terça-feira, 29 de setembro de 2015

Arco do triunfo - por Antoine Blanchard (Pintura - site homônimo)

Picadinhas

Não sei porque tem gente que acha que os ETs vão querer fazer contato com a terra, se até eu que sou humano evito contato com as pessoas daqui.
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Se isso na minha vida é uma fase, imagine quando eu chegar no castelo do chefão.
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Trabalhos em grupo me fazem entender porque o Batman trabalha sozinho.
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A árvore quando esta sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira. (Provérbio Árabe)
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Eduardo Cunha é capaz de tudo. Até de pegar Jesus pra Cristo nessa história das contas na Suíça.
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Amanhã eu gostaria de tomar alguma coisa diferente no café da manhã, quem sabe um rumo na vida. (Otariano)
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Lógica conservadora:
- Ditadura militar: sim!
Pena de morte: com certeza!
Aborto: Nããããão, eu sou pró-vida!
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Câmara definiu 'família' como como 'união entre homem e mulher' e eu defino 'câmara' como 'união do inútil com o desnecessário'.
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O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica. (Norman Vincent)
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O tempo passa, a barba cresce, e na CPI do Romário a Globo não aparece.
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A maior pegadinha de primeiro de abril aconteceu em 1974, quando um homem incendiou pneus dentro de um vulcão adormecido, fazendo acreditar que ele havia despertado.
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Depois de Alckmin levar prêmio de gestão da água, Pezão ganhará prêmio por gestão da violência.
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Não mentir é talvez a forma mais rara de heroísmo. (Francisco Bastos)
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A marginalização religiões de matriz africana é a interseção entre racismo e intolerância religiosa.
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Cunha é flagrado batendo papo com Maluf em fila do idoso de banco suíço.
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Se quiser falar de amor fale com o marinho, comigo você vai falar do atual panorama político institucional e da estrutura burgocapitalista. (Marconikovski)
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É mais fácil vencer um hábito hoje do que amanhã. (Confúcio)
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A pior parte de a Mara Maravilha ser homofóbica, é que ela ainda gastou um excelente nome que poderia ir pra alguma travesti. (Dibre)
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A “família dinossauro” agora deve ser chamada só de “dinossauro”, pq a decisão pré-histórica da câmara não contempla este tipo de família.
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A direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. 
A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada. (Norberto Bobbio)
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Para me punir por meu desprezo pela autoridade, o destino fez de mim mesmo uma autoridade. (Albert Einstein)
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Amigo, você não é de humanas nem exatas, você é de ridículas.
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Nova definição da câmara estipula que família inclui homem, mulher e quem tem conta na Suíça com você. A mudança ocorre depois que a Procuradoria confirmou que o deputado federal Eduardo Cunha, por enquanto presidente da Câmara, mantém uma conta não informada no exterior, com pessoas da família. O deputado não quis comentar a acusação, avisando que seu advogado é que está falando por ele nesse caso e e outros envolvendo acusações de corrupção. O advogado, porém, está com uma crise de rouquidão, de tanto falar, e perdeu a voz.
Não se sabe quem são essas pessoas que têm conta mas, como são família, passarão a ser consideradas família legalmente. Ou Famiglia, se for o caso.
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Prometemos segundo nossas esperanças e agimos de acordo com nossos medos. (Rochefoucauld)
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Aécio fez 124 viagens oficiais para o RJ enquanto governador de Minas. Por mais que a Dilma erre (e como erra), nunca conseguirá superá-lo.
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O Estado deve interferir o mínimo possível na vida do cidadão – mas vamos decidir quem pode casar com quem. Ser de direita é muito louco. Ou imbecil.
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O destino é o acaso atacado de mania de grandeza. (Mário Quintana)
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Dilma corta verba da saúde e cria o Ministério da Virose.
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Temos construído um sistema que nos convence a gastar dinheiro que não temos, em coisas que não precisamos, destruindo um planeta que não é nosso, para criar impressões efêmeras em pessoas que não nos importam.
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Quando vejo meus amigos de infância curtindo a própria foto e escrevendo tudo errado... percebo que venci na vida.
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Onde fui amarrar meu bode. (deputado da cota do Cunha, desolado)
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Há momentos em que tudo esta dando certo para você. Não se assuste, isso passa logo. (Jules Renard)
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Família é quem você escolhe e não o Congresso Nacional! Mas lembre-se o Congresso nacional também é quem você escolhe... então, mais cuidado! (Tico Santa Cruz)
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Geisy Arruda foi expulsa da faculdade por um vestido curto. Um estudante de medicina estuprou 4 meninas na USP e foi afastado por 6 meses.
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Cunha, Marinho e Del Nero aderem à campanha da Embratur de incentivo ao turismo interno.
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O pensador ou artista que guardou o melhor de si em suas obras sente uma alegria quase maldosa, ao olhar seu corpo e seu espírito sendo alquebrados e destruídos pelo tempo, como se de um canto observasse um ladrão a arrombar seu cofre, sabendo que ele esta vazio e que os tesouros estão salvos. (Friedrich Nietzsche)
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Por esses aí da câmara, uma mulher seria obrigada a ter o filho do seu estuprador. E depois ainda jogariam na cara dela, que ela e seu filho não são uma família perante o estatuto.
Hipocrisia é mato.
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- Vai fazer o que hoje à noite?
- Se tudo der certo, nada.
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Haddad planeja reduzir velocidade de funcionário fantasma que correr de repórter para 10 km/h.
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Pior do que fã do Star Wars que pede intervenção militar, só fã de X-men preconceituoso com qualquer minoria. Vocês não entendem nada, mesmo. (Adrieli_S)
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Uma medida da enrascada de Cunha: Paulinho da Força ainda não manifestou solidariedade.
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O dinheiro não muda o homem: ele apenas o desmascara. (Henry Ford)
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Se tá ruim pra gente nesse calor, imagina pra quem tava de roupa preta no Rock in Rio?
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Criar é matar a morte. (Romain Rolland)
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Viu amor, esquece esse lance de romantismo em restaurante chique. Vamo ali no dogão do Biu, ele é meu amigo e coloca o dobro de batata palha. (Pétrisson)
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Depois de demitir ministro por telefone, Dilma é orientada a cortar gastos e demitir por WhatsApp.
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Tempo gasto resolvendo problemas com operadoras já se iguala ao de uso do celular.
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E rolou o Rock in Rio. Aquele festival onde toca axé, pagode, sertanejo, samba, eletrônica, gospel, e em último caso, rock.
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Saudades de quando eu era criança e colecionava brinquedos. Agora que cresci só coleciono paranoias e decepções. (American Psycho)
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Prefeita ostentação se entrega após plano de dados ser cortado e não conseguir postar mais selfies.
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Se eu soubesse que o ano seria assim, ao invés de pular 7 ondas, eu teria me afogado. (isBitch)
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Pastor se revolta com notícia de US$ 5 milhões de Cunha na Suiça: “Cadê meus US$ 500 mil???”
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Passamos por três idades: a juventude, a maturidade e a 'mas você esta ótimo!'. (Cardeal Spellman)
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Piada da semana: Serra diz que seu projeto, que entrega o óleo do pré-sal para as multinacionais é “patriótico”.
Faltou especificar patriótico para qual país.
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“Nem tudo é culpa minha”.
Ass.: Capeta
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Nasa encontra água em Marte e anuncia expedição a São Paulo.
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No lugar de criar o botão “não curti”, o facebook deveria criar o botão “curti muito, inclusive quero pegar”. (Camilarpias)
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Bondade é amar as pessoas mais do que elas merecem. (Joseph Joubert)
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Não curtir postagem já chateia mais do que não ligar no dia seguinte, diz estudo.
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Não me revolto contra a ordem universal. Afinal, vivi mais de 70 anos. Tive o que comer. Desfrutei de muitas coisas – do companheirismo da minha esposa, dos meus filhos, do pôr-do-sol. Vi as plantas crescerem na primavera. Algumas vezes recebi um aperto de mão amigo. Uma ou duas vezes encontrei um ser humano que quase me entendeu. O que mais posso querer? (Sigmund Freud)
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- Você foi em outra balada LGBT?
- Sim, mãe, fui como simpatizante.
- Pela vigésima vez?
- É porque eu simpatizo muito.
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Quando Tiririca disse que “pior que tá, não fica”, ele fez uma piada. A Dilma entendeu como um desafio.
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Anotem aí: se eu tiver um filho daqueles que se jogam no chão do mercado pra conseguir alguma coisa, eu passarei com o carrinho por cima. (buteravengers)
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Neymar é acusado de sonegar 188 milhões à Receita após esquecer de declarar gastos com cabeleireiro.
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A bancada evangélica não vê com bons olhos a decisão tomada por Cunha de recorrer a sessão de desobsessão para afastar os maus espíritos.
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Mesmo a Joelma morando com o chimbinha, trabalhando com o chimbinha, viajando com o chimbinha, 24h com o chimbinha, ela foi chifrada. Imagina você, que não sabe aonde seu namorado tá agora.
Oremos.
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Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo. (J. Petit Senn)
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Congresso decide que grupos Família do WhatsApp terão que ter um pai e uma mãe.
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Zoa quem acredita em astrologia, mas acredita em meritocracia. Estamos de olho.
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Quanto mais longa a explicação, maior a mentira. (Provérbio Chinês)
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Johnny Depp deu aparelhos auditivos a crianças surdas, mas elas os jogaram fora depois de ouvirem o ator tocando guitarra.
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- Nível de inglês?
- Alto.
- Traduza: eu posso dizer.
- I can say.
- Forme uma frase.
- I can say de ser trouxa.
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Nova definição do que é ser humano exclui políticos.
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O encontro da preparação com a oportunidade gera o rebento que chamamos sorte. (Anthony Robbins)
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Amanheci vivo, mas não contem comigo até as 10h. (Padre Fábio de Melo, no twitter)
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Nova empresa aérea, a Air Écio, fará trecho Belo Horizonte-Rio-Búzios.
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Eu comecei a ouvir Faroeste Caboclo, mas parei na 4ª temporada. (oiluiz)
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Ou você é parte da solução ou é parte do problema. (Eldridge Cleaver)
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Previsão de sol para sábado é prova que Deus quer ver circo pegar fogo no Rio.
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Tá tão calor esses dias que tô quase puxando assunto com você, pra me tratares friamente como sempre faz. (american psycho)
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Após encontro do Papa com Fidel Castro, coxinhas na paulista pedem volta de Bento XVI.
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Descoberta de córregos de água salgada em Marte pode revelar a existência de microrganismos semelhantes a Carlos Sampaio e Paulinho da Força.
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Lamentar aquilo que não temos é desperdiçar aquilo que já possuímos. (Provérbio Chinês)
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Não sei pq tão reclamando da decisão da câmara. Todo mundo sabe que família tradicional brasileira de verdade é formada por homem, mulher, filhos e amante.
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Lobista do PMDB afirma que abriu conta na Suíça para pagar Eduardo Cunha. Logo agora que Marta Suplicy contava com ele para sanear o país.
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O homem sensato se adapta ao mundo: o homem insensato insiste em tentar adaptar o mundo a ele. Todo o progresso depende, portanto, do homem insensato. (Bernard Shaw)
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O que é bom para Gilmar Mendes não é bom para o Brasil. (Juracy Magalhães)
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Após Alckmin receber prêmio de gestão hídrica, Nana Gouvêa acredita que levará o Oscar.
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Bolsonaro foi visto uivando contra a lua vermelha.
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A teologia é o caminho mais longo para chegar a Deus. (Mário Quintana)
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Hoje, Cunha é pouco mais que uma perna à espera de uma tornozeleira. (Paulo Nogueira)
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Uma intelectualização cada vez mais profunda é o único caminho para defender-se deste mundo de gente abominável. (Albert Einstein)
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Marta já tem função no PMDB: governanta no castelo do mordomo do Conde Drácula.
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O inferno são os outros. (Jean Paul Sartre)
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Funcionária fantasma da Assembleia Legislativa de Goiás correndo velozmente é o Brasil nas Olimpíadas 2016.
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Não há o que temer. O apetite do PMDB é limitado. Mais ou menos como o do Alien.
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Objetivos são sonhos com prazo definido. (Anthony Robbins)
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Texto base do Estatuto da Família foi aprovado segundo as bases da Família Soprano.
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Quando o viajante canta no escuro, pode espantar seu medo, mas nem por isso vê mais claro. (Sigmund Freud)
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Devem estar muito tranquilas as negociações da presidente com os 27 PMDBs para a reforma ministerial.
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Vício é o mal que se faz com prazer. (Sidonie G. Colette)
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Eu não sei viver sem ter jatinho. É a minha condução. (Lulu Neves)
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O silêncio com uma pessoa pouco interessante lhe dá a certeza de que ela é a pessoa chata. Silêncio com uma pessoa interessante lhe dá a certeza de que a pessoa chata é você. (Alain de Botton)
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E como não se cansa de ameaçar nosso ínclito ministro da Justiça:
- Sai da frente que eu vou recuar!
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Cada ano que passa nos rouba alguma coisa muito nossa. (Horácio)
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O fato de Temer, Renan e Cunha não terem indicado peemedebistas para o Ministério não significa que defendem o golpe – e sim que estão nele.
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Sem dúvida, os pobres herdarão a terra. Sete palmos dela, com toda certeza. (Mark Twain)
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Não adianta babar de ódio, Marco Antonio Villa. Todo mundo sabe que sua verdadeira vocação é de baba ovo.
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Não entendo quem escolhe o caminho do crime, quando há tantas maneiras legais de ser desonesto. (Al Capone)
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Munido de microscópio consegui descobrir na Folha impressa que Eduardo Cunha foi vaiado no Rock in Rio. Amigo da Casa é outra coisa.
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O cérebro humano começa a trabalhar no momento em que o sujeito nasce e não pára até o momento em que ele sobe num palanque para fazer um comício. (George Jessel)
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E Francisco, atendendo a insistentes pedidos da direita hidrófoba brasileira, foi pra Cuba.
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Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim. (Millôr Fernandes)
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FHC é tão capacitado a falar de moral quanto Cunha de física nuclear.
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A função da arte é ser subversiva. (Nikolaus Harnoncourt)
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Muitos conseguem suportar a adversidade, mas poucos toleram o desprezo. (Thomas Fuller)
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Os deputados fiéis a Cunha vão competir na Olimpíada na modalidade de salteadores em altura.
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Nesse mundo de hoje, o sentido de humor é a única coisa que nos ajuda a viver. (Paul Newman)
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É bom lembrar que o rabo de Michel Temer dá uma volta ao mundo. Passa pelo Alasca, faz pit stop na Castelo de Areia, e chega ao porto de Santos.
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Quem é contra política é a favor da política que os outros fazem com ele. (Bertolt Brecht)
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A Folha virou mera linha auxiliar do movimento Retardados Online. Daqui a pouco começa a dar rasteira em refugiado.
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Se você perder a capacidade de rir, perderá a de pensar. (Clarence Darrow)
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THE END: JN, a falência da notícia, e o circo de horrores do Cidade Alerta tem a mesma audiência: 21 pontos.
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Os políticos são os mesmos em toda a parte. Prometem construir uma ponte até onde não há rio. (Nikita Kruschev)
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Paulinho vira réu por suspeita de desvio de recursos.
Se fué mais um herói da Barão de Limeira.
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Os mais jovens não lembram, mas o primeiro arrastão em praias brasileiras data de 22 de abril de 1500. (Fábio Flora)
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Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia. (José Saramago)
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Se o governo quer ser defendido, ele precisaria primeiro tornar-se defensável. (Guilherme Boulos)
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- Amor, eu to grávida de você.
- Mas eu já nasci.
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- Gente, precisamos dar um basta em tanta violência!
- Sim, vamos fazer isso agora espancando gente que a gente acha com cara de bandido!
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Em política, sempre é preciso deixar um osso para a oposição roer. (Joseph Joubert)
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Sendo amante de livros, quando eu vejo alguns livros muito ridículos sendo os mais vendidos uma parte de mim morre lentamente.
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As pessoas que comem e não engordam são o que há de mais próximo dos X-men na vida real.
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No fim, tudo é uma piada. (Charles Chaplin)
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Vou ali, mostrar pra minha vizinha o que vem a ser uma estrovenga. Volto.
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By Zombozo Kropotkin, Palmério Dória, Sensacionalista e adicionais.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Felldales - por Caio Monteiro (Arte digital - site homônimo)

O peregrino – por Mauro Santayana (Jornal do Brasil)

     O Papa Francisco teve uma semana movimentada. Passou por Cuba, onde rezou em Havana, na Praça da Revolução, para dezenas de milhares de fiéis católicos, e visitou Holguin e Santiago, depois de se encontrar com Fidel Castro, a quem tratou com atenção e simpatia.

     De lá, voou para os Estados Unidos, onde foi recebido por Barack Obama, rezou em frente à Casa Branca, para uma multidão de fiéis, e discursou, durante uma hora, sendo várias vezes interrompido por aplausos, no Congresso norte-americano.

     Falou também em Nova York, na tribuna das Nações Unidas, denunciando a "asfixia" imposta pelo sistema financeiro internacional, e no Marco Zero das Torres Gêmeas, reverenciando as vítimas do 11 de setembro, lembrando, no entanto, ao lado de sacerdotes judeus e muçulmanos, que “a vida esta sempre destinada a triunfar sobre os profetas da destruição”, que devemos ser “forças da reconciliação, da paz e da justiça”, e que é preciso se “livrar dos sentimentos de ódio, vingança e rancor” para alcançar “a paz, neste mundo vasto que Deus nos deu como casa de todos e para todos”.

     Não foi apenas pela proximidade geográfica que o Papa fez questão de ir a Cuba e aos EUA, em um único périplo.

     Ao escolher visitar, praticamente ao mesmo tempo, o país mais bem armado do mundo, e a pequena ilha do Caribe, que sobrevive, há décadas, em frente à costa dos Estados Unidos, com um projeto alternativo, que não segue a cartilha do “American Way of Life”, o Papa quis mostrar que não existem países mais importantes que os outros, e que todas as nações têm direito a buscar seu próprio caminho para o desenvolvimento, que pode estar simbolizado tanto por grandes foguetes e naves espaciais, como pela eliminação do analfabetismo, uma medicina de qualidade, o aumento da expectativa de vida de seus habitantes, ou um dos mais baixos índices de mortalidade infantil do mundo.

     É esse desejo, de paz na diversidade, tão presente na viagem do Papa, que fez com que Francisco tenha participado ativamente do processo de reaproximação diplomática entre os Estados Unidos e Cuba, concretizado com a recente reabertura da embaixada dos EUA, com a presença do Vice-presidente norte-americano, Joe Biden, em Havana.

     O seu protagonismo foi reconhecido em discurso, nos jardins da Casa Branca, pelo próprio presidente dos Estados Unidos, que agradeceu a contribuição do Papa nesses acordos, que representam um dos momentos mais marcantes da história recente.

     O Papa Francisco também está por trás – por seu reiterado e decidido apoio – de outro episódio inédito, de grande importância para o continente, ocorrido em Havana, apenas um dia após a sua partida: o aperto de mão, na presença do Presidente cubano Raul Castro como mediador, entre o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder guerrilheiro e comandante das FARC – Forças Armadas Revolucionárias, Rodrigo Londoño, também conhecido como Timoshenko, que sela a contagem regressiva para a conquista de uma paz definitiva, depois de mais de 50 anos de guerra civil, em um dos principais países latino-americanos.

     É claro que os dois fatos – a reaproximação entre Cuba e os EUA e entre o governo colombiano e as FARC – não podem agradar aos babosos, ignorantes e hipócritas anticomunistas de sempre, que, movidos por outros interesses, como a permanente gigolagem de fantasmas da Guerra Fria, prefeririam ver os Estados Unidos tentando outra frustrada invasão da ilha, quem sabe armando grupelhos radicais de vetustos, obtusos e anacrônicos anticastristas de Miami, ou aumentando sua presença militar na Colômbia, transformando aquela nação em uma espécie de Vietnam sul-americano.

     Daí, por isso, o ódio dos conservadores, fundamentalistas e tradicionalistas católicos contra Francisco, um latino-americano tão independente com relação aos EUA, que nunca tinha pisado o território norte-americano antes desta semana, e que, mesmo assim, teve a honra de ser primeiro pontífice a ser recebido e a falar diretamente, como líder estrangeiro de uma religião que não é a mais importante nos EUA, para dezenas de deputados e senadores, dentro do edifício do Capitólio.   

     Em um mundo em que países que alegam defender a democracia bombardeiam e destroem outras nações, metendo-se em seus assuntos internos, armando mercenários e terroristas para derrubar governos que consideram hostis, sem levar em conta o terrível balanço de suas ações, em mortes, torturas, estupros e na “produção” de milhões de refugiados; em que esses mesmos refugiados morrem sem ter para onde ir, em desertos, montanhas, fronteiras ou mares como o Mediterrâneo, e são recebidos, muitas vezes, a patadas por onde chegam, ou mantidos em cercados disputando no braço um naco de pão para seus filhos, que a polícia lhes atira, com luvas de borracha, como se fossem cães; em que o egoísmo, o fascismo, a arrogância, o ódio, a hipocrisia, a mentira, renascem com renovada força, e muitos não tem mais vergonha de pregar o individualismo, o consumismo, uma pseudo “meritocracia” como doutrina a justificar a exclusão, na busca enriquecimento individual e material a qualquer preço – como se o destino de cada um dependesse apenas de si mesmo, e em nada do meio que o cerca ou das forças terrenas que o governam, explorando-o ou enganando-o, de forma permanente, e a humanidade não fosse uma construção coletiva, fruto de centenas de gerações que nos antecederam – Francisco, que une no lugar de dividir, que ri, em vez de fazer cara feia, que prega a paz e a solidariedade no lugar do ódio, da vingança e da cobiça, é um farol a iluminar o que resta de sensatez na espécie humana – uma bússola para indicar o caminho nestes tempos sombrios, em que as forças do ódio e do atraso insistem em tentar impedir que amanheça, neste novo Século, um novo dia.

     Que seu pontificado dure muitos e muitos anos, já que o mundo e a História poucas vezes precisaram tanto, diante de tanto preconceito e ignorância, de um Papa como ele à frente da Igreja Apostólica Romana.

     O diabo, se existir, deve estar espumando pela boca, e esbravejando impropérios que só ele conhece, pelos nove círculos do Inferno.

     De nada adiantou que, eventualmente, tenha tentado cardeais ou soprado segredos e sortilégios no ouvido daqueles que votaram no último Conclave.

     Francisco esta onde esta – no lugar em que o Mal não queria ver, nunca, um homem como ele:

     À frente do Vaticano, no trono de São Pedro, com a Estola, o Anel do Pescador e o Báculo que o sustenta quando se move, com a certeza de que Deus caminha a seu lado, Peregrino da Paz, contra a insanidade do mundo.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Fotografia - por herryphoto (Tumblr)

Não podemos abordar a crise dos refugiados sem enfrentar o capitalismo global - por Slavoj Žižek (Boitempo)

    Nós não podemos abordar a crise dos refugiados sem enfrentar o capitalismo global. Os refugiados não chegarão à Noruega. Mas a Noruega que eles procuram sequer existe.

     Em seu estudo clássico On Death and Dying, ElisabethKübler-Ross propôs o famoso esquema de cinco estágios de como reagimos ao saberque temos uma doença terminal: negação (a pessoa simplesmente se recusa a aceitar o fato: “Isso não pode estar acontecendo, não comigo.”); raiva (que explode quando já não podemos negar o fato: “Como isso pode acontecer comigo.”); negociação (a esperança de que podemos de alguma forma adiar ou diminuir o fato: “Apenas deixe-me viver para ver meu filho graduado.”); depressão (desinvestimento libidinal: “Eu vou morrer, então por que se preocupar com alguma coisa?”); aceitação (“Eu não posso lutar contra isso, mas eu bem posso me preparar para isso.”). Mais tarde, Kübler-Ross aplicou esses estágios a qualquer forma de perda catastrófica pessoal (desemprego, morte de um ente querido, divórcio, vício em drogas) e enfatizou que eles não acontecem necessariamente na mesma ordem, nem que os cinco estágios são vivenciados por todos os pacientes.

     A reação da opinião pública e das autoridades na Europa Ocidental ao fluxo de refugiados da África e do Oriente Médio não teve uma combinação semelhante de reações disparatadas? Houve a negação, agora diminuindo: “Não é tão sério, vamos simplesmente ignorar.” Existe uma raiva: “Os refugiados são uma ameaça ao nosso modo de vida, entre eles escondem-se fundamentalistas muçulmanos, eles precisam ser barrados a qualquer preço”. Há negociação: “Ok, vamos estabelecer quotas e apoiar os campos de refugiados nos seus próprios países!” Há depressão: “Estamos perdidos, a Europa esta se transformando em uma Europa-stan.” O que esta faltando é a aceitação, o que, neste caso, significaria um consistente plano pan-europeu para lidar com os refugiados.

     Então, o que fazer com centenas de milhares de pessoas desesperadas, que esperam no Norte da África, fugindo da guerra e da fome, tentando atravessar o mar e encontrar refúgio na Europa?

     Existem duas principais respostas. Liberais de esquerda expressam sua indignação com a forma como a Europa esta permitindo que milhares de pessoas se afoguem no Mediterrâneo. O argumento deles é que a Europa deve mostrar solidariedade abrindo as portas amplamente. Os populistas anti-imigrantes reivindicam que devemos proteger nosso modo de vida e deixar que os africanos resolvam seus próprios problemas.

     Qual é a melhor solução? Parafraseando Stalin, as duas são piores. Aqueles que defendem a abertura das fronteiras são grandes hipócritas: Secretamente, eles sabem muito bem que isso nunca vai acontecer, uma vez que provocaria uma imediata revolta populista na Europa. Eles jogam com a bela alma que os fazem se sentir superiores diante de um mundo corrompido enquanto secretamente participam dele.

     O populista anti-imigrante também sabe muito bem que, deixados por si mesmos, os africanos não terão sucesso na mudança de suas sociedades. Por que não? Porque nós, norte-americanos e europeus ocidentais, estamos impedindo-os. Foi a intervenção europeia na Líbia que jogou o país no caos. Foi o ataque dos Estados Unidos ao Iraque que criou as condições para o surgimento do ISIS [Estado Islâmico do Iraque e do Levante]. A guerra civil em curso na República Centro-Africana não é apenas uma explosão do ódio étnico; França e China estão lutando pelo controle dos recursos petrolíferos através de seus procuradores.

     Mas o caso mais claro de nossa responsabilidade é o Congo de hoje, que esta novamente emergindo como o “coração das trevas” africano. Em 2001, uma investigação da ONU, sobre a exploração ilegal de recursos naturais no Congo, descobriu que os conflitos internos acontecem para se ter o acesso, o controle e o comércio de cinco minerais fundamentais: coltan, diamante, cobre, cobalto e ouro. Sob a fachada de guerra étnica, nós podemos identificar o funcionamento do capitalismo global. O Congo não existe mais como um estado unificado; é uma multiplicidade de territórios governados por senhores da guerra locais, que controlam o seu pedaço de terra com um exército, que como regra, inclui crianças drogadas. Cada um desses senhores da guerra estão ligados pelos negócios com empresas ou corporações estrangeiras que exploram as riquezas minerais da região. A ironia é que muitos destes minerais são usados em produtos de alta tecnologia, tais como laptops e telefones celulares.

     Retire as empresas estrangeiras de alta tecnologia da equação e toda a narrativa de guerra étnica alimentada por velhas paixões desmorona. Este é o lugar onde devemos começar se realmente queremos ajudar os africanos e parar com o fluxo de refugiados. A primeira coisa é lembrar que a maioria dos refugiados vem de Estados falidos – onde a autoridade pública é inoperante, pelo menos em grandes regiões – Síria, Líbano, Iraque, Líbia, Somália, Congo, etc. Essa desintegração do poder do Estado não é um fenômeno local, mas o resultado da economia e da política internacional, em alguns casos, como a Líbia e o Iraque, um resultado direto da intervenção ocidental. É claro que o aumento destes “Estados falidos” não é um inesperado infortúnio, mas sim uma das formas que as grandes potências exercem seu colonialismo econômico. Deve-se notar também que as sementes dos “Estados falidos” do Oriente Médio devem ser procuradas nas fronteiras arbitrárias desenhadas após a Primeira Guerra Mundial pelo Reino Unido e a França, que criaram uma série de Estados “artificiais”. Com o propósito de unir os sunitas na Síria e no Iraque, o ISIS esta, em última análise, juntando o que foi dilacerado pelos mestres coloniais. 

     Não se pode deixar de notar o fato de que alguns países não muito ricos do Oriente Médio (Turquia, Egito, Iraque) são muito mais abertos aos refugiados do que os realmente ricos (Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Qatar). Arábia e Emirados não receberam refugiados, embora façam fronteira com países em crise e são culturalmente muito mais próximos aos refugiados (que são na maioria muçulmanos) do que a Europa. Arábia Saudita tem até mesmo devolvido alguns refugiados muçulmanos da Somália. Isto porque a Arábia é uma teocracia fundamentalista que não pode tolerar estrangeiros intrusos? Sim, mas deve-se também ter em mente que esta mesma Arábia Saudita é totalmente integrada à economia do Ocidente. Do ponto de vista econômico, Arábia Saudita e Emirados, que afirmam depender totalmente das suas receitas petrolíferas, não são puros postos avançados do capital ocidental? A comunidade internacional deveria colocar toda pressão em países como Arábia Saudita, Kuwait e Qatar para fazer seus deveres de aceitarem um grande contingente de refugiados. Além disso, por estar apoiando os rebeldes anti-Assad, a Arábia Saudita é o grande responsável pela situação na Síria. E, em diferentes graus, o mesmo se aplica para muitos outros países – nós estamos todos nisso.

Uma nova escravidão

     Outra característica partilhada por esses países é o surgimento de uma nova escravidão. Enquanto o capitalismo se legitima como o sistema econômico que sugere e promove a liberdade individual (como uma condição do mercado cambial), ele gerou por conta própria a escravidão, como parte de sua dinâmica: embora a escravidão estivesse quase extinta no final da Idade Média, explodiu cedo na modernidade e durou até a Guerra Civil Americana. E hoje, numa nova época do capitalismo global, pode-se arriscar a hipótese de que uma nova era da escravidão também esta surgindo. Embora não exista um estatuto jurídico legal para escravizar as pessoas de forma direta, a escravidão adquire uma multiplicidade de novas formas: na península da Arábia (Emirados, Qatar, etc.), milhões de trabalhadores imigrantes são de fato privados de direitos civis elementares e liberdades; o controle total sobre milhões de trabalhadores em fábricas asiáticas, muitas vezes organizados diretamente como campos de concentração; o uso massivo de trabalho forçado na exploração de recursos naturais em muitos estados africanos centrais (Congo etc.). Mas nós não temos que olhar tão longe. Em 01 de dezembro de 2013, pelo menos sete pessoas morreram quando uma fábrica de roupas de propriedade chinesa em uma zona industrial na cidade italiana de Prato, a 19 km do centro de Florença, incendiou, matando trabalhadores presos em um dormitório de papelão improvisado, construído no local.  O acidente ocorreu em Macrolotto, distrito industrial da cidade conhecido por suas fábricas de vestuário. Milhares de imigrantes chineses estariam vivendo ilegalmente na cidade, trabalhando até 16 horas por dia para uma rede de oficinas atacadista que confeccionava roupa barata.

     Nós, portanto, não temos que olhar para a vida miserável dos novos escravos nos longínquos subúrbios de Xangai (ou em Dubai e Qatar) e hipocritamente criticar a China – a escravidão pode estar aqui mesmo, dentro de nossa casa, nós apenas não vemos (ou melhor, fingimos não ver). Este novo apartheid de facto, esta explosão sistemática do número de diferentes formas de escravidão de facto, não é um acidente lamentável, mas uma necessidade estrutural do capitalismo global de hoje.

     Mas estão os refugiados entrando na Europa apenas oferecendo-se para se tornar força de trabalho precário, em muitos casos, à custa dos trabalhadores locais, que reagem a essa ameaça unindo-se a partidos político anti-imigrantes? Para a maioria dos refugiados, esta será a realidade de seu sonho realizado.

     Os refugiados não estão somente fugindo de suas terras devastadas pela guerra; eles também estão possuídos por um sonho. Podemos ver repedidas vezes em nossas telas. Refugiados no Sul da Itália deixam claro que eles não querem ficar lá, eles querem majoritariamente viver nos países escandinavos. E o que dizer dos milhares de acampados em Calais que não estão contentes com a França, mas estão dispostos a arriscar suas vidas para entrar no Reino Unido? E o que dizer de dezenas de milhares de refugiados dos países Bálcãs que querem ao menos chegar à Alemanha? Eles declaram esse sonho como um direito incondicional, e exigem das autoridades europeias não só alimentação adequada e cuidados médicos, mas também o transporte para o local de sua escolha.

     Há algo enigmaticamente utópico nesta demanda impossível: como poderia a Europa realizar o sonho deles?, um sonho que, aliás, esta fora do alcance para a maioria dos europeus. Quantos europeus do Sul e do Leste não prefeririam viver na Noruega? Pode-se observar aqui o paradoxo da utopia: precisamente quando as pessoas se encontram em situação de pobreza, aflição e perigo, e seria de se esperar que eles estivessem satisfeitos com o mínimo de segurança e bem-estar, a utopia absoluta explode. A dura lição para os refugiados é que “não há Noruega”, mesmo na Noruega. Eles terão que aprender a censurar seus sonhos: Em vez de persegui-los, em realidade, eles devem se concentrar em mudar a realidade.

Um tabu da esquerda

     Um dos grandes tabus da esquerda terá que ser quebrado aqui: a noção de que uma maneira de proteger um modo de vida [way of life] é em si mesma protofascista ou racista. Se não abandonarmos essa noção, abrimos o caminho para a onda anti-imigrante que prospera em toda a Europa. (Mesmo na Dinamarca, o Partido Democrático, anti-imigrante, pela primeira vez ultrapassou os sociais-democratas e tornou-se o partido mais forte do país.) Responder às preocupações das pessoas comuns sobre as ameaças ao seu especifico estilo de vida também pode ser feito a partir da esquerda. Bernie Sanders é uma prova viva disso! A verdadeira ameaça para nossos estilos de vida comunitários não são os estrangeiros, mas a dinâmica do capitalismo global: Só nos Estados Unidos, as mudanças econômicas das ultimas décadas fez mais para destruir a convivência comunitária das cidades pequenas do que todos os imigrantes juntos.

     A reação padrão da esquerda liberal é, naturalmente, uma explosão de arrogante moralismo: No momento em que damos alguma credibilidade a “proteção do nosso modo de vida”, nós já comprometemos a nossa posição, uma vez que propomos uma versão mais modesta do que os populistas anti-imigrantes defendem abertamente. Esta não é a história das últimas décadas? Partidos centristas rejeitam o racismo aberto dos populistas anti-imigrantes, mas afirmam simultaneamente “compreender as preocupações das pessoas comuns” e promulgam uma versão mais “racional” da mesma política.

     Mas, embora exista um núcleo de verdade, as queixas moralistas – “A Europa perdeu a empatia, é indiferente para o sofrimento dos outros,” etc. – são apenas o reverso da brutalidade anti-imigrante. Ambas as posições compartilham o pressuposto, o que não é de forma alguma evidente, que a defesa do próprio modo de vida exclui o universalismo ético.  Assim, deve-se evitar ser pego pelo jogo liberal de “quanto de tolerância podemos oferecer.” Devemos tolerar eles impedirem suas crianças de irem para as escolas estaduais, eles arrumarem casamentos para seus filhos, eles brutalizarem gays nos seus espaços? A este nível, é claro, nós nunca somos suficientemente tolerantes, ou somos sempre tolerantes demais, negligenciando os direitos das mulheres, etc. A única maneira de sair deste impasse é movendo-se para além da mera tolerância ou respeito em direção a uma luta comum.

     Nesse sentido, é preciso ampliar a perspectiva: Os refugiados são o preço da economia global. Em nosso mundo global, mercadorias circulam livremente, mas as pessoas não: novas formas de apartheid estão surgindo. O tema de parede oca, da ameaça de sermos inundado por estrangeiros, é estritamente imamente ao capitalismo global, é o índex do que é falso sobre a globalização capitalista. Enquanto as grandes migrações são uma característica constante da história da humanidade, a sua principal causa na historia moderna são as expansões coloniais: Antes da colonização, o Sul Global consistia, principalmente, de comunidades locais autossuficientes e relativamente isoladas. Foi a ocupação colonial e o comércio de escravos que lançou este modo de vida para fora dos trilhos e renovou as migrações em larga escala.

     A Europa não é o único lugar que esta experimentando uma onda de imigração. Na África do Sul, existem mais de um milhão de refugiados do Zimbabwe, que estão expostos a ataques de pobres locais por roubarem empregos. E haverá mais, não apenas por causa de conflitos armados, mas por conta dos novos “Estados párias”, crise econômica, desastres naturais (agravados pela mudança climática), desastres criados pelo homem, etc. Sabe-se que, após o desastre nuclear de Fukushima, por um momento, as autoridades japonesas imaginaram que toda área de Tóquio – 20 milhões de pessoas – deveria ser evacuada. Para onde essas pessoas iriam? Em que condições? Eles deveriam receber um pedaço de terras ou dispersar ao redor do mundo? E se o Norte da Sibéria tornar-se mais habitável e arável, enquanto várias áreas subsaarianas tornam-se demasiadamente secos para que uma grande população suporte viver lá? Como será organizado o intercâmbio de populações? No passado, quando coisas similares aconteceram, as mudanças sociais ocorreram de uma forma espontaneamente selvagem, com violência e destruição (recorde as grandes migrações no final do Império Romano). Nos dias de hoje, tal perspectiva é catastrófica, com armas de destruição em massa disponíveis para muitas nações.

     Portanto, a principal lição a ser aprendida é que a humanidade deve estar preparada para viver de forma mais “plástica” e nômade: Rápidas mudanças climáticas, locais e globais, podem exigir, de forma inédita, transformações sociais em larga escala. Uma coisa é clara: a soberania nacional terá que ser radicalmente redefinida e novos níveis de cooperação global inventados. E o que dizer das enormes mudanças na economia e padrões de conservação do clima devido a escassez de água e energia? Através de quais mecanismos de decisão tais mudanças serão decididas e executadas? Aqui uma série de tabus deverá ser quebrado e um conjunto de medidas complexas realizadas.

     Em primeiro lugar, a Europa terá de reafirmar seu total empenho em proporcionar condições dignas para a sobrevivência dos refugiados. Não deve existir compromisso aqui: grandes migrações são o nosso futuro, e a única alternativa a esse empenho é a barbárie renovada (que alguns chamam de “choque de civilização”).

     Em segundo lugar, como consequência necessária deste empenho, a Europa deve organizar-se e impor regras e regulamentos claros. O controle do Estado ao fluxo de refugiados deve ser implantado através de uma vasta rede administrativa abrangendo toda a União Europeia (para evitar as barbáries locais como as da Hungria ou Eslováquia). Os refugiados devem ser tranquilizados de sua segurança, mas também devem acatar as áreas de convivência atribuídas pelas autoridades europeias, além disso, precisam respeitar as leis e as normas sociais dos Estados europeus: nenhuma tolerância a violência religiosa, sexista ou étnica de qualquer dos lados, nenhum direito de impor sobre os outros o próprio modo de vida ou religião, o respeito da liberdade de cada indivíduo de abandonar seus costumes comunais, etc. Se uma mulher decide cobrir seu rosto, sua decisão deve ser respeitada, mas se ele escolhe não cobri-lo, sua liberdade deve ser garantida. Sim, um conjunto privilegiado de regras do modo de vida europeu. Estas regras devem ser claramente estabelecidas e aplicadas, por medidas repressivas (contra os estrangeiros fundamentalistas, bem como contra os nossos próprios racistas anti-imigrantes), se necessário.

     Em terceiro lugar, um novo tipo de intervenção internacional terá de ser inventada: intervenções militares e econômicas que evitem as armadilhas neocoloniais. E sobre as forças da ONU que garantem a paz na Líbia e no Congo? Uma vez que tais intervenções estão intimamente associadas com o neocolonialismo, serão necessárias extremas salvaguardas. Os casos de Iraque, Síria e Líbia demonstram como o tipo de intervenção errada (no Iraque e Líbia), bem como a não intervenção (na Síria, onde, sob a aparência de não intervenção, os poderes externos da Rússia, Arábia Saudita e os EUA estão totalmente engajados) acabam no mesmo impasse.

     Em quarto lugar, a tarefa mais difícil e importante é uma mudança econômica radical que deve abolir as condições sociais que criam refugiados. A última causa dos refugiados é o próprio capitalismo global de hoje e seus jogos geopolíticos, e se nós não transformarmos isso radicalmente, os imigrantes da Grécia e de outros países europeus em breve se juntarão aos refugiados africanos. Quando eu era jovem, uma tentativa organizada de regulamentar o bem comum [commons] foi chamada de comunismo. Talvez devêssemos reinventar isso. Talvez, no longo prazo, isso seja a única solução.

     Tudo isso é uma utopia? Talvez, mas se não fizermos isso, então, estamos realmente perdidos, e nós merecemos estar.


* Publicado originalmente em inglês no In these times em 9 de setembro de 2015. A tradução é de Danilo Chaves Nakamura para o Blog da Boitempo.