quarta-feira, 6 de maio de 2015

Fotografia - por irmãos Taipale (taipalebrothers.com)

Duas comparações

     Neste texto não gostaria de me ater a incompetência administrativa do governador tucano Beto Richa, que pegou um governo superavitário e levou seu estado a uma circunvolução de déficits devido a uma gestão terrivelmente fraca, tampouco me estenderei sobre a gatunagem que pretende fazer contra a previdência dos servidores para remediar a sua própria incompetência na gestão da coisa pública.

     Pretendo somente fazer duas peculiares comparações.

     Por um espectro do lado político, Israel pode ser considerado um Estado delinquente que perpetra e perpetrou desde a sua criação diversos crimes de guerra. Já por outro, apenas um Estado acerbo, contundente, hostil, firme na defesa de seus interesses. De qualquer modo, independente da ideologia do avaliador, o fato é que Israel é um Estado enérgico, combativo.
     Pois bem, esta semana, depois de um vídeo que mostra dois policiais agredindo um soldado israelense de origem etíope devido ao racismo latente na sociedade judaica, ocorreram dois protestos violentos dos judeus etíopes contra o racismo e a violência policial.
     Apenas na segunda das violentas manifestações, 56 agentes de segurança foram feridos (destaco, os policiais foram efetivamente feridos).
     Ainda assim, na sequência dos protestos, ao invés de chamar os manifestantes de “black blocks”, ao invés de tentar criminalizá-los, o que fez o presidente israelense Reuven Rivlin? Foi a público pedir desculpas, reconhecer o erro do estado israelense com os etíopes, descrevendo o sofrimento das vítimas como uma “ferida aberta”. Reconheceu que o estado israelense não cuidou o suficiente, que não cumpriu seu papel e humildemente reconheceu seus equívocos. Esta fala, destaco, é proveniente do agressivo estado de Israel.

     Agora, comparemos. No caso da polícia paranaense, nem um mísero policial foi ferido. Nem um.
     E o senhor Beto Richa, ao invés de vir a público, de joelhos pedir desculpas pelo massacre que os covardes de seus apaniguados perpetraram contra os professores (¡contra os professores meu Deus!), não. O tucano bestial (¿seria o adjetivo um pleonasmo?), o grande responsável por tudo que ocorreu, ainda tenta criminalizar o movimento, responsabilizar as vítimas pelo massacre que sofreram. É realmente o fim.

     E como a cereja do bolo, como o resumo da história, vemos o ato burlesco e criminoso de um policial se pintar para fingir que havia sido agredido (o Brasil é realmente o país da piada pronta). O fato virou motivo de dictérios múltiplos, mas uma coisa poucos se atentaram: e se ele tivesse se pintado com maior esmero? Fatalmente a parcela mais obtusa e reacionária da população estaria caindo de pau em cima dos professores.
O país da piada pronta
     E qual será a consequência para o “agente da lei” por ter tentado imputar um crime a outrem, aliás, pior do que a outrem, mas a toda uma classe? Nenhum, é claro.

     A primeira comparação que eu gostaria de fazer, portanto, era esta: enquanto o agressivo, o combativo Estado de Israel, país que vive em estado de guerra, vai a público pedir desculpas, mesmo depois de ter dezenas de policiais efetivamente feridos por protestos, nós, por aqui vemos a polícia perpetrar um massacre, e o governador tucano ir a público criminalizar os que foram arrasados.
    Mesmo eu não tendo absolutamente nenhum apreço pelo PT (seria realmente um escândalo respeitar um governo que para o ministério mais importante de todos nomeia Joaquim Levy), outra comparação deve ser feita.
     ¿Por que o Aécio paranaense pode dar-se ao luxo de praticar uma atrocidade dessas? A resposta é simples e deve ser respondida com todas as letras: ele pode cometer esta barbaridade porque é tucano – então ele pode isto e pode muito mais. Mesmo sendo cristalino o crime que Beto Richa e seus gendarmes cometeram, não haverá contra eles Ministério Público, não haverá Polícia Federal, não haverá Sérgio Moro, não haverá imprensa, não haverá impeachment, não haverá nada. Não haverá porquê a responsabilização dos agressores pressupunha a responsabilização do seu comando. É triste reconhecer, é sumamente deplorável reconhecer que, por concepção, os tucanos são inimputáveis. Podem tudo. Tudo.
     Isto é Brasil.

P.S.: Não se escutou panelaço contra as sevícias perpetradas pelo governador do PSDB.