais do que nunca, manter o demônio (qualquer demônio) vivo para impor as razões de sua divindade.

Para tanto, os processos de informação e de formação da consciência política e coletiva, ou seja, os espaços da autonomia individual estão permanentemente subjugados à lógica econômica e política de uma ordem imperial que deslocou a hegemonia do imediato pós-guerra para adotar o exercício puro e duro de seu poder. Na ordem americana, o nomos da terra significa a exigência de respeito à vontade imperial, à sua moral particularista, idiossincrática e assimétrica. O direito, dizia Hegel, enquanto existência da liberdade é uma determinação essencial na refrega contra a “boa intenção” moral. “Os protestos contra este desenvolvimento são... reminiscências do ‘estado bruto de natureza’ que revelam um apego doentio à própria particularidade, narcisisticamente desfrutada como moral”.

O narcisismo moral americano não precisa de adjetivos em sua espantosa objetividade. Está sempre preparado para qualificar os recalcitrantes e dessemelhantes como rogue States, o que significa deformar em proveito próprio o papel das instâncias integradoras no âmbito internacional. O avanço do narcisismo intervencionista americano é constitutivo de sua natureza e demonstra porque, a despeito de Woody Allen, os americanos tomam o seu país como a “utopia realizada”.

A supremacia apoiada na superioridade das armas e no despotismo da economia desregulada dispensa mediações da ordem jurídica e não quer ou não precisa compreender nada. O mundo em que tentamos sobreviver é uma prova diária da degeneração da razão ocidental, transformada e objetivada na execução desabrida dos métodos de domínio.

Os Estados Unidos, diz um dos gurus da nova direita, estão tornando o país mais parecido com ele mesmo. Uma reconciliação do fenômeno com o conceito, provavelmente a apoteose do fim da história. No fundo da alma, a nova direita tem certeza de que os processos e as instituições de negociação democrática, fora dos Estados Unidos, como a ONU, por exemplo, são geringonças inúteis. São estorvos para a consecução das políticas “corretas” isto é, aquelas que se submetem aos seus interesses e de suas empresas. Por isso é preciso coartar e controlar as instâncias de discussão pública da informação. A liberdade de opinião não é boa coisa, sobretudo quando começam a naufragar os programas econômicos e sociais recomendados pelos Senhores do Mundo como roteiros infalíveis para o sucesso.

Na família dos vulgarizadores da opinião subalterna não faltará quem pretenda acusar de "antiamericanismo” os que hoje dão nome e apelido aos episódios de reafirmação do poder imperial americano. Tratar assim uma questão tão grave e decisiva para o futuro da vida decente neste planeta é uma forma tosca de “misturar estação” com o propósito de interditar o exame crítico de qualquer processo político. Isso desfigura o debate racional sobre os conflitos contemporâneos, transfigurado numa guerra de preconceitos travada nos esgotos da alma humana.

domingo, 6 de junho de 2010

UDN publica anúncio para contratar vice para o Pres. Zezinho – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/06/03/udn-publica-anuncio-para-contratar-vice-para-o-pres-zezinho/

Por que nós sempre escamoteamos? – por Lucas Azevedo (CartaCapital)

João Carlos Bona Garcia, um ex-militante da esquerda armada que virou juiz do tribunal militar, afirma que, a exemplo do Chile e da Argentina, as Forças Armadas devem prestar contas do passado



“Claro que valeu a pena”. Assim João Carlos Bona Garcia responde à última pergunta feita no filme que narra sua vida e que, na tela do cinema, ficou sem resposta. Universitário de classe média que pegou em armas por um Brasil socialista, assaltante de carros forte que virou diretor de banco e ex-guerrilheiro que se tornou juiz de um Tribunal Militar são alguns antagonismos que parecem ficção, mas representam o puro retrato da vida de Bona, cuja trajetória política é contada “Em Teu Nome”, de Paulo Nascimento, em cartaz em todo País desde a sexta-feira 28.

Nascido no interior do Rio Grande do Sul, Bona militou na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) após o golpe de 1964. Depois de participar de ações armadas, ser preso pelo Departamento de Ordem Política e Social e testemunhar as crueldades nos porões, foi banido para o Chile, em 1971, e trocado com outros 69 presos políticos pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. Do Chile, rodou por Argentina, Argélia e França. Nessa entrevista, Bona fala do que reviveu com o filme, confirma uma traição que custou a vida quadros da VPR, entre eles o líder Onofre Pinto, e comenta o parecer do Supremo Tribunal Federal sobre o alcance da Lei da Anistia: “Não vai condenar ninguém. O pessoal daquela época já está de pijama”.

CartaCapital: O filme termina com uma pergunta que o personagem Boni, que representa o senhor, não responde. Valeu a pena toda essa trajetória de luta contra a ditadura?
Bona Garcia: É claro que valeu a pena. Se eu pudesse voltar no tempo, com a cabeça que eu tinha na época, com a vontade de transformar a sociedade, buscado a liberdade e um mundo mais socialista, é claro que eu faria tudo de novo. Era o meio que tínhamos para fazer isso. Não optamos pela luta armada, nos empurraram para ela. Não tínhamos outro caminho a seguir.

CC: Ao ver a atuação do ator Marcos Paulo no filme, que interpretou o chefe do Dops gaúcho, delegado Pedro Seelig, conhecido como “Fleury dos Pampas”, não brota no senhor um sentimento de falta de Justiça?
BG: Claro que sim. Mas, como disse no final do filme, se me perguntarem se eu mudaria de calçada ao ver um torturador hoje em dia, eu digo que não. Apesar de achar que os torturadores são pessoas com patologias sérias, acredito que chega um determinado momento em que eles devem fazer uma revisão de seus atos e se sentirem envergonhados. Acho que eles estão purgando todo esse período.

CC: Não é uma ironia um “ex-expropriador” virar diretor de um banco estatal?
BG: Claro que sim. Na época em que assumi a diretoria do Banrisul (1996) isso foi muito questionado. Mas prova que houve Anistia, nós voltamos e somos cidadãos de plenos direitos. Eu tenho um lado técnico. Estudei Economia (na Universidade de Sorbonne, durante o exílio na França) e aprendi o funcionamento de um banco. Assumi o cargo e também acabei sendo eleito presidente do sindicato dos bancos do Rio Grande do Sul. Mas sempre levei as coisas de uma maneira muito clara. Nunca escondi nem abri mão do meu passado e sempre tive orgulho dele. Quando ingressei no Tribunal Militar, por exemplo, tive que derrubar mandado de segurança, porque não queriam que eu assumisse. Mas depois, com o tempo, tudo acabou bem.

CC: Como um ex-guerrilheiro acabou se tornando um juiz do Tribunal Militar?
BG: É o primeiro e único caso no Brasil, e acho que permanecerá sendo o único. Em 1998, fui convidado pelo então governador Antonio Britto e acabei nomeado como juiz do Tribunal Militar. Para mim foi uma surpresa, mas pensei: “é uma instituição pública e estamos em uma democracia. Por que não assumir?”. Foi uma experiência maravilhosa, em que aprendi e ensinei muito.

CC: O senhor é uma testemunha histórica de um fato marcante nos anos de chumbo, a suposta entrega de guerrilheiros aos militares pelo sargento Alberi Vieira dos Santos, um dos homens de Leonel Brizola em 1961. O sargento Alberi realmente mudou de lado?
BG: Acho que sim. Ele me procurou na Argentina, em 1974, tentando fazer de tudo para me dar documentos para eu voltar ao Brasil. Não gostei. Senti que tinha algo errado. Marcamos um encontro no centro de Buenos Aires e vi que era uma armadilha. Nesse momento surgiu a idéia de eu sair de lá. Com o auxílio do (ex-governador de Pernambuco e dirigente do Partido Socialista Brasileiro) Miguel Arraes, cheguei até a Argélia. As pessoas que saíram da Argentina com o Alberi foram todas mortas. Eram do grupo do Onofre Pinto, da VPR, que também acabou morto. Não tenho dúvida de que o Alberi era um agente. E acabou morto. O que, para mim, foi queima de arquivo.

CC: Qual sua opinião sobre a revisão do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos?
BG: Acho que não há problema nenhum em abrir e efetivar a Comissão da Verdade. Inclusive citar os nomes de quem participou dessas atrocidades. O presidente Lula faz um pouco como fez Getúlio Vargas, que contrabalançava as pressões. Às vezes a balança pendia para um lado, e pela forte reação do outro, que estava em cima, a balança voltava a pender. Acredito que as instituições possuem a obrigação de abrir os arquivos. O povo tem direito à sua memória, a conhecer toda a sua história e o seu passado. Isso foi tolhido.

CC: Como um dos responsáveis pelo comitê da Anistia na França, em 1977, o que o senhor achou da recente decisão do Supremo que manteve a lei intacta?
BG: Fui muito grato à Lei da Anistia porque, por causa dela, voltei ao Brasil. Mas essa discussão que chegou ao Supremo Tribunal Federal, do ponto de vista jurídico, não podemos contestar o seu parecer, o qual diz que a Anistia foi ampla, geral e irrestrita, pegando todo mundo. Mas acho que, para o País virar essa página tão triste e sofrida, a lei teria que ser revista.

CC: A revisão da lei botaria alguém na cadeia?
BG: Isso não vai condenar ninguém. O pessoal daquela época já está de pijama, são pessoas de mais idade. Mas seria importante para as próprias Forças Armadas e para as polícias civis e militares rever suas participações e assumirem suas parcelas de erros para que o Brasil possa seguir adiante. As Forças Armadas, que eu sempre defendi, são uma instituição que prestou serviços relevantes ao País desde o seu início, mas que tropeçou em determinados momentos, cometendo crimes em nome do Estado. Seria mais tranqüilo assumirem seus erros, assim como a Argentina e o Chile fizeram e o Uruguai está fazendo. Por que nós aqui sempre escamoteamos?

sábado, 5 de junho de 2010

Reviravolta: Onézimo de Souza, da revista Veja, é da turma de arapongagem de Serra e Itagiba desde o Ministério da Saúde - por Os Amigos do presidente

Reviravolta: Onézimo de Souza, da revista Veja, é da turma de arapongagem de Serra e Itagiba desde o Ministério da Saúde - por Os Amigos do presidente Lula

http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/06/reviravolta-onezimo-de-souza-da-revista.html

Comentário meu:

A farsa está desmascarada.

Numa reunião realizada no hotel Fritz em que estavam presentes o jornalista e consultor da campanha de Dilma Luiz Lanzeta, o empresário Benedito de Oliveira (levado por Lanzeta para servir como testemunha), o jornalista Amaury Ribeiro Jr., renomado jornalista ganhador de diversos prêmios, autor de um ainda inacabado livro sobre o tenebroso processo de privatizações e suas ligações com o submundo tucano. Além destes, na reunião foram dois membros tucanos para a reunião, o delegado da polícia federal Onézimo e o sargento da reserva e ex-agente do serviço secreto militar Idalberto Araújo, o Dada. Estes dois últimos foram oferecer a espionagem de Itagiba, que supostamente estaria investigando ilegalmente diversos candidatos da base aliada.

Na verdade, eles eram agentes a mando do notório Marcelo "Lunus" Itagiba, doidos que os petistas aceitassem, para acusá-los, mais a frente, de espionagem, crime eleitoral, etc.

Só que os petistas não aceitaram a ilegal oferta. Agora, Onézimo, notoriamente ligado a Itagiba acusa a verdade, ao detratar os petistas. Era na verdade um contraespião.

Ficou cristalino os interesses da jogada: a estratégia de arrebentar com a campanha petista já que, pelos feitos, pela moral, pelo legado, pela eficiência no trato público, é certa a eleição de Dilma.

A única coisa com a qual a campanha da direita pode contar é algum escândalo.

Na verdade, neste caso, o feitiço voltou contra o feiticeiro. O escândalo foi a tentativa de comprometimento de uma campanha e uma candidata honestas.

Mais uma de Marcelo "Lunus" Itagiba.

¿Até quando este bandido permanecerá incólume?

O dossiê do dossiê do dossiê... – por Leandro Fortes (CartaCapital)

No modorrento feriado de Corpus Christi, os leitores dos jornais foram inundados com informações sobre uma trama que envolveria a fabricação de dossiês contra o candidato tucano à Presidência, José Serra, produzidos por gente ligada ao comitê da adversária Dilma Rousseff. O time de espiões teria sido montado pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da agência Lanza, responsável pela contratação de funcionários para a área de comunicação da campanha petista. O primeiro desses documentos seria um relatório sobre as ligações de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB, com Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Uma história tão antiga quanto os dinossauros e já relatada inúmeras vezes na última década, inclusive por CartaCapital.

A notícia sobre o suposto dossiê, que ninguém sabe dizer se existe de fato, veio a público em uma reportagem confusa da revista Veja e ganhou lentamente as páginas dos jornais durante a semana até ser brindada com uma forte reação do PSDB e de Serra. Na quarta-feira 2, o pré-candidato tucano acusou Dilma Rousseff de estar por trás da “baixaria” e cobrou explicações. A petista disse que a acusação era uma “falsidade” e o presidente do partido, José Eduardo Dutra, informou que a cúpula da legenda havia decidido interpelar Serra na Justiça por conta das declarações.

Os boatos sobre a fábrica de dossiês parecem ser fruto de uma disputa interna entre dois grupos petistas interessados em comandar a estrutura de comunicação da campanha de Dilma Rousseff, um ligado a Lanzetta, outro ao deputado estadual Rui Falcão. A origem dessa confusão era, porém, desconhecida do público, até agora. CartaCapital teve acesso a parte do tal “dossiê” que gerou toda essa especulação. Trata-se, na verdade, de um livro ainda não publicado com 14 capítulos intitulado Os Porões da Privataria, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

O livro descreve com minúcias o que seria a participação de Serra e aliados tucanos nos bastidores das privatizações durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. É um arrazoado cujo conteúdo seria particularmente constrangedor para o pré-candidato e outros tantos tucanos poderosos dos anos FHC. Entre os investigados por Ribeiro Jr. estão também três parentes de Serra: a filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Está sendo produzido há cerca de dois anos e nada tem a ver com a suposta intenção petista de fabricar acusações contra o adversário.

É essa a origem das informações sobre a existência do tal “dossiê” contra a filha de Serra. E a razão de os tucanos terem lançado um ataque preventivo às informações que constam do livro. De fato, Ribeiro Jr. dedicou-se a apurar os negócios de Verônica. Repórter experiente com passagens em várias redações da imprensa brasileira, Ribeiro Jr. iniciou as apurações a pedido do seu último empregador, o Grupo Diários Associados, que congrega, entre outros, os jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. O livro narra, por exemplo, supostos benefícios obtidos por Marin Preciado em instituições financeiras públicas, entre elas o Banco do Brasil, na época em que outro ex-tesoureiro de Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira, trabalhava lá. Para quem não se lembra, Oliveira ficou famoso após a divulgação de sua famosa frase “no limite da irresponsabilidade” no conjunto dos grampos do BNDES.

Em uma entrevista que será usada como peça de divulgação do livro e à qual CartaCapital teve acesso, Ribeiro Jr. afirma que a investigação que desaguou no livro começou há dois anos. À época, explica, havia uma movimentação, atribuída ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), visceralmente ligado a Serra, para usar arapongas e investigar a vida do governador tucano Aécio Neves, de Minas Gerais. Justamente quando Aécio disputava a indicação como candidato à Presidência pelos tucanos. “O interesse suposto seria o de flagrar o adversário de Serra em situações escabrosas ou escândalos para tirá-lo do páreo”, diz o jornalista. “Entrei em campo, pelo outro lado, para averiguar o lado mais sombrio das privatizações, propinas, lavagem de dinheiro e sumiço de dinheiro público.”

A ligação feita entre o nome de Ribeiro Jr. e o anunciado esquema de espionagem do comitê de Dilma deveu-se a um encontro entre ele e Lanzetta, em Brasília, no qual se especulou sobre sua contratação para a equipe de comunicação da campanha petista. Vencedor de três prêmios Esso e quatro prêmios Vladimir Herzog, entre muitos outros, Ribeiro Jr., 47 anos, é conhecido por desencavar boas histórias. Herdeiro de uma pizzaria e uma fazenda em Campo Grande (MS) e ocupado com a finalização do livro, o jornalista recusou o convite.

Na entrevista de divulgação do livro, Ribeiro Jr. afirma que a obra estabelece a ligação de diversos tucanos com as privatizações e desnuda inúmeras ações com empresas offshore para fazer entrar no Brasil dinheiro oriundo de paraísos fiscais. “São operações complicadas e necessitam ser explicadas com cuidado para os brasileiros perceberem o quanto foram lesados e em quanto mais poderão ser.”

A aproximação entre Ribeiro Jr. e Lanzetta, contudo, teria sido suficiente para que grupos interessados em ganhar espaço na campanha petista desencadeassem uma onda de boatos sobre a formação de um time de contraespionagem para produzir dossiês contra os tucanos. Diante do precedente dos “aloprados” do PT, a mídia embarcou com entusiasmo na versão depois assumida com tanto vigor pelos próceres tucanos. É mais um não fato da campanha.

O mesmo fenômeno envolveu o ex--delegado federal Onésimo de Souza, especialista em contraespionagem que chegou a oferecer serviços ao PT de vigilância e rastreamento de escutas telefônicas. Como cobrou caro demais, acabou descartado, mas foi apontado como futuro integrante da tal equipe de arapongas de Dilma Rousseff.

Por ordem da pré-candidata, qualquer assunto relativo a dossiê e afins está proibido no comitê de campanha instalado numa casa do Lago Sul de Brasília. Dilma se diz “estarrecida” com as acusações veiculadas, primeiro, na revista Veja e, em seguida, por diversos outros veículos - sempre com foco na suposta espionagem, nunca no conteúdo do suposto dossiê. Aos auxiliares, a petista mandou avisar que não aceitará, “em hipótese alguma”, a confecção de dossiês durante a campanha e demitirá sumariamente quem se envolver com tal expediente.

O jogo de manipulações em torno do suposto dossiê – por Luis Nassif

Da Folha
Papéis mencionam auxiliares e familiares de tucano



Os papéis que circularam pelo comando da campanha de Dilma Rousseff (PT), tratados oficialmente por sua equipe como algo alheio à candidata e pelos tucanos como obra dela, tratam de transações financeiras que envolvem antigos colaboradores e familiares de José Serra (PSDB).
A Folha teve acesso a dois conjuntos de papéis. Um cita dados da CPI do Banestado (2003-2004), e o outro é sobre negócios atribuídos à filha de Serra, Verônica.

Os papéis da CPI relatam operações financeiras registradas entre 1997 e 2001 em nome de empresas que pertenciam ou pertenceram a Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador informal da campanha de Serra ao Senado, em 1994, e ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil no governo FHC.

Oliveira deixou o cargo no BB em 1998, após o escândalo dos grampos no BNDES.
Os papéis também relatam movimentações financeiras do empresário Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima do presidenciável e sócio de Serra até 1995 em um imóvel.

O principal papel do conjunto é um relatório datado de 2004, assinado pelo relator da CPI, o deputado federal José Mentor (PT-SP).

O relatório foi enviado pela CPI à Justiça de São Paulo num processo movido em 2002 por Ricardo Sérgio contra a "IstoÉ", que havia citado os dados. A revista pediu ao juiz do caso que fosse possível buscar os documentos guardados pela CPI.

No relatório, Mentor descreveu que a CPI detectou operações de até US$ 2,7 milhões entre uma empresa então ligada a Ricardo Sérgio, a Consultatum, e uma "offshore", por meio de operações de remessas de dinheiro que fugiam às regras do BC.

O relatório de Mentor também transcreve remessas totais de US$ 410 mil de uma empresa com interesses no setor telefônico brasileiro.

Sobre os negócios de Verônica, a Folha manuseou, mas não obteve cópia dos papéis nem conseguiu verificar sua autenticidade. Eles tratam de operações contábeis feitas por empresa ligada a Verônica e seu marido.


Comentário
Nem vou discutir a veracidade ou não do chamado dossiê. Mas esse conteúdo que a Folha menciona faz parte do livro do repórter Amaury Ribeiro Jr. Ontem, depois de colocar a nota recebi email com o prefácio e mais um capítulo do livro. Está tudo lá. Decidi não publicar inclusive devido à complexidade do tema, que exige muito cuidado na análise dos dados e nas conclusões. Mas é evidente que o conteúdo mencionado pelo jornal faz parte do livro do Amaury, cujas investigações - incluindo viagens ao exterior - foram bancadas pelo jornal O Estado de Minas.
Assim como no episódio da "ditabranda" e das "fichas de Dilma" a Folha vai ficar enrolando, acumulando desgaste à toa, para ter que dar o braço a torcer mais à frente.

Hoje em dia qualquer grande empresa tem uma estratégia de administração de crise de imagem, devido à própria falta de discernimento dos jornais, de não ter critério para separar denúncias efetivas de factóides. As únicas empresas totalmente desaparelhadas para suas crises de imagem são os próprios jornais.

Os riscos da governança global - por Assis Moreira (Valor econômico)

Há dois anos, o National Intelligence Council (NIC) dos EUA publicou o relatório "Tendências Globais 2025", incluindo cenário no qual o Brasil atua como mediador em situações de crise no Oriente Médio e na Ásia para "ajudar a reconstituir o tecido internacional", num desempenho diplomático "que os EUA não podiam igualar naquelas circunstâncias". A realidade chegou antes do que imaginava o centro de estudos dos serviços de inteligência americano. O Brasil e a Turquia, ao negociarem no Irã acordo sobre a questão nuclear, irromperam no clube dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, espécie de diretório político do planeta, e escancararam as insuficiências da velha governança mundial, nascida após a Segunda Guerra.

O Brasil é um ator incontornável nas negociações comerciais e de combate à mudança climática, por exemplo. O país não é suficiente para fechar um acordo, mas sem ele tampouco há decisão. Na parte política, sua influência é mais limitada. É o único dos Bric que não tem poder nuclear, por exemplo, e é obrigado a jogar com o "soft power", o poder que nasce do exemplo, da liderança moral e cultural.

O acordo com Teerã despertou a atenção internacional por ser a primeira vez que atores médios têm ação em tema estratégico, de proliferação nuclear. Não produziu todo o efeito, como ficou claro na reação dos EUA. Mas foi recebido na Europa, pelo menos, como o primeiro ensaio da nova época que será este século, na avaliação de Thierry de Montbrial, diretor do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri). Ou como a "prefiguração do fim do monopólio político das grandes potências", conforme outro analista, Bernard Guetta.
Reuters

"A crise econômica foi um divisor de águas da história e vemos com clareza que o mundo está se configurando de maneira diferente", observa Felipe González, ex-presidente espanhol

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma visibilidade maior à política externa por seu carisma e sua história pessoal. A descoberta do pré-sal aumentou a importância econômica e estratégica do país, assim como a aceleração do crescimento econômico, o impacto limitado da crise financeira, a redução da pobreza e da desigualdade. O Brasil é um dos celeiros alimentares do mundo, tem uma das últimas fronteiras agrícolas inexploradas e boa parte das reservas de água doce do planeta.

Apoiado em tudo isso, Lula recusa que novos atores na cena global sejam considerados "intrusos" pelo "clube" baseado na geopolítica de 1945, quando Roosevelt, Stalin e Churchill decidiam o destino do mundo em torno de "uma garrafa de uísque".

"Brasil, China, Índia vão ter um papel diplomático mais e mais importante e se envolver em questões extremamente sensíveis nas quais as grandes potências fracassaram, e as consequências disso serão consideráveis em 10 ou 15 anos", diz Montbrial.


"O longo período de dominação ocidental, encorajada e acelerada pelos próprios erros e comportamento irresponsável, está acabando", diz Dominique Moisi, de Harvard

Ele vê o risco de antigas fraturas Leste-Oeste e Norte-Sul serem substituídas progressivamente por uma nova fratura, apenas perceptível, entre um Oeste mais e mais defensivo e países emergentes como o Brasil e a China reivindicando seu espaço na governança global. "Estamos engajados numa corrida contra o relógio", afirma. "Na falta de uma governança adequada, a mundialização irá diretamente contra o muro."

A governança global emergiu progressivamente a partir dos entendimentos restritos no Congresso de Viena (em 1815, que redesenhou o mapa político da Europa depois da derrota da França napoleônica); em Paris (em 1856, com os princípios do direito marítimo); Berlim (em 1884, com a partilha imperial da África e outras disposições colonialistas); Versalhes (em 1919, imposição de reparações à Alemanha e criação de novos Estados na Europa); e a conferência de San Francisco (em 1945, que criou a ONU).

A "boa notícia", afirma Lamy, diretor-geral da OMC, é que a pior crise econômica e financeira dos últimos tempos acelera a nova arquitetura da governança global

Como diz o diplomata e sociólogo Paulo Roberto de Almeida, o conceito de governança (e não governo) global tem a ver com a gestão partilhada de problemas comuns, como segurança e estabilidade (o controle de Estados belicosos e de movimentos terroristas), com o crescimento sustentado de países pobres (Estados falidos podem exportar a sua miséria) e com a preservação ambiental (desequilíbrios provocados pelo homem têm impacto profundo no futuro das sociedades). As crises resultantes da má gestão financeira também podem ter efeitos globais desastrosos, como a iniciada nos EUA em 2008, que afetou o mundo todo.

Na prática, porém, as autoridades nacionais cuidam dos próprios problemas e adotam políticas que empurram as crises para os demais. "É o que ocorre com práticas como o protecionismo dos ricos, a recusa de ceder espaço a novos competidores, a incapacidade ou a falta de vontade de empreender ações corretivas nos planos ambiental, criminal (tráfico de drogas ou de pessoas, por exemplo) e em outras áreas com possível impacto extrafronteiras", diz Almeida.

Analistas concordam que grandes reformas da governança mundial só ocorrem mesmo como resultado de guerras globais ou outras grandes turbulências culturais ou desastres humanos. A agenda internacional está pesada, pelos fracassos da negociação comercial conhecida como Rodada Doha, pelo impasse no acordo do clima, pela ausência de progressos práticos no G-20 financeiro. Tudo isso reflete a mediocridade das lideranças políticas com intensos lobbies internos que impedem reformas. E não apenas na Europa. Quanto ao Brasil, dizem que seus problemas não têm a ver essencialmente com o sistema internacional, todos são "made in Brazil".

A "boa notícia", afirma Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), é que a pior crise econômica e financeira dos últimos tempos acelera a nova arquitetura da governança global, na qual ele vê um "triângulo de coerência". De um lado, o G-20, grupo das 20 maiores nações representando mais de 80% da produção mundial, dá a liderança política. De outro, as organizações internacionais fornecem a especialização, negociam as regras, políticas ou programas. E o terceiro lado do triângulo é a ONU, como foro para "accountability" - prestar contas pelo que cada um faz.

No longo prazo, tanto o G-20, que se torna uma espécie de diretório econômico do planeta, como as agências internacionais, vão reportar-se ao "parlamento" das Nações Unidas. Já a reforma do Conselho de Segurança da ONU continua no impasse. A França, sem peso decisivo, acena com nova proposta, prevendo a criação de um status intermediário entre membros permanentes e não permanentes, com os novos membros sendo designados por dez anos sem direito de veto.

"A crise econômica foi um divisor de águas da história e vemos com clareza que o mundo está se configurando de maneira diferente", observa Felipe González, ex-presidente espanhol. Dominique Moisi, professor visitante da Universidade de Harvard, completa: "O longo período de dominação ocidental, encorajada e acelerada pelos próprios erros e comportamento irresponsável, está acabando".

Para Alfredo Valladão, professor do Instituto de Ciência Política de Paris, a força dos emergentes vem da globalização, da fragmentação das cadeias produtivas, de um sistema financeiro que deu crédito barato e abundante para investir em todo lugar. Nota que os EUA e a União Europeia (UE) representam dois terços do consumo final mundial e sem esse consumo e sem crédito "não tem desenvolvimento na China nem em lugar nenhum".

O Deutsche Bank estima que as economias emergentes poderão ter um crescimento acumulado de 30% até 2012, comparado a apenas 5% nos países desenvolvidos - o que vai se refletir na relação de forças.

Na média, as economias emergentes poderão crescer 4% a mais por ano do que as economias industrializadas nos próximos três a cinco anos, conforme o estudo intitulado "O Novo Mundo", assinado pela economista Maria Laura Lanzeni.

Os emergentes representarão 40% da produção mundial dentro de três anos, num salto enorme em comparação aos 25% de 2005. Segundo o Fórum Mundial de Economia, a desintegração da União Soviética, o despertar da China como usina do mundo e financiadora dos déficits americanos e as reformas econômicas na Índia representaram a inclusão de 1 bilhão de pessoas na força global de trabalho. O comércio mundial triplicou e cresce duas vezes mais que a produção, com os países em desenvolvimento representando 38% em comparação aos 23% de há 20 anos.

Como resultado do rápido crescimento e integração, as economias emergentes incluíram 400 milhões de consumidores de classe média na economia mundial. O aumento é de 70 milhões por ano, dos quais 20 milhões fora da China e Índia.

O mercado de capitais se globalizou. A média diária de transações cambiais supera US$ 4 trilhões por dia. As sociedades estão mais interconectadas pelo avanço tecnológico. O custo de três minutos de ligação telefônica dos EUA para a França caiu de US$ 4,14 em 1988 para US$ 0,06. A internet é utilizada por um quarto da população mundial de 6,7 bilhões de pessoas. Brasil, Rússia, Índia e China sozinhos têm mais de 1,3 bilhão de utilizadores de telefones celulares.

Para Valladão, Brasil, China e Índia querem ter o status de potência, mas sem aceitar a responsabilidade. "Como dependem da globalização, têm que defender a globalização. A maioria acha que está ótimo. Quem está com medo da globalização são os europeus. Mas têm que assumir responsabilidade para continuar. É aí que ficam com medo, porque se assumem responsabilidade perdem soberania."

"É fundamental fazer a diferença sobre o que era potência emergente no fim do século XIX e XX, quando na Alemanha e nos próprios EUA o poder econômico era nacional e controlado pelos governos nacionais", afirma. "Os países emergiam contra os outros ou paralelamente aos outros. Hoje, os que estão emergindo estão dentro de um sistema globalizado, dependem dos outros, não vão contra os outros. Podem até pensar que querem ir. Como estão emergindo agora, querem ser vistos como multipolares. Só que, para ser considerados assim, têm que defender esse sistema."

Já os EUA, que fazem metade das despesas militares do mundo, querem continuar a ser "o sistema". Mas seu papel de estabilizador final é posto em dúvida: o xerife é relutante e o mundo tem suspeitas. Barack Obama procura exercer nova liderança, mas quem decide mesmo é o Congresso. E este reflete o grande temor americano com perda de competitividade, queda de produtividade, transformação de economia industrial em economia de serviços. O lento declínio é doloroso. As figuras centristas do Congresso estão desaparecendo, dando lugar a parlamentares radicais e histriônicos que defendem posições particulares e ignoram soluções globais.

Ou seja, quando mais se precisa da potência para posições globais, os EUA estão cada vez mais locais. Os EUA e a UE sabem que têm que deixar espaço para os emergentes. Mas isso é menos doloroso para os europeus, que, a cada vez que se reúnem, têm de buscar compromissos. Já a administração Obama fala em multilateralismo, mas "desde que Washington convoque, distribua os papéis, decida", como nota o embaixador Rubens Ricupero. "Quando chega o momento em que o Brasil acha que pode evoluir nesse processo, os EUA não aceitam. Mas eles [EUA] estão num beco sem saída."

A China já tem comportamento de potência, considerando os grupos e foros internacionais apenas instrumento. Quer se aproveitar de uma soberania substancial. A Índia está mais focada no regional, com seu status nuclear consolidado pelo pacto com os EUA.

Para outros analistas, Brasil, China e Índia se movem pelos mesmos critérios que se moviam os EUA e a UE, e não se pode esperar que sejam mais generosos do que foram as potências. Negociadores europeus dizem que, no G-20 financeiro, o Brasil sempre busca um maneira de encontrar solução. O país também assumiu responsabilidades no Haiti, comandando as operações de paz da ONU. E, quando assume responsabilidade, assume riscos. O que não pode é achar que não vai ser cobrado e dar trombadas, diz um experiente diplomata. Referindo-se à fricção com os EUA sobre o Irã, alerta que, quando se dá uma trombada, é preciso preparar-se para receber outra de volta no jogo duro das relações internacionais.

Além disso, nota Valladão, quando se sai pelo mundo, "é ingenuidade" achar que só vale a realpolitik e os valores não devem entrar nas relações internacionais. Ou seja, valores são também influentes em definir os interesses políticos. Estes não são definidos no vazio, estejamos ou não cientes disso.

Outro ponto é consolidar sua potência regional. Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil do King's College, da Universidade de Londres, fez uma palestra no Instituto Real de Defesa, da Inglaterra, em meio a certo ceticismo sobre o acordo do Brasil e Irã e indagações sobre a falta de mediação brasileira em algumas tensões sul-americanas, como entre Venezuela e Colômbia ou Argentina e Uruguai. O incontestável, em todo caso, é que na conjuntura atual o Brasil só tem a avançar seu papel na cena internacional "com as cobranças para assumir mais responsabilidades".

Os ataques da Folha – por Luis Nassif

A iniciativa de colocar na Folha um debate pelo Twitter entre Sérgio Guerra e José Eduardo Dutra visou exclusivamente dar visibilidade a uma tentativa de Guerra de me desqualificar. Ataque gratuito da Folha, na mesma matéria que endossa as revelações que fiz aqui no Blog.
A decisão foi da editora de Política Vera Magalhães, depois de críticas que fiz ao fato de sua editoria esconder o nome do repórter e do livro que serviu de base para o factóide do dossiê. Vera foi obrigada a aceitar a reportagem que veio de Brasília, mas resolveu dar o troco com esse ataque.
Não apenas isso. No episódio da matéria do meu contrato com a TV Brasil, deixou de lado apurações de repórteres mostrando que o processo de contratação era idêntico ao da TV Cultura.
Teve participação em outro episódio que expôs inutilmente a Folha: as supostas declarações de Dilma contra os que se exilaram, no comício de São Bernardo do Campo. A candidata não disse aquilo e a reportagem enviada não mencionava nada. A modificação do texto - com a inclusão da declaração falsa - foi feita na redação.
Nesse tempo todo, tenho sido bastante crítico do jornalismo da Folha - como fui, aliás, no tempo em que era colunista do jornal. Sempre mereci um tratamento respeitoso de todos os colegas - inclusive de muitos criticados - porque sabem que as críticas se restringem ao campo jornalístico.
A editora Vera Magalhães, no entanto, decidiu ser mais realista que o rei.
Se a Folha tivesse o bom hábito de ouvir os repórteres sobre o papel de determinados editores, evitaria uma grande quantidade de episódios desabonadores. O desgaste dessas iniciativas quase nunca é do editor, que se esconde atrás do jornal. É do próprio jornal.