terça-feira, 13 de julho de 2010

Mico em série da Cultura: "diretor informal" vira assessor – por Luis Nassif

TV Cultura oferece novo posto a jornalista - por Jotabê Medeiros, Malu Delgado (O Estado de S.Paulo)

A TV Cultura ofereceu ontem um novo cargo ao jornalista Gabriel Priolli após especulações de que ele seria afastado de suas funções por causa da produção de reportagem sobre o custo dos pedágios nas estradas de São Paulo.

Segundo informações de fontes da emissora, Priolli participou de reunião com a direção na qual lhe foi oferecido o cargo de assessor na vice-presidência de Gestão. Pela proposta, ele trabalhará diretamente com o vice-presidente da TV pública, Ronaldo Bianchi. Priolli não respondeu se aceitará ou não a proposta. Procurado pelo Estado, ele disse que não quer se pronunciar sobre os acontecimentos.

A assessoria de imprensa da TV Cultura informou que Priolli foi "remanejado" do cargo de coordenador de expansão de redes para o cargo de assessor da vice-presidência. A emissora considera a polêmica sobre rumores de ingerência política "caso encerrado e esclarecido".

Informal

O jornalista, segundo a assessoria, nunca exerceu oficialmente o cargo de diretor de jornalismo, apesar de ter colaborado de maneira informal com ao setor. O cargo de coordenador de jornalismo permanece vago desde o desligamento de Paulo Fogaça, em 14 de junho.

A TV Cultura exibiu, na noite de sexta-feira, a reportagem sobre os pedágios. Diante de rumores sobre censura prévia à reportagem, o PT de São Paulo anunciou que poderia pedir análise do caso ao Ministério Público Eleitoral. O episódio gerou protestos do candidato do PT ao governo, Aloizio Mercadante, que fora entrevistado para a reportagem, assim como o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. O candidato Fábio Feldman (PV), segundo sua assessoria, foi entrevistado às pressas na tarde de sexta-feira para a reportagem.

Com a transmissão na TV, o departamento jurídico do PT e a liderança do partido na Assembleia analisam se há sentido em fazer representação ao Ministério Público. A reportagem, de 3 minutos e 9 segundos, informava sobre o reajuste dos pedágios e as propostas dos candidatos.


Comentário – Luis Nassif

Ontem já tinha alertado que nem João Sayad, com toda sua bonomia e sutileza, escaparia do mico. Agora, o caso virou mico em série. Esse pedaço é ótimo: após "especulações de que ele seria afastado de suas funções" foi-lhe oferecido em cargo de aspone sem função definida.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sayad nega ingerência política na TV Cultura - por Sonia Racy, Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo

O presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, negou ontem ter havido motivação política no afastamento de Gabriel Priolli da Diretoria de Jornalismo da TV Cultura. Ele alegou que Priolli não tinha o perfil adequado para o cargo na emissora, gerida pela fundação.

"Foi uma escolha equivocada", afirmou Sayad. Jornalista experiente, com passagem por alguns dos principais jornais e televisões do Brasil, Priolli trabalha para a TV Cultura há mais de uma década e permaneceu apenas uma semana no cargo.

Seu afastamento alimentou a suspeita de ingerência política na emissora pública ligada ao governo de São Paulo. Segundo versão amplificada pela internet, Priolli foi afastado do posto por orientar a produção de uma reportagem sobre as tarifas de pedágio nas estradas estaduais, tema abordado com insistência pela campanha do PT ao governo paulista.

O jornalista preferiu não se manifestar sobre o episódio: "Vou manter silêncio, pois ainda sou funcionário da TV Cultura". O destino de Priolli dentro da emissora deve ser definido hoje, em reunião com o vice-presidente da fundação, Ronaldo Bianchi. Tanto a nomeação quanto a destituição de Priolli foram comunicadas a ele pelo diretor de Conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello.

O seção paulista do PT anunciou que vai pedir ao Ministério Público Eleitoral que investigue o afastamento de Priolli. O candidato do partido ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, foi entrevistado para a reportagem sobre pedágios, assim como o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.


Comentário (Luis Nassif)

João Sayad pode ter inúmeros defeitos. Mas sempre foi suficientemente inteligente e bem humorado para não se expor ao ridículo. Desta vez, não escapou. Passa a integrar o longo elenco de seguidores do rei, que entregam a ele tudo, até a imagem pública. Aliás, é o primeiro graduado a entrar na lista.

Priolli é jornalista conhecido. Tem histórico, para ser analisado. De repente, entra a nova direção, coloca-o no cargo de diretor de jornalismo e descobre uma semana depois que não tem "perfil". E qual a matéria que determina essa brusca mudança de avaliação? A do pedágio, óbvio, a única que foi pessoalmente derrubada pelo vice-presidente de programação Fernando Vieira de Mello, no dia anterior ao da demissão de Priolli.


A alegação de Vieira de Mello - em entrevistas posteriores - foi a de que a matéria era falha por não ter ouvido todos os candidatos ao governo de Estado em período eleitoral. Só faltava, para cada tema estadual ouvir todos os candidatos. Não sairia uma matéria sequer sobre o assunto. Esse suposto cuidado eleitoral ocorre no momento em que seguidores do candidato a presidente Plínio de Arruda Sampaio montam campanha na Internet para solicitar que o Roda Viva - o principal programa da Cultura - dê ao candidato o mesmo espaço concedido a Serra, Dilma e Marina. Para o principal programa da emissora, não é necessário perseguir a isonomia. Para uma matéria de três minutos sobre pedágios, sim.

Outro ponto foi o afastamento de Heródoto Barbeiro. Com ou sem a pergunta sobre pedágio a Serra, Herótodo estava com os dias contados devido a idiossincrasias antigas do próprio Serra. Ele nunca escondeu seu desagrado com Heródoto, a quem taxava de "petista".


Quem acompanha os comentários de Heródoto sabe que está longe de ser considerado petista. Pouco importa se na soma final, Heródoto seja um crítico contumaz do governo. No reino de Serra não há espaço para contemporizações nem para sutilezas: ou apoio integral ou a fogueira. Qualquer implicância do chefe, qualquer sinal de desagrado é senha para degolas, para não se incorrer na sua ira. Daí essa truculência de demitir um diretor de jornalismo devido a uma única reportagem - sem a menor sensibilidade para prever a grita que se seguiria.


O primeiro ato da gestão dessa fortaleza chamada Paulo Markun foi afastar Heródoto do Jornal da Cultura. Houve enorme grita dos telespectadores. Heródoto acabou voltando dentro de um modelo de jornal - com duas apresentadoras - que matou completamente o espírito original do Jornal da Cultura. Mudança de perfil, inconsistência na grade, subordinação da pauta aos interesses do Palácio Bandeirantes transformaram o Jornal da Cultura em um programa irrelevante - ainda na gestão Markun.

Markun deu tudo o que Serra pediu. Tinha assegurada sua permanência no cargo porque Serra o apoiava. Dançou quando foi alvo de um elogio público de Geraldo Alckmin, dizendo que gostava muito dele. Foi o que bastou para perder o apoio de Serra, que é contrário a amores volúveis. Perdendo, dançou. O Palácio fez uma gambiarra, lançou o Secretário da Cultura João Sayad para presidente da Fundação Padre Anchieta e improvisou Andréa Matarazzo como interino até o final do mandato. E venceu as eleições para presidente da FPA. E ainda há quem discuta se há ingerência política ou não na ex-BBC brasileira.

Ocorre que TV é cast - apesar das TVs públicas ainda não terem descoberto o óbvio. E Heródoto é de longe o jornalista mais premiado e conhecido da TV Cultura. Aliás, ele não é apenas respeitado: é dos poucos jornalistas efetivamente amados por seu público. Se a decisão de trocar Heródoto do Roda Viva era anterior, qual a razão para, até agora, não ter sido definido seu novo papel na programação. Justo ele, o mais premiado jornalista da Cultura?


A informação passada de que a decisão de afastar Heródoto nada teve a ver com a pergunta sobre o pedágio esconde o essencial: quem pediu sua cabeça foi Serra, por idiossincrasias antigas. Mesmo sem o pedágio, teria dançado.


Aliás, a cada governo estadual que passa, mais admiração tenho pelo ex-governador Paulo Egydio Martins.

Por uma Agência Nacional de Inovação - por Glauco Arbix (O Estado de S.Paulo)

O Brasil hoje vive um momento especial. O País elevou seu patamar de crescimento, é fato. Mas as perspectivas de sua sustentação ainda seguem imersas em brumas. Não se trata de mais uma vez registrar o rol de conhecidos obstáculos à permanência do crescimento, mas de apontar e equacionar o desafio mais importante colocado para o País.

A economia brasileira precisa de um choque de inovação.

O necessário aumento do investimento, a melhoria da infraestrutura, a execução de uma boa gestão macroeconômica, capaz de manter domesticada a inflação, e o equacionamento no longo prazo da alta carga tributária e da dívida pública, por fundamentais que sejam, não podem turvar a visão de nossos governantes para a urgência de se promover um salto no padrão de qualidade da atividade econômica. Para isso, mais do que aumentar o investimento, é preciso melhorar o seu foco e sua qualidade, de modo a dinamizar e diversificar a economia e superar a crônica dependência brasileira do universo das commodities.

Esse é o maior desafio, que está longe de se limitar à esfera econômica. Desde o ciclo desenvolvimentista o Brasil procura repensar e modificar sua ossatura institucional, recriar sua arquitetura legal e repensar seus dispositivos políticos para se adaptar às transformações que sacudiram o mundo. O País deu passos enormes nessa direção. Mais importante ainda, caminhou rumo ao estabelecimento de um novo equilíbrio nas relações entre Estado e mercados, distante do velho desenvolvimentismo e da ortodoxia econômica que fez sucesso nos anos 90. Fato é que, sem a combinação de uma economia de mercado com um novo ativismo de Estado - sem estatismo -, dificilmente seria possível combater mazelas crônicas, como as desigualdades e a pobreza.

A sintonia entre esforço pelo crescimento e forte investimento social é a grande responsável pelo momento positivo que o País vive atualmente: ao acionar mecanismos sociais sutis, liberou energias por todos os poros da sociedade, com impacto no conjunto da economia.

Sabemos que as estratégias são mais cristalinas no papel, pois no mundo real são recheadas de ambiguidades e conflitos. Mesmo assim, é forçoso constatar que o País amadureceu e conseguiu diminuir a distância que o separa das nações mais avançadas, ainda que o caminho a percorrer seja longo.

O Brasil está hoje mais preparado para lidar com o novo lugar ocupado pelas atividades intensivas em conhecimento, que tornaram, mundialmente, os processos de reprodução da vida material, social e cultural mais complexos, dinâmicos e integrados. Essa constatação, porém, não nos leva a afirmar a inevitabilidade do sucesso. A economia está numa encruzilhada: ou as empresas evoluem, alteram seu metabolismo, dinamizam sua gestão, valorizam os recursos humanos como estratégia e buscam elevar seu padrão tecnológico e ligar-se às cadeias mundiais de alto valor agregado ou, mais uma vez, o fôlego será curto para manter o crescimento.

É essencial, por isso, que hábitos e costumes sejam alterados dentro das empresas. Mas o País só ganhará dinamismo com um esforço conjunto do setor público e do privado, capaz de envolver as universidades, o Legislativo, o Judiciário e demais instituições sociais.

A inovação no Brasil deve tornar-se regra, não exceção. Debates sobre a necessidade dessa evolução são cada vez mais frequentes e foram retomados com intensidade durante a 4.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília em maio. Mais de 4 mil participantes mostraram que a reflexão sobre os rumos do País da parcela da elite brasileira mais diretamente envolvida com a produção de ciência e tecnologia atingiu um novo patamar.

Se conseguisse potencializar inquietações desse tipo, ainda que parcialmente, o debate eleitoral ajudaria a semear o futuro. Esperança vã?

Não custa convidar os candidatos a se pronunciarem sobre a proposta de criação de uma agência nacional de inovação, ligada diretamente à Presidência da República. Essa proposta constava do documento original preparatório à conferência e também fez parte das recomendações entregues pela Confederação Nacional da Indústria aos atuais candidatos presidenciais.

Uma agência nacional com peso, recursos e legitimidade para alavancar significativamente o investimento em inovação é essencial para diminuir a pulverização de recursos, a burocracia, a morosidade da máquina pública e manter o foco de suas atenções onde é preciso.

Uma agência desse porte, criada a partir da fusão de instituições como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi), por exemplo, com orçamento renovado e representatividade institucional dada pela ligação estreita com os principais planos e metas da Presidência da República, pode ajudar o País a se conectar com o futuro.

Que as esperanças por um debate de qualidade sobre os alicerces de um novo Brasil não se frustrem mais uma vez.

COORDENADOR DO OBSERVATÓRIO DE INOVAÇÃO DO INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA USP, É MEMBRO DO CONSELHO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

domingo, 11 de julho de 2010

O marechal Lott, Jânio Quadros e as eleições de 2010 – por Laerte Braga

Henrique Dufles Baptista Teixeira Lott foi um dos grandes vultos das Forças Armadas brasileiras. Entre outras coisas não se subordinava a Washington como boa parte dos nossos militares e tampouco tinha aversão ao processo democrático. Ao contrário. Impediu em 11 de novembro de 1955 um golpe dos “patriotas” contra a legalidade.

Ministro da Guerra, era como se chamava o Ministério do Exército, hoje abrigado como Secretaria dentro do Ministério da Defesa, evitou duas tentativas de Golpe contra o governo de JK e acabou candidato da coligação PSD/PTB à presidência da República em 1960.

Disputou as eleições contra Jânio Quadros, ex-governador de São Paulo, e um terceiro candidato, Adhemar de Barros, uma espécie de Paulo Maluf da pré-história, também ex-governador de São Paulo.

Perdeu-as. Jânio foi eleito presidente por larga maioria de votos.

Lott não tinha boa oratória, as campanhas àquela época se sustentavam principalmente em comícios e, aliado a esse fato, Lott tinha a mania da franqueza. Da honestidade em suas palavras. Em suas propostas.

Jânio era um produto da demagogia, mero projeto pessoal de ditador. Renunciou numa manobra tragicômica esperando que o povo o reconduzisse ao governo com plenos poderes. Tudo sob efeito da “mardita” pinga. Candidato da UDN sem nunca ter sido udenista e de Carlos Lacerda, a quem usou até espremer e terminar espremido, não era necessariamente louco como diziam. Demagogo, interrompia comícios para tomar uma injeção de glicose (vivia bêbado), alegando que o cansaço na “luta pelo povo” o obrigava a “sacrifícios” que prejudicavam sua saúde.

Tinha o hábito de assistir filmes de western ao contrário, ou seja, do fim para o princípio. Achava interessante o bandido levantar-se e tomar um soco de John Wayne do que a ordem natural da cena: tomar o soco e cair.

O marechal Lott passou a campanha inteira advertindo aos brasileiros que Jânio levaria o País ao caos. Num dado momento, chegou a propor um pacto de unidade nacional em torno de uma candidatura única, no caso o general Juracy Magalhães, governador da Bahia, e que havia sido derrotado por Jânio na convenção da UDN.

Para que se possa ter uma idéia da personalidade do marechal Lott.

Em visita a uma cidade no interior de Minas, descia num automóvel para o centro da cidade, saindo do aeroporto, quando um eleitor de Jânio enfiou uma vassoura dentro do carro, pela janela e tentou atingi-lo. Lott mandou o carro parar e em meio a lottistas de um lado e janistas de outro, foi até o cidadão, tomou-lhe a vassoura, jogou-a no chão e disse com o dedo em riste: –“O senhor pode votar em quem quiser, é um direito que eu assegurei quando garanti a posse do presidente Juscelino. Mas o senhor respeite a mim e a democracia. Proceda como homem de caráter”.

Voltou ao automóvel sob aplausos de seus correligionários e silêncio dos janistas. Por sinal, Jânio perdeu as eleições nessa cidade.

Em muitas cidades que visitava, pouco antes de subir ao palanque, Jânio dirigia-se a um botequim estrategicamente escolhido, pedia um sanduíche de pão com mortadela, alegava falta de tempo para jantar, uma pinga e uma cerveja quente. Sentava-se à mesa com alguém que lá estivesse. Chegou a sentar-se no meio fio e com gestos teatrais ia comendo, bebendo e conversando com as pessoas.

Já ex-presidente, escreveu com Afonso Arinos (que se redimiu depois, pois era um homem inteligente e um político íntegro) uma enciclopédia da língua portuguesa. No lançamento no Rio de Janeiro, em 1967, almoçava no Clube Ginástico, no centro da cidade, presentes o próprio Arinos (fora seu ministro das Relações Exteriores), quando surpreendeu a todos, inclusive jornalistas, com seu pedido. Uma omelete simples, uma pinga especial e uma cerveja quente.

A surpresa maior veio depois. Foi recortando a omelete até dar-lhe a forma de uma suástica e sequer engoliu uma garfada. O que sobrou amassou com as mãos, formou um bolo e colocou fora do prato. Bebeu a pinga, duas ou três cervejas quentes e foi-se.

Segundo Foucault, “não há exclusão entre loucura e crime, mas sim uma implicação que os une. O indivíduo pode ser um pouco mais insano, ou um pouco mais criminoso, mas até o fim a loucura mais extremada será assombrada pela maldade”.

Referia-se, embora seja um conceito amplo, a Doucelin, conde D’Albuterree, que avocava a si a condição de herdeiro da coroa de Castela e que dizia falar com Deus todos os dias, além de receber a visita de Maria algumas vezes por semana.

O problema é que Jânio não rasgava nota de cem. Ao contrário, cultivou a fama de honesto e implacável na defesa do dinheiro público, enquanto ia guardando o “seu” em bancos suíços.

As advertências do marechal Lott se confirmaram e foram além. Com a renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961, depois de ter proibido desfile de miss com biquíni, briga de galo e imposto o slack como uniforme para os servidores públicos, militares brasileiros comandados por Washington se levantaram contra a posse do vice, João Goulart que se encontrava em missão na China, a pedido de Jânio. Queria-o longe à hora do “golpe”.

E uma das primeiras prisões feitas foi a do marechal Lott, que logo se pronunciou pela legalidade.

Jango acabou tomando posse, com a reação decisiva de Brizola. Mas os mesmos militares golpistas deram um golpe em 1964 e impuseram ao Brasil uma sombria e cruel ditadura sob controle dos EUA.

Outra vez, um ano após o golpe, impediram a candidatura de Lott ao governo do antigo estado da Guanabara, temerosos de que sua liderança acabasse por despertar a reação popular à quartelada. Como Lott fosse eleitor em Teresópolis, criaram a figura do domicílio eleitoral.

José Arruda Serra é uma versão abstêmia de Jânio Quadros. O que às vezes costuma ser pior. Quando secretário de Franco Montoro tinha mania de dar batida nos órgãos públicos do governo do Estado de São Paulo para verificar se havia desperdício de clips, elásticos e aparas de papel.

Jânio, quando candidato a prefeito de São Paulo pela primeira vez, chegou a colocar um boné de motorneiro e tentar dirigir um bonde. Nesse dia estava numa água só. E dava incertas (mas avisava a imprensa) em repartições públicas.

O curioso é que, morto politicamente, Jânio foi ressuscitado por FHC, em 1985, derrotando-o numa eleição para a mesma prefeitura de São Paulo. No dia da posse pendurou um par de chuteiras à entrada de seu gabinete para comunicar que estava encerrando sua vida pública.

José Arruda Serra é só uma versão abstêmia de Jânio Quadros. Demagogo, sem qualquer escrúpulo ou respeito pelo que quer que seja. É evidente que sendo abstêmio, ou seja o oposto, tenha manias do tipo desinfetar as mãos com álcool ao fim de uma sessão de cumprimento a eleitores, embora não sente em meio fio e nem coma sanduíche de mortadela. Mas usa o tal desinfetante bucal que protege por doze horas já que em campanha tem que beijar crianças.

Vale-se da sofisticação que as campanhas políticas ganharam nos dias atuais e que permite a demagogos como ele, Arruda Serra, vender um peixe que não existe.

É a velha alma udenista/golpista assombrando o Brasil (e olha que na UDN, creio que, por equívoco, havia figuras como Afonso Arinos, Adauto Lúcio Cardoso, Milton Campos e outros de caráter e integridade indiscutíveis).

A simples hipótese de um sujeito como Arruda Serra ser presidente da República (está cada dia mais difícil, mas todo cuidado é pouco) aterroriza.

É só olhar o governo de FHC e multiplicar por um fator que podemos chamar de muitas vezes pior e teremos o resultado.

Pior ainda que um bêbado como Jânio, projeto mambembe de ditador, é um abstêmio doentio e sem escrúpulos como Arruda Serra.

Tucanos são a UDN repetida como farsa e por isso mesmo, revestidos de cinismo.

No fundo seria um passo gigantesco atrás. Um retrocesso sem tamanho.

Lott continua tendo razão absoluta sobre os “jânios” que volta e meia aparecem.

Reside aí a grandeza do velho marechal. Ser brasileiro, ter compromisso com a democracia sem adjetivos.

Ao contrário de seu antigo adversário Jânio Quadros, que levou o País ao caos e da versão seca, José Arruda Serra, que intenta o mesmo.

E para não dizer que não falei de flores, nas eleições de 1960, quando as organizações GLOBO se limitavam ao jornal THE GLOBE, editado em português como O GLOBO, e a algumas emissoras de rádio, família Marinho apoiou Jânio Quadros.

Quem disse que o marechal Lott não tem nada a ver com as eleições de 2010 ?

A História não morreu. Está mais do que viva.

sábado, 10 de julho de 2010

O polvo dá sua opinião


Serra não administra nem sua agenda - por Luis Nassif

Conhece-se um bom gestor pela maneira como administra seu tempo. Quem não consegue administrar a própria agenda pode até ser bom estrategista, bom líder, mas gestor, definitivamente, não é.

Em dezembro descrevi o estilo Serra de gestão. Começava a trabalhar às 11 da manhã, geralmente fora do Palácio. Não mantinha reuniões periódicas com Secretários. Pouquíssimas vezes participou de reuniões inter-secretarias. Não tinha a menor idéia sobre o que cada secretaria estava produzindo - prova maior é o fato de, tendo a mais ampla exposição que a mídia já ofereceu a um governante, jamais ter conseguido passar a idéia sobre o que seu governo fazia. Suas libações noturnas provavelmente eram dedicadas a livros e filmes, dificilmente para estudar problemas administrativos do Estado.

Passou a imagem de bom administrador pelo estilo autoritário, de exigir providências - aliás, importante para quem administra a máquina pública. Mas nunca conseguiu organizar nem idéias, nem articular planos, nem dispor de acompanhamento das ações de secretários, para, aí sim, fazer exercer seu mando. E faltava algo fundamental para dar eficiência ao mando idéias claras para saber o quê e como decidir.

Quando ainda acreditava no potencial administrativo de Serra, sugeri que se inteirasse sobre planejamento estratégico, ferramentas de gestão. Sua resposta foi auto-suficiente, proporcional à sua insegurança interna: não preciso, porque faço acontecer. Quando encarar realidades mais complexas - respondi-lhe - você vai se perder.

Para ser um grande líder parlamentar - e Serra foi - bastava bons assessores acompanhando uma pauta restrita de assuntos e trazendo para ele o problema e a solução. Para gerenciar realidades complexas - como prefeitura e governo do Estado - não foi suficiente.

Mais: é absolutamente inseguro sobre sua capacidade de discernimento. Confrontado com qualquer evento que saia da rotina e que, principalmente, implique conflitos, trava. E não tem segurança sequer para juntar a equipe, ouvir as sugestões e arbitrar. Não soube como agir na greve da Polícia Civil, na crise da USP, no episódio das enchentes (sumiu de cena, não se soube de uma reunião de coordenação comandada por ele), no lançamento da sua candidatura, na escolha do seu vice, na reação à crise econômica global e - pela matéria do Estadão - é incapaz sequer de definir previamente sua agenda de candidato.

Essa é a razão de jamais ter rompido com o fernandismo: sabia de sua incapacidade de andar pelas próprias pernas e, por isso, sempre se escorou na visão mais pragmática de FHC sobre estratégias políticas. Seus arrufos contra o mercadismo de FHC - chegou ao cúmulo de estimular uma CPI contra o Ministro da Fazenda Pedro Malan - era muito mais para conseguir cacife para se credenciar junto ao pai FHC.

Não pensar estrategicamente, não ter capacidade de escolha são características pessoais, que se tem ou não tem. Mas valorizar o planejamento é uma questão central. Não se exige de nenhum governante conhecimento prévio, qualidades pessoais de gestor. Mas exige-se que valorize o gestor e o planejamento.

No entanto, Serra manteve o desmonte de toda estrutura de planejamento do Estado, uma jóia criada antes dos anos 80, com instituições como Cepam, Fundap, Emplasa, o corpo técnico da DERSA, do Metrô, sendo submetidos ao sucateamento inexorável.

Ou seja, nesses seis anos como executivo, Serra comprovou não ser gestor (não administra), não ser líder (não definiu uma bandeira clara sequer para sua tropa), não ser planejador, não valorizar o planejamento e as boas práticas de gestão e muito menos ter vocação de estadista (ambição de mudar a natureza do Estado).

Nas mãos de governadores com visão - como Eduardo Campos, Paulo Hartung, Aécio/Anastasia, Marcelo Deda, Jacques Wagner - São Paulo não seria mais a locomotiva do país: seria o avião a jato.

Do Estadão
Agenda vira o maior segredo da campanha

Julia Duailibi - O Estado de S.Paulo

O pior segredo da campanha presidencial de José Serra (PSDB) não é mais o nome do candidato a vice. Tampouco o plano de governo. Mas, sim, a agenda de compromissos do tucano.

Viagens, visitas e a participação em eventos têm sido definidas com poucas horas de antecedência. E, quase sempre, sem a confirmação de que ele, de fato, irá participar do compromisso.

Diante da pressão de políticos, anfitriões e imprensa, a equipe de Serra passou a divulgar a "agenda prevista" do candidato - que, na realidade, é quase sempre incompleta e imprecisa.

Na quarta-feira, o candidato a governador pelo PSDB, Geraldo Alckmin, teve de palestrar por mais de duas horas no Conselho Regional de Enfermagem para segurar a plateia até que Serra chegasse. O evento estava marcado para as 14h30, mas a presença de Serra foi confirmada uma hora antes dele aparecer, às 17h30.

Na própria quarta, já circulava a informação de que Serra iria ao Rio. A confirmação veio três horas antes da viagem. A caminhada em Bangu estava marcada para as 13 horas. O tucano chegou às 16 horas. "Agenda é assim mesmo. Há anos que faço campanha e é assim", disse a senadora Marisa Serrano (MS), que cuida da agenda do candidato.

Tucanos e integrantes da equipe dizem que é da personalidade de Serra definir o compromisso em cima da hora. Quando era governador, seus compromissos também eram divulgados pelo Palácio dos Bandeirantes com poucas horas de antecedência.

A senadora compila demandas e sugere a agenda em parceria com a assessora de Serra, Ieda Areias, que leva as informações ao tucano. E é ele quem dá a palavra final sobre os compromissos. A própria equipe do candidato recebe a informação em cima da hora. O time precursor, formado por cinco seguranças e assessor de imprensa, é muitas vezes acionado na madrugada.

Delegado do caso Bruno já incriminou inocentes – por blog do Nassif

FernandoX

Não que eu acredite na inocência desse Bruno. Pelo contrário, acho mesmo que ele tem culpa pelo desaparecimento da moça. Agora, acho importante lembrar a todos que esse delegado responsável pelo caso é o mesmo que, há alguns anos, esteve diretamente envolvido em uma armação para incriminar o jornalista José Cleves no assassinato de sua própria esposa, ocorrido em 2000.

Cleves fazia uma série de reportagens sobre a corrupção na polícia civil mineira. Mataram a mulher dele e lhe forjaram uma série de provas. Cleves chegou a ser preso, mas com muita perseverança conseguiu provar sua inocência.

Os verdadeiros culpados pelo crime, tanto contra a mulher quanto contra o jornalista, continuam trabalhando normalmente, como se vê agora no caso Bruno. O dramático livro de José Cleves, "A Justiça dos Lobos", conta o drama vivido pelo jornalista. Pesquisem sobre o assunto no Google e saibam vocês também quem são os indivídulos responsáveis pela segurança dos cidadãos em Minas.

Do Observatório da Imprensa
LEVES
Crime contra a liberdade de expressão
Marcelo Martins (*)

Estamos diante de um dos maiores crimes contra o ser humano e contra a liberdade de imprensa já vistos em toda história do Brasil. O jornalista José Cleves, que foi acusado de matar a própria esposa em dezembro de 2000, pode ser condenado injustamente, pagando por ter denunciado a "banda podre" da polícia mineira em diversas matérias publicadas pelo jornal Estado de Minas.

Estamos, nós, jornalistas mineiros, lançando uma campanha em defesa da liberdade de imprensa e em solidariedade a José Cleves.

A liberdade de expressão, garantida pelo Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, corre o risco de ser condenada em Minas Gerais. A acusação contra o jornalista José Cleves, de ter matado sua própria mulher, faz parte de uma armação, que só interessa àqueles que foram desmascarados pelas suas reportagens no Estado de Minas. Em sua atuação profissional, Cleves ajudou a desvendar grupos criminosos que atuavam em jogos clandestinos e na emissão de carteiras de habilitação falsas. Por sua coragem e compromisso com a informação, está pagando duplamente: primeiro por ter perdido sua mulher, segundo por estar sendo acusado, num inquérito cheio de falhas, para o qual não aceitam sequer uma perícia independente.

As acusações infundadas contra o jornalista José Cleves são um atentado à liberdade de imprensa, que deve ser denunciado em âmbito nacional e internacional. O primeiro passo para isto será dado no dia 7 de agosto, em depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O caso será apresentado pelo deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG) que é membro e ex-presidente da Comissão.

Miranda estudou todo o caso e acredita que há fraude no processo de investigação e "por isso passa a ser um caso de direitos humanos".

José Cleves foi indiciado como autor do crime pelo delegado Édson Moreira em menos de 72 horas e pode ir a júri popular em uma condição contrária a sua absolvição, uma vez que toda a opinião pública foi levada a acreditar na versão do delegado. Édson Moreira foi à imprensa afirmando que o jornalista tinha assassinado a mulher e desprezou outros indícios que levavam à versão de assalto apresentada por José Cleves.

O deputado Nilmário Miranda acredita também que há um caso de abuso de autoridade e cerceamento à liberdade de imprensa, uma vez que o jornalista fez, nos últimos anos, matérias envolvendo policiais e políticos em casos de tráfico de pedras preciosas, venda de carteira de habilitação, bingo e caça-níqueis.

Na terça-feira, dia 31 de julho, vários jornalistas, personalidades e militantes de direitos humanos, além de políticos, fizeram no Sindicato dos Jornalistas o lançamento de um comitê em defesa do jornalista José Cleves e da liberdade de imprensa.

Nilmário espera que as investigações sejam reabertas com uma "perícia independente" e que os erros no processo sejam revistos, a fim de que os verdadeiros assassinos sejam presos.

(*) Assessor de comunicação do deputado Nilmário Miranda (PT-MG)


Carta do jornalista José Cleves ao deputado federal Nilmário Miranda, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados

Senhor deputado

Diante da injustiça, da execração pública, do arbítrio e do abuso de autoridade cometidos por policiais civis de Minas contra a minha pessoa, ao ser transformado de vítima de um assalto em "assassino cruel" de minha própria mulher, mãe de meus cinco filhos, venho esclarecer o seguinte:

O fato

– No dia 10 de dezembro/00 (domingo), por volta das 20h, retornava com a minha mulher Fátima Aparecida de Abreu Silva do Shopping del Rey, região noroeste de Belo Horizonte, quando fui abordado por dois homens no bairro Camargos. Eles entraram no carro – um deles armado com um revólver – e mandaram tocar para um local ermo, onde ordenaram que eu parasse o veículo. Roubaram R$ 500,00 em dinheiro. Um deles deu um bote na minha mulher para roubar o aparelho celular que caiu. Ela foi executada friamente com três tiros;

– Acionei imediatamente a polícia. Diante do aparato policial, ofereci-me para depor na mesma noite, na expectativa de que a minha colaboração pudesse resultar na prisão dos ladrões naquele mesmo dia;

– Fui ouvido e submetido a exames residuográficos, como é de praxe;

– No dia seguinte, a minha colega Adriana Kfoury recebeu um telefonema anônimo dando conta de que os criminosos pertenciam à quadrilha de um tal de Dinei. A denúncia foi repassada à Secretaria de Segurança Pública;

– Para maior isenção das investigações, já que sou um repórter da área policial e autor de várias matérias perigosas, pedi ao Ministério Público que indicasse um promotor para acompanha o caso.

O indiciamento

– Na terça-feira fui surpreendido com a notícia de que seria indiciado pelo delegado Édson Moreira, então chefe da Divisão de Crimes contra a vida de BH, como autor do crime. O indiciamento tinha como base a localização de um revólver calibre 38 nas proximidades do local do assalto. Arma essa que pertencia ao cabo Natalício Ramos, do serviço secreto da PM;

– Menos de 72h após, fui indiciado formalmente. Eu teria comprado a arma do militar, foi o argumento do delegado. O proprietário da arma não apresentou, contudo, provas dessa negociação. Disse apenas que eu encomendei o revólver que foi "vendido" para um homem que o militar não sabia o nome, o apelido, o endereço, o telefone, enfim, uma negociação sem testemunhas e recibos, embora a arma fosse registrada em seu nome;

– De fato entrevistara o militar em novembro, numa empresa de caça-níqueis, onde ele trabalhava. Foi na presença de várias pessoas, sobre o comércio ilegal de armas. Sabia, inclusive, que estava sendo filmado pelo sistema de circuito interno da firma e relatei o sucedido ao repórter fotográfico Jair Amaral, que me acompanhava no momento. Matéria essa, aliás, divulgada no dia do crime. Investigava o assunto há vários dias sob encomenda do jornal. Ouvi várias pessoas, principalmente policiais. O fato era do conhecimento do general Rômulo Pereira, comandante da 4ª Divisão do Exército, a quem enviei um ofício pedindo informações sobre o verdadeiro arsenal da Polícia Civil e Militar. Queria saber quem estava armando a marginalidade e como isso vinha ocorrendo.

– Meus argumentos foram ignorados pela polícia, assim como a pista que levava ao tal Dinei;

– Atento às falhas da Polícia, o Sindicato dos Jornalistas entregou ao governador Itamar Franco um manifesto de protesto contra o meu indiciamento; o documento pedia, ainda, uma perícia independente para acompanhar o caso; meus colegas de redação relacionaram as principais matérias que fiz nos últimos cinco anos, todas elas denunciando a corrupção policial e a omissão das autoridades;

Sem provas

– Após o indiciamento em tempo recorde, o delegado Édson Moreira partiu em busca das provas. Não encontrou motivação, testemunhas e muito menos provas técnicas e científicas para sustentar a acusação. Os exames residuográficos (Laudo 12.495/00) realizados no meu corpo e o de balística (4316/00) foram negativos. O teste de disparo com a arma (12.591/00), contudo, foi positivo no primeiro disparo;

– Tive a minha vida pregressa rebuscada, com os policiais investigando-me dia e noite, durante mais de 30 dias. Nada encontraram que pudesse incriminar-me;

– Mudei-me para a casa de minha sogra, onde passei a morar com os meus cinco filhos que, juntamente com a minha família e a de minha mulher, deram-me forças e moral suficientes para continuar lutando pela minha inocência. Tive apoio irrestrito de meus colegas de redação e da diretoria do jornal Estado de Minas que desde o dia do assalto confiou na minha inocência . A empresa contratou o advogado dr. Marcelo Leonardo, presidente da OAB/MG, para fazer a minha defesa.

A armação

– No fechamento do relatório, o delegado Édson Moreira surpreendeu-me ainda mais, com a notícia de que havia uma luva. O laudo do Instituto de Criminalística 010 00232 apresentava uma foto patética de um revólver sobre uma luva, como se fosse possível a um criminoso dispensar os dois objetos simultaneamente a uma distância de mais de 50 metros, e um cair sobre o outro. Na legenda, omitiram a luva numa tentativa de enganar a Justiça, citando-a apenas no bojo do laudo;

– Os exames na luva (Laudo 12.895/00), contudo, não apresentavam pólvora (esqueceram desse detalhe). Não havia também auto de apreensão da luva no inquérito;

– Era, na verdade, uma armação ou um complemento da armação inicial, a do depósito do revólver no mato. Assinaram o laudo os peritos Robson Sangiorgi, Luíza Valéria de Abreu Maia e Ângela Romano;

– Quero registrar aqui a comunicação de serviço do delegado Édson Moreira, expedida na manhã do dia 12, onde ele determina que seus policias "procedam o rastreamento da arma do crime" e, noutro parágrafo, pede a intimação "do sr. José Cleves para prestar esclarecimentos..." Algo premonitório, pois, não é que os seus detetives "encontraram" horas depois a arma e, no final do dia, eu já era o "autor do crime"? Outro detalhe: observando-se os anexos fotográficos 13/15 e 14/15 do laudo pericial que mostra o revólver sobre a luva, verifica-se que a arma foi colocada na posição contrária à do local de seu arremesso. São, sem dúvida, provas inequívocas da fraude.

A execração

– Com os laudos guardados a sete chaves, o delegado partiu para a execração pública, tendo como aliado o fato de que a mídia de nada sabia o que de fato vinha acontecendo. De acusado, como seria de praxe um indiciado, passe a ser chamado de "criminoso, assassino frio e cruel". Talvez apavorado pelas suas próprias contradições, o delegado se perdeu em suas declarações metafóricas. Como a luva não tinha pólvora o policial passou a dizer que o revólver (que segundo apurou a Justiça tem mais de cinco anos de uso) era novo e que por isso só soltava pólvora no 10º disparo (no que foi também desmentido pelo laudo do IC); sobre as motivações, como não tinha nenhuma, foi o delegado ainda mais infeliz: disse que eu matei para vender livros e também com a ajuda dos meus filhos;

– O noticiário execrou-me de tal forma em todo o país que ficou difícil qualquer explicação contrária à polícia. Não tive a mínima chance de defesa. Estava acuado. Só vim a conhecer as "provas" após a remessa dos autos para a Justiça;

– Foi quando tomei conhecimento de como ocorreu a farsa;

A verdade

– De licença remunerada no jornal, reuni os meus dois filhos mais velhos (de 17 e 18 anos) e os colegas de profissão mais próximos. Iniciamos uma investigação paralela, partindo da primeira denúncia que apontava para o tal Dinei;

– Localizamos a quadrilha na Delegacia de Homicídios de Contagem. Era chefiada por Sidney Alves Magalhães, o Dinei; pedi ao delegado João Lisbôa que mostrasse a foto da gangue e apontei uma delas, a de Jucilei Ramalho Teles, 20 anos, como sendo o autor dos disparos. As características físicas e fisionômicas eram as mesmas. Ele me lembrava um pouco o ex-jogador Amaral;

– Jucilei, contudo, já não existia mais: foi assassinado no dia 11 de janeiro, portanto um mês após o assalto;

Ele teria sido executado por Dinei e o comparsa Eliezer Ramos de Andrade, o Bola, que reconheci através de fotografia como sendo supostamente o parceiro de Jucilei no assalto;

– O preso Carlos Alberto, o Beto, teria revelado que após a morte de Jucilei a mãe deste foi até a delegacia cobrar da polícia o crime; ela acusou os matadores de seu filho, Bola e Dinei, de terem "matado a mulher do jornalista que está pagando pelo crime inocentemente".

– O depoimento de Beto foi gravado e entregue à Justiça. Também entreguei à Justiça o depoimento gravado das testemunhas que presenciaram a polícia apreendendo a arma, onde, segundo elas, "não havia nenhuma luva no local";

– O taxista Rogério Márcio Carvalho aparece dizendo que viu o assalto; seu depoimento foi gravado e também entregue à Justiça;

– O processo vem sendo instruído pelo juiz sumariamente do 1º Tribunal do Júri de Belo Horizonte, Edwal José de Morais, e aguarda diligências pedidas pelo promotor Guilherme Pereira Vale.

Meu apelo

– Considerando a gravidade dos fatos, por se tratar de uma FRAUDE cometida por um delegado e três peritos, possivelmente com a conivência de outros companheiros para incriminar uma pessoa inocente;

– Levando-se ainda em consideração que essas fraudes tinham como objetivo encerrar a minha carreira de quase 30 anos de repórter que a tudo denunciava (e continuarei denunciando) em nome da verdade;

– Temendo pela impunidade dos reais assaltantes e receosos ainda mais pela impunidade dos policiais envolvidos na fraude, que continuam exercendo as suas funções normalmente,

Recorro a essa comissão de direitos humanos para o total esclarecimento dos fatos e as providências de praxe.
Atenciosamente,
Belo Horizonte, 11 de julho de 2001
José Cleves da Silva


Do Portal Imprensa
1/9/2008

STJ absolve o jornalista José Cleves e arquiva processo
Redação Portal IMPRENSA

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) absolveu na última quarta-feira (27) o jornalista José Cleves da Silva, acusado de matar sua esposa em 2000. O órgão - que também determinou o arquivamento do processo - confirmou as sentenças de primeira e segunda instâncias.
No dia 10 dezembro de 2000, Fátima Aparecida de Abreu Silva foi assassinada em Contagem, cidade próxima a Belo Horizonte (MG). A versão de Cleves é que os dois foram vítimas de assalto e que, durante o roubo, um dos criminosos atirou em Fátima. O jornalista acabou indiciado pela Polícia Civil, acusado de matar a mulher por desentendimentos familiares.

Conhecido por denunciar corrupção policial em suas reportagens, Cleves alegou ter sido vítima de uma armação da polícia, tese aceita pelo I Tribunal do Júri do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte. O Ministério Público recorreu da sentença no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), que também absolveu o jornalista. Por fim, o processo foi arquivado pelo STJ.
'Foi um peso que saiu da minha cabeça. Em oito anos, esse caso fez um estrago na minha vida'. "Tinha certeza que a Justiça não ia falhar, porque sou inocente", declarou Cleves ao jornal O Tempo.

Ele explicou que a absolvição só ocorreu porque conseguiu provar que a arma foi plantada na cena do crime. 'O estado também tinha obrigação de investigar o assalto, mas nunca investigou, porque essa versão não interessava à polícia', afirmou.

José Cleves quer reparação moral e material das arbitrariedades que sofreu da Polícia

O jornalista José Cleves da Silva, que teve o seu caso encerrado dia 27 no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no rumoroso processo de crimes praticados contra a liberdade de expressão no País, deverá buscar a reparação dos danos morais e materiais sofridos em decorrência da armação policial que o transformou de vítima de um assalto, que resultou na morte de sua mulher, em autor do crime, numa fraude que tinha como objetivo interromper as suas denúncias contra a corrupção policial nas páginas do jornal Estado de Minas. Quinta-feira, dia 4, José Cleves tem um encontro com o advogado Marcelo Leonardo.

A esposa Fátima Aparecida foi assassinada durante um assalto no dia 10 de dezembro, por dois ladrões, quando o casal retornava de um Shopping da região noroeste de Belo Horizonte. Cinco dias após, o repórter foi indiciado como autor do crime, com base na localização de um revólver calibre 38 colocado nas proximidades do local do assalto para incriminá-lo.

O repórter era, à ocasião do crime, três vezes consecutivas finalista do Prêmio Esso de Jornalismo com reportagens denunciando a corrupção policial na capital mineira. Um manifesto encabeçado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG exigia uma perícia independente para o caso e a investigação do assalto.

Perseguição - O Caso Cleves foi parar também na Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados e da Assembléia Legislativa de MG, com os parlamentares reiterando o apelo dos jornalistas para o encerramento do processo, pela profusão de provas comprovando a sua inocência.

Ainda assim, a polícia continuou perseguindo o repórter, inclusive com investigações paralelas do caso, mesmo após a remessa dos autos à justiça. Uma fita de vídeo contendo as denúncias da polícia no Fantástico da TV Globo do dia 21 de janeiro de 2001 foi anexada aos autos e exibida no julgamento, mas não convenceu os jurados que absolveu o réu à unanimidade.

Todos os recursos impetrados pelo MP na tentativa de anular o julgamento foram negados à unanimidade pela Justiça. No último, protocolado no STJ, a própria Procuradoria da República pediu ao ministro Nilson Naves que ele fosse negado por falta de fundamento.

Com a decisão do STJ, o Caso Cleves vai para a história da crônica policial mineira como um dos maiores crimes praticados contra a liberdade de expressão no País. Cleves é autor do livro Distrito Zero, que narra a execução de jornalistas durante a ditadura militar. Atualmente ele divide a sua função de editor do jornal Nova Lima Times, de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com palestras em universidades e artigos para revistas especializadas..

Ao comentar sobre a decisão do STJ, José Cleves disse apenas que vai agora refletir sobre o que fazer. "Foram quase oito anos de tortura que finalmente chega ao fim; tenho um encontro com o meu advogado, Marcelo Leonardo, dia 4, quando vamos estudar o encaminhamento do caso daqui para frente", resumiu o jornalista, que é pai de cinco filhos, todos eles menores à época do assassinato de sua mulher.


Comentário
Postei este mais para exemplificar o caso do ataque a liberdade de expressão (frise-se, apoiado por alguns meios de expressão – como historicamente ocorre).
Não sei se é o caso, mas também é notório o corporativismo da polícia. Daí entende-se a permanência de policiais imprestáveis na corporação.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pedágio derruba mais um jornalista da TV Cultura – por Luis Nassif

Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV Cultura.

Ontem, planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram ouvidos Geraldo Alckmin e Aloízio Mercadante, candidatos ao governo do estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial. Acabaram não se pronunciando.

Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre as viagens dos candidatos.

Hoje, Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana.

Semana passada foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra.

Para quem ainda têm dúvidas: a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder de mídia, que já tem, o poder de Estado.

O problema dos ex – por Marcos Coimbra (Carta Capital)

Poderíamos aprender com os americanos a lidar com os que ocuparam a Presidência da República. Lá eles não incomodam

Um dos problemas brasileiros (certamente não o maior) são nossos ex-presidentes. Vira e mexe, um deles causa algum embaraço. Fala o que não deve, se comporta de maneira inconveniente, dá maus exemplos.

Poderíamos aprender com os americanos a lidar com eles. Lá, faz tempo que não incomodam. Os contribuintes pagam para que não sejam forçados a lutar pela sobrevivência, lhes dão um gordo estipêndio e provêm a todos de amplas condições para que se dediquem a fazer nada.

Ficam à frente de suas fundações, disponíveis para missões humanitárias, participações esporádicas no debate público e, se tiverem aptidão, enriquecer no circuito internacional de palestras e consultorias. Os que terminam bem seus mandatos, como Bill Clinton, continuam a merecer o carinho de todos. Os que não, somem (como o último Bush).

Por aqui, quanta diferença! José Sarney zelava pela liturgia do cargo até no corte de seus jaquetões. Se tivesse o mesmo cuidado com verbas públicas e nomeações depois que saiu do Planalto, ninguém reclamaria dele. Fernando Collor era tão jovem e ficou tão pouco tempo no cargo que era natural que quisesse disputar outras eleições. O que não precisava é que fossem tantas, desde projetos bizarros como a prefeitura de São Paulo, ao de agora, de mais uma tentativa de voltar ao governo de Alagoas. Nessa vontade de permanecer a todo custo na vida política, Itamar Franco se parece com ele. Já foi governador de Minas Gerais e, neste ano, pretende ser senador outra vez, mesmo sabendo que o tempo passa para todos.

Ainda bem que os presidentes-ditadores tiveram a boa educação de morrer. Dá para imaginar o que seria se tivessem a longevidade de um Oscar Niemeyer? Contando todos, inclusive os três da Junta Militar, até seis poderiam estar vivos, dois (Geisel e Figueiredo) provavelmente. Quantas conspirações e articulações não estariam fazendo!

E Fernando Henrique? O mais recente e mais ilustre?

Faz tempo, mas FHC já foi considerado o mais importante cientista social do País. Todos gostavam dele, alguns com a exuberância de Glauber Rocha, que o chamava de “príncipe da sociologia brasileira”. E não era só no Brasil que tinha renome. Era respeitado internacionalmente, autor de livros que marcaram mais de uma geração.

De quem esperar uma atuação notável como ex-presidente senão daquele que mais se distinguira antes de assumir o cargo? Com sua biografia, era natural esperar que estabelecesse o padrão para seus sucessores. Depois dele, todos saberiam o que era ser um ex-presidente da República.

Semana passada, Fernando Henrique publicou mais um artigo, como tem feito com frequência nos últimos meses. É sua maneira de intervir no debate sucessório, pois a campanha Serra vê com preocupação qualquer movimento seu de maior aproximação. Ela já tem problemas de sobra com a administração da imagem negativa do ex-presidente e não quer que o candidato seja ainda mais identificado com ele.

No texto, intitulado “Eleição sem maquiagem”, FHC realiza uma proeza de malabarismo intelectual: consegue ser, ao mesmo tempo, um sociólogo que abdicou da sociologia e um ex-presidente que não governou.

Chega a ser fascinante ver como descreve os graves riscos que confrontam hoje o Brasil, aos quais o governo Lula estaria respondendo com uma atitude de otimismo irresponsável: “Tudo grandioso. Fala-se mais do que se faz”. Para ele, “a encenação para a eleição de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que ela diga, especialmente o que o mercado e os parceiros internacionais querem ouvir”.

O comentário é misógino, pois ele nunca se referiria a questões de aparência se o PT tivesse um homem como candidato (por mais vaidoso e preocupado com a aparência que fosse) e não uma mulher. Seu tom choca quem conheceu o Fernando Henrique sociólogo, sempre progressista.

Mas o mais extraordinário é ver como apagou da memória o que foi seu governo e as duas eleições presidenciais que ganhou. Será que esqueceu de como aconteceu sua primeira vitória, uma avalanche provocada pelo Real- lançado 90 dias antes, naquela que foi a eleição onde fatores não políticos mais interferiram no resultado? Será que não lembra como foi a reeleição, escorada em um câmbio artificialmente mantido pelos “parceiros internacionais”, que estourou três meses depois da apuração dos votos?

É ótimo que proponha eleições sem maquiagem. Mas é impossível levá-lo a sério, enquanto não estiver disposto a enfrentar suas verdades. Como ele mesmo diz: assumir a responsabilidade pelo que fez e deixou de fazer, mais do que falar.

Como se eternizam os mitos econômicos – por Luis Nassif

Uma pequena história exemplar, sobre como dar sobrevida a chavões dos cabeças-de-planilha

Em junho passado, os economistas Thiago Rabelo Pereira e Adriano Nascimento Simões, do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) desenvolveram uma avaliação inovadora para estimar o custo fiscal líquido do empréstimo de R$ 100 bilhões concedido pelo Tesouro ao banco.

Publicaram um estudo de 50 páginas intitulado «O papel do BNDES na alocação de recursos: avaliação do custo fiscal do empréstimo de R$ 100 bilhões concedido pela União em 2009».

O pensamento cabeça-de-planilha sempre simplificou a conta fiscal dessas operações. Comparavam a taxa Selic (vista como custo de carregamento da dívida pelo Tesouro) com a TJLP (o indexador do BNDES para seus empréstimos). E, a partir daí, soltava um número qualquer sobre o custo fiscal do empréstimo.

O trabalho visava justamente questionar essa conta simplificada.

Primeiro, questionava a comparação direta entre Selic e TJLP. Mostrava o descasamento entre prazo médio dos empréstimos e a rolagem futura das dívidas do Tesouro; o fatio de metade da carteira de títulos ser indexada ao IPCA; a falta de mercado para apurar a trajetória futura da TJLP; o fato das operações pré-fixadas de títulos públicos embutirem uma taxa de risco futura, o que deturpava a visão correta do mercado sobre a evolução da Selic.

Depois, mostrava os ganhos que a União teria e que não eram considerados nessas análises. O fato da União ter um retorno sobre esses empréstimos sob forma de dividendos, tributos e da incorporação ao patrimônio do banco dos resultados auferidos com a intermediação financeira.

Todo esse esforço, que permite uma visão nova sobre a questão, foi deixado de lado pela mídia.

No dia 25 de junho, a repórter Vera Saavedra Durão publicou matéria no jornal O Valor com duas impropriedades. A primeira, foi considerar apenas a primeira parte da conta – o diferencial de juros -, fugindo totalmente do enfoque dado pelo trabalho, cujo objetivo era justamente questionar essa maneira simplificada de analisar a operação.

A segunda foi uma regra de três, aplicada pela repórter para estimar o custo do primeiro empréstimo (de R$ 100 bi) e do segundo (R$ 80 bi), o que elevou o custo anunciado para R$ 66,6 bi – que serviu para esquentar a manchete.

No dia 28, três dias depois, o jornal publicou uma carta de esclarecimentos do banco, questionando a maneira como a repórter chegou ao número mencionado – que não constava do estudo do banco – e ignorado as demais conclusões.

Na retificação, o jornal reduziu o valor estimado de R$ 66 bi para R$ 58,5 bi. Mas continuou ignorando o ponto central do trabalho.

Aí o Estadão, sem ler o trabalho mencionado, pegou a matéria do Valor e soltou um editorial em cima dos números apresentados (clique aqui)

O banco enviou nova carta de esclarecimentos, publicada no dia 7 de julho. Nela, alertava para o fato do editorial ter mencionado declarações do autor do trabalho – que ele nega ter feito – e desconsiderado o ponto central do trabalho que era justamente medir o efeito líquido do aumento de arrecadação menos o diferencial de juros da operação.

Só aí o jornal resolve consultar o trabalho, para poder responder à carta. Mais uma vez, selecionou trechos que se encaixavam no seu raciocínio e escondeu do leitor o ponto central da análise (clique aqui).

Por aí se percebe a enorme dificuldade em fugir dos bordões simplificadores de mercado.

O fim da aposentadoria para magistrado punido - por PapaMideNitelV (Blog do Nassif)

Projeto de Ideli, que acaba com aposentadoria de juiz como punição, é aprovado

O plenário do Senado aprovou na quarta-feira (7), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 89/2003, da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que acaba com a aposentadoria de magistrados, como forma de punição para delitos.

A PEC, que na votação em segundo turno recebeu 52 votos favoráveis e nenhum contrário, também permite a perda de cargo do juiz ou membro do Ministério Público por decisão de dois terços dos membros do tribunal ou conselho ao qual estiver vinculado.

O texto agora segue para a Câmara dos Deputados.

Ideli afirma que a "punição" com aposentadoria de magistrados revela-se um absurdo, já que, em vez de funcionar como punição aos juízes que cometem graves irregularidades, funciona como verdadeiro prêmio.

A senadora afirma que a vitaliciedade é condição para o exercício da jurisdição de uma forma regular e de acordo com as normas legais, não devendo ser um obstáculo à responsabilização de quem comete desvios funcionais ou crimes. (Da Agência Senado)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O governador que não falava com seus secretários – por Luis Nassif

Em dezembro escrevi sobre o modo José Serra de governar. Com base em conversas com membros do secretariado, mostrei que era um governador ausente das decisões do seu governo, que raramente promovia reuniões com secretários, separadamente ou em conjunto, que jamais tocou um programa inter-secretarias. Cada secretário ficava em seu gueto tocando suas coisas sem sinergia sequer com outras secretarias, sem feed-banck nem cobranças da parte do governador, que não manifestava o menor interesse pelo que faziam.

Alguns avanços enormes na área de gestão pública - como a coordenação de programas entre vários agentes, do governo, setor privado e da sociedade - sequer passaram perto da gestão de Serra.

A maior prova é que, tendo toda a velha mídia à sua disposição, não conseguia contar o que seu governo - ou seja, seus secretários - fazia.

A notícia abaixo fala da ampliação do "Bolsa Família" estadual. O tema que interessa não é nem o do reajuste do valor. É a afirmação do Secretário Delben Leite de que faz dois anos que não conversa com Serra.

Da Folha

Após promessa, SP amplia seu "Bolsa Família"

DE SÃO PAULO

Um dia depois de José Serra (PSDB) anunciar que pretende duplicar o Bolsa Família, o governo de São Paulo anunciou a ampliação de seus principais programas de transferência de renda.

As bolsas do Renda Cidadã e do Ação Jovem subirão de R$ 60 para R$ 80.

No entanto, o gasto do Renda Cidadã previsto para 2010 (R$ 116 milhões) é igual ao do ano eleitoral de 2006. De 2007 a 2009 foram gastos, em média, cerca de R$ 100 milhões, segundo o governo.

O secretário de Assistência Social, Luiz Carlos Delben Leite, afirmou que o anúncio não tem a ver com a fala de Serra sobre o Bolsa Família: "Nem sabia disso! Faz dois anos que não falo com ele".

Conforme a Folha revelou em maio, o Renda Cidadã e o Ação Jovem encolheram sob a gestão de Serra como governador. O pagamento caiu de R$ 279,5 milhões, em 2006, para R$ 198,9 milhões em 2009. Considerada a inflação, a queda chega a 38%.

Na ocasião, a pasta de Assistência e Desenvolvimento Social atribuiu a queda à melhora da renda no Estado no período.

Quando a limpeza não cheira bem – Por Ana Helena Tavares (Quem tem medo do Lula?)

A Itália, depois de promover uma perseguição política através da chamada operação “Mãos Limpas”, elegeu Silvio Berlusconi. Já uma lei do tipo na África do Sul não teria permitido a eleição de Nelson Mandela, cuja “ficha suja” envolvia condenação por “terrorismo”.



Como se sabe, a esquerda, embora progressista, não é toda democrática. Exultado pelos dois pólos da política, stalinista e fascista são alguns dos nomes que se aproximam perigosamente do chamado “Ficha Limpa”. O que é essa nova lei? Uma limpeza moral à força? Você? Se fosse um político arrependido de seus crimes não gostaria do direito à segunda chance?

De onde vem a idéia

Peço a quem puder que me cite uma ditadura que não tenha sido instaurada em nome do “combate à corrupção”. Um dos vídeos, criados ainda ano passado em defesa do projeto, é um primor de moralismo hipócrita. Apresenta a proposta de uma varredura que “faria com que os que os eleitores pudessem confiar (?) em quem votar e mudaria o país”. Em política, cruzadas desse tipo invariavelmente acabam em vitória da direita - e mais corrupção. A última que vingou por aqui (travestida de “Marcha pela família com Deus pela Liberdade”) eu ainda nem era nascida, mas sei bem que resultou em 20 anos de ditadura.
alista O jornalista e ex-deputado federal Marcos Rolim lembra: “Foi a ditadura militar que, com a Emenda Constitucional nº 1 e a Lei Complementar nº 5, estabeleceu a cassação dos direitos políticos e a inegibilidade por “vida pregressa””, disse Rolim em seu artigo “Boa intenção, má solução”, onde acusa ainda o projeto de legalizar a “presunção de culpa”.

Afinal, quem pode ser condenado por “vida pregressa” sem, ao menos, ter direito à sentença condenatória com trânsito em julgado, como quer a nova lei? Quem é “ficha limpa” no mundo e na política de hoje?

O Maluf que conseguiu provar inocência em todos os inquéritos nos quais foi processado e, por isso, não entra na roda? Ele votou a favor do projeto e está aí agora posando de justiceiro.

Taí um papel renegado pelo ministro Marco Aurélio Melo, único do TSE a votar contra a nova lei: “Eu não sou um justiceiro. Eu sou juiz. Aprendi desde cedo que no sistema brasileiro o direito posto visa a evitar que o cidadão tenha sobre a sua cabeça uma verdadeira espada de Dâmocles. Aprendi que a lei não apanha fatos passados.” Isso é o que reza o artigo 5º da nossa Constituição, ao afirmar que a “lei não pode retroagir em detrimento do acusado”.

No final das contas, uma lei desnecessária

Aprendi recentemente com o consagrado jurista, Dr. Hélio Pereira Bicudo, que esse artigo é quebrável por crimes imprescritíveis, como a tortura e o seqüestro contínuo. Crimes de lesa-humanidade. Só. E, segundo o mesmo Dr. Hélio, para o caso específico de eleições, é quebrável também pelo “princípio da inelegibilidade”, apresentado no artigo 14, parágrafo 9, da Constituição de 88, que reza que: “Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada a vida pregressa do candidato (...)”.

É esse o artigo usado em defesa da lei pelo “Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral”, responsável pela organização do projeto na sociedade civil e que o chama de “democrático radical”. E é esse o artigo que faz Dr. Hélio chamar a lei de “obsoleta”.

O respeitável jornalista Jânio de Freitas resumiu, em seu artigo “Ficha Limpa” (Folha de S. Paulo, 13 de Maio de 2010): “Trata-se de um projeto de iniciativa popular, cuja aprovação vale como uma advertência para a presença desse direito na Constituição.” Ou seja, já existia. Mas será mesmo válida essa “advertência”?

Pesando os prós e contras

Apesar de assumi-la como dispensável e muito provavelmente inútil, e, mesmo admitindo que “O candidato pode não ter sido condenado criminalmente, mas ter sua vida partilhada de circunstâncias que comprometem uma probidade imprescindível para o exercício de um mandato público”, em artigos recentes, Dr. Hélio tem se mostrado simpático à nova lei, porque considera legítima e bem intencionada a iniciativa popular. Legítima, sem dúvida, é. O problema é que o diabo mora nos detalhes e é inegável que lá também mora com ele um sem número de pessoas “bens intencionadas”.

Jânio de Freitas também acha que a lei tem pontos a serem considerados como vitória. “É um caso raro de aprovação contra o interesse de grande número de parlamentares”, garante. Será mesmo? A quem serve a desmoralização da classe política senão aos próprios políticos que se vêem beneficiados pelo desinteresse de um povo que vota por mera obrigação?

Compreendo e integro a indignação popular diante do fato de políticos usarem o mandato para escapar da punição por seus crimes. Indignação que levou à atitude extrema da criação de tal lei. Não há, no entanto, nada que me convença de que este seja o caminho.

Tal como o Dr. Hélio Bicudo, o advogado Erick Wilson Pereira também considera a lei desnecessária, alegando, porém, outros motivos: "O Brasil é a única democracia no mundo que precisa de uma lei para dizer que os políticos precisam ter ficha limpa. Ter vida pregressa idônea é uma obrigação do agente público. Porém não se pode inverter os valores democráticos. Afinal o grau de civilidade de uma nação se mede pelo princípio da presunção de inocência."

A presunção de inocência e a condenação sumária

O professor de Direito Penal, Túlio Viana, em seu desabafo “Sobre o projeto Ficha Limpa”, vai mais longe: “Se o “ficha-limpa” não fere a presunção de inocência (defendida pelo art.5º LVII da nossa Constituição), é pior ainda, pois vão tolher a exigibilidade do cidadão mesmo sendo inocente. Êh argumento jurídico bão: nós continuamos te considerando inocente, mas não vamos te deixar candidatar mesmo assim! Que beleza! Ou o cara é presumido inocente ou é presumido culpado. Não tem meio termo. Muitos dos corruptos brasileiros possuem “ficha limpa” – especialmente os mais espertos, que não deixam rastros. Por outro lado, várias lideranças sindicais brasileiras possuem condenações em segunda instância por “crimes” que envolveram participação em greves ou em lutas populares; devemos impedir que se candidatem?”, indagou Viana.

Como se vê, a polêmica idéia trata-se de uma aberração, que, pelo mundo, tem apresentado resultados com efeito contrário. A Itália, por exemplo, depois de promover uma perseguição política através da chamada operação “Mãos Limpas”, elegeu Silvio Berlusconi. Tão limpo quanto Maluf. Já uma lei do tipo na África do Sul não teria permitido a eleição de Nelson Mandela, cuja “ficha suja” envolvia condenação por “terrorismo”.

No vídeo citado no início deste texto, o jurista Aristides Junqueira alega que “diferentemente do que em direito penal, no direito eleitoral impera a precaução sobre a presunção”. Por que essa diferença? Não seria a “precaução” uma forma de condenação sumária?

“Ordem e precaução”

Muito se fala em “pôr ordem na casa”. E eu pergunto: a que tem se prestado a palavra “ordem” em nossa história? O que é o “choque de ordem”, de Eduardo Paes, atual prefeito do Rio de Janeiro, senão a criminalização da pobreza? O que foi o Departamento de Ordem Pública e Social (vulgo DOPS), instaurado por nossa ditadura militar, senão uma caçada a “terroristas”, como Mandela? Pode-se citar ainda episódios desconhecidos de nossa história, mas que, certamente, não foram os únicos. O que foi a “Operação mata-mendigo” (bem contada no filme “Topografia de um desnudo”), que, na década de 60, objetivou “pôr ordem” na cidade do Rio para visita da Rainha Elizabeth? Os mendigos foram brutalmente torturados e jogados no rio Guandu. Policiais e funcionários do então Governo da Guanabara foram indiciados. Porém, com o Golpe de 64, os inquéritos foram todos arquivados e o episódio quase apagado da história do Brasil.

Será incontável o número de artifícios malabaríticos que, já tão usados pelos políticos, surgirão ainda com mais freqüência, como drible para a “mão pesada” da nova lei. Já se tem notícia, por exemplo, de um que candidatou a esposa. É o incentivo a esse tipo de “precaução laranja”, à sujeira encoberta por debaixo do pano para melhor ludibriar o eleitor, que buscamos para nossa sociedade e política?

Por que (e para que) será?

Será que os pequenos delitos diários, não condenáveis pela justiça, não corrompem muito mais nossa política? É muito fácil demonizar os políticos. E nossa “grande mídia” é a primeira a atirar todas as pedras. Por que será? Imaginem se Lula vetasse a lei. Seria massacrado nas capas dos jornalões, ainda mais do que já é. E se fosse proposto um projeto “Ficha Limpa” para a profissão de jornalista, quantos sobrariam? Haja hipocrisia!

Tamanha foi a pressão popular, convenientemente apoiada pela mídia, que todos os deputados votaram pela aprovação do projeto. Ops... Menos um, que, com medo da reação da opinião pública, se apressou em alegar “ter trocado os botões no painel de votação por cansaço”. Os eleitores se enganam, porém, quando imaginam que a nova lei impedirá a reeleição de figuras como Renan Calheiros, José Sarney ou Fernando Collor. Todos estão em dia com a Justiça, a começar por Collor, que se elegeu senador depois de ficar inelegível por oito anos, situação em que se encontram os ex-deputados José Dirceu e Roberto Jefferson.

“E os casos de compra de voto e abuso do poder econômico?”, é o que indaga o ex-deputado José Dirceu em seu artigo “A mídia em mais uma de suas jogadas”. De fato, estes casos raramente levam a condenações. Por que não se tem coragem de falar em reforma política? Uma reforma que proporcionasse reais mudanças na legislação sobre as eleições, no sistema de financiamento das campanhas, nos guetos que ainda permitem que votos sejam trocados por dentadura?

Será que alguém já parou para pensar que a aprovação do projeto significou dar poder de veto de candidaturas às oligarquias regionais, que controlam a maioria dos Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Eleitorais? Por que não se discute a sério uma reforma no Judiciário que proporcionasse maior rapidez nos julgamentos, não apenas impedindo a candidatura dos corruptos, mas fazendo com que eles de fato fossem condenados e presos?

Por que não pensarmos antes em educar a população, desde as classes mais básicas do ensino, levando-lhe ao entendimento de que o eleitor é o agente responsável pelas mudanças de uma nação, que é ele que detém nas mãos o verdadeiro poder e mostrando-lhe o caminho para saber escolher melhor seus representantes? Se houver a conscientização de que voto é direito e não dever, para que mesmo uma lei que impõe ao povo o que é ou não condenável?

Hitler tinha a ficha limpa?

Numa atitude desesperada e destemperada, em grande parte repleta de boas intenções, foi o próprio povo que a avalizou. Faltou lembrar que Hitler, o senhor da “mobilização popular”, tão pregada pelo movimento (“radical democrático”) que deu origem ao projeto, era um exemplo de “moral e bons costumes”: para aproximar sua figura a de Gandhi, Goebbles, ministro da Propaganda de Hitler, o “vendia” como vegetariano, enquanto, alertam historiadores, “ele comia macarrão recheado com carne picante e coberto com molho de tomate”. Na busca por “pureza”, não bebia, não fumava.

Estão claras as diferenças contextuais: o Fürer alemão foi um ditador. Mas que, em nome da busca por uma “raça pura” – ou “limpa”, não faz muita diferença – gozou de grande popularidade em sua terra.

Ana Helena Tavares, jornalista por paixão, futura jornalista com diploma. Editora-chefe do blog "Quem tem medo do Lula?".

20 anos sem João Saldanha - por Paulo Kautscher (PCB)

Em 12 de julho de 1990, portanto, há vinte anos, falecia na UTI do Hospital Santo Eugênio, em Roma, vítima de insuficiência respiratória e embolia pulmonar, João Saldanha, camarada admirado por todo o coletivo partidário em virtude de sua dedicação à luta pelo socialismo e o comunismo em nosso país. Aos interesses populares e nacionais, para cuja realização o PCB sempre empregou o melhor de suas energias, pagando um alto preço desde março de 1922, Saldanha entregou sua inteligência, caráter e valentia, comprometendo gravemente sua saúde.

Em 1935, aos dezoito anos de idade, João e seu irmão Aristides aderiram ao programa da Aliança Nacional Libertadora, atraídos pelo movimento internacional de resistência ao nazi-fascismo e de combate aos planos belicistas do imperialismo alemão. Do antifascismo, Saldanha evoluiu ideologicamente até aderir ao marxismo-leninismo.

Em 1945, pouco após o estabelecimento de relações diplomáticas do Brasil com a União Soviética e a libertação de mais de cem militantes comunistas, Saldanha ingressou no Partido, passando a atuar num dos Comitês Populares Democráticos criados pelo Partido, organizações de massa incumbidas de organizar um vasto conjunto de atividades. Saldanha também ingressou no Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), organização intersindical que resultou da aliança de comunistas e getulistas. Aos 28 anos de idade, Saldanha era o mais jovem secretário político dos comitês distritais do PCB, no Distrito Federal. Em maio de 1947, a ilegalização do Partido representou um duríssimo golpe para o proletariado brasileiro, travando, pela violência, o movimento de elevação da sua consciência e da sua organização. Em abril de 1949, tendo sido ferido à bala pela polícia, durante uma atividade de protesto contra a fundação da OTAN e os preparativos da III Guerra Mundial, Saldanha tornou-se funcionário do Partido. Nesta condição, ele assumiu tarefas de grande envergadura e responsabilidade no Estado do Paraná e no Estado de São Paulo, tanto na luta contra a grilagem de terra, na organização de sindicatos no campo, quanto na aplicação da nova linha política para o trabalho sindical, nos anos de 1952-1953, e que culminou na greve histórica de março de 1953.

Numa situação política mais favorável, a partir de 1956, Saldanha projetou-se como grande personalidade do desporto nacional, conquistando a admiração popular. Em 1960, afastando-se do exercício direto das atividades esportivas, Saldanha assumiu importante tarefa na imprensa de massa do Partido. Não demorou a ingressar no jornalismo esportivo, assumindo um papel de liderança inegável. O Golpe de 1964 encontrou-o no jornal Última Hora, veículo odiado pela reação e o imperialismo. Vítima, como tantos outros, da ação de delatores, Saldanha foi demitido da Rádio Nacional. O exercício da atividade de comentarista de futebol, na condição de mais brilhante e influente do país, jamais o afastou do PCB. Justamente por representar um obstáculo aos objetivos demagógicos da ditadura militar, Saldanha foi demitido do cargo de treinador do escrete nacional, em março de 1970.

Nos períodos mais difíceis para o Partido, quando o regime fascista buscava exterminá-lo, Saldanha, valendo-se dos meios proporcionados por sua profissão, prestou valiosa contribuição nas tarefas de enlace entre a direção no país e o Comitê Central no exterior. A partir de 1978, cumpriu diversas tarefas de envergadura à frente do CEBRADE, com vistas ao apoio à luta de massas pelo derrubamento da ditadura militar. Num momento de eclosão da gravíssima crise ideológica e de organização, após o retorno dos membros do CC, Saldanha rechaçou as posições do eurocomunismo, aproximando-se de Luiz Carlos Prestes, mas não abdicando da luta pela unidade partidária. Em 1985, na sequência de uma série de tarefas de agitação pela conquista da legalidade do Partido, nos estertores do fascismo, e apesar da saúde precária, Saldanha aceitou a missão de representar o PCB na chapa de esquerda nas eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Concorrendo ao cargo de vice-prefeito, Saldanha contribuiu para a conquista de expressiva votação. Quando morreu em julho de 1990, Saldanha era membro do Comitê Central. Saldanha, coerente com a visão humanista do futebol, foi um extraordinário desportista, símbolo do mais puro amadorismo, e maior jornalista esportivo de nossa história.

A recordação deste grande brasileiro, patriota e revolucionário proletário, passados vinte anos de sua morte, deve servir-nos de exemplo de conduta partidária. A ação do Partido, objetivando a educação política da classe operária e das massas populares, inseparáveis da elevação de sua organização e mobilização, é uma ação coletiva. É no processo da luta de classes que o Partido cria raízes no povo, e, ao mesmo tempo, educa e tempera cada um dos seus membros. Saldanha, como honesto e dedicado militante partidário, sabia que a força do Partido resulta de uma justa linha política e do trabalho real, concreto, junto às massas trabalhadoras. A recordação da atividade de Saldanha, no seio do Partido, deve servir-nos de estudo e estímulo para o cumprimento dos objetivos do PCB, nos dias atuais, caracterizados por complexa e difícil correlação de forças, com tantas dificuldades a vencer na conquista da unidade e da mobilização das massas proletárias contra o jugo do capital.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O mal-estar da grande mídia - Glauco Cortez (blog do Nassif)

Há um certo mal-estar na grande mídia brasileira. Há descuidos ideológicos, politicagem sem um mínimo bom senso, campanha política de baixo nível, uma insatisfação, uma certa ira, um leve desencantamento, uma agressividade ansiosa.

A grande mídia parece uma fera, que sabe de seu poder, mas se sente um pouco acuada.

Esse mal-estar não afeta somente o jornalismo, mas também a tolerância e a liberdade de imprensa. A mídia começa a usar e abusar do Poder Judiciário contra pessoas que noticiam ou emitem opiniões com críticas a ela. Freud talvez diria que é um mal-estar provocado pelo nascimento de um irmão mais novo. Talvez.

Na realidade, há possivelmente inúmeras razões para a situação em que se encontra a grande mídia, mas longe da psicanálise, algumas considerações podem ser feitas.

A primeira é o próprio desenvolvimento democrático do Brasil. Há no país, apesar de ter apenas 20 anos de democracia, o retorno de uma pressão muito grande por demandas sociais, que estão sendo parcialmente atendidas pelo governo. Isso deveria ser orgulho para a grande mídia, que sempre criticou e mostrou as mazelas do país. No entanto, há um sabor amargo e um certo rancor, visto que essas demandas sociais e democráticas acabam tangenciando os latifúndios cartoriais da mídia. Há, portanto, um mal-estar pelos avanços democráticos e sociais.
Há também um mal-estar provocado pelo desenvolvimento tecnológico, pela internet e outras mídias, pelo barateamento da produção gráfica e audiovisual. Há muita gente com capacidade técnica e tecnológica para produzir conteúdo, há muita gente com possibilidade de publicação e distribuição de conteúdo por meio de novas tecnologias. Isso afeta diretamente a grande mídia porque as pessoas começam a comparar, analisar e questionar a qualidade e as omissões. Começa a haver certa concorrência de conteúdo, que não é exatamente uma concorrência econômica.

Há menos de uma década, a Folha de S.Paulo noticiou que um jovem músico entrou em um estúdio de rádio e, com um revólver em punho, exigiu que o locutor tocasse as músicas de sua banda. Esse era o único meio de dar visibilidade ao seu trabalho artístico. Hoje há novas possibilidades tecnológicas de distribuição, principalmente a internet, que transforma tal fato em algo pré-histórico. Esse poder centralizador da distribuição cultural está ruindo e isso provoca inevitavelmente um mal-estar.

O surgimento da ferramenta de publicação dos blogs é outra potencialização do mal-estar. Há uma grande quantidade de blogs bem estruturados em processos e conhecimentos de comunicação e jornalismo, além de inúmeros outros com a qualidade simples, mas primordial de um bom texto, uma boa análise ou inesperada criatividade. Exemplos não faltam: Paulo Henrique Amorim, Luiz Carlos Azenha, Altamiro Borges, Rodrigo Vianna, Blog do Mello, Luís Nassif, Na Maria News, Eduardo Guimarães, Rovai, portal Vermelho, Carta Maior, FNDC e tantos outros que nem dá para inumerar, mas que dissecam a relação entre a mídia e o poder. Há um mal-estar pela sensação de não só pautar, mas também ser a pauta.

Há um mal-estar político e com o governo Lula. É um governo que não prejudicou e nem enfrentou a mídia durante os dois mandatos, mas também não é facilmente domesticado, enquadrado. Há um certo mal-estar porque parece que a mídia culpa o governo por não a socorrer no momento em que o mar parece agitado. Mas há também um mal-estar por apostar em um projeto político da oposição (PSDB/DEM) que está completamente vazio de utopia, é um projeto de manutenção das desigualdades sociais travestido de sonhos gerado pelo marketing político. É um projeto que não pode pegar a bandeira da igualdade, da justiça e nem da fraternidade, moralidade, ética ou mesmo da gestão pública. É um projeto que, no fundo, visa manter o status quo. E isso é desagradável.

Há um mal-estar também na mídia porque parece que parte do povo, essa entidade, desprendeu-se do seu cabresto. Há uma certa insatisfação e angústia com a impotência das ações da própria mídia no que diz respeito à sua capacidade de convencimento, de direcionamento. É um mal-estar que beira a insanidade e gera frases como "o povo está contra a opinião pública".

Há um mal-estar por ter de dialogar e de se confrontar de igual para igual com blogs, sites e empresas sem grande capital financeiro. É algo como: "quem é esse Zé mané que está me criticando sem o meu filtro, sem minha permissão?" ou "quem é esse povinho que agora diz quem eu sou e como deve ser o jornalismo?" É aquele mal-estar de ter de falar de igual para igual com quem sempre lhe foi subalterno.

Por fim, há um profundo mal-estar porque estamos em um processo de reorganização das formas produtivas de comunicação. É possível que o capitalismo continue o mesmo na fábrica de sabonete, na usina de aço ou na indústria têxtil, mas há uma profunda mudança econômica e produtiva em andamento na indústria da cultura e isso inevitavelmente provoca uma incerteza, uma angústia, um certo medo.

A má notícia para a grande mídia é que isso parece ser só o começo. Quando organizações sociais, sindicatos e grupos utópicos de diversos setores da sociedade entenderem que a comunicação não é simplesmente um front de guerra, mas um espaço de mediação cultural que se porta como uma instância de superação da consciência de classes, de superação da consciência de grupo, aí as transformações serão muito mais aceleradas, muito mais intensas.

No laboratório de Serra – por Marcelo Coelho (Folha de São Paulo)

Se a escolha do vice já foi tão espinhosa, como haveria de ser a montagem de seu ministério?

Há muitas teorias para explicar a derrota da seleção na África do Sul. Dou a todas o crédito da minha ignorância. Qualquer uma é razoável; o fiasco brasileiro não constitui, provavelmente, a notícia mais enigmática destes dias. Acho mais intrigante o processo de escolha do vice na chapa de José Serra, que deu no deputado Índio da Costa (DEM-RJ).

Recapitulando. Foi uma sequência de rumores e balões de ensaio, de hipóteses e fórmulas mágicas, formando uma verdadeira escalação de futebol.

Aécio Neves, Francisco Dornelles e Álvaro Dias; Jarbas Vasconcelos, Itamar Franco e José Roberto Arruda; Kátia Abreu e Tasso Jereissati; Valéria Pires Franco, ex-vice-governadora do Pará, e Patrícia Amorim, presidente do Flamengo. Não pensaram no Belluzzo? É um time para Dunga nenhum botar defeito.

Uns dias a mais e o próprio Dunga poderia ter sido cogitado. Aplaudiram-no em sua volta ao país; é popular; é sério; é realista; sua ficha, ao que consta, é limpa; veste-se com apuro, não gosta de demagogia e já não promete muita coisa.

Ademais, Dunga não deve ter críticas à exploração do pré-sal, nunca falou em plebiscito sobre a pena de morte, e há de considerar radical demais a proposta de multar os cidadãos que deem esmolas na rua. Três pontos que o tornam mais moderado, ou menos exótico, do que Índio da Costa.

Multar quem dá esmolas! Em matéria de Estado policial, creio que nunca se imaginou ameaça tão severa contra as classes privilegiadas.

Brincadeiras à parte, o problema da escolha de um vice nunca é fácil de resolver. Há sempre a questão dos palanques estaduais, o tempo na TV, a composição com os demais partidos da aliança.

Provavelmente, tudo ficou mais complicado para o PSDB por alguns motivos de ordem política e outros de ordem pessoal.

Passo rapidamente pela questão política. A candidatura Serra hesita entre a identidade puramente oposicionista (Álvaro Dias reforçaria isso) e o perigo de confrontar-se com a popularidade de Lula. A situação partidária força uma aliança à direita (Dornelles e Kátia Abreu seriam os nomes adequados), mas o clima predominante é redistributivista e pró-Estado, e o próprio Serra se sente desconfortável quando levado a defender o oposto.

O vice do tucano, assim, teria de ser precisamente alguém que não significasse nada, que não inclinasse a balança para nenhum lado.

A questão não é apenas política, mas também pessoal. Fulano? Não suporta Serra. Beltrano? Serra não o engole.

Ninguém é bom o bastante para que Serra o aceite, e ninguém é tão ruim que não possa rivalizar com ele.

Fico lembrando a velha história do casamento da Dona Baratinha, com fita no cabelo e dinheiro na caixinha, recusando um a um os pretendentes ao noivado. A mensagem psicanalítica do conto infantil não é outra senão a da fobia ao sexo; haveria em Serra, incrivelmente, algo como uma fobia à política, ou pelo menos à negociação política, à convivência política. Não o recrimino; talvez seja apenas um individualismo levado ao extremo.

Tanto, que ele se dispõe a acumular o cargo presidencial com o de superintendente da Sudene, e não sei com que outro ministério. Imagino que gostaria também de ser o secretário do Planejamento e presidente do Banco Central. Se a escolha do vice foi tão espinhosa, como haveria de ser a montagem do ministério?

Entendo melhor, assim, o estranhíssimo e desastrado conselho de Serra à Índio da Costa, recomendando-lhe que tivesse amantes, desde que com discrição. Traduzindo em termos políticos, Serra não acredita na fidelidade dos aliados, mas espera que não apareçam, que fiquem à sombra, que não existam.

Índio da Costa quase não existe. Olho suas fotos: é um belo rapagão moreno, não muito diferente de Aécio Neves, com a vantagem de não ser Aécio Neves.

O enigma se dissolve: é como se ele fosse um similar, ou um genérico, de Aécio. Trata-se do remédio sem marca para os males de Serra. Famoso hipocondríaco, foi o tucano quem criou os medicamentos genéricos, e não por coincidência: nenhum nome próprio, nenhuma marca conhecida, nenhuma singularidade identificável pode subsistir ao lado de Serra. Surge então Índio da Costa, o vice de todos os vices, prontinho do laboratório. É só engolir.


Comentário
Só um leve deslizo do autor do texto: não foi Serra quem inventou os genéricos. Além disso, não foi Serra quem inventou o programa de combate a AIDS (ele se apropria do legado de Jamil Hadad e Adib Jatene, ex-ministros da saúde do Brasil – na verdade, pegou as boas práticas que se realizavam e as transformou em peça de marketing). E muito menos quem criou o FAT (decreto de Sarney).

Como funciona a CBF – por blog do Nassif

Por ORRAIO

Caro Nassif, não tenho a mínima noção de como funciona a CBF, e tenho certeza de que não estou sozinho nesta ignorância. O que é e como funciona a CBF? Para quem presta contas? Quem elege seu presidente? Quanto ele ganha? O que pode e o que não pode fazer?

Acho que cabe uma grande reportagem sobre isso.

Por Gilberto Cruvinel

O Globo Repórter sobre a CPI da CBF

(o texto abaixo explica poque a Globo fez o Globo Reporter sobre a CPI da CBF e é de autoria do usuário que postou os videos acima)

" Em Agosto de 2001, O "Globo Reporter" mostrou um documentário de jornalismo investigativo sobre o que a CPI do Congresso Nacional provou a respeito de quem é quem na CBF, o que realmente acontecia por trás das cortinas e mostrou quem é o maior dirigente do futebol Brasileiro, RICARDO TEXEIRA.

Mostrou seu enriquecimento, mostrou quanto ele tinha antes do futebol e quanto depois, que movimentou em ações do mercado capital até R$ 2.355.607,00 (Dois BILHÕES, trezentos e cinqüenta e cinco MILHÕES e seiscentos e sete reais).

A CPI provou tudo com documentos e a Globo mostrou, mas por que motivo a GLOBO RESOLVEU COLOCAR ISSO NO AR, sendo que a CPI já estava aberta e o RICARDO TEIXEIRA sendo investigado desde 1998 ??

RESPOSTA:

SIMPLES: naquele ano de 2001 o SBT estava oferecendo para o "clube dos 13" 50 Milhões de reais para obter os direitos exclusivos da seleção/futebol/copa, a Globo não quis cobrir a grande oferta do SBT, mas resolveu atacar o dono da CBF e da seleção brasileira,.

DEPOIS DISSO A GLOBO renovou com a CBF e o "clube dos 13" , GANHOU OS DIREITOS EXCLUSIVOS DA SELEÇÃO DE 2001 ATÉ 2014 E CONSEGUIU REDUZIR O PREÇO ALTO que iria ter que pagar para cobrir a proposta do SBT.

DEPOIS DESSE FATO, A GLOBO NUNCA MAIS BATEU DE FRENTE COM O RICARDO TEIXEIRA E SUA ATUAÇÃO COMO PRESIDENTE DA CBF.

Todos os 'jornalistas' (?) da Globo e outras emissoras sabemque a seleção é vitrine para jogador que tem bom empresário.

Apenas alguns jornais e Blogs voltaram ao assunto, por não ter nenhum "rabo preso" com ninguém e HOJE somente alguns jornais e blogs continuam investigando e mostrando o que rola na CBF.

MAS A GRANDE IMPRENSA ESQUECEU e tem medo de baterde frente com a GLOBO E a CBF para não perder seus patrocinadores."

Se estou certo, quem primeiro abriu a cortina para as mutretas da era Ricardo Teixeira foi o Pelé, em 1993. Queria fazer negócios e a CBF cobrou US$ 1 milhão de propina. Colocou a boca no trombone. Quem conta é o relatório da CPI da CBF-Nike:

Por Jurandir Paulo

Por volta de 1993 a Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, começou a chamar mais a atenção da opinião pública pelas suspeitas de irregularidades na sua administração do que pelas façanhas da seleção canarinho. O empresário Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, veio a público para denunciar que sua empresa de intermediação de patrocínios e de negócios de direitos de imagem televisivos na área esportiva, a Pelé Sports, havia sido vítima de uma tentativa de chantagem. A Pelé Sports tentava comprar junto à CBF os direitos de transmissão de imagem do Campeonato Brasileiro de 1994. Ofereceu 5 milhões de dólares por esses direitos. Pelé acusou o então diretor financeiro da CBF, José Carlos Salim, de exigir uma propina de um milhão de dólares, depositados num Banco da Suíça, para fechar o contrato. Pelé recusou-se a pagar e denunciou o fato à imprensa. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, processou Pelé. Denúncias mútuas, agressões verbais, represálias, iriam se suceder durante os últimos sete anos.

O interessante é que o José carlos Salim continua na CBF até hoje, como diretor de marketing.
Está no site da CBF em:

http://www.cbf.com.br/php/diretoria.php

Da CPI CBF-Nike, os deputados Silvio Torres e Aldo Rebelo fizeram um livro com a apuração, que Ricardo Teixeira recolheu e o proibiu com a ajuda da justiça. Mas na internet há um documento com a síntese do que lá foi apurado, de autoria de Aldo Rebelo e do jornalista Carlos Azevedo, de onde tirei o texto acima. Fica em:

http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/viewFile/5923/5436

terça-feira, 6 de julho de 2010

"Nós não tínhamos plano B", diz tucana sobre aliança Serra-Roriz – por Filipe Coutinho (Folha de São Paulo)

A candidata ao Senado pelo PSDB do Distrito Federal, Maria de Lourdes Abadia, disse nesta segunda-feira que o apoio do partido à candidatura ao governo por Joaquim Roriz (PSC), ameaçado pelo Ficha Limpa, aconteceu porque o partido não tem um "plano B".

"A eleição aqui ficou polarizada e outro lado foi com a Dilma Rousseff (PT). Então a gente ficou com o Roriz, que ofereceu apoio ao Serra desde o começo. Nós não tínhamos e nem temos um plano B", disse Abadia.

Segundo a candidata ao Senado, o PSDB não se constrange em fazer aliança com Roriz para conseguir um palanque forte para Serra. "Ele veio aqui e registrou sua candidatura. Quem vai decidir sobre o Ficha Limpa é a Justiça, então não há nada para se discutir sobre isso", disse a tucana.

Após quase deixar abandonar a aliança com Roriz durante o fim de semana, o PSDB decidiu nesta segunda-feira manter o apoio ao candidato. A chapa foi registrada minutos antes do prazo limite dado pela Justiça Eleitoral.

Comentário

A primeira mentira é que o PSDB não possuía plano B. Mentira óbvia. O plano A era o demo-painel-Arruda, a cria de Roriz. O plano Plano B já é o Roriz. Ambos da mesmíssima laia, com a singela diferença de que um é mais escorregadio que o outro.

Este é o PSDB, o partido da ética, do apoio dos demos, de Roberto Jefferson, de Joaquim Roriz e de tantos outros.

É impressionante que, quando a direção nacional do PT (especialmente o presidente Lula) força alianças nocivas ao partido (como a de Roseana Sarney e Hélio Costa), o faz contrariando totalmente as bases, fazendo-as engolir uma aliança espúria, anti-programática e insensata.
Porém, já com o PSDB, não há pudores: as bases e o comando se somam, se complementam, abraçam-se a estes “exemplos” da política brasileira.


E – ¡pasmem! –este partido ainda vem com discurso moralista em todas as eleições desde que passou para a oposição.

Durma-se com um barulho destes...

O Arcebispo e Lawrence da Arábia – por Pedro Valls Feu Rosa

A rede inglesa “Sky News” noticiou, com destaque, as corajosas declarações do Arcebispo de Canterbury no sentido de que “a invasão do Iraque tem provocado danos terríveis à região”.

Criticando a ação da Inglaterra e dos Estados Unidos da América, que tachou de “imperialista”, o Arcebispo chegou a dizer que, no Iraque, “a definição ocidental de humanidade não está sendo observada”.

O Coronel T. E. Lawrence, do Exército Inglês, horrorizado com a barbárie imposta ao sofrido povo iraquiano, também foi à imprensa dar o seu testemunho e protestar. Eis as suas declarações, publicadas pelo jornal “Sunday Times”:

sp;"O povo inglês caiu numa armadilha na Mesopotâmia. Ele dificilmente poderá sair de lá com dignidade e honra. Ele está sendo enganado pela dissimulação constante da verdade. Os comunicados de Bagdá estão defasados relativamente aos acontecimentos; eles faltam com a sinceridade e são incompletos. A realidade é pior do que aquela que nos tem sido dita. Nossa administração é mais ineficaz e mais sangrenta do que aquela que nos descrevem. Ela é indigna de nossa história imperial e revelar-se-á brevemente muito abjeta para um tratamento ordinário. Nós estamos às vésperas de um desastre".

Na mesma entrevista, este Coronel denunciou fatos gravíssimos:

"Cidades inteiras foram arrasadas pela aviação inglesa. Em quatro meses, 10.000 pessoas morreram. Os blindados, por terra, forçavam as populações em pânico rumo a campo aberto, onde poderiam exterminá-las melhor".

Pessoas corajosas e de ideal, o Arcebispo de Canterbury e o Coronel T. E. Lawrence. Merecem o reconhecimento das pessoas de bem.

Porém, mais importantes do que estas duas entrevistas são as datas nas quais elas foram dadas. As datas dos jornais é que devem ser motivo de reflexão para todos nós, como mostrarei a seguir.

O Arcebispo de Canterbury condenou a invasão do Iraque em uma entrevista publicada pela rede “Sky News” no dia 25 de novembro de 2007.

O Coronel T. E. Lawrence condenou a invasão do Iraque em uma entrevista publicada pelo jornal “Sunday Times” no dia 22 de outubro de 1920. Sim, 1920! 87 anos antes!

Em verdade, este “Coronel T. E. Lawrence” vem a ser o famoso “Lawrence da Arábia”, retratado em tantos filmes, e que andava pela região das “1.001 noites” no início do século passado.

É aí, no detalhe das datas, que ficamos chocados com a absoluta falta de sensibilidade e até de clemência da orgulhosa e cristã civilização ocidental, há quase um século causando dor e sofrimento a um mesmo povo.

E maior a indignação quando constatamos que todas estas invasões foram feitas em nome do bem, e por pessoas que se dizem de bem. A elas, as palavras de Victor Hugo: “ninguém é mau, e quanto mal foi feito”.

Todas estas invasões foram feitas por pessoas que se dizem religiosas. A elas, as palavras de Voltaire: “o maravilhoso da guerra é que cada general há de bendizer suas bandeiras e invocar solenemente seu Deus antes de exterminar seu próximo”.

Todas estas invasões foram feitas por pessoas que se dizem moralistas. A elas, as palavras de Bertrand Russel: “a humanidade tem dupla moral: uma que prega mas não pratica, outra que pratica mas não prega”.

Todas estas invasões foram feitas por pessoas que se dizem civilizadas. A elas, as palavras de Auguste Rodin: “a civilização não é, em suma, senão uma camada de pintura que qualquer chuvinha lava”.

Todas estas invasões foram feitas em nome da Justiça e por pessoas que se dizem justas. A elas, as palavras de Thomas Jefferson: “eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo”.

Todas estas invasões, enfim, foram feitas em nome de Deus. Àqueles que as determinaram, dediquemos as palavras de Blaise Pascal: “nunca o ser humano pratica o mal tão completamente e com tanto prazer como quando o faz por convicção religiosa”.

PEDRO VALLS FEU ROSA é Desembargador do Poder Judiciário Brasileiro, relator da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo e Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Espírito Santo.

Comentário
Belas palavras de Feu Rosa. Porém, devo salientar que ele tem sua história conspurcada pela defesa convicta do juiz Antônio Leopoldo Teixeira.. Quando os juízes Carlos Lemos e Alexandre Martins de Castro Filho apresentaram denúncias das estripulias que o juiz Leopoldo cometia , Feu Rosa não só defendeu Leopoldo, como atacou com tudo os que fizeram a (verdadeira) denúncia.


Resultado: o juiz Alexandre foi assassinado a mando de Leopoldo (que prossegue solto, contando com a anuência da justiça que ele bem representa).

O outro juiz viveu muitos anos (se ainda não vive) com escolda policial.

Se o posicionamento de Feu Rosa, à época, fosse outro, a história de Alexandre poderia ter sido maior e ainda mais bela.

De qualquer modo, fica aqui o exemplo de justiça que este representa.

Alexandre é um anti Gilmar Dantas, por assim dizer.