quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Duquesas Vampiras - por Steven Stahlberg (Arte digital - stahlberg.cgsociety)

Nova geração assumirá responsabilidade de construir o socialismo em Cuba - por Vermelho

Eleito neste domingo (24) para mais um mandato como chefe de Estado e de governo da República de Cuba, que afirma ser o último, o presidente Raúl Castro fez importante pronunciamento político no qual defende os princípios da Revolução cubana e o aperfeiçoamento do socialismo. Leia a íntegra, em tradução exclusiva da redação do Vermelho.

Companheiras e companheiros:
Líder da Revolução Cubana Fidel Castro e o
presidente Raúl Castro

Em uma data como a de hoje, em 24 de fevereiro de 1895, reiniciou-se a luta pela independência com a fusão dos experientes mambises* da primeira guerra e os combatentes novatos, sob a liderança do Partido Revolucionário Cubano e de Martí.

Cabe a mim assumir novamente perante vocês e todo o nosso povo a honra de presidir o Conselho de Estado e o governo.

Neste sentido, creio que não é ocioso reiterar o que já foi afirmado duas vezes neste Parlamento, e cito: "A mim não me elegeram presidente para restaurar o capitalismo em Cuba, nem para entregar a Revolução. Fui eleito para defender, manter e continuar aperfeiçoando o socialismo, não para destruí-lo".

Em concordância com as resoluções do 6º Congresso [do Partido Comunista], será preciso harmonizar os postulados da Constituição da República com as mudanças associadas à paulatina implementação dos Lineamentos da Política Econômica e Social do Partido e da Revolução.

Entre as modificações que nos propomos introduzir à Constituição se encontra a de limitar a um máximo de dois períodos consecutivos de cinco anos o desempenho dos principais cargos do Estado e do governo e estabelecer idades máximas para ocupar essas responsabilidades.

Ao mesmo tempo, não é saudável reformular continuamente a Carta Magna da Nação e como efetuar uma reforma constitucional nos tomará necessariamente um tempo razoável, algumas questões podem ser modificadas pelo próprio Parlamento, outras mais importantes requerem a ratificação pelo voto favorável da maioria dos cidadãos em referendo; desejo esclarecer que em meu caso, independentemente da data em que se aperfeiçoe a Constituição, este será o último mandato.
Miguel Díaz: Vice-presidente do Conselho de Estado

Nesta sessão a Assembleia Nacional elegeu o companheiro Miguel Díaz Canel Bermúdez como primeiro vice-presidente do Conselho de Estado e posteriormente aprovou sua designação como primeiro vice-presidente do Conselho de Ministros.

Consideramos que nas circunstâncias que vive o país, que se viu obrigado a desenvolver-se durante mais de meio século de Revolução, deve garantir-se na cúpula do poder estatal e governamental a unidade executiva frente a qualquer contingência gerada pela perda do dirigente máximo, de maneira que se preserve, sem interrupções de nenhum tipo, a continuidade e a estabilidade da nação.

Esta decisão se reveste de particular transcendência histórica porque representa um passo definidor na configuração da direção futura do país, mediante a transferência paulatina e ordenada às novas gerações dos principais cargos, processo que devemos concretizar em um quinquênio e atuar daqui para diante de maneira intencional e previdente, a fim de evitar que se nos repita a situação de não contar oportunamente com suficientes reservas de quadros preparados para ocupar os postos superiores do país e assegurar que a substituição dos dirigentes constitua um processo natural e sistemático.

O companheiro Díaz-Canel não é um novato nem um improvisado. Sua trajetória de trabalho acumula quase 30 anos, começando na base, na profissão que estudou, e depois de ter cumprido o Serviço Militar em unidades de mísseis antiaéreos das Forças Armadas Revolucionárias (FAR), foi docente na Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Central de Las Villas, onde se lhe propôs ser quadro profissional da União de Jovens Comunistas e mais adiante, considerando os resultados alcançados, foi promovido ao Partido, ascendendo gradualmente a maiores responsabilidades, entre elas, a de primeiro secretário do Comitê Provincial em Villa Clara, durante quase uma década, e depois em Holguín durante seis anos.

Ele é membro do Comitê Central do Partido desde 1991 e do Birô Político a partir de 2003. Cumpriu missão internacionalista na Nicarágua. É graduado do Colégio de Defesa Nacional.

Em 2009, passou a desempenhar funções governamentais, primeiro como ministro da Educação Superior e a partir de 2012, vice-presidente do Conselho de Ministros, encarregado de dar atenção a diferentes organismos vinculados à educação, à ciência, ao esporte e à cultura. Por outro lado, participa semanalmente na Comissão Econômico-financeira do governo e na Comissão do Birô Político para o controle da implementação das resoluções do 6º Congresso.

Merece menção à parte a conduta dos companheiros Machado Ventura e Colomé Ibarra, que tiveram a iniciativa de pôr os seus cargos no Conselho de Estado à disposição em favor da promoção da nova geração.

No caso de Machado Ventura, com excepcionais qualidades como dirigente e ser humano, modéstia e dedicação ao trabalho, destacada trajetória revolucionária durante cerca de 60 anos, combatente da Sierra Maestra e fundador da Segunda Frente Oriental "Frank País", onde criou e desenvolveu 20 hospitais de campanha e 11 dispensários distribuídos em zonas montanhosas em toda a província de Guantânamo e em parte das de Santiago de Cuba e Holguín, que esta frente guerrilheira abarcava. Participou em múltiplas ações combativas, sendo ferido em uma delas; partindo também do prestígio, preparação, experiência e da vitalidade que conserva, assim como de sua capacidade real de continuar contribuindo na direção de decisivas atividades, a Assembleia Nacional o elegeu para ocupar uma das vice-presidências do Conselho de Estado.

Igualmente, se mantém como membro do Conselho de Estado o companheiro Abelardo Colomé Ibarra, que desde muito jovem se somou à luta revolucionária em sua terra natal, Santiago de Cuba, participando na sublevação de 30 de novembro de 1956, sob as ordens de Frank País, que o selecionou para integrar o primeiro reforço ao nascente Exército Rebelde na Sierra Maestra.

Assim como Machado Ventura, ele é fundador da Segunda Frente Oriental "Frank País", ferido em duas ocasiões em combate contra as tropas da tirania, destacando-se por seu valor, o que lhe mereceu ascender de soldado até o grau de comandante.

Depois do triunfo da Revolução, executou com êxito, humildade e lealdade as tarefas que lhe foram atribuídas, entre as quais devo ressaltar o cumprimento de delicadas missões internacionalistas, posteriormente levou a cabo o desenvolvimento da sempre competente Contra-inteligência Militar, contribuiu de maneira decisiva à primeira vitória sobre as forças invasoras em Angola, à frente da Missão Militar Cubana, de 1975 a 1977, e desempenhou, entre outros, os cargos de primeiro vice-ministro do Ministério das Forças Armadas Revolucionárias e ministro do Interior.

A atitude de Machado Ventura e Colomé Ibarra não é casual nem deve surpreender ninguém, é uma demonstração concreta de sua genuína fibra revolucionária, na qual não têm cabimento a vaidade e o interesse pessoal, nem muito menos o aferramento a qualquer cargo. Esta é a essência da geração fundadora desta Revolução. Assim agiu Fidel há cinco anos, dando um exemplo enaltecedor. Confiamos em que também sejam assim as novas gerações.

Ao falar destes temas é oportuno recordar o que Fidel expressou, há exatamente 15 anos, perante a Assembleia Nacional em 24 de fevereiro de 1998, quanto à primeira regra ou traço que deve caracterizar um quadro revolucionário, e cito: "Nunca ambicionar cargos, que os homens cheguem aos cargos que lhes correspondam por seus méritos, por seu trabalho, por suas virtudes, por seu patriotismo”.

O Conselho de Estado eleito nesta sessão de nosso Parlamento é um reflexo de como começamos a tornar realidade as resoluções do 6º Congresso do Partido em matéria de política de quadros. De seus 31 membros, 41,9% são mulheres e 38,6% são negros e mestiços. A idade média é de 57 anos e 61,3% nasceram depois do triunfo da Revolução.

Já são duas as vice-presidentas do Conselho de Estado e persistiremos na vontade de que continue crescendo a representação feminina neste órgão e em todas as instituições do país.

De igual forma, a Assembleia Nacional foi renovada em 67,26%, as mulheres elevaram sua participação até 48,86% e os negros e mestiços a 37,9%. Possuem nível superior de educação 82,68% de nossos deputados e a idade média é de 48 anos.

Das 15 províncias do país, em 10 foram eleitas mulheres para presidir as Assembleias Provinciais do Poder Popular, a média de idade nestes cargos é de 47 anos e todos possuem nível universitário.

Estes dados corroboram a qualidade do processo eleitoral cubano e as potencialidades que têm os órgãos do Poder Popular e esta Assembleia como órgão supremo de poder do Estado, para executar os importantes poderes fixados na Constituição.

Corresponde precisamente a esta legislatura um fecundo e intenso trabalho legislativo no fortalecimento de nossa institucionalidade, em especial em face da implementação dos Lineamentos da Política Econômica e Social do Partido e da Revolução, processo que tem a primeira das prioridades e no qual, como expliquei na última sessão da Assembleia Nacional, começamos a adentrar em questões de maior alcance, complexidade e profundidade.
Esteban Lazo Hernández

Enche-nos de sadio orgulho e satisfação que o Parlamento cubano seja encabeçado, a partir de hoje, pelo companheiro Esteban Lazo Hernández, membro do Birô Político, um negro de origem humilde, cortador de cana desde muito jovem, operário no moinho e secador de arroz de Jovellanos, município onde integrou o Comitê Municipal do Partido. Com enorme esforço e sem abandonar suas responsabilidades partidárias, obteve o título de Bacharel em Economia.

Posteriormente ocupou o cargo de primeiro secretário do Comitê Provincial do PCC em Matanzas e depois em Santiago de Cuba e Cidade de Havana.

O mesmo podemos dizer nos casos dos novos vice-presidentes do Conselho de Estado, Díaz-Canel, Mercedes López Acea, a eficiente primeira secretária do Partido na capital e de Salvador Valdés Mesa, representante direto da classe operária, que em sua condição de membro do Birô Político, passará a atender a Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), além de outras funções que se lhe atribuirão pela via partidária.

Todos eles surgiram do povo e como os demais membros do Conselho de Estado constituem um exemplo fidedigno de como foram levadas à prática as palavras de Fidel em 16 de abril de 1961, às vésperas da invasão mercenária em Playa Girón, quando disse: "esta é a Revolução socialista e democrática dos humildes, pelos humildes e para os humildes". Hoje estamos demonstrando que assim seguirá sendo para sempre.

É igualmente motivo de legítima felicidade contar com uma juventude identificada com os valores éticos e os princípios de justiça social, que está preparada em todos os sentidos, inclusive militarmente, para defender e manter no alto as bandeiras da Revolução e do Socialismo.

Certamente, nós, os que tivemos a honra de acompanhar Fidel nos inícios da gesta revolucionária e na luta insurrecional contra a tirania, tivemos privilégio, junto ao povo heroico, de ver com nossos próprios olhos a obra consolidada da Revolução; contudo, a maior satisfação é a tranquilidade e serena confiança que sentimos ao ir entregando às novas gerações a responsabilidade de continuar construindo o socialismo e com isso assegurar a independência e a soberania nacional.

Fazemo-lo tendo definido pelo Congresso do Partido o rumo para atualizar o modelo econômico cubano e alcançar uma sociedade socialista próspera e sustentável, uma sociedade menos igualitária, porém mais justa, princípios estes que servem de fundamento para a conformação do programa de desenvolvimento até o ano de 2030, em fase de elaboração.

Isto será possível porque os Lineamentos da Política Econômica e Social são fruto, em primeiro lugar, dos amplos e democráticos intercâmbios com o povo, que os tornou seus, reformulando-se 68% da proposta inicial como resultado da consulta popular.

Da mesma forma, foram respaldados pelo Parlamento, em cujas sessões ordinárias se presta conta, duas vezes ao ano, sobre o andamento do plano da economia e o processo de implementação dos citados lineamentos.

Similar análise se efetua sistematicamente nos plenos do Comitê Central e dos comitês provinciais e municipais do Partido, com a participação de dirigentes administrativos locais.

Estes métodos de consulta direta com a população que se desenvolveram em mais de 50 anos do processo revolucionário e que prosseguirão aperfeiçoando-se antes, durante e depois de adotar as decisões mais transcendentais para o futuro do país, constituem um fator adicional para a tranquilidade e esperança no futuro, que nós, integrantes da direção histórica da Revolução, experimentamos, já que além de fortalecer de maneira permanente a unidade e o apoio do povo, garantirão retificar oportunamente os erros que possamos cometer.

Em Cuba nunca se permitirá a ninguém contornar que tal e como expressa a Constituição em seu artigo número 3, e cito: "a soberania reside no povo, do qual emana todo o poder do Estado".

Em virtude disso, previamente à realização dos futuros congressos do Partido, deverá levar-se a cabo um processo de consulta popular, cada vez mais profundo e organizado, de modo que o Programa atualizado da Revolução a ser aprovado reflita sempre, em todos os assuntos vitais da sociedade, a opinião da população.

Àqueles que dentro ou fora do país, com boas ou más intenções, nos alentam a ir mais rápido, lhes dizemos que continuaremos sem pressa, mas sem pausa, com os pés e os ouvidos bem pregados à terra, sem terapias de choque contra o povo e sem deixar nenhum cidadão desamparado, superando a barreira do imobilismo e a mentalidade obsoleta em favor de desatar os nós que freiam o desenvolvimento das forças produtivas, ou seja, o avanço da economia, como cimento imprescindível para afiançar, entre outras esferas, as conquistas sociais da Revolução na educação, na saúde pública, na cultura e no esporte, que deveriam ser direitos humanos fundamentais e não um negócio particular.

Ao mesmo tempo, nos propomos manter o enfrentamento às indisciplinas e ilegalidades de todo tipo, incluindo o combate às manifestações de corrupção que atentam contra as próprias bases de nosso sistema social, partindo de que sem a conformação de um ambiente de ORDEM, DISCIPLINA e EXIGÊNCIA na sociedade, qualquer resultado será efêmero. Na reunião deste Parlamento, na primeira quinzena do mês de julho, trataremos com profundidade este sufocante assunto das indisciplinas e ilegalidades.

Passando a temas de caráter internacional, não posso deixar de mencionar que em 28 de janeiro último, no 160º aniversário do natalício de José Martí, Cuba assumiu a Presidência da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e terá a responsabilidade de organizar em nosso país sua próxima reunião de Cúpula no ano de 2014.

Este é um fato de particular relevância que reivindica a luta do povo cubano por sua soberania e autodeterminação, demonstra o quanto avançaram a América Latina e o Caribe para a definitiva independência e expõe o isolamento e fracasso da política de bloqueio econômico e midiático dos Estados Unidos contra nossa nação.

A Presidência Cubana da Celac atuará com prudência e determinação para potenciar o que nos une no caminho comum da paz, desenvolvimento, justiça social, democracia com participação verdadeira do povo, garantia para o exercício de TODOS os direitos humanos por TODAS as pessoas, soberania sobre os recursos naturais e diminuição da desigualdade social e da pobreza.

Teremos que cuidar de nossa unidade dentro da diversidade e impedir que se nos divida. Sabemos que a consolidação desta organização enfrentará difíceis obstáculos, derivados da injusta e insustentável ordem internacional, a crise econômica global, a agressiva política da Otan, as ameaças e consequências de suas guerras não convencionais e o intento de uma nova divisão do mundo; a existência de enormes arsenais nucleares e novas armas, assim como a mudança climática.

A desigualdade na distribuição da riqueza no continente é a principal debilidade e simultaneamente o maior desafio que enfrentamos. Na Nossa América com mais unidade, integração e justiça social, nada poderá deter-nos.

Aproveito a ocasião para reiterar, em nome desta Assembleia e do povo cubano, a felicitação ao presidente Rafael Correa e à Revolução Cidadã, que ele encabeça, por sua retumbante vitória eleitoral no domingo passado.

Que chegue ao presidente Hugo Chávez Frias o abraço fraternal e os desejos de recuperação de sua saúde. À Revolução Bolivariana, ao povo venezuelano e a seus dirigentes ratificamos toda a solidariedade desta Assembleia Nacional e de nossos compatriotas.

A mais de um mês de sua entrada em vigor, as novas regulações migratórias estão em completa aplicação sem contratempos, com uma favorável acolhida por parte da população e da esmagadora maioria da emigração cubana.

Prosseguiremos demandando a libertação e o regresso à Pátria de nossos Cinco Heróis, a quem transmitimos a fraterna saudação, reconhecimento e compromisso deste Parlamento e de todo o povo.

Para terminar minhas palavras e sobretudo pensando no porvir da Pátria, creio que a melhor maneira de fazê-lo é com a brilhante definição do conceito de Revolução formulado por seu Comandante em Chefe, Fidel Castro Ruz, em 1º de de maio do ano 2000 na Praça da Revolução, e cito:

"Revolução é sentido do momento histórico;

é mudar tudo o que deve ser mudado;

é igualdade e liberdade plenas;

é ser tratado e tratar os demais como seres humanos;

é emancipar-nos por nós mesmos e com nossos próprios esforços;

é desafiar poderosas forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional;

é defender valores nos quais se crê ao preço de qualquer sacrifício;

é modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo;

é lutar com audácia, inteligência e realismo;

é não mentir jamais nem violar princípios éticos;

é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de esmagar a força da verdade das ideias.

Revolução é unidade, é independência,

é lutar por nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base de nosso patriotismo, nosso socialismo e nosso internacionalismo".

Que esta magistral definição sirva para sempre de guia a todas as gerações de patriotas e revolucionários cubanos!

Muito obrigado.

Fonte: Prensa Latina
Tradução de José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho

*Combatentes da guerra pela independência de Cuba no século 19.

Arte digital - por James Strehle (Cruzine)

Apenas um Estado forte conseguirá diminuir as desigualdades - por Assis Ribeiro (Blog do Nassif)

Comentário ao post "O RDC e as concessões públicas"

Nos Estados Unidos o Estado é privado, completamente privado, não faz parte do desejo da América do Sul seguir tal conceito.

Em países de enorme abismo social e desigualdade regional, a presença do Estado é fundamental. Só o Estado forte, com impostos altos, conseguirá levar desenvolvimento à regiões e populações pobres e diminuir as desigualdades, foi assim nos EUA e na Europa..

A onda liberalizante de 90 ferrou com os EUA e com a Europa, mesmo os dois tendo seguido caminhos diferentes. Parece que o desastre dos cobaias da América do Sul não serviu de exemplo.

Esses caminhos fazem parte de um "projeto" bem calculado, intencional, que segue um roteiro predeterminado.

EUA e Inglaterra, fora o Chile, foram os primeiros a se  utilizarem dessas ferramentas em sua plenitude. Eles transferiram tudo para o privado tal como concebe o liberalismo mais radical da escola austríaca.

Os demais países da Europa utilizaram como ponto de partida a forma da "vaselina" onde se transferia para a privada atividades de caráter conceitual público, com a explicação liberal de ineficiência do Estado, e justificava a "fiscalização" do Estado através das agências reguladoras. Transposta a fase inicial, entra-se na fase mais voraz que é reduzir ou mesmo eliminar a "regulação" para que as privadas exerçam livremente o seu instinto animal que mostrou-se predador  e que mais recentemente se mostra autofágico, constatado pelo abismo das economias e das empresas dos países chamados desenvolvidos, cujo exemplo citado por Nassif é magistral; "um incêndio em uma cidade norte-americana, que o Corpo de Bombeiros recusou-se a apagar porque o dono do imóvel não estava com sua taxa em dia."

O Brasil de FHC entrou direto na segunda fase do modelo onde procurou privatizar tudo, e só não conseguiu frente à forte resistência do povo brasileiro, talvez pela nossa própria carência e mais precisamente porque por aqui ainda vigorava forte partido de oposição que contrapunha essa ideias privatizantes.

Se vê com enorme preocupação nos dias atuais, o governo entrando mais uma vez na busca da transferência de atividades consideradas públicas e de responsabilidades do governo como entidade representante de sua população, tais como estradas, portos, aeroportos, etc.

Para aqueles que advogam o novo slogan do liberalismo no seu afã de justificar as privatizações, concessões, o termo gestão, devo lembrar que no Brasil a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa econômica, a Vale, Volta Redonda, Itaipu, etc, etc, etc, foram construídas pela  "gestão" do Estado.

O governo parece em desespero em fazer a economia rolar, e este poderia ser um tema explorado por Nassif em um próximo Post.

Inflou os cofres do BNDES, baixou impostos, reduziu preços de energia, concede empréstimos com prazos e juros vantajosos só visto nos governos militares, desonera a folha, abre concessões de todos os lados, corre para todos os lados com o pires nas mãos.

Essas atitudes de desespero nunca dão certo.

É preciso que o governo encare o problema de frente.

Nenhum país está conseguindo fazer as privadas investirem, nenhum.

Portanto, que invista o que for possível com o dinheiro público e não caia na tentação, sempre equivocada, de que as privadas realizarão com competência aquilo que é de responsabilidade pública, e como o termo já está dizendo, responsabilidade pública, é pública e não privada. Então não tente transferir essas responsabilidades para as privadas porque não darão certo.

Que o Brasil siga os exemplos recentes dos EUA e UE para saber o que não fazer, e siga o seu próprio recente exemplo, da era Lula, e os dos demais BRICS para saber o que fazer.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Fotografia - por National Geographic

A louca cavalgada da Globo contra os venezuelanos - por Paulo Nogueira ( Diário do Centro do Mundo)

O que está por trás da maneira como as Organizações Globo cobrem o caso Chávez.

Noto, nas redes sociais, revolta contra a maneira como a Globo vem cobrindo o caso Chávez.

Estaria havendo um golpe na Venezuela, segundo a Globo.

Não existe razão para surpresa. Inimaginável seria a Globo apoiar qualquer tipo de causa popular. Acaba de sair uma pesquisa segundo a qual quase 70% dos venezuelanos aprovam a postergação do juramento de Chávez, e mais de 60% estão satisfeitos com o grau de informação oficial sobre seu estado clínico.

Mas esse tipo de coisa você não saberá em nenhum veículo da Globo, e muito menos em seus colunistas.
Chávez e Globo têm um história de beligerância explícita. Ambos defendem interesses antagônicos com paixão, com ênfase, com clareza.

Se estivéssemos na França de 1789, a Globo defenderia a Bastilha e Chávez seria um jacobino. Em vez de recitar Bolívar, ele repetiria Rousseau.

Chávez cometeu um crime mortal para a Globo: não renovou a concessão de uma emissora que tramara sua queda. Veja: um grupo empresarial usara algo que ganhara do Estado — a concessão para um canal de tevê — para tentar derrubar o presidente que o povo elegera. Chávez fez o que tinha que fazer. E o que ele fez é o maior pesadelo das Organizações Globo: a ruptura da concessão.

Há uma cena clássica que registra a hostilidade entre Chávez e a Globo. Foi, felizmente, registrada pelas câmaras. É um documento histórico. Você pode vê-la no pé deste artigo.

Chávez está dando uma coletiva, e um repórter ganha a palavra para uma pergunta. É um brasileiro, e trabalha na Globo. Fala num espanhol decente, e depois de se apresentar interroga Chávez sobre supostas agressões à liberdade de expressão.

Toca, especificamente, numa multa aplicada a um jornalista pela justiça venezuelana.

Chávez ouve pacientemente. No meio da longa questão, ele indaga se o jornalista já concluiu a pergunta. E depois diz: “Sei que você veio aqui com uma missão e, se não a cumprir, vai ser demitido. Não adianta eu sugerir a você que visite determinados lugares ou fale com certas pessoas, porque você vai ter que fazer o que esperam que você faça.”

Quem conhece os bastidores do jornalismo sabe que quando um repórter da Globo, vai para a Venezuela a pauta já está pronta. É só preencher os brancos. Não existe uma genuína investigação. A condenação da reportagem já está estabelecida antes que a pauta seja passada ao repórter.

Lamento se isso desilude os ingênuos que acreditam em objetividade jornalística brasileira, mas a vida é o que é. Na BBC, o repórter poderia de fato narrar o que viu. Na Globo, vai confirmar o que o seu chefe lhe disse. É uma viagem, a rigor, inútil: serve apenas para chancelar, aspas, a paulada que será dada.

“Como cidadão latino-americano, você é bem-vindo”, diz Chávez ao repórter da Globo. “Como representante da Globo, não.”

Chávez lembrou coisas óbvias: o quanto a Globo esteve envolvida em coisas nocivas ao povo brasileiro, como a derrubada de João Goulart e a instalação de uma ditadura militar em 1964.

Essa ditadura, patrocinada pela Globo, tornou o Brasil um dos campeões mundiais em iniquidade social. Conquistas trabalhistas foram pilhadas, como a estabilidade no emprego, e os trabalhadores ficaram impedidos de reagir porque foi proibida pelos ditadores sua única arma – a greve.

Não vou falar na destruição do ensino público de qualidade pela ditadura, uma obra que ceifou uma das mais eficientes escadas de mobilidade social. Também não vou falar nas torturas e assassinatos dos que se insurgiram contra o golpe.

Chávez, na coletiva, acusou a Globo de servir aos interesses americanos.

Aí tenho para mim que ele errou parcialmente.

A Globo, ao longo de sua história, colocou sempre à frente não os interesses americanos – mas os seus próprios, confundidos, na retórica, com o interesse público, aspas.

Tem sido bem sucedida nisso.

O Brasil tem milhões de favelados, milhões de pessoas atiradas na pobreza porque lhes foi negado ensino digno, milhões de crianças nascidas e crescidas sem coisas como água encanada.

Mas a família Marinho, antes com Roberto Marinho e agora com seus três filhos, está no topo da lista de bilionários do Brasil.

Roberto Marinho se dizia “condenado ao sucesso”. O que ele não disse é que para que isso ocorresse uma quantidade vergonhosa de brasileiros seria condenada à miséria.




Comentário
A parte final do vídeo é oriunda do documentário "A revolução não será televisionada", já compartilhada aqui no blog.

Fotografia - por Joni Niemela (site homônimo)

Joaquim amoleceu? – por Mauricio Dias (CartaCapital)

O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou amolecido, cordato, compreensivo, após o generoso recesso do Judiciário. O tipo “malvadeza durão”, encarnado por ele ao longo do julgamento do chamado “mensalão” petista, esfumou-se. Talvez temporariamente ou, quem sabe, por força das circunstâncias.

Sob a presidência de Barbosa, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em reunião no dia 19, ao julgar o veto a patrocínios da iniciativa privada para festas de juízes, estabeleceu um nível porcentual de tolerância para a ética. É mais ou menos assim: eventos promovidos por conselhos de Justiça, tribunais e escolas da Magistratura podem ganhar incentivo privado de até 30%. Alguém poderá pensar: melhorou, só porque não havia limites.

Embora tomado pelo espírito da discutida cordialidade brasileira, o ministro Barbosa ainda fez uma ponderação restritiva ao que chancelou: “É uma primeira tentativa de segregar o Poder Judiciário dessas relações duvidosas, senão promíscuas, às vezes, com o empreendimento privado”. Fez a concessão emoldurada por um discurso duro: “A minha posição, e de outros conselheiros, é no sentido de proibição total. Acho que isso virá em futuro próximo”.

Houve, no entanto, quem não cedeu. Os conselheiros do CNJ Jefferson Kravchychyn e Jorge Hélio, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, ficaram a favor da proibição de 100%. Não queriam deixar para depois.

Esses patrocínios são uma tradição equivocada no Judiciário brasileiro. Na falta de freio, tudo foi se agravando: houve congresso em resort de luxo patrocinado por instituições financeiras e a Associação Paulista de Magistrados recebeu brindes que foram distribuídos em uma festa na qual, por fim, foi sorteado um carro.

“É uma verdadeira vergonha esse evento”, condenou, na ocasião, o corregedor do CNJ, Francisco Falcão. Ele anotou a transgressão na sua lista de tarefas.

Quem ousa negar um “pedidinho” de ajuda para realizar um evento da Magistratura? O pedido por si só constrange, independentemente de outros problemas que possa criar.

Quando corregedora, a ministra Eliana Calmon, a favor do veto total ao patrocínio, tinha força na opinião pública, mas era fraca junto às forças ocultas. Não chegou a levar a questão a plenário. Isso foi feito pelo ministro Francisco Falcão, atual corregedor. Falcão apresentou a proposta de veto total, mas não manteve a posição. Aderiu ao porcentual aprovado.

No Conselho, a maioria votou seguindo a proposta apresentada pelos ministros Carlos Alberto de Paula e o próprio Falcão. O novo texto foi costurado no último fim de semana pelos dois.

A explicação oficial para o recuo foi político: não se formou consenso. A decisão final foi obtida por maioria de 10 votos a 5.

Há também explicação oficiosa. Fontes bem informadas garantem que o Instituto Innovare, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que conta com apoio do Sistema Globo, conseguiu demover vários integrantes do CNJ.

Não se sabe se houve proibição de brindes, prêmios e passagens aéreas, entre outras coisas condenáveis. Essa decisão, de manga curta, do CNJ prova, entre outras coisas, que a ética no Brasil, tão invocada, avança no ritmo da nossa história: lenta e gradualmente.

Seguimos com o estandarte da esperança, no qual se lê: Brasil, país do futuro.

Comentário
Terá a verve saneadora de Joaquim Barbosa arrefecido? Ou será que ela é somente seletiva?
Então fica assim: para Joaquim Barbosa (versão 2013) pode corrupção? Sim, pode. Tráfico de influência? Sim, pode. Imoralidade? Sim, pode. 
Desde que limitados a 30%.

Arte gráfica - por Feng Zhu Design

"O alto comissário do Golbery não toma jeito" – por Tarso Genro (Carta Maior)

Como Elio Gaspari foi do velho Partidão e depois se tornou confidente do General Golbery, fazendo, a partir daí, uma carreira de jornalista mordaz e corregedor de todos os hábitos do país, ele se dá o direito de não só inventar tolices nas suas colunas, como também enganar os mais desavisados.

Defende as suas teses principalmente a partir da falsificação da posição dos seus adversários de opinião. Para defendê-las, Elio sempre desqualifica os seus adversários com textos de estilo ferino, que não raro beiram a difamação. Os que se sentem agredidos raramente se defendem, não só porque ele não publica as respostas na sua coluna, mas porque talvez temam despertar nele uma ira ainda maior, que também não abre espaços para o contraditório.

Já fui alvo algumas vezes das suas distorções e falsificações, mas sobre este tema da reforma política preciso responder formalmente, porque se trata de um assunto extremamente relevante para o aperfeiçoamento democrático do país, sobre o qual existem divergências elevadas, tanto dentro da esquerda como da direita democrática.

A estratégia usada por Elio Gaspari para promover suas crônicas foi muito comum na época da ditadura, quando o SNI - através de articulistas cooptados - recheava de informações manipuladas a grande imprensa, sobre a “subversão” e as “badernas estudantis”. O regime tentava, desta forma, tanto manter o controle da opinião pública, como dividir a oposição legal e a clandestina, num cenário em que povo já estava cansado do regime. Elio Gaspari parece que se contaminou com este vício e combinou-o com uma arrogância olímpica: desqualifica todo mundo, não respeita ninguém, o que pode significar uma volúpia de desrespeito a si mesmo, ensejada pela sua trajetória como jornalista com idéias muito próximas de um ceticismo anarco-direitista.

Vários dirigentes políticos, tanto da oposição como da situação - da direita e da esquerda - que não estão satisfeitos com o sistema político atual, debatem uma saída: uma reforma política para melhorar a democracia no país. Todos sabemos que não existe um sistema ideal e perfeito, mas que é possível uma melhora no sistema atual, que pode tornar mais decente a representação e os próprios partidos. Este debate para melhorar a democracia e dar maior coerência ao sistema de representação tem despertado a santa ira de Elio Gaspari, que dispara para todos os lados, mas nunca diz realmente qual é a sua posição sobre o assunto.

No seu artigo “O comissariado não toma jeito”, no qual sou citado nominalmente como defensor de fisiologismos, ele atinge o auge na deformação das opiniões de pessoas que ele não concorda. Vincula, inclusive de maneira sórdida estas opiniões a dirigentes políticos condenados na ação penal 470, para aproveitar a onda midiática que recorre diariamente a estas condenações, não só para desmoralizar a política e os partidos, mas para tentar recuperar os desastrados anos do projeto neoliberal no país, nos quais, como todos sabemos, não ocorreu nenhuma corrupção ou fisiologismo.

As deformações de Elio são explícitas quando ele examina dois pontos importantes da reforma política: o “voto em lista fechada” e o “financiamento público” das campanhas eleitorais. Sobre o voto em lista “fechada” ele argumenta, em resumo, que a “escolha deixa de ser do eleitor”, que vota numa lista preparada pelo Partido, que captura o seu direito de escolha.

Pergunto: será que Elio não sabe que a escolha na “lista aberta” (sistema atual), é feita, também, a partir de uma relação de nomes que é organizada pelos Partidos? E mais: será que Elio não sabe que a diferença entre um e outro sistema é que, no atual, o voto vai para a “fundo” de votos da legenda e acaba premiando qualquer um dos mais votados da lista, sem o mínimo nexo com a vontade do eleitor? Repito, qualquer um da lista, sem que o eleitor possa saber quem ele está ajudando eleger!

Na lista fechada é exatamente o contrário. O eleitor sabe em quem ele está votando. E sabe da “ordem de preferência”, que o seu voto vai chancelar, a partir do número de votos que o Partido vai amealhar nas eleições. O eleitor faz, então, previamente, uma opção partidária - inclusive a partir da qualidade da própria lista que os Partidos apresentaram - e fica sabendo, não só quem compõe a lista do seu partido, mas também a ordem dos nomes que vão ter a preferência do seu voto.

Na lista aberta, ao invés de crescer o poder político dos partidos - que Elio parece desprezar do alto da sua superioridade golberyana - o que aumenta é o poder eleitoral pessoal de candidatos que, neste sistema de lista aberta, carreiam os votos dos eleitores para qualquer desconhecido. Por mais respeito humano que se tenha por figuras folclóricas que ajudam eleger pessoas com meia dúzia de votos, não se pode dizer que a sua influência pessoal possa ser melhor que a influência das comunidades partidárias, por mais defeitos que elas tenham.

A tegiversação sobre o financiamento público das campanhas não é ridícula, porque é simplesmente uma falcatrua argumentativa. Elio diz que este tipo de financiamento não acabará com o “caixa 2” e que tal procedimento vai levar a conta para o povo, que ele chama gentilmente de “patuléia”. Vejamos se estes argumentos são sérios.

Primeiro: ninguém tem a ilusão de acabar com o “caixa 2”, que acompanhará as campanhas, enquanto tivermos eleições. O que devemos e podemos buscar é um sistema que possa diminuí-la, substancialmente, através - por exemplo - de um controle “on line”, de todos os gastos das campanhas, num sistema financiado por recursos conhecidos e previamente distribuídos aos partidos.

Este sistema certamente diminuirá a dependência dos partidos em relação aos empresários e permitirá um controle mais detalhado dos gastos, pois cada partido terá um valor previamente arbitrado, para ser fiscalizado à medida que os recursos forem sendo gastos. Reduzir, portanto, a força do poder econômico sobre as eleições, este é o objetivo central do financiamento público.

Quanto à transferência das despesas para o povo, qualquer aluno do General Golbery - digo aqui da modesta situação de fisiológico que me foi imputada - sabe que as contribuições dadas pelas empresas aos partidos e aos políticos, são “custos” de funcionamento de uma empresa, que integram o preço dos seus produtos e serviços, que são comprados pelo consumidor comum ou pelo Estado.

Quem paga por tudo, sempre, é o povo que trabalha e compra e o Estado que encomenda, compra e paga. O defensor da patuléia, portanto, não está defendendo nem a “viúva” metafórica nem o Estado concreto. Está, sim, defendendo a atual influência do poder econômico sobre os processos eleitorais, de uma forma aparentemente moralista, mas concretamente interessada: acha que o sistema assim está bem. Uma forma de fisiologismo altamente disfarçado. O alto comissário do Golbery não toma jeito.

Esqueleto - por Dave Wilkins (Arte digital - Coolvibe)

Papéis do WikiLeaks expõem ação política do Vaticano na América Latina – por Jamil Chade (O Estado de S. Paulo)

GENEBRA - O regime cubano, a "ameaça" de Hugo Chávez, a crise em Honduras ou mesmo os acordos comerciais do Brasil. O Vaticano sob o pontificado de Bento XVI, longe de ter uma postura de mero espectador, adotou iniciativas políticas nos bastidores para influenciar a situação na América Latina nos últimos anos e defender seus interesses.

É o que revelam mais de 130 telegramas vazados pelo site WikiLeaks, e obtidos com exclusividade pelo Estado, apontando para as entranhas das relações políticas do Vaticano desde 2005 na região latino-americana, que representa mais de 40% de seus fiéis no mundo.

Tentando ter um papel político central no continente, a Santa Sé tratou de algumas das crises no hemisfério com o presidente dos EUA, Barack Obama. Documentos revelam que o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, fez propostas concretas para o governo americano sobre a situação em Honduras quando se reuniu, em 10 de julho de 2009, com o presidente Obama.

Num telegrama de 15 de julho de 2009, a embaixada americana na Santa Sé relata um encontro de diplomatas americanos com monsenhor Francisco Forjan em que o Vaticano rejeita chamar a retirada de Manuel Zelaya da presidência como um "golpe de Estado". A Igreja pedia ao governo americano que insistisse com seus parceiros para que explicassem ao público as "ações anticonstitucionais de Zelaya que precipitaram a crise". O líder da Igreja nesse assunto era o cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa e hoje considerado como um dos potenciais candidatos a papa.

Um dos temas mais constantes nas reuniões entre diplomatas americanos e cardeais do Vaticano é a situação de Cuba. Um telegrama de 19 de agosto de 2009 revela que uma viagem de cardeais e bispos americanos a Cuba naquele ano não era apenas uma visita episcopal. A meta era também a de pressionar o governo de Havana em relação aos prisioneiros políticos, um pedido de Washington.

O telegrama escrito pela representação americana em Cuba conta que o cardeal de Boston, Sean O’Malley, um dos que estarão no conclave, reuniu-se com o presidente da Assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón. O documento revela que os cardeais e bispos relataram ponto a ponto ao governo americano como havia sido a conversa com Alarcón. "Apreciamos o fato de a delegação (de religiosos) ter levantado os problemas de prisioneiros políticos", indicou o telegrama.

No dia 15 de janeiro de 2010, o Vaticano fez uma sugestão concreta ao governo americano para enfraquecer o regime cubano: baratear os custos de ligações entre Cuba e os EUA. A proposta foi apresentada por monsenhor Nicolas Thevenin, conselheiro político de Bertone. "Isso poderia ter um impacto positivo na promoção de uma mudança política", indicou.

A Venezuela de Hugo Chávez é apresentada pela Santa Sé como a grande preocupação na região. Para Accattino, um endurecimento da posição dos EUA diante de Cuba poderia acabar ajudando Chávez, "o novo sucesso de Fidel Castro na América Latina". "A diferença é que ele tem os recursos do petróleo", alertou. O Vaticano, em diversas conversas com diplomatas americanos, deixou claro que Caracas vinha pressionando a Igreja e transformado a Santa Sé em um de seus alvos de crítica.

Pressão contra Chávez. Três anos antes, no dia 1.º de fevereiro de 2007, o embaixador americano em Caracas, William Brownfield, e o cardeal Jorge Urosa Savino se reuniram na casa do núncio apostólico na capital venezuelana para discutir a possibilidade de que o papa Bento XVI usasse sua viagem que faria naquele ano ao Brasil para pressionar Chávez. Uma viagem oficial a Caracas estaria descartada pelo Vaticano. "Chávez não o convidaria", disse o cardeal.

Os dois passaram a debater a possibilidade de que o avião que traria o papa de Roma a São Paulo, em maio, fizesse uma parada de 45 minutos em Caracas, com a justificativa de reabastecer. Nesse período, o papa receberia bispos e faria uma declaração. "O cardeal concordou que qualquer parada teria uma importância simbólica", indicou o telegrama, apontando para a reação positiva de Savino. A escala acabou não ocorrendo.

Comentário
É bom publicar isto aqui, porque a notícia saiu no Estadão (jornal de extrema direita), e depois alguns vão dizer que são reles teorias conspiratórias da esquerda. 

Comida Italiana é um negócio sério - por Terry Border (Blog Bentobjects)

Fato consumado - por Wálter Maierovitch (CartaCapital)

No curso da Segunda Guerra Mundial, o papa Pio XII, com as burras vaticanas cheias, resolveu fazer tábula rasa ao texto do evangelista Mateus sobre não se poder servir ao mesmo tempo ao Senhor e a Mamon, para usar a palavra aramaica dita por Jesus Cristo e traduzida por dinheiro, riqueza. Assim, em junho de 1942, foi fundado o Banco do Vaticano, disfarçado pelo acrônimo IOR (Instituto para as Obras Religiosas).

O papa Bento XVI tenta reforçar a ideia da renúncia por ter
perdido forças para enquadrar a Santa Sé e seu secretário de
Estado e antigo colaborador, o cardeal Tarcisio Bertone.
Foto: Stefano Rellandini/ Reuters/ LatinStock
A meta era fazer o capital render frutos. Algo já executado pelo papa Mastai Ferretti (Pio IX), que, com Roma no caminho irreversível de integrar a Itália unificada (1870) e ser a futura capital, mandou o belga Francesco Saverio de Merode comprar, a preço de banana e para a Igreja, terrenos numa área urbanisticamente estratégica: virou a zona ferroviária central e a englobar a famosa Stazione Termini.

O papa Bento XVI, nesses últimos dias de pontificado, tenta reforçar a ideia da renúncia por ter perdido as forças e o ânimo para enquadrar a Santa Sé, ou seja, a detentora de poder soberano por representar a Igreja Católica e o Estado do Vaticano. Um detalhe: a Santa Sé, que é uma espécie de conselho de ministros (Cúria Romana) num regime laico parlamentarista, é composta de membros escolhidos pelo próprio papa, que designa um secretário de Estado (ou primeiro-ministro), no caso, o cardeal Tarcisio Bertone.

Bertone, que há pouco o papa recusou publicamente seu beija-mão e a escancarar a desconfiança, é um antigo colaborador de Ratzinger e dos tempos do Santo Ofício, repaginado em Propaganda Fide. Ao revelar a ingovernabilidade da Santa Sé, empurra a responsabilidade para o secretário de Estado e mantém a aura do magistral teólogo espiritualizado e distante das questões temporais.

Por pressão de Bertone, o papa Ratzinger engoliu o preenchimento do cargo de presidente do conselho de administração do IOR. Cargo vago há nove meses com o escandaloso afastamento do banqueiro Gotti Tedeschi, outro da turma de Bertone. Essa nomeação à undécima hora passou a ser considerada um ato de “blindagem” a Bertone. Em outras palavras, um fato consumado e a não deixar espaço para o futuro pontífice, que poderá não ser Bertone.

Na estrutura administrativa da monarquia vaticana, o IOR está atrelado à Secretaria de Estado e conta com uma comissão cardinalícia de vigilância presidida pelo próprio Bertone e da qual participa Odilo Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo. Em resumo, foi escolhido Ernst von Freyberg, por rezar na mesma cartilha de Bertone e que conseguiu, também, prorrogar os mandatos dos demais integrantes do conselho administrativo do IOR.

Von Freyberg, de 54 anos, será a garantia do silêncio e da tradição de não se punirem grandes bandidos que, aliás, contam com imunidade diplomática, a alcançar todos os membros do IOR. Só para lembrar, o mandado de prisão expedido pela Justiça italiana em fevereiro de 1987 contra o então prelado Paul Casimir Marcinkus, presidente do IOR por 19 anos (sua posse deu-se em 1971), jamais foi cumprido diante da imunidade vaticana.

Para o jornal Corriere della Sera, o cardeal Bertone, quanto ao IOR, executou a estratégia do “fato consumado”. Como brechas ficaram a gestão fraudulenta do Instituto Dermatológico (IDI) e a falência fraudulenta do Hospital São Rafael, do nada franciscano monsenhor Luigi Verzè, com rombo estimado em 1,5 bilhão de euros.

O IOR sempre foi o calcanhar de aquiles dos papas. Nas épocas de Paulo VI e João Paulo II vieram a furo os escândalos protagonizados pelo arcebispo Marcinkus, que teve como comparsas Michele Sindona, banqueiro da Máfia, Roberto Calvi, que transformou o Banco Ambrosiano em lavanderia, e Licio Gelli, mandachuva da Loja Maçônica P2. O prejuízo financeiro da Santa Sé, que mente ao afirmar não ter havido nenhum, beneficiou Gelli e Umberto Ortolani, que, por evidente, fugiu para o Brasil e se instalou em luxuoso apartamento no Morro dos Ingleses, sofisticado bairro paulistano.

Os valores desviados referiam-se a pacotes acionários do Vaticano. O objetivo era evitar pagar as taxações estabelecidas pelo governo italiano e referentes a dividendos acionários: Marcinkus foi dado como membro da Loja Maçônica e se descobriu que outro membro, de carteirinha número 1.816, era Silvio Berlusconi.

Marcinkus ficou protegido no interior dos muros leoninos que cercam o Vaticano até 1989. Tempo suficiente para preparar seu sucessor, o bispo Donato De Bonis. Ele transformou o IOR numa offshore secreta e usava como laranja para depósitos em conta corrente o cardeal-arcebispo de Nova York, Francis Spelman.

Pelo Banco do Vaticano, presidido por De Bonis, passaram as propinas pagas no escândalo da Enimont, da qual a estatal italiana ENI detinha 80% do capital acionário. De Bonis, depois de afastado sem sanções por Wojtyla, virou diretor espiritual da Soberana Ordem Militar de Malta. Por coincidência, o novo presidente do IOR pertence a essa ordem fundada em 1048.

Comentário
De fato, já há um bom tempo a igreja católica enfrenta uma complicada quaresma - que tem durado bem mais que 40 dias.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Fotografia - por Jodi Cobb (National Geographic)

Contra a democracia - por Vladimir Safatle (Folha)

Um dos pilares do paradigma liberal é a crença de que livre-mercado e democracia são termos que nunca podem entrar em contradição.

Segundo essa vulgata, por meio do livre-mercado garante-se a liberdade individual de empreender e defender seus próprios interesses.

Neste mundo, ser livre equivaleria a poder estabelecer contratos de maneira "não coercitiva", seja para vender a força de trabalho, seja para alugar o útero, seja para contrair matrimônio, seja para relacionar-se com o Estado por meio dos impostos ou para tomar empréstimos no banco. Diga-se de passagem, todas essas ações são, para os liberais, pensadas a partir de uma mesma lógica unidimensional.

Nesse contexto, "democracia" só pode significar "o regime que não interfere nos contratos firmados por pessoas livres". Quanto menos interferência estatal, mais liberdade; é o que diz o velho man-tra. No entanto, foi esse mantra que levou o mundo a uma das piores crises do capitalismo. Por isso, sair da crise só será possível à condição de pararmos de nos deixar enfeitiçar por ele.

Se uma ideia ruiu nos últimos anos, foi exatamente a que vê, no livre-mercado, o modelo de uma sociedade civil livre. Deixado a si mes-mo, o mercado é o regime que extorque contratos dos que não têm força social para afirmar sua liberdade, dos que não têm escolha real por estarem submetidos ao risco constante da precariedade e da vulnerabilidade. Por isso, o velho Hegel dizia que a sociedade civil nunca é suficientemente rica para acabar com a pobreza.

Tal extorsão mostra, nos dias de hoje, sua face mais clara quando vemos bancos e seus "experts" da grande imprensa mundial aterrorizarem populações com a ameaça do caos econômico, caso suas dívidas não sejam en-campadas pelos Estados nacionais e transformadas em dívidas soberanas.

Ao aceitarem tal ameaça, os Estados destroem o sistema de segurança social que permitia um mínimo de liberdade à população diante da espoliação pelos economicamente mais fortes. Mas ao fazerem isso, eles destroem as verdadeiras bases da democracia.

Ou seja, a crise que o mundo vive hoje é a prova maior de que livre-mercado e democracia não andam necessariamente juntos, que há situações nas quais o primeiro pode destruir o segundo.

Com sua influência desproporcional, o sistema financeiro é, atualmente, a maior ameaça à democracia ocidental. Salvar tal sistema nos levará a uma nova forma de sociedade totalitária: a sociedade da precariedade generalizada.

Batalha de Khazad-Dûm - por Kerembeyit (Arte digital)

As 40 perguntas que Yoani Sánchez não irá responder – por Salim Lamrani (Pragmatismo Político)

40 perguntas para Yoani Sánchez em sua turnê mundial: famosa opositora cubana fará seu giro global por mais de uma dezena de países do mundo

Grande mídia brasileira não fará nenhum questionamento a Yoani Sánchez que esteja fora dos padrões de conveniências
(Foto: aBr)
1. Quem organiza e financia sua turnê mundial?

2. Em agosto de 2002, depois de se casar com o cidadão alemão chamado Karl G., abandonou Cuba, “uma imensa prisão com muros ideológicos”, para imigrar para a Suíça, uma das nações mais ricas do mundo. Contrariamente a qualquer expectativa, em 2004, decidiu voltar a Cuba, “barco furado prestes a afundar”, onde “seres das sombras, que como vampiros se alimentam de nossa alegria humana, nos introduzem o medo através do golpe, da ameaça, da chantagem”, onde “os bolsos se esvaziavam, a frustração crescia e o medo se estabelecia”. Que razões motivaram esta escolha?

3. Segundo os arquivos dos serviços diplomáticos cubanos de Berna, Suíça, e de serviços migratórios da ilha, você pediu para voltar a Cuba por dificuldades econômicas com as quais se deparou na Suíça. É verdade?

4. Como pôde se casar com Karl G. se já estava casada com seu atual marido Reinaldo Escobar?

5. Ainda é seu objetivo estabelecer um “capitalismo sui generis” em Cuba?

6. Você criou seu blog Geração y (Generación Y) em 2007. Em 4 de abril de 2008 conseguiu o Prêmio de Jornalismo Ortega e Gasset, de 15 mil euros, outorgado pelo jornal espanhol El País. Geralmente, este prêmio é dado a jornalistas prestigiados ou a escritores de grande carreira literária. É a primeira vez que uma pessoa com seu perfil o recebe. Você foi selecionada entre cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time (2008). Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores blogs do mundo pela cadeia CNN e pela revista Time (2008), e também conquistou o prêmio espanhol Bitacoras.com, assim como The Bob’s (2008). El País lhe incluiu em sua lista das cem personalidades hispano-americanas mais influentes do ano 2008. A revista Foreign Policy ainda a incluiu entre os dez intelectuais mais importantes do ano em dezembro de 2008. A revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo em 2008. A prestigiosa universidade norte-americana de Columbia lhe concedeu o prêmio María Moors Cabot. Como você explica esta avalanche de prêmios, acompanhados de importantes quantias financeiras, em apenas um ano de existência?

7. Em que emprega os 250 mil euros conseguidos graças a estas recompensas, um valor equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como França, quinta potencia mundial, e a 1.488 anos de salário mínimo em Cuba?

8. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional por Cuba de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação. Qual é seu salário mensal por este cargo?

9. Você também é correspondente do jornal espanhol El País. Qual é sua remuneração mensal?

10. Quantas entradas de cinema, de teatro, quantos livros, meses de aluguel ou pizzas pode pagar em Cuba com sua renda mensal?

11. Como pode pretender representar os cubanos enquanto possui um nível de vida que nenhuma pessoa na ilha pode se permitir levar?

12. O que faz para se conectar à Internet se afirma que os cubanos não têm acesso e ela?

13. Como é possível que seu blog possa usar Paypal, sistema de pagamento online que nenhum cubano que vive em Cuba pode utilizar por conta das sanções econômicas que proíbem, entre outros, o comércio eletrônico?

14. Como pôde dispor de um Copyright para seu blog “© 2009 Generación Y – All Rights Reserved”, enquanto nenhum outro blogueiro cubano pode fazer o mesmo por causa das leis do embargo?

15. Quem se esconde atrás de seu site desdecuba.net, cujo servidor está hospedado na Alemanha pela empresa Cronos AG Regensburg, registrado sob o nome de Josef Biechele, que hospeda também sites de extrema direita?

16.  Como pôde fazer seu registro de domínio por meio da empresa norte-americana GoDady, já que isto está formalmente proibido pela legislação sobre as sanções econômicas?

17. Seu blog está disponível em pelo menos 18 idiomas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, português, russo, esloveno, polaco, chinês, japonês, lituano, checo, búlgaro, holandês, finlandês, húngaro, coreano e grego). Nenhum outro site do mundo, inclusive das mais importantes instituições internacionais, como por exemplo as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE ou a União Europeia, dispõem de tantas versões linguísticas. Nem o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos, nem o da CIA dispõem de igual variedade. Quem financia as traduções?

18. Como é possível que o site que hospeda seu blog disponha de uma banda com capacidade 60 vezes superior àquela que Cuba dispõe para todos os usuários de Internet?

19. Quem paga a gestão do fluxo de mais de 14 milhões de visitas mensais?

20. Você possui mais de 400 mil seguidores em sua conta no Twitter. Apenas uma centena deles reside em Cuba. Você segue mais de 80 mil pessoas. Você afirma “Twitto por sms sem acesso à web”. Como pode seguir mais de 80 mil pessoas sem ter acesso à internet?

21. O site www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da rede social Twitter. Revela a partir de 2010 uma impressionante atividade de sua conta. A partir de junho de 2010, você se inscreveu em mais de 200 contas diferentes do Twitter a cada dia, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. Como pôde realizar tal proeza?

22.  Por que cerca de seus 50 mil seguidores são na verdade contas fantasmas ou inativas? (ver aqui) De fato, dos mais de 400 mil perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são ovos (sem foto) e 20 mil têm características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na rede (de zero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).

23. Como é possível que muitas contas do Twitter não tenham nenhum seguidor, apenas seguem você e tenham emitido mais de duas mil mensagens? Por acaso seria para criar uma popularidade fictícia? Quem financiou a criação de contas fictícias?

24. Em 2011, você publicou 400 mensagens por mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de 1,25 dólares. Você gastou seis mil dólares por ano com o uso do Twitter. Quem paga por isso?

25. Como é possível que o presidente Obama tenha lhe concedido uma entrevista, enquanto recebe centenas de pedidos dos mais importantes meios de comunicação do mundo?

26. Você afirmou publicamente que enviou ao presidente Raúl Castro um pedido de entrevista depois das respostas de Barack Obama. No entanto, um documento oficial do chefe da diplomacia norte-americana em Cuba, Jonathan D. Farrar, afirma que você nunca escreveu a Raúl Castro: "Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou nunca tê-las enviado [as perguntas] ao presidente cubano". Por que mentiu?

27. Por que você, tão expressiva em seu blog, oculta seus encontros com diplomáticos norte-americanos em Havana?

28. Entre 16 e 22 de setembro de 2010, você se reuniu secretamente em seu apartamento com a subsecretaria de Estado norte-americana Bisa Williams durante sua visita a Cuba, como revelam os documentos do Wikileaks. Por que manteve um manto de silêncio sobre este encontro? De que falaram?

29. Michael Parmly, antigo chefe da diplomacia norte-americana em Havana afirma que se reunia regularmente com você em sua casa, como indicam documentos confidenciais da SINA. Em uma entrevista, ele compartilhou sua preocupação em relação à publicação dos cabos diplomáticos norte-americanos pelo Wikileaks: “Eu me incomodaria muito se as numerosas conversas que tive com Yoani Sánchez forem publicadas. Ela poderia sofrer as consequências por toda a vida”. A pergunta que imediatamente vem à mente é a seguinte: quais são as razões por que você teria problemas com a justiça cubana se sua atuação, conforme afirma, respeita o marco da legalidade?

30. Continua pensando que “muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García Márquez”?

31. Continua pensando que “havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de toda tendência política” sob a ditadura de Fulgencio Batista entre 1952 e 1958?

32. Você declarou em 2010: “o bloqueio tem sido o argumento perfeito do governo cubano para manter a intolerância, o controle e a repressão interna. Se amanhã as suspenderem as sanções, duvido muito que sejam vistos os efeito”. Continua convencida de que as sanções econômicas não têm nenhum efeito na população cubana?

33. Condena a imposição de sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba?

34. Condena a política dos Estados Unidos que busca uma mudança de regime em Cuba em nome da democracia, enquanto apoio as piores ditaduras do Oriente Médio?

35. Está a favor da extradição de Luis Posada Carriles, exilado cubano e ex-agente da CIA, responsável por mais de uma centena de assassinatos, que reconheceu publicamente seus crimes e que vive livremente em Miami graças à proteção de Washington?

36. Está a favor da devolução da base naval de Guantánamo que os Estados Unidos ocupam?

37. Você é favorável à libertação dos cinco presos políticos cubanos presos nos Estados Unidos desde 1998 por se infiltrarem em organizações terroristas do exílio cubano na Florida?

38. Em sua opinião, é normal que os Estados Unidos financiem uma oposição interna em Cuba para conseguir “uma mudança de regime”?

39. Em sua avaliação, quais são as conquistas da Revolução Cubana?

40. Quais interesses se escondem atrás de sua pessoa?


Comentário: 
Nem queria postar nada sobre esta impostora de merda, inimiga do povo cubano, lobista dos EUA em Cuba, que se aproveita da oposição da direita mundial para se enriquecer nas costas de críticas injustas ao seu país e ao seu povo. Mas alguns comentários que vi em outra postagem me animaram:
- Ela chegou atrasada para o carnaval, ou ainda tem algum baile de fantasias?
- Essa atriz cubana vai trabalhar na novela Salve Jorge?
- Que feiúra!!! Essa aí não mata o papai!!! 

P.S: Decerto que sua "turnê" vai muito bem. A recepção no Brasil tem sido muito calorosa: onde ela vai há protestos contra sua ingrata presença.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Fotografia da Via-láctea retirada num parque natural em Nevada - por Thomas O'Brien (Carter News / Telegraph)

Cristo traído - por Mino Carta (CartaCapital)

Os varões da minha família eram fervorosamente anticlericais, as damas não perdiam a missa domingueira e muitas outras funções. O esquema é bastante comum na Itália. O derradeiro grande líder do Partido Comunista Italiano, Enrico Berlinguer, aos domingos levava mulher e filhas até a porta da igreja e dali saía para um passeio. Voltava para buscá-las.

João XXIII: único, autêntico e
ousado reformador
O anticlericalismo à moda peninsular tem origem na constante e imperiosa interferência eclesiástica na vida do país e de vários mais. A Igreja de Pedro sempre teve uma presença poderosa desde os tempos do Sagrado Romano Império, que precisava do seu endosso para vingar. Dentro da Itália, o papa dispôs de poder temporal, como dono de uma larga fatia do território, do VIII século ao XIX. Foi o tempo do papa-rei.

Para livrar-se dos inimigos, o pontífice nunca hesitou em convocar exércitos estrangeiros. Pela última vez quando Garibaldi enxotou Pio VII para o Vaticano e proclamou a República Romana em 1849. Desta vez, o papa convocou os franceses com um novo, revolucionário modelo de fuzil, e os garibaldini capitularam depois de seis meses de cerco. Vinte e um anos depois quem invadiu Roma foram os bersaglieri do rei piemontês. Mais uma vez o papa refugiou-se no Vaticano e a cidade se tornou capital da Itália unificada.

Tratou-se de um fecho temporário das guerras do Risogimento, destinadas a unificar a Península e a criar uma nação, encerradas finalmente com o conflito de 1914-1918 e a anexação de Trento e Trieste. O golpe de Mussolini levou em 1929 aos Pactos de Latrão, e a Igreja voltou a exercer um papel fortemente político durante o fascismo e mais ainda logo após. Dos púlpitos, de cardeais a párocos de campo fizeram propaganda a favor do Partido Democrata-Cristão e, portanto, da divisão do mundo em dois blocos antagônicos.

A interferência prosseguiu décadas adentro e hoje chega a se agudizar, tanto mais nestes dias de véspera eleitoral: a Itália vai às urnas no próximo dia 24. Os candidatos da direita e do centro conservador não perdem a ocasião para ajoelhar-se aos pés do altar e deglutir hóstias. É o momento em que o sangue anticlerical ferve. As questões em jogo, na Itália e no mundo todo, transcendem a fé, sincera ou não.

Vivemos uma época intelectualmente e moralmente pobre, instigada pelos avanços tecnológicos e arrepiada por demandas inovadoras em choque com a doutrina eclesiástica. De aborto a casamento gay. Enquanto isso, a Igreja de Pedro tenta em desespero impor seus vetos e se agarra aos dogmas, cada vez mais inviáveis à luz da razão. Nesta moldura, credos mais terrenos passam a representar uma concorrência maciça e desapiedada.

As feições atuais do renunciante Ratzinger mostram a gravidade e a tensão da luta. Em quase oito anos de pontificado, Bento XVI envelheceu como se tivesse decorrido o dobro. Não conhecemos os motivos determinantes da renúncia, mas admitamos que ele se sinta inadequado ao enfrentamento de uma situação tão complexa e obsedante como a atual, inquietada por divergências internas e surdos confrontos de bastidor. Não lhe faltam agora os elogios, assemelhados e epitáfios, e, em meio aos encômios, exalta-se a excelência do teólogo. Sejamos claros, não se trata de um Hans Küng, tampouco de um Carlo Maria Martini.

Se Martini tivesse sido o eleito em 2005, é plausível supor que algo teria mudado no sentido da contemporaneidade. Ratzinger limitou-se a confirmar o passado, o qual remonta à época em que, oficializada a religião, consumou-se a traição à palavra de Jesus. Arrisco-me a dizer, sem temer o Inferno, que o verdadeiro Judas é a própria Igreja, poder igual aos outros, humanos e não divinos, muito mais duradouro e fortalecido sempre e sempre pela carência experimentada pelo homem diante do mistério indecifrável.

Na história, e até na hagiografia, há inúmeros papas hipócritas, tirânicos e devassos. Há, também, estadistas. João Paulo II foi um deles, em proveito de seu abrangente Estado, sem atentar para a lição de igualdade e amor pregada por Cristo, e sem respeito pela mais exaltante das virtudes teologais, a caridade. Voltado integralmente às tarefas de senhor de um poder terreno. Se vieram à tona escândalos como a dos padres pedófilos, useiro e vezeiro, foi porque não houve como continuar a escondê-los. E nem se diga o quanto Wojtyla foi decisivo, pela mão de certo monsenhor Marcinkus, na definição dos alcances do IOR, o Banco do Vaticano, Instituto das Obras da Religião, a entender que obra da religião é também a reciclagem de dinheiro mafioso.

Figura ímpar, entre os pontífices recentes, João XXIII, o campônio Roncalli, um reformador encarado como subversivo pelos cinco anos do seu pontificado. Impossível imaginar o desempenho do papa Luciani, João Paulo I. Durou na cátedra de Pedro por um mês e morreu durante a noite, depois de tomar uma chávena de chá. Sobre o seu criado-mudo havia apontamentos a respeito das atividades do monsenhor Marcinkus. Banqueiro de Deus, dizia-se então.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Fotografia com pitadas surreais - por Geof Kern (Zupi)

O conto do "país indispensável" – por Noam Chomsky (Tom Dispatch / Outras Palavras)


Em trecho inédito de seu livro mais recente, Noam Chomsky afirma: nada indica que declínio norte-americano prejudique a democracia

Entrevista de Noam Chomsky* a David Barsamian, no Tom Dispatch | Tradução: Gabriela Leite

Os Estados Unidos ainda têm o mesmo nível de controle sobre os recursos energéticos do Oriente Médio que já tiveram?
Os países que são maiores produtores de combustíveis ainda estão firmemente sob controle das ditaduras apoiadas pelo Ocidente. O progresso obtido pela Primavera Árabe é limitado, mas não insignificante. O sistema de ditaduras controladas pelo Ocidente está ruindo. Na verdade, vem ruindo há algum tempo. Diferente do que ocorria há cinquenta, os recursos energéticos — a maior preocupação dos planejadores norte-americanos — foram, em sua maioria, estatizados. Há tentativas constantes de reverter isso, mas não tiveram sucesso.

Vamos examinar a invasão do Iraque, por exemplo. Para todos, exceto os ideólogos ferrenhos, era muito óbvio que invadimos o Iraque não por causa do nosso amor à democracia, mas porque o país era provavelmente a segunda ou terceira maior fonte de petróleo no mundo, e fica bem no meio da região de maior produção de energia. Mas não se deve dizer isso. É considerado teoria da conspiração.

Os Estados Unidos foram seriamente derrotados pelo nacionalismo iraquiano — principalmente por resistência não-violenta. Podia-se matar os insurgentes, mas não se conseguia lidar com meio milhão de pessoas fazendo manifestações nas ruas. Passo a passo, o Iraque conseguiu desmantelar o controle estabelecido pelas forças ocupantes. Em novembro de 2007, já estava se tornando muito claro que Washington teria muita dificuldade para atingir suas metas. O interessante é que, naquele momento, elas estavam explicitamente estabelecidas.

Em novembro de 2007, o segundo governo de Bush emitiu declaração oficial sobre que arranjo futuro que o Iraque iria ter. Havia dois requisitos principais: primeiro, os Estados Unidos deveriam estar livres para desencadear operações de combate a partir de suas bases militares, as quais seriam preservadas. A segunda meta era “encorajar o fluxo de investimentos estrangeiros ao Iraque, especialmente os norte-americanos.” Em janeiro de 2008, Bush deixou isso claro em uma de suas notas oficiais. Dois meses depois, ao enfrentar a resistência iraquiana, os Estados Unidos tiveram que desistir destes objetivos. O controle sobre o Iraque estava desaparecendo diante de seus olhos.

O Iraque foi uma tentativa de reinstituir à força algo do velho sistema de controle, mas ela foi derrotada. Em geral, acredito, as políticas estadunidenses continuam tentando constantemente voltar à Segunda Guerra Mundial. Mas a capacidade de implementá-las está declinando.

Declinando devido à fraqueza econômica?
Em parte, porque o mundo está simplesmente tornando-se mais diverso. Ele tem centros de poder mais diversos. No fim da Segunda Guerra, os Estados Unidos estavam absolutamente no topo de seu poder. Tinham metade da riqueza mundial e todos os seus competidores haviam sido destruídos ou seriamente atingidos. Washington tinha uma posição de segurança inimaginável, e desenvolveu planos para, essencialmente comandar, o mundo. Não era algo irrealista, àquela época.

Isso era chamado de o planejamento da “Grande Área”?
Sim. Logo após a Segunda Guerra Mundial, George Kennan, chefe do pessoal de planejamento político do Departamento do Estado dos EUA, e outros, rascunharam os detalhes, que foram então implementados. O que está acontecendo agora no Oriente Médio, no norte da África e na América do Sul substancialmente retoma o que acontecia no fim dos anos 1940. A primeira grande resistência à hegemonia dos EUA deu-se em 1949. Foi quando se deu algo que é chamado curiosamente de “a perda da China.” É uma frase muito interessante, nunca renegada. Houve muita discussão sobre quem foi responsável pela perda da China, virou um grande assunto doméstico. Mas é uma expressão muito interessante. Você só pode perder alguma coisa se ela já lhe pertenceu. Toma-se por garantido que nós possuímos a China. Portanto, se eles alcançassem a independência, nós teríamos perdido a China. Mais tarde vieram as preocupações sobre “a perda da América Latina”, “a perda do Oriente Médio”, “a perda de” alguns países. Tudo baseado na premissa de que nós possuímos o mundo e qualquer coisa que enfraqueça nosso controle é uma perda para nós, que deve ser recuperada.

Hoje, se você ler, digamos, revistas de política externa, ou acompanhar os debates do Partido Republicano, verá que estão dizendo “Como vamos prevenir perdas futuras?”

Por outro lado, a capacidade de preservar o controle declinou nitidamente. Em 1970, o mundo já era o que é chamado de economicamente tripolar, com um centro industrial estadunidense; um europeu, com núcleo na Alemanha e aproximadamente comparável, em tamanho; e um do leste asiático, baseado no Japão, que era então a região de maior crescimento no mundo. Desde então, a ordem econômica global tornou-se muito mais diversa. Por isso, é difícil manter nossas políticas, mas os princípios subjacentes não mudaram muito.

Tome, por exemplo, a doutrina Clinton. Ela significava que os Estados Unidos têm o direito de recorrer à força unilateral para assegurar “livre-acesso aos mercados-chave, fontes de energia e recursos estratégicos.” A frase vai além de qualquer coisa que George W. Bush disse, mas o presidente não a alardeou, nem era arrogante e áspero. Por isso, não houve tumulto. A crença nesse direito continua até o presente. Também é parte da cultura intelectual.

Logo após o assassinato de Osama Bin Laden, entre todas as comemorações e aplausos, houve alguns comentários de crítica questionando a legalidade do ato. Séculos atrás, costumava haver uma coisa chamada presunção de inocência. Se você apreende um suspeito, ele é apenas suspeito, até que se prove culpado. Ele deve ser levado a julgamento. É uma parte essencial da lei norte-americana e tem origens na Carta Magna. Por isso, algumas vozes isoladas disseram que talvez não devêssemos jogar pela janela toda a base da justiça anglo-americana. Isso provocou muitas reações de desconforto ou furiosas, mas as mais interessantes partiram, como sempre, dos liberais de esquerda.

Matthew Yglesias, um comentarista conhecido e muito respeitado, escreveu um artigo no qual ridiculariza essas visões. Ele disse que são “surpreendentemente ingênuas”, tolas. É como se expressasse a razão. Disse que “uma das principais funções da ordem institucional internacional é precisamente legitimar o uso de força militar mortal por potências ocidentais.” Obviamente, não estava referindo-se à Noruega… mas aos Estados Unidos. Ou seja, o princípio no qual o sistema internacional está baseado é de que Washington tem o direito de usar a força à sua vontade. Falar sobre a violação da lei internacional, ou algo do tipo, pelos EUA, é “surpreendentemente ingênuo”, completamente bobo. Por acaso, eu fui o alvo dessas observações, e eu estou feliz por confessar minha culpa. Eu acredito, sim, que a Carta Magna e a lei internacional valem alguma atenção.

Menciono o fato apenas para ilustrar que o núcleo da cultura intelectual, mesmo entre a esquerda liberal, não mudou muito. Mas a capacidade de implementá-lo está nitidamente reduzida. É por isso que existe todo esse papo sobre o declínio dos Estados Unidos. Dê uma olhada na edição de fim de ano do Foreign Affairs, o principal jornal do establishment. Sua capa perguntava, em negrito: “É o fim da América?” É uma preocupação-padrão daqueles que acreditam que deveriam ter tudo. Se você acredita que precisa ter tudo, e que tudo que sai do seu controle é uma tragédia, então o mundo está entrando em colapso. É o fim dos Estados Unidos? Há um tempo, nós “perdemos” a China, perdemos o sudeste da Ásia, perdemos a América do Sul. Talvez, venhamos a perder também o Oriente Médio e os países do norte da África. É o fim da América? É um tipo de paranoia, mas é a paranoia dos super-ricos e dos superpoderosos. Para eles, não ter tudo é um desastre.

O New York Times descreve o “dilema definidor da política da Primavera Árabe: como enquadrar impulsos norte-americanos contraditórios, que incluem o apoio à mudança democrática, o desejo de estabilidade e a cautela diante dos islamitas, que se tornaram uma força política potente.” O Times identifica três objetivos dos EUA. O que fazer com eles?
Dois deles são precisos. Os Estados Unidos são a favor da estabilidade. Mas é preciso lembrar o que estabilidade significa. Estabilidade significa conformidade às ordens dos EUA. Então, por exemplo, uma das acusações ao Irã, a grande ameaça externa política, é que ele estava desestabilizando o Iraque e o Afeganistão. Como? Tentando expandir sua influência nos países vizinhos. Já nós, “estabilizamos” países quando os invadimos e destruímos.

Eu cito ocasionalmente uma das imagens que, para mim, ilustram muito bem isso. Foi construída por um analista liberal de política externa, muito conhecido: James Chace, um ex-editor do Foreign Affairs. Escrevendo sobre a derrota do regime de Salvador Allende e a imposição da ditadura de Augusto Pinochet, em 1973, ele afirmava que tínhamos que “desestabilizar” o Chile em nome da “estabilidade”. Isso não é visto como uma contradição — e não o é. Nós tivemos que destruir o regime democrático para obter estabilidade, no sentido de garantir que façam o que nós determinamos. Por isso, sim, nós somos a favor da estabilidade nesse sentido técnico.

Preocupações sobre a política islâmica são exatamente iguais às preocupações com qualquer evolução independente. É preciso preocupar-se com qualquer coisa que é independente, porque ela pode minar nosso poder. Na verdade, isso é um pouco irônico, porque tradicionalmente os Estados Unidos e a Grã-Bretanha têm, em geral, apoiado firmemente o fundamentalismo islâmico radical, não o Islã político, como uma força para bloquear o nacionalismo secular, sua real preocupação. Por exemplo, a Arábia Saudita é o Estado mais fundamentalista do mundo, um Estado islâmico radical. Ela tem um zelo missionário, está espalhando o Islã radical para o Paquistão, financiando o terror. Mas é o bastião da política dos EUA e da Grã-Bretanha — que a apoia constantemente, desde a “ameaça” do nacionalismo secular de Gamal Abdel Nasser (no Egito) e Abd al-Karim Qasim (no Iraque), entre muitos outros. Mas Washington e Londres não gostam do Islã político, porque ele pode tornar-se independente.

O primeiro dos três pontos, no suposto apoio à democracia, está mais ou menos no nível de Joseph Stalin falando sobre o compromisso russo com a liberdade e democracia do mundo. É o tipo de declaração do qual você ri quando ouve dos comissários do clero iraniano, mas acena com a cabeça, educadamente e talvez até com admiração, quando ouve das contrapartes ocidentais.

Um olhar sobre o passado mostra que o apoio à democracia é uma piada fraca. Até os acadêmicos mais famosos reconhecem isso, apesar de não o dizerem dessa maneira. Um dos maiores estudiosos da chamada “promoção da democracia” é Thomas Carothers, que é bem conservador e altamente considerado — um neo-reaganista, não um liberal flamejante. Ele trabalhou do Departamento do Estado de Reagan e tem alguns livros que revisam o histórico da “promoção da democracia”, algo que leva muito a sério. Diz que, sim, trata-se de um ideal norte-americano profundo, mas tem uma história divertida. Todo governo dos EUA é “esquizofrênico” a esse respeito. Eles apoiam a democracia apenas se esta se conforma a certas estratégias e interesses econômicos. Carothers descreve isso como uma estranha patologia, como se os Estados Unidos precisassem de um tratamento psiquiatra ou algo parecido. Obviamente, há uma outra interpretação, mas ela não vem à mente se você é um intelectual educado que se comporta apropriadamente.

Alguns meses após sua queda, o presidente Hosni Mubarak, do Egito, estava no banco dos réus, enfrentando acusações criminais. É inconcebível que os líderes dos EUA sejam responsabilizados por seus crimes no Iraque ou em outros países? Isso vai mudar em algum momento próximo?
Aqui entra o princípio de Yglesias: o fundamento da ordem internacional é que os Estados Unidos têm o direito de usar violência à sua vontade. Então como alguém pode ser acusado?

E ninguém mais tem esse direito.
É claro que não. Bem, talvez os nossos clientes tenham. Se Israel invadir o Líbano, matar mil pessoas e destruir metade do país, ok, isso é correto. É interessante. Barak Obama foi senador antes de se tornar presidente. Ele não fez muito como senador, mas fez uma coisa ou duas, incluindo algo de que tem orgulho particular. Se você olhasse seu website antes das primárias, ele sublinhava o fato de que, durante a invasão israelense do Líbano, em 2006, ele co-patrocinou uma resolução do Senado que exigia que os Estados Unidos não fizessem nada para impedir as ações militares de Tel Aviv, até que elas tivessem alcançado seus objetivos; e censurassem o Irã e a Síria, porque eles estavam apoiando a resistência à destruição do sul do Líbano, pela quinta vez em 25 anos. Israel ganhou esse direito. Outros clientes ganharam, também.

Mas os direitos realmente residem em Washington. Isso significa possuir o mundo. É como o ar que você respira. É algo inquestionável. O principal fundador da teoria das relações internacionais contemporâneas, Hans Morgenthau, foi realmente uma pessoa muito decente, um dos únicos cientistas políticos de relações internacionais especialista em criticar a Guerra do Vietnã por motivos morais, não táticos. Muito raro. Ele escreveu um livro chamado The Purpose of American Politics, segundo o qual outros países não têm propósitos. Já o propósito dos Estados Unidos é “transcendente”: trazer liberdade e justiça para o resto do mundo. Mas ele é um bom acadêmico, como Carothers.

Por isso, ele foi além. Disse que, quando você estuda os fatos passados, parece que os Estados Unidos não mantiveram até o fim seu propósito transcendente. Mas ele ressalva, criticar nosso propósito transcendente “é cair no erro do ateísmo, que nega a validade da religião por motivos semelhantes” — o que é uma boa comparação. É uma crença religiosa profundamente arraigada. É tão profunda que vai ser difícil livrar-se dela. E se qualquer um questionar isso, é levado a uma quase histeria e normalmente acusado de anti-americanismo ou “ódio à America” — conceitos interessantes que não existem em sociedades democráticas, apenas nas totalitárias e aqui, onde são tidos como naturais.

* Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT — Instituto de Tecnologia de Massachussets. Colaborador regular do Tom Dispatch, é autor de diversas obras políticas de grande repercussão. Esta entrevista é um trecho adaptado do livro Power Systems: Conversations on Global Democratic Uprisings and the New Challenges to U.S. Empire [“Sistemas de Poder: Diálogos sobre os levantes democráticos globais e os novos desafios ao império norte-americano”]. Ainda sem tradução para o português, a obra é editada pela Metropolitan Books e pode ser comprada aqui.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Equilíbrio - por Adam Martinakis (Arte digital 3D - Inspiration Hut)

Trecho selecionado do livro “Contribuição para a Crítica da Economia Política” - por Karl Marx

Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência


“O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência. Em certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham movido até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se no seu entrave. Surge então uma época de revolução social. A transformação da base econômica altera, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura. Ao considerar tais alterações é necessário sempre distinguir entre a alteração material – que se pode comprovar de maneira cientificamente rigorosa – das condições econômicas de produção, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito, levando-o às suas últimas consequências. Assim como não se julga um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio, não se poderá julgar uma tal época de transformação pela sua consciência de si; é preciso, pelo contrário, explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade. É por isso, que a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver e assim, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surge quando as condições materiais para o resolver já existiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer. A traços largos, os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno podem ser qualificados como épocas progressivas da formação econômica da sociedade. As relações de produção burguesas são a última forma contraditória não no sentido de uma contradição individual, mas de uma contradição que nasce das condições de existência social dos indivíduos. No entanto, as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo as condições materiais para resolver esta contradição. Com esta organização social termina, assim, a pré-história da sociedade humana.”