quinta-feira, 8 de julho de 2010

20 anos sem João Saldanha - por Paulo Kautscher (PCB)

Em 12 de julho de 1990, portanto, há vinte anos, falecia na UTI do Hospital Santo Eugênio, em Roma, vítima de insuficiência respiratória e embolia pulmonar, João Saldanha, camarada admirado por todo o coletivo partidário em virtude de sua dedicação à luta pelo socialismo e o comunismo em nosso país. Aos interesses populares e nacionais, para cuja realização o PCB sempre empregou o melhor de suas energias, pagando um alto preço desde março de 1922, Saldanha entregou sua inteligência, caráter e valentia, comprometendo gravemente sua saúde.

Em 1935, aos dezoito anos de idade, João e seu irmão Aristides aderiram ao programa da Aliança Nacional Libertadora, atraídos pelo movimento internacional de resistência ao nazi-fascismo e de combate aos planos belicistas do imperialismo alemão. Do antifascismo, Saldanha evoluiu ideologicamente até aderir ao marxismo-leninismo.

Em 1945, pouco após o estabelecimento de relações diplomáticas do Brasil com a União Soviética e a libertação de mais de cem militantes comunistas, Saldanha ingressou no Partido, passando a atuar num dos Comitês Populares Democráticos criados pelo Partido, organizações de massa incumbidas de organizar um vasto conjunto de atividades. Saldanha também ingressou no Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), organização intersindical que resultou da aliança de comunistas e getulistas. Aos 28 anos de idade, Saldanha era o mais jovem secretário político dos comitês distritais do PCB, no Distrito Federal. Em maio de 1947, a ilegalização do Partido representou um duríssimo golpe para o proletariado brasileiro, travando, pela violência, o movimento de elevação da sua consciência e da sua organização. Em abril de 1949, tendo sido ferido à bala pela polícia, durante uma atividade de protesto contra a fundação da OTAN e os preparativos da III Guerra Mundial, Saldanha tornou-se funcionário do Partido. Nesta condição, ele assumiu tarefas de grande envergadura e responsabilidade no Estado do Paraná e no Estado de São Paulo, tanto na luta contra a grilagem de terra, na organização de sindicatos no campo, quanto na aplicação da nova linha política para o trabalho sindical, nos anos de 1952-1953, e que culminou na greve histórica de março de 1953.

Numa situação política mais favorável, a partir de 1956, Saldanha projetou-se como grande personalidade do desporto nacional, conquistando a admiração popular. Em 1960, afastando-se do exercício direto das atividades esportivas, Saldanha assumiu importante tarefa na imprensa de massa do Partido. Não demorou a ingressar no jornalismo esportivo, assumindo um papel de liderança inegável. O Golpe de 1964 encontrou-o no jornal Última Hora, veículo odiado pela reação e o imperialismo. Vítima, como tantos outros, da ação de delatores, Saldanha foi demitido da Rádio Nacional. O exercício da atividade de comentarista de futebol, na condição de mais brilhante e influente do país, jamais o afastou do PCB. Justamente por representar um obstáculo aos objetivos demagógicos da ditadura militar, Saldanha foi demitido do cargo de treinador do escrete nacional, em março de 1970.

Nos períodos mais difíceis para o Partido, quando o regime fascista buscava exterminá-lo, Saldanha, valendo-se dos meios proporcionados por sua profissão, prestou valiosa contribuição nas tarefas de enlace entre a direção no país e o Comitê Central no exterior. A partir de 1978, cumpriu diversas tarefas de envergadura à frente do CEBRADE, com vistas ao apoio à luta de massas pelo derrubamento da ditadura militar. Num momento de eclosão da gravíssima crise ideológica e de organização, após o retorno dos membros do CC, Saldanha rechaçou as posições do eurocomunismo, aproximando-se de Luiz Carlos Prestes, mas não abdicando da luta pela unidade partidária. Em 1985, na sequência de uma série de tarefas de agitação pela conquista da legalidade do Partido, nos estertores do fascismo, e apesar da saúde precária, Saldanha aceitou a missão de representar o PCB na chapa de esquerda nas eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Concorrendo ao cargo de vice-prefeito, Saldanha contribuiu para a conquista de expressiva votação. Quando morreu em julho de 1990, Saldanha era membro do Comitê Central. Saldanha, coerente com a visão humanista do futebol, foi um extraordinário desportista, símbolo do mais puro amadorismo, e maior jornalista esportivo de nossa história.

A recordação deste grande brasileiro, patriota e revolucionário proletário, passados vinte anos de sua morte, deve servir-nos de exemplo de conduta partidária. A ação do Partido, objetivando a educação política da classe operária e das massas populares, inseparáveis da elevação de sua organização e mobilização, é uma ação coletiva. É no processo da luta de classes que o Partido cria raízes no povo, e, ao mesmo tempo, educa e tempera cada um dos seus membros. Saldanha, como honesto e dedicado militante partidário, sabia que a força do Partido resulta de uma justa linha política e do trabalho real, concreto, junto às massas trabalhadoras. A recordação da atividade de Saldanha, no seio do Partido, deve servir-nos de estudo e estímulo para o cumprimento dos objetivos do PCB, nos dias atuais, caracterizados por complexa e difícil correlação de forças, com tantas dificuldades a vencer na conquista da unidade e da mobilização das massas proletárias contra o jugo do capital.

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