quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O manifesto neoudenista - por Brizola Neto (Tijolaço)

Alguns artistas e intelectuais estão lançando, com grande apoio da mídia, um manifesto “em defesa da democracia”. Muito bem, todos somos e eu trago na vida familiar a herança da sombra ditatorial.
Mas a pergunta que me ocorre é: como é que a democracia está “assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade”.

Como é este autoritarismo hipócrita? As instituições funcionam livremente ou não? O Ministério Público não está impondo, até com muito mais severidade que ao outro contendor, sanções à candidata do Governo e ao próprio Presidente da República? Os ministros do TSE que ora rejeitam, ora confirmam estas sanções estão pressionados para qual dos dois atos?

A Polícia Federal está limitada partidariamente em sua ação? Não acaba de agir com total liberdade contra aliados do Governo?

Gostaria que os senhores respondessem a esta pergunta com um simples sim ou não.

Ou democracia seria pré-condenar qualquer pessoa acusada, sem o devido processo legal, sem julgamento regular e justo, sem direito de defesa?

Dizem eles que “é um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo”. Quero testemunhar, como membro do Legislativo, que nunca recebi uma ameaça, uma pressão ilegítima, um ultimato para votar em qualquer questão do interesse do Governo. Algumas vezes, aliás, caminhei em sentido contrário, e posso citar, por exemplo, a questão do reajuste dos aposentados e do fator previdenciário, onde nossa pressão – e inclusive, registro, de alguns petistas, como o Senador Paim – se voltou justamente contra o Governo, em defesa das causas que apoiamos.

Mas o que mais estranhei foi que o tal texto dissesse que “é aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses”.

Como assim?

Teriam os senhores signatários a fineza de dizer que mecanismos são estes? Seriam, por acaso, as determinações constitucionais de que as concessões de rádio e televisão sirvam à educação e à informação correta da população? E que grupos estão sendo financiados e como? Os senhores fariam a fineza de informar ou vão ficar na “denúncia anônima” que fez a excelentíssima Dra. Sandra Cureau inquirir a Carta Capital, de Mino Carta, sobre quais foram os anúncios que recebeu, quando os grandes jornais e revistas, evidentemente de oposição ao Governo, publicam também anúncios insitucionais e comerciais de empresas estatais?

Mas a direita manifesteira, que não faz manifesto contra a fome, contra a pobreza, contra o aniquilamento cultural da população submetica a uma mídia baixa e deseducadora, que estimula o individualismo e a “notoriedade a qualquer preço”, no final do texto entrega sua devoção:

“É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.”

Ah, sim, agora eu entendi.

O manifesto não é em defesa da democracia. É um manifesto em defesa do neoliberalismo, em defesa de Fernando Henrique Cardoso.

Não tenho nada contra.

Mas eu me lembro de uma frase de meu avô: as palavras devem ser usadas para expressar os pensamentos, não para os esconder.

Quando se esconde algo, boa coisa não é.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dilma rompeu o limite da complacência. PiG e elite não têm volta: é o confronto - por PHA

http://www.conversaafiada.com.br/politica/2010/09/20/dilma-rompeu-o-limite-da-complacencia-pig-e-elite-nao-tem-volta-e-o-confronto/ - por Paulo Henrique Amorim.

Serra só votou contra trabalhador e cria a SUDEME: Superintendência da Demagogia - por PHA

http://www.conversaafiada.com.br/politica/2010/09/21/serra-so-votou-contra-trabalhador-e-cria-a-sudeme-superintendencia-da-demagogia/ - por Paulo Henrique Amorim.

O perigo das drogas

Hoje a Soninha, ex-VJ da MTV, escreveu em seu twitter que uma falha no funcionamento do metrô de São Paulo, que aprofundou o caos da cidade, se deveu a uma “SABOTAGEM- valetudo(sic)-medo”, devido à “proporção direta da proximidade com a eleição”.
Ou seja, o PT sabotou o metrô também.

Bem, não é a toa que sou contrário a descriminalização das drogas.
Este é mais um exemplo típico do grau de destruição neurológica que a cannabis sativa provoca nas pessoas.

Fraude em licitações causou prejuízo de R$ 615 mi, diz MP-SP - Terra

O Ministério Público de São Paulo estimou em pelo menos R$ 615 milhões o prejuízo causado aos cofres públicos por um suposto esquema de fraudes em licitações e contratos envolvendo órgãos estaduais e municipais. Na última sexta-feira, oito pessoas suspeitas de participar da fraude foram presas

De acordo com a promotoria, as fraudes ocorriam em contratos de prestação de serviços de segurança, vigilância e limpeza. Seis empresas de propriedade dos suspeitos, todas registradas em nomes de laranjas, teriam contratos com municípios como São Paulo, Campinas, Indaiatuba, Hortolândia, Paruíbe, Guarulhos, Jundiaí, Arujá, Itapetininga, Taubaté e Araraquará.

Além de contratos e licitações irregulares com estas prefeituras, o MP apontou a existência de contratações irregulares com a Sanasa, de Campinas, Defensoria Pública da União, Sabesp, Companhia Engenharia de Tráfego (CET), Companhia Paulista de Obras e Serviços, Departamento de Perícias Médicas do Estado de São Paulo, Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Imprensa Oficial, Prodesp, DAE de Jundiaí, e Secretaria de Educação do Estado de Tocantins.

As fraudes ocorriam com o pagamento de propina para agentes públicos ou através do ajuste de preços com empresas supostamente concorrentes. No dia da prisão dos suspeitos foram apreendidos automóveis de luxo como um Jaguar, um Audi Q7 e uma BMW X5. Outros dois suspeitos estão foragidos.

Comentário

Ué, não vai ser capa? Não é escândalo? Todos os veículos não repercutirão?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A eliminação dos extremos – por Ricardo Guedes

A plausibilidade da criação de um novo partido político moderado de direita no Brasil é real, em tese e pela evidência dos fatos. Não deverá ser um fato de pronto, posto que a legislação permite aos atores políticos que tenham tempo para tal. Mas em não ocorrendo a moderação do discurso e das atitudes da atual oposição, com a abertura para novas lideranças, a consolidação do projeto de um novo partido político de oposição será a tendência predominante.

A partir de 2002 formou-se no Brasil um pacto central do tipo social democrata europeu, onde a esquerda passa a ser institucionalizada e a direita cede para programas sociais, com a eliminação progressiva dos extremos políticos. Os ganhos políticos, econômicos e sociais daí decorrentes são evidentes, pelo aumento do PIB, emprego, salários e distribuição de renda, fazendo do Brasil um país mais forte e internacionalmente respeitado.

De 2002 para cá vimos o decréscimo da influência dos atores políticos mais à esquerda do espectro político, com a esquerda mais institucional e moderada cada vez mais representativa desta tendência central brasileira. Certamente que as instituições políticas e sociais vão sendo e têm que ser aperfeiçoadas, com a diferenciação entre as esferas política e criminal, como evidenciado pelo atual trabalho do sistema de segurança do país. Agora, vamos vivenciar a eliminação dos extremos à direita do espectro político, completando o ciclo inicial de formação de um virtuoso pacto central em torno da economia e da política. De um lado, o projeto dos benefícios sociais e da distribuição de renda, do outro lado, do enxugamento do Estado e revigoramento da economia empresarial, renovando-se alternadamente no poder, assim que seus paradigmas se esgotem sucessivamente, e de forma democrática e normalizada.

O país precisa de uma oposição centrada e sensata, que represente significativamente a parcela da população que assim pensa, com a eliminação dos extremismos, onde cada instituição, como os empresários, os partidos, e a imprensa cumprirão o papel social a cada grupo designado. Não que os extremos deixarão de existir, serão vocais, mas não terão à longo prazo a força da imposição de suas idéias, seja à esquerda, seja à direta.

Ricardo Guefes é Ph. D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago e Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus

A escandalização inútil – por Marcos Coimbra

A onda de denúncias para impedir vitória da Dilma Pipocam a toda hora nestes últimos dias de campanha eleitoral. Faltando duas semanas para a eleição do sucessor ou, pelo que parece, da sucessora de Lula, falar delas se tornou uma verdadeira obsessão para nossa grande imprensa.


Se contarmos o tempo transcorrido desde quando surgiu o "escândalo da Receita", já faz quase um mês que os grandes jornais de São Paulo e do Rio, as maiores revistas de informação e o noticiário da principal emissora de televisão dão cobertura máxima às denúncias de vários tipos contra Dilma, sua campanha, o PT e o governo Lula.

O caso da Receita e o mais recente, envolvendo o filho da ex-ministra Erenice Guerra, receberam a atenção de todos. Outros, como a bombástica revelação que uma “falha" de Dilma redundara em prejuízo de R$ 1 bilhão aos consumidores de energia elétrica, ficaram reduzidos ao esforço isolado de um veículo (Folha). Como ninguém a levou a sério (nem sequer o jornal que a havia patrocinado), foi logo esquecida.

Essa disposição para denunciar não atinge o universo da imprensa. Brasil afora, jornais e revistas regionais e estaduais mostram-se menos dispostos a fazer coro com os "grandes".

O mesmo vale na mídia eletrônica, na qual o tom escandaloso não é o padrão de todas. É curioso,mas nenhuma dessas denúncias nasceu na internet, contrariando tendência cada vez mais comum em outros países. Lá, é nos blogs e nos sites independentes que coisas assim começam e têm seu curso, muitas vezes enfrentando a inércia da mídia tradicional.

Aqui, ao contrário, são os jornalões e os grupos de comunicação mais poderosos os mais afoitos na apresentação e na apuração de denúncias.

Não se discute se são falsas ou verdadeiras. É certo que algumas, como o "escândalo da eletricidade", são apenas bobagens. Outras são importantes e produzem consequências reais, como a que levou à saída de Erenice. Existem as que estavam na geladeira, ao que parece aguardando um “bom momento" para vir à tona, como o "escândalo da Receita".

E há as que, aparentemente, apenas coincidiram com outras, como o "escândalo do caseiro", que ressurgiu das cinzas agora que a Caixa Econômica foi condenada a indenizar a vítima.

Também não se discute o que fazer nos casos em que há suspeita fundamentada ou confirmação de que alguma irregularidade foi praticada. Partindo da premissa de que somos um país sério e que as instituições funcionam, qualquer denúncia com verossimilhança precisa ser apurada e os culpados, punidos.

Aliás, todas estão sendo acompanhadas pelo Ministério Público, a Polícia Federal e a própria imprensa.

Mas só a velhinha de Taubaté acredita que a coincidência de tantos "escândalos" é obra do acaso. A onda nasceu em tal momento que é impossível não desconfiar que exista intencionalidade por trás dela. Os segmentos na sociedade e na mídia insatisfeitos com a possibilidade de vitória de Dilma aguardavam ansiosos o começo da propaganda eleitoral na televisão e no rádio. Sabe-se lá de onde, imaginavam que Serra reagiria a partir de 17 de agosto e que conseguiria reverter suas perspectivas muito desfavoráveis.

Não viam que o mais provável era o oposto, que Dilma crescesse quando Lula chegasse à televisão.

Como resultado de mais um dos equívocos que cometeram na avaliação das eleições, surpreenderam-se quando a vantagem da candidata do PT rapidamente aumentou. Foi de repente, quando a decepção com a performance de Serra e o susto com o bom desempenho de Dilma se generalizaram, que começamos a ter uma denúncia atrás da outra. A temporada de escândalos teve sua largada na última semana de agosto, quando saíram as primeiras pesquisas públicas feitas após o início do horário gratuito, mostrando que a diferença entre eles passava de 20 pontos.

De lá para cá, nada mudou nas intenções de voto.

Alguns comentaristas procuram indícios de oscilações, com lupas esperançosas, ansiosos para encontrar sinais de que tanto barulho produza efeitos.

Até agora, nada. Chega a ser engraçado, mas há países em que se proíbe a divulgação de pesquisas eleitorais nos 30 dias que antecedem uma eleição. Tudo para não perturbar as pessoas na fase da campanha em que deveriam pensar mais. Eles acham que ninguém deveria interferir nesse momento de recolhimento e reflexão. É porque não conhecem o que é capaz de fazer (ou de tentar fazer) nossa"grande imprensa".

sábado, 18 de setembro de 2010

A quem interessa tornar a CartaCapital invisível? – por Leandro Fortes (Brasília, eu vi)

Desde o fim de semana passado, tenho recebido uma dezena de e-mails por dia que, invariavelmente, me perguntam sobre a razão de ninguém repercutir, na chamada “grande imprensa”, a  matéria da CartaCapital sobre a monumental quebra de sigilo bancário promovida, em 2001, pela empresa Decidir.com, das sócias Verônica Serra (filha de José Serra, candidato do PSDB à Presidência da República) e Verônica Dantas (irmã de Daniel Dantas, banqueiro condenado por subornar um delegado federal). Juntas, as Verônicas quebraram o sigilo bancário de estimados 60 milhões de correntistas brasileiros graças a um acordo obscuro fechado, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, entre a Decidir.com e o Banco do Brasil, sob os auspícios do Banco Central. Nada foi feito, desde então, para se apurar esse fato gravíssimo, apesar de o então presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), ter oficiado o BC a respeito. Nada, nenhuma providência. Impunidade total.

Temer, atualmente, é candidato da vice na chapa da petista Dilma Rousseff, candidata do mesmo governo que, nos últimos dias, mobilizou o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, a Controladoria Geral da União e a Comissão de Ética Pública da Presidência da República para investigar uma outra denúncia, feita contra a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, publicada na revista Veja no mesmíssimo dia em que a Carta trazia a incrível história das Verônicas e a quebra de sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros.

Justíssima a preocupação do governo em responder à denúncia da Veja, até porque faz parte da rotina do Planalto fazer isso toda semana, desde 1º de janeiro de 2003. É quase um vício, por assim dizer. Mas por que não se moveu uma palha para se investigar as responsabilidades sobre, provavelmente, a maior quebra de sigilo do mundo ocorrida, vejam vocês, no Brasil de FHC? Que a mídia hegemônica não repercuta o caso é, para nós, da Carta, uma piada velha. Os muitos amigos que tenho em diversos veículos de comunicação Brasil afora me contam, entre constrangidos e divertidos, que é, simplesmente, proibido citar o nome da revista em qualquer um dos noticiários, assim como levantar a possibilidade, nas reuniões de pauta, de se repercutir quaisquer notícias publicadas no semanário do incontrolável Mino Carta. Então, vivemos essa situação surreal em que as matérias da CartaCapital têm enorme repercussão na internet e na blogosfera – onde a velha mídia, por sinal, é tratada como uma entidade golpista –, mas inexistem como notícias repercutíveis, definitivamente (e felizmente) excluídas do roteirinho Veja na sexta, Jornal Nacional no sábado e o resto de domingo a domingo, como se faz agora no caso de Erenice Guerra e a propina de 5 milhões de reais que, desaparecida do noticiário, pela impossibilidade de ser provada, transmutou-se num escândalo tardio de nepotismo.

Enquanto o governo mete-se em mais uma guerra de informações com a Veja e seus veículos co-irmãos, nem uma palha foi mexida para se averiguar a história das Verônicas S. e D., metidas que estão numa cabeludíssima denúncia de quebra de sigilo bancário, justamente quando uma delas, a filha de Serra, posava de vítima de quebra de sigilo fiscal por funcionários da Receita acusados de estar a serviço da campanha de Dilma Rousseff. Nem o Ministério da Justiça, nem a Polícia Federal, nem a CGU, nem Banco Central tomaram qualquer providência a respeito. Nenhum líder governista no Congresso deu as caras para convocar os suspeitos de terem facilitado a vida das Verônicas – os tucanos Pedro Malan e Armínio Fraga, por exemplo. Nada, nada.

Então, quando me perguntam o porquê de não haver repercussão das matérias da CartaCapital na velha mídia, eu respondo com facilidade: é proibido. Ponto final. Agora, se me perguntarem por que o governo, aliás, sistematicamente acusado de ter na Carta um veículo de apoio servil, não faz nada para apurar a história da quebra de sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros, eu digo: não faço a menor idéia.

Talvez fosse melhor vocês mandarem e-mails para o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, a CGU e o Banco Central.

O fim um ciclo em que a velha mídia foi soberana – por Luis Nassif

Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político; o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de influência da velha mídia.

O provável anúncio da saída de Aécio Neves marca oficialmente o fim do PSDB e da aliança com a velha mídia carioca-paulista que lhe forneceu a hegemonia política de 1994 a 2002 e a hegemonia sobre a oposição no período posterior.

Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e comandado por um político – Geraldo Alckmin – sem expressão nacional.

Fim de um período odioso

Restarão os ecos da mais odiosa campanha política da moderna história brasileira – um processo que se iniciou cinco anos atrás, com o uso intensivo da injúria, o exercício recorrente do assassinato de reputações, conseguindo suplantar em baixaria e falta de escrúpulos até a campanha de Fernando Collor em 1989.

As quarenta capas de Veja – culminando com a que aparece chutando o presidente – entrarão para a história do anti-jornalismo nacional. Os ataques de parajornalistas a jornalistas, patrocinados por Serra e admitidos por Roberto Civita, marcarão a categoria por décadas, como símbolo do período mais abjeto de uma história que começa gloriosa, com a campanha das diretas, e se encerra melancólica, exibindo um esgoto a céu aberto.

Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o envenenamento geral que tomou conta da classe.

A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.

O general que traiu seu exército

Do cenário político desaparecerá também o DEM, com seus militantes distribuindo-se pelo PMDB e pelo PV.

Encerra-se a carreira de Freire, Jungman, Itagiba, Guerra, Álvaro Dias, Virgilio, Heráclito, Bornhausen, do meu amigo Vellozo Lucas, de Márcio Fortes e tantos outros que apostaram suas fichas em uma liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas.

Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.

Todos os dias, obsessivamente, preocupou-se em vitimizar a filha e a ele, para que qualquer investigação futura sobre seus negócios possa ser rebatida com o argumento de perseguição política.

A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.

Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.

Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável, prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada nova denúncia.

Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias para debaixo do tapete.

A marcha da história

Os episódios dos últimos dias me lembram a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Dejetos, lixo, figuras soturnas, almas penadas, todos sendo varridos pela água abundante e revitalizadora da marcha da história.

Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos tectônicos irresistíveis da história.

Primeiro, o desabrochar de uma nova sociedade de consumo de massas, a ascensão dos novos brasileiros ao mercado de consumo e ao mercado político, o Bolsa Família com seu cartão eletrônico, libertando os eleitores dos currais controlados por coronéis regionais.

Depois, a construção gradativa de uma nova sociedade civil, organizando-se em torno de conselhos municipais, estaduais, ONGs, pontos de cultura, associações, sindicatos, conselhos de secretários, pela periferia e pela Internet, sepultando o velho modelo autárquico de governar sem conversar.

Mesmo debaixo do tiroteio cerrado, a nova opinião pública florescia através da blogosfera.

Foi de extremo simbolismo o episódio com o deputado do interior do Rio Grande do Sul, integrante do baixo clero, que resolveu enfrentar a poderosa Rede Globo.

Durante dias, jornalistas vociferantes investiram contra UM deputado inexpressivo, para puni-lo pelo atrevimento de enfrentar os deuses do Olimpo. Matérias no Jornal Nacional, reportagens em O Globo, ataques pela CBN, parecia o exército dos Estados Unidos se valendo das mais poderosas armas de destruição contra um pequeno povoado perdido.

E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais simbólico dessa nova era.

Os novos tempos

A Rede Record ganhou musculatura, a Bandeirantes nunca teve alinhamento automático com a Globo, a ex-Manchete parece querer erguer-se da irrelevância.

De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas coração para esconder a queda de tiragem da Veja.

A blogosfera foi se organizando de maneira espontânea, para enfrentar a barreira de desinformação, fazendo o contraponto à velha mídia não apenas entre leitores bem informados como também junto à imprensa fora do eixo Rio-São Paulo. O fim do controle das verbas publicitárias pela grande mídia, gradativamente passou a revitalizar a mídia do interior. Em temas nacionais, deixou de existir seu alinhamento automático com a velha mídia.

Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor anacrônico de um país que clama pela modernização.

As ameaças à liberdade de opinião

Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora, que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São Paulo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os jornalistas tucanos - por Marcos Coimbra (CartaCapital)

Quando, no futuro, for escrita a crônica das eleições de 2010, procurando entender o desfecho que hoje parece mais provável, um capítulo terá de ser dedicado ao papel que nelas tiveram os jornalistas tucanos.

Foram muitas as causas que concorreram para provocar o resultado destas eleições. Algumas são internas aos partidos oposicionistas, suas lideranças, seu estilo de fazer política. É bem possível que se saíssem melhor se tivessem se renovado, mudado de comportamento. Se tivessem permitido que novos quadros assumissem o lugar dos antigos.

Por motivos difíceis de entender, as oposições aceitaram que sua velha elite determinasse o caminho que seguiriam na sucessão de Lula. Ao fazê-lo, concordaram em continuar com a cara que tinham em 2002, mostrando-se ao País como algo que permanecera no mesmo lugar, enquanto tudo mudara. A sociedade era outra, a economia tinha ficado diferente, o mundo estava modificado. Lula e o PT haviam se transformado. Só o que se mantinha intocada era a oposição brasileira: as mesmas pessoas, o mesmo discurso, o mesmo ar perplexo de quem não entende por que não está no poder.

Em nenhum momento isso ficou tão claro quanto na opção de conceder a José Serra uma espécie de direito natural à candidatura presidencial (e todo o tempo do mundo para que confirmasse se a desejava). Depois, para que resolvesse quando começaria a fazer campanha. Não se discutiu o que era melhor para os partidos, seus militantes, as pessoas que concordam com eles na sociedade. Deram-lhe um cheque em branco e deixaram a decisão em suas mãos, tornando-a uma questão de foro íntimo: ser ou não ser (candidato)?

Mas, por mais que as oposições tivessem sido capazes de se renovar, por mais que houvessem conseguido se libertar de lideranças ultrapassadas, a principal causa do resultado que devemos ter é externa. Seu adversário se mostrou tão superior que lhes deu um passeio.

Olhando-a da perspectiva de hoje, a habilidade de Lula na montagem do quadro eleitoral de 2010 só pode ser admirada. Fez tudo certo de seu lado e conseguiu antecipar com competência o que seus oponentes fariam. Ele se parece com um personagem de histórias infantis: construiu uma armadilha e conduziu os ingênuos carneirinhos (que continuavam a se achar muito espertos) a cair nela.

Se tivesse feito, nos últimos anos, um governo apenas sofrível, sua destreza já seria suficiente para colocá-lo em vantagem. Com o respaldo de um governo quase unanimemente aprovado, com indicadores de performance muito superiores aos de seus antecessores, a chance de que fizesse sua sucessora sempre foi altíssima, ainda que as oposições viessem com o que tinham de melhor.

Entre os erros que elas cometeram e os acertos de Lula, muito se explica do que vamos ter em 3 de outubro. Mas há uma parte da explicação que merece destaque: o quanto os jornalistas tucanos contribuíram para que isso ocorresse.

Foram eles que mais estimularam a noção de que Serra era o verdadeiro nome das oposições para disputar com Dilma Rousseff. Não apenas os jornalistas profissionais, mas também os intelectuais que os jornais recrutam para dar mais "amplitude" às suas análises e cobertura.

Não há ninguém tão dependente da opinião do jornalista tucano quanto o político tucano. Parece que acorda de manhã ansioso para saber o que colunistas e comentaristas tucanos (ou que, simplesmente, não gostam de Lula e do governo) escreveram. Sabe-se lá o motivo, os tucanos da política acham que os tucanos da imprensa são ótimos analistas. São, provavelmente, os únicos que acham isso.

Enquanto os bons políticos tucanos (especialmente os mais jovens) viam com clareza o abismo se abrir à sua frente, essa turma empurrava as oposições ladeira abaixo. Do alto de sua incapacidade de entender o eleitor, ela supunha que Serra estava fadado à vitória.

Quem acompanhou a cobertura que a "grande imprensa" fez destas eleições viu, do fim de 2009 até agora, uma sucessão de análises erradas, hipóteses furadas, teses sem pé nem cabeça. Todas inventadas para justificar o "favoritismo" de Serra, que só existia no desejo de quem as elaborava.

Se não fossem tão ineptas, essas pessoas poderiam, talvez, ter impulsionado as oposições na direção de projetos menos equivocados. Se não fossem tão arrogantes, teriam, quem sabe, poupado seus amigos políticos do fracasso quase inevitável que os espera.

EUA têm maior número de pobres nos últimos 51 anos - por A Gazeta

Washington

A quantidade de pessoas pobres nos Estados Unidos cresceu pelo terceiro ano consecutivo, passando de 39,8 milhões em 2008 para 43,6 milhões em 2009. Os números foram divulgados ontem pelo órgão responsável pelo censo do país.

O número, o maior nos 51 anos em que a pesquisa é feita, reflete o impacto da crise financeira mundial sobre a economia americana. A taxa de pobreza no país passou de 13,2% em 2008 para 14,3% em 2009, a maior desde 1994. Isso significa que, no ano passado, um em cada sete americanos vivia na pobreza.

O escritório do censo considera pobre uma pessoa sozinha que ganhe até US$ 11,2 mil (cerca de R$ 19,2 mil) por ano. No caso de famílias com dois adultos e duas crianças, são consideradas pobres as que têm renda anual de até US$ 21,8 mil (cerca de R$ 37,5 mil).

Crise

Os dados são referentes ao primeiro ano de governo do presidente Barack Obama, durante a fase mais aguda da crise econômica global. A lenta recuperação da economia americana após a crise é um dos principais problemas enfrentados pelo presidente. Apesar dos dados alarmantes, o índice publicado ontem não alcançou as piores previsões dos especialistas, que tinham estimado uma taxa de 15%.

A taxa de desemprego no país chegou a 10% e atualmente está em 9,6%, sem perspectivas de baixa no curto prazo. O presidente disse que os dados divulgados pelo censo ilustram "o quanto 2009 foi um ano difícil".

"Mesmo antes da recessão, a renda da classe média estava estagnada e o número de pessoas vivendo na pobreza nos Estados Unidos era inaceitavelmente alto. Os números de hoje deixam claro que nosso trabalho está apenas começando", disse Obama.

Obama mostrou confiança em que a reforma de saúde suponha avanços na percentagem de pessoas sem seguros médicos, uma de suas prioridades quando chegou à Casa Branca. Em 2009, quando a reforma ainda era debatida no Congresso, o número de pessoas sem cobertura médica cresceu de 46,3 para 50,7 milhões, 16,7% da população.

Taxa de pobreza é maior entre os mais jovens

Entre a população jovem (abaixo de 18 anos) a taxa de pobreza é ainda maior, passando de 19% em 2009 para 20,7% no ano passado. "O aumento na pobreza infantil que observamos em 2009 é um duro golpe para o nosso país e para a nossa economia", disse o economista Harry Holzer, da Universidade de Georgetown. "Os custos da pobreza infantil permanecerão por muitos anos na forma de baixo desempenho escolar, trabalhadores menos produtivos e maiores gastos com saúde." Segundo o escritório do censo, o número de pessoas sem plano de saúde aumentou de 46,3 milhões em 2008 para 50,7 milhões em 2009. Esse aumento, de acordo com os analistas do órgão, ocorreu principalmente por causa da perda de planos de saúde pagos pelos empregadores durante a recessão.


Comentário
Em seu segundo mandato, FHC colheu o desastre econômico realizado no primeiro. Foi boa para o país sua reeleição, pois a desgraça caiu no colo de quem a criou. Se outro candidato tivesse sido eleito, FHC ainda pousaria como “estadista” e salvador da pátria.

Da mesma maneira ocorre com os EUA. O desastre que o neoliberalismo gera, começou com o governo Reagan e foi perpetuando-se em seguidos governos. Como é um país muito mais rico que o Brasil, as conseqüências demoraram mais a chegar.

Discurso sobre o caso Paulo Souto e a Ilha do Urubu – por PHA (Conversa Afiada)

O SR. EMILIANO JOSÉ (PT-BA. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje vou falar aqui sobre o nebuloso e escandaloso caso da Ilha do Urubu, ocorrido na Bahia, em novembro de 2006, quando estava em fim de governo o Sr. Paulo Souto, do DEM.

O ex-governador da Bahia, Paulo Souto, está sendo acusado de ilegalidade por Rubens Luis Freiberger e seu advogado José César Oliveira, através de uma ação popular que tramita no Tribunal de Justiça da Bahia acerca do processo que envolveu a doação de terras da Ilha do Urubu, localizada no município de Porto Seguro, área da Costa do Descobrimento, no Extremo Sul da Bahia.

De acordo com as informações fornecidas à imprensa pelo advogado César Oliveira, no processo nº. 359.983-3, ao final do seu governo, Paulo Souto doou a Ilha do Urubu aos herdeiros da família Martins, posseiros da área em questão. Quatro meses depois, os herdeiros venderam essas terras ilegalmente (pois teriam que preservá-las por cinco anos) por R$ 1 milhão, ao empresário Gregório Marin Preciado.

Segundo Oliveira, mais ou menos um ano depois, Gregório Preciado revendeu o terreno a um mega-especulador belga, Philippe Meeus, por R$ 12 milhões. Para o advogado: No mínimo, houve leniência por parte do Estado. O terreno vale, hoje, R$ 50 milhões, pois se trata de uma das áreas mais valorizadas da América Latina.

Nas denúncias, César Oliveira informa ainda que: Gregório Marin Preciado, espanhol, naturalizado brasileiro, é casado com a prima de José Serra, governador de São Paulo e pré-candidato a presidência da República. O senhor Gregório Marin Preciado responde a uma ação penal do Ministério Público Federal por uma dívida de R$ 55 milhões, que foi perdoada irregularmente pelo Banco do Brasil. Ele tomou também um empréstimo de R$ 5 milhões no Banco do Brasil e deu a Ilha do Urubu como garantia, enquanto litigava com a família Martins, disputando a posse da Ilha.

Senhor Presidente, ainda segundo o advogado, no ano de 1993, Gregório Marin Preciado havia contraído empréstimos no Banco do Brasil para duas empresas de sua propriedade a Gremafer e a Acetato. Como Preciado não conseguiu pagar o débito, no ano de 1995, entrou em cena o Sr. Ricardo Sérgio, que, na época, era diretor do Banco do Brasil e ficou conhecido por ser caixa das campanhas de José Serra e FHC. Ele conseguiu para Gregório Preciado um gracioso desconto de 16 milhões de reais na tal divida.

Mas a coisa não parou por aí. Mesmo inadimplente, Gregorio Preciado arrancou outro empréstimo de 2,8 milhões de dólares no mesmo Banco do Brasil. Reportagem de maio de 2002, da Folha de São Paulo, destacou que documentos internos do Banco tratavam aquelas negociações como heterodoxas e atípicas, e por isso, o agente financeiro começou a listar os bens do Sr. Preciado para arrestá-los.

Foi assim que se descobriu a propriedade de um terreno valiosíssimo no bairro do Morumbi, onde José Serra era dono de metade e Gregório Preciado da outra parte. O terreno foi vendido rapidamente antes de o Banco do Brasil fazer o arresto e ambos foram beneficiados.

No ano de 1996, Ricardo Sérgio (diretor do Banco do Brasil com influência na Previ) montou com Preciado o consórcio Guaraniana S/A. Segundo notícias da época, o mencionado consórcio foi composto pela Previ, Banco do Brasil e por fundos administrados pela instituição, e tem como sócia a Iberdrola, empresa gigante do setor energético. Ainda de acordo com o advogado José César Oliveira, a Iberdrola deu a representação da Guaraniana a Gregório Marin Preciado.

Com o processo de privatização ocorrido no governo Fernando Henrique, o consórcio montado pelos dois, o tesoureiro e o parente de José Serra, entre 1997 e 2000, arrematou a baiana Coelba, a pernambucana Celpe e a potiguar Cosern, e Gregório Marin Preciado, de inadimplente do Banco do Brasil, passou a ser o todo poderoso representante da Iberdrola no consórcio montado.

Senhoras e senhores deputados, o aprofundamento das relações de Paulo Souto, então governador, com Gregório Marin Preciado culminou na doação da Ilha do Urubu, no dia 20 de novembro de 2006, após a sua derrota nas eleições.

Diante do escândalo, atualmente escancarado na mídia baiana, uma equipe de técnicos da Coordenação de Desenvolvimento Agrário – CDA foi deslocada para Porto Seguro para fazer uma nova vistoria nas terras da Ilha do Urubu. Certamente para estudar a situação, analisar as irregularidades e adotar todas as providências cabíveis.

Na verdade, a doação da Ilha do Urubu após a derrota eleitoral de 2006 é apenas um pequeno episódio da estratégia adotada por Paulo Souto para prejudicar o novo governo. Para isso, o ex-governador executou três formas de ação: procurou cobrir o descalabro contábil e financeiro do seu final de mandato; beneficiou os amigos o máximo possível e criou numerosas obrigações para o governo Jaques Wagner, deixando o terreno minado por verdadeiras bombas de efeito retardado.

No período compreendido entre 04 de outubro e dezembro de 2006, após ter tomado consciência da derrota eleitoral sofrida, o ex-governador Paulo Souto adotou diversas atitudes que chamam negativamente a atenção. São vários atos e fatos, que contradizem a postura aparentemente republicana e civilizada assumida publicamente, mas que visavam impactar negativamente o próximo governo. Partiu para a famosa política de terra arrasada.

Naquele período de apenas três meses, pode-se constatar no Diário Oficial do Estado que o governador Paulo Souto, além da Ilha do Urubu, autorizou a outorga de 17 áreas de terra do Estado, e órgãos públicos descentralizados doaram mais 12 imóveis e 1.043 veículos. É uma autêntica farra do Urubu.

Inicialmente, o que mais surpreendeu foram as alterações produzidas no Orçamento 2006, na época ainda em curso, e até no Plano Plurianual 2004 – 2007. O volume de modificações oficialmente procedidas demonstrou o esforço para ajustar as contas estaduais, que desesperadamente o governo que acabava tentava fechar até fins de dezembro de 2006, sob pena de colocar o governador em situação de improbidade, passível de enquadramento legal. Só de alterações orçamentárias o ex-governador baixou, em três meses, atos que atingiram a estrondosa quantia dos R$ 1,5 bilhão. Considerando-se 60 dias úteis no período, perfaz uma média de R$ 25 milhões de modificações orçamentárias por dia.

O Sr. Paulo Souto, no afã de produzir receita para tentar fechar o caixa daquele ano, alterou, também, o prazo e o valor de recolhimentos do ICMS, visando antecipar arrecadação de 2007 para o exercício de 2006, atingindo as principais empresas arrecadadoras do tributo no Estado, tais como as de telecomunicações, de energia elétrica e de petróleo, englobando um montante superior a R$ 70 milhões.

Por outro lado, abriu a famosa caixa de bondades de última hora, distribuindo benesses aos seus amigos, bondades essas que viriam a vigir a partir de 2007, ou seja, no novo governo. Como exemplo, o ex-governador concedeu remissão parcial do ICMS e dispensou multas e acréscimos moratórios para empresas de comunicação, beneficiando diretamente a Rede Bahia, propriedade da família de Antonio Carlos Magalhães, então seu chefe político.

Alterou, ainda, o regulamento do ICMS, desta vez para reduzir o imposto sobre a importação de nafta. Tal medida compensou uma grande empresa pela antecipação, para dezembro de 2006, de receita que seria arrecadada em janeiro de 2007, possibilitando assim a redução do rombo do caixa estadual. Além disso, o ex-governador distribuiu benefícios tributários, incluindo, na última hora, 105 novas empresas em programas de renúncia fiscal, como o Desenvolve e o Probahia.

Outros atos causaram estranheza, por sua dimensão e importância, e pelo fato de que poderiam ter sido implementados durante 3 anos e nove meses de governo e vieram a ser adotados exatamente nos últimos três meses, após a derrota eleitoral.

O Sr. Paulo Souto apresentou também projetos alterando a Política de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade e a Política de Recursos Hídricos, e disciplinou os procedimentos de anuência prévia em áreas de proteção ambiental, além de aprovar norma técnica sobre pedidos de revisão de zoneamento ecológico-econômico. Tudo isso visando tornar a questão ambiental do Estado muito mais permissiva à degradação.

Considerando somente os maiores valores, que saltavam aos olhos no Diário Oficial do Estado, no período de outubro a meados de dezembro, constataram-se 328 novos contratos ou aditamentos, perfazendo um total de quase R$ 160 milhões, o que dá uma média de mais de R$ 2,5 milhões de valor novo contratado por dia útil. É importante destacar que, tentando driblar a fiscalização, uma grande parte dos atos publicados no DOE, referentes a contratos e aditamentos, irregularmente, não traziam qualquer valor financeiro programado para o pagamento do produto ou serviço.

Considerando-se a distribuição dos contratos e aditivos por empresa, chama a atenção a TELESP S.A. que aparece contratada 27 vezes, abocanhando quase R$ 17 milhões, sendo que mais da metade, ou seja: R$ 8,7 milhões, com dispensa de concorrência.

Outra campeã de contratos foi a área de tíquetes alimentação. Só em um pequeno órgão estadual de processamento de dados dois contratos totalizaram R$ 3,6 milhões, o que, considerando um valor de refeição de dez reais, dá para adquirir 360.000 almoços/ano.

Mais um setor de despesas assustadoras foi o batalhão aéreo da Polícia Militar, que contratou no período de três meses mais de R$ 2 milhões de despesas, apenas para a manutenção de três aeronaves. Somente na área de propaganda, encontram-se gastos novos de mais de R$ 2,2 milhões, e isso só no apagar das luzes.

Senhor presidente, senhoras e senhores deputados, como se pode constatar foi um verdadeiro festival de atos e fatos no mínimo discutíveis, e o escândalo da Ilha do Urubu é um pequeno, porém, assustador exemplo.


Ilha do Urubu, o paraíso traído - por Leandro Fortes (Carta Capital)

Há um mês, o deputado Emiliano José (PT-BA) subiu à tribuna da Câmara dos Deputados, em Brasília, para tornar pública a descoberta do último legado do carlismo ao povo e ao estado da Bahia. Derrotado nas eleições estaduais de outubro de 2006, em primeiro turno, por Jaques Wagner (PT), o ex-governador Paulo Souto apressou-se em tomar medidas administrativas, fazer ajustes orçamentários e, a pouco mais de um mês de deixar o cargo, abrir mão de um pequeno e ultravalioso paraíso ambiental público, no sul do estado, em favor de uma ação imobiliária nebulosa iniciada por um ainda mais estranho processo de doação.

A Ilha do Urubu é recanto de beleza natural praticamente intocada na região de Trancoso, próximo a Porto Seguro, no chamado Quadrilátero do Descobrimento, no sul da Bahia. A ocupação do lugar é disputada, há pelo menos três décadas, pela família Martins, de pequenos comerciantes e pescadores. Ainda assim, em 20 de novembro de 2006, depois de derrotado nas eleições, Paulo Souto decidiu doá-la a apenas cinco dos Martins: Maria Antônia, Benedita Antônia, Ivete Antônia, Joel Antônio e Angelina.

De acordo com a lei, o quinteto só poderia vender o imóvel depois de cinco anos de uso, mas a ilha acabou vendida quatro meses mais tarde pela bagatela de 1 milhão de reais, para o empresário espanhol, naturalizado brasileiro, Gregório Marin Preciado. Um ano depois, o paraíso baiano foi passado adiante por 12 milhões de reais para o empresário belga Philippe Meeus, especulador imobiliário proprietário de um resort na Praia da Ferradura, em Búzios (RJ).

Estranhamente, um mês antes de Paulo Souto doar a Ilha do Urubu, a parte de família Martins beneficiária da ação do governador andava às turras com o futuro primeiro comprador da área, Gregório Preciado. Isso porque Preciado alega ter uma escritura de proprietário da ilha. Chegou, inclusive, a apresentar o documento como garantia para obter um empréstimo de 5 milhões de reais no Banco do Brasil. Escalado para apresentar aos Martins um mandado judicial de reintegração de posse impetrado por Preciado, o oficial de Justiça Dílson José Ferreira de Azevedo testemunhou atos de violência perpetrados por capangas do empresário.

Ao chegar à ilha, em 26 de outubro de 2006, Azeredo encontrou apenas um casal de velhos à sombra de uma árvore. Eram Maria Antônia e Joel Antônio Martins. Os dois foram oficiados, sem nenhum problema ou confusão, mas logo a paz do lugar acabou perturbada pela intervenção de empregados de Preciado. Assim escreveu o oficial de Justiça à Vara Cível e Comercial da Comarca de Porto Seguro: “Prepostos dos autores (além de Preciado, a mulher dele, Vicência Marin) procederam a derrubada e queima do barraco ali existente”. Dois meses depois, Maria e Joel venderiam a mesma terra a quem lhes havia derrubado e incendiado a casa.

Preciado, ex-arrecadador de campanha do governador José Serra, de São Paulo, também foi casado com uma prima do tucano. Em 2002, o Ministério Público Federal entrou com uma ação de improbidade administrativa contra dezoito pessoas e empresas ligadas ao ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, outro arrecadador de campanha do PSDB, inclusive de Serra. Entre os implicados estava Gregório Preciado, apontado como sócio do governador em duas empresas, Gremafer Comercial e Aceto Vidros e Cristais.

De acordo com o processo aberto na Justiça Federal da Brasília, Gregório Preciado se beneficiou de dois contratos irregulares, em 1995 e 1998, num total de 73,7 milhões de reais, durante o processo de privatização de empresas públicas do governo Fernando Henrique Cardoso. Mas o pulo do gato da vida de Preciado foi dado mesmo em 1996, quando ele se associou à Iberdrola, gigante espanhola do ramo energético, por meio do consórcio Guaraniana, montado por Ricardo Sérgio com a ajuda dos fundos de pensão da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Entre 1997 e 2007, o grupo representado pelo arrecadador de campanha tucano arrematou as empresas de energia elétrica da Bahia (Coelba), Pernambuco (Celpe) e Rio Grande do Norte (Cosern).

Outro complicador, a briga interna que se desenrola entre os Martins. Na semana passada, a parte da família não agraciada pela doação de Paulo Souto entrou em juízo com uma ação rescisória, em Porto Seguro, contra a outra parte e ameaçou permitir a entrada de 200 índios pataxó da região na Ilha do Urubu, a fim de impedir a tomada de posse do empresário Philippe Meeus. Os Martins excluídos da negociata alegam possuir documentação de posse da terra, datada de 1931.

O ex-governador alega ter entregue as terra da Ilha do Urubu aos Martins por se tratar de família carente ali residente há mais de 30 anos. Portanto, não havia como ele prever que, menos de um ano depois, o principal beneficiário da caridade governamental seria Meeus, milionário a quem se atribui a propriedade de 36 Ferrari. A cadeia de transmissão de posse da área está sendo investigada pela Polícia Federal, na Bahia, porque se configura em caso clássico de lavagem de dinheiro – ainda mais por envolver um notório arrecadador de campanhas políticas.

O qüiproquó sobre a Ilha do Urubu foi levantado por um jovem advogado de Porto Seguro, Rubens Luís Freiberger, e se transformou numa ação popular ajuizada por um colega de Salvador, César Oliveira, no Tribunal de Justiça da Bahia. “Os detalhes dessa ‘ação social’ de Paulo Souto são estarrecedores”, afirma Oliveira.

De acordo com levantamento feito pelo deputado Emiliano José, combatente histórico do carlismo na Bahia, a doação da Ilha do Urubu foi apenas uma das diversas ações de Paulo Souto voltadas, no fim do mandato, para complicar a gestão do sucessor, Jaques Wagner.

Segundo o levantamento entre 4 de outubro e 31 de dezembro de 2006, após ser derrotado por Wagner, Souto partiu para uma política de terra arrasada, Naquele período de apenas três meses, o Diário Oficial registrou a outorga de dezessete áreas de terra do estado, além de doações feitas por órgãos públicos descentralizados de doze imóveis e 1.043 veículos. Isso sem falar em atos de alterações orçamentárias, cerca de 1,5 bilhão de reais, uma média de 25 milhões por dia, durante os últimos 60 dias úteis do mandato do ex-governador do DEM.

Paulo Souto também alterou o prazo e valor de recolhimento do ICMS para antecipar a arrecadação de 2007, no afã de produzir receita e, assim, conseguir fechar o caixa de 2006. As medidas, segundo Emiliano José, atingiram as principais empresas arrecadadoras do tributo na Bahia, entre elas as de telecomunicações, energia elétrica e petróleo, num montante superior a 70 milhões de reais. Como deferência ao chefe derrotado, Souto concedeu remissão parcial de ICMS e dispensa de multas e acréscimos moratórios para empresas de comunicação locais. Beneficiou diretamente, assim, a Rede Bahia, de propriedade da família de Antônio Carlos Magalhães, hoje controlada pelo filho, o senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM).

Matéria publicada na revista Carta Capital nº 570 (novembro de 2009)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Aprender a perder

Sou capixaba, mas o time do meu coração – como a maioria dos torcedores do meu estado – é o flamengo. Adoro quando meu tive vence, fico chateado quando ele perde, o que é normal para um torcedor.

Eventualmente observo nos estádios algumas pessoas trazerem toda a sua ira – talvez motivadas por frustrações outras – e aproveitarem aquele momento onde estão reunidas em enormes grupos para extravasar sua energia anteriormente contida contra o adversário.

Para estes torcedores, não há limites. O adversário é o inimigo. Deseja-se trucidá-los, bater, machucar, utilizam todas as armas que dispõem: se estão do alto das arquibancadas, cospem, jogam copos de mijo, latinhas e garrafas (que até por isso foram proibidas), etc. De perto, unem-se a outros meliantes e correm atrás de enfrentar com punhos, paus, pedras, armas de fogo, etc., os seus inimigos que, pasmem, são definidos pelo fato de torcerem para outro time. Poderia ser um amigo seu, um parente, um vizinho, afinal, todo mundo tem relações com pessoas que torcem pelos mais diversos times. Mas não, isto não importa, o que importa é bater, maltratar, vencer a batalha.

Tenho uma teoria que, a ideia inicial, de partir para cima destes torcedores do outro time não é muito intensa em quem perpetra tal abominação. Ao contrário. A ideia é rala e pouco aferrada aos meliantes – só é potencializada pelo fato de agirem em grupo.

Parece-me que não passa pela cabeça destes torcedores que existe a necessidade – friso, a necessidade – que o time dele perca para que o esporte possa prevalecer. Se somente um ganhasse, não haveria graça nenhuma, o esporte estaria fadado ao fenecimento.

Hoje observo uma tragédia incrivelmente semelhante e até mais grave acontecer na imprensa brasileira – mais grave porque atinge uma quantidade muito maior de pessoas. Pelo fato de torcerem por um candidato, grande parte da imprensa tem agido como estes torcedores fratricidas. Ignoram toda e qualquer denúncia que possa eivar seu defendido, como a grave união das Verônicas Serra e Dantas em uma empresa em Miami (¡¿logo onde?!), a Decidir.com

E passam a tratar qualquer denúncia contra seus adversários como fatos incontestes, criam-se escândalos sobre o vácuo. Basta que alguém acuse a candidata que não é a preferida – mesmo que sem absolutamente nenhuma prova, absolutamente nada, sem nenhum fato concreto que possa macular sua honra ou a dos seus (como a ministra Erenice Guerra) – para que tais acusações passem a ser capas e mais capas, reproduzida por articulistas e editoriais, que são simbioticamente semelhantes às falas do candidato oposicionista.

A última denúncia me ataranta: é feita por um bandido que acabou de sair da cadeia, que não apresenta prova nenhuma, e o bandido alega ter de pagar propina para conseguir um empréstimo junto ao BNDES de... 9 bilhões (!), eu tenho que repetir, 9 bilhões de reais. É demais, para qualquer um, acreditar numa fábula destas. Mesmo que se torça a favor de um determinado candidato, há limites – mesmo para o ridículo.

Comparando com os torcedores exaltados, podemos enumerar diversas as semelhanças que a mídia vem se valendo: utilizam-se todas as armas que possuem – mesmo as mais sórdidas; atuam em grupo, cegam-se para críticas ao seu candidato, tem motivação inicial fútil.

Gostaria de tratar mais sobre este último quesito. Lembro-me certa vez que houve um desentendimento entre eu e um colega de trabalho, e cortamos relações pessoais, não conversamos mais. Passaram-se algumas semanas, e certa vez me ocorreu a pergunta sobre o que, mesmo, havia gerado nosso desentendimento: pasmem, eu não me recordava. A sensação de não poder mais conversar com ele, e até de certa repulsa, me era intensa – mas a motivação inicial, eu já sequer me lembrava.

Ocorre o mesmo com a mídia. A motivação inicial para atacar o PT, os movimentos sociais, sindicatos, etc., na minha singela opinião é proveniente da desavença histórica entre a esquerda e a direita, agravada pelo fato de termos vivido em uma ditadura na qual, os maiores veículos de comunicação da nossa atualidade beneficiaram-se enormemente ao apoiá-la.

Porém, ao visualizarmos nossa condição econômica atual, com os incríveis 2,5 milhões de empregos que serão gerados apenas este ano, fica a pergunta: ¿será mesmo que esta guerra contra o governo Lula e o PT faz sentido, se relembrarmos que nos oito anos tucanos o país gerou apenas 800 mil empregos?

Todos se beneficiaram desta condição econômica – tanto os que torciam contra quanto os que iam a favor. Então, ¿há sentido neste caminho doido, baseado em colunistas de determinada revista que não citam sequer um número em seus escritos? Ataques, calúnias, adjetivos muitos, mas fatos, em si, quantos?

Parece que a imprensa quer seguir com seu triste caminho histórico, de massacre ao trabalho e aos seus defensores, e elevação do deus-mercado e seus advogados.

¿Mas quais foram os que obtiveram melhores resultados, volto a perguntar eu, resultados que beneficiaram esta mesma imprensa?


Pode-se chegar a conclusão que defendo o adesismo. Ao contrário. Há críticas sinceras e honestas feitas ao atual governo, como a sobre a necessidade do aumento dos investimentos em infra-estrutura. Muito motivado por estas críticas, o governo elaborou o PAC. Entretanto, qual foi o resultado do programa na imprensa, desde o início: ataques e mais ataques, números fajutos tirados sabe-se lá de onde, que não batiam com os dados oficiais; críticas na ideia, na forma e na execução, etc. Ao invés de pedirem uma melhora no desempenho do programa, ou o aumento de seus recursos, ou sugerirem necessidades ainda não atendidas, não: uma oposição completa, cega, burra.

E concomitantemente a isto os jornais vivem pedindo aumento do investimento...
¿Faz sentido?

Em outro aspecto, vê-se no governo um drástico aumento no volume de recursos despendidos na educação. O Reuni, que no total mais do que dobrou o número de universitários que ingressam em universidades públicas a cada ano, a criação de centenas de escolas técnicas (mais do que dobrando as até então construídas), o Pró-uni, o aumento de repasses para o Fundeb, o aumento de recursos para programas de pós-graduação, etc.

Porém, isto não se vê na imprensa, ao contrário: o mesmo jornal que ignora estes fatos, defende decididamente o valor da educação para o futuro do país e prega desbragadamente o voto no candidato que trata os professores (a base da educação) com cassetetes e bombas de gás.
¿Faz sentido?


Gostaria de finalizar este longo escrito, com mais uma similaridade entre os torcedores e a imprensa. Ano passado, meu time foi campeão brasileiro, este ano, com certeza não repetirá a dose. Paciência. Haverá outros campeonatos, não há porque me desesperar e sair por aí destruindo os outros adversários da maneira que meu time puder. Ocorre o mesmo com a imprensa. Haverá outros campeonatos – não há motivo para esta ira descomedida contra uma candidata. Desta maneira que estão agindo, assemelham-se demasiados aos guerreiros dos estádios. Não faz bem ao país, não ajuda a própria imprensa em seu indispensável papel e não dignifica a democracia.

Talvez fosse conveniente ratificar o que já ocorreu comigo: eu nem sequer me lembrava do que a pessoa havia me feito – e continuava com ódio. Porém, tive a grandeza de reconhecer meu erro e corrigi-lo: voltei a tratar com meu colega.

Amanhã é um novo dia, e cada novo dia nos dá a oportunidade de obrarmos algo mais enobrecedor e puro para o legado que acumulamos em nossas vidas: basta querer.


P.S: Não sou eleitor da Dilma. E, gostaria muito, mas muito, mesmo, de poder criticar o governo que será eleito sem recorrer ao denuncismo golpista que imperou nos últimos anos. A bola está com a imprensa.

A infinita hipocrisia do Ocidente - por Fidel Castro (Granma)

EMBORA houvesse artigos sobre o tema antes e depois de 1º de setembro de 2010, nesse dia, o jornal La Jornada, do México, publicou um de grande impacto intitulado "O holocausto cigano: ontem e hoje", que lembra uma história verdadeiramente dramática. Sem acrescentar nem tirar uma só palavra da informação que oferece, selecionei algumas linhas textuais de seu conteúdo que refletem fatos realmente comoventes, dos quais, o Ocidente e, sobretudo, o seu colossal aparelho midiático, não diz nada.

"Em 1496: auge do pensamento humanista. Os povos rom (ciganos) da Alemanha são declarados traidores dos países cristãos, espiões a soldo dos turcos, portadores da peste, bruxos, bandidos e sequestradores de crianças."

"1710: o século das luzes e da razão. Um edital ordena que os ciganos adultos de Praga sejam enforcados sem julgamento. Os jovens e as mulheres são mutilados. Na Boêmia, cortam-lhes a orelha esquerda. Na Morávia, a orelha direita.

"1899: o apogeu da modernidade e do progresso. A polícia de Baviera cria a Seção Especial de Assuntos Ciganos. No ano 1929, a seção foi elevada à categoria de Central Nacional e transferida para Munique. Em 1937, foi instalada em Berlim. Quatro anos mais tarde, meio milhão de ciganos morreu nos campos de concentração da Europa central e oriental."

Na sua tese de doutoramento, Eva Justin (assistente do doutor Robert Ritter, da seção de pesquisas raciais do Ministério da Saúde alemão), afirmava que o sangue cigano era extremamente perigoso para a pureza da raça alemã. E certo doutor Portschy encaminhou um memorando a Hitler sugerindo-lhe que os submetesse a trabalhos forçados e à esterilização em massa, porque punham em perigo o sangue puro dos camponeses alemães.

"Qualificados de criminosos inveterados, os ciganos começaram a ser presos em massa e, a partir de 1938, foram internados em blocos especiais nos campos de Buchenwald, Mauthausen, Gusen, Dautmergen, Natzweiler e Flossenburg."

"Num campo de sua propriedade de Ravensbruck, Heinrich Himmler, chefe da Gestapo (SS), criou um espaço para sacrificar as mulheres ciganas que eram submetidas a testes médicos. Foram esterilizadas 120 meninas ciganas. No hospital de Dusseldorf-Lierenfeld foram esterilizadas ciganas casadas com não ciganos."

"Milhares de outros ciganos foram deportados da Bélgica, da Holanda e da França para o campo polonês de Auschwitz. Em suas Memórias, Rudolf Hoess (comandante de Auschwitz) relata que entre os deportados ciganos havia idosos quase centenários, mulheres grávidas e grande número de crianças."

"No gueto de Lodz (Polônia) [...] nenhum dos 5 mil ciganos sobreviveu."

"Na Iugoslávia, eram executados por igual os ciganos e os judeus na floresta de Jajnice. Os camponeses ainda lembram os gritos das crianças ciganas levadas para os locais de execução."

"Nos campos de extermínio, apenas a paixão dos ciganos pela música foi às vezes o desafogo deles. Em Auschwitz, eles, famintos e cheios de piolhos, juntavam-se para tocar e animavam as crianças a dançar. Mas também era lendária a coragem dos guerrilheiros ciganos que militavam na resistência polonesa, na região de Nieswiez."

A música foi o fator que manteve neles a unidade que os ajudou a sobreviver, como o foi a religião para os cristãos, os judeus e os muçulmanos.

La Jornada, em sucessivos artigos desde o final de agosto, refrescou os acontecimentos quase esquecidos sobre o que aconteceu com os ciganos na Europa, que vítimas do nazismo, foram esquecidos depois do julgamento de Nurenberg, em 1945-1946.

O governo alemão de Konrad Adenauer declarou que o extermínio dos ciganos antes de 1943, respondia a políticas legais de Estado; as vítimas nesse ano não receberam nenhuma indenização. Robert Ritter, perito nazista no extermínio dos ciganos, foi libertado; 39 anos mais tarde, em 1982, quando a maioria das vítimas tinha morrido, foi que se reconheceu o seu direito à indenização.

Mais de 75% dos ciganos, calculados entre 12 e 14 milhões, moram na Europa central e oriental. Somente na Iugoslávia socialista de Tito os ciganos foram reconhecidos com os mesmos direitos que as minorias croatas, albanesas e macedônias.

O órgão de imprensa mexicano qualifica de "particularmente perversa" a deportação em massa de ciganos para a Romênia e a Bulgária, ordenada pelo governo de Sarkozy — judeu de origem húngara —; são as palavras textuais com que a qualifica. Não tomem isto como uma irreverência da minha parte.

Na Romênia, o número de ciganos calcula-se em 2 milhões de pessoas.

O presidente desse país, Traian Basescu, aliado dos Estados Unidos e membro ilustre da OTAN, chamou uma jornalista de "cigana nojenta". Como se pode observar, uma pessoa extremamente delicada e de linguagem cortês.

O site Univision.com comentou as manifestações contra a expulsão de ciganos e a "xenofobia" na França. Aproximadamente "130 manifestações seriam realizadas na França e em frente das embaixadas francesas de vários países da União Europeia com o apoio de dezenas de organizações de direitos humanos, sindicatos e partidos de esquerda e ecologistas", informou a agência de notícias AFP. A extensa notícia fala da participação de conhecidas personalidades do mundo da cultura, como Jane Birkin e a cineasta Agnes Jaoui, lembrando que a primeira "fez parte, junto com o ex-lutador contra a ocupação nazista da França (1940-1944) Stephane Hessel, do grupo que se entrevistou posteriormente com os assessores do ministro de Imigração Eric Besson."

"'Foi um diálogo de surdos, mas é bom que tenha acontecido para lhes mostrar que a maioria da população se encoleriza diante desta política nojenta’, indicou o porta-voz da Rede de Educação sem Fronteiras...".

Outras notícias sobre o espinhoso tema chegam da Europa: "O Parlamento Europeu colocou na guilhotina [pública] a França e Nicolas Sarkozy pela repatriação de milhares de ciganos romenos e búlgaros num tenso debate em que foi qualificada como escandalosa e ridícula a atitude de José Manuel Durão Barroso e da Comissão pela sua aparente pusilanimidade e por não condenarem, por ilegais e contrárias ao direito comunitário, as decisões de Paris", informou El País.com num artigo de Ricardo Martínez de Rituerto.

O jornal La Jornada publicou em outro de seus artigos, o impressionante dado social de que a mortalidade neonatal da população cigana é nove vezes maior do que a média europeia e a esperança de vida apenas ultrapassa os 50 anos.

Com antecedência, no dia 29 de agosto, tinha informado que "embora as críticas não tenham faltado — tanto por parte das instituições da União Europeia (UE) quanto por parte da igreja católica, a ONU e o amplo leque de organizações a favor da migração — Sarkozy insiste em expulsar e deportar centenas de cidadãos da Bulgária e da Romênia — e, portanto, de cidadãos europeus – sob o pretexto do suposto caráter 'criminoso' desses cidadãos".

"É difícil acreditar que, no ano 2010, — conclui La Jornada — após o terrível passado da Europa no que se refere ao racismo e à intolerância, seja ainda possível criminalizar toda uma etnia por ser considerada um problema social."

"A indiferença ou, inclusive, o beneplácito face às ações da polícia francesa hoje, italiana ontem, mas, europeia em geral, deixa sem palavras o mais otimista dos analistas."

De repente, enquanto escrevia esta Reflexão, lembrei que a França é a terceira potência nuclear do planeta e que Sarkozy tinha também uma pasta com os códigos para lançar uma das mais de 300 bombas que tem. Por acaso tem algum senso moral e ético lançar um ataque contra o Irão, que é condenado pela suposta pretensão de fabricar uma arma deste tipo? Onde está o bom senso e a lógica dessa política?

Suponhamos que, de repente, Sarkozy fica louco como parece que está acontecendo. O que vai fazer nesse caso o Conselho de Segurança das Nações Unidas com Sarkozy e sua pasta?

O que acontecerá se a extrema direita francesa decidisse obrigar Sarkozy a manter uma política racista em contradição com as normas da Comunidade Europeia?

Poderia o Conselho de Segurança responder a estas duas perguntas?

A ausência da verdade e a prevalência da mentira é a maior tragédia em nossa perigosa era nuclear.

Um modelo partidário trazido do atraso – por Maria Inês Nassif (Valor Online)

A "mexicanização" do quadro partidário brasileiro é um debate a ser colocado em devidos termos. A ameaça de que o PT, depois das eleições de outubro, se transforme num Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México de 1929 a 2000, é apresentada como "denúncia". Isso é, no mínimo, um equívoco. A questão merece ser tratada criticamente por todos os atores do cenário político, sob pena de a eleição consolidar, de fato, e por um bom tempo, um único partido com condições de acesso ao poder pelo voto.

Essa perspectiva está colocada não porque o PT trapaceou, mas porque a oposição acreditou demais no seu poder de influenciar massas via convencimento das elites. É uma estratégia medíocre de ação política, num mundo onde o acesso à informação tem aumentado e ao mesmo tempo saído da órbita exclusiva da influência dos grandes grupos, e num Brasil onde um grande número de cidadãos-eleitores deixou a pobreza absoluta, outro tanto ascendeu à classe média, a escolaridade aumentou, o acesso à internet é maior e a influência das elites sobre os mais pobres tornou-se muito, muito relativa.

Oposição não mobilizou militância nem formou quadros

Dos partidos na oposição, apenas o P-SOL, em passado recente, e o PPS, quando remotamente era PCB, conseguiram pelo menos formular idealmente um conceito de partido de massas. O P-SOL fracassou porque foi criado na contramão de um crescimento espantoso do PT, partido do qual se originou, e do recuo de setores que, durante o mensalão, ensaiaram abandonar o partido de Lula. Amedrontados com a retórica pré-64 da oposição, esses setores acabaram lentamente retornando à órbita do petismo. O PCB conseguiu a façanha de ser um partido de massas apenas quando tinha um líder carismático, Luiz Carlos Prestes. Como viveu boa parte de sua existência na clandestinidade, é difícil saber se teria vocação para sair da política de vanguarda e ganhar substância em setores mais amplos. O PPS, que o sucedeu, certamente não mostra essa capacidade.

O PT continua a exceção no quadro partidário. A estrutura montada pelo partido nacionalmente, quando começava a se perder na burocratização da máquina, foi salva pelo lado popular do governo Lula e pela ofensiva oposicionista. O partido não é mais o que era quando foi fundado, mas é certo que tem uma representação social.

As demais legendas, em especial as de oposição, não conseguiram sair da camisa de força dos partidos de quadros. O PSDB, que catalisou a oposição a Lula, e o DEM, com o qual é mais identificado, terceirizaram a ação partidária para uma mídia excessivamente simpática a um projeto que, mais do que de classes, é antipetista. Todo trabalho de organização partidária, de formulação ideológica e de articulação orgânica foi substituído por uma única estratégia de cooptação, a propaganda política assumida pelos meios de comunicação tradicionais. A vanguarda oposicionista tem sido a mídia. Esta, espelhando-se na velha estrutura social do país, tem praticado uma conversa exclusiva com os seus: assumiu um discurso para agradar a elite, que por sua vez perdeu quase totalmente seu poder de influência sobre os menos ricos e escolarizados. Os partidos de oposição e a mídia falam um para o outro. Pouco têm agregado em apoio popular, que significaria voto na urna e, portanto, vitória eleitoral.

A ideia de propaganda política via mídia, que para a esquerda pré-Muro de Berlim era uma parte da estratégia de tomada do poder, e para os social-democratas a estratégia de conquista do poder pelo voto, tornou-se a única ação efetiva da oposição brasileira, exercida, porém, de fora dos partidos. Teoricamente, a mídia tradicional brasileira não é partidária. Na prática, exerce essa função no hiato deixado pela deficiente organização dos partidos que hoje estão na oposição ao presidente Lula. E o produto final não é exatamente a agregação de adeptos, mas uma conversa entre iguais, que se autoalimenta de um discurso trazido do udenismo, pouco propenso a conduzir um debate propriamente ideológico.

Esse não é um fenômeno pós-Lula simplesmente, embora os dois governos do presidente petista tenham dado grande contribuição a esse descolamento entre a "opinião pública" e a "opinião dos pobres". Logo no início da redemocratização, foi instituído o voto do analfabeto. Ao longo dos dois últimos governos - portanto, nos últimos 15 anos - ocorreram ganhos de cidadania via aumento de escolaridade e renda que, por si só, incentivam a autonomia do voto. Nos últimos sete anos, os programas de transferência de renda reforçaram essa tendência.

Esse contingente de novos eleitores ganhou autonomia de voto e se descolou da mídia tradicional. Nesse universo, os formadores de opinião pública - por sua vez formados pela mídia - não têm o mesmo acesso que tinham antigamente. O ingresso dos antigos desletrados na era da informação tem se dado pela televisão - e aí o horário eleitoral gratuito é neutralizador - e um pouco pela internet, mas a decisão política ocorre por ganhos de cidadania. Como a mídia tradicional é a única a operar como "propagandista" dos partidos de centro e de direita que nunca acharam necessário incorporar militância, formar quadros ou mesmo publicizar ideário, é de se supor que a capacidade de formação de consensos da mídia tradicional seja pouco significativa numa parcela do eleitorado que ascendeu recentemente ao mercado consumidor.

O bloco oposicionista, que inclui não apenas os partidos, mas a mídia tradicional, não entendeu as mudanças que ocorreram no país. O modelo partidário que trazem na cabeça é um que pressupõe alinhamento automático de parcelas da população com líderes distantes ou donos de votos locais, ou a submissão da "ignorância" popular à opinião formada por iluminados. O novo Brasil não comporta mais isso. Esse modelo de política é elitista, porque não parte do princípio que as pessoas são iguais inclusive no direito de formar uma opinião própria.

"Empresário" fonte da Folha acabou de sair da cadeia – por Luis Nassif

Alguns elementos para tentar entender essa nova denúncia da Folha:

1. Segundo informações da própria Folha, o acusador Rubnei Quícoli já foi condenado duas vezes em São Paulo (por interceptação de carga roubada e por posse de moeda falsificada). E em 2007 passou dez meses preso. O fato de antecipar as denúncias sobre sua fonte não absolve o jornal. Pelo contrário, é agravante. Quando uma pessoa com tal currículo faz uma denúncia, é praxe de qualquer jornalismo sério ouvir as denúncias e exigir a apresentação de provas.

2. A única prova que o tal consultor apresenta é um email marcando audiência na Casa Civil e que tem o nome de Vinicius Oliveira no C/C . Todo o restante são acusações declaratórias. Nenhum juiz do mundo tomaria como verdade acusações desacompanhadas de provas, de um sujeito que acaba de sair da cadeia.

3. O jornal não explica como um sujeito com duas condenações criminais, que passou dez meses na prisão dois anos atrás, pilota um projeto de R$ 9 bilhões. É apostar demais na ignorância dos leitores.

4. O BNDES é um banco técnico, constituído exclusivamente por funcionários de carreira trabalhando de forma colegiada. É impossível a qualquer pessoa – até seu presidente – influenciar a análise do comitê de crédito. Essa informação pode ser facilmente confirmada com qualquer ex-presidente do banco, de qualquer governo. É só conversar com o Luiz Carlos Mendonça de Barros, Pérsio Arida, Antonio Barros de Castro, Márcio Fortes – que foram presidentes durante o governo FHC. A ilação principal da reportagem – a de que o projeto de financiamento foi recusado pelo BNDES depois da empresa ter recusado a assessoria da Capital – não se sustenta. Coloca sob suspeita uma instituição de reconhecimento público fiando-se na palavra de um sujeito que já sofreu três condenações na Justiça e três anos atrás passou dez meses preso.

5. Existem empresas de consultoria que preparam projetos para o BNDES e cobram entre 5 a 7% sobre o valor financiado. É praxe no mercado. Confundir essa taxa com propina é má fé. Segundo o empresário que denunciou, Israel apresentou uma proposta de acompanhamento jurídico de processos da empresa, que acabou não sendo assinado. Tudo em cima de declarações.

6. Ninguém vai negociar propostas ocultas em reuniões formais na Casa Civil, à luz do dia. Só faltava.

Fatos e versões – por Marcos Coimbra (Correio Braziliense)

Nesse tipo de combate, não faz a menor diferença se algo é verdade ou não. Como é apenas uma guerra de versões, o que conta é falar alto

Nas eleições, como em tudo na vida, uma coisa são os fatos, outra as versões. E, nem sempre, aqueles são mais importantes. Na luta política, uma versão bem defendida vale mais que muitos fatos.

Uma vitória, por exemplo, pode ficar parecida a uma derrota, de tão diminuída e apequenada. Depende do que sobre ela se diz. Por maior e mais extraordinária que seja, os derrotados podem se vingar, ganhando a batalha das versões. Os vitoriosos, em vez de comemorar e receber elogios, ficam na posição de se explicar, se defender. Os perdedores lhes roubam a cena.

Neste fim de campanha eleitoral, à medida que nos aproximamos da data da eleição, a perspectiva de uma vitória de Dilma por larga margem só tem aumentado. Ao que tudo indica, ela vai conseguir o que Lula não conseguiu em nenhuma das eleições que disputou: ganhar no primeiro turno. A crer nos números das pesquisas, ela está prestes a alcançar, já em 3 de outubro, a votação que ele obteve apenas no segundo turno de 2006, quando chegou a 60% dos votos válidos. Não é nada, não é nada, Dilma tem tudo para se tornar, daqui a três semanas, a pessoa mais votada de nossa história.

Enquanto a eleição real avança, a guerra de narrativas sobre seu provável resultado está em curso. De um lado, a que é formulada pelas forças políticas e as correntes de opinião que não conseguiram apoio na sociedade para levar seu candidato à vitória. Do outro, a dos vencedores.

Paradoxalmente, são os prováveis derrotados na batalha eleitoral real que estão em vantagem na briga das versões. Vão perder, ao que parece, na contagem dos votos, mas têm, pelo menos por enquanto, o consolo de fazer que sua interpretação prevaleça.

É o oposto daquilo que o professor Edgar de Decca, da Unicamp, caracterizou há alguns anos. Escrevendo sobre a Revolução de 1930, ele mostrou que ela entrou para nossa história através da narrativa daqueles que a venceram. Tudo aquilo pelo qual se bateram os derrotados foi ignorado ou desconsiderado. Sobre aquele movimento, nossa historiografia só nos conta a versão dos vencedores. Ninguém mais se lembra do que queria o outro lado. Impôs-se a ele "o silêncio dos vencidos".

Em 2002, Lula e o PT venceram tanto a eleição quanto a batalha das versões. Quando o resultado objetivo foi proclamado, estava pronto um discurso: era "a vitória da esperança sobre o medo" e o Brasil podia sentir orgulho de sua própria coragem ao colocar na Presidência um metalúrgico. Ninguém deslegitimou o que as urnas disseram.

Se Lula começasse seu segundo mandato depois de uma apertada vitória sobre Alckmin no primeiro turno da eleição de 2006, seria complicado livrar-se da interpretação de que, depois do mensalão, havia diminuído de tamanho. Mas, no segundo turno, cresceu tanto que até seus detratores tiveram que reconhecer que nada indicava que fosse essa a realidade.

Agora, na véspera do que todos calculam ser a eleição de Dilma, está sendo elaborada uma versão que a reduz. Nela, a vitória é apresentada como um misto de manipulação ("usaram o Bolsa Família para comprar o voto dos miseráveis"), ilegalidade ("Lula passou por cima de nossa legislação eleitoral") e jogo sujo ("montaram um fábrica de dossiês para derrotar José Serra").

Nesse tipo de combate, não faz a menor diferença se algo é verdade ou não. Como é apenas uma guerra de versões, o que conta é falar alto. Quem tem meios de comunicação (jornais, revistas, emissoras de televisão) à disposição para propagandear seus argumentos, sempre leva vantagem. Pode até ganhar.

Que importa se apenas 20% do voto de Dilma vem de eleitores em cujo domicílio alguém recebe o benefício (ou seja, que ela tem votos suficientes para ganhar no primeiro turno ainda que esses fossem proibidos de votar)? Que importa se nossas leis são tão inadequadas que até uma passeata de humoristas a modifica? Que importa se nada do resultado da eleição pode ser debitado a qualquer dossiê, existente ou imaginado?

Mas fatos são sempre fatos. E as versões, por mais insistentes que sejam, não os modificam. Ganha-se no grito, mas perde-se no voto. Lá na frente, os fatos terminarão por se impor.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nota à imprensa - por Erenice Guerra (ministra chefe da casa civil da presidência da república)

1. Encaminhei aos Ministros Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União, e Luis Paulo Teles, da Justiça, ofícios em que solicito que se procedam todas as investigações necessárias no sentido de apurar rigorosamente os fatos relatados em matéria publicada pela revista Veja, em sua edição mais recente, e que envolvem tanto minha conduta administrativa quanto a de familiares meus.

2. Espero celeridade e creio na exação e competência das autoridades às quais solicitei tais apurações.

3. Reafirmo ser fundamental defender-me de forma aberta e transparente das mentiras assacadas pela revista Veja. E assim o faço diante daquela que já é a mais desmentida e desmoralizada das matérias publicadas ao longo da história da imprensa brasileira.

4. Lamento, sinceramente, que por conta da exploração político-eleitoral, mais que distorcer ou inventar fatos, se invista contra a honra alheia sem o menor pudor, sem qualquer respeito humano ou, no mínimo, com a total ausência de qualquer critério profissional ou ética jornalística.

5. Chamo a atenção do Brasil para a impressionante e indisfarçável campanha de difamação que se inicia contra minha pessoa, minha vida e minha família, sem nada poupar, apenas em favor de um candidato aético e já derrotado, em tentativa desesperada da criação de um “fato novo” que anime aqueles a quem o povo brasileiro tem rejeitado.

6. Pois o fato novo está criado e diante dos olhos da Nação: é minha disposição inabalável de enfrentar a mentira com a força da verdade e resoluta fé na Justiça de meu país, sem medo e sem ódio.


Erenice Guerra
Ministra-Chefe da Casa Civil da Presidência da República
14 de Setembro de 2010

Cadê o escândalo que estava aqui? – por Luis Nassif (blog do Nassif)

 Como funciona o esquema de subjornalismo de criação de escândalos?

Solta-se a primeira matéria, com um suposto escândalo graúdo. No caso atual, a tal reportagem da Veja informando que Erenice Guerra recebeu propinas no valor de R$ 5,8 milhões; que tinha reuniões em sua casa com o lobista, nas quais eram proibidos equipamentos que pudessem conter gravadores; que disse que o dinheiro era para financiar atividades políticas do Planalto. Só isso. Fosse verdade, não apenas Erenice, mas a República teria caído.

Uma marotagem visando eximir o lobista de apresentar provas - a história de que não podia ir a reuniões com Erenice nem com canetas - é apresentada por insignes jornalistas como prova de que os fatos ocorreram. A denúncia se resume a provas declaratórias - se é que houve - de um lobista que mentia até sobre seu cargo na empresa que assessorava.

Em cima desse fato, começam repercussões de qualquer tipo, mesmo que nada tenham a ver com a denúncia principal. Cada denúncia, por mais besta que seja, é acompanhada de um pró-memória de que fulano foi acusado de cobrar propinas. Não se tem um dado objetivo sequer corroborando a acusação-mãe, mas ela é repetida como se fosse verdade sacramentada.

Tome-se a Folha de hoje. A denúncia original - dos R$ 5,8 milhões destinados a abastecer o esquema palaciano - sumiu completamente.do noticiário. Os ecos, não.

Matéria de primeira página sobre desvios da Universidade Nacional de Brasília, envolvendo o irmão da Erenice. A chamada informa que "pagamentos suspeitos incluem ao menos R$ 134 mil para o próprio Euricélio e para Israel Guerra, filho de Erenice". Internamente, a informação completa de que Israel recebeu três pagamentos de... R$ 5 mil.

No Estadão, o repórter Leandro Colon - um campeão! - informa que o email enviado por Israel Guerra à revista Veja "passou pelo crivo do Palácio". Antes de enviar à Veja, Israel passou a mensagem para Vinicius Castro, que fazia bicos com ele, era assessor no Palácio e foi exonerado a pedido. Na matéria de Leandro, assessor de terceira linha que recebeu o email representa "o crivo do Palácio".

Lembra muito malandragens jornalísticas dos anos 70. Os jornalistas mais influentes tinham acesso a Golbery do Couto e Silva; os que não dispunham de fontes nobres, ao sargento Quinsan - ajudante de ordens no Palácio. Conversavam com Quinsan e atribuíam as declarações a "fontes do Palácio". Valia para Quinsan, mas valia para Giolbery. O Estadão - que se orgulha de ter na direção de jornalismo figuras ilustres ligadas à Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), permite que um email para um terceiro escalão seja tratado como tendo passado "pelo crivo do Palácio".

Conclui o bravo Leandro: "Os dois são apontados como mentores de um esquema de lobby e cobrança de propinas de empresas que tentam fechar contratos com órgãos públicos ligados ao governo federal". Cadê a Abraji? Cadê o jornalismo?

O Planalto constata que não há nenhuma evidência de que Erenice tenha praticado lobby. Merval Pereira, na rádio CBN, diz que "para evitar constrangimentos para a candidatura Dilma" o Palácio não irá demitir Erenice. Mas traz a relevante informação de que fontes do Palácio admitem que se aparecerem outras acusações, Erenice será demitida... para proteger a candidatura Dilma. Uma informação tão relevante quanto dizer que se eu descobrir que Merval matou alguém, ele será denunciado. Aí se enrola todo no comentário para explicar aos atentos ouvintes porque a Erenice não será demitida para preservar a candidatura Dilma; e será demitida se aparecerem mais coisas para preservar a candidatura Dilma. Um trololó dos diabos.

Aí a brava equipe da rádio CBN em Brasília ouve o deputado federal Paulinho Bornhausen que diz que a denúncia se refere ao maior esquema de corrupção já descoberto em Brasília. Só isso.

Tudo isso se dá ao mesmo tempo em que a revista Carta Capital revela que, no auge do boom da Internet, Verônica Serra, filha de Serra, em sociedade com Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas, montou um site em Miami que prometia informações bancárias sobre TODOS os brasileiros, acesso a bancos de dados de comércio exterior e outros bancos de dados do Estado brasileiro. Informa também que o site conseguiu montar um convênio com o Banco Central que lhe repassou todas as informações, inclusive de quem emitia cheques sem fundo - que foram vazadas depois.

Ora, quem acompanhava o boom da Internet sabe que, na época, a mera autorização do BC para que o site acessasse seus dados - algo inédito no mundo - teria feito seu preço valer dezenas de milhões de dólares. A jogada não foi adiante porque a bolha da Internet estourou. Verônica conseguiu essa parceria com o Banco Central no tempo em que seu pai era Ministro da Saúde do governo. E no mesmo ano em que ela transferiu lucros do exterior para o Brasil e comprou a casa que seus pais moravam desde os anos 80 (que diziam ser alugada) e doou ao pai. Todas essas informações (sobre a compra da casa) constam de nota oficial do próprio advogado de Serra, em 2002. Belo gesto de amor filial, mas que não pode ser visto independentemente da sua atividade no exterior.

No entanto, a primeira página da Folha é para os R$ 15 mil de Israel Guerra.

Crítica da razão indefesa - por Washington Araújo (Observatório da Imprensa)

Certa vez em uma entrevista, um diretor polonês disse que, por um longo tempo, a mídia em seu país havia dedicado sua primeira página todos os dias para falar sobre o governo sem nunca reportar que os cidadãos estavam fugindo em massa para Londres em busca de um futuro melhor. O diretor disse que um dia recebeu a mensagem dando conta que 1 milhão de poloneses havia emigrado de seu país. E, finalmente, foi com essa imagem da massa de emigrantes que os jornais formaram suas primeiras páginas.

Há que se perguntar como é que tão grande número de poloneses saiu do país sem que ao menos isso fosse noticiado? A verdade é que os jornais tinham, àquela altura, se distanciado profundamente da sociedade que buscavam retratar. Colocaram tanto foco nas minúcias, nos detalhes que ajudavam a perceber a realidade mais ao seu gosto, que perderam qualquer contato com a imagem da floresta. Isto me faz refletir sobre o momento atual por que atravessam nossos grandes conglomerados midiáticos. Estes cerram fileiras em torno dos grãos.

Todo esforço, todo grama de energia, todo milésimo de segundo é dedicado integralmente a potencializar o que sentem ser um retrato fiel da sociedade brasileira na atualidade. Hoje, imensas trilhas foram abertas nas florestas da informação, mas a grande imprensa não consegue nem mesmo ver as árvores. Para ela, uma ou duas folhas de uma árvore assumem importância tal que podem obliterar o conjunto todo.

Excesso de bordões

Neste contexto penso que para chegarmos sãos e salvos ao dia 3 de outubro haveremos ainda que passar por manchetes diárias estampadas em nossa grande imprensa (Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, O Globo) dando conta da violação de sigilos fiscais de adicionais 21 pessoas intimamente relacionadas com a família do candidato José Serra. Após a quebra do sigilo da filha e do genro, do primo de sua mulher, ainda saberemos que foram ao meio fio os sigilos da sogra, da sobrinha, de dois tios, de uma comadre de sua filha e de sua afilhada. É o jornalismo conta-gotas, como se a sociedade estivesse recebendo ao longo das próximas semanas doses diárias do homeopático Beladona.

O meio mais eficaz para banalizar um crime é tratá-lo como banal. Simples assim. E é isto o que a imprensa paulista, aquela que se autointitula de abrangência nacional, vem fazendo desde os últimos dias e deverá pautar sua equipe de "opinionistas" e colaboradores: a cada dia o escândalo requentado busca render imagens "na medida" para atender interesses eleitorais na propaganda veiculada na tevê.

Ora, jornalismo geralmente envolve a arte e o ofício de refletir a realidade com os dados verificados, a fim de dar aos indivíduos o instrumental necessário para formar uma opinião construída sobre aquilo que acontece e como isso lhe pode afetar. É a esse jornalismo que nos dedicamos, e onde alguns atuam com mais ou com menos assertividade, com mais ou com menos credibilidade para, ao fim, poder visualizar essa foto do momento atual.

No caso dos sigilos há excesso nos enfoques: o culpado não pode ser outro que não o PT, a candidata governista. Excesso nos métodos: os jornais publicam a mesma manchete com leves alterações. Excesso no espaço: primeira página, editorial, caderno eleições. Excesso na contundência: a candidatura do governo precisa ser cassada pelo TSE. Excesso na repetição de bordões e frases feitas: terrorismo de Estado, crime fiscal hediondo, crime de lesa pátria, ilegalidade abominável. Excesso de opinião: todos os que têm a opinião impressa falam a mesma língua, usam os mesmos recursos lingüísticos e se estivessem em bancada de telejornal da noite, fariam as mesmas caras e bocas.

Libelo diários

Não por coincidência é um caso abordado por meio de muitos adjetivos e pouquíssimos substantivos. É que falta a verificação de dados: que informações sigilosas vieram à luz do dia? Falta clareza sobre os autores reais porque são privilegiados autores imaginários que se confundem, não por artes do destino, com a candidata majoritariamente mais bem avaliada em um mix de pesquisas de opinião.

De repente, nós encontramos um conjunto de casos em que as publicações fazem marcha batida para a direita, uma direção que até bem pouco parecia completamente escondida, mas que agora parece estar em seu habitat natural. Ao emitir esta percepção quero salientar que não estou falando de ideologia, de uma luta leal entre os argumentos concorrentes e diferentes pontos de vista.

Refiro-me a jornalistas e a políticos que consideram a busca da verdade nada mais que uma quimera. Profissionais que chegam primeiro às conclusões para depois construir os marcos indispensáveis à formulação de uma tese. Profissionais que difundem suas opiniões na forma de notícias sem atentar para o ritmo que a lógica impôs há séculos no discurso racional e que deve tornar sólida a democracia. Não posso deixar de ver que tal técnica de ignorar a lógica e atacar a verdade pode conduzir o Brasil a um caminho de tristíssima memória, que remonta aos primeiros anos de 1960, que conduz ao acirramento dos ânimos onde a luta pelo poder tem como insígnia a compreensão equivocada que os fins sempre estarão a serviço dos meios.

Quando a propagação de um jornalismo partidarizado se une à política convencional, temos o perigo real. Uma fábrica de manipulação quando começa a funcionar durante duas horas ao dia é prenúncio de que logo estará funcionando 24 horas ao dia, em três turnos ininterruptos. E não há nada pior do que estes libelos diários a atiçar os piores instintos da sociedade: alguns partidos sem líderes capazes de se manter frios e que se coloquem em defesa da razão. À ausência de tal liderança calma e clara em nossos principais partidos em tempos de crise, aliado ainda à guerra contra a verdade e a lógica, podem apenas nos trazer maus presságios.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O bode expiatório – por Mino Carta (CartaCapital)

Os antigos donos do poder preparam-se para jogar sobre os ombros de José Serra a culpa pela próxima derrota.

Bom pai José Serra é. Mas basta isso para ser candidato à Presidência da República? Espantado, ouço estranhas, surpreendentes conversas pelos locais das horas felizes, os mesmos onde, até há pouco, pouquíssimo tempo, Serra era apontado como o aspirante “preparado”, concorrente, imbatível contra Dilma, “a guerrilheira” sem experiência eleitoral. Dramaticamente despreparada. Pois o tucano, conforme as falas que me cercam, começa a ganhar as inconfundíveis feições de bode expiatório. De certa forma, um Dunga da política.

Os cavalheiros e suas damas faiscantes de berloques e pedrarias buscam uma explicação para o desastre que se esboça. É com melancolia que tomam seu vinho de rótulo retumbante, a girar o copo em curtas evoluções aprendidas não sem fadiga psicossomática nos últimos anos. Aplicados discípulos do up-to-date, substituíram o uísque que os acompanhava horas a fio até ao jantar, enquanto, na hora do almoço, surgem de gravata amarela nos restaurantes finos e caríssimos. Salvo raras e honrosas exceções, entraram na parada com a certeza da vitória. Seria o seu próprio triunfo, por sobre os escombros de Lula e do lulismo, perdão, de Lulla e do lullismo. Se a Seleção Canarinho perde, é por vontade divina, ou porque o técnico errou. E se perde o candidato Serra, de quem a culpa?

Não faltam os técnicos, ou seja, os marqueteiros, uma corte de especialistas não se sabe com exatidão em que matéria, tidos, porém, como indispensáveis nas nossas paragens. Às vezes me pego a imaginar Roosevelt ou Churchill, ou mesmo Zapatero e a senhora Merkel, que invocam a presença de peritos à sua volta para instruí-los como diretor de teatro faz com seus atores.

Os marqueteiros nativos são iguais à mítica fênix. Imortais, reaparecem sempre porque sempre perdoados. Vai sobrar para o próprio Serra, não ficou à altura das esperanças. Caiu em incertezas e confusões que seus eleitores cativos, tão fiéis, tão dedicados, não imaginavam. Não mereciam. Já está em elaboração a listagem dos erros do candidato tucano. Demorou demais para anunciar a candidatura. Não soube cativar Aécio. Imprimiu à campanha direções diversas e até opostas. Etc. etc.

Não é que a mídia não tenha colaborado para a vitória tucana. Formidável mídia, de tucanagem ampla, geral e irrestrita. Um instituto de pesquisas, o Datafolha, também participou do esforço. Surgiu ainda a denúncia, também apelidada de dossiê, a lembrar histórias de aloprados e mensalões. E nada? Culpa do Serra, dirão os senhores e suas damas. E me vejo, de improviso, a me compadecer, sinceramente, do futuro, iminente derrotado, em quem reconheci, e reconheço, muitas qualidades.

O erro de Serra foi ter caído na esparrela urdida por Lula, a do plebiscito inescapável, sem perceber, além da força dos adversários, a mudança que o ex-metalúrgico guindado à Presidência acarretou para o País, acima e além de alguns bons e inegáveis resultados alcançados por seu governo. A situação, precipitada em grande parte pela identificação entre a maioria e seu presidente plebeu, digamos assim, acabou por empurrar Serra para a direita como nesta página foi observado inúmeras vezes. O ex-presidente da UNE, perseguido pela ditadura, tornou-se representante de um partido fadado a ocupar o mesmo espaço outrora preenchido pela UDN velha de guerra.

Sublinhei também que Serra nunca recomendou “esqueçam o que eu disse”. Mesmo assim, na alternância contraditória das rotas da sua campanha, o candidato tucano amiúde, e lamentavelmente, permitiu-se tons udenistas adequados à exposição de ideias idem. Vivêssemos outro tempo, nada disso importaria, está claro. Empenhada em assustar a minoria privilegiada, a mídia nativa teve êxito em 1989, 1994 e 1998, contra o espantalho do Sapo Barbudo. Faz oito anos, contudo, que os argumentos da chamada elite não logram os resultados de antanho, mas Serra e os seus eleitores não se deram conta disso até hoje.

Esta incapacidade de compreender um Brasil diverso daquele sonhado, esta ignorância, é que confere um toque patético à derrota da minoria privilegiada, dos herdeiros e cultores de um passado que os fez donos do poder. Não são mais, a despeito da descoberta do vinho servido em taças, como dizem os maîtres.

O exterminador de vice – por Brizola Neto (Tijolaço)

José Serra deve ter perdido hoje até o voto do seu vice. Em palestra na Ordem dos Advogados do Brasil, em Brasília, contou ter feito uma emenda para não ter vice, que considera “uma coisa que vem do passado”.

O tucano não devia se preocupar muito com isso pela irrelevância do seu vice, mas com sua “sutileza” e desprezo aos aliados atingiu diretamente seu companheiro de chapa e também ao DEM, responsável pela indicação.

“O vice hoje é para composição política. Muitas vezes soma ao contrário”, afirmou Serra, certamente querendo jogar nas costas do Da Costa a culpa pela seu inexorável despencar

Coitado do Da Costa, nem bem pôs as asinhas de fora e já foi atingido por flecha amiga. Muy amiga.



Comentário


Serra sendo Serra.

Pres. Zezinho vai distribuir revista Veja em todas as cadeias do Brasil - por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/09/14/pres-zezinho-vai-distribuir-revista-veja-em-todas-as-cadeias-do-brasil/

Mundo reconhece Bolsa Família. Já por aqui… - por Brizola Neto (Tijolaço)

Ainda antes de se tornar presidente da República, Lula dizia em campanha que seu sonho era que os brasileiros pudessem fazer três refeições por dia. Lula já tinha experimentado a fome e quem a conhece jamais esquece.

Assim que foi eleito, Lula criou o Fome Zero e depois o Bolsa Família, programas sociais de grande alcance, que mudaram a face do país. Por isso é uma satisfação para todos que amam esse país ver o relatório da Action Aid apontar o Brasil na liderança do ranking de combate à fome pelo segundo ano consecutivo e ler matéria do jornal francês Le Monde sob o título “No Brasil, 12 milhões de famílias comem graças a uma bolsa”.

O que os tucanos consideram uma bolsa de sustentar vagabundo e sempre atacaram como clientelista corresponde apenas a 2% do orçamento do governo e reduziu a desnutrição infantil a 73%.

No Brasil não se morre mais de fome. Só não tem acesso ao Bolsa Família os que não conseguem se cadastrar por problemas nos municípios e Estados, como São Paulo.

A correspondente do Le Monde no Brasil escreve logo no início do seu texto que o Fome Zero foi um dos primeiros atos do mandato de Lula, em 1 de janeiro de 2003, e que oito anos mais tarde, a três meses de deixar a presidência, o chefe de Estado se regozija com os resultados obtidos: 28 milhões de brasileiros saíram da miséria. Em 2003, 12% da população (22 milhões) sofriam com a fome, uma taxa reduzida a 4,8% em 2008 (10 milhões).

O Le Monde destaca que o Bolsa Família atinge 50 milhões de pessoas e se tornou o maior programa de distribuição de riqueza do mundo.

O diretor do Ibase, Candido Gryzbowski, comenta que o Bolsa Família respondeu uma questão urgente, mas que se for suspenso amanhã as pessoas voltam a morrer de fome. “Falta completar as reformas estruturais, especialmente na educação, para oferecer um outro futuro às crianças”, advertiu.

O coordenador da candidatura de Dilma, Alessandro Teixeira, é ouvido pelo jornal francês e afirma que o “problema da fome continua sendo uma preocupação para Dilma, que, se eleita, melhorará o Bolsa Família”. O Le Monde afirma que Serra se comprometeu a manter o programa, mas ressalta que o PSDB o classificou de “assistencialista”.

A matéria termina com uma importante declaração de Marco Aurélio Garcia, ex-assessor internacional da Presidência e um dos coordenadores da campanha de Dilma, de que “o Brasil jamais teria credibilidade na cena mundial se tivesse ignorado suas terríveis desigualdades sociais e sua população morrendo de fome.”

A política do governo no combate à fome a às desigualdades também é elogiada no relatório “Quem está realmente combatendo a fome”, da ONG Action Aid, que destaca os efeitos positivos do Bolsa Família e do Fome Zero.

O relatório cobra do Brasil um avanço maior nas políticas de incentivo à agricultura em pequenas propriedades, embora reconheça que o governo passou a investir “muito mais” no setor.