Saiu no Valor Econômico:
Para Delcídio, é o momento de repatriar
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) acredita que o momento vivido pelo país favorece a aprovação de uma legislação que permita a regularização de bens de brasileiros localizados no exterior, apesar do real valorizado. Para evitar uma enxurrada de dólares, ele acredita na eficiência de uma cláusula do projeto de repatriação, que estabelece uma taxa variável de IOF.
“O governo vai poder reduzir e elevar a alíquota para atender os objetivos das políticas monetária, cambial e fiscal”, diz ele.
(…)
Navalha
O projeto é de autoria do senador Delcídio Amaral e do deputado José Mentor.
O senador Delcídio Amaral presidiu a CPI dos Correios e deu ao passador de bola apanhado no ato de passar bola um tratamento VIP, com a providencial ajuda do então senador Heráclito Fortes que, como se sabe, sempre teve relações especialíssimas com Daniel Dantas.
O deputado José Mentor desempenhou um notável papel de transformar em cinzas a CPI do Banestado, aquela que poderia detonar a maior lavanderia do mundo, com a ajuda do ínclito delegado Protógenes Queiroz.
Nas mãos de José Mentor, a CPI teve o sabor de um placebo.
Delcídio e Mentor, agora, pretendem dar uma ajuda providencial a todos os que botaram dinheiro no exterior sem declarar a origem e sem confessar à Receita Federal ou ao Banco Central.
Ou seja, trata-se de um projeto de lei para “deslavar” dinheiro de brasileiros sonegadores.
Esses brasileiros sonegadores estão debaixo da pressão do governo americano, que tem preferência por investidores que declaram a origem de sua fortuna à Receita Federal.
O projeto de Delcídio e Mentor, portanto, é o maior favor que os sonegadores e lavadores brasileiros podem receber de Papai Noel.
Só tem um pequeno problema.
Dólar é a última coisa de que o Governo Dilma precisa.
Ao contrário.
Dólar é o que não falta.
O Real está supervalorizado e essa “deslavagem” do Delcídio e do Mentor seria desastrosa.
O projeto de Delcídio e Mentor conta, desde sempre, com o apoio irrestrito do PiG (*).
E este ordinário blogueiro suspeita que muitos dos clientes do passador de bola apanhado no ato de passar bola sonham com Delcídio e Mentor todas as noites.
Eles são uma espécie de Papai Noel de lavanderia.
Projeto para repatriar até US$ 100 bi vai anistiar corruptos, alertam juízes – por Fausto Macedo (O Estado de São Paulo)
SÃO PAULO - Juízes federais que atuam em processos sobre crimes financeiros e desvios de recursos da União alertam para "efeitos nocivos" do projeto Cidadania Fiscal (354/09), que avança no Senado e contempla com anistia tributária e penal contribuintes brasileiros que repatriarem valores mantidos no exterior e não declarados à Receita. O governo estima em US$ 100 bilhões a fortuna que circula fora do País.
"O projeto é uma vergonha", classifica o juiz Sérgio Moro, titular da 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, especializada em processos contra réus por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes. "Embora a anistia seja destinada a crimes fiscais, de descaminho e financeiros, incluindo a evasão de divisas, na prática vai favorecer todo tipo de criminoso."
Na avaliação de Moro, o projeto poderá contemplar fraudadores do Tesouro e políticos que remeteram recursos públicos para paraísos fiscais. "Um corrupto não vai internar o dinheiro no País declarando ser ele produto de corrupção. Vai ser muito difícil investigar e discriminar a origem desse dinheiro."
O projeto concede extinção da punibilidade dos respectivos crimes contra a ordem tributária e crimes contra a administração pública também relacionados com a retificação da declaração.
Com relação aos bens e direitos declarados, serão mantidas a extinção da punibilidade ou a anistia penal ainda que a autoridade fiscal verifique que o patrimônio do contribuinte no exterior não tenha sido declarado na sua integralidade.
Os magistrados assinalam que o projeto não exige que seja comprovada a origem do dinheiro nem que se esclareça como ele foi parar no exterior. "O ideal seria a comunicação a uma instituição confiável, como o Ministério Público ou a Polícia Federal, para verificação da possível origem e natureza criminosa dos valores, especificamente se provenientes de outros crimes que não os abrangidos na anistia", sugere Moro.
Ao tratar da anistia, o projeto é taxativo. "Torna-se absolutamente imperioso dar ao contribuinte a segurança jurídica de que sua adesão afasta, inequivocamente, a aplicação de penalidades, principais ou acessórias de natureza tributária e, particularmente, de caráter penal."
O projeto é de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS). "Só faz crítica quem não leu o projeto", ele rebate. "Esse dinheiro trazido de volta poderá ser investido em infraestrutura, habitação, agronegócio, ciência e tecnologia." O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator na Comissão de Assuntos Econômicos, recomendou a aprovação e deu vista coletiva.
Pessoa física que retificar sua declaração de IR, ao invés de pagar a alíquota de 27,5%, deverá recolher à Receita, sem multa ou juros, 5% sobre o valor global dos bens ou direitos recém-declarados localizados no País.
Essa alíquota pode cair pela metade caso o contribuinte aplique os valores repatriados em determinadas áreas definidas. No caso das pessoas jurídicas, a regularização se dará pela incidência do IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), com alíquotas de 10% e 8% respectivamente.
A Associação dos Juízes Federais (Ajufe) entregou nota técnica a todos os senadores. "O Brasil não pode aceitar esse tratamento benéfico ao capital que vai para o exterior de forma criminosa, na maioria das vezes fruto da corrupção ou do tráfico internacional de drogas", alerta Gabriel Wedy, presidente da Ajufe. "Essas operações são promovidas por organizações criminosas que fazem a remessa de seus lucros. O dinheiro da corrupção na política brasileira é obviamente encaminhado de forma ilícita. A sociedade não aceita mais esse tratamento privilegiado para corruptos. O projeto viola o princípio constitucional da moralidade."
Os juízes alegam que haverá grande dificuldade para discriminar a natureza e origem do dinheiro repatriado. "Fortalece o mercado negro de câmbio, que é utilizado não só para sonegar e remeter fraudulentamente dinheiro ao exterior por empresários e empresas, mas também usualmente pelo crime organizado e por agentes públicos corruptos em esquemas de lavagem de dinheiro", acentua Sérgio Moro.
"A lição passada aos cidadãos pelo projeto é ‘não declare, não cumpra com suas obrigações que um dia o governo o anistia’", adverte o juiz federal Ivo Anselmo Höhn Junior. "Por mais que a intenção seja a de atrair recursos para investimentos, creio que os prejuízos à moralidade e o incentivo à sonegação não compensam."
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