segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sucessão de erros leva Serra a jogar todas as fichas na TV - por Raymundo Costa e Raquel Ulhôa (Valor Econômico)

Houve uma época, não faz muito tempo, em que o candidato tucano à Presidência da República, José Serra, considerava que vencer a eleição não era tão difícil assim. "Difícil vai ser governar", dizia aos amigos. Era um tempo em que Serra circulava no patamar dos 40% das pesquisas de intenção de voto, enquanto a petista Dilma Rousseff, embalada pela popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já dava mostras de que seria uma candidata competitiva.

Em janeiro, a pesquisa CNT/Sensus registrava 44% a 37% em favor de Serra. Na sexta-feira, o Datafolha trouxe o tucano oito pontos atrás de Dilma (41% a 33%). A situação se inverteu, a liderança nas pesquisas trocou de mãos e Serra agora joga todas as suas fichas nos programas eleitorais no rádio e televisão que serão exibidos a partir desta terça-feira, 17. Para Serra, vale a aposta que o jornalista Luiz González, encarregado do marketing do tucano, fazia desde o pré-lançamento da candidatura, em 10 de abril: a eleição será decidida no horário eleitoral.

Serra e o PSDB atribuem o acelerado crescimento da candidatura Dilma nas pesquisas ao empenho pessoal de Lula, cuja popularidade na faixa dos 75% é inédita para um presidente desde o restabelecimento das eleições diretas, e ao uso da máquina pública para turbinar a campanha presidencial da ex-ministra da Casa Civil. Mas é certo, também, que Serra e o PSDB cometeram uma série de erros políticos, ao longo do período que antecedeu ao início da propaganda eleitoral partidária.

O ex-governador de São Paulo foi lançado pré-candidato do PSDB, DEM e PPS em abril, em clima singular numa convenção tucana que deixou otimistas os militantes. Serra passou então a centralizar as articulações políticas de sua campanha. Ela chega ao horário eleitoral sem um comitê ou coordenadores. Ninguém fala em nome do candidato ou da campanha. Serra fez as escolhas, mesmo quando o partido gostaria que outras opções fossem consideradas, casos, por exemplo, da assessoria de imprensa e do publicitário.

Havia tucanos que gostariam de ver no comando do programa eleitoral o marqueteiro Duda Mendonça, responsável pelas campanhas vitoriosas de Lula em 2002 e 2006. Serra teve pelo menos duas reuniões com Duda Mendonça. No fim, decretou: "O candidato tem que confiar no marqueteiro". González fez as duas últimas campanhas vitoriosas de Serra - para a prefeitura e para o governo de São Paulo -, mas os tucanos se queixam de seu estilo. Serra prometeu que ele ouviria os políticos, o que era a queixa principal. De fato, o jornalista conversou com tucanos e demistas e hoje é considerado por eles um problema menor na campanha de Serra. "Ele consegue até fazer com que o candidato cumpra uma agenda", diz um tucano.

A escolha do vice foi outro fator de desgaste para a candidatura do tucano. Quando o ex-governador mineiro Aécio Neves deixou de ser opção, os olhos do PSDB voltaram-se para o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que é tio-avô de Aécio. Dornelles não aceitou porque a maior parte do PP, partido que preside, preferiria apoiar Dilma. "É o máximo que eu posso fazer", avisou Dornelles, ao informar que a sigla não daria seu tempo de tevê para nenhum dos candidatos.

Sem Aécio ou um partido que somasse mais tempo de televisão para o candidato, a escolha óbvia passou a ser um nome do Democratas. Mas a ala ligada ao ex-senador Jorge Bornhausen, mais próxima a Serra, disse que não queria a Vice na chapa, porque isso dividiria o partido. Na verdade, o grupo tentava descartar a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), um nome bem cotado, à época. Mas 15 dias depois o DEM mudou de ideia e passou a reivindicar a Vice. Nas contas feitas pelo PSDB, o nome ideal no Democratas era o do ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia - apesar da rejeição alta, ele agregaria pelo menos 30% dos votos do Rio à chapa de Serra, segundo o entendimento dos tucanos. Convidado, Maia não aceitou, segundo apurou o Valor.

Outro nome capaz de agregar votos, na avaliação do PSDB, era o do senador Álvaro Dias. Com ele na chapa, os tucanos praticamente fechariam o Paraná, pois seu irmão, o também senador Osmar Dias (PDT) entraria na coligação como candidato à reeleição. Álvaro chegou a ser indicado pelo PSDB, que voltou atrás diante dos protestos do DEM.

O problema é que Serra não falava com o presidente do Democratas, Rodrigo Maia, deputado que apostou na escolha de Aécio Neves como candidato do PSDB. Os dois chegaram a fazer uma viagem entre o Rio e São Paulo no mesmo jatinho. Serra disse a Rodrigo que eles deveriam fazer uma reunião com os outros presidentes de partido para decidir sobre o candidato a vice. Reunião que nunca ocorreu. O DEM apresentou uma lista com dois nomes - o deputado Carlos Melles (MG) e a ex-vice-governadora do Pará Valéria Pires Franco. Os tucanos é que colocaram um terceiro nome, o deputado José Carlos Aleluia (BA). O escolhido foi o candidato Índio da Costa, relator do projeto de lei da Ficha Limpa, que o candidato Serra conheceu no Youtube (eles haviam se esbarrado, no Rio, durante a transmissão de um dos jogos do Brasil na Copa do Mundo). González foi ouvido e aprovou.

Ao contrário do PT, que tratou de amarrar suas alianças Estado por Estado, a ponto de retirar da disputa candidatos como Fernando Pimentel, em Minas Gerais, para se assegurar do apoio do PMDB, Serra costurou mal os palanques estaduais do PSDB. Serra, por exemplo, não era um entusiasta da candidatura Fernando Gabeira ao governo do Rio. Preferia que o PSDB lançasse nome próprio. Gabeira fora a sensação da eleição municipal de 2008, campanha na qual o PSDB investiu algumas centenas de milhares de reais, mas já não parecia dispor do mesmo prestígio junto ao eleitorado carioca.

A aliança acabou formalizada por insistência de Márcio Fortes, que é o candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Gabeira. Isso, por sua vez, criou um problema para Serra: até então, Fortes dividia com Andrea Matarazzo a tarefa de arrecadar recursos para campanha. O próprio Serra achou por bem retirar Fortes da arrecadação nacional. Para seu lugar foi chamado um ex-executivo do banco Itaú, Sérgio de Freitas, sem experiência em campanhas eleitorais. A prestação de contas da campanha tucana indica a menor arrecadação entre os principais candidatos, mas tudo indica que há um descompasso na contabilização dos recursos. Mesmo no setor financeiro, os grandes bancos contribuíram ou prometeram contribuir com a campanha de Serra, entre os quais o Itaú, Bradesco, Santander e o banco Safra.

Serra está também atento à utilização dos recursos: ele estabeleceu o limite e a periodicidade das quantias enviadas à campanha nos Estados. Para ganhar ou perder, Serra está no controle da própria campanha.


Comentário

Eventualmente o noticiário político econômico dos jornais passa por uma cegueira difícil de acreditar.

Independente dos erros que José Serra e sua equipe (ou “seus asseclas”, entenda-se como quiser) cometessem na campanha, ele não seria eleito. Isto porque o país está muito, mas muito melhor hoje do que em 2002. Nada pode contrariar isto.

Os que durante oito anos disseram que o governo Lula não prestava, hoje dizem que “por utilizar a máquina pública” em favor da campanha de Dilma é que ela cresce. Uma bazófia. Esta suposta “utilização da máquina pública” ocorre tão somente quando o presidente defende – verbalmente – sua candidata (e não o faz em eventos oficiais). ¿É isto que pode eleger alguém, uma pessoa defender uma candidata, em eventos públicos que são absolutamente censurados pelos meios de imprensa?

Na verdade, não querem ceder que o presidente Lula faz um bom governo. Claro, com diversos erros (BC, Jobim, Geddel, PF pós-Lacerda, nomeações ao STF, etc.). Mas é muito superior do que os que o antecederam.

Como apresentados a esta irretorquível realidade, voltam-se ao seu mundo de conto de fadas, escondendo-se na suposta utilização da máquina pública. Na verdade, não querem admitir que, por oito anos, foram, na grande maioria das vezes, injustos.

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