terça-feira, 16 de abril de 2013

Fux em reunião com João Paulo: ‘Mato no peito’ - por Josias de Souza (Uol)

José Dirceu não foi o único réu do mensalão a quem o ministro Luiz Fux sinalizou absolvição. Ainda no governo Lula, quando iniciou sua campanha para obter a indicação à cadeira do STF, o ministro reuniu-se com João Paulo Cunha (PT-SP). Testemunha da conversa, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), à época líder do governo, conta que Fux referiu-se ao processo nos seguintes termos: ‘Esse assunto eu mato no peito porque eu conheço. E sei como tratar.’

Em notícia de dezembro de 2012, a repórter Mônica Bérgamo já havia revelado os encontros de Fux com Dirceu e João Paulo. Nessa época, Vaccarezza confirmara ter participado de uma conversa. Mas negara-se a revelar falar o teor. Eis o que dissera o deputado: “Participei de uma reunião que me parecia fechada. Tinha um empresário, tinha o João Paulo. Sobre os assuntos discutidos, preferia não falar.”

Nesta quarta (10), depois que José Dirceu acusou Fux de submetê-lo a “assédio moral” e de prometer que iria absolvê-lo no julgamento do mensalão, Vaccarezza sentiu-se à vontade para falar. Disse que, no diálogo com João Paulo, o hoje ministro do Supremo chegou mesmo a sinalizar como daria tratos ao processo do mensalão. “Levou a mão ao peito e desceu em direção à barriga.”

Lula deixou o governo sem formalizar a indicação. Coube a Dilma Rousseff enviar Fux ao STF. Para surpresa do petismo, o ministro foi, depois do relator Joaquim Barbosa, o julgador mas severo. Entre os réus que condenou estão Dirceu e João Paulo.

Procurado, mandou a assessoria dizer o seguinte: “Ministro do Supremo não polemiza com réu”. Erro. Não se trata de polemizar com réus, mas de explicar o porquê de ter confraternizado com eles. Vai abaixo a íntegra da entrevista de Cândido Vaccarezza:

Como conheceu Luiz Fux? O primeiro encontro que tive com o Fux foi no gabinete do Paulo Maluf [protagonista de três processos no STF]. O deputado me disse que estava apoiando ele para o Supremo, que era uma pessoa de confiança. E queria me apresentar.

O próprio Maluf o convidou para a reunião? Exato. Fui convidado pelo Maluf. Ele disse que queria levar o Fux no meu gabinete. Eu disse: ‘Vou ao seu gabinete.’

O sr. ainda era líder do governo? Nessa época eu era líder do governo Lula. Ocupei o posto até abril do ano passado, já no governo Dilma.

Por que preferiu ir ao gabinete de Maluf? Era uma praxe minha. Quando eu era líder do governo, eu ia sempre nos gabinetes dos deputados.

Foi uma reunião a três? Sim. Estávamos na reunião só nos três. O Maluf me apresentou o Fux. Conversamos.

Ficou nisso? Depois, o João Paulo me convidou para ir à casa de um empresário, aqui em Brasília, para conversar sobre o Fux. Disse que queria me apresentar. Eu não disse que já conhecia. Fui na casa.

Era casa de quem? Prefiro não dizer o nome do empresário. Estávamos o João Paulo, o Fux e eu.

A que horas ocorreu o encontro? Foi um café da manhã, numa casa do Lago Sul [bairro elegante de Brasília].

Falou-se de mensalão nessa reunião? Nós não tocamos no assunto de mensalão. O empresário falou. Disse que podíamos confiar no Fux. E o Fux disse que matava no peito.

O ministro Luiz Fux falou assim, com esses termos? Ele disse: ‘Esse assunto eu mato no peito porque eu conheço. E sei como tratar’. Falou nesses termos.

Estava claro que ele falava da ação penal do mensalão? Sim. Ao dizer que mataria no peito, ele fez um movimento com a mão.

Que movimento? Levou a mão ao peito e desceu em direção à barriga.

— Os senhores o apoiaram? Eu não declarei apoio a ele. Eu achava que devia ser uma outra pessoa.

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