sábado, 27 de abril de 2013

Dias de Abril: o piloto sumiu? – por Saul Leblon (Carta Maior)

Há três semanas, o conservadorismo comanda as expectativas do país.

O carnaval do tomate e a furor rentista marcaram a segunda quinzena de abril.

Deu certo.

No dia 17, o BC elevou os juros.

Ato contínuo, vários indicadores desautorizaram as premissas da terapia ortodoxa.

Os preços dos alimentos – não o único, mas um fator sazonal importante na pressão inflacionária – perderam fôlego. O do tomate desabou.

Não apenas isso.

O cenário internacional desandou.

Recordes de desemprego na Europa vieram se somar à deflação das commodities, ademais da decepção com a velocidade da retomada nos EUA.

Tudo a desaconselhar o arrocho pró-cíclico evocado pelos especialistas em incursões aos abismos e às bancarrotas.

Há cinco anos eles advertem que a resistência do Brasil à crise é um crime contra o mercado.

Nenhuma voz do governo ou do PT soube salgar o diagnóstico conservador com a salmoura pedagógica das evidências opostas.

Dilma poderia ter ido à TV. É sua responsabilidade esclarecer a opinião pública quando o futuro do país esta sendo ostensivamente jogado na sarjeta das manipulações.

Não significa mistificar os problemas, que existem.

Mas, sim, separa-los de interesses que não são os do país.

Disputar as expectativas, em certos momentos, é mais decisivo do que acionar medidas no varejo.

Se Lula ficasse mudo em 2008, o jogral pró-cíclico faria do Brasil um imenso Portugal.

O quadro hoje é outro?

Sempre é outro.

É para isso que existe governo. Se a história fosse estável e previsível, bastariam burocracias administrativas.

Veio a terceira quinzena de abril.

Enquanto o PT se preocupa com Eduardo Campos, o verdadeiro partido oposicionista alimentava um clima de dissolução institucional.

É só aquecimento: o lacerdismo togado e seu diretório midiático podem muito mais.

A pauta da ‘caça ao Lula’ voltou às manchetes.

Grunhida pela boca do casal Gurgel e esposa, sub-procuradora Claudia Sampaio.

Em linha com a nova tradição latino-americana, a da implosão institucional de governos progressistas, o lacerdismo togado avança na sua especialidade: a farsa em forma de grave denúncia.

O STF desautorizou o Congresso a analisar a PEC que fortalece o espaço do Legislativo na divisão dos poderes.

A ideia de um Judiciário que determine o que o Congresso pode e o que ele não pode discutir e votar é estranha à democracia.

Mas não ao método conservador.

Que pauta um Brasil cada vez mais explícito, à direita, em seus duetos e sintonias.

Há certeza de uma impunidade consagrada no poder de difusão conservador.

Ela explica a desenvoltura de personagens que se dispensam do recato e da liturgia observada nos velhos conspiradores.

Joaquim Barbosa se manifesta como uma extensão de Merval Pereira.

E vice-versa.

Gurgel acossa Lula e agasalha o líder de Carlinhos Cachoeira no Congresso, Demóstenes Torres, com uma aposentadoria de R$ 22 mil.

E ninguém dá gargalhadas.

Como diz o senador Requião, falta humor à crítica política.

Falta também capacidade de se escandalizar.

Um delegado ex-integrante do aparato da ditadura diz que Otávio Frias e Sergio Fleury eram parceiros de teoria e prática.

Tomavam chá das cinco no DOPS.

Dá para acreditar?

Dá para ter certeza de que as veladas ligações entre o dispositivo midiático e a ditadura precisam ser investigadas. Por uma comissão de verdade.

Quem se dispõe?

Silêncio constrangedor.

O ministro Mercadante defende a Folha e o ‘seu’ Frias – como ele se refere ao falecido pai de Otavinho, em nota tocante.

Toffoli, ministro do Supremo, dá ultimato ao Congresso: os representantes do povo tem 72 horas para explicar o que estão pretendendo discutir...

Paulo Bernardo alia-se ao oligopólio da mídia.

A Secom sustenta a Globo.

E o sub do sub do Banco Central vai discursar no Banco Itaú, espécie de diretório informal do PSDB. Prega o choque de juros.

O piloto sumiu.

Esse filme não é novo.

E nunca acaba bem.

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