sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Discurso pronunciado no Banquete Nobel, em 10 de Dezembro de 1998 - por José Saramago

Cumpriram-se hoje exactamente cinquenta anos sobre a assinatura da Declaração Universal de Direitos Humanos. Não têm faltado, felizmente, comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, com que rapidez a atenção se fatiga quando as circunstâncias lhe impõem que se aplique ao exame de questões sérias, não é arriscado prever que o interesse público por esta comece a diminuir a partir de amanhã. Claro que nada tenho contra actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que pronuncie aqui umas quantas palavras mais.

Como declaração de princípios que é, a Declaração Universal de Direitos Humanos não cria obrigações legais aos Estados, salvo se as respectivas Constituições estabelecem que os direitos fundamentais e as liberdades nelas reconhecidos serão interpretados de acordo com a Declaração. Todos sabemos, porém, que esse reconhecimento formal pode acabar por ser desvirtuado ou mesmo denegado na acção política, na gestão económica e na realidade social. A Declaração Universal é geralmente considerada pelos poderes económicos e pelos poderes políticos, mesmo quando presumem de democráticos, como um documento cuja importância não vai muito além do grau de boa consciência que lhes proporcione.

Nestes cinquenta anos não parece que os Governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que, moralmente, quando não por força da lei, estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se no mundo, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade que é capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte neste tempo do que ao nosso próprio semelhante.

Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os Governos, seja porque não sabem, seja porque não podem, seja porque não querem. Ou porque não lho permitem os que efectivamente governam, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a uma casca sem conteúdo o que ainda restava de ideal de democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Foi-nos proposta uma Declaração Universal de Direitos Humanos, e com isso julgámos ter tudo, sem repararmos que nenhuns direitos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem, o primeiro dos quais será exigir que esses direitos sejam não só reconhecidos, mas também respeitados e satisfeitos. Não é de esperar que os Governos façam nos próximos cinquenta anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra e a iniciativa. Com a mesma veemência e a mesma força com que reivindicarmos os nossos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa começar a tornar-se um pouco melhor.

Não estão esquecidos os agradecimentos. Em Frankfurt, onde estava no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que disse foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel de Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos volto a agradecer. E agora quero também agradecer aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de agora: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam, portanto.


Comentário:
O mundo precisa demasiadamente de homens como Saramago.
Estes escasseiam quando ocupam cargos de poder, entretanto.

Jornalismo pra quem precisa - por Leandro Fortes (CartaCapital)

Leandro Fortes faz uma dura crítica da formação nas escolas de jornalismo, critica a queda do diploma, a atual conjuntura das redações brasileiras e traça um plano: leia aqui seu "manifesto".

Há alguns dias, lancei na minha página do Facebook uma idéia que venho acalentando há tempos, desde que encerrei um curso de extensão para uma faculdade privada de jornalismo, aqui em Brasília. O curso, de Técnica Geral de Jornalismo, reuniu pouco mais de 10 alunos, basicamente, porque era muito caro. Embora tenha sido uma turma de bons estudantes, gente verdadeiramente animada e interessada no ofício, me senti desconectado da real intenção do curso, que era de fazer um contraponto de método, opinião e visão ideológica a esse jornalismo que aí vemos, montado em teses absurdas, em matérias incompletas e mentirosas, omissas em tudo e contra todos, a serviço de um pensamento conservador, reacionário e golpista disseminado, para infelicidade geral, como coisa normal. Não é. E é sobre isso que eu queria falar enquanto ensinava, dia a após dias, os fundamentos práticos da pauta, da entrevista, da redação jornalística, da nobre função do jornalista na sociedade, no Brasil, na História.
Perguntei, então, no Facebook, o que estudantes de jornalismos e jornalistas formados achariam de eu transferir essas aulas para um espaço barato e democrático, capaz de levar esses conhecimentos a muito mais gente, sobretudo ao estudante pobre – e, quem sabe, credenciar também os pobres a brigar por uma vaga nas redações, que se tornaram ambientes muito elitistas. Encaretadas por manuais de doutrina e comportamento, adestradas pela conduta neoliberal dos anos 1990, quando passaram a responder diretamente pelas demandas do Departamento Comercial, as redações brasileiras se desprenderam da ação política, dos movimentos sociais, do protagonismo histórico a favor dos direitos humanos e da luta contra a desigualdade. Passaram, sim, a reproduzir um universo medíocre de classe média, supostamente a favor de uma modernidade pós-muro de Berlim, onde bradar contra privatizações e a adoração ao deus mercado passou a ser encarado como esquerdismo imperdoável e anacrônico.
Não por outra razão, os movimentos corporativos a favor da manutenção da obrigatoriedade do diploma de jornalista, que resistiram a todo tipo de investida patronal ao longo de duas décadas, foram definitivamente golpeados com o apoio e, em parte, a omissão, da maioria dos jovens profissionais de imprensa, notadamente os bem colocados em redações da chamada grande mídia. Vale lembrar que o jornalismo é, provavelmente, a única profissão do mundo onde existem profissionais que pedem o fim do próprio diploma. Há muitas nuances, claro, nessa discussão, inclusive porque há gente muito boa que, historicamente, se coloca contra o diploma, sobretudo velhos jornalistas criados em velhas e românticas redações, cenas de um mundo que, infelizmente, não existe mais.
Na essência, o fim da obrigatoriedade do diploma não é uma demanda de jornalistas, mas de patrões, baseada num argumento falacioso de liberdade de expressão – na verdade, de opinião –, quando a verdadeira discussão está, justamente, na formação acadêmica dos repórteres. E há uma distância abissal entre opinião e reportagem, porque a primeira qualquer um tem, enquanto a segunda não é só fruto de talento, mas de aprendizado, técnica e repetição.
Nas grandes empresas, o fim da obrigatoriedade do diploma coroou uma estratégia que tem matado o jornalismo: a proliferação de cursinhos internos de treinees, tanto para estudantes como para recém-formados, cuja base de orientação profissional é a competitividade a qualquer custo, um conceito puramente empresarial copiado, sem aparas, do decadente yupismo americano. Digo que tem matado porque esses cursinhos de monstrinhos competitivos relegam o papel universal do jornalista ao segundo plano, quando não a plano algum. A idéia de que o jornalista deva ser um profissional solidário, inserido na sociedade para lhe decifrar os dramas e transmiti-los a outros seres humanos passou a ser um devaneio, um delírio socialista a ser combatido como a um inimigo. Para justificar essa sanha, reforça-se o mito da isençã o e da imparcialidade de uma mídia paradoxalmente comprometida com tudo, menos com a sua essência informativa, originalmente baseada no universalismo e no compromisso com o cidadão.
Na outra ponta, o fim da obrigatoriedade do diploma abriu a porteira para jagunços e capangas ocuparem as redações da imprensa regional, longe da fiscalização da lei e dos sindicatos, alegremente autorizados a fazer, literalmente, qualquer coisa com qualquer pessoa. Mesmo para o novo modelo de jornalismo que se anuncia na internet, baseado em disseminação mútua de informações primárias, como no caso dos vazamentos do Wikileaks, haverá sempre a necessidade do tratamento jornalístico dos conteúdos. E, para esse serviço, não há outro trabalhador credenciado senão um bom repórter treinado e formado para essa missão. Formação esta que, insisto, deve ser feita na academia e reforçada na experiência diária da reportagem.
Recentemente, li sobre a criação, em 2010, do Instituto de Altos Estudos em Jornalismo, sob os auspícios da Editora Abril. Entre os mestres do tal centro estavam o dono da editora, Roberto Civita, mantenedor da Veja, e Carlos Alberto Di Franco, do Master de Jornalismo, uma espécie de Escola das Américas da mídia nacional voltada para a formação de “líderes” dentro das redações. Di Franco, além de tudo, é um dos expoentes, no Brasil, da ultradireitista seita católica Opus Dei, a face mais medieval e conservadora da Igreja Católica no mundo.
Sinceramente, não vejo que “altos estudos”, muito menos de jornalismo, podem sair de um lugar assim. Não tenho dúvidas de que a representação do tal instituto não é acadêmica, embora seja dirigido por Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás no governo do PT, renomado estudioso da imprensa no Brasil. Trata-se de uma representação fundamentalmente ideológica, a reforçar as mesmíssimas estruturas de poder das redações, estruturas ultraverticalizadas, essencialmente antidemocráticas e personalistas, onde a possibilidade de ascensão funcional, sobretudo a cargos de chefia, está diretamente ligada à capacidade de ser subserviente aos patrões e bestas-feras com os subordinados.
Felizmente, o surgimento da internet deu vazão a outro ambiente midiático, regido por outras regras e demandas, um devastador contraponto ao funcionamento hermético das grandes redações e ao poder hegemônico da velha mídia brasileira, inclusive de seus filhotes replicadores e retransmissores Brasil adentro. O fenômeno dos blogs e sua capacidade de mobilização informativa é só a parte mais visível de um processo de reordenamento da comunicação social no mundo. As redes sociais fragmentaram a disseminação de notícias, fatos, dados estatísticos, informes e informações em um nível adoravelmente incontrolável, criando um ambiente noticioso ainda a ser desbravado por novas gerações de repórteres que, para tal, precisam ser treinados e apresentados a novas técnicas e, sobretudo, a novas idéias.
A “era do aquário”, para ficar numa definição feliz do jornalista Franklin Martins – aliás, contrário à obrigatoriedade do diploma –, está prestes a terminar. O jornalismo decidido por cúpulas restritas, com pouco ou nenhum apego à verdade dos fatos, está reduzida a um universo patético de mau jornalismo desmascarado instantaneamente pela blogosfera, vide a versão rocambolesca da TV Globo sobre a bolinha de papel na cabeça de José Serra ou a farsa do grampo sem áudio que uniu, numa mesma trama bisonha, a revista Veja, o ministro Gilmar Mendes, do STF, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.
Não será a escola de “altos estudos” da Veja e do professor Di Franco, portanto, a suprir essa necessidade. Essa demanda terá que ser suprida por repórteres ciosos de outro tipo de jornalismo, mais aberto e solidário, comprometido com a verdade factual e a honestidade intelectual, interessado em boas histórias. Um jornalismo mais leve e mais humano, mais preocupado com a qualidade da informação do que com a vaidade do furo. Um jornalismo vinculado à realidade, não a interesses econômicos. E isso, certamente, só poderá ser viabilizado dentro de outro modelo, cooperativo e democrático, a ser exercido a partir das novas mídias virtuais.
Por isso, é preciso estabelecer também um contraponto à ideologia da mídia hegemônica no campo da formação, em complemento aos cursos superiores de jornalismo. Abrir espaço para os milhares de estudantes de comunicação, em todo o Brasil, que não têm chance de participar dos cursinhos de treinees dos jornalões e das grandes emissoras de radiodifusão. Dar a eles, de forma prática e barata, uma oportunidade de aprender jornalismo com bons repórteres, com repórteres de verdade.
Foi nisso que pensei quando idealizei, em 2007, a Escola Livre de Jornalismo, junto com outros dois amigos, ambos ótimos jornalistas, Olímpio Cruz Neto e Gustavo Krieger. Com eles, ajudei a montar bem sucedidos ciclos de palestras e oficinas de jornalismo em Brasília. Em 2009, um ano antes do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em São Paulo, a Escola Livre, em parceria com o IESB, já havia conseguido reunir, na capital federal, os principais expoentes desse movimento no país: Luis Nassif (Blog do Nassif), Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Rodrigo Vianna (Escrevinhador), Marco Weissheimer (RS Urgente) e Luiz Carlos Azenha (Viomundo). Uma semana de debates ricos, bem humorados, em um auditório permanentemente lotado de estudantes de jornalismo e jornalistas profissionais. Foi nosso único ev ento gratuito e, claro, o de maior sucesso. Os ciclos e oficinas, embora tenham tido boa audiência, esbarravam sempre no problema do custo para os estudantes: como nos cursinhos de treinee da velha mídia, acabávamos por privilegiar um segmento de jovens já socialmente privilegiados. É dessa frustração e dessa armadilha que proponho fugir agora.
Por isso, expus no Facebook a idéia de ministrar minhas aulas de Técnica Geral de Jornalismo, divididas em módulos, de modo que cada estudante pague um valor baixo por cada aula. Ou seja, os estudantes vão às aulas que quiserem, pagam na entrada e participam de duas horas de aula de jornalismo sobre tópicos práticos e temas relevantes. Minha idéia é convocar outros repórteres de Brasília a participar desse movimento da Escola Livre de Jornalismo, com o compromisso de, em troca da aula de duas horas, receber 70% do valor arrecadado no dia, porque 30% serão sempre destinados à administração e organização do curso.
Além do valor da aula, ainda a ser estipulado, cada aluno deverá também levar um alimento não perecível qualquer, a ser distribuído para comunidades pobres do Distrito Federal ou instituições de assistência social a serem definidas com futuros parceiros. Esses mantimentos, inclusive, poderão ser usados como moeda de troca para podermos utilizar gratuitamente algum espaço físico em Brasília para ministrar as aulas. É algo ainda a ser definido.
A idéia está lançada. No Facebook, recebi quase 100 adesões imediatas de estudantes, jornalistas, incluindo alunos e ex-alunos realmente satisfeitos com a perspectiva de participar de um movimento interativo desse nível, a preços populares. Espero poder iniciar as primeiras aulas em fevereiro de 2011 e, desde já, conto com a participação de todos os amigos e colegas jornalistas do Brasil que quiserem compartilhar essa experiência. Quanto mais gente boa dando aula, mais gente boa a ser formada. Como nas experiências anteriores, a Escola Livre de Jornalismo espera contar com a parceria das faculdades de jornalismo do DF para transformar em crédito a freqüência dos estudantes nas aulas, de modo a colaborar com uma necessidade acadêmica deles, as horas extra-sala de atividades complementares.
Por favor, quem quiser participar dê o ar das graças. Nossa missão inicial é achar um lugar amplo e legal, com cadeiras e uma boa mesa de professor, para dar as aulas. A depender do nível de adesão dos colegas jornalistas, vamos organizar uma agenda para as aulas, que serão sempre aos sábados, em princípio, das 9 às 11 horas da manhã.
Por enquanto, é esse o meu manifesto, é essa a minha idéia. O resto virá, tenho certeza, na garupa de bons ventos.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Orwell estava certo. Huxley, também – por Chris Hedges (Published on Monday, December 27, 2010 by TruthDig.com – Traduzido por Vi o mundo)

2011: A Brave New Dystopia

As duas grandiosas visões sobre uma futura distopia foram as de George Orwell em 1984 e de Aldous Huxley em Brave New World. O debate entre aqueles que assistiram nossa decadência em direção ao totalitarismo corporativo era sobre quem, afinal, estava certo. Seria, como Orwell escreveu, dominado pela vigilância repressiva e pelo estado de segurança que usaria formas cruas e violentas de controle? Ou seria, como Huxley anteviu, um futuro em que abraçariamos nossa opressão embalados pelo entretenimento e pelo espetáculo, cativados pela tecnologia e seduzidos pelo consumismo desenfreado? No fim, Orwell e Huxley estavam ambos certos. Huxley viu o primeiro estágio de nossa escravidão. Orwell anteviu o segundo.

Temos sido gradualmente desempoderados por um estado corporativo que, como Huxley anteviu, nos seduziu e manipulou através da gratificação dos sentidos, dos bens de produção em massa, do crédito sem limite, do teatro político e do divertimento. Enquanto estávamos entretidos, as leis que uma vez mantiveram o poder corporativo predatório em cheque foram desmanteladas, as que um dia nos protegeram foram reescritas e nós fomos empobrecidos. Agora que o crédito está acabando, os bons empregos para a classe trabalhadora se foram para sempre e os bens produzidos em massa se tornaram inacessíveis, nos sentimos transportados do Brave New World para 1984. O estado, atulhado em déficits maciços, em guerras sem fim e em golpes corporativos, caminha em direção à falência.

[...]

Orwell nos alertou sobre um mundo em que os livros eram banidos. Huxley nos alertou sobre um mundo em que ninguém queria ler livros. Orwell nos alertou sobre um estado de guerra e medo permanentes. Huxley nos alertou sobre uma cultura de prazeres do corpo. Orwell nos alertou sobre um estado em que toda conversa e pensamento eram monitorados e no qual a dissidência era punida brutalmente. Huxley nos alertou sobre um estado no qual a população, preocupada com trivialidades e fofocas, não se importava mais com a verdade e a informação. Orwell nos viu amedrontados até a submissão. Mas Huxley, estamos descobrindo, era meramente o prelúdio de Orwell. Huxley entendeu o processo pelo qual seríamos cúmplices de nossa própria escravidão. Orwell entendeu a escravidão. Agora que o golpe corporativo foi dado, estamos nus e indefesos. Estamos começando a entender, como Karl Marx sabia, que o capitalismo sem limites e desregulamentado é uma força bruta e revolucionária que explora os seres humanos e o mundo natural até a exaustão e o colapso.

“O partido busca todo o poder pelo poder”, Orwell escreveu em 1984. “Não estamos interessados no bem dos outros; estamos interessados somente no poder. Não queremos riqueza ou luxo, vida longa ou felicidade; apenas poder, poder puro. O que poder puro significa você ainda vai entender. Nós somos diferentes das oligarquias do passado, já que sabemos o que estamos fazendo. Todos os outros, mesmo os que se pareciam conosco, eram covardes e hipócritas. Os nazistas alemães e os comunistas russos chegaram perto pelos seus métodos, mas eles nunca tiveram a coragem de reconhecer seus próprios motivos. Eles fizeram de conta, ou talvez tenham acreditado, que tomaram o poder sem querer e por um tempo limitado, e que logo adiante havia um paraíso em que os seres humanos seriam livres e iguais. Não somos assim. Sabemos que ninguém toma o poder com a intenção de entregá-lo. Poder não é um meio; é um fim. Ninguém promove uma ditadura com o objetivo de assegurar a revolução; se faz a revolução para assegurar a ditadura. O objeto da perseguição é perseguir. O objeto de torturar é a tortura. O objeto do poder é o poder”.

O filósofo político Sheldon Wolin usa o termo “totalitarismo invertido” no livro “Democracia Ltda.” para descrever nosso sistema político. É um termo que não faria sentido para Huxley. No totalitarismo invertido, as sofisticadas tecnologias de controle corporativo, intimidação e manipulação de massas, que superam em muito as empregadas por estados totalitários prévios, são eficazmente mascaradas pelo brilho, barulho e abundância da sociedade de consumo. Participação política e liberdades civis são gradualmente solapadas. O estado corporativo, escondido sob a fumaça da indústria de relações públicas, da indústria do entretenimento e do materialismo da sociedade de consumo, nos devora de dentro para fora. Não deve nada a nós ou à Nação. Faz a festa em nossa carcaça.

O estado corporativo não encontra a sua expressão em um líder demagogo ou carismático. É definido pelo anonimato e pela ausência de rosto de uma corporação. As corporações, que contratam porta-vozes atraentes como Barack Obama, controlam o uso da ciência, da tecnologia, da educação e dos meios de comunicação de massa. Elas controlam as mensagens do cinema e da televisão. E, como no Brave New World, elas usam as ferramentas da comunicação para aumentar a tirania. Nosso sistema de comunicação de massas, como Wolin escreveu, “bloqueia, elimina o que quer que proponha qualificação, ambiguidade ou diálogo, qualquer coisa que esfraqueça ou complique a força holística de sua criação, a sua completa capacidade de influenciar”.

O resultado é um sistema monocromático de informação. Cortejadores das celebridades, mascarados de jornalistas, experts e especialistas, identificam nossos problemas e pacientemente explicam seus parâmetros. Todos os que argumentam fora dos parâmetros são desprezados como chatos irrelevantes, extremistas ou membros da extrema esquerda. Críticos sociais prescientes, como Ralph Nader e Noam Chomsky, são banidos. Opiniões aceitáveis cabem, mas apenas de A a B. A cultura, sob a tutela dos cortesãos corporativos, se torna, como Huxley notou, um mundo de conformismo festivo, de otimismo sem fim e fatal.

Nós nos ocupamos comprando produtos que prometem mudar nossas vidas, tornar-nos mais bonitos, confiantes e bem sucedidos — enquanto perdemos direitos, dinheiro e influência. Todas as mensagens que recebemos pelos meios de comunicação , seja no noticiário noturno ou nos programas como “Oprah”, nos prometem um amanhã mais feliz e brilhante. E isso, como Wolin apontou, é “a mesma ideologia que convida os executivos de corporações a exagerar lucros e esconder prejuízos, sempre com um rosto feliz”. Estamos hipnotizados, Wolin escreve, “pelo contínuo avanço tecnológico” que encoraja “fantasias elaboradas de poder individual, juventude eterna, beleza através de cirurgia, ações medidas em nanosegundos: uma cultura dos sonhos, de cada vez maior controle e possibilidade, cujos integrantes estão sujeitos à fantasia porque a grande maioria tem imaginação, mas pouco conhecimento científico”.

Nossa base manufatureira foi desmantelada. Especuladores e golpistas atacaram o Tesouro dos Estados Unidos e roubaram bilhões de pequenos acionistas que tinham poupado para a aposentadoria ou o estudo. As liberdades civis, inclusive o habeas corpus e a proteção contra a escuta telefônica sem mandado, foram enfraquecidas. Serviços básicos, inclusive de educação pública e saúde, foram entregues a corporações para explorar em busca do lucro. As poucas vozes dissidentes, que se recusam a se engajar no papo feliz das corporações, são desprezadas como freaks.

[...]

A fachada está desabando. Quanto mais gente se der conta de que fomos usados e roubados, mais rapidamente nos moveremos do Brave New World de Huxley para o 1984 de Orwell. O público, a certa altura, terá de enfrentar algumas verdades doloridas. Os empregos com bons salários não vão voltar. Os maiores déficits da história humana significam que estamos presos num sistema escravocrata de dívida que será usado pelo estado corporativo para erradicar os últimos vestígios de proteção social dos cidadãos, inclusive a Previdência Social.

O estado passou de uma democracia capitalista para o neo-feudalismo. E quando essas verdades se tornarem aparentes, a raiva vai substituir o conformismo feliz imposto pelas corporações. O vazio de nossos bolsões pós-industriais, onde 40 milhões de norte-americanos vivem em estado de pobreza e dezenas de milhões na categoria chamada “perto da pobreza”, junto com a falta de crédito para salvar as famílias do despejo, das hipotecas e da falência por causa dos gastos médicos, significam que o totalitarismo invertido não vai mais funcionar.

Nós crescentemente vivemos na Oceania de Orwell, não mais no Estado Mundial de Huxley. Osama bin Laden faz o papel de Emmanuel Goldstein em 1984. Goldstein, na novela, é a face pública do terror. Suas maquinações diabólicas e seus atos de violência clandestina dominam o noticiário noturno. A imagem de Goldstein aparece diariamente nas telas de TV da Oceania como parte do ritual diário da nação, os “Dois Minutos de Ódio”. E, sem a intervenção do estado, Goldstein, assim como bin Laden, vai te matar. Todos os excessos são justificáveis na luta titânica contra o diabo personificado.

A tortura psicológica do cabo Bradley Manning — que está preso há sete meses sem condenação por qualquer crime — espelha o dissidente Winston Smith de 1984. Manning é um “detido de segurança máxima” na cadeia da base dos Fuzileiros Navais de Quantico, na Virginia. Eles passa 23 das 24 horas do dia sozinho. Não pode se exercitar. Não pode usar travesseiro ou roupa de cama. Médicos do Exército enchem Manning de antidepressivos. As formas cruas de tortura da Gestapo foram substituídas pelas técnicas refinadas de Orwell, desenvolvidas por psicólogos do governo, para tornar dissidentes como Manning em vegetais. Quebramos almas e corpos. É mais eficaz. Agora todos podemos ir ao temido quarto 101 de Orwell para nos tornarmos obedientes e mansos.

Essas “medidas administrativas especiais” são regularmente impostas em nossos dissidentes, inclusive em Syed Fahad Hasmi, que ficou preso sob condições similares durante três anos antes do julgamento. As técnicas feriram psicologicamente milhares de detidos em nossas cadeias secretas em todo o mundo. Elas são o exemplo da forma de controle em nossas prisões de segurança máxima, onde o estado corporativo promove a guerra contra nossa sub-classe política – os afro-americanos. É o presságio da mudança de Huxley para Orwell.

“Nunca mais você será capaz de ter um sentimento humano”, o torturador de Winston Smith diz a ele em 1984.”Tudo estará morto dentro de você. Nunca mais você será capaz de amar, de ter amigos, do prazer de viver, do riso, da curiosidade, da coragem ou integridade. Você será raso. Vamos te apertar até esvaziá-lo e vamos encher você de nós”.

O laço está apertando. A era do divertimento está sendo substituída pela era da repressão. Dezenas de milhões de cidadãos tiveram seus dados de e-mail e de telefone entregues ao governo. Somos a cidadania mais monitorada e espionada da história humana. Muitos de nós temos nossa rotina diária registrada por câmeras de segurança. Nossos hábitos ficam gravados na internet. Nossas fichas são geradas eletronicamente. Nossos corpos são revistados em aeroportos e filmados por scanners. Anúncios públicos, selos de inspeção e posters no transporte público constantemente pedem que relatemos atividade suspeita. O inimigo está em toda parte.

Aqueles que não cumprem com os ditames da guerra contra o terror, uma guerra que, como Orwell notou, não tem fim, são silenciados brutalmente. Medidas draconianas de segurança foram usadas contra protestos no G-20 em Pittsburgh e Toronto de forma desproporcional às manifestações de rua. Mas elas mandaram uma mensagem clara — NÃO TENTE PROTESTAR. A investigação do FBI contra ativistas palestinos e que se opõem à guerra, que em setembro resultou em buscas em casas de Minneapolis e Chicago, é uma demonstração do que espera aqueles que desafiam o Newspeak oficial. Os agentes — ou a Polícia do Pensamento — apreenderam telefones, computadores, documentos e outros bens pessoais. Intimações para aparecer no tribunal já foram enviadas a 26 pessoas. As intimações citam leis federais que proíbem “dar apoio material ou recursos para organizações terroristas estrangeiras”. O Terror, mesmo para aqueles que não tem nada a ver com terror, se torna o instrumento usado pelo Big Brother para nos proteger de nós mesmos.

“Você está começando a entender o mundo que estamos criando?”, Orwell escreveu. “É exatamente o oposto daquelas Utopias estúpidas que os velhos reformistas imaginaram. Um mundo de medo, traição e tormento, um mundo em que se atropela e se é atropelado, um mundo que, ao se sofisticar, vai se tornar cada vez mais cruel”.

As diferenças entre Lula e Chávez – por João V. (blog do Nassif)

"Ao final do governo Lula a grande mácula persiste: Somos ainda um dos países mais injustos do planeta."

Sim, mas mesmo com uma política decididamente apostada em diminuir as desigualdades sociais no Brasil, tal desiderato necessita de tempo. A questão é conquistar "momentum" e prosseguir consistentemente. Também julgo que uma deriva neoliberal seria desadequada, na verdade nem julgo que fosse verdadeiramente possível sem gerar grandes atritos sociais, insustentáveis talvez. Essa ideia de Estado mínimo neoliberal quer dizer, no fundo, uma diminuição drástica dos impostos sobre o capital e da regulação do mercado. Quer dizer, também, e por isso, um ataque frontal ao poder dos sindicatos de trabalhadores, daí, desde logo, o risco de convulsões sociais.

O problema com o neoliberalismo é, também, desde logo, a diferença entre a sua teoria e a prática, ou seja, advoga teoricamente que a desregulamentação do mercado e uma taxação mínima sobre o capital aumenta a produtividade do sector privado e, com isso, o emprego e a riqueza nacional. A questão é que esta taxação mínima implica um abandono do Estado social e com isto a presunção de que o crescimento vai ser contínuo, sem crises.

Mas a história tem mostrado que as crises são quase inevitáveis e é nestes momentos que o neoliberalismo manda a teoria para as urtigas e corre para o Estado em busca de fundos de emergência e coisas que tais, ou seja, nessa altura já quer a participação do Estado, mas apenas na forma de dinheiro para o capital, já que continua a não querer regulamentação. Então, apesar de teoricamente serem a favor do Estado mínimo, na realidade querem um Estado forte para a defesa dos seus interesses, um Estado que interfira no mercado sempre que necessário, sem que, no entanto, interfira em forma de regulação ou taxação. A única regulação que querem é a dos sindicatos, no sentido de lhes diminuir o poder real. Fora isso, nada mais senão deixar fazer e quando necessário injetar dinheiro no capital privado. Isto significa também que os impostos que ainda assim o Estado recolhe pertencem, na realidade, a esse grande capital, são como uma reserva, um fundo de garantia para que em tempos de crise se possam refinanciar e manter o domínio sobre a economia. Daí que a quebra dos sindicatos seja necessária ao Estado neoliberal, porque tal quebra diminui a capacidade da mão-de-obra se organizar e impor a transformação do Estado.

Em todo o caso, num Estado democrático é ainda possível eleger partidos mais sensíveis a regulação dos mercados e ao Estado social, mas se a destruição deste, durante o período de vigência do neoliberalismo for muito ampla e profunda, mesmo um governo de esquerda terá muitas dificuldades em agir consoante a sua matriz política e econômica, já que os recursos necessários para a reconstrução de um Estado social destituído são imensos e em tempos de crise esses recursos não abundam. Passa a ser preciso tempo, quer dizer, a ser necessário que governos mais sensíveis ao Estado social e à regulação do mercado perdurem para além do tempo mais agudo da crise.

Aqui podemos ver, por exemplo, a diferença de método entre Lula e Chávez. O presidente brasileiro prefere um caminho negociado, quer dizer, acenar ao capital com o apoio do povo para que o capital aceite maior presença da regulação e do Estado social, já Chavez parece querer destituir simplesmente a iniciativa privada, nomeadamente a nível de grande indústria, e passar a controlar todo o processo produtivo. O risco é que junto com a destituição do grande capital se destitua toda a iniciativa privada e caiam não só as classes altas, mas também a classe média. E um país sem classe média torna-se dependente, quase em absoluto, do Estado. Lula prefere um caminho mais longo, ou mais indirecto do que Chávez, que segue uma via muito mais directa, mas pode ser que esse caminho mais longo signifique preparação, nomeadamente pela educação e a protecção social, dos mais pobres para se tornarem cada vez mais autônomos, ou seja, um caminho que na prática resulte na construção de uma classe média vigorosa.

Abrir caminho, sempre - por Luiz Carlos Azenha (Vi o mundo)

Nas últimas semanas uma fatia significativa da direitona brasileira admitiu o óbvio: o presidente Lula foi melhor que o presidente FHC e não apenas uma continuação dele.

A Folha de S. Paulo, doente de pesquisismo, escondeu seu diagnóstico atrás da “descoberta” de que 83% dos brasileiros consideraram o governo Lula ótimo ou bom.

A gente, da blogosfera progressista, já sabia disso.

“No pós-ditadura, nenhum presidente eleito diretamente deixou o cargo tão bem avaliado, o que se explica sobretudo pela melhora do emprego, da renda e de sua distribuição”, escreveu a Folha em um caderno especial, publicado no mesmo dia em que o jornal, em editorial de primeira página, admitiu: o governo Lula, cheio de defeitos, foi bom.

E, no entanto, por dizer exatamente isso na campanha eleitoral nós, blogueiros progressistas e leitores progressistas, fomos tachados de sujos, de chapa-branca, de vendidos e de outros adjetivos. O resumo dos xingamentos está no inesquecível discurso do deputado derrotado Marcelo Itagiba, no Congresso. Os impropérios continuam, como notou o Miguel do Rosário a propósito do texto de um colunista do Estadão.. São tão poucos os leitores deles que já não vale a pena promovê-los.

O que isso nos diz sobre a blogosfera progressista? Diz que em 2010 fizemos, sim, a diferença. Enquanto alguns se entregavam ao onanismo intelectual, perguntando se “progressista” não era algo datado, do século 19, se não seria melhor usar “independente”, “de esquerda” ou “do diabo”, nós fizemos a diferença ao desmoralizar a bolinha de papel, ao desencavar o que foi dito sobre a privatização da Petrobras, ao demonstrar que o candidato da direita não era apenas o do atraso, mas também da hipocrisia e da mentira. O que quero dizer é que fomos suficientemente ágeis, pragmáticos e leais uns aos outros e às nossas ideias e que isso deu mais resultado que qualquer debate estéril sobre o sexo dos anjos.

Fiquei igualmente satisfeito pelo fato de que um grupo de blogueiros sujos conseguiu, no Palácio do Planalto, algo que o PIG não conseguiu ao longo dos dois mandatos de Lula: definir claramente os limites do governo que finda.

Hoje, na Folha, em “Ecos da Ditadura”, o articulista Fernando de Barros e Silva lamenta o papel de Nelson Jobim no debate sobre a Comissão de Verdade. Barros atribui a Jobim “pressão obscurantista”. Isso também a gente já sabia.  Está na pergunta que Leandro Fortes fez ao presidente no Palácio do Planalto. Assim como estiveram nas perguntas de Rodrigo Vianna, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira e Altamiro Borges os limites de Lula nas questões da comunicação, educação e direitos trabalhistas.

Nós, da dita blogosfera progressista, fomos os primeiros a reconhecer a ousadia do Itamaraty na política externa, quando os chanceleres de pijama que frequentam as colunas de opinião dos grandes jornais pregavam a invasão da Bolívia e a derrubada de Hugo Chávez. Só depois de descobrir que o Departamento de Estado de Hillary Clinton estuda o Itamaraty para descobrir como o Brasil ganhou peso internacional sem uma única ogiva nuclear é que a grande mídia brasileira vai dizer, sobre a política externa de Lula, o que nós já sabíamos.

Afinal, foi só depois do vazamento dos telegramas diplomáticos do WikiLeaks que nossa mídia “descobriu” o que denunciamos na campanha eleitoral: na questão do pré-sal,  José Serra era owned pelas petroleiras. 
Ser blogueiro “progressista”, “de esquerda”, “independente”, “sujo” ou o que quer que seja é isso: abrir caminho, ousar, desafiar o lugar comum, peitar o discurso único e, acima de tudo, se divertir com a incompetência, o horizonte limitado e a submissão intelectual de nossas grandes redações. Feliz 2011 a todos!

Ministro da Dilma defendeu Dantas no MPF e com a turma do Berlusconi – por Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada)

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/12/28/ministro-da-dilma-defendeu-dantas-no-mpf-e-com-a-turma-do-berlusconi/

Médicos cubanos no Haiti deixam o mundo envergonhado – por Nina Lakhani - The Independent (Agência Carta maior)


Números divulgados na semana passada mostram que o pessoal médico cubano, trabalhando em 40 centros em todo o Haiti, tem tratado mais de 30.000 doentes de cólera desde outubro. Eles são o maior contingente estrangeiro, tratando cerca de 40% de todos os doentes de cólera. Um outro grupo de médicos da brigada cubana Henry Reeve, uma equipe especializada em desastre e em emergência, chegou recentemente. Uma brigada de 1.200 médicos cubanos está operando em todo o Haiti, destroçado pelo terremoto e pela cólera. Enquanto isso, a ajuda prometida pelos EUA e outros países...



O artigo é de Nina Lakhani, do The Independent

Esses são os verdadeiros heróis do desastre do terremoto no Haiti, a catástrofe humana na porta da América, a qual Barack Obama prometeu uma monumental missão humanitária dos EUA para aliviar. Esses heróis são da nação arqui-inimiga dos Estados Unidos, Cuba, cujos médicos e enfermeiros deixaram os esforços dos EUA envergonhados.

Uma brigada de 1.200 médicos cubanos está operando em todo o Haiti, rasgado por terremotos e infectado com cólera, como parte da missão médica internacional de Fidel Castro, que ganhou muitos amigos para o Estado socialista, mas pouco reconhecimento internacional.

Observadores do terremoto no Haiti poderiam ser perdoados por pensar operações de agências de ajuda internacional e por os deixarem sozinhos na luta contra a devastação que matou 250.000 pessoas e deixou cerca de 1,5 milhões de desabrigados. De fato, trabalhadores da saúde cubanos estão no Haiti desde 1998, quando um forte terremoto atingiu o país. E em meio a fanfarra e publicidade em torno da chegada de ajuda dos EUA e do Reino Unido, centenas de médicos, enfermeiros e terapeutas cubanos chegaram discretamente. A maioria dos países foi embora em dois meses, novamente deixando os cubanos e os Médicos Sem Fronteiras como os principais prestadores de cuidados para a ilha caribenha.

Números divulgados na semana passada mostram que o pessoal médico cubano, trabalhando em 40 centros em todo o Haiti, tem tratado mais de 30.000 doentes de cólera desde outubro. Eles são o maior contingente estrangeiro, tratando cerca de 40% de todos os doentes de cólera. Um outro grupo de médicos da brigada cubana Henry Reeve, uma equipe especializada em desastre e em emergência, chegou recentemente, deixando claro que o Haiti está se esforçando para lidar com a epidemia que já matou centenas de pessoas.

Desde 1998, Cuba treinou 550 médicos haitianos gratuitamente na Escola Latinoamericana de Medicina em Cuba (Elam), um dos programas médicos mais radicais do país. Outros 400 estão sendo treinados na escola, que oferece ensino gratuito - incluindo livros gratuitos e um pouco de dinheiro para gastar - para qualquer pessoa suficientemente qualificada e que não pode pagar para estudar Medicina em seu próprio país.

John Kirk é um professor de Estudos Latino-Americanos na Universidade Dalhousie, no Canadá, que pesquisa equipes médicas internacionais de Cuba. Ele disse: "A contribuição de Cuba, como ocorre agora no Haiti, é o maior segredo do mundo. Eles são pouco mencionados, mesmo fazendo muito do trabalho pesado.".

Esta tradição remonta a 1960, quando Cuba enviou um punhado de médicos para o Chile, atingido por um forte terremoto, seguido por uma equipe de 50 a Argélia em 1963. Isso foi apenas quatro anos depois da Revolução.

Os médicos itinerantes têm servido como uma arma extremamente útil da política externa e econômica do governo, ganhando amigos e favores em todo o globo. O programa mais conhecido é a "Operação Milagre", que começou com os oftalmologistas tratando os portadores de catarata em aldeias pobres venezuelanos em troca de petróleo. Esta iniciativa tem restaurado a visão de 1,8 milhões de pessoas em 35 países, incluindo o de Mario Terán, o sargento boliviano que matou Che Guevara em 1967.

A Brigada Henry Reeve, rejeitada pelos norteamericanos após o furacão Katrina, foi a primeira equipe a chegar ao Paquistão após o terremoto de 2005, e a última a sair seis meses depois.

A Constituição de Cuba estabelece a obrigação de ajudar os países em pior situação, quando possível, mas a solidariedade internacional não é a única razão, segundo o professor Kirk. "Isso permite que os médicos cubanos, que são terrivelmente mal pagos, possam ganhar dinheiro extra no estrangeiro e aprender mais sobre as doenças e condições que apenas estudaram. É também uma obsessão de Fidel e ele ganha votos na ONU."

Um terço dos 75 mil médicos de Cuba, juntamente com 10.000 trabalhadores de saúde, estão atualmente trabalhando em 77 países pobres, incluindo El Salvador, Mali e Timor Leste. Isso ainda deixa um médico para cada 220 pessoas em casa, uma das mais altas taxas do mundo, em comparação com um para cada 370 na Inglaterra.

Onde quer que sejam convidados, os cubanos implementam o seu modelo de prevenção com foco global, visitando famílias em casa, com monitoração proativa de saúde materna e infantil. Isso produziu "resultados impressionantes" em partes de El Salvador, Honduras e Guatemala, e redução das taxas de mortalidade infantil e materna, redução de doenças infecciosas e deixando para trás uma melhor formação dos trabalhadores de saúde locais, de acordo com a pesquisa do professor Kirk.

A formação médica em Cuba dura seis anos - um ano mais do que no Reino Unido - após o qual todos trabalham após a graduação como um médico de família por três anos no mínimo. Trabalhando ao lado de uma enfermeira, o médico de família cuida de 150 a 200 famílias na comunidade em que vive.

Este modelo ajudou Cuba a alcançar alguns índices invejáveis de melhoria em saúde no mundo, apesar de gastar apenas $ 400 (£ 260) por pessoa no ano passado em comparação com $ 3.000 (£ 1.950) no Reino Unido e $ 7.500 (£ 4,900) nos EUA, de acordo com Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento.

A taxa de mortalidade infantil, um dos índices mais confiáveis da saúde de uma nação, é de 4,8 por mil nascidos vivos - comparável com a Grã-Bretanha e menor do que os EUA. Apenas 5% dos bebês nascem com baixo peso ao nascer, um fator crucial para a saúde a longo prazo, e a mortalidade materna é a mais baixa da América Latina, mostram os números da Organização Mundial de Saúde.

As policlínicas de Cuba, abertas 24 horas por dia para emergências e cuidados especializados, é um degrau a partir do médico de família. Cada uma prevê 15.000 a 35.000 pacientes por meio de um grupo de consultores em tempo integral, assim como os médicos de visita, garantindo que a maioria dos cuidados médicos são prestados na comunidade.

Imti Choonara, um pediatra de Derby, lidera uma delegação de profissionais de saúde internacionais, em oficinas anuais na terceira maior cidade de Cuba, Camagüey. "A saúde em Cuba é fenomenal, e a chave é o médico de família, que é muito mais pró-ativo, e cujo foco é a prevenção. A ironia é que os cubanos vieram ao Reino Unido após a revolução para ver como o HNS [Serviço Nacional de Saúde] funcionava. Eles levaram de volta o que viram, refinaram e desenvolveram ainda mais, enquanto isso estamos nos movendo em direção ao modelo dos EUA", disse o professor Choonara.

A política, inevitavelmente, penetra muitos aspectos da saúde cubana. Todos os anos os hospitais produzem uma lista de medicamentos e equipamentos que têm sido incapazes de acesso por causa do embargo americano, o qual impede muitas empresas dos EUA de negociar com Cuba, e convence outros países a seguir o exemplo. O relatório 2009/10 inclui medicamentos para o câncer infantil, HIV e artrite, alguns anestésicos, bem como produtos químicos necessários para o diagnóstico de infecções e órgãos da loja. Farmácias em Cuba são caracterizadas por longas filas e estantes com muitos vazios. Em parte, isso se deve ao fato de que eles estocam apenas marcas genéricas.

Antonio Fernandez, do Ministério da Saúde Pública, disse: "Nós fazemos 80% dos medicamentos que usamos. O resto nós importamos da China, da antiga União Soviética, da Europa - de quem vender para nós - mas isso é muito caro por causa das distâncias."

Em geral, os cubanos são imensamente orgulhosos e apóiam a contribuição no Haiti e outros países pobres, encantados por conquistar mais espaço no cenário internacional. No entanto, algumas pessoas queixam-se da espera para ver o seu médico, pois muitos estão trabalhando no exterior. E, como todas as commodities em Cuba, os medicamentos estão disponíveis no mercado negro para aqueles dispostos a arriscar grandes multas se forem pegos comprando ou vendendo.

As viagens internacionais estão além do alcance da maioria dos cubanos, mas os médicos e enfermeiros qualificados estão entre os proibidos de deixar o país por cinco anos após a graduação, salvo como parte de uma equipe médica oficial.

Como todo mundo, os profissionais de saúde ganham salários miseráveis em torno de 20 dólares (£ 13) por mês. Assim, contrariamente às contas oficiais, a corrupção existe no sistema hospitalar, o que significa que alguns médicos e até hospitais, estão fora dos limites a menos que o paciente possa oferecer alguma coisa, talvez almoçar ou alguns pesos, para tratamento preferencial.

Empresas internacionais de Cuba na área da saúde estão se tornando cada vez mais estratégicas. No mês passado, funcionários mantiveram conversações com o Brasil sobre o desenvolvimento do sistema de saúde pública no Haiti, que o Brasil e a Venezuela concordaram em ajudar a financiar.

A formação médica é outro exemplo. Existem atualmente 8.281 alunos de mais de 30 países matriculados na Elam, que no mês passado comemorou o seu 11 º aniversário. O governo espera transmitir um senso de responsabilidade social para os alunos, na esperança de que eles vão trabalhar dentro de suas próprias comunidades pobres pelo menos cinco anos.

Damien Joel Soares, 27 anos, estudante de segundo ano de New Jersey, é um dos 171 estudantes norte-americanos; 47 já se formaram. Ele rejeita as alegações de que Elam é parte da máquina de propaganda cubana. "É claro que Che é um herói, mas aqui isso não é forçado garganta abaixo."

Outros 49.000 alunos estão matriculados no "Novo Programa de Formação de Médicos Latino-americanos", a ideia de Fidel Castro e Hugo Chávez, que prometeu em 2005 formar 100 mil médicos para o continente. O curso é muito mais prático, e os críticos questionam a qualidade da formação.

O professor Kirk discorda: "A abordagem high-tech para as necessidades de saúde em Londres e Toronto é irrelevante para milhões de pessoas no Terceiro Mundo que estão vivendo na pobreza. É fácil ficar de fora e criticar a qualidade, mas se você está vivendo em algum lugar sem médicos, ficaria feliz quando chegasse algum."

Há nove milhões de haitianos que provavelmente concordariam.

Veja: má vontade e preconceito conduzem à cegueira – por Jorge Hage (Blog do Planalto)

Resposta do ministro Jorge Hage a editorial de balanço da revista Veja:
Brasília, 27 de dezembro de 2010.
Sr. Editor,
Apesar de não surpreender a ninguém que haja acompanhado as edições da sua revista nos últimos anos, o número 52 do ano de 2010, dito de “Balanço dos 8 anos de Lula”, conseguiu superar-se como confirmação final da cegueira a que a má vontade e o preconceito acabam por conduzir.
Qualquer leitor que não tenha desembarcado diretamente de Marte na noite anterior haverá de perguntar-se “de que país a Veja está falando?”. E, se o leitor for um brasileiro e não integrar aquela ínfima minoria de 4% que avalia o Governo Lula como ruim ou péssimo, haverá de enxergar-se um completo idiota, pois pensava que o Governo Lula fora ótimo, bom ou regular. Se isso se aplica a todas as “matérias” e artigos da dita retrospectiva, quero deter-me especialmente às páginas não-numeradas e não-assinadas, sob o título “Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo”. Ali, dentre outras raivosas adjetivações (e sem apontar quaisquer fatos, registre-se), o Governo Lula é apontado como “o mais corrupto da República”.
Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia, um deles, aliás, objeto de matéria nesta mesma edição de Veja, à página 81? Ou será por ser este o primeiro Governo que fortaleceu a Controladoria-Geral da União e deu-lhe liberdade para investigar as fraudes que ocorriam desde sempre, desbaratando esquemas mafiosos que operavam desde os anos 90, (como as Sanguessugas, os Vampiros, os Gafanhotos, os Gabirus e tantos mais), e, em parceria com a PF e o Ministério Público, propiciar os inquéritos e as ações judiciais que hoje já se contam pelos milhares? Ou por ter indicado para dirigir o Ministério Público Federal o nome escolhido em primeiro lugar pelos membros da categoria, de modo a dispor da mais ampla autonomia de atuação, inclusive contra o próprio Governo, quando fosse o caso? Ou já foram esquecidos os tempos do “Engavetador-Geral da República”?
Ou talvez tenha sido por haver criado um Sistema de Corregedorias que já expulsou do serviço público mais de 2.800 agentes públicos de todos os níveis, incluindo altos funcionários como procuradores federais e auditores fiscais, além de diretores e superintendentes de estatais (como os Correios e a Infraero). Ou talvez este seja o governo mais corrupto por haver aberto as contas públicas a toda a população, no Portal da Transparência, que exibe hoje as despesas realizadas até a noite de ontem, em tal nível de abertura que se tornou referência mundial reconhecida pela ONU, OCDE e demais organismos internacionais.
Poderia estender-me aqui indefinidamente, enumerando os avanços concretos verificados no enfrentamento da corrupção, que é tão antiga no Brasil quanto no resto do mundo, sendo que a diferença que marcou este governo foi o haver passado a investigá-la e revelá-la, ao invés de varrê-la para debaixo do tapete, como sempre se fez por aqui.
Peço a publicação.

Jorge Hage Sobrinho
Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O festival de besteiras dos colonistas (*) do PiG (**). Melhores momentos do Golpe

http://www.conversaafiada.com.br/pig/2010/12/27/o-festival-de-besteiras-dos-colonistas-do-pig-melhores-momentos-do-golpe/

Deputado petista apresenta PL redigido por lobbista da Monsanto - por Rogério Tomaz Jr (Conexão Brasília Maranhão)

[Observação inicial: o PT é o meu partido e tenho muito orgulho disso, mas não posso deixar de criticar o que merece ser criticado. No caso desta notícia em particular, é triste divulgá-la, mas o episódio é grave]

[Atualiação necessária, 12h27: a advogada Patrícia Fukuma nega que seja advogada da Monsanto, mas qualquer pessoa que acompanha o debate de biossegurança conhece a sua atuação em favor da multinacional. E lobby, deixo claro, ainda que não seja legalizado, é algo absolutamente legítimo se feito de forma transparente. O debate sobre os transgênicos é importantíssimo e é necessário sabermos quem é quem nesse tabuleiro político]

Houve um tempo em que a missão maior do PT no parlamento era servir de ponte entre as demandas populares e o poder público. O lema era algo como “um pé na rua, outro no parlamento”.

Hoje, boa parte — arrisco dizer que ainda a maioria — dos parlamentares do Partido dos Trabalhadores ainda se guia por este princípio, embora as contradições sejam muitas.

Por isso espanta muito que um parlamentar petista — e não um deputado qualquer, mas um dos principais nomes do partido — seja usado como porta-voz de uma das empresas mais condenadas judicialmente e combatidas pela sociedade civil no mundo.

Pois a Monsanto — que tem até diretoria de direitos humanos, acredite se quiser! — usou seu lobby para tentar aprovar, através de um PL do deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), o uso das sementes “Terminator” no Brasil.

Óbvio que Vaccarezza nega, mas o nome de uma advogada da Monsanto consta como autora do documento em PDF do PL que ele apresentou com proposta que favorece diretamente a multinacional. Ou seja, a naturalidade da relação é tão grande que ninguém se preocupou em corrigir o erro, evitando que se constatasse que o arquivo (enviado pelo deputado para o site da Câmara) saiu do computador da advogada da Monsanto.

Por conta de sua proximidade com os ruralistas, Vaccarezza foi alvo de protesto do Greeenpeace na Câmara, há poucos dias.


Greenpeace protestou contra Vaccarezza na Câmara

As sementes “Terminator”, também chamadas de “suicidas”, não se reproduzem mais de ume vez e, na prática, tornam o agricultor escravo da Monsanto, de forma ainda mais aguda do que ocorre com as sementes transgênicas tradicionais e os herbicidas equivalentes. Mais informações sobre a Terminator: http://www.aspta.org.br/

Para saber mais sobre as condenações judiciais por conta de práticas muito “éticas” e “socialmente responsáveis” da Monsanto, assista ao excelente documentário “O mundo segundo a Monsanto”: http://www.mefeedia.com/watch/26253257
Leia a matéria do Congresso em Foco que explica em detalhes o caso.
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticia.asp?cod_canal=21&cod_publicacao=35630


Comentário
Vacarezza é daqueles do estilo Palocci: fazem muito mais mal ao PT do que bem.

domingo, 26 de dezembro de 2010

A Falsa comunicação de crime feita por Gilmar Mendes encerra 2010 - por Walter Fanganiello Maeirovitch (Terra magazine)

–1. Todos lembram da indignação do ministro Gilmar Mendes no papel de vítima de ilegal escuta telefônica, que tinha como pano de fundo a Operação Satiagraha.

Gilmar Mendes parecia possuído da ira de Cristo quando expulsou os vendilhões do templo.

A fundamental diferença é que a ira de Mendes não tinha nada de santa.

Ao contrário, estava sustentada numa farsa. Ou melhor, num grampo que não houve, conforme acaba de concluir a Polícia Federal, em longa e apurada investigação.

–2. À época e levianamente ( o ministro fez afirmações sem estar na posse da prova materialidade, isto é, da existência do grampo), Mendes sustentou, –do alto do cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal–, ter sido “grampeada” uma conversa sua com o senador Demóstenes Torres.

Mais ainda, o ministro Mendes e o senador da República, procurados revista Veja confirmaram o teor da conversa telefônica, ou melhor, aquilo fora tratado e que só os dois pensavam saber.

–3. Numa prova de fraqueza e posto de lado o sentimento de Justiça, o presidente Lula acalmou o ministro e presidente Gilmar Mendes. Ofertou-lhe e foi aceita a pedida cabeça do honrado delegado Paulo Lacerda, então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abim).

Em outras palavras e para usar uma expressão popular, o competente e correto delegado Paulo Lacerda acabou jogado ao mar por Lula. E restou “exilado”, –pelos bons serviços quando esteve à frente da Polícia Federal (primeiro mandato de Lula)–, na embaixada do Brasil em Lisboa. Pelo que me contou o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, o delegado Lacerda, no momento, está no Brasil. Apenas para o Natal e passagem de ano com a família.

Conforme sustentado à época, — e Lula acreditou apesar da negativa de Paulo Lacerda–, a gravação da conversa foi feita por agente não identificado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). E o ministro Nelson Jobim emprestou triste colaboração no episódio, a reforçar a tese de interceptação e gravação. Mendes e Jobim exigiram a demissão de Paulo Lacerda.

“Vivemos num estado policialesco”, repetiu o ministro Gilmar Mendes milhares de vezes e dizendo-se preocupado com o desrespeito aos pilares constitucionais de sustentação ao Estado de Direito.

O banqueiro Daniel Dantas, por seus defensores, aproveitou o “clima” e, como Gilmar e o senador Torres, vestiu panos de vítima de abusos e perseguições ilegais, com a participação da Abin em apoio às investigações do delegado Protógenes Queiroz.

Parênteses : Dantas é um homem muito sensível. Está a processar e exigir indenização pecuniária do portal Terra por “ironias” violadoras do seu patrimônio ético-moral. Lógico, todas ironias escritas por mim (Walter Fanganiello Maierovitch) e neste blog Sem Fronteiras.

–4. O grampo sem áudio serviu de pretexto para o estardalhaço protagonizado pelo ministro Gilmar Mendes.

Um estardalhaço sem causa, pois, para a Polícia Federal, nunca houve o grampo descrito nas acusações de Mendes e em face de matéria publicada revista Veja. A revista, até agora, não apresentou o áudio, que é a prova da existência material do crime de interceptação ilegal.

Gilmar Mendes, –com a precipitação e por cobrar providências–, esqueceu o disposto no artigo 340 do Código Penal Brasileiro, em dispositivo que é também contemplado no Código Penal da Alemanha, onde Mendes se especializou:

–art.340: “ Provocar a ação da autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou contravenção que sabe não se ter verificado”.

Trata-se de crime previsto em capítulo do Código Penal com a seguinte rubrica “ Dos Crimes Contra a Administração da Justiça”.

Com efeito. Uma pergunta que não quer calar: será que um magistrado pode provocar a ação da autoridade sem prova mínima da existência de um crime ? Cadê o áudio que foi dado como existente ?

A conclusão do inquérito policial será encaminhada ao ministério Público, que deverá analisar a conduta de Mendes, à luz do artigo 340 do Código Penal.

Sua precipitação, dolosa ou culposa, não será apreciada pelo Conselho Nacional de Justiça, dado como órgão corregedor e fiscalizador da Magistratura.

Nenhum ministro do STF está sujeito ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Como se nota um órgão capenga no que toca a ser considerado como de controle externo da Magistratura (menos o STF).

Viva o Brasil.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Saudades do Império e de Bob Fields – por Felipe Corazza (CartaCapital)


No "Fórum da Liberdade", dividindo palco com elogios ao liberalismo, o príncipe Bertrand de Orleans e Bragança estrela seminário em defesa das “liberdades”.

Logo na chegada a Belo Horizonte, pelo caminho que sai do aeroporto de Confins, um outdoor gigante informa: “Surge um novo líder”. Antonio Anastasia, governador eleito do estado. O imenso cartaz é pago pela prefeitura da vizinha Vespasiano. O “novo líder” é um dos participantes ilustres do Fórum da Liberdade – MG, promovido na capital mineira pelo Instituto Millenium e pelo Instituto de Estudos Empresariais na segunda-feira 22.

Na companhia do advogado Ives Gandra Martins, da senadora ruralista Kátia Abreu, do “príncipe” dom Bertrand de Orleans e Bragança e de outros palestrantes, Anastasia é a segunda atração do cardápio. A primazia na abertura fica para Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, agraciado com o Prêmio Liberdade. O comitê que decide o destino da honraria é do próprio fórum. Acompanhado por seguranças e assessores, Civita chega ao hotel. Um assessor espana-lhe as caspas do paletó, antes da entrada no saguão.

A caminho da sala vip, Civita há de ter notado certos detalhes. Alguns indicavam que a militância da direita aprendeu com a esquerda. A banquinha de camisetas, CDs, adesivos e outros badulaques – indispensável em qualquer evento progressista – ocupa um canto na entrada do Fórum. Mas, no lugar de camisetas com imagens de Che Guevara, pode-se adquirir uma com a efígie de Roberto Campos, ex-ministro e embaixador da ditadura. Generosamente e atenta à evocação histórica, a camiseta cuida de apresentar Campos como Bob Fields, apelido que ganhou por sua afeição às ideias americanas.

Um grupo de jovens, que se autointitulam anarco-liberal, distribui panfletos e um teste para quem quer descobrir sua real posição política. Um dos jovens critica o próprio Fórum: “Os verdadeiros defensores da liberdade não estão aqui”.

Enquanto isso, na entrada do hotel Mercure, manobristas estacionam Mercedes, Porsches e Lexus. De vez em quando, um carro popular. Pouco antes da abertura do evento circulam pelo saguão, fardados e portando crachá vip, dois representantes do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar mineira. Junta-se a eles na expectativa o ex-senador tucano Eduardo Azeredo. Um terceiro fardado chega em carro oficial da corporação. Apesar de ser uma viatura dos bombeiros, o veículo – identificado pelo código CBMG 0493 – é tranquilamente entregue ao manobrista.

Todos acomodados, começa o evento. Discursam os fundadores do Instituto de Estudos Empresariais, Silvia Araújo e Felipe Quintana. Ambos criticam o Estado, o “excesso de regulação”, a “burocracia ineficaz” e os “impostos absurdos”. Terminada a sessão, Civita sobe ao palco para receber o prêmio.

No discurso de agradecimento, loas ao empresariado, e mais algumas palavras mornas. O tom de voz grave, porém manso, altera-se um pouco apenas no final, quando entram na pauta as tentativas de regulação da mídia. São ameaças à liberdade, diz, para satisfação dos presentes. A peroração chega ao ápice com uma citação a Adam Smith: para o boss da Abril, a “mão invisível” do mercado há de regular a mídia. É aplaudido de pé, inclusive pela empolgada espectadora que, segundos depois, vira-se para um repórter e pergunta: “Esse aí que falou, quem é mesmo?”

Sucede a Civita no palco o governador Anastasia. É a primeira voz no recinto a defender um Estado forte – por motivos óbvios. Mas, para não perder totalmente o apoio da plateia, prega uma mudança radical nas estruturas burocráticas, profissionalização e eficácia. Governador da terra da Inconfidência, ele não se esquece da presença, entre os espectadores, de um herdeiro da família real, a quem faz uma saudação de súdito fiel: “Sua Alteza”.

“Sua Alteza” está no fórum para participar do painel Reforma Agrária: Progresso ou retrocesso. Vestido com apuro e com os cabelos grisalhos impecavelmente penteados, o autoproclamado nobre é acompanhado na tarefa pela senadora ruralista Kátia Abreu e pelo professor José Ambrósio Ferreira Neto, coordenador do Movimento Paz no Campo.

Neto é o primeiro a falar. Defende a reforma agrária “nos termos em que está na Constituição”. Quando diz que a reforma é um avanço, especialmente contra os latifúndios improdutivos, discretos protestos surgem entre o público, talvez vindos da plateia anarco-liberal. E o professor cede lugar no palco ao “príncipe”.

Bertrand começa por desautorizar a Carta Magna. Pudera, é a base da República. Para ele, a reforma agrária, “por mais que esteja na Constituição, é contra o direito natural. A propriedade privada é um direito natural que antecede o Estado”. Contra o argumento das terras improdutivas, a lógica é peculiar: “Se todos os produtores plantarem em 100% das terras, faltarão bocas para comer tanto alimento”. Em momento de humor, Bertrand arranca aplausos da plateia, ao chamar de “TerraBras” o programa de auxílio à agricultura familiar. Ao classificar os assentamentos de “favelas rurais”, vai adiante: “Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, logo, inteligente e capaz de decidir. O Estado não pode decidir o que o homem vai plantar ou fazer com suas terras”. Aplausos efusivos.

A senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, soa ponderada ao assumir o microfone depois de “Sua Alteza”. Agradece o convite, evoca Azeredo, “que insistiu tanto” para que ela fosse a Belo Horizonte para o Fórum. A senadora não renega a reforma agrária, apenas exige que seja feita dentro “das regras estabelecidas”. Segue a mesma linha de dom Bertrand e elogia o direito de propriedade, ao qual atribui uma “origem maravilhosa”, e ataca o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra: “O MST usa a bandeira da reforma agrária como pretexto para uma bandeira revolucionária”.

Já se encaminhando para o fim do discurso, a senadora faz uma revelação bombástica para a plateia liberal: “Tenho lido sistematicamente Gramsci, para entender os que pensam diferente de mim”. As gargalhadas do distinto público quase impedem que Kátia Abreu termine a frase. Findo o libelo da senadora, o ex-presidente e príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso prepara-se para subir ao palco e palestrar no encerramento do Fórum da Liberdade. Lá fora, os manobristas agitam-se em aquecimento para a trabalheira que se anuncia.

Delcídio e Mentor montam esquema para deslavar dinheiro – por Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada)

Saiu no Valor Econômico:


Para Delcídio, é o momento de repatriar

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) acredita que o momento vivido pelo país favorece a aprovação de uma legislação que permita a regularização de bens de brasileiros localizados no exterior, apesar do real valorizado. Para evitar uma enxurrada de dólares, ele acredita na eficiência de uma cláusula do projeto de repatriação, que estabelece uma taxa variável de IOF.

“O governo vai poder reduzir e elevar a alíquota para atender os objetivos das políticas monetária, cambial e fiscal”, diz ele.

(…)
Navalha
O projeto é de autoria do senador Delcídio Amaral e do deputado José Mentor.
O senador Delcídio Amaral presidiu a CPI dos Correios e deu ao passador de bola apanhado no ato de passar bola um tratamento VIP, com a providencial ajuda do então senador Heráclito Fortes que, como se sabe, sempre teve relações especialíssimas com Daniel Dantas.
O deputado José Mentor desempenhou um notável papel de transformar em cinzas a CPI do Banestado, aquela que poderia detonar a maior lavanderia do mundo, com a ajuda do ínclito delegado Protógenes Queiroz.
Nas mãos de José Mentor, a CPI teve o sabor de um placebo.
Delcídio e Mentor, agora, pretendem dar uma ajuda providencial a todos os que botaram dinheiro no exterior sem declarar a origem e sem confessar à Receita Federal ou ao Banco Central.
Ou seja, trata-se de um projeto de lei para “deslavar” dinheiro de brasileiros sonegadores.
Esses brasileiros sonegadores estão debaixo da pressão do governo americano, que tem preferência por investidores que declaram a origem de sua fortuna à Receita Federal.
O projeto de Delcídio e Mentor, portanto, é o maior favor que os sonegadores e lavadores brasileiros podem receber de Papai Noel.
Só tem um pequeno problema.
Dólar é a última coisa de que o Governo Dilma precisa.
Ao contrário.
Dólar é o que não falta.
O Real está supervalorizado e essa “deslavagem” do Delcídio e do Mentor seria desastrosa.
O projeto de Delcídio e Mentor conta, desde sempre, com o apoio irrestrito do PiG (*).
E este ordinário blogueiro suspeita que muitos dos clientes do passador de bola apanhado no ato de passar bola sonham com Delcídio e Mentor todas as noites.
Eles são uma espécie de Papai Noel de lavanderia.

Projeto para repatriar até US$ 100 bi vai anistiar corruptos, alertam juízes – por Fausto Macedo (O Estado de São Paulo)

SÃO PAULO - Juízes federais que atuam em processos sobre crimes financeiros e desvios de recursos da União alertam para "efeitos nocivos" do projeto Cidadania Fiscal (354/09), que avança no Senado e contempla com anistia tributária e penal contribuintes brasileiros que repatriarem valores mantidos no exterior e não declarados à Receita. O governo estima em US$ 100 bilhões a fortuna que circula fora do País.
"O projeto é uma vergonha", classifica o juiz Sérgio Moro, titular da 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, especializada em processos contra réus por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes. "Embora a anistia seja destinada a crimes fiscais, de descaminho e financeiros, incluindo a evasão de divisas, na prática vai favorecer todo tipo de criminoso."
Na avaliação de Moro, o projeto poderá contemplar fraudadores do Tesouro e políticos que remeteram recursos públicos para paraísos fiscais. "Um corrupto não vai internar o dinheiro no País declarando ser ele produto de corrupção. Vai ser muito difícil investigar e discriminar a origem desse dinheiro."
O projeto concede extinção da punibilidade dos respectivos crimes contra a ordem tributária e crimes contra a administração pública também relacionados com a retificação da declaração.
Com relação aos bens e direitos declarados, serão mantidas a extinção da punibilidade ou a anistia penal ainda que a autoridade fiscal verifique que o patrimônio do contribuinte no exterior não tenha sido declarado na sua integralidade.
Os magistrados assinalam que o projeto não exige que seja comprovada a origem do dinheiro nem que se esclareça como ele foi parar no exterior. "O ideal seria a comunicação a uma instituição confiável, como o Ministério Público ou a Polícia Federal, para verificação da possível origem e natureza criminosa dos valores, especificamente se provenientes de outros crimes que não os abrangidos na anistia", sugere Moro.
Ao tratar da anistia, o projeto é taxativo. "Torna-se absolutamente imperioso dar ao contribuinte a segurança jurídica de que sua adesão afasta, inequivocamente, a aplicação de penalidades, principais ou acessórias de natureza tributária e, particularmente, de caráter penal."
O projeto é de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS). "Só faz crítica quem não leu o projeto", ele rebate. "Esse dinheiro trazido de volta poderá ser investido em infraestrutura, habitação, agronegócio, ciência e tecnologia." O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator na Comissão de Assuntos Econômicos, recomendou a aprovação e deu vista coletiva.
Pessoa física que retificar sua declaração de IR, ao invés de pagar a alíquota de 27,5%, deverá recolher à Receita, sem multa ou juros, 5% sobre o valor global dos bens ou direitos recém-declarados localizados no País.
Essa alíquota pode cair pela metade caso o contribuinte aplique os valores repatriados em determinadas áreas definidas. No caso das pessoas jurídicas, a regularização se dará pela incidência do IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), com alíquotas de 10% e 8% respectivamente.
A Associação dos Juízes Federais (Ajufe) entregou nota técnica a todos os senadores. "O Brasil não pode aceitar esse tratamento benéfico ao capital que vai para o exterior de forma criminosa, na maioria das vezes fruto da corrupção ou do tráfico internacional de drogas", alerta Gabriel Wedy, presidente da Ajufe. "Essas operações são promovidas por organizações criminosas que fazem a remessa de seus lucros. O dinheiro da corrupção na política brasileira é obviamente encaminhado de forma ilícita. A sociedade não aceita mais esse tratamento privilegiado para corruptos. O projeto viola o princípio constitucional da moralidade."
Os juízes alegam que haverá grande dificuldade para discriminar a natureza e origem do dinheiro repatriado. "Fortalece o mercado negro de câmbio, que é utilizado não só para sonegar e remeter fraudulentamente dinheiro ao exterior por empresários e empresas, mas também usualmente pelo crime organizado e por agentes públicos corruptos em esquemas de lavagem de dinheiro", acentua Sérgio Moro.
"A lição passada aos cidadãos pelo projeto é ‘não declare, não cumpra com suas obrigações que um dia o governo o anistia’", adverte o juiz federal Ivo Anselmo Höhn Junior. "Por mais que a intenção seja a de atrair recursos para investimentos, creio que os prejuízos à moralidade e o incentivo à sonegação não compensam."

O Império, versão 2.0 – por Antonio Luiz M. C. Costa (CartaCapital)

Obama quer a Europa como sócia da hegemonia mundial. Falta combinar com os russos. E não só.

Embora a Guerra Fria e a ameaça do socialismo soviético que inspiraram a criação Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tenham desaparecido de vez em 1991 e suas finalidades tenham se tornado cada vez mais vagas, as cúpulas de chefes de Estado, antes relativamente raras, tornaram-se praticamente anuais desde 2001. As despesas militares de seus integrantes, mesmo sem uma superpotência para enfrentar ou outro objetivo claro a atingir, cresceram para patamares inéditos. No caso dos EUA, superaram os piores anos da Guerra do Vietnã (desde 2003), da escalada militar da era Reagan (desde 2005) e da Guerra da Coreia (desde 2006).
A Otan nunca esteve tão bem armada, mas seus fins nunca foram tão imprecisos. Todas as nações do Ocidente enfrentam problemas financeiros, ansiedade pela escassez de matérias-primas e mal-estar pela perda de peso econômico no mundo em relação às novas potências emergentes, principalmente os BRIC, mas não há mais um desafio ideológico ou uma ameaça explícita que as force a cerrar fileiras em torno dos EUA.
Respondendo a essa crise de identidade, a cúpula de 19 e 20 de novembro de 2010 em Lisboa, mais pomposa que o usual e com medidas de segurança excepcionais (Portugal suspendeu o Tratado de Schengen para bloquear a entrada de ativistas europeus), teve na pauta a redefinição de seu “Conceito Estratégico”. Costuma ser feita a cada década, mas desta vez foi mais ampla.
A organização, cujos integrantes nunca sofreram dificuldades econômicas tão agudas e generalizadas, também nunca se atribuiu metas tão ambiciosas. Pretende criar um escudo antimísseis para proteger toda a Europa até 2018. Além disso, enfatiza a necessidade de agir fora das fronteiras dos integrantes para garantir seu fornecimento e distribuição de energia. Para isso, além de continuar a atuar em regiões que considera vitais para esse objetivo, como na Ásia Central, a organização pretende conquistar parceiros de fora do Atlântico Norte, inclusive a arqui-inimiga de outrora: Dmitri Medvedev tornou-se o primeiro líder do Kremlin a participar de uma cúpula da Otan e foi convidado a “compatibilizar” seu sistema antimíssil com o futuro sistema europeu.
Embora faça uma educada reverência ao sonho do desarmamento nuclear pelo qual Obama foi presenteado com um Nobel da Paz antecipado, o texto aprovado repete Hillary Clinton, segundo a qual “a Otan permanecerá como aliança nuclear enquanto existirem armas nucleares” e o secretário-geral da organização, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, para quem “o sistema antimíssil é complemento da dissuasão nuclear, não substituto” – declaração exigida pela França, que não admite abrir mão de suas bombas atômicas. Ao menos um setor industrial, o bélico, será poupado de cortes significativos em meio à pior crise desde 1929, mesmo se gastos sociais são cortados sem piedade e a existência dessas armas nunca pareceu tão irracional.
Em tese, Otan e Rússia reúnem mais de 95% das armas nucleares do mundo. Se a Rússia não é vista como inimiga, qual o sentido do escudo antimíssil e das 700 a 900 armas nucleares ofensivas do Reino Unido, França e bombas dos EUA na Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália e Turquia? Defender-se das precárias bombas atômicas da Coreia do Norte? Ou dos inexistentes mísseis nucleares iranianos, que Teerã diz não desejar e que as potências ocidentais se dizem determinadas a impedir que se tornem realidade?
Não faz sentido. É preciso ver que a aliança deixou de ser defensiva para ser francamente imperialista. Se não se trata mais do projeto do “século- americano” que Bush júnior levou ao poder em 2001 e Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz e Robert Zoellick tentaram pôr em prática, pretende-se garantir ao menos um “século ocidental”.
Desde o fim da União Soviética, os objetivos geopolíticos entre os integrantes da Otan divergiram em parte. Ex-satélites soviéticos, os novos sócios na Europa Oriental temem o retorno da hegemonia russa, enquanto os países da Europa Ocidental – principalmente a Alemanha reunificada – precisam de Moscou como fornecedora de matérias-primas e combustíveis e mercado para seus produtos e querem a distensão. Ao mesmo tempo, isso os dispensa de concentrar suas forças no front oriental e as libera para intervenções no Sul.
O governo Bush júnior tentou jogar a “nova Europa” (Oriental mais Reino Unido) contra a “velha” a partir da invasão do Iraque, parte de um projeto para impor regimes filo-americanos a outros países do “eixo do mal”, controlar o Oriente Médio, evitar o crescimento de rivais e garantir a hegemonia estadunidense. Para isolar a Rússia, tentou instalar sistemas antimísseis na Polônia e República Tcheca e apoiar movimentos antirrussos na Ucrânia, Geórgia e Ásia Central, enquanto mantinha relações cordiais com a China.
A estratégia fracassou, enfraqueceu a aliança ocidental e aumentou o prestígio dos fundamentalistas no Oriente Médio, às expensas dos EUA e da credibilidade de suas ameaças. Forçado pela realidade a uma postura menos arrogante e mais multilateral, Bush reaproximou-se da França e Alemanha com uma estratégia conjunta de pressão sobre o Irã e recuou ante Moscou ao deixar de apoiar a Geórgia quando esta desafiou a Rússia.
O governo Obama foi mais longe nesse realinhamento. Suspendeu os antimísseis na Europa Oriental, negociou a limitação de armas nucleares com Moscou, não se opôs à ascensão de governos pró-russos na Ucrânia e Quirguistão e ofereceu a Medvedev uma parceria militar. Em troca, pediu a colaboração da Rússia com a guerra da Otan no Afeganistão, fornecendo armas e permitindo a passagem de suprimentos (hoje problemática no Paquistão, onde cresce a oposição militar e popular às ações dos EUA).
Ao que tudo indica, a Casa Branca encara a China como maior desafio. A prioridade é isolá-la: para isso convergem os acordos com Moscou, a cooperação nuclear com a Índia e o apoio formal às aspirações desta e do Japão a assentos permanentes no Conselho de Segurança. Uma convergência militar e geopolítica entre China e Rússia, formalizada na Organização para Cooperação de Xangai (que inclui também repúblicas da Ásia Central), mas ainda limitada, é a maior ameaça à hegemonia dos EUA e da Otan.
Em um mundo de energia e matérias-primas escassas, o apetite crescente de 1,3 bilhão de chineses, mais do que o Taleban, é a real ameaça ao abastecimento dos mais de 800 milhões de norte-americanos e europeus aliados na Otan (ou também 1,3 bilhão, se contados “parceiros” como Rússia, Ucrânia, Suécia, Japão, Coreia do Sul e Austrália).
Não só a África e a Ásia estão na mira: os EUA quiseram estender a jurisdição da Otan para o Atlântico Sul. Rejeitada pelo Brasil (que recusa tratar do assunto enquanto Washington não ratificar a Convenção da ONU sobre direito marítimo que garante a soberania sobre a plataforma continental e o pré-sal), a proposta foi para a gaveta, mas Portugal insistiu em apresentá-la.
Se tudo isso é viável, isso é outra questão. Falta combinar com os russos, como diria Garrincha – e não só com eles. O pacto nuclear negociado por Obama é apoiado por Henry Kissinger e Condoleezza Rice como fundamental para a segurança dos EUA, mas o vice-líder republicano no Senado, Jon Kyl, anunciou que vai bloqueá-lo e o líder Mitch McConnell concorda que a meta mais importante é evitar o segundo mandato de Obama. A Turquia não está satisfeita com um “escudo europeu” que a faz de boi de piranha em um eventual conflito com o Irã, do qual quer se aproximar. A Rússia, que nunca foi uma amadora em geopolítica, não vai pôr todos os seus ovos na mesma cesta e desconsiderar China, Irã, Turquia e o potencial dos BRIC só pelas promessas duvidosas de norte-americanos e europeus, com os quais disputa os recursos do Oceano Ártico. Por enquanto, o novo “Conceito Estratégico” da Otan é mais uma lista de pedidos a Papai Noel do que uma realidade.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A saúde no Brasil e o SUS no novo governo – por Conselho Brasileiro de Estudos de Saúde

No momento em que se forma a equipe do novo governo, manifestamos nossa preocupação com os destinos da saúde no Brasil. Nesses mais de 20 anos da Constituição de 1988 e do SUS, o direito à saúde tem sido violado, postergado e utilizado como artifício para favorecer interesses particulares, sejam eles político-partidários, do mercado, ou mesmo de gestores públicos.

Em reunião noticiada na mídia, 25 médicos “aproveitaram” a ida da presidente a sua consulta regular para falar dos problemas da saúde. Foi uma atitude no mínimo antiética, porque a posição médica foi usada para apresentar opiniões e propostas em um momento de fragilidade de qualquer indivíduo, quando ele é um paciente. Essa é uma entre as várias conexões que temos presenciado na formação do novo governo. Contudo, é preciso que as autoridades eleitas ultrapassem os limites dos inúmeros interesses e negociações ao seu redor e ouçam os anseios e o sofrimento da maioria dos cidadãos brasileiros, relembrando a posição da Sociedade, marcada na Constituição Cidadã de 1988.
A situação da saúde no Brasil é gravíssima. A saúde é ineficaz, de baixa qualidade e penaliza diariamente a população. Os sucessivos governos a defendem, mas a tratam como despesa e como problema. O novo governo tem defendido que quer crescimento econômico associado ao desenvolvimento social. Entretanto, desenvolvimento social não se resume a renda e consumo. Como usufruir dos benefícios do crescimento sem saúde?

As propostas apresentadas durante a campanha da presidente eleita, como a expansão da rede através das Upas, estão longe de resolver o problema. O que o governo vai fazer para resolver as filas, a precária infraestrutura da rede pública, o mau atendimento, a falta de acesso a medicamentos, a falta de atenção básica, a falta de profissionais habilitados, a precarização do trabalho? Esses não são problemas localizados e não podem ser resolvidos de forma isolada. É preciso uma estratégia nacional, organizada e integrada entre os níveis de governo.

O principal problema, já reconhecido pela presidente, é a falta de recursos. O gasto público em saúde é muito baixo (menos de US$ 350 per capita – inferior a Argentina, Uruguai, Chile, Costa Rica e Panamá). Do total de gastos em saúde, menos de 50% são públicos. São números muito abaixo daqueles dos países que tem sistemas similares ao SUS, inclusive na América Latina. Se o governo, em tempos de ampliação do papel do Estado, não aumentou os recursos para a saúde, é preocupante como ficaremos agora, quando os ortodoxos falam em corte de gastos e ajuste fiscal.

Saúde não é gasto, é investimento. O governo federal vem reduzindo sua participação nos gastos em saúde, comprometendo o financiamento do SUS. É preciso aprovar a regulamentação da PEC 29 e garantir recursos mínimos e regulares para a saúde, principalmente do nível federal e dos estados. É preciso acabar com a DRU (Desvinculação dos recursos da União) para a saúde, assim como já se decidiu fazer com a educação, permitindo o aumento de recursos. É preciso fazer valer a cobrança do ressarcimento ao SUS pelos planos de saúde, que se arrasta há anos. É preciso rever os subsídios ao pagamento de planos privados. Porque o Estado pode subsidiar o pagamento de planos de saúde da classe média e alta permitindo o desconto no Imposto de Renda e não pode aumentar os recursos para a saúde? Não será mais racional e eficiente investir na saúde de todos do que nos planos privados de 20% da população?

A experiência internacional demonstra que os melhores indicadores de saúde estão nos países onde foram construídos sistemas universais, públicos e com recursos fiscais. Esses sistemas oferecem mais saúde por menos dinheiro, porque se baseiam em objetivos estritamente coletivos, e não são capturados pelos interesses de mercado. Por outro lado, onde prevalecem os interesses de mercado, a saúde é pobre, mesmo que os gastos sejam vultosos. Vale o caso exemplar dos Estados Unidos. A presença forte do Estado não significa eliminar ou subjugar o mercado, mas sim separá-los de fato. Recursos públicos devem ser usados somente, e tão somente, para objetivos públicos.

A saúde no Brasil está profunda e perigosamente privatizada, e esse é um dos motivos pelos quais ela não avança. E o mais dramático é que sua privatização tem sido feita a expensas da defesa de seu funcionamento. Isso precisa mudar com urgência. Instalou-se no Brasil um discurso catastrófico de que o SUS é inviável como previsto e, “como todos nós defendemos o SUS”, a forma de garanti-lo é repassar serviços integrais ao setor privado, sob a alegação de que contratos estão sendo firmados e fiscalizados. Esse discurso e sua prática encobrem uma rede complexa de interesses de empresas, fornecedores e profissionais, do setor público, filantrópico e privado, intermediados por negociações de toda ordem, que tiram dos gestores públicos qualquer controle sobre a atenção à saúde dos cidadãos. O governo precisa auscultar a sociedade, as centenas de movimentos sociais em saúde do país, que vêm denunciando a falsidade desses serviços. São ineficazes, discriminam os pobres, usam os recursos do SUS para, dentro dos serviços, atender pacientes de planos de saúde, pagam mal e submetem profissionais a condições precárias de trabalho, prejudicando o atendimento. O governo precisa realizar uma avaliação criteriosa das iniciativas de repasse ao setor privado, como OSSs, OSCIPS, cooperativas, etc, e verá que elas não estão garantindo mais saúde à população. O aumento da cobertura é apenas um indicador de melhoria dos serviços, mas de nada vale se o serviço é uma porta a mais, sem resolutividade. Minam-se os recursos públicos, sem garantir mais saúde.

A saúde no Brasil não precisa de mais privado, e sim de mais Estado. Assim como o Estado assume o papel de garantir o interesse público no pré-sal, deveria fazer o mesmo no caso da saúde. Um Estado que recupere o lugar da saúde no desenvolvimento nacional, articulando-a com as políticas de Seguridade Social e com outras políticas afins, como a de meio ambiente. Um Estado que fortaleça a cidadania e que seja capaz de chegar com eficiência e qualidade a todos os cidadãos.

A saúde universal e pública não é um mero discurso, nem uma fantasia ideológica. É uma das experiências mais concretas e bem-sucedidas que a sociedade contemporânea construiu. O Brasil trilhou esse caminho, falta agora acertar o passo, aprofundando e ampliando esse caminho para todo o Brasil e todos os brasileiros. Governo e sociedade precisam levar a sério um debate urgente sobre a saúde que queremos.

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes)

Os Senhores da Mídia - por Ernesto Carmona (blog do Nassif)

Essa reportagem mostra bem o quanto pode ser viciada a informação que nos é fornecida pelos veículos da dita "grande" mídia, ou mídia corporativa nos EUA. Decorre do simples fato de que apenas dez grupos de comunicação são donos da imensa maioria dos veículos de TV (aberta e cabo), rádio, imprensa escrita e multimídia (internet), entretenimento - cinema, música, livros, sem contar participações em diversos negócios, da educação à exploração de petróleo e gás natural.

der de influência desse conglomerado norteamericano sem dúvida ultrapassa o de muitas nações.

Dessa forma, como acreditar que não exista conflito de interesses no jornalismo produzido por este colosso? E não tenha dúvida de que a informação produzida por esses grupos é a mesma que aqui consumimos, pois a mídia corporativa nacional (carinhosamente conhecida como "PIG") nada mais faz senão reproduzir acriticamente seu conteúdo.



Tentarei colocar a segunda parte na próxima semana. O texto original - em espanhol, publicado na RedVoltaire, encontra-se aqui.

*adaptei da tradução google

**legenda da foto: Keith Rupert Murdoch, bilionário australiano e magnata da mídia, controla um enorme conglomerado: centenas de jornais, rádios e televisões são de sua propriedade exclusiva. Em outras palavras, um fabricante de informação que anda de mãos dadas com os seus interesses e seus aliados no poder.

Os gigantes da mídia corporativa encontram-se mesclados às grandes multinacionais

Parte I

Dez megacorporações detém ou controlam os grandes meios de informação dos EUA: imprensa, rádio e televisão. Essa dezena de impérios controla, ainda, o vasto negócio do entretenimento e da cultura de massa, que inclui o mundo editorial, música, filmes, produção e distribuição de conteúdos para televisão, cinemas, Internet e parques tipo Disneyworld, não só naquele país, como na América Latina e no resto do mundo.

Centenas de milhares de norte-americanos, latino-americanos e cidadãos de todo o planeta consomem diariamente – direta ou indiretamente – as informações e os produtos culturais das holdings AOL/Warner Times, Gannett Company, Inc., General Electric, a Companhia McClatchy/Knight-Ridder, News Corporation, The New York Times, The Washington Post, Viacom, Vivendi Universal e Walt Disney Company, os proprietários dos meios de comunicação mais influentes.

Os dez grupos controlam os jornais de maior circulação nacional, como o The New York Times, USA ToDay e Washington Post, centenas de estações de rádio e as quatro redes de televisão com maior audiência em seus noticiários: ABC (American Broadcasting Company, Walt Disney Company), CBS (Columbia Broadcasting System , Viacom), NBC (National Broadcasting Company , General Electric) e Fox Broadcasting Company (da News Corporation).



Quem controla estes meios adquire uma fatia significativa do poder que não emana da soberania popular, mas do dinheiro, e responde a uma intricada teia de relações entre esses meios de comunicação e as maiores corporações multinacionais norteamericanas, como a polêmica petrolífera Halliburton Company, do vice-presidente Dick Cheney, o grupo Carlyle, que controla os negócios da família Bush, a fornecedora do Pentágono Lockheed Martin Corporation, Ford Motor Company, Morgan Guaranty Trust Company de Nova York, Echelon Corporation e Boeing Company, para citar alguns.



O discurso dominante oferecido pelos dez grandes impérios midiáticos oferece propaganda política, forma opinião pública e persuade em favor da ideologia conservadora; justifica atitudes imperialistas como as invasões do Iraque e Afeganistão e, em geral, molda as mentes, faz lavagem cerebral. Em vez de informar o público para que possa ter uma visão crítica e vigilante, o controle da mídia o torna um consumidor passivo de entretenimento e um espectador da política... pela televisão.

O interesse no controle das notícias por parte da mídia mais influente [grifo meu: chamei de mídia corporativa, em diante] começa desde a seleção do que é "notícia", ou seja, as informações que serão liberadas aos cidadãos, incluindo como eles deverão conhecê-la, isto é, a apresentação, o tratamento e a abordagem (enfoque) dos fatos através dos "âncoras” ou apresentadores, das imagens de televisão ou dos textos dos grandes jornais.

Paradoxalmente, estes dez grandes impérios da mídia corporativa mostram os Estados Unidos como uma democracia exemplar, regida pelo chamado "sonho americano de livre mercado" (“sueño americano de la libre competencia”), onde todos teriam "as mesmas possibilidades de triunfar". Provavelmente, existam alguns ingênuos que acreditem nessa publicidade. A verdade é que a esmagadora concentração de propriedade eliminou muitos meios de comunicação locais, em particular estações de rádio, pequenos jornais e grupos familiares de comunicação, fechando postos de trabalho e restrigindo a "liberdade de expressão".

Roma ergueu o Coliseu para oferecer uma diversão sangrenta para as massas urbanas de seu império. Hoje, cada vez que ligamos a TV, recebemos aterrorizados as crueldades da propaganda de guerra do império americano, embora as notícias pretendam mostrar a suposta bondade de seus soldados no Iraque e os filmes de cinema nos torne familiar a morte e a violência desde crianças. Petróleo e recursos naturais para as multinacionais e circo para o povo, parece ser o lema do império, mas agora o circo está instalado nos lares, por vontade de algumas poucas elites globais.

Nos EUA, a informação foi claramente substituída pela propaganda corporativa. Deixou de existir um "direito à informação” garantido pela Primeira Emenda da Constituição. Os cidadãos norteamericanos perderam o direito à informação precisa e oportuna, sem perceber e sem que tenham sido formalmente consultados (? – derogados, no original). As freqüências de rádio e televisão constituem um bem público, de toda a sociedade, mas seu controle passou para as mãos de alguns mega-conglomerados de mídia:

1) AOL/Time Warner Inc., é o maior império da mídia corporativa, conhecida na América Latina pela revista Time, o provedor de Internet AOL, os filmes da Warner Brothers, CNN, TNT e outras empresas que foram fundadas pelo famoso Ted Turner, ex-marido de Jane Fonda. Este império tem times de esporte, como o Atlanta Braves (beisebol), vários canais de televisão, como Cartoon Network, Entertainment Networks e todas as empresas que carregam o “T” de Turner em seu nome: TBS Superstation, TNT e Cartoon Network Ásia-Pacífico, Turner Classic Movies (TCM), Turner Entertainment, Turner Network Television (TNT) e Turner South.

As redes de notícia de TV a cabo CNN, CNN Airport Network, CNN en Español, CNN fn, CNN Headline News, CNN Interactive, CNN Internacional e CNN Radio. É um dos proprietários de Court TV (junto à Liberty Media Corp.), da HBO (Home Box Office), Kablevision (TV a cabo húngara – 53,75%), New York 1 News (canal de notícias 24 horas por dia só para a cidade de Nova York), Road Runner e Time Warner Cable. Produz filmes com a Fine Line Features, New Line Cinema e Turner Original Productions, e os distribui nos cinemas e emissoras de televisão através da Castle Rock Entertainment, Warner Brothers, Warner Brothers Domestic Pay TV, Warner Brothers Domestic Television Distribution, Warner Brothers International Television Distributionl, e outras 14 empresas. Controla a Warner Brothers International Theaters, que possui ou opera vários cinemas em mais de 12 países, e leva seus produtos aos domicílios via Warner Home Video, etc .





O conglomerado tem revistas, gibis (quadrinhos) e revistas como Life, Time, Money e outras publicações, 70 temas diferentes para todos os gostos. Tem cerca de trinta selos/gravadoras como American Recordings, Asylum, Atlantic Classics, The Atlantic Group, China e outros. Publica livros através da Time Life Books, Back Bay Books; BookoftheMonth Club, Bulfinch Press, Children’s BookoftheMonth Club, Crafter’s Choice, History Book Club e duas dúzias de outras editoras. Participa na Amazon.com, MovieFone AOL, CNN Newsroom (noticiário diário para salas de aula) e cerca de quinze empresas de educação online, além de serviços online para AOL.com, Europa AOL, AOL Instant Messenger, CompuServe Interactive Services, Cidade Digital, etc. Ela também opera no ramo de parques temáticos, como Disney World através da Warner Brothers Recreation Enterprises e comercializa com a Warner Bros. Consumer Products.



2) Gannett Company, Inc. reúne os jornais de maior circulação e também engloba emissoras de televisão. Tem os jornais nacionais USA ToDay, USA Weekend, USA ToDay Sports Weekly, USA ToDay Information Network e os serviços de informação Gannett News Service. A lista de jornais locais da holding soma dezenas de periódicos. E com a Army Times Publishing Company produz publicações para consumo de militares, como Army Times, Navy Times, Navy Times Marine Corps, Air Force Times, etc.

No Reino Unido – Grã-Bretanha e Irlanda do Norte – tem Newsquest plc Daily Newspapers, Bolton Evening News, Daily Echo (Bournemouth), e duas dúzias de outros. Na televisão, está presente no Arizona: KNAZ (Flagstaff), KMOH (Kingman), KPNX (Phoenix) e muitos outros estados. Também possui participações em outras empresas, como Cincinnati Reds, através de Cincinnati Enquirer, Classified Ventures Com LLC (propriedade compartilhada com Knight Ridder, New York Times Company, Times Mirror, Washington Post Company, Tribune Company, Central Newspapers Co. y McClatchy Company), Space.com (com a General Electric) e muitos outros negócios.





3) A General Electric é outro monstro que possui, controla ou participa de numerosas mídias importantes, incluindo a NBC News e a rede hispânica Telemundo, sem descuidar dos eletrodomésticos e incursionar na aviação, sistemas industriais e muitos outros negócios. Fundada em 1878 por Thomas Edison, cresceu ao longo dos anos, incluindo interesses na Westinghouse, United Fruit e AT&T. Em 1926 ele formou a National Broadcasting Corporation (NBC), que opera em redes de rádio e televisão. Sua subsidiária RCA controlou a Random House, mas foi vendida em 1980 para S. I. Newhouse’s Advance Publications. Adquiriu em 1985 por US$ 6.300 milhões a parte da RCA sobre a NBC, em 1986, vendeu a divisão de música da RCA à Bertelsmann, e em 1989 e formou a CNBC, MSNBC lançada mais tarde em 1996. Desenvolveu redes de notícia a cabo com a Microsoft, em 1997 expandiu a CNBC para a Ásia e Europa, em 1999 obteve 32% da Paxson Communications e da rede de TV PAX, em 2002, comprou a Telemundo Communications Group por 2,7 bilhões de dólares, um negócio que incluiu a Sony e a Liberty Media Corp. Adquiriu a rede Bravo NetWork à Cablevision e MGM por US$ 1.250 milhões. Em 2002 ele criou a NBC Universal com a Vivendi Universal, adquirindo holdings de entretenimento, incluindo os parques e estúdios de televisão e de cinema Universal Pictures e três canais de cabo.

Em resumo, possui 15 estações de televisão e outras 14 estações Telemundo, produz e distribui conteúdo de televisão com a NBC Universal Television Studio, NBC Universal Television Distribution, CNBC, MSNBC, Bravo, Mun2TV, Sci- Fi, Trio y USA., faz filmes com a Universal Pictures, opera o parque Universal Parks & Resorts, detém 30% da Paxson Communications e os negócios da GE Aircraft Engines, a GE Commercial Finance, GE Consumer Products, GE Industrial Systems, GE Insurance, GE Medical Systems, GE Plastics, GE Power Systems, GE Specialty Materials e GE Transportation Systems.



4) A News Corporation, cujo maior acionista é o australiano-americano-britânico Rupert Murdoch controla a rede de televisão Fox Broadcasting Company, com filiais em praticamente todo os EUA. Ele também tem o canal de notícias Fox News e tudo o que inclua em seu nome a palavra Fox (raposa), com a Fox Sports, e outras empresas que são nomeadas de forma diferente, como o National Geographic Channel, Sky-Directv, e assim por diante. O conglomerado tem uma divisão que publica as revistas TV Guide, The Weekly Standard e Inside Out, entre outros. Para fazer filmes possui a 20th Century Fox, Fox Television Studios e a Fox Searchlight Pictures. No mundo dos livros tem a empresa Harper Collins e outras 40 editoras. Suas revistas incluem os New York Post de EEUU; o News of the World, News International, Sun, Sunday Times e The Times, no Reino Unido e mais de 20 jornais na Austrália.

No final de 2004, Rupert Murdoch, 76 anos, pagou US$ 44 milhões para um apartamento na Quinta Avenida em Nova York, em frente à entrada do Central Park Zoo. Inclui dois andares, 20 quartos, 2.500 m2 (mais 1.250m2 de terraços) com um custo mensal de US$ 21,500. Segundo a revista Forbes, o magnata tem 9 bilhões de dólares e é o bilionário número 73 do ranking mundial de super-ricos. Tem meia centena de estações de televisão por cabo e TV aberta, nos EUA, Europa e Austrália, dezenas de editoras como a HarperCollins Publishers e a Greenwillow Books, para citar alguns, mais de 43 jornais distribuídos nos EUA, Reino Unido e Austrália.



5) A Companhia McClatchy, especializada em jornais e publicações na internet, possuía apenas 12 jornais diários até que em junho de 2006 adquiriu a Knight Ridder, a segunda holding de jornais, com 31 rotativos, incluindo o Miami Herald e El Nuevo Herald. Os novos proprietários conservam 31 jornais diários, cerca de 50 jornais não diários e vários jornais gratuitos, mas, obviamente, fizeram desaparecer vários jornais "concorrentes", quando foram adquiridos. Todos os jornais têm versões on-line, enquanto a empresa opera a McClatchy Interactive, que fornece conteúdos e desenvolve ferramentas de software, tais como Real Cities (http://www.RealCities.com) e classificados (cars.com e apartments.com).



6) O New York Times publica o outrora respeitado jornal novaiorquino de mesmo nome e outros 17 jornais no país, mas também atua em rádio, televisão e outras áreas. Em 2006, a companhia valia 3,3 bilhões de dólares, incluindo The New York Times, The International Herald Tribune, The Boston Globe, mais outros 15 jornais diários, a emissora de rádio WQXR-FM e mais de 30 sites, incluindo o NYTimes.com, Boston.com e About.com.

Opera oito estações de televisão em diferentes cidades e duas estações de rádio em Nova York. Também tem participação no Boston Red Sox, NESN e o canal Discovery Times (50%).



7) O The Washington Post Company abrange negócios midiáticos diversificados e educação, mas sua principal operação é a publicação do jornal homônimo, The Washington Post, a edição de revistas, televisão, cabo, serviços de informação eletrônica e educacionais. Possui o portal Washingtonpost.Newsweek Interactive (WPNI), as publicações subsidiárias online Washingtonpost.com , Newsweek.com , Slate e Budget Travel Online, Express, El Tiempo Latino, The Gazette e Southern Maryland Newspapers, The Herald (Everett, WA) ; a revista Newsweek, Post-Newsweek Stations (Detroit , Houston, Miami, Orlando, San Antonio e Jacksonville) e Cable ONE, que atende o Centro-Oeste, Oeste e estados do sul. A companhia também é proprietária de Kaplan, Inc., um provedor internacional de educação e os chamados serviços "de carreira " destinados aos indivíduos, escolas e empresas. Ele também tem participação acionária no Los Angeles Times, Washington Post News Service e Bowater Mersey Paper Company.

Tem estações de televisão em Detroit, Houston, Miami-Ft. Lauderdale, Orlando, San Antonio e Jacksonville e opera outros negócios, incluindo na área de educação, tais como Cable One (em Phoenix, AZ), Post Newsweek, Tech Media, Newsweek Productions, Government Computer News, GCN.com, Kaplan, Inc. e Post Newsweek Media Tech.



8) A Viacom é proprietária das redes CBS e UPN. Atua na edição, produção e distribuição de filmes, canais de TV à cabo (MTV, Nickelodeon e outras 13 empresas), além da produção e distribuição de TV. No rádio controla a cadeia Inifinity Broadcasting, com uma infinidade de emissoras. Também é a dona da Blockbuster (locadora de filmes), Paramount Parks, Famous Players, United Cinemas International e Famous Music.

A empresa opera mais de 50 canais, incluindo televisão a cabo e rede aberta, produz e distribui conteúdo de televisão com a Spelling Television, Big Ticket Television e King World Productions, faz filmes com a Paramount Home Entertainment e Paramount Pictures, publica livros e revistas através de Simon & Schuster, Pocket Books, Scribner, Free Press, Fireside , Touchstone, Washington Square Press, Archway, Minstrel e Pocket Pulse. Também atua no ramo de lazer para turistas e visitantes com parques, como o Paramount Parks.



9) Vivendi Universal, a proprietária do Universal Studios, Universal Pictures, etc, tem participação na HBO, Cinecanal e outros produtores e distribuidores de conteúdo de televisão, como Universal Television Group, Multimedia Entertainment, USA Networks Inc., entre muitos outros. É dona da revista Rolling Stones, as editoras Larousse, Nathan, Anaya, etc, enquanto dirige empresas interativas de Internet, e dezenas de empresas da indústria fonográfica filiadas ao Universal Music Group, afora numerosos negócios na área de comunicação e entretenimento, como Cinema Internacional Corp., Cineplex Odeon Corp., United Cinemas International, Vivendi Universal, Vivendi Telecom International Cegetel (telecomunicações), Viventures (fundos de capital) e muitas outras empresas de lazer e "varejo".

Para citar apenas alguns outros negócios, possui ou participa da Cinema International Corporation (rede de cinemas - tipo “multiplex”- 49%), Cineplex Odeon Corporation (42%), Duet (serviço de música por assinatura com o Yahoo e Sony), United Cinemas International (-49%, rede de cinemas), a Vivendi Environnement (distribuidora mundial de água, No. 1), Vivendi Universal (que detém 26,8 milhões de ações da Time Warner) e Viventures (fundos de capital e risco).

Também está no ramo de parques de recreação e de varejo, com a Universal Studios Hollywood, CityWalk, Universal Orlando Resort, Hard Rock Hotel, Portofino Bay Hotel, Royal Pacific Resort, Universal's Islands of Adventure, Universal Studios Theme Park, Hotel Port Aventura, Universal Mediterránea (Espanha), Universal Mediterránea Theme Park, Universal Studios Japan, WetnWild Orlando e Spencer Gifts. Ele se juntou a Vivendi Telecom Internacional e Cegetel no ramo de telecomunicações.



10) Walt Disney Company é outro mega monstro da mídia, que controla a rede de televisão ABC e possui e opera mais de cinqüenta estações de rádio e TV. Em TV a cabo inclui a ESPN, The History Channel e cerca de outras cinqüenta empresas, incluídas todas as que usem a palavra “Disney”. Ainda atua no ramo de petróleo e gás natural.

É proprietária e opera estações em Chicago, Nova York e cerca de outras cinquenta cidades dos EUA, participa do cancal de TV a cabo A&E Television (37,5%, com Hearst e GE), ABC Family, The Disney Channel, E! Entertainment (com Comcast e Liberty Media), ESPN Inc., que inclui o Classic Sports Network , ESPN, ESPN2 , ESPN News, ESPN Now, ESPN Extreme (80%; Hearst Corporation detém os 20% restantes), e cerca de outras vinte empresas de televisão e mais de trinta empresas internacionais de cabo.

No mundo literário atua com Hyperion Books, Miramax Books, e Walt Disney Company Book Publishing. Publica revistas com o Magazine Subsidiary Groups, que inclui a ABC Publishing Group, Disney Publishing, Inc., e algumas dezenas de empresas nos EUA e Europa. Negócios multimídia, com as empresas Walt Disney Internet Group, ABC.com, ABC Internet Group, ABCNEWS.com, Disney.com e mais uma dúzia de outras.

É claro, também está presente no ramo de parques temáticos, onde foi pioneira com Disneyland e Disney Worl, com presença nos EUA e Europa, enquanto desenvolve software de jogos de vídeo e CD-ROM), abrange a produção e distribuição de filmes (Buena Vista Home Entertainment, Buena Vista Home Video, Buena Vista International, Caravan Pictures, Hollywood Pictures, Miramax Films, Touchstone Pictures e Walt Disney Pictures.

E Disney se dá tempo para encontrar e explorar petróleo e gás natural, através da financeira Sid R. Bass e opera no varejo com The Disney Store. Na música atua com Buena Vista Music Group, Hollywood Records (música popular e trilhas sonoras para filmes), Lyric Street Records (selo de música country de Nashville), Mammoth Records (selo de música popular e alternativa) e Walt Disney Records. Teatro e esportes: Walt Disney Theatrical Productions, que inclui a produção de versões infantis de seus sucessos como O Rei Leão, A Bela e a Fera e Rei David. Proprietária dos times Anaheim Sports, Inc. e Mighty Ducks of Anaheim, que participa da liga nacional de Hockey.

Tem outros negócios internacionais: Hamster Productions (produção de televisão francesa), Japan Sports Channel, RTL2 (produção e distribuição de televisão alemã), Scandinavian Broadcasting System, TeleMunchen (produção e distribuição de televisão alemã), Tesauro of Spain e TV Sport of France. Para a produção e distribuição de televisão utiliza a Buena Vista Television, Touchstone Television, Walt Disney Television, Walt Disney Television Animation (tem instalações de produção fora dos EUA, no Japão, Austrália e Canadá).

Comentário


No Brasil não é muito diferente, 4 famiglias controlam a mídia nacional: Marinho, Civita, Mesquita e Frias.


Nos estados, há os respectivos nichos onde algumas famílias exercem um terror midiático similar.