sábado, 30 de abril de 2011

O projeto Serra de implodir o PSDB - por Luis Nassif

Em 2008, quando abandonou o candidato natural do partido a prefeito, Geraldo Alckmin, para apoiar a candidatura de Gilberto Kassab, a suposta habilidade de Jose Serra foi enaltecida pela bancada da mídia.

Era um engano nítido, que rachava o partido sem nada agregar.

No plano nacional, a aliança com o DEM era sólida, não dependia da aliança paulista. No plano estadual, o DEM era um partido inexpressivo.

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Não havia lógica partidária nem eleitoral que justificasse aquele movimento. Ao se definir por Kassab, o único objetivo de Serra foi o de tentar destruir a liderança de Alckmin no PSDB paulista.

Simultaneamente, os secretários mais ligados a Serra passaram como um trator por cima dos correligionários de Alckmin.

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Assim como no xadrez, na política jogadas erradas comprometem o restante do jogo

Ao relento, Alckmin ficou exposto ao assédio do governador mineiro Aécio Neves. Para impedir a consumação aliança entre ambos, Serra se viu compelido a convidar Alckmin para assumir a Agencia Paulista de Desenvolvimento.

Foi uma jogada tática, de quem não consegue enxergar mais que uma semana na frente, um erro para corrigir o erro inicial e que não apagou as mágoas recíprocas. Alckmin preservava a amizade e lealdade dos prefeitos do partido, enquanto dia a dia Serra criava conflitos por sua grosseria e falta de atenção aos correligionários.

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Na pré-eleição foi a vez de Serra implodir com a candidatura de Aécio Neves, ao impedir as prévias eleitorais.

Durante a campanha eleitoral, Alckmin foi o mais fiel dos cabos eleitorais de Serra. Em todos os momentos defendeu o legado de FHC, percorreu o estado com Serra, dentro das normas de lealdade partidária que cimentam os partidos.

Terminadas as eleições, tratou de passar como um trator sobre os quadros serristas remanescentes na administração estadual.

De seu lado, no plano nacional Serra foi colecionando enorme lista de desafetos no PSDB (Sérgio Guerra), no DEM (Rodrigo Maia, João Alves). Hoje em dia, o DEM caminha para os braços de Aécio e os seguidores de Serra no Congresso Nacional se resumem a dois ou três deputados.

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Perdendo o controle do PSDB nacional, sem chances junto ao PSDB estadual, a saída encontrada por Serra foi ajudar a implodir o partido, dando gás à aventura do prefeito paulistano Gilberto Kassab, de fundar o PSD.

Qual a lógica política que move Serra? Novamente nenhuma. O PSD vai sangrar o PSDB e o DEM de políticos ansiosos por engrossar a base de apoio do governo federal. Vai minguar ainda mais a oposição, peça essencial em qualquer jogo democrático.

Enquanto Fernando Henrique Cardoso tenta de todos os modos manter a unidade partidária, Serra se compraz com os problemas que trouxe para seus adversários dentro do partido – ainda que à custa do próprio sacrifício do PSDB e do enfraquecimento da oposição.

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Durante as eleições era mais difícil identificar o verdadeiro perfil de Serra. Passado o período de guerra, consolida-se como o mais deletério personagem da história política contemporânea.

Tenta implodir o PSDB quando o partido poderia renascer sob nova direção.

Comentário
O fato de José Serra implodir o PSDB é óbvio. Como grande liderança do partido, deveria interceder junto aos atuais vereadores para impedir sua saída, porém, desapareceu na crise. Porém, não creio que ele seja o responsável pela atual crise. Ela é mesmo de Alckmin, que impôs uma candidatura tola a prefeito em 2008, onde sequer conseguiu ir para o segundo turno.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Jornalismo e economia uma combinação perigosa – por Paulo Daniel (CartaCapital)

Para alguns, economia pode ser uma ciência de difícil compreensão, ainda mais quando se usa o economês, ao relatar ou comentar um processo econômico, este, em sua maioria, é realizado por jornalistas, mas pouquíssimos, com raríssimas exceções, procuram fazer uma análise mais detalhada e criteriosa e, também, por que não dizer, relativamente mais acessível.
Ao comentar sobre a crise européia, a única justificativa que se tem, são os altos gastos do governo, como a previdência, saúde, educação etc., mas esquecem-se de relatar o alto grau de financeirização da economia européia.
Ou no caso brasileiro, nos faz parecer que o único remédio para a inflação é o aumento dos juros, ou então, os gastos do governo precisam ser reduzidos, mas jamais afirmam qual gasto é o mais alto, ou onde cortariam, sem contar que; não diferenciam os tipos de inflações e se realmente vivemos um surto inflacionário. O contexto internacional é completamente escanteado do noticiário, quando o fazem, é de maneira errática.
Ao falar de orçamento público, é uma tragédia, tentam comparar um orçamento familiar ou de uma empresa, com o público, são ambientes e peças diferentes, por uma razão muito simples, o Estado tem o poder de emitir moeda e títulos públicos, ou seja, tem a capacidade de auto-financiar, evidentemente, haverá conseqüências, mas não se pode negar jamais essa solução.
Neste sentido, é importante lembrar que a economia não possui um único pensamento, e, por isso, o tecnicismo puro é inexistente. É mais do que necessário levar em conta as relações sociais e de classe, a história e a política. Não que a economia seja uma ciência menor, é justamente o contrário, é por conta da economia que os interesses afloram, divergem e comungam.
Ao emitir uma opinião, os veículos de comunicação têm uma determinada opção política e social e isto é importante e necessário, mas seria de relevante importância e honestidade, se afirmassem de que lado estão, para que os ouvintes, os(as) leitores(as), ou telespectadores saibam suas causas e conseqüências de um determinado pensamento econômico e jornalístico.
Portanto, ao se encontrarem, o jornalismo e a economia, atrelado a política, podem fazer estragos incomensuráveis em uma determinada sociedade. Por exemplo, no Brasil, a quem interessa propagar que existe um surto inflacionário?
Desde 1999, com a introdução da política de metas de inflação, em nenhum momento atingiu-se o centro da meta, algo tão desejado pelos governos e, em particular, pelo Banco Central. Façamos a seguinte constatação: Em 2001 a meta de inflação, conforme resolução do Banco Central era de 4% a.a., mas atingiu 7,67%a.a. praticamente o dobro, no ano seguinte; em 2002, a meta inflacionária foi audaciosa, ou porque não dizer, irresponsável, era de 3,5% a.a. e bateu a casa dos dois dígitos, com 12,53%a.a. 3,6 vezes maior do que o almejado.
Nesses dois momentos, pelo menos grande parte da mídia, nunca se falou em surto inflacionário, ou até mesmo, em riscos de volta da inflação como se fala atualmente, um reflexo claro de que há lado nessa história, não há isenção da notícia ou da análise econômica. Isso não quer dizer que vivemos um período de não inflação, mas é importante constatar que atualmente a inflação é um fenômeno global. Para citar os BRICs, na Rússia há uma projeção de 9%a.a, na Índia 7%a.a, na China 5%a.a e no Brasil poderemos chegar a 6%a.a.
Uma sociedade se desenvolve não somente só, com uma única opinião, mas sim, com suas divergências e convergências, para tanto, é mais do que urgente jornalistas e economistas ao comentarem um processo econômico, tenham no mínimo a honestidade de dizerem que pensamento econômico estão inseridos. Informação é poder! Por isso, pode-se desejar compartilhar ou concentrar de acordo com os interesses estabelecidos.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Antinomia política

No Brasil, caso clássico, a mesma pessoa que despende loas e mais loas a velha puta chamada democracia, defende arduamente a autonomia do Banco Central. E aí eu pergunto: ¿quem elegeria os diretores do BC quando tal autonomia lhes fosse concedida? ¿Quem controlaria a política econômica do país? ¿Quando algo desse errado, como conseguiríamos substituí-los de lá, já que não teríamos direito a voto para derrubá-los?
Poderia explanar em longas palavras a profunda antinomia de se defender as duas coisas simultaneamente, mas não é necessário: contra a safadeza não há palavras que bastem.

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Cito, para lembrar o grande mestre Saramago, algumas tratativas suas sobre governos e democracia.

“O grande mal que pode acontecer às democracias — e penso que todas elas sofrem em maior ou menor grau dessa doença — é viverem da aparência. Isto é, desde que funcionem os partidos, a liberdade de expressão, no seu sentido mais directo e imediato, o Governo, os tribunais, a chefia do Estado, desde que tudo isto pareça funcionar harmonicamente, e haja eleições e toda a gente vote, as pessoas preocupam-se pouco com procedimentos gravemente antidemocráticos”.


“O que temos chamado de “poder político” converteu-se em mero “comissário político” do poder económico.”


“O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.”


“Na falsa democracia mundial, o cidadão está à deriva, sem a oportunidade de intervir politicamente e mudar o mundo. Actualmente, somos seres impotentes diante de instituições democráticas das quais não conseguimos nem chegar perto.”


“Quando digo que a democracia se suicida diariamente, perde espessura e se desgasta, diminuindo a sua densidade, estou a falar de um sentimento que nos afecta, a nós, cidadãos. Sentimos, e sofremos com isso, que não temos importância no modo como funciona a sociedade.”


“O pior que pode acontecer-nos é resignarmo-nos a não saber. Há que aprender a voltar a dizer não, e a perguntarmo-nos porquê, para quê e para quem. Se encontrássemos respostas para estas perguntas, no melhor dos casos entenderíamos o mundo.”

Luiz Eduardo Soares: "Há uma imensa negligência com a questão da arma no Brasil" – por Poder Online (IG)

A sociedade brasileira não pode se iludir. Crimes como o assassinato de estudantes na escola Tasso de Silveira no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, podem acontecer de novo. A opinião é do ex-secretário nacional de Segurança Pública, o antropólogo Luiz Eduardo Soares. Para ele, apesar de não ser previsível e controlável, a tragédia poderia ter sido evitada "se não houvesse essa imensa negligência com a questão da arma no Brasil".

Nesta entrevista ao Poder Online, Soares, que também foi coordenador de segurança do Estado do Rio de Janeiro (de 1999 a 2000), defende que o governo crie todas as todas as dificuldades possíveis para que as armas não cheguem até os cidadãos. Inclusive aos cidadãos de bem. "É uma ilusão achar que o indivíduo não profissional pode recorrer às armas para se defender."

Poder Online – O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a tragédia de Realengo reforça a necessidade de ações mais enérgicas do governo contra o uso das armas e anunciou que uma nova campanha pelo desarmamento começa em junho. Como o senhor vê essa decisão?
Luiz Eduardo Soares - É muito importante, sábia, madura e no caminho correto. Não temos nenhuma alternativa agora senão procurar evitar que as loucuras e transtornos individuais se armem. Não podemos impedir que os seres humanos vivenciem situações que lhes conduzam a extremos como o que testemunhamos. Em alguns casos é até possível, mas há casos – como este – que são absolutamente incontroláveis e imprevisíveis. Não há como blindarmos e protegermos todas as escolas e crianças, infelizmente. No entanto, nós podemos, sim, impedir que essas perversões individuais se armem. Essa é a nossa responsabilidade. Sabemos há muitos e muitos anos que a disponibilidade de armas é um dos fatores preponderantes que condicionam os níveis elevadíssimos de homicídios dolosos no Brasil. Sabemos que a melhor forma, portanto, de reduzir os homicídios e controlar essa dinâmica trágica é criar todas as dificuldades possíveis para que as armas não cheguem até os cidadãos.

Poder Online - E os que justificam que compram as armas para se defender?
Luiz Eduardo Soares - A regra também é para os cidadãos de bem, que muitas vezes acabam recorrendo às armas, mas que em um determinado momento, ao invés de ser um instrumento de proteção, se converte num acervo de destruição. É uma ilusão achar que o indivíduo não profissional pode recorrer às armas para se defender. Esses são exceção. As estatísticas apontam o contrário: mesmo entre cidadãos de bem as armas não ajudam. Elas aumentam as chances de acidentes, aumentam as chances de homicídios, fazem com que a violência doméstica se converta em tragédia letal. Por todas as razões do mundo, as armas devem ser controladas. Temos hoje no Brasil cerca de 16 milhões de armas na sociedade. Sendo que metade delas é ilegal. Estão circulando ilegalmente e as instituições públicas não têm sido capaz de controlar essa disseminação. É preciso uma atitude muito mais rigorosa por parte das autoridades políticas.

Poder Online - A decisão do governo de lançar a campanha de desarmamento no meio da tragédia foi uma forma de dar uma resposta à sociedade?
Luiz Eduardo Soares - Claro que sim. A sociedade esperava do governo algum pronunciamento, alguma resposta, algum tipo de iniciativa que sugerisse uma reação. Não se pode simplesmente contemplar a tragédia de braços cruzados. Ela, infelizmente, já aconteceu. Mas o dever dos governantes é examinar a situação, analisar o quadro e encontrar uma maneira de agir para que casos futuros, se não forem impedidos, sejam pelo menos reduzidos em probabilidade. Sabemos que o único vertente, neste caso, passível de controle por parte do poder público é o acesso às armas. Isso tem a ver não só com essas loucuras perversas que podem se disseminar no Brasil, como também com a própria dinâmica usual da segurança pública.

Poder Online - O senhor acredita que a tragédia de Realengo tem a ver com o resultado do referendo de 2005, quando mais de 60% votou contra a proibição do comércio de armas de fogo e munição no Brasil?
Luiz Eduardo Soares - Não é que tem a ver com o referendo. O Brasil avançou bastante nessa área de controle de armas porque se constituiu uma consciência a respeito disso na sociedade. Vou lhe dar um exemplo bastante prático: em 1999, quando estive no governo do Rio com responsabilidade na área da segurança, liderei uma campanha pelo desarmamento e propus, com colegas da equipe e com interlocutores na sociedade civil e também no governo, uma pesquisa a respeito das armas no Rio de Janeiro. Tínhamos 350 mil armas que estavam sob a cautela do Estado, armazenadas em um depósito especialmente construído para isso na Polícia Civil. Fizemos a pesquisa e chegamos a uma conclusão que a imensa maioria, cerca de 85% dessas armas que tinham sido recolhidas, era constituída por pistolas e revólveres. Ou seja, identificamos, portanto, que eram as armas leves e nacionais que estavam alimentado a criminalidade. Essas primeiras informações punham por terra os mitos de que os problemas eram armas importadas, contrabandeadas e longas. Além disso, fizemos também um apelo ao Exército, responsável pelas armas do país, que nos apresentasse a lista com os nomes dos proprietários das armas que tinham seus números identificados. Queríamos saber quem as tinham comprado. Para a nossa perplexidade, 90% dos proprietários daquelas armas que caíram nas mãos dos criminosos eram pessoas inexistentes, eram identidades falsas. O que significa que as informações oficiais brasileiras eram informações falsificadas já na base da comercialização. E elas não estavam sendo checadas e verificadas. Era como se não estivéssemos em meio a uma imensa tragédia na segurança pública. A tragédia estava sendo tratada com negligência, não estava tendo a atenção necessária na fiscalização.

Poder Online - É possível afirmar que houve avanços desde então?
Luiz Eduardo Soares - Esse quadro aterrador de negligência e indiferença de todos os poderes – da Polícia Federal, do Exército, dos governos dos Estados e da própria sociedade – nos mostrou que estávamos nos tornando muito vulneráveis. E acho que houve um avanço muito grande desde esses primeiros esforços, que acabou se sintetizando e se expressando no referendo de 2005. Infelizmente, por uma série de questões, o referendo foi muito mal conduzido, as propostas de proibição ao comércio de armas foram mal apresentadas e não foram compreendidas adequadamente. Os lobbies das armas acabaram se aproveitando da crise política do governo, que não teve liderança política o suficiente - por falta de credibilidade – para apontar um caminho alternativo. E esse contexto muito particular fez com que nós sofrêssemos uma tremenda derrota. Mas, apesar dessa derrota, já tínhamos conseguido alguns avanços, inclusive na própria constituição do Estatuto do Desarmamento. E esses avanços, de acordo com vários pesquisadores, já foram suficientes para promover uma redução no número de homicídios.

Poder Online - Mas o fato de uma das armas usadas pelo atirador na tragédia de Realengo ter sido roubada há mais de dez anos e a facilidade para comprar munições não mostra que ainda há muito no que se avançar?
Luiz Eduardo Soares - No Brasil há ainda uma leniência e uma tolerância enorme com as práticas irresponsáveis e até criminosas na negociação no comércio das armas. A verdade é que qualquer um pode ter acesso a armas no Brasil porque há muita facilidade para transgredir as normas. Precisamos fazer com que as normas restritivas – que são insuficientes, mas são as que existem – sejam praticadas. Mas para isso é preciso que haja fiscalização. Temos de ver as instituições motivadas para o controle das armas. A Polícia Federal, por exemplo, se empenha em muitas investigações no plano empresarial e político contra a corrupção, mas qual foi a grande operação da Polícia Federal contra as armas ilegais? E nas secretarias de seguranças dos Estados, qual a importância que se atribui ao controle, à fiscalização e à retenção das armas ilegais? Isso tem que ser uma prioridade absoluta para as polícias.

Poder Online - Neste momento, especialistas de todas as áreas tentam buscar explicações para o que aconteceu na escola Tasso da Silveira, mas alguns admitem que a tragédia seja inexplicável. O senhor concorda?
Luiz Eduardo Soares - Sim. Nós, seres humanos, não suportamos o incompressível, o ininteligível, o enigmático, aquilo que trai as nossas expectativas. Nos sentimos muito angustiados quando estamos diante de algo que não conhecemos e que, por consequência, significa que não se pode controlar. Todas as explicações possíveis para um fato como esse são explicados a posteriori. Esse é um exercício que pode ser feito, mas é sempre, no máximo, capaz de mostrar que talvez haja alguma correlação entre a experiência existencial e a estrutura desequilibrada com o crime que ele praticou. Mas isso não nos dá de forma alguma conhecimento do ato e de suas causas. Porque esse é um ato que se dá em situações extremas e, por definição, imprevisível, que está na conta da liberdade da iniciativa humana. A liberdade, no caso, usada na forma perversa e destruidora.

Poder Online - Não há, então, como prever que casos semelhantes aconteçam daqui para frente no Brasil?
Luiz Eduardo Soares – Não há como nós concebermos uma fórmula capaz de explicar esse ato de tal maneira que pudéssemos prever a reprodução desse ato em situações futuras. E nós não conseguimos montar nenhuma operação que blinde e proteja as nossas crianças e a nós mesmos. Não há como, aqui, culpar governos, culpar políticas de segurança, políticas de saúde ou buscar grandes explicações. São esforços condenados ao fracasso. Ao encontrar culpados e possíveis explicações, nos sentimos mais seguros e um pouco mais apaziguados com o nosso sentimento de instabilidade interior. Mas é importante não nos iludir: fatos desse tipo podem acontecer de novo, infelizmente. E nós não seremos capazes de prevê-los, nem de controlá-los. O que podemos fazer é reduzir sua incidência apostando no controle de armas para que loucuras individuais não se armem e não produzam efeitos tão desastrosos – que não ocorreriam se não houvesse essa imensa negligência com a questão da arma no Brasil.

O ocaso dos velhos exércitos?

O sociólogo argentino Pablo Bonavena analisa os recentes fracassos militares dos EUA – e enxerga um mudança no padrão de guerra que marcou as sociedades por séculos. No Pagina 12, com tradução pelo Cepat

Bonavena coloca o foco nos conflitos bélicos, o que grande parte da sociologia não faz. Analisa desde as mudanças nas formas de guerra até os monumentais orçamentos destinados a esta atividade, e como irradiam estes fenômenos para todo o planeta, chegando inclusive até as sociedades mais afastadas dos centros do conflito. A guerra como parte da cultura na história e na atualidade das sociedades humanas.

Pablo Bonavena é professor de Sociologia na Universidade de Buenos Aires e pesquisador da Área de Conflito Social. Diretor de Beca Estímulo. Atualmente, dirige, junto com Fabián Nievas, a Cátedra de Sociologia da Guerra. Além disso, é membro da equipe do Programa de Pesquisas sobre Conflito Social no Instituto de Pesquisas Gino Germani (Faculdade de Ciências Sociais – UBA) e secretário de redação da Revista Cuadernos de Marte.

Eis a entrevista.

Você menciona em seu texto “As mudanças na forma da guerra a partir dos anos 1990” que, com o orçamento militar dos Estados Unidos, se poderia garantir o acesso universal à água e, além disso, reduzir em dois terços a mortalidade infantil.
Interessa-nos enfatizar, na sociologia, que grande parte do esforço humano, uma enorme quantidade de recursos, destina-se à guerra e que, sem dúvida, pelo menos no campo da sociologia, não se chama atenção para o peso que a guerra tem em nossa sociedade. Assim como também constantemente assinalamos como, estimativamente, se poderia solucionar grande parte dos problemas da humanidade com uma porção não muito grande dos orçamentos militares. Também vimos assinalando como quase tudo, ou grande parte, do que se consome ou dos bens se adquire no mercado com naturalidade, como um celular ou o desenvolvimento dos medicamentos ou a internet, foi inicialmente concebido como armamento para a guerra. E tratamos de ir mostrando com esses dados que você assinalou o peso que o esforço bélico tem na história da humanidade e que, de algum modo, é um convite, esse tipo de contraste, a pensar o que se poderia fazer com o que se destina atualmente à guerra. Ou evidenciar que grande parte do que consumimos nos é disponibilizado quando já perdeu eficácia ou efeito surpresa no campo militar. Com tudo isso também se quer chamar a atenção e abrir um debate político para ver em que se usa, ou se dilapida, o esforço humano. A guerra é uma atividade que consiste em tentar introduzir fragmentos de metal no corpo de outra pessoa para tirar-lhe a vida. E é impressionante o peso que isso tem na sociedade, e, às vezes, não estamos suficientemente conscientes do esforço que se despende nessa atividade em detrimento de um monte de outras coisas, como a fome, a água ou tudo o que poderia melhorar as condições de vida do planeta.

Em seu texto, você também assinala que todo este esforço econômico e produtivo não rende seus frutos a uma potência como os Estados Unidos. Ao menos proporcionalmente aos bilhões de dólares investidos em relação ao pequeno orçamento dos seus adversários.
De fato. Desde a queda do Muro de Berlim para cá, desde o fim da União Soviética e do fim da Guerra Fria, a guerra vai adotando novas formas, mais avançadas do que daquelas que teve durante a dissuasão nuclear. No contexto da Guerra Fria, dessa luta entre os Estados Unidos e o mundo ocidental que enfrentavam o comunismo, com a União Soviética à frente. Superada essa situação de certa polaridade, pelo menos militar, abre-se uma nova etapa onde se começa a ver que, em algum grau, o enorme esforço militar das grandes potências, sobretudo os Estados Unidos, tem uma eficácia bastante pobre em relação aos investimentos nos campos reais de batalha. O que se nota é uma disparidade de forças que não surte os resultados que, em princípio, se esperaria racionalmente frente a essa disparidade. É assim que uma das discussões mais importantes na teoria da guerra, no debate doutrinário militar e técnico-militar, passa por aquilo que conceitualizamos como o problema da assimetria de forças. E transforma-se em um problema porque uma força militar enorme, de poderio impressionante, não gera os resultados concretos esperados frente ao que seriam esforços sumamente artesanais. A assimetria constitui-se como um problema porque, justamente, os menos poderosos conseguem efeitos na ação militar, e, evidentemente, também política, sumamente importantes. Basicamente, à assimetria de forças corresponde uma assimetria estratégica. Quem não pode responder frontalmente, responde de outra maneira. Exércitos muito importantes com baixa eficácia diante de forças que, como se diz em parte da doutrina militar, não cooperam estrategicamente. Quer dizer, que combatem de uma maneira totalmente diferente. E em que sentido? Não é mais um Estado diante de um outro Estado com certa previsibilidade no desenvolvimento da guerra, senão que há formas em que o tempo e o espaço, por exemplo, mudaram a maneira de combater. Assim como um ataque no Oriente Médio pode ser respondido na cidade de Buenos Aires ou na cidade de Nova York, e não imediatamente, mas um tempo depois. E esses são elementos que depois serão conceitualizados como não-cooperação estratégica, porque não são dois iguais que lutam mais ou menos sob as mesmas regras. Isto não exclui, e com isso também há um debate muito importante, que em algum ponto alguns setores da sociedade norte-americana de grandes capitais não tirem proveito destes exércitos porque, em suma, são grandes consumidores. Por exemplo, o maior consumidor de antibióticos da humanidade é o exército norte-americano, que possui enorme quantidade de medicamentos para suas tropas.

E o negócio das armas?
Obviamente, também pesa a questão do armamento, onde grandes empresas, como a Boeing ou a Lockheed Martin, que fabricam mísseis, são empresas que não subsistiriam sem este tipo de conflitos. As novas formas de guerra são acima de tudo policialescas. De fato, uma coisa tão absurda como a guerra ao terrorismo, que significa caçar civis, supõe também tarefas de inteligência e polícia. Um exército com tanques de guerra, aviões, porta-aviões e submarinos, não tem utilidade. Mantém-se porque suprimir esse tipo de armamentos representaria uma crise fenomenal da indústria armamentística, sobretudo a norte-americana, ainda que não seja a única. É, por um lado, um grande negócio sustentado em grande parte da economia norte-americana porque grandes empresas vivem disso, e, por outro lado, há o pessoal militar que combate no terreno contra o terrorismo, a guerra irregular e assimétrica no Oriente Médio, o talibã, a resistência ou a insurgência iraquiana, Somália, etc. Então se produz uma espécie de choque de interesses: os que efetivamente estão em combate e, inclusive, muitos altos quadros do exército norte-americano analisam como derrota de suas forças armadas a baixa eficiência de suas intervenções frente aos altos gastos no emprego de enorme capacidade de destruição, mas que não pode se consolidar em vitória militar. E, evidentemente, tais níveis de destruição transformam inevitavelmente em muito hostil, as populações que eles venham, entre aspas, libertar. A força invasora não é simpática por causa das destruições que os constantes bombardeios provocam. Então, altgas patentes militares norte-americanos, como aqueles que atuam no próprio campo de batalha dizem que, de modo geral, os Estados Unidos têm um exército impressionante, mas para uma guerra que não acontece, para guerras que não acontecem de verdade. E sugerem adaptar essas forças armadas à nova forma da guerra, que é uma luta assimétrica. Mas logicamente isso implicaria, seguramente entre outras coisas porque têm muitas implicações, em desfazer muitos contratos com empresas que financiam armamentos para guerras de Estado contra Estado e firmar outros contratos, a custos menores, para outro tipo de batalhas. Esse é em grande parte o pano de fundo.

Um exército invasor não é simpático porque os bombardeios atacam civis, o que chamam de danos colaterais. São realmente danos colaterais?
Não são danos colaterais; apresentam-nos dessa forma, mas não são. Uma prática que surgiu na Segunda Guerra é que o alvo é a população civil. Calcula-se que, nos conflitos dos últimos 20 anos, 95% ou 97% das baixas seja população civil, o que nunca pode ser um dano colateral. Não há danos colaterais. Dano colateral seria algo que deu errado, mas não, isto acontece sistematicamente. Nas guerras dos Balcãs atacavam diretamente cidades de um lado e de outro. Aqui, a imprensa ressoava apenas as ações das tropas sérvias.

O que você diz da imprensa me faz pensar que o bombardeio militar muitas vezes é seguido, ou acompanhado, pelo bombardeio midiático. Sempre se apresentou os coreanos, os japoneses, os vietnamitas como os maus. Michael Moore também demonstrou como muitos norte-americanos acreditavam que seu país havia vencido a guerra do Vietnã.
Os Estados Unidos tem um excelente desempenho militar em Hollywood. Fora daí, têm vários problemas. Pretendem criar uma ideologia de guerra em seu país que lhes dê consenso para suas intervenções militares. Por isso, sempre recomendo, porque me parece muito mais interessante, àquele que quiser saber realmente sobre o Iraque e o Afeganistão, que leia os especialistas militares norte-americanos, e não a imprensa. Porque, quando a imprensa fala de uma intervenção cirúrgica e bem sucedida, com poucos danos colaterais, um general norte-americano publica uma nota na Military Review dizendo: “Fizemos um papelão, matamos um monte de gente que não tinha nada a ver com isso, e que devem estar nos odiando ainda mais, e temos que mudar tudo, porque estamos em crise”. E estamos falando de uma revista oficial do exército norte-americano!

Com os bombardeios a civis mencionados anteriormente se começa o que você chama de círculo bélico, e provoca no resto dos civis que assumam a insurgência e devolvam os ataques a objetivos civis, como as Torres Gêmeas, Londres ou Atocha.
Com Atocha se mudou o rumo de uma eleição na Espanha. Ressalto que, com um reduzidíssimo orçamento, provocam efeitos políticos enormes. Falemos concretamente da quantidade de mortos produzidos pelo chamado “terrorismo”. Houve cerca de 4.000 baixas em todo o mundo por atos terroristas, certamente bem menos que aquelas que um país produz por acidentes de trânsito. Ou seja, que o terrorismo mata menos que a gripe. É a forma de violência política mais moderada. Há um trabalho de propaganda para apresentá-lo como uma monstruosidade. O terrorismo é a forma menos letal de violência. Temos sempre o cuidado de chamar de ataques ao que, geralmente, se conhece como atentado, é uma força que ataca outra força. Aliás, se prestarmos atenção, a acusação de “terrorista” é muito tênue. Houve dois terroristas prêmios Nobel da Paz, entre eles Arafat. E agora você tem o Obama também Nobel da Paz. De fato, agora o inimigo é uma prática, o que é um absurdo. Dizem que o nosso inimigo é o terrorismo: uma formulação ridícula e pobre.

Mas existe…
Certamente existe, mas se nos pararmos para pensar, pode ser um grupo que faz terrorismo, mas não pode ser “o terrorismo” em si mesmo. Não se pode dizer “o bombardeio” é meu inimigo, mas quem bombardeia. Uma das coisas que tratamos de trabalhar e de ver na cátedra são as formas como o fenômeno da guerra se irradia por toda a sociedade e para todas as sociedades. E isso vai tendo efeitos de maior ou menor grau em diferentes níveis em escala planetária. Você dizia que a imagem do terrorismo como inimigo existe. Efetivamente, nos dizem que o terrorista é um ser malvado, cruel, irracional, etc. Que, portanto, deve ser aniquilado. Em outra escala da mesma figura, quem temos? O delinquente. Nem sequer como delinquente, a insegurança. O terrorismo tem um nível mais alto, a insegurança um nível mais baixo. A forma de construir a ideia é a mesma. Quem provoca insegurança o faz de maneira cruel, irracional, não há lógica… Estamos falando de uma sociedade relativamente afastada de conflitos bélicos, e mesmo assim este formato vem adquirindo corpo.

Você falou dos 4.000 mortos pelo terrorismo. Sabe-se qual a quantidade de mortos produzidos pelos exércitos regulares?
Há um estudo feito pela revista The Lancet, uma publicação médica inglesa de muito prestígio, sobre os mortos no Iraque. Publicaram em 2006 uma pesquisa na qual haviam contado 650.000 mortos, somente no Iraque. No artigo, explicam muito bem a metodologia: que utilizaram informes médicos de vários hospitais. Mas há lugarejos, com pequenas aldeias que simplesmente desapareceram; ou os grupos nômades onde todos morreram. Quantos mortos houve em Fallujah? Sabe como podem ser contados? Com o censo, o último foi feito em 1972 ou 1973, e então se conclui quanto era a população, qual era a expectativa de crescimento vegetativo e se vê quantos restaram.

Outro tema interessante mencionado nos textos de Sociologia da Guerra é o surgimento dos exércitos privados, de mercenários. Depois da queda da União Soviética, restou uma grande quantidade de arsenais e de exércitos que existiam para guardar a “Cortina de Ferro”, que ficaram sem trabalho.
A isso se pode somar também, por um lado, a dissolução de exércitos, gente disponível pela redução de forças armadas estatais e pelo efeito do neoliberalismo com a ideia de diminuir o Estado. Há que se privatizar tarefas que antes eram do Estado; mas privatiza-se também a educação e as tarefas de defesa e de inteligência. São os mercenários que formam parte importante das forças invasoras, por exemplo, dos Estados Unidos e seus aliados no Iraque, Afeganistão e outros lugares do mundo, com as vantagens de que este tipo de empresa livra os Estados de algumas responsabilidades. Se há torturas, diz-se que eram empresas privadas que estavam cuidando dos prisioneiros, ou com a incumbência da informação. Além disso, minimizam custos políticos, porque quando estes soldados morrem parece que morreram constam como mortes civis. São contratistas, mas também são forças armadas. Dados: já em 2008, as principais forças de ocupação no Iraque eram empresas privadas. No século XXI, participaram em todos os cenários de guerra. Estas empresas também surgem de grupos econômicos que produzem armas ou são petroleiras, como a Halliburton. Na verdade, estas empresas começam a questionar a pretensão do monopólio legítimo da violência que detém o Estado-nação. Mas, ainda que seja surpreendente, até a organização supranacional que são as Nações Unidas contrata estas empresas. Aparecem como pessoal de segurança ou de logística.

http://ponto.outraspalavras.net/2011/04/08/ocaso-dos-velhos-exercitos/

A verdade sobre o relatório da PF – por Leandro Fortes (CartaCapital)

O escândalo do mensalão voltou à cena. Em páginas recheadas de gráficos, infográficos, tabelas e quadros de todos os tipos e tamanhos, a revista Época anunciou, na edição que chegou às bancas no sábado 2, ter encontrado a pedra fundamental da mais grave crise política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2005 e 2006. Com base em um relatório sigiloso da Polícia Federal, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, a semanal da Editora Globo concluiu sem mais delongas: a PF havia provado a existência do mensalão e o uso de dinheiro público no esquema administrado pelo publicitário Marcos Valério de Souza. Outro aspecto da reportagem chamada atenção: o esforço comovente em esconder o papel do banqueiro Daniel Dantas no financiamento do valerioduto. Alguns trechos pareciam escritos para beatificar o dono do Opportunity, apresentado como um empresário achacado pela sanha petista por dinheiro.

As provas do descalabro estariam nas 332 páginas do inquérito 2.474, tocado pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, da Divisão de Combate a Crimes Financeiros da PF e encaminhado ao ministro Joaquim Barbosa, relator no STF do processo do “mensalão”. Inspirados no relato de Época, editorialistas, colunistas e demais istas não tiveram dúvidas: o mensalão estava provado. Estranhamente, a mesma turma praticamente silenciou a respeito dos trechos que tratavam de Dantas.

Infelizmente, os leitores de Época não foram informados corretamente a respeito do conteúdo do relatório escrito, com bastante rigor e minúcias, pelo delegado Zampronha. Em certa medida, sobretudo na informação básica mais propalada, a de que o “mensalão” havia sido confirmado, esses mesmos leitores foram enganados. Não há uma única linha no texto que confirme a existência do tal esquema de pagamentos mensais a parlamentares da base governista em troca de apoio a projetos do governo no Congresso Nacional.

Ao contrário. Em mais de uma passagem, o policial faz questão de frisar que o inquérito, longe de ser o “relatório final do mensalão”, é uma investigação suplementar do chamado “valerioduto”, solicitada pela Procuradoria Geral da República, para dar suporte à denúncia inicial, esta sim baseada na tese dos pagamentos mensais. Trata, portanto, da complexa rede de arrecadação, distribuição e lavagem de dinheiro sujo montada por Marcos Valério. Zampronha teve, inclusive, o trabalho de relatar como esse esquema a envolver financiamento ilegal de campanha e lobbies privados começou em 1999, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, e terminou em 2005, na administração Lula, após ser denunciado pelo deputado Roberto Jefferson, do PTB. Ao longo do texto, fica clara a percepção do delegado de que nunca houve “mensalão” (o pagamento mensal a parlamentares), mas uma estratégia mafiosa de formação de caixa 2 e que avançaria sobre o dinheiro público de forma voraz caso não tivesse sido interrompida pela eclosão do escândalo.

Na quarta-feira 6, CartaCapital teve acesso ao relatório. Para não tornar seus leitores escravos da interpretação exclusiva da reportagem que se segue, decidiu publicar na internet (www.cartacapital.com.br) a íntegra do documento. Assim, os interessados poderão tirar suas próprias conclusões. Poderão verificar, por exemplo, que o delegado ateve-se a identificar as fontes de financiamento do valerioduto. E mais: notar que Dantas é o principal alvo do inquérito.

Ao contrário do que deu a entender a revista Época, não se trata do “relatório final” sobre o mensalão. Muito menos foi encomendado pelo ministro Barbosa para esclarecer “o maior escândalo de corrupção da República”, como adjetiva a semanal. Logo na abertura do relatório, Zampronha faz questão de explicar – e o fará em diversos trechos: a investigação serviu para consolidar as informações relativas às operações financeiras e de empréstimos fajutos do “núcleo Marcos Valério”. Em seguida, trata, em 36 páginas (mais de 10% de todo o texto), das relações de Marcos Valério com Dantas e com os petistas. À página 222, anota, por exemplo: “Pelos elementos de prova reunidos no presente inquérito, contata-se que Marcos Valério atuava como interlocutor do Grupo Opportunity junto a representantes do Partido dos Trabalhadores, sendo possível concluir que os contratos (de publicidade) realmente foram firmados a título de remuneração pela intermediação de interesse junto a instâncias governamentais”.

O foco sobre Dantas não fez parte de uma estratégia pessoal do delegado. No fim do ano passado, a Procuradoria Geral da República determinou à PF a realização de diligências focadas no relacionamento do valerioduto com as empresas Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular. As três operadoras de telefonia, controladas à época pelo Opportunity, mantinham vultosos contratos com as agências DNA e SMP&B de Marcos Valério. Zampronha solicitou todos os documentos referentes a esses pagamentos, tais como contratos, recibos, notas fiscais e comprovantes de serviços prestados. A conclusão foi de que a dupla Dantas-Valério foi incapaz de comprovar os serviços contratados.

As análises financeiras dos laudos periciais encomendados ao Instituto Nacional de Criminalística da PF revelaram que, entre 1999 e 2002, no segundo governo FHC, apenas a Telemig Celular e a Amazônia Celular pagaram às empresas de Marcos Valério, via 1.169 depósitos em dinheiro, um total de 77,3 milhões de reais. Entre 2003 e 2005, no governo Lula, esses créditos, consumados por 585 depósitos das empresas de Dantas, chegaram a 87,4 milhões de reais. Ou seja, entre 1999 e 2005, o banqueiro irrigou o esquema de corrupção montado por Marcos Valério com nada menos que 164 milhões de reais. O cálculo pode estar muito abaixo do que realmente pode ter sido transferido, pois se baseia no que os federais conseguiram rastrear.

Segundo o relatório, existem triangulações financeiras típicas de pagamento de propina e lavagem de dinheiro. Em uma delas, realizada em 30 de julho de 2004, a Telemig Celular pagou 870 mil reais à SMP&B, depósito que se somou a outro, de 2,5 milhões de reais, feito pela Brasil Telecom. O total de 3,4 milhões de reais serviu de suporte para transferências feitas em favor da empresa Athenas Trading, no valor de 1,9 milhão de reais, e para a By Brasil Trading, de 976,8 mil reais, ambas utilizadas pelo esquema de Marcos Valério para mandar dinheiro ao exterior por meio de operações de câmbio irregulares, de modo a inviabilizar a identificação dos verdadeiros beneficiários dos recursos. Em consequência, Zampronha repassou ao Ministério Público Federal a função de investigar se houve efetiva prestação de serviços por parte das agências de Marcos Valério às empresas controladas pelo Opportunity.

A principal pista da participação de Dantas na irrigação do valerioduto surgiu, porém, a partir de uma auditoria interna da Brasil Telecom, realizada em 2006. Ali demonstrou-se que, às vésperas da instalação da CPMI dos Correios, em 2005, na esteira do escândalo do “mensalão” e no momento em que a permanência do Opportunity no comando da telefônica estava sob ameaça, a DNA e a SMP&B celebraram com a BrT contratos de 50 milhões de reais. Dessa forma, as duas empresas de Marcos Valério puderam, sozinhas, abocanhar 40% da verba publicitária da Brasil Telecom. Isso sem que a área de marketing da operadora tivesse sido consultada.

Ao delegado, Dantas afirmou que, a partir de 2000, ainda no governo FHC, passou a “sofrer pressões” da italiana Telecom Italia, sócia da BrT. Em 2003, já no governo Lula, o banqueiro afirma ter sido procurado pelo então ministro-chefe da Casa Civil, o ex-deputado José Dirceu, com quem teria se reunido em Brasília.

Na conversa com Dirceu, afirma Dantas, o ministro teria se mostrado interessado em resolver os problemas societários da BrT e encerrar o litígio do Opportunity com os fundos de pensão de empresas estatais. O Palácio do Planalto teria escalado o então presidente do Banco do Brasil, Cassio Casseb, para cuidar do assunto. Casseb viria a ser um dos alvos da arapongagem da Kroll a pedido do Opportunity. O caso, que envolveu a espionagem de integrantes do governo FHC e da administração Lula, baseou a Operação Chacal da PF em 2004.

Dantas afirmou ter se recusado a “negociar” com o PT. Após a recusam acrescenta, as pressões aumentaram e ele teria começado a ser perseguido pelo governo. Mas o banqueiro não foi capaz de provar nenhuma das acusações, embora seja claro que petistas se aproveitaram da guerra comercial na telefonia para extrair dinheiro do orelhudo. Só não sabiam com quem se metiam. Ou sabiam?

O fundador do Opportunity também repetiu a versão de que um de seus sócios, Carlos Rodemburg, havia sido procurado pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, acompanhado de Marcos Valério, para ser informado de um déficit de 50 milhões de reais nas contas do partido. Teria sido uma forma velada de pedido de propina, segundo Dantas, nunca consolidado. O próprio banqueiro, contudo, admitiu que Delúbio não insinuou dar nada em troca da eventual contribuição solicitada. Negou, também, que tenha mantido qualquer relação pessoal ou comercial com Marcos Valério, o que, à luz das provas recolhidas por Zampronha, soam como deboche. “O depoimento de Daniel Dantas está repleto de respostas evasivas e esquecimentos de datas e detalhes dos fatos”, informou no despacho ao ministro Barbosa.

Chamou a atenção do delegado o fato de os contratos da BrT com as agências de Marcos Valério terem somado os exatos 50 milhões de reais que teriam sido citados por Delúbio no encontro com Rodemburg. Para Zampronha, a soma dos contratos, assim como outras diligências realizadas pelo novo inquérito, “indicam claramente” que, por algum motivo, o Grupo Opportunity decidiu efetuar os repasses supostamente solicitados por Delúbio, com a intermediação das agências de Marcos Valério, como forma de dissimular os pagamentos.

Os contratos da DNA e da SMP&B com a Brasil Telecom, segundo Zampronha, obedecem a uma sofisticada técnica de lavagem de dinheiro, usada em todo o esquema de Marcos Valério, conhecida como commingling (mescla, em inglês). Consiste em misturar operações ilícitas com atividades comerciais legais, de modo a permitir que outras empresas privadas possam se valer dos mesmos mecanismos de simulação e superfaturamento de contratos de publicidade para encobrir dinheiro sujo. No caso da BrT, cada um dos contratos, no valor de 25 milhões de reais, exigia contratação de terceiros para serem executados. Além disso, havia a previsão de pagamento fixo de 187,5 mil reais mensais às duas agências do Valerioduto, referente à prestação de serviços de “mídia e produção”.

Surpreendentemente, e contra todas as evidências, Dantas disse nunca ter participado da administração da BrT. Por essa razão, não teria condições de prestar qualquer informação sobre os contratos firmados pela então presidente da empresa, Carla Cicco, indicada por ele, com as agências de Marcos Valério. De volta a Itália desde 2005, Carla Cicco informou à PF não ter tido qualquer participação ou influência na contratação das agências, apesar de admitir ter assinado os contratos. Disse ter se encontrado com Marcos Valério uma única vez, numa reunião de trabalho com representantes da DNA.

O protagonismo de Dantas no valerioduto e o desmembramento da rede de negócios montada por Marcos Valério, desde 1999, nos governos do PSDB e do PT são elementos que, no relatório da PF, desmontam, por si só, a tese do pagamento de propinas mensais a parlamentares. Ou seja, a tese do “mensalão”, na qual se baseou a denúncia da PGR encaminhada ao Supremo, não encontra respaldo na investigação de Zampronha, a ponto de sequer ser considerada como ponto de análise.

O foco do delegado é outro crime, gravíssimo e comum ao sistema político brasileiro, de financiamento partidário baseado em arrecadação ilícita, montagem de caixa 2 e, passadas as eleições, divisão ilegal de restos de campanha a aliados e correligionários. Por essa razão, ele encomendou os novos laudos detalhados ao INC.

Uma das primeiras conclusões dos laudos de exame contábil foi que Marcos Valério usava a DNA Propaganda para desviar recursos do Fundo de Incentivo Visanet, empresa com participação acionária do Banco do Brasil, e distribui-los aos participantes do esquema do PT e de partidos aliados. O fundo foi criado em 2001 com o objetivo de financiar ações de marketing para incentivar o uso de cartões da bandeira Visa. O Visanet foi, inicialmente, constituído com recursos da Companhia Brasileira de Meios e Pagamentos (CBMP), nome oficial da empresa privada Visanet, e distribuído em cotas proporcionais de um total de 492 milhões de reais a 26 acionistas. Além do BB participam o Bradesco, Itaú, HSBC, Santander, Rural, e até mesmo o Panamericano, vendido recentemente por Silvio Santos ao banqueiro André Esteves. “Para operar tais desvios, Marcos Valério aproveita-se da confusão existente entre a verba oriunda do Fundo de Incentivo Visanet e aquela relacionada ao orçamento de publicidade próprio do Banco do Brasil”, anotou o policial.

O BB repassava mais de 30% do volume distribuído pelo fundo, cerca de 147,6 milhões de reais, valor correspondente à participação da instituição no capital da Visanet. Desse total, apenas a DNA Propaganda recebeu 60,5% do dinheiro, cerca de 90 milhões de reais, entre 2001 e 2005, divididos por dois anos no governo FHC, e por dois anos e meio, no governo Lula. Daí a constatação de que, de fato, por meio da Visanet, o valerioduto foi irrigado com dinheiro público. O que nunca se falou, contudo, é que essa sangria não se deu somente durante o governo petista, embora tenha sido nele o período de maior fartura da atividade criminosa. Quando eram os tucanos a coordenar o fundo, Marcos Valério meteu a mão em ao menos 17,2 milhões de reais.

De acordo com o relatório da PF, Marcos Valério tinha consciência de que agências de publicidade e propaganda representavam um mecanismo eficaz para desviar dinheiro público, por conta do caráter subjetivo dos serviços demandados. Mas havia um detalhe mais importante, como percebeu Zampronha. Com as agências, Valério passou a lidar com a compra de espaços publicitários em diversos veículos de comunicação. “Esta relação econômica estreitava o vínculo do empresário com tais veículos e poderia facilitar o direcionamento de coberturas jornalísticas”.

As Organizações Globo, proprietária da revista Época, sonegou a seus leitores, por exemplo, ter sido a maior beneficiária de uma das principais empresas do valerioduto. À página 68 do relatório, e em outras tantas, a TV Globo é citada explicitamente. Escreve o delegado: “A nota emitida pela empresa de comunicação destaca-se por sua natureza fiscal de adiantamento, “publicidade futura”, isto é, a nota por si só não traz qualquer prestação de serviço, como também não há elementos que vincule os valores adiantados ao fundo de incentivo Visanet”. Zampronha se referia a contratos firmados em 2003 no valor de 720 mil reais e 2,88 milhões de reais. Entre 2004 e 2005, a TV Globo receberia outros pagamentos da DNA, no valor total de 1,2 milhão de reais, lançados na planilha de controle do Fundo Visanet.

Mesmo tratado com simpatia na reportagem da Época, o Opportunity não perdoou. No item 17 de uma longa nota oficial em resposta, o banco atira: “Na Telemig, segundo informações prestadas à CPI do Mensalão, a maioria dos recursos eram repassados às Organizações Globo. Por isso, a apuração desses fatos fica fácil de ser feita pela Época.”

Segundo Zampronha, o objetivo do valerioduto era criar empresas de fachada para auxiliar na movimentação de dinheiro sujo e manter os interessados longe dos órgãos oficiais de fiscalização e controle. O leque de agremiações políticas para as quais Marcos Valério “prestava serviços” era tão grande que não restou dúvida ao delegado: “Estamos diante de um profissional sem qualquer viés partidário”. Isso não minimiza o fato de o PT, além de qualquer outra legenda, ter se lambuzado no esquema. Não fosse a denúncia de Jefferson, o valerioduto teria se inscrutado de forma absoluta no Estado brasileiro e se transformado em uma torneira permanemente aberta por onde jorraria dinheiro público para os cofres petistas.

CartaCapital não espera, como de costume, que esta reportagem tenha repercussões na mídia nativa. À exceção da desbotada tese do mensalão, que serve à disputa político-partidária na qual os meios de comunicação atuam como protagonistas, não há nenhum interesse em elucidar os fatos. O que, se assim for, provará que a sociedade afluente navega tranquilamente sobre o velho mar de lama.

Comentário
Incensada, a revista Época fez uma reportagem sobre o tráfico de influência de Daniel Dantas no governo FHC, a forma como o orelhudo operava dentro do governo tucano, sua influência e capacidade de alterar decisões presidenciais.

Novidade nenhuma.

Um desafio aos “imparciais” – por Mino Carta (CartaCapital)

Desde a renúncia de Fernando Collor para escapar do impeachment em 1992, quase todo repórter brasileiro se apresenta como um Bob Woodward ou um Carl Bernstein, a célebre dupla de jornalistas do Washington Post que desvendou o escândalo da invasão do comitê nacional do Partido Democrata no prédio Watergate. Em geral falta cultura, talento e coragem aos pares nacionais para tanto, assim como escasseiam inúmeros dos princípios basilares da atividade aos empreendimentos jornalísticos que os empregam. Apego à verdade factual, por exemplo. Neste momento, destacaríamos dois: a completa ausência de honestidade intelectual e de rigor na apuração.

Há quem entenda a emblemática apuração do caso Watergate como um conto de fadas. Num belo dia de verão, Woodward e Bernstein encontraram em um estacionamento uma fada madrinha chamada Garganta Profunda, ganharam um presente mágico, publicaram um texto e derrubaram o presidente republicano Richard Nixon. A vida real foi bem diferente. A dupla de repórteres publicou centenas de reportagens, checadas exaustivamente a partir de indicações nem sempre claras da fonte. Seu grande mérito foi seguir à risca uma recomendação: sigam o dinheiro.

Evocamos o caso Watergate por conta do reaparecimento na mídia do chamado mensalão. No sábado 2, a revista Época publicou o que dizia ser o relatório final da PF sobre o escândalo que abalou o governo Lula. A reportagem da semanal da Editora Globo estimulou uma série de editoriais e inspirou colunistas a afirmarem que o relatório seria a prova da existência do mensalão, o pagamento mensal a parlamentares em troca de apoio ao governo.

Na quarta 6, CartaCapital teve acesso ao trabalho do delegado Luís Flávio Zampronha, base da “denúncia” de Época. Nas próximas páginas, Leandro Fortes conta o que realmente escreveu o delegado. A começar pelo simples de fato de que não se trata de um relatório final, como afirma a semanal da Globo, mas de uma investigação complementar feita a pedido do Ministério Público cujo objetivo era mapear as fontes de financiamento do valerioduto. Nas mais de 300 páginas, não há nenhuma linha que permita à Época ou a qualquer outro meio de comunicação afirmar que o mensalão tenha sido provado. Ao contrário. À página 5, e em diversos outros trechos, Zampronha foi categórico: “Esta sobreposição diz respeito apenas a questões pontuais sobre a metodologia de captação e distribuição dos valores manipulados por Marcos Valério e seus sócios, não podendo a presente investigação, de forma alguma, apresentar inferências quanto ao esquema de compra de apoio político de parlamentares da base de sustentação do governo federal”.

Não se trata de uma mera questão semântica nem, da nossa parte, um esforço para minimizar qualquer crime cometido pelo PT e por integrantes do governo Lula. CartaCapital, aliás, nunca defendeu a tese de que o caixa 2, associado a um intenso lobby e também alimentado com dinheiro público, seja menos grave que a compra de apoio parlamentar. A história do mensalão serve, na verdade, ao outro lado, àquele que nos acusa de parcialidade. Primeiro, por ter o condão de circunscrever o escândalo apenas ao PT e, desta forma, usá-lo como instrumento da disputa de poder. Depois, por esconder a participação do banqueiro Daniel Dantas, cujos tentáculos na mídia CartaCapital denuncia há anos, e a do PSDB, legenda preferida dos patrões e seus prepostos nas redações. Em nome desta aliança, distorce-se e mente-se quando necessário. E às favas o jornalismo.

Em 2005, quando a mídia desviou-se do núcleo do escândalo, desprezando a lição de Watergate, em busca de denúncias capazes de levar ao impeachment de Lula (quem não se lembra da lendária “reportagem” sobre os dólares de Cuba?), CartaCapital manteve-se firme no propósito de seguir o dinheiro. Temos orgulho de nosso trabalho. Fomos os primeiros a esmiuçar a participação de Dantas no financiamento do valerioduto. Demonstramos com detalhes incontestáveis a origem e as ramificações das falcatruas de Marcos Valério, sem poupar ninguém.

Em agosto daquele ano, quando veio à tona a viagem de Marcos Valério a Portugal, a mídia em coro afirmou que o publicitário viajara a Lisboa com o objetivo de vender o estatal Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) ao banco Espírito Santo. Nossa reportagem do mesmo período comprovava outro enredo: Valério tinha a missão de negociar a Telemig Celular, controlada pelo Opportunity e os fundos de pensão, à Portugal Telecom. E explicava como o então ministro José Dirceu associado a outros petistas, participara da tramóia a favor do banqueiro orelhudo. A venda da Telemig, da forma imaginada, levaria os fundos a perdas irreversíveis, renderia bilhões a Dantas e alguns milhões aos cofres petistas. Bastaria ao governo retirar Sergio Rosa do comando da Previ, a fundação dos funcionários do Banco do Brasil que resistiam bravamente às manobras dantescas. Em depoimentos que constam do inquérito do mensalão no Supremo Tribunal Federal, as fontes portuguesas que se encontraram com Valério em Lisboa confirmaram a história contada por CartaCapital.

Sempre enxergamos no lamentável escândalo do valerioduto uma oportunidade de o Brasil compreender a fundo o esquema de captura de partidos e governos por meio do financiamento ilegal de campanhas. O mensalão, em grande medida, se conecta a outros tantos casos recentes da história nada republicana do poder. O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo, tem a oportunidade de pôr a limpo estes esquemas e de revelar por completo a influência de Dantas nos governos FHC e Lula, na mídia e no Judiciário. Acima dos interesses partidários, a bem do País.

O relatório de Zampronha é mais uma prova de que estávamos certos. Por isso, decidimos lançar um desafio. A partir da noite da quinta-feira 7 publicaremos em nosso site a íntegra do relatório da PF. Os interessados poderão assim conferir, livres de qualquer mediação, quem é fiel à verdade factual e quem não é. Quem pratica jornalismo e quem defende interesses inconfessáveis. Quem é independente.

Leia a íntegra do relatório: Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4, Parte 5, Parte 6, Parte 7 e Parte 8.