terça-feira, 10 de agosto de 2010

Serra culpa o sotaque e foge de perguntas - por Juliana Cipriani (O Estado de Minas)

Candidato tucano escapa de perguntas em Minas, Goiás e Pernambuco, alegando não compreender a pronúncia local. "Essa fala mineira de vocês, eu não entendo", disse em BH, na última semana.

Quando o sotaque é problema

Nas últimas semanas, em campanha em Minas, Goiás e Pernambuco, o tucano José Serra deixou de responder a perguntas alegando que não entende o jeito de falar local
Juliana Cipriani


O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, parece ter dificuldade em entender o que dizem os brasileiros ou inventou uma nova estratégia para evitar responder perguntas que não o agradam. Em suas viagens pelo Brasil, em busca dos votos dos 135.804.433 de eleitores do país, o tucano não tem conseguido ouvir ou compreender o que dizem os jornalistas da imprensa local. A alegação? Segundo ele, o problema está no sotaque.

Até agora, Serra teve problemas em Minas Gerais, Goiás e Pernambuco. Em meados de julho, quando fez campanha em Goiânia, o candidato tucano se negou a responder uma repórter local que o questionava sobre suas propostas para o estado. Na ocasião, ele disse não compreender a fala da jornalista. "Temos três problemas: estou longe (da imprensa), não estou te ouvindo direito e não estou entendendo o seu sotaque."

Antes, em Pernambuco, Serra também já havia tido dificuldades com o sotaque nordestino. Ao ser questionado pelo editor de um jornal regional se o trem-bala, que fará a ligação entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, "na verdade foi um tiro de festim", o tucano respondeu. "Dá para repetir? Não entendi, foi muito sotaque daqui". Serra é crítico do projeto de trem de alta velocidade, que virou bandeira do governo federal neste fim de mandato.

Até mesmo em sua região, o Sudeste, Serra usou do argumento para deixar de responder uma pergunta. Em viagem a Belo Horizonte, capital do segundo maior colégio eleitoral do Brasil com 14,5 milhões de votos potenciais, Serra soltou: "Essa fala mineira de vocês, eu não entendo. Eu tenho que prestar atenção". Na ocasião, o candidato tinha sido questionado sobre uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, em entrevista a uma revista semanal, havia dito que o tucano teve azar de concorrer com ele pela Presidência e agora também lhe falta sorte na disputa com a presidenciável Dilma Rousseff. Meses antes, enquanto ainda disputava com o ex-governador mineiro, Aécio Neves, a indicação do PSDB para ser candidato ao Palácio do Planalto, Serra chegou a elogiar o mesmo sotaque mineiro de outra repórter.

As diversidades regionais e até na fala individualizada, segundo especialistas, podem de fato confundir o ouvinte. A professora associada de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Thais Cristófaro Silva, especialista em fonologia, disse que dependeria de uma análise técnica para dar seu parecer, mas confirmou. "A variação é inerente a toda língua. Em lugares diferentes, há pessoas diferentes e jeito de falar diferente. O grau de dificuldade para a pessoa entender o que foi dito depende de vários fatores que podem ir desde problemas fisiológicos ou até neurológicos ou mesmo o desconhecimento do sotaque", afirmou.

O professor de linguística da Universidade Federal de Ouro Preto e da PUC Minas, Clézio Roberto Gonçalves, também afirma que os regionalismos podem dificultar a comunicação. "Cada região tem uma expressão própria e tem ainda a maneira de cada um usar a língua, que chamamos de idioleto. A maneira, o timbre de voz e o número de expressões interferem na compreensão de quem está ouvindo", avalia. De acordo com os especialistas, não há ainda um levantamento de quantos sotaques tem o Brasil. Até porque eles não coincidem com a divisão geográfica de estados e regiões.

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, defendeu ontem um modelo de programa eleitoral em que o candidato se exponha mais. "O presidente é insubstituível. Quem ganha é quem governa. É preciso se expor mais", disse o tucano, ao criticar o tratamento de candidatos como produtos. Sem falar diretamente o nome da adversária petista, Dilma Rousseff, ele disse que hoje "oculta-se" o candidato. O candidato do PSDB participou ontem do evento "Candidatos à Presidência falam aos empreendedores do Brasil", no Memorial da América Latina, em São Paulo. Ele enfrentou um protesto organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Cooperativas do Estado de São Paulo (Sintracesp) durante o evento. Portando faixas e vestidos com camisetas, os manifestantes reclamaram do decreto 55.938 que estaria prejudicando a prestação de serviços de cooperados ao governo do estado.


Comentário
É impressionante.


O bairrismo paulistano no seu aspecto mais jocoso e caricato: não entender perguntas de pessoas de outros estados.

E olha que as perguntas foram todas favoráveis a ele (José Serra não costuma responder a perguntas que julga desfavoráveis – e, quando o faz, costuma responder que é “trololó petista” e/ou pedir a cabeça do jornalista que a fez).

Uma lástima que um sujeito como este almeje ser presidente de TODO o Brasil.

Vai governar a Mooca, vai, Serra. Lá você entenderá todo mundo.

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