segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Pintura - por Philipp Weber (site homônimo)

Umberto Eco: 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno

Intelectual italiano, romancista e filósofo, autor de "O pêndulo de Foucault" e "O Nome da Rosa" morreu em 19 de fevereiro, aos 84 anos; 'O fascismo eterno ainda esta ao nosso redor, às vezes em trajes civis', diz Eco

     A Revista Samuel reproduz o texto de Umberto Eco Ur-Fascismo, produzido originalmente para uma conferência proferida na Universidade Columbia, em abril de 1995, numa celebração da liberação da Europa:
Umberto Eco morreu na última sexta-feira (19/02), aos 84 anos, em sua casa, em Roma


'O Fascismo Eterno'
     Em 1942, com a idade de dez anos, ganhei o prêmio nos Ludi Juveniles (um concurso com livre participação obrigatória para jovens fascistas italianos — o que vale dizer, para todos os jovens italianos). Tinha trabalhado com virtuosismo retórico sobre o tema: “Devemos morrer pela glória de Mussolini e pelo destino imortal da Itália?” Minha resposta foi afirmativa. Eu era um garoto esperto. 
     Depois, em 1943, descobri o significado da palavra “liberdade”. Contarei esta história no fim do meu discurso. Naquele momento, “liberdade” ainda não significava “liberação”.

     Passei dois dos meus primeiros anos entre SS, fascistas e resistentes, que disparavam uns nos outros, e aprendi a esquivar-me das balas. Não foi mau exercício. 

     Em abril de 1945, a Resistência tomou Milão. Dois dias depois os resistentes chegaram à pequena cidade em que eu vivia. Foi um momento de alegria. A praça principal estava cheia de gente que cantava e desfraldava bandeirolas, invocando Mimo, o líder da resistência na área, em alto brado. Mimo, ex-suboficial dos carabinieri, envolveu-se com os partidários do marechal Badoglio e perdeu uma perna nos primeiros confrontos. Apareceu no balcão da Prefeitura, apoiado em muletas, pálido; tentou acalmar a multidão com uma mão. Eu estava ali esperando seu discurso, já que toda a minha infância tinha sido marcada pelos grandes discursos históricos de Mussolini, cujos passos mais significativos aprendíamos de cor na escola. Silêncio. Mimo falo com voz rouca, quase não se ouvia. Disse: “Cidadãos, amigos. Depois de tantos sacrifícios dolorosos… aqui estamos. Glória aos que caíram pela liberdade…”. E foi tudo. Ele voltou para dentro. A multidão gritava, os membros da resistência levantaram as armas e atiraram para o alto, festivamente. Nós, rapazes, nos precipitamos para recolher os cartuchos, preciosos objetos de coleção, mas eu tinha aprendido então que liberdade de palavra significa também liberdade da retórica. 

     Alguns dias depois vi os primeiros soldados norte-americanos. Eram afro-americanos. O primeiro ianque que encontrei era um negro, Joseph, que me apresentou às maravilhas de Dick Tracy e Ferdinando Buscapé. Seus gibis eram coloridos e tinham um cheiro bom.

     Um dos oficiais (o major ou capitão Muddy) era hóspede na casa da família de dois dos meus companheiros de escola. Sentia-me em casa naquele jardim em que alguns senhores amontoavam-se em torno ao capitão Muddy, falando um francês aproximativo. O capitão Muddy tinha uma boa educação superior e conhecia um pouco de francês. Assim, minha primeira imagem dos libertadores norte-americanos, depois de tantos caras-pálidas de camisa negra, era a de um negro culto em uniforme cáqui que dizia: “Oui, merci beaucoup Madame, moi aussi j'aime le champagne…” Infelizmente, faltava o champanhe, mas ganhei do capitão Muddy o meu primeiro chiclete e comecei mastigando o dia inteiro. De noite colocava o chiclete em um copo d'água para que ficasse fresco para o dia seguinte. 

     Em maio, ouvimos dizer que a guerra tinha acabado. A paz deu-me uma sensação curiosa. Haviam me dito que a guerra permanente era a condição normal de um jovem italiano. Nos meses seguintes descobri que a Resistência não era apenas um fenômeno local, mas Europeu. Aprendi novas e excitantes palavras como “reseau”, “maquis”, “armée secrète”, “Rote Kapelle”, “gueto de Varsóvia”. Vi as primeiras fotografias do Holocausto e assim compreendi seu significado antes mesmo de conhecer a palavra. Percebi que havíamos sido liberados. 

     Hoje na Itália existem algumas pessoas que se perguntam se a Resistência teve algum impacto militar real no curso da guerra. Para a minha geração a questão é irrelevante: compreendo imediatamente o significado moral e psicológico da Resistência. Era motivo de orgulho saber que nós, europeus, não tínhamos esperado passivamente pela liberação. Penso que, também para os jovens norte-americanos que derramaram seu sangue pela nossa liberdade, não era irrelevante saber que atrás das linhas havia europeus que já estavam pagando seu débito. 

     Hoje na Itália tem gente que diz que a Resistência é um mito comunista. É verdade que os comunistas exploraram a Resistência como uma propriedade pessoal, pois realmente tiveram um papel primordial no movimento; mas lembro-me dos resistentes com bandeiras de diversas cores. 

     Grudado ao rádio, passava as noites — as janelas fechadas e a escuridão geral faziam do pequeno espaço em torno ao aparelho o único halo luminoso — escutando as mensagens que a Rádio Londres transmitia para a Resistência. Eram, ao mesmo tempo, obscuras e poéticas (“Ainda brilha o sol”, “As rosas hão de florir”), mas a maior parte eram “mensagens para Franchi”. Alguém soprou no meu ouvido que Franchi era o líder de um dos grupos clandestinos mais poderosos da Itália do Norte, um homem de coragem legendária. Franchi tornou-se o meu herói. Franchi (cujo verdadeiro nome era Edgardo Sogno) era um monarquista tão anticomunista que, depois da guerra, se uniu a um grupo de extrema direita e foi até acusado de ter participado de um golpe de Estado reacionário. Mas que importa? Sogno ainda é o sonho da minha infância. A liberação foi um empreendimento comum de gente das mais diversas cores. 

     Hoje na Itália há quem diga que a guerra de liberação foi um trágico período de divisão, e que precisamos agora de uma reconciliação nacional. A recordação daqueles anos terríveis deveria ser reprimida. Mas a repressão provoca neuroses. Se a reconciliação significa compaixão e respeito por todos aqueles que lutaram sua guerra de boa-fé, perdoar não significa esquecer. Posso até admitir que Eichmann acreditava sinceramente em sua missão, mas não posso dizer: “Ok, volte e faça tudo de novo”. Estamos aqui para recordar o que aconteceu e para declarar solenemente que “eles” não podem repetir o que fizeram. 

     Mas quem são “eles”?

     Se pensamos ainda nos governos totalitários que dominaram a Europa antes da Segunda Guerra Mundial, podemos dizer com tranquilidade que seria muito difícil que eles retornassem sob a mesma forma, em circunstâncias históricas diversas. Se o fascismo de Mussolini baseava-se na ideia de um líder carismático, no corporativismo, na utopia do “destino fatal de Roma”, em uma vontade imperialista de conquistar novas terras, em um nacionalismo exacerbado, no ideal de uma nação inteira arregimentada sob a camisa negra, na recusa da democracia parlamentar, no antissemitismo, então não tenho dificuldade para admitir que a Aliança Nacional, nascida do MSI (Movimento Social e Italiano), é certamente um partido de direita, mas tem muito pouco a ver com o velho fascismo. Pelas mesmas razões, mesmo preocupado com os vários movimentos neonazistas ativos aqui e ali na Europa, inclusive na Rússia, não penso que o nazismo, e sua forma original, esteja ressurgindo como movimento capaz de mobilizar uma nação inteira. 

     Todavia, embora os regimes políticos possam ser derrubados e as ideologias criticadas e destituídas de sua legitimidade, por trás de um regime e de sua ideologia há sempre um modo de pensar e de sentir, uma série de hábitos culturais, uma nebulosa de instintos obscuros e de pulsões insondáveis. Há, então, outro fantasma que ronda a Europa (para não falar de outras partes do mundo)?

     Ionesco disse certa vez que “somente as palavras contam, o resto é falatório”. Os hábitos linguísticos são muitas vezes sintomas importantes de sentimentos não expressos. 

     Portanto, permitam-me perguntar por que não somente a Resistência, mas toda a Segunda Guerra Mundial foram definidas em todo o mundo com uma luta contra o fascismo. Se relerem "Por quem os sinos dobram", de Hemingway, vão descobrir que Robert Jordan identifica seus inimigos com os fascistas, mesmo quando esta pensando nos falangistas espanhóis. 

     Permitam-me passar a palavra a Franklin Delano Roosevelt: “A vitória do povo americano e de seus aliados será uma vitória contra o fascismo e o beco sem saída que ele representa” (23 de setembro de 1944).

     Durante os anos de McCarthy, os norte-americanos que tinham participado da guerra civil espanhola eram chamados de “fascistas prematuros” — entendendo com isso que combater Hitler nos anos 1940 era um dever moral de todo bom norte-americano, mas combater Franco cedo demais, nos anos 1930, era suspeito. Por que uma expressão como “fascist pig” era usada pelos radicais norte-americanos até para indicar um policial que não aprovava os que fumavam? Por que não diziam: “Porco Caugolard”, “Porco Falangista”, “Porco Quisling”, “Porco croata”, “Porco Ante Pavelic”, “Porco nazista”?

     Mein Kampf é o manifesto completo de um programa político. O nazismo tinha uma teoria do racismo e do arianismo, uma noção precisa de entartete Kunst, a “arte degenerada”, uma filosofia da vontade de potência e da Übermensch. O nazismo era decididamente anticristão e neopagão, da mesma maneira que o Diamat (versão oficial do marxismo soviético) de Stalin era claramente materialista e ateu. Se como totalitarismo entende-se um regime que subordina qualquer ato individual ao Estado e sua ideologia, então nazismo e estalinismo eram regimes totalitários. 
Hitler e Mussolini em Munique, em 1940
     O fascismo foi certamente uma ditadura, mas não era completamente totalitário, nem tanto por sua brandura quanto pela debilidade filosófica de sua ideologia. Ao contrário do que se pensa comumente, o fascismo italiano não tinha uma filosofia própria. O artigo sobre o fascismo assinado por Mussolini para a Enciclopédia Treccani foi escrito ou inspirou-se fundamentalmente em Giovanni Gentile, mas refletia uma noção hegeliana tardia do “Estado ético absoluto”, que Mussolini nunca realizou completamente. Mussolini não tinha qualquer filosofia: tinha apenas uma retórica.

     Começou como ateu militante, para depois firmar a concordata com a Igreja e confraternizar com os bispos que benziam os galhardetes fascistas. Em seus primeiros anos anticlericais, segundo uma lenda plausível, pediu certa vez a Deus que o fulminasse ali mesmo para provar sua existência. Deus estava, evidentemente, distraído. Nos anos seguintes, em seus discursos, Mussolini citava sempre o nome de Deus e não desdenhava o epíteto: “homem da Providência”. Pode-se dizer que o fascismo italiano foi a primeira ditadura de direita que dominou um país europeu e que, em seguida, todos os movimentos análogos encontraram uma espécie de arquétipo comum no regime de Mussolini.

     O fascismo italiano foi o primeiro a criar uma liturgia militar, um folclore e até mesmo um modo de vestir-se — conseguindo mais sucesso no exterior que Armani, Benetton ou Versace. Foi somente nos anos 1930 que surgiram movimentos fascistas na Inglaterra, com Mosley, e na Letônia, Estônia, Lituânia, Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária, Grécia, Iugoslávia, Espanha, Portugal, Noruega e até na América do Sul, para não falar da Alemanha. Foi o fascismo italiano que convenceu muitos líderes liberais europeus de que o novo regime estava realizando interessantes reformas sociais, capazes de fornecer uma alternativa moderadamente revolucionária à ameaça comunista. 

     Todavia, a prioridade histórica não me parece ser uma razão suficiente para explicar por que a palavra “fascismo” tornou-se uma sinédoque, uma denominação pars pro toto para movimentos totalitários diversos. Não adianta dizer que o fascismo continha em si todos os elementos dos totalitarismos sucessivos, por assim dizer, em “estado quintessencial”. Ao contrário, o fascismo não possuía nenhuma quintessência e sequer uma só essência. O fascismo era um totalitarismo fuzzy[1]. O fascismo não era uma ideologia monolítica, mas antes uma colagem de diversas ideais políticas e filosóficas, uma colmeia de contradições. É possível conceber um movimento totalitário que consiga juntar monarquia e revolução, exército real e milícia pessoal de Mussolini, os privilégios concedidos à Igreja e uma educação estatal que exaltava a violência e o livre mercado?

     O partido fascista nasceu proclamando sua nova ordem revolucionária, mas era financiado pelos proprietários de terras mais conservadores, que esperavam uma contrarrevolução. O fascismo do começo era republicano e sobreviveu durante vinte anos proclamando sua lealdade à família real, permitindo que um “duce” puxasse as cordinhas de um “rei”, a quem ofereceu até o título de “imperador”. Mas quando, em 1943, o rei despediu Mussolini, o partido reapareceu dois meses depois, com a ajuda dos alemães, sob a bandeira de uma república “social”, reciclando sua velha partitura revolucionária, enriquecida de acentuações quase jacobinas. 

     Existiu apenas uma arquitetura nazista, apenas uma arte nazista. Se o arquiteto nazista era Albert Speer, não havia lugar para Mies van der Rohe. Da mesma maneira, sob Stalin, se Lamarck tinha razão, não havia lugar para Darwin. Ao contrário, existiram certamente arquitetos fascistas, mas ao lado de seus pseudocoliseus surgiram também os novos edifícios inspirados no moderno racionalismo de Gropius. 

     Não houve um Zdanov fascista. Na Itália existiam dois importantes prêmios artísticos: o Prêmio Cremona era controlado por um fascista inculto e fanático como Farinacci, que encorajava uma arte propagandista (recordo-me de quadros intitulados Ascoltando all radio un discorso del Duce ou Stati mentali creati dal Fascismo); e o Prêmio Bergamo, patrocinado por um fascista culto e razoavelmente tolerante como Bottai, que protegia a arte pela arte e as novas experiências da arte de vanguarda que, na Alemanha, haviam sido banidas como corruptas, criptocomunistas, contrárias ao Kitsch nibelúngico, o único aceito. 

     O poeta nacional era D'Annunzio, um dândi que na Alemanha ou na Rússia teria sido colocado diante de um pelotão de fuzilamento. Foi alçado à categoria de vate do regime por seu nacionalismo e seu culto do heroísmo — com o acréscimo de grandes doses de decadentismo francês. 

     Tomemos o futurismo. Deveria ter sido considerado um exemplo de entartete Kunst, assim como o expressionismo, o cubismo, o surrealismo. Mas os primeiros futuristas italianos eram nacionalistas, favoreciam por motivos estéticos a participação da Itália na Primeira Guerra Mundial, celebravam a velocidade, a violência, o risco e, de certa maneira, estes aspectos pareciam próximos ao culto fascista da juventude. Quando o fascismo identificou-se com o império romano e redescobriu as tradições rurais, Marinetti (que proclamava que um automóvel era mais belo que a Vitória de Samotrácia e queria inclusive matar o luar) foi nomeado membro da Accademia d'Italia, que tratava o luar com grande respeito.

     Muitos dos futuros membros da Resistência, e dos futuros intelectuais do futuro Partido Comunista, foram educados no GUF, a associação fascista dos estudantes universitários, que deveria ser o berço da nova cultura fascista. Esses clubes tornaram-se uma espécie de caldeirão intelectual em que circulavam novas ideias sem nenhum controle ideológico real, não tanto porque os homens de partido fossem tolerantes, mas porque poucos entre eles possuíam os instrumentos intelectuais para controlá-los. 

     No curso daqueles vinte anos, a poesia dos herméticos representou uma reação ao estilo pomposo do regime: a estes poetas era permitido elaborar seus protestos literários dentro da torre de marfim. O sentimento dos herméticos era exatamente o contrário do culto fascista do otimismo e do heroísmo. O regime tolerava esta distensão evidente, embora socialmente imperceptível, porque não prestava atenção suficiente ao um jargão tão obscuro. 

     O que não significa que o fascismo italiano fosse tolerante. Gramsci foi mantido na prisão até a morte, Matteotti e os irmãos Rosselli foram assassinados, a liberdade de imprensa suspensa, os sindicatos desmantelados, os dissidentes políticos confinados em ilhas remotas, o poder legislativo tornou-se pura ficção e o executivo (que controlava o judiciário, assim como a mídia) emanava diretamente as novas leis, entre as quais a da defesa da raça (apoio formal italiano ao Holocausto).

     A imagem incoerente que descrevi não era devida à tolerância: era um exemplo de desconjuntamento político e ideológico. Mas era um “desconjuntamento ordenado”, uma confusão estruturada. O fascismo não tinha bases filosóficas, mas do ponto de vista emocional era firmemente articulado a alguns arquétipos. 

     Chegamos agora ao segundo ponto de minha tese. Existiu apenas um nazismo, e não podemos chamar de “nazismo” o falangismo hipercatólico de Franco, pois o nazismo é fundamentalmente pagão, politeísta e anticristão, ou não é nazismo. Ao contrário, pode-se jogar com o fascismo de muitas maneiras, e o nome do jogo não muda. Acontece com a noção de “fascismo” aquilo que, segundo Wittgenstein, acontece com a noção de “jogo”. Um jogo pode ser ou não competitivo, pode envolver uma ou mais pessoas, pode exigir alguma habilidade particular ou nenhuma, pode envolver dinheiro ou não. Os jogos são uma série de atividades diversas que apresentam apenas alguma “semelhança de família”:

1 - 2 - 3 - 4
abc bcd cde def

     Suponhamos que exista uma série de grupos políticos. O grupo 1 é caracterizado pelos aspectos abc, o grupo 2, pelos aspectos bcd e assim por diante. 2 é semelhante a 1 na medida em que têm dois aspectos em comum. 3 é semelhante a 2 e 4 e é semelhante a 1 (têm em comum o aspecto c). O caso mais curioso é dado pelo 4, obviamente semelhante a 3 e a 2, mas sem nenhuma característica em comum com 1. Contudo, em virtude da ininterrupta série de decrescentes similaridades entre 1 e 4, permanece, por uma espécie de transitoriedade ilusória, um ar de família entre 4 e 1.

     O termo “fascismo” adapta-se a tudo porque é possível eliminar de um regime fascista um ou mais aspectos, e ele continuará sempre a ser reconhecido como fascista. Tirem do fascismo o imperialismo e teremos Franco ou Salazar; tirem o colonialismo e teremos o fascismo balcânico. Acrescentem ao fascismo italiano um anticapitalismo radical (que nunca fascinou Mussolini) e teremos Ezra Pound. Acrescentem o culto da mitologia céltica e o misticismo do Graal (completamente estranho ao fascismo oficial) e teremos um dos mais respeitados gurus fascistas, Julios Evola. 

     A despeito dessa confusão, considero possível indicar uma lista de características típicas daquilo que eu gostaria de chamar de “Ur-Fascismo”, ou “fascismo eterno”. Tais características não podem ser reunidas em um sistema; muitas se contradizem entre si e são típicas de outras formas de despotismo ou fanatismo. Mas é suficiente que uma delas se apresente para fazer com que se forme uma nebulosa fascista. 

1.   A primeira característica de um Ur-Fascismo é o culto da tradição. O tradicionalismo é mais velho que o fascismo. Não somente foi típico do pensamento contra reformista católico depois da Revolução Francesa, mas nasceu no final da idade helenística como uma reação ao racionalismo grego clássico.
Na bacia do Mediterrâneo, povos de religiões diversas (todas aceitas com indulgência pelo Panteon romano) começaram a sonhar com uma revelação recebida na aurora da história humana. Essa revelação permaneceu longo tempo escondida sob o véu de línguas então esquecidas. Havia sido confiada aos hieróglifos egípcios, às runas dos celtas, aos textos sacros, ainda desconhecidos, das religiões asiáticas.
Essa nova cultura tinha que ser sincretista. “Sincretismo” não é somente, como indicam os dicionários, a combinação de formas diversas de crenças ou práticas. Uma combinação assim deve tolerar contradições. Todas as mensagens originais contêm um germe de sabedoria e, quando parecem dizer coisas diferentes ou incompatíveis, é apenas porque todas aludem, alegoricamente, a alguma verdade primitiva. 
Como consequência, não pode existir avanço do saber. A verdade já foi anunciada de uma vez por todas, e só podemos continuar a interpretar sua obscura mensagem. É suficiente observar o ideário de qualquer movimento fascista para encontrar os principais pensadores tradicionalistas. A gnose nazista nutria-se de elementos tradicionalistas, sincretistas ocultos. A mais importante fonte teórica da nova direita italiana Julius Evola, misturava o Graal com os Protocolos dos Sábios de Sião, a alquimia com o Sacro Império Romano. O próprio fato de que, para demonstrar sua abertura mental, a direita italiana tenha recentemente ampliado seu ideário juntando De Maistre, Guenon e Gramsci é uma prova evidente de sincretismo.
Se remexerem nas prateleiras que nas livrarias americanas trazem a indicação “New Age”, irão encontrar até mesmo Santo Agostinho e, que eu saiba, ele não era fascista. Mas o próprio fato de juntar Santo Agostinho e Stonehenge, isto é um sintoma de Ur-Fascismo.

2. O tradicionalismo implica a recusa da modernidade. Tanto os fascistas como os nazistas adoravam a tecnologia, enquanto os tradicionalistas em geral recusam a tecnologia como negação dos valores espirituais tradicionais. Contudo, embora o nazismo tivesse orgulho de seus sucessos industriais, seu elogio da modernidade era apenas o aspecto superficial de uma ideologia baseada no “sangue” e na “terra” (Blut und Boden). A recusa do mundo moderno era camuflada como condenação do modo de vida capitalista, mas referia-se principalmente à rejeição do espírito de 1789 (ou 1776, obviamente). O iluminismo, a idade da Razão eram vistos como o início da depravação moderna. Nesse sentido, o Ur-Fascismo pode ser definido como “irracionalismo”. 

3. O irracionalismo depende também do culto da ação pela ação. A ação é bela em si, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma forma de castração. Por isso, a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas. Da declaração atribuída a Goebbels (“Quando ouço falar em cultura, pego logo a pistola”) ao uso frequente de expressões como “Porcos intelectuais”, “Cabeças ocas”, “Esnobes radicais”, “As universidades são um ninho de comunistas”, a suspeita em relação ao mundo intelectual sempre foi um sintoma de Ur-Fascismo. Os intelectuais fascistas oficiais estavam empenhados principalmente em acusar a cultura moderna e a inteligência liberal de abandono dos valores tradicionais. 

4. Nenhuma forma de sincretismo pode aceitar críticas. O espírito crítico opera distinções, e distinguir é um sinal de modernidade. Na cultura moderna, a comunidade científica percebe o desacordo como instrumento de avanço dos conhecimentos. Para o Ur-Fascismo, o desacordo é traição. 

5. O desacordo é, além disso, um sinal de diversidade. O Ur-Fascismo cresce e busca o consenso desfrutando e exacerbando o natural medo da diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou que esta se tornando fascista é contra os intrusos. O Ur-Fascismo é, portanto, racista por definição. 

6. O Ur-Fascismo provém da frustração individual ou social. O que explica por que uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos. Em nosso tempo, em que os velhos “proletários” estão se transformando em pequena burguesia (e o lumpesinato se auto exclui da cena política), o fascismo encontrará nessa nova maioria seu auditório. 

7. Para os que se veem privados de qualquer identidade social, o Ur-Fascismo diz que seu único privilégio é o mais comum de todos: ter nascido em um mesmo país. Esta é a origem do “nacionalismo”. Além disso, os únicos que podem fornecer uma identidade às nações são os inimigos. Assim, na raiz da psicologia Ur-Fascista esta a obsessão do complô, possivelmente internacional. Os seguidores têm que se sentir sitiados. O modo mais fácil de fazer emergir um complô é fazer apelo à xenofobia. Mas o complô tem que vir também do interior: os judeus são, em geral, o melhor objetivo porque oferecem a vantagem de estar, ao mesmo tempo, dentro e fora. Na América, o último exemplo de obsessão pelo complô foi o livro The New World Order, de Pat Robertson. 

8. Os adeptos devem sentir-se humilhados pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo. Quando eu era criança ensinavam-me que os ingleses eram o “povo das cinco refeições”: comiam mais frequentemente que os italianos, pobres mas sóbrios. Os judeus são ricos e ajudam-se uns aos outros graças a uma rede secreta de mútua assistência. Os adeptos devem, contudo, estar convencidos de que podem derrotar o inimigo. Assim, graças a um contínuo deslocamento de registro retórico, os inimigos são, ao mesmo tempo, fortes demais e fracos demais. Os fascismos estão condenados a perder suas guerras, pois são constitutivamente incapazes de avaliar com objetividade a força do inimigo. 

9. Para o Ur-Fascismo não há luta pela vida, mas antes “vida para a luta”. Logo, o pacifismo é conluio com o inimigo; o pacifismo é mau porque a vida é uma guerra permanente. Contudo, isso traz consigo um complexo de Armagedon: a partir do momento em que os inimigos podem e devem ser derrotados, tem que haver uma batalha final e, em seguida, o movimento assumirá o controle do mundo. Uma solução final semelhante implica uma sucessiva era de paz, uma idade de Ouro que contestaria o princípio da guerra permanente. Nenhum líder fascista conseguiu resolver essa contradição. 

10. O elitismo é um aspecto típico de qualquer ideologia reacionária, enquanto fundamentalmente aristocrática. No curso da história, todos os elitismos aristocráticos e militaristas implicaram o desprezo pelos fracos. O Ur-Fascismo não pode deixar de pregar um “elitismo popular”. Todos os cidadãos pertencem ao melhor povo do mundo, os membros do partido são os melhores cidadãos, todo cidadão pode (ou deve) tornar-se membro do partido. Mas patrícios não podem existir sem plebeus. O líder, que sabem muito em que seu poder não foi obtido por delegação, mas conquistado pela força, sabe também que sua força baseia-se na debilidade das massas, tão fracas que têm necessidade e merecem um “dominador”. No momento em que o grupo é organizado hierarquicamente (segundo um modelo militar), qualquer líder subordinado despreza seus subalternos e cada um deles despreza, por sua vez, os seus subordinados. Tudo isso reforça o sentido de elitismo de massa. 

11. Nesta perspectiva, cada um é educado para tornar-se um herói. Em qualquer mitologia, o “herói” é um ser excepcional, mas na ideologia Ur-Fascista o heroísmo é a norma. Este culto do heroísmo é estreitamente ligado ao culto da morte: não é por acaso que o mote dos falangistas era: “Viva la muerte!” À gente normal diz-se que a morte é desagradável, mas é preciso enfrentá-la com dignidade; aos crentes, diz-se que é um modo doloroso de atingir a felicidade sobrenatural. O herói Ur-Fascista, ao contrário, aspira à morte, anunciada como a melhor recompensa para uma vida heroica. O herói Ur-Fascista espera impacientemente pela morte. E sua impaciência, é preciso ressaltar, consegue na maior parte das vezes levar os outros à morte. 

12. Como tanto a guerra permanente como o heroísmo são jogos difíceis de jogar, o Ur-Fascista transfere sua vontade de poder para questões sexuais. Esta é a origem do machismo (que implica desdém pelas mulheres e uma condenação intolerante de hábitos sexuais não-conformistas, da castidade à homossexualidade). Como o sexo também é um jogo difícil de jogar, o herói Ur-Fascista joga com as armas, que são seu Ersatz fálico: seus jogos de guerra são devidos a uma inveja-pênis permanente. 

13. O Ur-Fascismo baseia-se em um “populismo qualitativo”. Em uma democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto de cidadãos só é dotado de impacto político do ponto de vista quantitativo (as decisões da maioria são acatadas). Para o Ur-Fascismo os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e “o povo” é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime “a vontade comum”. Como nenhuma quantidade de seres humanos pode ter uma vontade comum, o líder apresenta-se como seu intérprete. Tendo perdido seu poder de delegar, os cidadãos não agem, são chamados apenas pars pro toto, para assumir o papel de povo. O povo é, assim, apenas uma ficção teatral. Para ter um bom exemplo de populismo qualitativo, não precisamos mais da Piazza Venezia ou do estádio de Nuremberg.
Em nosso futuro desenha-se um populismo qualitativo TV ou internet, no qual a resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a “voz do povo”. Em virtude de seu populismo qualitativo, o Ur-Fascismo deve opor-se aos “pútridos” governos parlamentares. Uma das primeiras frases pronunciadas por Mussolini no Parlamento italiano foi: “Eu poderia ter transformado esta assembleia surda e cinza em um acampamento para meus regimentos”. De fato, ele logo encontrou alojamento melhor para seus regimentos e pouco depois liquidou o Parlamento. Cada vez que um político põe em dúvida a legitimidade do Parlamento por não representar mais a “voz do povo”, pode-se sentir o cheiro de Ur-Fascismo. 

14. O Ur-Fascismo fala a “novilíngua”. A “novilíngua” foi inventada por Orwell em 1984, como língua oficial do Ingsoc, o Socialismo Inglês, mas certos elementos de Ur-Fascismo são comuns a diversas formas de ditadura. Todos os textos escolares nazistas ou fascistas baseavam-se em um léxico pobre e em uma sintaxe elementar, com o fim de limitar os instrumentos para um raciocínio complexo e crítico. Devemos, porém, estar prontos a identificar outras formas de novilíngua, mesmo quando tomam a forma inocente de um talk-show popular. 

     Depois de indicar os arquétipos possíveis do Ur-Fascismo, permitam-me concluir. Na manhã de 27 de julho de 1943 foi-me dito que, segundo informações lidas na rádio, o fascismo havia caído e Mussolini tinha sido feito prisioneiro. Minha mãe mandou-me comprar o jornal. Fui ao jornaleiro mais próximo e vi que os jornais estavam lá, mas os nomes eram diferentes. Além disso, depois de uma breve olhada nos títulos, percebi que cada jornal dizia coisas diferentes. Comprei um, ao acaso, e li uma mensagem impressa na primeira página, assinada por cinco ou seis partidos políticos como Democracia Cristã, Partido Comunista, Partido Socialista, Partido de Ação, Partido Liberal. Até aquele momento pensei que só existisse um partido em todas as cidades e que na Itália só existisse, portanto, o Partido Nacional Fascista.

     Eu estava descobrindo que, no meu país, podiam existir diversos partidos ao mesmo tempo. E não só isso: como eu era um garoto esperto, logo me dei conta de que era impossível que tantos partidos tivessem aparecido de um dia para o outro. Entendi assim que eles já existiam como organizações clandestinas. 

     A mensagem celebrava o fim da ditadura e o retorno à liberdade: liberdade de palavra, de imprensa, de associação política. Estas palavras, “liberdade”, “ditadura” — Deus meu —, era a primeira vez em toda a minha vida que eu as lia. Em virtude dessas novas palavras renasci como homem livre ocidental. 

     Devemos ficar atentos para que o sentido dessas palavras não seja esquecido de novo. O Ur-Fascismo ainda esta ao nosso redor, às vezes em trajes civis. Seria muito confortável para nós se alguém surgisse na boca de cena do mundo para dizer: “Quero reabrir Auschwitz, quero que os camisas-negras desfilem outra vez pelas praças italianas!”. Ai de mim, a vida não é fácil assim! O Ur-Fascismo pode voltar sob as vestes mais inocentes. Nosso dever é desmascará-lo e apontar o indicador para cada uma de suas novas formas — a cada dia, em cada lugar do mundo. Cito ainda as palavras de Roosevelt: “Ouso dizer que, se a democracia americana parasse de progredir como uma força viva, buscando dia e noite melhorar, por meios pacíficos, as condições de nossos cidadãos, a força do fascismo cresceria em nosso país” (4 de novembro de 1938). Liberdade, liberação são uma tarefa que não acaba nunca. Que seja este o nosso mote: “Não esqueçam”. 

     E permitam-me acabar com uma poesia de Franco Fortini:
Sulla spalletta del ponte                             Na amurada da ponte
Le teste degli impiccati                               A cabeça dos enforcados
Nell'acqua della fonte                                 Na água da fonte
La bava degli impiccati                               A baba dos enforcados
Sul lastrico del mercato                              No calçamento do mercado
Le unghie dei fucilati                                  As unhas dos fuzilados
Sull'erba secca del prato                             Sobre a grama seca do prado
I denti dei fucilati                                      Os dentes dos fuzilados
Mordere l'aria mordere i sassi                     Morder o ar morder as pedras
La nostra carne non à più d'uomini               Nossa carne não é mais de homens
Mordere l'aria mordere i sassi                     Morder o ar morder as pedras
Il nostro cuore non à più d'uomini.               Nosso coração não é mais de homens
Ma noi s'è letto negli occhi dei morti            Mas lemos nos olhos dos mortos
E sulla terra faremo libertà                         E sobre a terra, a liberdade havemos de fazer
Ma l'hanno stretta i pugni dei morti              Mas estreitaram-na nos punhos os mortos
La giustizia che si farà.                              A justiça que se há de fazer.


Umberto Eco, O Fascismo Eterno, in: Cinco Escritos Morais,
Tradução: Eliana Aguiar, Editora Record, Rio de Janeiro, 2002.

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[1] Usado atualmente em lógica para designar conjuntos “esfumados”, de contornos imprecisos, o termo fuzzy poderia ser traduzido como “esfumado”, “confuso”, “impreciso”, “desfocado”.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Pintura abstrata - por Jim Le Page (site homônimo)

Impostos angolanos, serviços públicos suecos - por Rogério Godinho (CartaCapital)

A carga tributária no Brasil é de 34,4%. O que isso quer dizer? Nada. O problema tem muito mais a ver com a forma com que a cobrança é feita
Carga tributária na Suécia é maior do que a brasileira, mas país tem
sete vezes mais dinheiro por habitante para gastar no serviço público

     A carga tributária do Brasil é de 34,4%. O que isso quer dizer? Nada. A do Chade é 4,2%, de Angola 5,7% e Bangladesh 8,5%. A do Reino Unido é 39%, da Áustria 43,4% e da Suécia 47,9%.

     Alguém pode vir com alguns poucos exemplos de países que pagam menos do que nós e estão melhor, mas isso também não quer dizer nada.

     O problema real tem muito mais a ver com a forma como é cobrado. Como já escrevi em vários textos, o Brasil cobra muito no consumo e pouco na renda.

     Isso na média. Porque mesmo na renda se cobra pouco de quem está em cima e muito de quem está embaixo.

     O resultado: A galera de baixo é a que mais sente; A galera do meio é a que mais paga, A galera de cima não sente e (quase) não paga.

     Como assim? 

     Se você ganha até 1.900 reais, como 66% dos brasileiros, não paga imposto de renda. Mas todo o seu dinheiro vai para a subsistência, que é taxada. Absurdamente taxada. E ainda usa um serviço público ruim.

     Se você ganha entre 2.000 reais e 6.800 reais, como 25% dos brasileiros, pode pagar até 27,5%. E também gasta muito para sobreviver, então paga alto. Sobra pouco. E não quer usar o serviço público ruim, então sobra menos ainda.

     Bom mesmo é quem ganha muito. Mas muito, aquele 1% de cima, sabe? Esse reclama porque a empresa dele é taxada, mas embute isso no preço dos produtos – aquele imposto que mata o resto dos brasileiros – enquanto tem sua renda isenta. Chamam de lucros e dividendos.

     Sabe quantos países isentam lucros e dividendos? Dois. Brasil e Estônia.

     Quando muito, essa galera de cima paga aquela média de 3% sobre o patrimônio, enquanto a média mundial está entre 8% e 12%. 

     E aí ficamos discutindo se a CPMF é boa ou ruim. E por quê? Porque a galera do meio compra facinho o discurso de que a carga tributária é alta.

     Só que a Suécia tem sete vezes mais dinheiro por habitante para gastar no serviço público. Mas a galera de cima não usa serviço público. Ela quer mesmo é pagar ainda menos imposto.

     Então, vende esse discurso para a galera do meio, que passa a querer imposto baixo angolano e serviço público sueco. 

     É isso. Reflita.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Bicho de pelúcia - por Tatiana Barakova (Instagram)

Procura-se uma boia para FHC - por Leandro Fortes (Facebook)


    A tese de que a relação com a amante é uma questão de foro íntimo só faria sentido se:

1) O presidente da República e, por extensão, o Brasil, não tivessem sido feitos reféns da Rede Globo, por oito anos, sabe-se lá a que preço, para que essa amante ficasse escondida na Europa;

2) O presidente da República não tivesse se utilizado de uma empresa concessionária - a Brasif - para enviar dinheiro para o exterior, por meio de uma offshore aberta em paraíso fiscal, para o filho que ele imaginava ser dele - e que, agora se sabe, pode ser mesmo;

3) O presidente da República não tivesse se mancomunado com um editor da revista Veja para fraudar uma notícia com o objetivo de mentir ao País sobre a gravidez de Mirian Dutra;

4) O presidente da República não tivesse nomeado a irmã da amante, Margrit Dutra Schmidt, para cargo público federal, no Ministério da Justiça e, mais tarde, ter providenciado junto a um aliado, o senador José Serra (PSDB-SP), um emprego-fantasma no Senado, onde ela está há 15 anos, recebendo salário, todo mês, sem aparecer para dar expediente.

    A nota da Brasif, uma explicação seca e patética montada por advogados para dizer que Mirian recebia dinheiro da empresa, mas que FHC nada tinha a ver com o caso, é uma dessas coisas que só podem ser vinculadas seriamente no Brasil, dada a indigência moral e profissional da nossa imprensa pátria.

    Mirian recebia 4 mil dólares por mês para pesquisar preços - o que, aliás, ela disse que nunca fez.

    Para acreditar nessa versão mambembe é preciso ser cínico em nível patológico ou uma besta quadrada completa, categorias em que se enquadram 99% dos batedores de panela e manifestantes da CBF dos domingos de histeria e ódio da Avenida Paulista - Margrit Dutra Schmidt entre eles.

    Em um muxoxo particularmente hilariante, FHC acusou o golpe: acha ser "uso político" a Polícia Federal investigar essas transações de evasão fiscal feitas pela Brasif nas Ilhas Cayman, o paraíso dourado dos tucanos.

    Então, está combinado.

    Quando a investigação é sobre o barco de lata de dona Marisa Letícia ou sobre o número de caixas de cerveja que Lula levou para um sítio em Atibaia, é combate à corrupção.

    Mas investigar remessas de dinheiro, via paraíso fiscal, feitas por uma concessionária do governo, a mando de um presidente da República, para manter uma amante de bico fechado com o apoio da TV Globo e da Veja, é uso político.

    O problema central é que, antigamente, bastava silenciar e manipular o noticiário.

    Hoje, com as redes sociais, como bem sabe José Serra e sua bolinha de papel atômica, é preciso muito mais do que jornalistas servis e desonestos para esconder um escândalo desse tamanho.

Arte digital - por Marc Simonetti (site homônimo)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Projeto Off the Grid - por Beau Bernier Frank (Pintura surrealista - site homônimo)

Picadinhas

A crise tá tão feia que já tem mulher desistindo de casar por dinheiro e casando por amor, mesmo.
*
- Vai passar o carnaval sozinha?
- Olha, deus esta comigo sempre. (lahgos)
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- Jesus, que calor é esse?
- É só uma amostra grátis do lugar pra onde vc vai.
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Eu sou eclético – gosto de sofrer por várias coisas.
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Faz tempo que não vou a SP mas, sabendo que os tucanos já gastaram 8,1 bilhões para despoluir o Tietê, o povo de lá deve estar nadando feliz no rio. (André Dahmer)
*
Resumo do domingo: era pra ser um cochilo da tarde – foi quase um estado de coma.
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- Vim aqui no colégio porque minha filha anda sofrendo bullyng.
- Quem é sua filha?
- Aquela gordinha com cara de capivara ali no fundo.
(marmininu)
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PQP! O presidiário de cela já está há 30 minutos no telefone e não se toca que há outros querendo saber notícias do mundo dos vivos! CARALEO!
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MINISTRO PARTENON
José Eduardo Cardozo esteve na Marmoraria Brazil, onde comprou a quinta coluna deste ano.
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Pra namorar comigo tem que saber que vou comer minha parte da comida e ainda pedir um pouquinho da sua também. (Pençadoris)
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Dica do dia: quando estiver carente não vá ao supermercado, não acesse o Tinder e não faça uma tatuagem.
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Panelaço durante o pronunciamento sobre o zyka vírus comprova que a microcefalia atinge também adultos. (Dilma Bolada)
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- Obrigada por estar ao meu lado em tantos momentos ruins, mas agora preciso enfrentar sozinha o que esta por vir…
- Você se refere ao carnaval???
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Quando vejo que perdi muito tempo fazendo algo inútil lembro das pessoas que leram a saga Crepúsculo e sorrio.
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Sejamos homens e não adulteremos a realidade. Deixemos essa mágica para as emissoras que têm concessões públicas e podem mentir à vontade.
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Quanto tempo eu tenho que malhar pra poder começar a chamar carne de proteína?
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A segunda-feira dura mais do que muitos relacionamentos por aí.
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Só se fala em crise, alta do dólar, perda de grau, mas se preocupar com a nova temporada do BBB16 ninguém esta nem aí, né?!
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Deve ser foda estudar economia por 4 anos e no fim descobrir que dinheiro na mão é vendaval.
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Toda vez que vem encontro com Fátima Bernardes, preferia estar morta. (ajudarmicangaafazer)
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Além do vírus Zika, torna-se necessário evitar a propagação do ministro da Saúde.
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Gente, vcs já perceberam que a maioria da galerinha de humanas é meio que sem orientação sexual, eles beijam tudo, até as árvores. (matheusmática)
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Preciso de alguém que me olhe nos olhos e me diga: vamos lanchar. (Vara)
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João Dória teve a livre iniciativa de viver às custas dos governos, estadual e federal. Uau!
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Hoje é dia do amigo. Parabéns, netflix.
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Como q vcs chamam isso de civilização evoluída se nós temos que ficar acordado cedo? Os índios tavam melhor… (Ta tranquilo)
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E como diz o Miro Borges: voos de Lu Alckmin não dão capa na FSP, a primeira-dama que leva pitbull pra passear de helicóptero. Auê do au-au!
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Ou soma, ou some.
Bem, como não sei fazer cálculo, pode ficar. (ajudarmicangaafazer)
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A questão é que os jornais não são feitos para divulgar, mas para encobrir as notícias. (Umberto Eco em Número Zero)
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O despertador tocou e eu sofri calada. (luscas)
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Oito e dezessete da noite. E o ministro da Saúde continua no cargo.
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Gata, já faz MESES que eu entro no teu perfil e vc ainda tá namorando. Vc tá tentando entrar pro Guiness, por acaso? (Tom Chambers)
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IDIOTA SOB MEDIDA
Um desembargador cujo sonho de consumo é comprar ternos em Miami pode cuidar da educação das crianças de um certo Estado?
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- Pq vc não namora???
- Amiga, no dia em que inventarem um tipo de namoro de uma pessoa só, eu namoro. (maria capitolina)
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Campanha de utilidade pública:
NÃO DEIXE QUE A ERA FHC SE REPITA
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Imagina eu & vc
Na favela
Ouvindo baile de favela
Vc pisa na minha chinela
Quebra, eu te bato
Vc coloca um prego
Nóis se ama dnv
(Jack O ET)
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Os interesses da mídia e do Cunha são como aqueles suplementos que não podem ser lidos separadamente.
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Já desisti de tudo umas 27 vezes hoje… por enquanto, mais um dia normal. (Aleny Castilho)
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Numa sociedade como a nossa, a acusação de romantismo pesa mais que a de fascista. Porque o romântico é aquele que não quer que a coisa vá para o diabo. E o fascista é aquele que acha que não tem outro jeito. (Hamilton Almeida Filho, HAF)
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Gente, o mundo fora do quarto é horrível. Nem tentem. (careca do brazzers)
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Pô, tá meio caro… é, não vai ter jeito, eu vou ter que derrubar o capitalismo hoje mesmo. (jadinha balislava)
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Tô tão bad que se passar embaixo de uma escada, ela é que fica com azar.
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Os tucanos gostam de parecer democratas nos EUA mas apoiam todos os Donalds Trumps daqui.
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Tá muito calor. Se não fosse os gelos que você me dá, já teria mollido. (Cebolão)
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Depois do Carnaval, a programação normal: Cunha volta unha e carne com os Grandes Irmãos da mídia.
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Se você passou dos 20, vamos jogar um jogo bem massa. Ele se chama “ser adulto” e a regra é uma só: segue a sua vida e não causa na alheia. (Juliane com e de exu)
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No Maranhão não se aplicava o Método Paulo Freire. Aplicava-se o Método Roberto Marinho, o telecurso que o povo chamava de Rosengana.
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- Ah, mas só com 300 reais dá pra curtir o carnaval.
- Amiga, 10 reais pra cima já saiu do meu orçamento.
(lahgos)
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Alckmin pede que o novo secretário da Educação bata na mesma tecla. Ou seja, pau nos estudantes e professores.
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Tem curso do SENAI que ensina a acordar cedo??? (ajudarmicangaafazer)
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William Waack bem que tentou comercializar sua máscara mortuária no Carnaval, mas os lojistas refugaram: "Ela é puro Halloween".
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Sim, eu já deveria estar repousando, mas meu sistema mental não para de cantarolar: “Ey Ey Ey mael um democrata cristão”. (Padre Fábio de Melo)
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Planos pro carnaval 2016. Bloco do fazer vários nadas. (ajudarmicangaafazer)
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Ah, se o Ministério Público contasse como o Automóvel Clube perdeu a luxuosa sede do Anhangabaú para o IFHC!
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Não to apaixonada por vc. Eu pergunto toda hora onde vc tá, o que tá fazendo, vejo quem curtiu e comentou suas fotos, por questão de segurança. (Pétrisson)
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Fernando Capez, tucano que comanda a AL-SP, diz que não recebeu propina polpuda em cima da merenda escolar. Outros acham que é capaz.
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Todo mundo alegrando, comunicativo, opinando sobre os problemas do mundo… Quero ver essa disposição toda quando tocar o despertador. (Padre Fábio de Melo)
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Eu amava tanto ele, mas daí ele curtiu um comentário de uma menina que deu parabéns para ele no aniversário. Na moral, pra mim já chega. (e1pou)
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"Metade do secretariado do Alckmin não é capaz de nada. A outra metade é Capez de tudo". (Gilson Lima)
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- Sou mt foda, entrei na faculdade.
- kkkk, amiga, pelo amor de Deus, entrar até os dog que fica no corredor entra: EU QUERO VER É FORMAR.
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Serra, que é um devoto convicto de George, protesta contra o fim dos paraísos fiscais, uma das ideias para diminuir a desigualdade no mundo.
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Eu não vejo Crepúsculo, gente. Só vejo vampiro raiz. Drácula ficaria envergonhado de ver o que fizeram depois dele, coitado. (Padre Fábio de Melo)
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Gente, pode ter ctz que a vida amorosa não ia tá tão ruim se nóis tivesse lido as 15 dicas pra conquistar um mozão que tava na Capricho. (otariano)
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Kim Kataguiri. A cara escrita e escarrada da Folha.
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No meu currículo vou botar embaixo: segue anexo lista com links de alguns gifs que dizem um pouco mais sobre mim. (almo)
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A política de cotas nas Universidades recebeu inestimável força. Alexandre Garcia, porca-voz da ditadura, é contra.
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Ser pobre é foda, né? A gente esconde os danone no meio das alface e ainda tem fdp que acha. (maria capitolina)
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Alckmin levou uma dura de dona Lu, que ficou completamente sem helicóptero por uns dias. Todos estavam por conta da repressão ao MPL.
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Mas todo mundo sabe que o papel de trouxa se recicla justamente na madrugada. (Kemilly Constante)
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Faustão. Mas pode chamar de El Chato.
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Queria te chamar pra sair, mas eu não to conseguindo nem convencer eu mesmo a sair, então desculpa, vai ter que ficar pra próxima. (luan vinicius novato)
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Eu devia evitar os problemas. Mas há uns problemas tão cheirosos, com um rosto tão bonito... (ste safadeza)
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Eu vou dormir com deus. Amanhã, se deus quiser, durmo com vc. (tacerda)
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- Gosto muito de você como pessoa.
- Ah, que bom, pensei que gostasse muito de mim como playstation 3.
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Eu disfarço a falta de dinheiro dizendo que não gosto de carnaval. (lahgos)
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Já comprei minha fantasia pro carnaval. O nome é pijama, vou aproveitar bastante desfilando pelo quarto.
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Aquela vontade de tomar um sorvete mas minha geladeira só tem cebola e água. (ajudarmicangaafazer)
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Eu acordo tarde, penso “droga, to perdendo o dia”. Daí eu lembro que já perdi a vida toda e fico de boa. (joao)
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Quer dizer que o grande católico Aécio rezava um terço em Furnas? Hum, aguarde para ver os detalhes no Jornal Nacional.
Opa, peraí q agora vem o carnaval e não dá pra passar esse tipo de notícia.
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Bora sair, sim. Vou ver aqui e qq desculpa que eu conseguir inventar pra não ir eu te aviso. (gabreu f)
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O plano era dormir até tarde, mas meu corpo não sabe aproveitar as oportunidades da vida. (cleytu)
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O duro dessas recordações do facebook é que vc vê a mesma camisa que usava em 2012 e ainda a considera “de sair” hoje em dia. (douglas)
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Maturidade é quando você para de sofrer por amor e começa a sofrer por dinheiro. (Luiza SM)
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Queria desistir de todas as coisas que eu já conquistei até agora, mas acabei de lembrar que nunca conquistei nada. VAI SER MUITO FÁCIL FAZER ISSO!!! (maria capitolina)
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Sou o tipo de pessoa que marca um compromisso e depois fico torcendo pra pessoa desanimar tbm, só pra eu não precisar sair de casa. (johnny)
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Não q eu fique stalkeando, mas seu namorado ainda não curtiu a foto que vc postou já faz 2 minutos.
Será que vc tá com a pessoa certa? Fica a dúvida aí, né? (felipw)
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Não me mande ir a merda pq eu já tô nela. (tacerda)
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Minha dica pro carnaval é: tenha dinheiro, o resto se resolve sozinho, mesmo. (luan vinicius novato)
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Todo mundo sabe que é na madrugada que a geladeira fica mais gostosa. (ajudarmicangaafazer)
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Ai, ai. Eu era uma pessoa muito ridícula nessa época (dois meses trás). (nadinha balislava)
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Nóis nem lembra mais q a pessoa existe e ela continua odiando a gente com todas as forças. Mas é como dizia William Shakespeare: só lamento. (vara)
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Salário que dura o mês inteiro eu nunca vi, mas dizem que existe. (Macaco de Casaco)
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A dica mais importante na hora de se lidar com problemas é: NÃO SE APAIXONE PELO PROBLEMA. (ste safadezima)
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Quero beijar sua boca até arrancar os lábios fora.
To brincando kkk, mas se vc não tiver brincando eu não to não.
Mas se vc tiver brincando eu tô.
(Pétrisson)
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Lembra quando a gente assistia show do milhão e pensava “pô, esses universitários não sabem de nada”. E de repente, vc é universitário e tbm não sabe. (ryot)
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Mas eu escolhi a TIM por isso mesmo, prefiro que não me liguem. (Guy Franco)
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É fácil me julgar. Difícil é desencardir minhas meias. (pati)
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Eu sei pq ninguém fica comigo. É pq eu sou gente boa pra carai, e a pessoa não quer sofrer depois que me perder.
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Por favor, devolve aí aquelas coisas bonitas q te falei, preciso falar pra outro agora. (Kris)
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Queria usar algumas coisas do sex shop com meu namorado. Alguém poderia me indicar um namorado??? (Luhan)
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Sou do signo dormir com ascendente em comer. (ajudarmicangaafazer)
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Lu Alckmin recebe amanhã em Brasília a Medalha do Mérito Aeronáutico.
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Se quer me beijar entra na fila… Pronto, já é a sua vez. (luscas)
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Nóis é retardado na internet, mas na vida real nós é triste pra carai.
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Não gosto do filme Titanic, pois toda vez que ele afunda eu me lembro da minha vida. (Felipe Maia)
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Quantas caixas de lápis Faber Castell eu vou ter que gastar pra colorir essa amizade? (Sacha)
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Folha está levando a ombudsman à beira de um ataque de nervos. E a pobre moça tem imunidade, mas não conta com insalubridade.
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Eu não aguento mais ficar beijando sua boca só com a força da mente. (maria capitolina)
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"Mario Sérgio Conti hoje elogia Geisel: "mais republicano do q democratas". De seu gabinete partiu ordem para atentado q eliminou minha mãe" (Hildegard Angel)
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Se vc me conheceu entre 2009-2013, me desculpa. (Ju)
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Não fica triste com a nota do enem. Faculdade é só ilusão. É xerox todo dia. Greve todo ano. Aquelas poesia desgramenta no banheiro de humanas. (Alexei Marconikovski)
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Os aspirantes tupiniquins a Goebbels têm tudo do guru, menos o talento.
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“Namore alguém que”… Olha, eu não posso ficar escolhendo, não, por mim, se me namorar de volta já tá bom, não vou ser exigente. (lahgos)
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A pessoa só me engana a 1° vez. Na segunda já vou meio que no automático de ser trouxa mesmo. (Adelino)
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Saiu minha nota do enem. Tirei 100. 100 futuro.
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Vou ali, levar meu pau de selfie para fazer umas imagens da minha vizinha. Volto.
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By Zombozo Kropotkin, Ajudar o povo de humanas a fazer miçanga, Palmério Dória e adicionais.