domingo, 10 de janeiro de 2016

Decálogo da decadência norte-americana - por Fábio de Oliveira Ribeiro (Jornal GGN)

Ato 1

Tea Party, movimento de jovens brancos abastados que se dizem minoria prejudicada pelo fato do Estado garantir direitos a negros, hispânicos e gays. Nos EUA o Estado de bem estar social vem sendo destruído sistematicamente desde Ronald Reagan e a pobreza extrema já atinge dezenas de milhões de norte-americanos. Portanto, é impossível reduzir direitos de quem não tem direitos.

Ato 2

A miopia extrema do Movimento Gay. Os gays norte-americanos não demonstram nenhuma disposição de lutar contra o empobrecimento da população nos EUA. É parecido com o Movimento Passe Livre, que critica a Prefeitura por aumentar as passagens e não reclama do Estado que deixa quase todo mundo sem água.

Ato 3
Homens fortemente armados invadem uma reserva federal no Oregon e o caso não é tratado como terrorismo pelo governo. A incapacidade de impor a Lei dentro do seu território a todos os cidadãos é uma característica dos Estados falidos.
Ato 4
As Forças Armadas dos EUA são colossais, controlam milhares de bases dentro e fora dos EUA e consomem quase todo o orçamento federal. Mas isto não é encarado como um problema. De fato, os dois partidos que comandam o país compartilham os mesmos ideais imperiais e seus líderes estão sempre citando os “pais fundadores” dos EUA para justificar suas ações. Curiosamente, os referidos “pais fundadores” da nação norte-americana temiam mais a existência de Forças Armadas federais permanentes do que a inexistência delas.
Ato 5
Nos EUA o empobrecimento da classe média é um fenômeno que veio acompanhado da explosão da produção e do consumo de armas pelos cidadãos. Em nenhum outro país do mundo ocorrerem tantos massacres como nos EUA, mas os norte-americanos culpam os atiradores e não a facilidade de acesso às armas de fogo.
Ato 6
Obama chorou ao anunciar medidas para controlar a venda de armas, justamente ele que causou milhares de mortes no Oriente Médio (destino privilegiado dos armamentos vendidos com nota pelas empresas norte-americanas e contrabandeados sem nota pela CIA). Franklin Delano Roosevelt não chorou ao anunciar no Congresso dos EUA o ataque japones à Pear Harbour e clamar pela declaração de guerra àquele país. A penetração do “campo político” pelo “campo artístico” é evidente nos EUA, mas raramente os analistas políticos refletem sobre a evidente decadência que isto repesenta.
Ato 7
Os dois principais candidatos presidenciais dos EUA são caricatos. Donald Trump se apoia nos preconceitos racistas e cresce nas pesquisas cada vez que aumenta a altura do muro que diz pretender construir na fronteira do México. O enriquecimento da Califórnia com a mão de obra dos lavradores mexicanos é um fato desprezado ou, pior, ignorado. Hillary Clinton se apresenta como feminista engajada e avó que transborda ternura. Os e-mails dela sobre a Líbia que vazaram do Departamento de Estado revelam que Hillary é uma imperialista fria, astuta, calculista, extremamente cruel e psicótica.
Ato 8
Há anos os EUA diz combater terroristas na Síria, mas durante o mesmo período o Estado Islâmico apenas cresceu e se fortaleceu. Quando a Rússia começou a atacar e destruir com precisão cirúrgica as bases, trens e caminhões petrolíferos dos terroristas, os norte-americanos passaram a defender o terrorismo moderado. Não sem dar total apoio à Turquia, país destino do petróleo sírio que financia os degoladores do Estado Islâmico.
Ato 9
A direita norte-americana chama Obama de socialista porque ele tentou universalizar o atendimento médico gratuito para os norte-americanos que não podem pagar seguros privados de saúde. Em todos os países capitalistas a assistência médica estatal é uma realidade. Sua existência é considerada indispensável pela direita européia, asiática e latino-americana, pois preserva a saúde do trabalhador e garante a estabilidade, o vigor e a rentabilidade do sistema econômico. O uso inadequado e distorcido de conceitos políticos nunca foi considerado uma demonstração de saúde de qualquer regime político.
Ato 10
Os norte-americanos lutaram contra o nazismo durante a II Guerra Mundial e patrocinaram a desnazificação da Alemanha no pós-guerra. Atualmente eles toleram o funcionamento de grupos nazistas dentro dos EUA. Os neo-nazistas norte-americanos tem websites, clubes, fazem passeatas com suásticas, compram e vendem reliquias do III Reich com uma naturalidade que causaria espanto nos soldados norte-americanos que morreram durante o Dia D.

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