sábado, 30 de março de 2013

FHC está vivendo na Versalhes dos Bourbons – por Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

Uma entrevista à revista Época mostra uma mente desconectada inteiramente da realidade.

I rest my case, como o detetive particular Philip Marlowe disse num romance de Raymond Chandler.

Desisto.

Desisto da possibilidade de que FHC e o PSDB se reconectem com a realidade.

A entrevista que FHC concedeu esta semana à revista Época revela um caso perdido.

Os entrevistadores poderiam ter exigido mais dele? Acho que sim. Mas a minha impressão, ao terminar a leitura, é que o entrevistado não tinha nada mais a dar.

Essencialmente, FHC vive num mundo que já não existe. É como se ele, 200 anos atrás, falasse de Versalhes e da corte dos Bourbons, e não da Marselhesa, de Napoleão e de Robespierre.

O modelo de FHC é, ainda, os Estados Unidos, isso quando os americanos vivem um declínio sem precedentes em todos os aspectos – econômico, financeiro, militar, corporativo e moral.

Pior: as loas aos Estados Unidos aparecem na mesma semana em que se completam dez anos da invasão do Iraque.

O mundo vai ficando, você percebe pela cobertura dos dez anos, com o mesmo sentimento de culpa parecido com o que emergiu pós-segunda guerra em relação aos judeus: como nós pudemos deixar isso acontecer?

Um país destruído, milhares de crianças mortas mortas por bombas ou por falta de medicamento, casos crescentes de má formação congênita em bebês como efeito colateral – e todo esse martírio com base em informações comprovadamente mentirosas segundo as quais o Iraque tinha armas de alto poder destrutivo.
Como deixamos isso acontecer com as crianças iraquianas?
Não tinha, e mesmo ali, no fragor da decisão de invadir, os serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Inglaterra – as duas potências que comandaram o extermínio dos iraquianos – tinham já dados que colocavam sob imensa dúvida a existência de tais armas.

Ainda nestes dias, um veterano americano tornado inválido no Iraque também comoveu o mundo ao anunciar o suicídio: uma bala lhe tirou todos os movimentos.

E FHC evoca os Estados Unidos, o exaurido, sinistro modelo americano que levou destruição a virtualmente todas as partes até que não restasse outra vítima que não eles mesmos.

É só ver o que o modelo americano está fazendo, hoje, dentro dos próprios Estados Unidos: as neofavelas (acampamentos precários de gente que perdeu a casa), o desemprego, as constantes chacinas de desequilibrados armados porque a indústria das armas alimentada a paranoia de que sem revólveres ou rifles você está perdidamente desprotegido.

O mundo fala em desigualdade social, do novo papa ao novo presidente da China. O mundo entende que reduzi-la é fundamental para o futuro da humanidade.

E FHC fala com enlevo do país que disseminou as bases do 1% versus 99%, a pátria em que um candidato à presidência foi pilhado falando que não liga para metade da população – 47% — porque são pobres.

Fala ainda em “sentimento mudancista”, mas não em relação ao universo e sim a um ambiente interno que traria as sementes do triunfo de Aécio 10% Neves em 2014.

I rest my case.


Comentários
Da referida entrevista, eu só tive estômago para ir (ainda fui muito longe) até a terceira pergunta publicada (se foi isto quer conseguiram selecionar, imagine o que não prestou...).

ÉPOCA – Como o senhor vê o cenário atual, com Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves praticamente já colocados como candidatos, além da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição?
Fernando Henrique Cardoso – Estão se desenhando aí quatro candidatos. Provavelmente, segundo turno. Sempre houve segundo turno depois que saí. É provável que haja de novo. Como vai ser, sabe Deus! Falta muito tempo. Porque isso foi precipitado, não entendo. Nunca vi o governo precipitar a eleição.

Comentário I
“Sempre houve segundo turno depois que saí”. FHC seletivamente omite que só havia dois candidatos competitivos na época, só por isto não houve segundo turno (convenhamos que à época também não era desejo da imprensa marrom que houvesse outro postulante – hoje arranjar algum outro candidato competitivo, que ao menos consiga levar a disputa para o segundo turno, é motivo de desespero para os jornalões e revistonas). Se FHC continuasse sendo competitivo, ele teria voltado e se candidatado contra Lula em 2006 ou Dilma em 2010. Por que não o fez? Porque sabe que tomaria uma surra nas urnas. Já o presidente Lula vive a confortável situação entre poder ser o eleito (o que seria uma falha estratégica clara, de personificação de um projeto progressista, o que é sempre um erro), ou de ver reeleita sua pupila (ou seu poste). O melhor dos mundos pra ele.
“Nunca vi o governo precipitar a eleição”. Talvez FHC tenha se esquecido que em seu governo houve uma admitida compra de votos para que ele pudesse se reeleger, pelo valor (desatualizado) de 200 mil reais, numa época em que o STF, o MP e algumas outras instituições, delicadamente resolveram se calar (ou se fazer de surdas e cegas).

ÉPOCA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou Dilma para abafar, no PT, as expectativas de que ele pudesse ser candidato?
FHC – Ele não precisaria. Fez porque gosta de campanha.

Comentário II
Se o Lula gostasse tanto de campanha, por que não se lançaria ele próprio candidato, ora? É consabido que, se fosse seu desejo, ninguém no PT o impediria – e a população o elegeria, é líquido e certo. FHC deixa escorrer a baba da mágoa, já que Lula possui ampla admiração do povo, enquanto FHC possui ora asco, ora indiferença.

ÉPOCA – Por que ninguém tem um projeto alternativo?
FHC – Projeto é uma ideia complicada. O que está aí está se esgotando. Começam a despontar críticas. Há um sentimento mudancista, mas ainda sem dar conteúdo à mudança. Não sei se no povo. Mas entre as pessoas que leem jornal, sim. Inclusive empresários. Para vencer a eleição, tem de chegar embaixo.

Comentário III
“Projeto é uma ideia complicada”. É desalentador ler algo assim. O que o PSDB fez nos últimos 10 anos??? Já que não estava no poder, por que não se preparou, porque não projetou, não esboçou um futuro desejado? Não tendo a responsabilidade de tocar a máquina governamental, é muito mais fácil pensar o futuro.
Mas, de fato, é muito complicado para a oposição ter projeto, pois seu maior líder esta muito mais preocupado com as noitadas do Rio de Janeiro do que em se preparar para governar o país. Aí fica difícil, mesmo.
Ainda mais: “Mas entre as pessoas que leem jornal, (querem mudança) sim”. É lógico que alguns destes querem mudança: são os lobotomizados pela imprensa marrom, os guiados pela sórdida grande mídia brasileira.
Por fim, a última pérola, esta literária: “Há um sentimento mudancista” (Sic). Desnecessário comentar a tragédia com a língua portuguesa. Mas tudo bem, ele é um (pseudo) intelectual, mesmo. A imprensa marrom não vai se importar (provavelmente vai até aplaudir) o escárnio. 
Sendo avaliado por qualquer pessoa minimamente séria, FHC, este sujeito mesquinho, vendilhão da pátria, feitor de um dos três piores governos da história do Brasil (junto com Artur Bernardes e Collor de Mello – que possuía a mesma ideologia, frise-se), não resiste a menor análise. FHC é um embuste, sobre qualquer aspecto que se avalie. Seu governo foi tão ruim, mas tão ruim, que é ele (e não o Lula) o maior cabo eleitoral do PT.
A pior coisa que pode acontecer para o PT seria a morte de FHC - todo mundo fica bonzinho depois que morre. Enquanto esta múmia prosseguir viva, o PT não vai perder uma eleição presidencial.

Nenhum comentário: