segunda-feira, 30 de junho de 2014

Árvore solitária no meio dos círculos das na Namíbia - por buzzhunt (Fotografia)

Depois de 12 anos, O Globo publica dados sobre avanços dos governos Lula e Dilma - por Instituto Lula

Num esforço para desqualificar Lula, jornal revela aos leitores 13 números que a imprensa tenta esconder

     O jornal carioca publicou, sábado (28), reportagem que reproduz afirmações do ex-presidente Lula, feitas em palestra para dirigentes das Câmaras de Comércio dos países europeus (Eurocâmaras), na última terça-feira.  O texto tenta desqualificar parte dos dados que Lula apresentou sobre o desenvolvimento econômico e social do país nos últimos anos.

     Além de não alcançar seu objetivo, o jornal acabou publicando uma série de indicadores positivos sobre os doze anos de Governo Democrático Popular – que de outra forma não chegariam ao conhecimento de seus leitores. O leitor do Globo ficou conhecendo pelo menos 13 dados que confirmam  os avanços do Brasil nesse período:

1)    o salário mínimo teve aumento real de 72% nesse período;

2)    o investimento público em educação passou de 4,8% para 6,4% do PIB;

3)     o Prouni levou mais de 1,5 milhão de jovens à universidade;

4)     a quantidade de brasileiros viajando de avião passou de 37 milhões por ano, para 113 milhões por ano;

5)     a produção de automóveis no país dobrou para 3,7 milhões/ano;

6)    o fluxo de comércio externo passou de US$ 107 bilhões para US$ 482 bilhões por ano;

7)     o PIB per capita saltou de US$ 2,8 mil para US$ 11,7 mil;

8)     a população com conta bancária passou de 70 milhões para 125 milhões;

9)     as reservas internacionais do país, de US$ 380 bilhões, correspondem a 18 meses de importações, o que fortalece o Brasil num mundo em crise;

10)     ao longo da crise mundial o Brasil fez superávit fiscal de 2,58% ao ano, média que nenhum país do G-20 alcançou;

11)     os financiamentos do BNDES para a empresas têm inadimplência zero;

12)     a dívida pública bruta do país, ao longo da crise, está estabilizada em torno de 57% (embora o jornal discorde desse fato)

13)    há 10 anos consecutivos a inflação está dentro das metas estabelecidas pelo governo

      O titulo da matéria é “Lula usa dados errados em palestra para empresários”. No esforço para justificar o título, O Globo encontrou dois “deslizes”, numa palestra que durou 90 minutos:

1) em 84% dos acordos sindicais realizados nos últimos anos foram obtidos reajustes acima da inflação, e não em 94%, como disse Lula. Somando acordos que incorporam o resultado da inflação, o índice sobe para 93,2%. No tempo do governo anterior, os sindicatos abriam mão de vantagens, e até do reajuste da inflação, para evitar mais demissões.

2) o Brasil é o terceiro maior exportador de alimentos do mundo, depois da União Europeia e EUA, de acordo com a OMC, e não o segundo, como disse Lula na palestra. O Globo lista separadamente os países da União Europeia por porto, o que faz da pequena Holanda o segundo maior exportador de alimentos do mundo. Ainda vamos chegar lá, porque nossa agricultura é a mais produtiva do mundo e o crédito agrícola passou de R$ 26 bilhões para R$ 156 bilhões em 12 anos.

     A reportagem do Globo também cometeu seus “deslizes”, mesmo tendo sido alertada com documentos oficiais apresentados por nossa assessoria:

1) O Brasil foi, sim, o 5º maior destino de investimento externo direto (IED) no mundo em 2013, conforme disse Lula. O dado correto consta do Relatório de Investimento Mundial 2014 da UNCTAD, divulgado em junho. Este relatório corrigiu a previsão anterior do IED no Brasil em 2013, que era de US$ 63 bilhões, quando na realidade foi superior a US$ 64 bilhões. O Globo reproduziu o dado errado, que deixava o Brasil na sétima posição.

2) O ajuste fiscal determinado pelo governo nos anos de 2003 e 2004 alcançou, sim, 4,2% do PIB, conforme Lula afirmou na palestra. Na verdade, foi de 4,3% em 2003 e 4,6% em 2004, de acordo com a metodologia adotada pelo Banco Central naquele período. O Globo adotou a metodologia atual, que exclui do cálculo o resultado das estatais, e acabou contestando uma verdade histórica.

3) O Brasil é, sim, a segunda maior economia entre os países emergentes, depois da China, como disse Lula. O PIB brasileiro em dólares correntes, de acordo com a Base de Dados Mundiais do FMI (junho 2014), é de US$ 2,242 trilhões, superior ao da Rússia (US$ 2,118 trilhões) e ao da Índia (1,870 trilhão). O Globo prefere usar o critério de paridade por poder de compra (PPP), que ajusta os preços internos de cada país, eleva o PIB da Rússia e triplica o da Índia. Mas uma plateia de investidores, como a da Eurocâmaras, não está interessada em comparar o custo da Coca-Cola em cada país: quer saber qual economia é mais forte em moeda internacional, e isso o PPP não informa.

4) A dívida pública bruta do Brasil está, sim, estabilizada em torno de 57% do PIB desde 2006, como afirmou Lula. O Globo tomou como base o indicador de 2010 para afirmar, equivocadamente, que “no governo Dilma a dívida bruta subiu”. O ex-presidente estava se referindo ao período da crise financeira mundial. A dívida bruta era de 56% do PIB em 2006, subiu para 63% em 2009, primeiro ano da crise, e desde então oscila em torno dos atuais 57,2%. Isso é melhor visualizado no gráfico acima.

     Todos cometem erros, como bem sabe O Globo. Apesar dos “deslizes” cometidos na reportagem de sábado, é muito importante que O Globo e outros jornais de circulação nacional passem a publicar os dados sobre os avanços sociais e econômicos do Brasil. Dessa forma, seus leitores terão acesso às informações necessárias para compreender como o e por que o Brasil mudou para melhor em 12 anos.

Assessoria de Imprensa do Instituto Lula

Arte nas mãos - por Guido Daniele (site homônimo)

Para inverdades, há remédio? - por Dirceu Barbano (Folha)

Em 2002, cada medicamento de referência tinha três versões de genéricos. Hoje tem oito. A concorrência triplicou e os preços caíram

     Em períodos eleitorais, são comuns manifestações monotemáticas e desavergonhadas como a do ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB) no artigo "Na saúde, o PT não tem remédio" (13/6), no qual dissimula dados do mercado de medicamentos genéricos e ilude acerca da gestão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

     No Brasil, como em qualquer país, a presença dos genéricos trouxe benefícios. Aumentou a concorrência e os preços caíram. A lei que criou essa classe de medicamentos foi editada em 1999, depois da aprovação pelo Congresso Nacional de um projeto de lei apresentado em 1991 por um deputado do PT. A obsessão pela paternidade da medida faz com que esse senhor se comporte como padrasto que não aceita a possibilidade de o pai ser capaz de cuidar ainda melhor do próprio filho.

     Em 2002, os genéricos representavam apenas 3,9% do volume de medicamentos vendidos no Brasil. Em 2006, saltou para 15% e hoje está em 30%. De cada três medicamentos vendidos, um é genérico. Um aumento de quase dez vezes desde 2002, com participação próxima dos 31% observados na França.

     Entre 2000 e 2002, foram registrados 512 genéricos no país, apenas 170 ao ano. Em 2012, a Anvisa registrou 413 desses medicamentos. Ao final de 2002, cada medicamento de referência tinha, em média, apenas três versões de genéricos. Hoje tem cerca de oito. A concorrência triplicou nos últimos 12 anos e os preços estão bem mais baixos.

     O ex-ministro se esqueceu da exigência que fez em 2002 para que os medicamentos similares passassem pelos mesmos testes de equivalência pelos quais passam os genéricos para serem considerados cópias idênticas dos seus referenciais. O prazo para essa ação expira no final de 2014. E o governo e os setores envolvidos discutem o que fazer para beneficiar o consumidor com essa medida, que deu aos similares as garantias que os genéricos já possuíam.

     Omitindo o fato de ter alterado em 2001 a lei que criou a Anvisa para esvaziar o poder de diretores que discordavam dele, o padrasto dos genéricos faz considerações irreais sobre a conduta deles. Desde sua criação, os diretores da Anvisa são indicados pela Presidência da República e dependem de aprovação do Senado para serem nomeados para mandatos de três anos. Tive a honra de passar por esse processo duas vezes, sendo aprovado por senadores de vários partidos, incluindo o PSDB.

     Em 2002, 45% da mão de obra da Anvisa era composta por servidores da própria agência, 20% eram concursados oriundos de outros órgãos públicos e 35% eram indicados por critérios nem sempre transparentes e, por vezes, indesejáveis, definidos pelo ex-ministro. O primeiro concurso público foi autorizado pelo então presidente Lula em 2004. Hoje, o número de profissionais técnicos escolhidos por concurso público chega a 99% do total de seus servidores.

     Na criação da Anvisa, o ex-ministro incluiu 88 cargos de confiança que eram preenchidos por indicação dele. Hoje, a escolha é feita depois de edital público, análise de currículo, entrevistas e deliberação da diretoria colegiada. Isso fez com que 75% dos cargos existentes fossem ocupados por servidores concursados. É desrespeitoso dirigir-se a eles como loteadores de cargos públicos.

     A Anvisa conta com um parlatório onde são atendidos os agentes externos. As reuniões são gravadas e as atas registradas. Se o ex-ministro tivesse identificado aqueles que chama de lobistas e, nas suas palavras, "operam livremente na agência", teria incluído os 43 atendimentos feitos a deputados e senadores do PSDB entre 2010 e 2014.

     Como farmacêutico, aprendi a respeitar os números, uma vez que existem casos em que uma pequena variação na dosagem dos remédios representa a diferença entre a vida e a morte. Os economistas gostam deles por outros motivos. Mas uma coisa é certa: os números falam por si e não mentem.

Dirceu Barbano, 48, farmacêutico, é diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)

Desenho com canetas esferográficas - por Samuel Silva (Deviantart)

Imagina nas eleições - por Ricardo Melo (Folha)

Se com a Copa foi assim, imagine doravante, quando está em jogo o cargo mais importante da República

     Poucas vezes viu-se tamanha desinformação como antes desta Copa. A previsão era dantesca. Caos nos aeroportos, estádios incompletos, gramados incapazes de abrigar jogos de várzea, tumulto, convulsões sociais, epidemias. Os profetas do caos capricharam: alguns apostaram que as arenas só ficariam prontas após 2030. Só faltou pedirem à população que estocasse alimentos em face da catástrofe.

     Diante de um cenário diametralmente oposto, os mensageiros do apocalipse ensaiam explicações. A principal é a de que a alegria do povo brasileiro suplantou a penca de problemas que estava aí, a olhos vistos, e ninguém queria enxergar. Desculpa esfarrapada.

     Se é inquestionável que os brasileiros têm uma tradição amistosa, ela por si só não ergue estádios decentes, melhora aeroportos, acomoda milhares de turistas e garante acesso aos locais das partidas. Problemas? Claro que houve, mas infinitamente menores do que os martelados pela imprensa em geral. Muita gente mentiu, ou, no mínimo, não falou toda a verdade --o que em geral dá no mesmo.

     Durante um tempo quase infinito, os brasileiros foram vítimas de uma carga brutal de notícias irreais. Se tudo estava tão atrasado e fora dos planos, como a Copa acontece sem contratempos maiores do que os de outros eventos do gênero? Talvez o maior legado deste choque entre fantasia e realidade seja o de que, acima de tudo, cumpre sempre duvidar de certas afirmações repetidas como algo consumado.

     A profusão de instrumentos de informação atual, ainda bem, oferece inúmeras alternativas para que opiniões travestidas de certezas sejam postas à prova. Mais do que nunca, desconfiar do que se ouve, assiste e lê é o melhor caminho para tentar, ao menos, aproximar-se do que é real.

     No final das contas, é bom que essa distância entre versão e fato tenha ficado escancarada num ano eleitoral. Se com a Copa foi assim, imagine doravante, quando está em jogo o cargo mais importante da República. A enxurrada de algarismos para mostrar um país à beira do abismo ocupa boa parte do noticiário "mainstream". Na outra ponta, estatísticas de toda sorte surgem para falar o inverso. Quem tem razão?

     Nessa hora, o decisivo é avaliar como está a vida do próprio cidadão e como ela pode ficar se vingar a proposta de cada candidato. O mais difícil, como sempre, é descobrir se estes têm coragem de dizer o que realmente pretendem realizar.

ME SUGA QUE EU TE SUGO

     O ciclo de convenções partidárias dá uma ideia do nível da campanha pela frente. A convenção do PSB de Campos e Marina elegeu como lema tirar o país do "atoleiro". Antes disso, porém, seria preciso tentar resgatar a própria legenda do lodaçal. Anunciado como terceira via, o acordo entre Campos e Marina até agora não exibiu nada de diferente da velha política que dizia combater. Mas suas alianças país afora parecem autoexplicativas.

     Já a convenção estadual paulista do PSDB seria apenas cômica, não fosse ainda mais cômica. O ponto alto, se é que houve algum, foi o discurso do candidato à Presidência Aécio Neves. Ao se referir ao PT, ele disse: "Infelizmente, a vitória para eles não significou apenas uma oportunidade de exercer uma proposta de poder mas a possibilidade de ascensão econômica."

     O impressionante é que ele não ficou sequer ruborizado, embora seu partido acoberte pessoas como Robson Marinho, para citar apenas São Paulo, e outros tantos que enriqueceram na base da rapinagem do dinheiro do povo. Bem, tudo se pode esperar de quem outro dia recomendou a eventuais futuros aliados hoje no governo federal: "Vão sugar um pouco mais. Façam isso mesmo: suguem mais um pouquinho e depois venham para o nosso lado". De preferência com a mala cheia.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Nicolelis e a nova comunidade científica brasileira - por Jornalismo Wando (Yahoo!)

Então ficamos assim: enquanto Nicolelis e o exoesqueleto são publicados na revista Nature, Reinaldo Azevedo, Mainardi e a descoberta científica do boimate são publicados na VEJA.
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/jornalismo-wando/nicolelis-e-nova-comunidade-cient%C3%ADfica-brasileira-131744318.html#more-id

P.S: os links são imperdíveis.

Fotografia de Jericoacoara

Conexão Repórter - Filhos dos Coronéis

Comentário
Isso é Brasil.

Pintura - por Raymond Leech (sanatyelpazesi)

Noam Chomsky, Sócrates dos EUA - por (tlaxcala)


CAMBRIDGE, Mass. – Noam Chomsky, a quem entrevistei 5ª-feira passada em sua sala no Massachusetts Institute of Technology (MIT), influenciou intelectuais nos EUA e em todo o mundo, por número incalculável de vias. A explicação que construiu para o Império, a propaganda de massa, a hipocrisia e o servilismo dos liberais e os fracassos dos acadêmicos, além do que ensinou sobre os modos pelos quais a linguagem é usada como máscara pelo poder, para nos impedir de ver a realidade, fazem dele o mais importante intelectual nos EUA. A força de seu pensamento, combinada a uma independência feroz, aterroriza o estado-empresa – motivo pelo qual a imprensa-empresa e grande parte da academia-empresa tratam-no como pária. Chomsky é o Sócrates do nosso tempo.

     Vivemos um momento sombrio e desolado na história humana. E Chomsky começa por essa realidade. Citou o falecido Ernst Mayr, importante biólogo evolucionista do século 20, que disse que provavelmente nós jamais encontraremos extraterrestres inteligentes, porque formas superiores de vida se autoextinguem em tempo relativamente curto.

     “Mayr dizia que o valor adaptacional do que se chama ‘inteligência superior’ é muito baixo” – disse Chomsky. – “Baratas e bactérias são muito mais adaptáveis que os humanos. É melhor ser inteligente que estúpido, mas podemos ser um equívoco biológico, usando os 100 mil anos que Mayr nos dá como expectativa de vida como espécie, para destruir-nos nós mesmos e destruir também muitas outras formas de vida no planeta.” 

     A mudança climática “pode acabar conosco, e em futuro não muito distante” – diz Chomsky. – “É a primeira vez na história humana em que temos a capacidade para destruir as condições mínimas para sobrevivência decente. Já está acontecendo. Há espécies que estão sendo destruídas. Estima-se que vivemos destruição equivalente à de há 65 milhões de anos, quando um asteroide colidiu com a Terra, extinguiu os dinossauros e grande número de outras espécies. A destruição, hoje, é de nível equivalente àquele. De diferente, que o asteroide somos nós. Se alguém nos está vendo do espaço, deve estar atônito. Há setores da população global tentando impedir a catástrofe global. Outros setores tentam apressá-la. 

     Veja bem quem são uns e outros: os que tentam impedir a catástrofe total são os que nós chamamos de primitivos, atrasados, populações indígenas – as Nações Originais no Canadá, os aborígenes australianos, pessoas que ainda vivem em tribos na Índia. E quem acelera a destruição? Os mais privilegiados, os chamados ‘avançados’, os letrados, as pessoas cultas e educadas do mundo.” 

     Se Mayr acertou, estamos no fim de uma tendência, acelerada pela Revolução Industrial, que nos jogará para o outro lado de uma montanha, ambientalmente e economicamente. Esse evento, aos olhos de Chomsky, nos oferece uma oportunidade e, ao mesmo tempo, traz um perigo. Já várias vezes Chomsky repetiu, como alerta, que, se temos de nos adaptar e sobreviver, é preciso derrubar o poder da elite-empresa-corporação, mediante movimentos de massa; e devolver o poder a coletivos autônomos que são focados em manter as comunidades, em vez de explorar comunidades. Apelar às instituições e mecanismos estabelecidos de poder não vai dar certo.

     “Podem-se extrair muitas boas lições, do período inicial da Revolução Industrial” – disse ele. – “A Revolução Industrial decolou aqui perto, no leste de Massachusetts, em meados do século 19. Foi o período quando fazendeiros independentes estavam sendo conduzidos para dentro do sistema industrial. Homens e mulheres – as mulheres deixaram as fazendas para ser “operárias de fábrica” – lastimaram amargamente a mudança. Foi também período de imprensa muito livre, a mais livre que os EUA jamais conheceram, em toda sua história. Havia quantidade enorme de jornais e lê-los hoje é experiência fascinante. O povo que foi arrastado para o sistema industrial via aquilo tudo como um ataque à sua dignidade pessoal, aos seus direitos de seres humanos. Eram seres humanos livres, forçados para dentro do que chamavam ‘trabalho assalariado’, e que, aos olhos deles, não era muito diferente da escravidão. De fato, essa era a impressão dominante entre o povo, a tal ponto, que havia um slogan do Partido Republicano: ‘A única diferença entre trabalhar por salário e ser escravo é que o salário acaba.’”

     Chomsky diz que essa deriva, que forçou os trabalhadores agrários para longe da terra e para dentro das fábricas nos centros urbanos, foi acompanhada por uma destruição cultural. Os trabalhadores, diz ele, haviam sido parte da “mais alta cultura da época”. 

     “Lembro-me disso, lá nos anos 1930s, com minha própria família” – diz ele. – “Aquilo nos foi tirado. Estávamos sendo forçados a nos tornar, de certo modo, escravos. Diziam que você trabalhava como artesão e vendia um produto que você produzia, então, como assalariado, o que você passou a fazer foi vender você mesmo. E isso soava como ofensa profunda. Eles condenavam o que chamavam de ‘novo espírito da época’, ganhar dinheiro e esquecer-se completamente de si mesmo. É velho e, ao mesmo tempo, soa hoje muito familiar aos nossos ouvidos.”

     É essa consciência radical, que deitou raízes em meados do século 19 entre fazendeiros e muitos operários de fábrica, que Chomsky diz que temos de recuperar para conseguirmos avançar como sociedade e como civilização. No final do século 19, fazendeiros, sobretudo no meio-oeste, livraram-se dos banqueiros e dos mercados de capitais, e constituíram seus próprios bancos e cooperativas. Entenderam o perigo de virar vítimas de um processo vicioso de endividamento, comandado pela classe capitalista. Os fazendeiros radicais fizeram alianças com os ‘Knights of Labor’ [Cavaleiros do Trabalho], que entendiam que os que trabalhavam nos moinhos deviam ser também proprietários dos moinhos.

     “À altura dos anos 1890s, operários estavam tomando cidades e governando-as, no leste e no oeste da Pennsylvania. É o caso de Homestead” – Chomsky lembrou. – “Mas foram esmagados à força. Demorou um pouco. O golpe final foi o ‘Medo Vermelho’ de Woodrow Wilson [orig. Woodrow Wilson’s Red Scare].”

     “A ideia, hoje, ainda deve ser a dos Knights of Labor,” ele disse. “Os que trabalham nos moinhos devem ser também donos dos moinhos. Há muito trabalho em andamento. Haverá mais. Os preços da energia estão caindo nos EUA, por causa da massiva exploração de combustíveis fósseis, que destruirá nossos netos. Mas, sob a moralidade capitalista, o cálculo é: os lucros de amanhã são mais importantes que a existência ou não dos seus netos. Estamos conseguindo preços mais baixos de energia. Eles [os empresários] estão entusiasmadíssimos, porque podem oferecer preços inferiores aos que a Europa oferece, porque nossa energia é mais barata. E assim, os EUA conseguimos fazer fracassar os esforços que a Europa tem procurado fazer, para desenvolver energia sustentável...”

     Chomsky espera que os que trabalham na indústria de serviços e na manufatura possam começar a organizar-se para começar a tomar o controle de seus próprios locais de trabalho. Observa que no ‘Cinturão da Ferrugem’ [orig. Rust Belt], inclusive em estados como Ohio, há crescimento no número de empresas que pertencem aos trabalhadores.

     O crescimento de poderosos movimentos populares no início do século 20 mostrou que a classe empresarial já não conseguia manter os trabalhadores subjugados por ação exclusiva da violência. Os interesses empresariais tiveram de construir sistemas de propaganda de massa, para controlar opiniões e atitudes. 

     O crescimento da indústria de ‘relações públicas’, iniciada pelo presidente Wilson, que criou o Comitê de Informação Pública [“Creel Committee”], para instilar sentimentos pró-guerra na população, inaugurou uma era não só de guerra permanente, mas também de propaganda permanente. O consumo foi instilado também, com compulsão incontrolável. O culto do indivíduo e do individualismo tornou-se regra. E opiniões e atitudes, passaram a ser talhadas e modeladas pelos centros de poder, como o são hoje.

     “Uma nação pacífica foi transformada em nação de odiadores, fanáticos por guerras” – diz Chomsky. – “Essa experiência levou a elite no poder a descobrir que, mediante propaganda efetiva, aquelas elites poderiam, como Walter Lippmann escreveu, usar “uma nova arte na democracia, e fabricar o consentimento.”

     A democracia foi destripada. Os cidadãos tornaram-se ‘público’, ‘audiência’, telespectadores, não participantes no poder. Os poucos intelectuais, entre os quais Randolph Bourne, que mantiveram a independência e recusaram-se a servir à elite no poder foram expulsos para fora do sistema, como Chomsky.

     “Muitos dos intelectuais dos dois lados estavam apaixonadamente dedicados à causa nacional” – disse Chomsky, falando a 1ª Guerra Mundial. “Houve só uns raros dissidentes. Bertrand Russell foi preso. Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg foram mortos. Randolph Bourne foi marginalizado. Eugene Debs, preso. Todos esses se atreveram a questionar a magnificência da guerra.”

     Aquela histeria pró-guerra jamais cessou, movida sem alteração, do medo de um bárbaro germânico, para o medo de comunistas e, daí, para o medos de jihadistas e terroristas islamistas.

     “As pessoas vivem aterrorizadas demais, porque foram convencidas de que nós temos de nos defender nós mesmos” – diz Chomsky. – “Não é inteiramente falso. O sistema militar gera forças perigosas para nós, que nos ameaçam. Veja, por exemplo, a campanha terrorista dos drones de Obama – a maior campanha terrorista de toda a história. Esse programa dos drones de Obama gera novos terroristas e terroristas potenciais muito mais depressa, do que destrói suspeitos. É o que se vê agora no Iraque. Volte lá, aos julgamentos de Nuremberg. A agressão entre estados foi definida como o supremo crime internacional. Foi considerado diferente de outros crimes de guerra, porque a agressão entre estados reúne, como crime, todos os demais danos que outros crimes subsequentes causarão. 

     A invasão que EUA e Grã-Bretanha cometeram contra o Iraque é como um manual de crime de agressão entre estados. Pelos padrões de Nuremberg, os governantes dos EUA e da GB teriam, todos, de ser condenados à morte e enforcados. E um dos crimes que cometeram foi incendiar o conflito sunita versus xiitas.”

     Esse conflito, que agora novamente inflama a região, é “um crime cometido pelos EUA, se acreditamos que sejam válidas as sentenças que Nuremberg proclamou contra os nazistas. Robert Jackson, promotor-chefe no tribunal de Nuremberg, em sua fala aos jurados, disse que aqueles acusados haviam bebido de um cálice envenenado. E que se algum de nós algum dia bebêssemos daquele mesmo cálice teríamos de ser tratados do mesmo modo, ou tudo não passaria de grande farsa.” 

As escolas e universidades da elite inculcam hoje em seus alunos a visão de mundo endossada pela elite no poder. Treinam alunos para serem reverentes ante a autoridade. Para Chomsky, a educação, na maior parte das grandes escolas, inclusive em Harvard, a poucos quarteirões de distância do MIT, não passa de “um sistema de profunda doutrinação”. 

     “Há um entendimento de que há certas coisas que não se dizem nem se pensam” – diz Chomsky. – “É assim, entre as classes educadas. E é por isso que eles todos apoiam fortemente o poder do estado e a violência do estado, apenas com uma ou outra pequena ‘restrição’. Obama é visto como crítico contra a invasão do Iraque. Por quê? Só porque disse que seria erro estratégico. É argumento que o põe no mesmo nível moral de um general nazista que entendesse que o segundo front era erro estratégico. Isso, para os norte-americanos, é ‘ser crítico’.” 

     E Chomsky não subestima o ressurgimento de movimentos populares.

     “Nos anos 1920s, o movimento trabalhista estava praticamente destruído” – disse. – “Havia sido movimento trabalhista forte, muito militante. Nos anos 1930s ele mudou, e mudou por causa do ativismo popular. Houve circunstâncias [a Grande Depressão] que levou à oportunidade de fazer alguma coisa. Vivemos constantemente com isso. Considere os últimos 30 anos. Para a maioria da população, foram tempos de estagnação, ou pior que isso. Não é a Depressão profunda, mas é uma depressão semipermanente para a maior parte da população. Há muita lenha lá fora, esperando para ser queimada.” 

     Chomsky entende que a propaganda empregada para fabricar consentimentos, mesmo na era das mídias digitais, está perdendo efetividade, com a realidade cada vez menos parecida com o ‘retrato’ dela inventado pelos órgãos da imprensa-empresa de massas. Embora a propaganda feita pelo estado norte-americano ainda consiga “empurrar a população para o terror e o medo e para a histeria de guerra, como se viu nos EUA antes da invasão do Iraque”, ela já começa a fracassar na tarefa de manter fé não questionada nos sistemas de poder. Chomsky credita ao movimento Occupy, que ele descreve como uma tática, ter “disparado uma fagulha iluminadora” a qual, mais importante, atravessou toda a sociedade, apesar da atomização”. 

     “Há todos os tipos de esforços e projetos para separar as pessoas umas das outras” – diz ele. – “A unidade social ideal [no mundo dos propagandistas do estado-empresa] é você e sua tela de televisão. As ações de Occupy puseram abaixo isso, para grande parte da população. As pessoas reconheceram que poder nos juntar e fazer coisas por nós mesmos. Podemos ter uma cozinha comum. Podemos ter um palanque para discussões públicas. Podemos formar nossas próprias ideias. Podemos fazer alguma coisa. E esse é ataque importante contra o núcleo dos meios pelos quais o público é controlado. 

     Você não é só um indivíduo tentando maximizar o consumo. Você descobre que há outros interesses na vida, outras coisas com as quais se preocupar. Se essas atitudes e associações puderem ser sustentadas e mover-se em novas direções, será muito importante.”

terça-feira, 24 de junho de 2014

Fotografia - por Patrick Hübschmann (phuebschmann.de)

Aeroportos brasileiros têm expansão recorde - por Portal Brasil

Investimento de R$ 11,3 bilhões aumenta capacidade em 70 milhões de passageiros por ano

     Os principais aeroportos do Brasil chegam ao mês da Copa do Mundo com um salto sem precedentes na sua capacidade. Em três anos e meio, os terminais que atendem as capitais tornaram-se capazes de acomodar por ano mais 70 milhões de passageiros – o equivalente a seis vezes a população de São Paulo, maior cidade do país.

     No começo de 2011, os maiores aeroportos brasileiros podiam receber 215 milhões de viajantes. Agora, a capacidade é de 285 milhões de pessoas por ano. No fim de 2014, com a finalização do novo aeroporto de Viracopos, ela será de 295 milhões de passageiros por ano.

     A expansão se deu graças aos R$ 11,3 bilhões investidos nos últimos três anos e meio, tanto na rede operada pela Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) quanto nos quatro aeroportos concedidos à inciativa privada. A mudança foi mais acelerada nestes últimos: somente entre 2012 e 2014, eles tiveram sua capacidade ampliada em 57%. Até o final deste ano, a expansão terá sido de 76%.

     Esta é a maior injeção de recursos que os aeroportos brasileiros já receberam num curto período de tempo. Ela atende à forte expansão na demanda no país na última década, quando o uso do avião quase triplicou.

     “Já podemos perceber nitidamente que o transporte aéreo brasileiro entrou em outro patamar. Os investimentos feitos pelo Governo Federal, além da iniciativa de conceder aeroportos para administração privada, colocaram-nos de vez no século 21”, afirmou o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco. “A tendência é que cresçamos cada vez mais, trazendo conforto, modernidade e segurança para passageiros brasileiros e estrangeiros”, acrescentou.

     Números - De 2011 até o momento, foi construído 1,4 milhão de metros quadrados de novos pátios, o equivalente a 167 campos de futebol como o Maracanã. Além disso, foram criadas 270 vagas de estacionamento para aeronaves comerciais tipo Boeing-737, que têm capacidade para cerca de 200 pessoas.

     Os principais aeroportos do país também receberam 65 novas pontes de embarque, o que representa 39% a mais. Outras 34 serão entregues até o fim deste ano.

A área de terminais de passageiros nos aeródromos brasileiros passou de 1,1 milhão de metros quadrados para 1,5 milhão de metros quadrados. No fim de 2014, serão 47% de expansão, já que a área total será de mais de 1,7 milhão de metros quadrados.

     Veja as principais melhorias em alguns aeroporto do país:

Galeão - O Aeroporto Internacional Tom Jobim chegou ao mês da Copa com capacidade de atender 30,8 milhões de passageiros por ano. Trata-se de um salto de 77% em relação aos 17,4 milhões de passageiros que o Galeão comportava antes da reforma no Terminal-2. A renovação acrescentou 13 mil metros quadrados ao terminal de passageiros, que ganhou duas novas ilhas de check-in, com 32 balcões de atendimento, e um novo sistema de esteiras de bagagem. Foram instalados novos pórticos de raio-X e banheiros foram reformados. Até o final do ano, mais 35 mil metros quadrados de terminal serão entregues.

Brasília - O terminal principal do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek ganhou duas novas alas e 16 novas pontes de embarque. O conjunto de obras aumentou a capacidade do aeroporto de 16 milhões para 25 milhões de pessoas por ano – uma expansão de 56%.

Com a construção dos píeres Sul e Norte, as novas alas de embarque e desembarque doméstico e internacional, a área destinada aos passageiros no JK passou de 80 mil para 120 mil metros quadrados. O pátio de aeronaves, outro elemento crítico para a ampliação da capacidade de um aeroporto, cresceu mais de duas vezes e meia. O número de vagas para automóveis mais do que dobrou com a inauguração de um segundo estacionamento.

Porto Alegre - O Aeroporto Internacional Salgado Filho ganhou quatro novas pontes de embarque e uma reforma que ampliou sua capacidade em quase um terço. Em junho de 2014, o aeroporto da capital gaúcha podia atender até 15,3 milhões de passageiros por ano, contra 11,8 milhões em janeiro de 2011.

Confins - O Aeroporto Internacional Tancredo Neves triplicou nos últimos três anos e meio sua área de estacionamento de aeronaves. As obras no aeroporto, ainda em curso, já elevaram sua capacidade em 67% - de 10,2 milhões para 17,1 milhões de passageiros por ano.

Manaus - O aeroporto Eduardo Gomes teve uma expansão de 110% em sua capacidade de receber passageiros. Nos últimos três anos e meio, ela subiu de 6,4 milhões de pessoas por ano para 13,5 milhões. A área disponível aos passageiros cresceu 65%, e o número de vagas de estacionamento saltou de 770 para 1.160.

Guarulhos - O maior aeroporto do país ganhou um novo terminal de passageiros, o terminal 3, cuja área equivale à dos três outros terminais somados. A área para passageiros em Cumbica dobrou, de 191 mil para 387 mil metros quadrados; 20 novas pontes de embarque foram construídas e o pátio de aeronaves cresceu de forma a acomodar mais 47 aviões tipo Boeing-737. A capacidade de passageiros por ano cresceu 68%, de 25 milhões para 42 milhões.

Comentário
Não é o tipo de postagem que prefiro postar, mas como estas informações são comumente negligenciadas, então seguem.
De qualquer modo, é bom ficar ciente, senão pode parecer que o fato de não ter ocorrido o tal caos durante a copa foi por conta de algum auxílio miraculoso.

domingo, 22 de junho de 2014

Os Arquitetos - por Jjkairbrush (Ilustração 3D - deviantart)

Picadinhas

Como assim Felipe Massa largou na pole? Essa Copa do Mundo tá cheia de zebra mesmo!!!
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E ela me disse pra “deixar acontecer naturalmente”. Depois disso, ela deu um jeito de nunca mais me encontrar.
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Vai lá, garotão. Finge que é gringo que ela finge que não é traveco.
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Se a Costa Rica for campeã da copa eu vou ao shopping de cueca de elefantinho!
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Seleção espanhola pode engrossar exército de desempregados no país.
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Quem acredita que Galvão Bueno e Patrícia Poeta se gostam acredita em qualquer coisa.
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Folha de S. Paulo. Um jornal a serviço do Brazil.
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Jogador da Costa Rica, sartrianamente, sobre o grupo da morte: A morte são os outros.
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Só 30 minutos de Faustão. É ou não é a maior copa de todos os tempos?!
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Coreia do Sul: Lin Kin Park, Sou Th Park, Park In Son, Lee, Star Oup, Di Jon, Lee John John, Lee Die Sel, Lee Ma, Fernanda.
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Bomba: Bélgica trouxe a Copa sósias entrevistados por Mário Sérgio Conti.
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Daqui pra frente serão mil discursos dizendo como a Olimpíada é milhão de vezes mais complexa que a Copa e como não estaremos preparados pra ela. Só de pensar já cansa.
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Você não precisa repetir as piadinhas com os nomes do russos. Eles já têm um Shatov.
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O nosso "imagina na Copa" virou "imagina no verão" para os gringos.
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O cara chega na mulher fingindo ser gringo dizendo hello, How are you, etc etc. A mulher deveria responder: Ah você veio da Babacoslováquia?
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Torcedor brasileiro começa a achar que problema do Neymar é a Bruna Marquezine! Toda vez que eles reatam o namoro, ele para de comer a bola!
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Extra! Brasileiro se finge de gringo e é assaltado.
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Sakho. Osako. Mertesacker. Essa Copa não é o que parece!
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- Se alguém tem algo contra este casamento fale agora ou cale-se para sempre. 
- Ele já fingiu ser gringo na balada. 
- OOOOOOOOOOH!
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Dilma cancela olimpíada e faz outra copa, sua gostosa!!!!
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FHC pede que os deputados que comprou com uma montanha de dinheiro pra fazer a reeleição não se esqueçam do aniversário dele.
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Se a paz mundial dependesse dos meus palpites pros jogos da Copa ainda teríamos algumas décadas de guerra.
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Ronaldo e sua sina com travestis: Roberta Klose.
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Não esquecer que tucanos envolvidos em esquemas de corrupção continuam sendo tratados como "agentes públicos".
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Agora que a Copa é um sucesso, a mídia brasileira manipula para dizer que era a imprensa estrangeira que desacreditava no evento. Ah tá.
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O deputado tucano Cauê Macris confundiu José Mojica, nosso Zé do Caixão, com Pepe Mujica. Nasce o futuro chanceler de Aécio Neves.
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Da serie curiosidades: Girafas dormem apenas por 5 minutos de cada vez.
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Os que reclamam das brasileiras pegando gringo são os mesmos que ficavam QUE VENHAM AS SUECAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Capa da veja: "copa é só alegria". O bom pra quem assina é que já vem com o saquinho plástico.
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Não trate como Star Wars quem te trata como Regina Casé.
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Quem nasceu pra ser Massa nunca será Messi.
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Lema da França: Liberté, Egalité, Beyoncé! E Vancifudê!
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Pense nisto: O ato sexual entre preguiças tem a duração de cerca de 42 horas. 
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Nova versão do terrorismo de direita: As coisas estão indo bem por causa da Copa. Imagine depois da Copa!
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Gente que compartilha cenas de tortura ou doenças no facebook não são confiáveis.
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"Pelo visto na Arena da Amazônia, a seleção americana já entendeu que o samba não é rumba." (Jackson do Pandeiro)
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Acabo de entrevistar, no saguão do aeroporto de Congonhas, o doutor Getúlio Vargas. Ele deixava São Paulo e embarcava para a história.
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Diogo Mainardi vai levar um vareio de quem domingo que vem?
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Cá pra nós, o país da Camila Vallejo só podia fazer bonito.
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Fernando Rodrigues presenteou FHC lembrando os números da aprovação dele (26% e rejeitado por 36%) e Lula (83% e 4%) ao deixar o governo. Não tenho esta aprovação nem em casa. E olha que moro sozinho.
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A Folha pergunta se vai ter hexa. Pode até não ter. Mas já tem o grande derrotado desta Copa: a mídia com suas previsões apocalípticas.
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Vou ali, ver se levo minha vizinha às oitavas de final. Volto.
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By Zombozo Kropotkin e Palmério Dória, com adicionais.

Filme ganhador do oscar de Fotografia: Coração Valente - por John Toll (lounge.obviousmag.org)

Trecho do prefácio de O Capital – por Jacob Gorender

     O homem, para Feuerbach, é ser genérico natural, supra-histórico, e não um ser social determinado pela história das relações sociais por ele próprio criadas. Daí o caráter contemplativo do materialismo feuerbachiano, quando o proletariado carecia de ideias que o levassem à prática revolucionária da luta de classes. Uma síntese dessa argumentação encontra-se nas Teses Sobre Feuerbach, escritas por Marx como anotações para uso pessoal e publicadas por Engels em 1888. A última e undécima tese é precisamente aquela que declara que a filosofia se limitara a interpretar o mundo de várias maneiras, quando era preciso transformá-lo. A ideologia é, assim, uma consciência equivocada, falsa, da realidade. Desde logo, porque os ideólogos acreditam que as ideias modelam a vida material, concreta, dos homens, quando se dá o contrário: de maneira mistificada, fantasmagórica, enviesada, as ideologias expressam situações e interesses radicados nas relações materiais, de caráter econômico, que os homens, agrupados em classes sociais, estabelecem entre si. Não são, portanto, a ideia Absoluta, o Espírito, a Consciência Crítica, os conceitos de Liberdade e Justiça, que movem e transformam as sociedades. Os fatores dinâmicos das transformações sociais devem ser buscados no desenvolvimento das forças produtivas e nas relações que os homens são compelidos a estabelecer entre si ao empregar as forças produtivas por eles acumuladas a fim de satisfazer suas necessidades materiais. Não é o Estado, como pensava Hegel, que cria a sociedade civil: ao contrário, é a sociedade civil que cria o Estado. 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Grafite - por WD (Fotografia - AP-Yahoo!)

A revolução não é uma maçã que cai quando esta madura. Você tem que fazê-la cair


    Grafite do artista indonésio WD inspirado nas manifestações da Turquia, no centro de Atenas.  

Picadinhas

Portugal não ficava perdido assim desde que Cabral errou a rota para as Índias.
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Escândalo: Dinheiro acumulado de bolões já pagou todos os estádios da Copa.
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Cristiano Ronaldo mostrou hoje contra a Alemanha que tem mesmo a sobrancelha mais bem cuidada do mundo.
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E gritaram da torcida para a bola: Pedro me dá meu chip!!!!!
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Ah, que delícia de caos!
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COPA é tão bom que tira até o Faustão do domingo!
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A bola entrou toda ou não entrou? Opinem! Não vai mudar nada mesmo.
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Extra! Presidente do Inter promete que o hino da França será executado semana que vem.
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Pela logomarca nos uniformes, eu achei que o jogo não fosse de França contra Honduras, mas contra Hogwarts.
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França e Honduras faziam a melhor partida deste UFC. Até o Pepe entrar em campo, claro.
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Inglaterra x Itália, num senhor estádio, no meio da "rain forest", isso aí é sonho de gringo. E pesadelo de vira-lata.
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“Depois do jogo tem Cláudia Leitte no Faustão!!”. 
Candidato a pior combo de todos os tempos.
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A sanha do UOL por dar notícias negativas da Copa acabou de chegar a um novo nível: "Hotel indicado pela Fifa tem ar-condicionado sujo" (SIC).
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Aécio Neves é tão convincente chorando que poderia até ser figurante em Malhação.
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No futebol, a alegria de uns Equador de outros.
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De acordo com os profetas do apocalipse o mundo estaria acabando no Brasil exatamente agora, durante a copa. O que restou a eles foi o que? Xingar a presidente?
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Aécio desliga-se da página 2 da Folha. Agora quase todo o jornal é dele.
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Nossos jornalões são como os pernas de pau dos gramados. Não acertam uma. E a galera da geral grita: "Deixa que eles se marcam!".
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Como se explica que, na opinião pública, haja derretido a imagem de FHC, enquanto que, na opinião publicada, cada vez ela se torne mais resplandecente?
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"Todo jornalista de esporte decente tem que ter um pouco de João Saldanha." (José Trajano)
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Se os habitantes da antiga Iugoslávia não se matassem uns aos outros há 1200 anos talvez tivessem hoje o melhor futebol do mundo.
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PSDB oficializou Aécio como candidato e FHC como presidente do Partido da Mídia.
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Lendas e mistérios da Amazônia: Inglaterra e Itália em plena floresta.
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Realismo fantástico: Colômbia inventa o quadrado redondo.
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Merval Pereira dá a impressão que em suas veias corre geleia de Mocotó Imbasa.
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A Folha passou esse tempo todo anunciando e garantindo que o mundo ia se acabar. De fato. Acabou em samba. Que é a melhor maneira de se conversar.
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Ao dizer que a vaia à presidente "foi um dos grandes momentos da Copa", Veja empata consigo mesma em matéria de sem-vergonhice.
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Holanda 5, Espanha 1, na Fonte Nova, foi além da imaginação.
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Eduardo Campos e Aécio Neves já perderam a esportiva. E a campanha nem começou.
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Chico Buarque, again: "Deixa o ódio pra quem tem".
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Nicolelis pode usar a ciência pra fazer um paraplégico andar, mas só mesmo um milagre pra curar a idiotice da Veja.
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A liberação geral funciona: Holanda veio com o futebol total.
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SP: Bebendo o volume morto e reclamando da Copa.
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É bom lembrar: 3,7 milhões de turistas se deslocarão pelo Brasil durante a Copa sem dar bola pro horror pintado pela Veja.
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666² = besta quadrada.
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A felicidade bateu a minha porta. Eu não estava, tinha ido à padaria comprar sonhos. (Múcio Góes)
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Quando eu era criança gostava muito de pão com mortandela. Quando descobri que o correto era se dizer mortadela a coisa já tinha perdido o gosto. (Dante Gatto)
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A esperança é um ato de resistência.
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O whatsapp deveria dizer: sua mensagem foi enviada... visualizada, ignorada, humilhada e esquecida com êxito. (Latia Chuchi)
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Todo ex-amor é um Deus ainda vivo. Nós que não temos mais fé.
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Acho que nunca mais vamos nos gostar daquele jeito. Aquele do começo, sabe? Aquele jeito de gostar de quem ainda não se conhece. (Bruno Fontes)
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dona de uma fineza absoluta:
na sala sartre
na cama sutra.
(Múcio Góes)
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De dia corro com meus medos
A noite passeio com meus sonhos.
(Nicolas Behr)
*
Eu fico bem 
com você perto 
ou longe. 
É assim, 
no meio do caminho, 
que você me faz mal. 
(Bruno Fontes)
*
A saudade de você é igual aquelas bobagens que eu ainda tenho guardado no quarto, que nunca mais vou usar. Mas guardo. (Bruno Fontes)
*
Rotina é máquina de moer gente. (Sérgio Vaz)
*
Vou ali lavar a louça da vizinha. Volto.
*
By Zombozo Kropotkin, Palmério Dória e Revista Bula, com adicionais.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Igreja - por Andy Lee (Fotografia - site homônimo)

A censura maior que paira sobre o trabalho de combate à corrupção - por Juarez Guimarães (Carta Maior)

O que explica a maior capacidade da PF em combater a corrupção é fundamentalmente a estrutura sistêmica de combate à corrupção construída nos últimos anos


     Desde o início do governo Lula e durante o governo Dilma, os grandes meios de comunicação empresarial do país têm praticado uma implacável e sistemática censura no plano editorial, opinativo e informativo sobre o amplo, contínuo e inovador trabalho de construção de um sistema de combate à corrupção no Estado brasileiro. Esta censura absurda e implacável ao maior esforço republicano anticorrupção  da história do país  serve na medida  ao discurso da oposição neoliberal de que nunca houve tanta corrupção no Brasil e que o PT é o partido mais corrupto.  Este ensaio é dedicado a todos os brasileiros que nestes anos foram e continuam sendo injustamente caluniados como corruptos. 
                                                                                                                
     Em 2012, a Polícia Federal realizou 292 operações especiais contra a corrupção e a lavagem de dinheiro. Em todos os oitos anos do governo Fernando Henrique Cardoso, foram realizadas apenas 20 operações especiais. O que explica a maior capacidade da Polícia Federal em combater a corrupção é fundamentalmente a estrutura sistêmica de combate à corrupção construída durante os governos Lula e Dilma.  Mas quando se divulgam as notícias destas operações isoladamente – e quase sempre de modo sensacionalista -, o sentimento que se tem é que a corrupção teve um aumento explosivo no Brasil.

     Para os estudiosos da área, trata-se do “efeito percepção”: como fenômeno oculto, a corrupção só é percebida quando combatida. Quando mais se combate, mais ela aparece. Em uma ditadura, quando os mecanismos republicanos de combate à corrupção não mais existem, pode parecer que não há mais corrupção quando ela atingiu o grau máximo. Um governo que é omisso no combate à corrupção pode parecer perfeitamente republicano embora seja corroído por fortes teias de corrupção.

     Com base neste “efeito percepção” nos últimos doze anos foi construída uma narrativa de que a corrupção nunca esteve tão alta no Brasil e que o PT é o partido mais corrupto. Esta narrativa pode ser bem documentada nos artigos publicados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso desde os inícios de 2005. E tem sido diariamente repetida pela esmagadora maioria das empresas de comunicação do país.

     Foi com base nesta narrativa que se construiu a legitimidade política para a aplicação da excepcional e midiática jurisprudência do superior Tribunal Federal na Ação Penal 470. É com base ainda neste juízo que se procura legitimar as excepcionais medidas punitivas e sua extraordinária aplicação aos réus condenados pelo STF. É ainda apoiado centralmente nesta narrativa que veio se expandindo nos últimos anos o anti-petismo como discurso do ódio na sociedade brasileira.

     A estratégia midiática foi desde sempre priorizar, principalizar, dar exclusividade e ênfase aos casos de corrupção que envolveram petistas nestes anos. Mas, vistos no conjunto, estes casos constituem uma parte mínima dos casos apurados. Os outros, principalmente os que atingem o PSDB e seus partidos aliados, são relegados a um obscuro segundo plano.

     Esta estratégia seletiva é, no entanto, a parte menor da distorção da informação, da opinião e da edição produzida. O mais importante tem sido a censura implacável e sistemática à divulgação de um conjunto de iniciativas e ações que, desde o primeiro governo Lula até agora, construíram no Brasil o maior sistema de combate à corrupção em nossa história republicana.

     Trata-se de uma censura porque a sistemática não publicação destas notícias não pode ser explicada pelo fato de que a corrupção tem sido um assunto menor ou marginal na agenda das grandes empresas de comunicação. É exatamente o contrário do que ocorreu. Além disso, são informações públicas, cujo sentido e avaliação têm sido apresentados didaticamente em muitos fóruns públicos, nacionais e internacionais. Enfim, o mais grave: trata-se de uma censura editorial, isto é, decidida por quem controla a edição política dos jornais, revistas, televisões e rádios.

     Não censurar estas informações seria comprometer pela base a narrativa das oposições. O brasileiro certamente construiria o juízo de que o que houve e está havendo não é o aumento da corrupção mas o crescimento sistêmico do combate à corrupção no Brasil. E que os governos liderados pelo PT – sem a menor sombra de dúvida - foram exatamente os que mais contribuíram para o combate à corrupção em toda a história do  Brasil.

A construção da CGU e da Enccla 

     O fenômeno da corrupção no Brasil é sistêmico: não é eventual nem localizado em uma parte do Estado brasileiro mas está tipificado no modo de operação das relações do Estados com os interesses privados, em particular aqueles de maior poder  econômico. Ele é freqüente, atinge os três poderes e os três entes da federação e se reproduz no próprio funcionamento do sistema político. A sua origem é histórica e está diretamente vinculada às raízes anti-republicanas e anti-democráticas de formação do Estado nacional brasileiro desde a sua origem.

     Para enfrentar este tipo de corrupção é preciso uma capacidade sistêmica do Estado. A corrupção é um fenômeno complexo, multidimensional, hoje bastante internacionalizada em seus circuitos financeiros e, em especial, adaptativa, isto é, capaz de reposicionar seus circuitos diante de novas leis e constrangimentos. Se não se cria uma inteligência sistêmica de Estado joga-se com ela o jogo da “cabra cega” e não será possível, como em um jogo de xadrez, dar um xeque-mate à corrupção sistêmica.

     Esta capacidade sistêmica de combate á corrupção tem de ser pública, não pode depender do interesse pragmático de governos ou partidos. Deve ser uma política de Estado exposta ao controle público. E, em terceiro lugar, ela deve ser sistêmica exatamente porque faz convergir diferentes agências do Estado, que podem agir, de forma coerente e concertada, no plano nacional e internacional, jurídico e operativo, cultural e econômico, preventivamente e na conformação dos padrões de penalização criminal, no plano federal, estadual e municipal.

     A grande revolução no combate á corrupção promovida  durante os governos Lula e Dilma foi a criação de uma estrutura de inteligência republicana  e sistêmica. As diretrizes fundamentais deste trabalho foram já propostas no documento “Combate à corrupção- compromisso com a ética”, lançado publicamente em setembro de 2002 pela campanha de Lula à presidência.

     A primeira peça fundamental foi a criação em 28 de maio de 2003 da Controladoria Geral da União, que teve como seu primeiro diretor Waldyr Pires. Formada hoje por cerca de 2 400 profissionais aprovados em concurso público e funcionários terceirizados, a CGU qualificou seus auditores e passou a construir paulatinamente toda uma série de iniciativas inéditas historicamente no governo federal. É, de fato, a primeira agência profissional e pública  - à diferença das corregedorias internas  quase sempre sem autonomia diante do executivo – especializada no combate à corrupção na história do  Estado brasileiro.

     Neste mesmo ano de 2003, já houve a primeira reunião de formação da Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro (Encla), que reuniu ministro e dirigentes de 27 órgãos do Estado nacional que atuavam, com suas respectivas atribuições, no combate à corrupção. É que passados cinco anos da aprovação da Lei 9.613 de 3 de março de 1998, a chamada “Lei da Lavagem de Dinheiro”, eram ínfimos os números de inquéritos policiais, ações penais e condenações por este crime. A Enccla, agora com duas letras “c”, pois a partir de 2006 incorporou também o combate à corrupção, passou a se reunir anualmente nestes onze anos, formando agendas, grupos operacionais e técnicos. Hoje, ela reúne 60 órgãos de combate à corrupção, entre eles, a CGU, a Polícia Federal, a Advocacia Geral da União, Banco Central, Receita Federal, TCU, STF, coordenada pela Secretaria do Ministério da Justiça. Por incorporar vários órgãos do Poder Judiciário e da Procuradoria Geral da República, sua inteligência ganhou também uma expressão jurídica que tem sido fundamental.

     A partir destas duas grandes ferramentas públicas de combate sistêmico à corrupção – a CGU e a ENCCLA - foram se elaborando e colocando em prática, ano a ano, as iniciativas que revolucionaram o combate à corrupção no Brasil, como passamos a descrever.

Primeiras iniciativas

     Já em 2003 a CGU começou a estruturar um sistema de Corregedorias no governo federal, com uma Corregedoria em cada ministério e a formação técnica sistemática para o exercício da função (já foram capacitados milhares de servidores). A CGU começou a fiscalizar as contas dos servidores federais, identificando dados patrimoniais incompatíveis e movimentações financeiras suspeitas. Até meados de 2012 mais de 4500 servidores federais foram afastados de seus cargos por corrupção, sendo que a maioria deles de cargos mais elevados e cargos em comissão. Esta fiscalização sistemática nunca havia acontecido antes na história brasileira.

     Uma outra iniciativa decisiva do governo na área foi regulamentar e incorporar ao direito brasileiro, as chamadas Political Exposed Persons (PEP), sobre as quais se exerce um controle patrimonial mais severo em função de suas atribuições em áreas considerados chaves para a prevenção da corrupção. Esta iniciativa envolveu o Banco Central, a Comissão de Valores Imobiliários e o Ministério da Previdência Social.

     Já no início de suas atividades a CGU começou a fazer o sorteio na Caixa Econômica Federal de municípios brasileiros a terem suas transferências de recursos federais auditadas. Hoje, com um maior número de auditores, já se sorteiam 60 cidades por mês para serem auditadas. Este trabalho que não era feito antes, passa pela mobilização e deslocamento de uma equipe de auditagem que faz o trabalho diretamente nas prefeituras. Até 2010, 1800 municípios brasileiros já tinham auditadas as suas contas. Esta experiência levou a que a presidente Dilma Roussef editasse o decreto 7 507, pondo fim ao saque em dinheiro pelas prefeituras. O decreto estabelece que os pagamentos são feitos somente de modo eletrônico ou equivalente, de modo que os fornecedores e prestadores de serviços sejam  devidamente identificados.

     Ainda em 2003, o governo que aparece na imagem midiática como o mais corrupto da história, propôs à ONU que fosse adotada a data de 9 de dezembro como o dia Internacional do Combate à Corrupção.  A data, adotada pela ONU por sugestão da delegação brasileira, passou a ser um momento importante já que, a cada ano, a CGU apresenta um balanço dos avanços conquistados e os principais desafios que se colocam para o combate à corrupção. Em geral, estes balanços sistemáticos e públicos jamais obtiveram uma atenção da grande mídia empresarial, mesmo quando sua agenda estava centralizada no tema da corrupção.

     Aliás, a proposição de uma data internacional aceita pela ONU está longe de ser uma iniciativa simbólica. Desde 2003, os governos do Brasil passaram a ter uma presença forte nos fóruns internacionais de combate à corrupção. O governo do Brasil foi convidado a ter presença permanente no Comitê de Governança Pública da OCDE, participou do Plano Plano Anti-corrupção do G-20 (junto com os EUA), tem uma liderança pioneira junto com os EUA na Iniciativa do governo Aberto (OGP), lançado em setembro 2011 em Nova York pela presidente Dilma Roussef e Barack Obama, preside  desde 2009 o Comitê de Peritos do Mecanismo de Acompanhamento da Implementação da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. Em 2012, sem que a grande mídia empresarial tenha dado qualquer destaque, o Brasil sediou a 15 Conferência Internacional Anticorrupção, o evento mais importante do mundo na área, que mobilizou 1900 especialistas de cerca de 140 países. Por iniciativa da Enccla, foi criado o Programa Grotius Brasil, no sentido de formar uma cultura e dinamizar a cooperação jurídica internacional no combate à corrupção.

     Em 2005, por sugestão da Enccla, foi criado o cadastro de clientes do Sistema Nacional de Bens apreendidos (SNBA), envolvendo uma ação conjunta do Conselho de Justiça Federal, do Ministério da Justiça e do Departamento de Polícia Federal. Esta iniciativa permite evitar o extravio, depreciação ou perecimento dos bens apreendidos em atividades contra a corrupção. Até novembro de 2011, ele continha 2.055.831.743 bens apreendidos no valor de RS 2.384.961.090,47.

     Também por sugestão da Enccla, foi criado o Rol Nacional de Culpados da Justiça Federal, sistema que permite a possibilidade de consulta dos magistrados para obterem informações e antecedentes dos réus. Antes, não havia esta possibilidade. Por iniciativa da  Enccla, desde 2004 começou a funcionar o Programa Nacional de Capacitação contra a Lavagem de dinheiro ( PNLD), que, desde então, formou 11 mil agentes em 26 dos 27 estados da federação. A Enccla construiu também a partir de 2009 a Wiccla, uma enciclopédia de conhecimentos interativa, que acumula conhecimento e dados sobre tipologias de lavagem de dinheiro e corrupção, fundamental para socializar e acumular as experiências.

     Na mesma direção, foi criada em 2007 a Rede-Lab, com financiamento do Pronasci lançado pelo Ministério da Justiça, que integra 17 laboratórios tecnológicos (hardware e software) que lidam com grandes volumes de informações e adaptados para o combate à lavagem de dinheiro.

     Regulamentado pelo Banco Central em 2005, mas em funcionamento desde 2007 e aprimorado até 2010,  foi construído pela primeira vez no Brasil o Cadastro de clientes do sistema financeiro. Ele tem atualização diária e é alimentado pelos bancos comerciais, os bancos múltiplos, os bancos de investimento e as caixas econômicas. Considerado uma revolução no âmbito da investigação financeira no Brasil, foi criado o Sistema de Investigação de Movimentação Bancária (SIMBA). O SIMBA trabalha com planilhas magnéticas padronizadas, superando a fase de relatórios de contas em papel, de difícil e longa elaboração pelos bancos, além de análise bastante dificultada.

     Todas estas iniciativas vão na direção da criação pela primeira vez no Brasil de uma inteligência de estado capaz de agir ali onde a corrupção se reproduz que é o processo de lavagem de dinheiro.

Prêmio da ONU

     Desde 2003, a CGU veio acumulando capacidade e iniciativas para revolucionar a transparência para a sociedade dos governos brasileiros. O Observatório da Despesa Pública  foi uma ferramenta criada para cruzar grandes volumes de informações, com o objetivo de detectar tipos repetitivos de fraudes. O Observatório, segundo o Ministro Jorge Hage, é a “malha fina” da despesa, sendo capaz de monitorar, de forma ágil, a ocorrência de situações atípicas na execução do gasto público.

     A partir de 2004, foi lançado o Portal da Transparência do governo federal, que se tornou uma referência mundial, tendo recebido o prêmio da ONU como uma das cinco melhores práticas no campo das estratégias de prevenção e combate à corrupção.  Desde 2010, as despesas do governo federal são lançadas diariamente no Portal. Tudo o que se empenhou ou pagou hoje, estará exposto no Portal no dia seguinte. Isto é algo inédito no mundo.

     Em 2011, o governo pôde comemorar uma de suas maiores vitórias na luta contra a corrupção que foi a aprovação pelo Congresso Nacional da Lei de Acesso à Informação, considerada uma das mais avançadas do mundo. Ela estabelece a obrigatoriedade de todos os órgãos públicos, em todos os níveis da federação, disponibilizarem a todos os cidadãos as informações essenciais para que haja um controle público democrático de sua atividade. A CGU lançou em seguida o Programa Brasil Transparente, para auxiliar estados e municípios a se adaptarem às novas regras de transparência pública.

     Desde 2003, a CGU tem propiciado cursos de formação para formar cidadãos aptos a exercerem o controle público. Além do Programa Olho Vivo, foi realizada em 2006 o I Seminário Nacional de Controle Social na Administração Pública do Brasil. 

Luta contra os corruptores

     Outro campo decisivo de inovações promovida pela CGU durante os governos Lula e Dilma foi, a partir do entendimento que a corrupção não é um fenômeno puramente estatal, mas envolve ativamente os corruptores  e empresários, fundar todo um sistema de controle e punição antes  inexistente na área.

     Em 2008 foi criado o Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CNEIS), disponível ao público pela Internet, que permite verificar as empresas que participaram de práticas ilícitas e que estão impedidas de celebrar contratos com a administração pública no Brasil. Até 2012 já existiam cerca de cinco mil empresas neste cadastro.

     Na mesma direção foi criado – também antes inexistente – o Cadastro das Entidades Privativas Sem fim Lucrativo Impedidas (Cepim) que registra as ONGs que cometeram atos ilícitos com recursos públicos. Até 2012, já havia mais de 1 800 ONGs impedidas de fazer parcerias com órgãos da administração pública e que têm seus nomes publicados na internet. Em 2011, o governo Dilma fez um decreto no sentido de regular as relações públicas com ONGs, estabelecendo que elas precisariam ter pelo menos três anos de atividade reconhecida na área, não ter cometido  irregularidades, participar de uma chamada pública. Além disso, todo contrato deveria ser assinado diretamente pelo próprio ministro da área envolvida.

     A partir de uma iniciativa da Enccla já estudada desde 2044 e de um projeto de lei enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional já em 2010, foi aprovada a Lei 12.683 que modifica e atualiza em pontos fundamentais a Lei 9613/98, permitindo um grande avanço no combate e penalização das empresas corruptoras. Pela nova lei, não é mais necessária a exigência de comprovação nem da intenção nem que o ganho ilícito tenha sido já auferido. Não mais há a dificuldade do alistamento de crimes antecedentes e a alienação antecipada dos bens envolvidos na corrupção permite evitar a sua perda de valor. A nova lei, seguindo orientação da OCDE, também penaliza as empresas por prática de suborno internacional. As multas foram ampliadas, cobrindo de 0,1 % até 20 % do faturamento bruto da empresa. Além do perdimento de bens, suspensão de atividades ou dissolução, as penas administrativas envolvem a proibição de recebimento de incentivos, isenções ou subvenções por um prazo determinado. 

     Em 2009, o ex-presidente Lula enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei que penaliza a corrupção como crime hediondo quando cometido por altos funcionários. A lei ainda não foi votada até hoje.

     Outra iniciativa de mudança fundamental vista pela CGU é a que se refere ao princípio da “presunção da inocência” que no Brasil, de forma singular, permanece até depois de quatro reconhecimentos oficiais de culpabilidade, ou seja, a Opinio Delicitis de um Procurador da República (após o inquérito), a aceitação da denúncia do Ministério Público por um juiz, a sentença condenatória de primeiro grau e o Acórdão confirmatório dessa sentença por um Tribunal de segundo grau.

     É esta processualística arrastada e extraordinária que faz com que os processos contra a corrupção se arrastem de dez a quinze anos, passando à sociedade a sensação real de impunidade dos corruptos, em particular aqueles vinculados aos crimes de “colarinho branco”.

Efeitos da censura

     Em artigo recente, “A outra censura”, o professor Venício Lima mostrou a importância de se pensar o cerceamento de informações do interesse público para além da censura de um Estado autoritário. Grandes empresas de comunicação, em regime de propriedade cruzada e de controle oligopolístico, podem retirar do alcance do público informações fundamentais para a vida democrática.

     Se a forte restrição do pluralismo de opiniões fere de morte a vida democrática de um país, o que dizer, então, de uma censura sistemática e implacável a informações fundamentais para formar a opinião pública?

     Ao cercear aos brasileiros o direito de tomar conhecimento do que os governos Lula e Dilma construíram, como política de Estado, no combate sistêmico à corrupção no Brasil, as grandes empresas de mídia cometem um triplo crime. Em primeiro lugar, um crime contra a cultura cívica do cidadão que passa a desesperar de que não há saída para o labirinto da corrupção na democracia brasileira. Em segundo lugar, protegem os governos estaduais e municipais inativos na luta contra a corrupção já que o exemplo maior de incentivo à corrupção viria do governo federal. Por fim, atacam de modo farsesco o próprio cerne da legitimidade pública destes governos e do PT ao pretenderem colar as suas identidades à corrupção.

     Os governos Lula e Dilma, pode-se argumentar, poderiam ter feito mais contra a corrupção. É certo ainda que grandes desafios precisam ser enfrentados, entre eles a reforma política, para se superar a corrupção sistêmica no Brasil. Mas não há como evitar o juízo de que os governos Lula e Dilma foram até hoje  os que mais contribuíram para se constituir um fundamento republicano das instituições do Estado brasileiro. Não há sequer medida de comparação com qualquer outro governo federal anterior. Em particular, a comparação com os governos Fernando Henrique Cardoso, com seu bloqueio sistemático da investigação de escândalos, seria, por todos os motivos, vergonhosa e constrangedora para os que acusam o PT e seus governos nacionais de serem os campeões s da corrupção. Só há uma e única maneira de negar este juízo: censurar as informações.