sábado, 28 de julho de 2012

Serra e a imagem do PSDB - 2 - por Carlos Cunha (Blog do Nassif)

O PT surgiu como a extrema esquerda. Não que fosse, mas se posicionava como tal. Lembro em 1982 que usar as estrela vermelha de plástico era um sinal de extremismo, de reformas, quase de revolução. E historicamente o PT foi isso, talvez até não por sua ideologia mas como forma de se posicionar distante dos outros. Foi contra qualquer avanço que não fosse por ele pensado ou apropriado.

Lembro como nos deliciávamos com a lenda que no início do primeiro mandato dos deputados federais o Lula teve que comprar gravatas para todos.

Mas não foi este PT que chegou ao poder, para bem e para mal.

O Lula eleito em 2002 não era o mesmo Lula de 1982, visivelmente nos detalhes que você trouxe. O terno Ricardo Almeida, a barba muito bem aparada, a voz mais baixa e pausada. Não vejo o menor problema nisso, mas são os detalhes do que você falou.

O PSDB não foi construído para ser o contraponto do PT. Naquela época o PT era um partido utópico restrito a um grande líder e um bando de idealista com estrelas pequenas na camisa. A primeira capital com prefeito petista foi Fortaleza e a prefeita não ficou petista muito tempo.

O PSDB foi construído para ser o que o PT é hoje, um partido de centro esquerda. Sem revoluções, com poucas utopias. Por isso eles se vestiam como os políticos petistas se vestem hoje. Sem radicalismos, mesmo dos petistas mais velhos, que já foram radicais. Os radicais de verdade saíram do PT.

Talvez a transformação estética demonstre também esta transformação ideológica.

O problema foi que o governo do PSDB caiu no colo do FHC, que, como bom intelectual de segunda, era extremamente vaidoso. Oito anos de governo e algumas perdas de líderes mais a esquerda permitiram que FHC moldasse o PSDB pelos seus critérios.

Porém, isso deixou espaço para o PT assumir sua posição atual. Não convém discutir aqui se o governo do PT foi diferente do que o do PSDB. Convém mostrar que o PT assumiu exatamente este lugar de centro esquerda. Dialoga e se alia a atores políticos com os quais não ficaria num mesmo cômodo há vinte ou dez anos.

O maior erro do PSDB foi assumir o caminho da direita sem lutar. Foi permitir que o PT assumisse o discurso da divisão entre esquerda – juntos com o povo – e direita – contra o povo – que é tão repetido aqui. Assim, assumiu duas marcas muito difíceis para um partido político no Brasil: ser de direita e ser contra o povo.

Bem agora a parte do seu post, mais interessante.

Você está certo ao colocar a falta de representação da sociedade no PSDB. O partido envelheceu e foi incapaz de permitir novos nomes que pudessem assumir uma bandeira diferente. Mas isso não é um problema apenas dele, basta ver o PT em São Paulo. Lula percebeu que o problema do PT em São Paulo não era o povo de São Paulo – como alguns acreditam aqui – mas sim o PT de São Paulo. A mesma resistência ao novo que mantém o PSDB refém do Serra mantinha o PT paulista refém da Marta Suplicy. Como Mercadante era inofensivo, a rainha seria candidata pela terceira vez se Lula não assumisse com todo o seu peso a estratégia da eleição.

O problema é que enquanto Lula entendeu isso, FHC fica se olhando no espelho PSDB e acha feio todo o resto.

O pior é que sua análise da tentativa do Serra em virar "novo" é perfeita e mostra que alguns no PSDB já entenderam a necessidade do novo. Mas falta um Lula para obrigar os velhos a largarem o osso.

Nenhum comentário: