quarta-feira, 7 de abril de 2010

Os anos mais felizes das nossas vidas 2 – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/04/05/os-anos-mais-felizes-de-nossas-vidas-2-a-escola/

O que pensam os estrategistas de Dilma - por Luis Nassif

No quartel-general da candidata Dilma Rousseff não foi possível identificar as supostas preocupações com a campanha de José Serra – que mereceram chamada de capa da Folha.
Embora procurem não supervalorizar as pesquisas, duvida-se do último Datafolha. Considera-se inexplicável o aumento registrado nas intenções de voto para Serra, assim como as explicações do diretor do Datafolha. O aumento dos votos de Serra no Rio Grande do Sul – também considerado inexplicável – explica menos de um ponto do resultado final. Logo, o a melhoria de Serra se deveu a uma inexplicável ampliação da votação em todo o país. Como entender, então, as explicações do diretor do Datafolha, de que a melhora ocorreu por conta de redução das chuvas e do aumento das intenções de voto no Rio Grande do Sul?
Mesmo tomando por correta a Pesquisa Datafolha, o que ela mostra, segundo esse analista:
1. Dilma perto dos 30 pontos, mais ou menos consolidados.
2. Serra com 30 e tantos pontos, mas numa situação volátil.
3. Se se chegar nessa posição no início da campanha da TV – diz o analista – a eleição estará ganha.
Essa conclusão se deve ao fato de que o povão – que é Lula, em grande maioria – ainda não estar participando da campanha.
A fonte menciona análise feita por um dos comentaristas do Blog, que dividiu os votos por faixa de ensino. No ensino superior, Dilma está emparelhada com Serra. No ensino fundamental – onde conta o “recall”, as lembranças de outras campanhas – perde de lavada.
Pois é justamente essa faixa que, quando entrar a campanha e ficar nítida a relação de Dilma com Lula, tenderá a mudar o voto para a candidata.

O discurso de Serra

Não há preocupação maior com o discurso de Serra – de mostrar-se como o pós-Lula, sem desmerecer a contribuição de Lula.
Acham que é o único discurso possível. Não daria para bater de frente com governo.
Serra quer uma campanha cosmética, mas há um problema nisso, diz ele. O PSDB passou sete anos e meio fazendo oposição raivosa, xingando tudo, se opondo a todas as políticas. Foi contra o aumento do salário mínimo, chamou a Bolsa Família de Bolsa Esmola, criticou a formação de reservas cambiais, a diversificação do comércio exterior. Foi contra todo tipo de planejamento, de recuperação do Estado, bateu de frente com Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica, mostrou-se contrário à redução das desigualdades regionais.
Se campanha fosse ele sozinho, teria chance, diz a fonte. Só que haverá, do outro lado, a campanha de Dilma mostrando a esquizofrenia do discurso.

Os fatores de sucesso

No QG de Dilma, considera-se que, dos sete fatores de sucesso em uma eleição, falta-lhes apenas um: o apoio da mídia.
Os demais fatores são os seguintes:
1. Programa: ter o que mostrar.
2. Economia: de um modo geral bastante satisfatória. Vais e chegar nas eleições com índices de desemprego de 7% e PIB crescendo a pleno valor.
3. A aliança com o PMDB, garantindo horário eleitoral.
4. As alianças regionais, garantindo palanques em todos os estados.
5. Recursos de campanha.
6. Militância
A velha mídia continua desfavorável. Mas, comparado com 2002 e 2006 – diz ele – a situação é muito melhor. Já existe uma percepção nítida na opinião pública de que a mídia tem uma atitude permanentemente hostil contra o governo. Boa parcela da sociedade já questiona a mídia, que entra nessa campanha com o mais baixo nível de credibilidade da história.
Nas TVs, já não existe mais o pensamento único, embora a maioria do noticiário ainda seja negativo.
A blogosfera ainda tem o papel de agitação política, diz ele. Não consegue ainda praticar o novo jornalismo, mas consegue mostrar que o atual tem muitos problemas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Estadão recorre à “rede neural” para desqualificar Vox Populi – por Charles Carmo (O Recôncavo)

O PIG a cada dia se supera.

Dilma Rousseff há muito tempo vem subindo nas pesquisas e José Serra despencando. Às vésperas da despedida de Serra no governo paulista, misteriosamente, segundo o Datafolha, o candidato tucano “subiu” 4 pontos e Dilma caiu um ponto, o que supostamente daria ao ex-governador uma “vantagem” de 9 pontos percentuais. Registre-se que o Vox Populi apontou o inverso: Serra estagnado e Dilma Rousseff subindo três pontos, ou seja, um empate técnico.

Até mesmo o Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, ficou perplexo. A pergunta que todo mundo se fazia é o que teria operado este milagre. O que Serra fez para ganhar os 4 pontos? O mistério continua.

Aí, às vésperas da divulgação da pesquisa do Vox Populi, a Folha de São Paulo, dona do Datafolha, resolver, também misteriosamente, “estranhar” o fato de o Vox Populi ter incluído em incluído em seu questionário duas perguntas: se o entrevistado conhece ou não os nomes apresentados e se o eleitor saberia dizer quais cargos cada um dos quatro principais presidenciáveis ocupou.

Você imagina como estas duas perguntas podem fazer Dilma Rousseff ganhar três pontos percentuais? Eu também não. Aliás, nem eu, nem a Folha de São Paulo, que lançou a futrica sem explicar o curioso fenômeno.

Eis que descubro, lendo o Estadão, que o José Roberto de Toledo, tem uma suspeita do motivo que fez Dilma empatar com Serra: a culpa é da “rede neural”. Como? Ele também não sabe, mas afirma que existem “especulações de que a menção e repetição dos nomes dos candidatos, mais o esforço do entrevistado para lembrar-se dos cargos já ocupados pelos presidenciáveis, poderiam, juntos, acionar alguma rede neural que associa o nome de Dilma Rousseff ao governo federal e, por consequência, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inflando sua intenção de voto estimulada”.

Ou seja: segundo os neurocientistas do Estadão, Dilma Rousseff subiu na pesquisa Vox Populi por conta da rede neural.

Não sou um estudioso do cérebro, mas, para mim, uma coisa pode explicar o crescimento de Serra na pesquisa do Datafolha: a população tem raiva dos professores paulistas e adora vê-los apanhando da polícia. É o sadismo pedagógico.

Deve ser uma reação da rede neural àquela nota baixa que o eleitor tirou na prova de biologia.

Arrisco também outra hipótese: a Band virou petista e Boris Casoy deixou de caçar comunistas, como afirmou a revista O Cruzeiro, para aliar-se à Lula e aos demais vermelhos. A Band virou lulista! A única dúvida que tenho é se o Sarney canta a Internacional Socialista no chuveiro.

Para o Estadão, a culpa pelo crescimento de Dilma é dos neurônios dos eleitores.

Enfim, um consenso.

FHC é tratado feito "cunhado que dá vexame": artigo no "Estadão" expõe luta interna entre os tucanos - por Rodrigo Viana (Escrevinhador)

Se já não pode contar com o "O Globo", FHC usa o "Estadão" para atacar tucanos que o isolam: "gente insolente"

Já escrevi aqui que, na imprensa paulista, há uma divisão clara de tarefas: o "Estadão" fala por FHC, a "Folha" é a voz de Serra.

Dizem que a "Folha faz até pesquisas para Serra... Mas não acredito. Deve ser maldade. Já bastam as manchetes e as fichas falsas em primeira página. Não seria preciso manipular pesquisa...

Quanto ao "Estadão", os editores já nem disfarçam mais...

Nesse domingo, FHC estava por toda parte: na página 2, era dele um dos artigos, a pregar a união dos tucanos contra o "autoritarismo burocrático"; no caderno "Aliás", era ele o entrevistado por uma tróica de intelectuais convidados; mas o mais engraçado estava na página A-7, na coluna de Dora Kramer!

Dora Kramer falou como porta-voz de FHC. Mandou recado. Durona, implacável, começou pelo título: "Gente Insolente"...

Calma! Dessa vez, ela não se referia aos "petistas". Dora Kramer falava para o público interno, para o tucanato.

Em suma, a colunista disse que o PSDB só chegou ao poder graças à genialidade de FHC. E que agora trata o ex-presidente como um "cunhado que vive dando vexame". Juro que a expressão é dela. Está no artigo que merece ser lido, como peça de humor.

Aqui, mais um aperitivo: "o tucanatinho [sic] acha que ele não fica bem na fotografia do vigoroso partido onde vicejam próceres cuja capacidade de distinguir credibilidade de popularidade é nenhuma".

A Dora Kramer está com muita raiva. Isso é problema dela.

O interessante é que o artigo revela como estão os ânimos entre os tucanos.

O PSDB tirou FHC de cena. E ele está magoadao. Não aceita ser escanteado desse jeito.

FHC tem a tribuna do "Estadão" e vai usá-la. Para mandar recados - diretamente, ou através de seus colunistas.

O "Estadão" - como vocês devem saber - já não pertence à família Mesquita. Endividado, quase quebrou no fim dos anos 90. Hoje, vive sob intervenção de um comitê de credores, dominado pelos bancos.

Vocês sabem, também, que as relações de FHC com os bancos são muito boas. Há quem diga que o "Estadão" é hoje, praticamente, propriedade de FHC.

Talvez seja apenas uma metáfora.

Quanto ao artigo de Dora Kramer, ali não há sutileza nem metáfota. É pau puro nos tucanos. É fogo amigo, como se vê em mais esse trecho: "

"Esse pessoal [tucanato serrista] lê umas pesquisas, ou­­ve um boboca de um analista, se assusta com os arreganhos de meia dúzia de adversários e acha que is­­so os autoriza a jogar no lixo o respeito devido a quem permitiu que o partido iniciasse sua trajetória de vida pela rampa do Palácio do Pla­­nalto. Para não falar dos comprovados serviços prestados ao país, que em nações civilizadas costumam ser patrimônio preservado.

Lula perdeu três eleições presidenciais, foi muito criticado no PT, mas nos momentos difíceis nunca se viu movimento orquestrado para escondê-lo, tirá-lo de cena como se fosse um criminoso ou portador de doença contagiosa grave.

Se é sobre esse tipo de caráter que o candidato José Serra falou quando se referiu a brio, índole e solidariedade em seu discurso de despedida do governo de São Paulo, há incoerência no conceito."

FHC está feliz com Serra? O que vocês acham?

O artigo de Dora Cardoso, digo, Kramer pode ser lido aqui - http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=989260&tit=Gente-insolente

Passarinho: Geisel mandou matar. Mas o Geisel não foi um grande stadista(*)? - por Paulo Henrique Amorim

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=29418

Indústria naval tem projetos de R$ 14 bilhões - Estado de São Paulo

Com 9 estaleiros confirmados e outros em estudo, excesso de investimento já preocupa técnicos do BNDES


Amazonas, Bahia, Ceará e Alagoas são alguns dos Estados que se beneficiarão do programa de expansão da indústria naval, que já tem investimentos comprometidos de R$ 4 bilhões. O valor corresponde a nove projetos que receberam prioridade para análise pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM) e crescerá após o resultado da licitação para 28 sondas de perfuração da Petrobrás.
A enxurrada de novos projetos preocupa o BNDES, que iniciou um estudo para avaliar qual a real necessidade do parque naval brasileiro.
O objetivo é evitar riscos de empréstimos a estaleiros que terão poucos contratos no longo prazo. “Queremos uma indústria sustentável”, diz o gerente do departamento de petróleo e gás do BNDES, Luiz Marcelo Martins. “É preciso um maior planejamento para evitar situação como a das décadas de 1970 e 1980, com a construção de muitos estaleiros sem demanda de longo prazo”, afirma Martins.
Nove projetos. Os R$ 4 bilhões aprovados pelo FMM referem-se a nove projetos, oito deles de construção de novos canteiros e um de modernização. O maior deles será construído pela Odebrecht na foz do rio Paraguaçu, na Bahia, ao custo de R$ 1,631bilhão. Já o Estaleiro Ilha S.A. (Eisa), do grupo Synergy, prevê a abertura de um canteiro em Alagoas, orçado em R$ 1,222 bilhão.
O fundo passou a operar como uma espécie de BNDES para o setor naval, financiando a construção de embarcações e, agora, a abertura de estaleiros a condições especiais. Os recursos vêm do Adicional de Frete da Marinha Mercante (AFMM), taxa cobrada sobre o frete no transporte marítimo.
Diante do crescimento das consultas, o fundo teve de receber um aporte de R$ 15 bilhões do governo em dezembro. O fundo analisa pedidos de financiamento de R$ 14 bilhões, incluindo estaleiros, navios e embarcações.
Novos investidores. A lista é um bom indicador sobre o futuro da indústria naval, que hoje conta com três antigos canteiros de grande porte no Rio (Mauá, Eisa e Brasfels) e dois estaleiros inaugurados recentemente (Rio Grande e Atlântico Sul). Mas não é um retrato fiel, pois há projetos divulgados que não pediram financiamento e outros que estão sendo negociados para a licitação da Petrobrás.
No primeiro caso, enquadra-se o estaleiro da OSX, de Eike Batista, para Santa Catarina. Orçado em US$ 1 bilhão, o projeto será a porta de entrada no País da Hyundai. “A Hyundai vê o impressionante crescimento do mercado brasileiro de óleo e gás e sente que seria benéfico ter uma base de operações no Brasil”, disse a empresa, em nota ao Estado.
Mesmo caminho pretendem fazer seus principais concorrentes, como Daewoo, Samsung e Jurong, que já esteve no Brasil em parceria com o Mauá. Esse último, por exemplo, obteve em março licença ambiental para a construção de um estaleiro em Aracruz, no Espírito Santo, com investimento de US$ 500 milhões. O negócio é um segundo passo da empresa no País, após desfazer parceria com o estaleiro Mauá, no Rio.
A profusão de novos negócios é reflexo da política governamental de privilegiar as encomendas no Brasil.
“Apenas com o que já se conhece do pré-sal, dá para projetar um potencial de encomendas excepcional”, diz Martins, do BNDES. Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparo Naval (Sinaval), projetam 45 novas plataformas e 70 navios petroleiros somente da Petrobrás.
A carteira de encomendas atual conta com 130 navios, 3 plataformas de produção, 3 plataformas de perfuração. Para 2010, já estão prometidos 17 navios, 9 sondas de perfuração, 8 cascos de plataformas, 2 plataformas e 20 comboios fluviais.


Comentário
Imaginem só se o PAC existisse.

“Nunca um governo fez tanto por nosso setor”, diz fundador da UDR - Valor Econômico

O empresário Luiz Guilherme Zancaner, dono do grupo Unialco, com três usinas de álcool e açúcar, apoia o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e tem confiança de que a pré-candidata do PT à Presidência, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, continue com a política favorável à expansão do setor. Fundador da União Democrática Ruralista (UDR), Zancaner é sobrinho do ex-senador da Arena Orlando Zancaner, mas não poupa elogios Lula. A opção, diz o empresário, é pragmática. Zancaner é diretor secretário da Unidade dos Produtores de Bioenergia (Udop), entidade de usineiros da região Oeste de São Paulo, onde está concentrado o rico e produtivo agronegócio da cana no país.

Valor: Qual é a expectativa que o senhor tem com relação à ministra Dilma Rousseff?
Luiz Guilherme Zancaner: Houve uma sinalização muito boa da parte dela, de continuidade. Não se esperava a crise e o governo Lula ajudou. Essa já é a terceira vez que ela vem à feira [referindo-se à Feicana, feira de negócios do setor em Araçatuba]. Também já estive com ela no ministério.

Valor: O senhor a conhece há muito tempo?
Zancaner: Pouco antes de Lula ser eleito, em 2006, antes do segundo turno, estivemos numa reunião fechada em um hotel em São Paulo. Estavam Lula, Dilma, Celso Amorim, o então ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes. Do nosso setor, estavam eu, Rubens Ometto, José Pessoa, Maurílio Biagi, Eduardo Carvalho e Hermelindo Ruet. Naquela reunião, Lula expôs ao setor o que ele fez e o setor reconheceu.

Valor: Foi uma reunião de acordo?
Zancaner: Lula e Dilma mostraram a afinidade com o setor. O governo patina algumas vezes, por causa da burocracia, mas nós patinamos também na questão do cumprimento dos preços. Falta estoque regulador.

Valor: Estoque feito pelo governo?
Zancaner: A falta de estoque regulador de preços é ruim para nós, para o consumidor e para o governador. Se a Petrobras fizesse parte disso, ganharia dinheiro.

Valor: Como o senhor avalia a atuação do governo Lula no setor?
Zancaner: Na crise, o governo fez a parte dele. Deu crédito, apesar de toda a burocracia para liberar. O governo Lula foi excepcional para o nosso negócio, fico até emocionado. O setor fez muito pelo Brasil, mas o governo está fazendo muito pelo setor. Nunca houve antes política tão boa para nós. O presidente Lula não perde nenhuma oportunidade de ser gentil. Outras pessoas não perdem a oportunidade de serem desagradáveis, arrogantes.

Valor: É sobre o pré-candidato do PSDB á Presidência, José Serra, que o senhor está falando? Ele tem sido restritivo à plantação da cana?
Zancaner: Só posso afirmar que o Serra é um excelente administrador, mas considero que o Serra não vê o setor como o Lula vê. O Lula formou uma equipe boa, como o ótimo ministro da Agricultura, o Reinhold Stephanes. Noto que o Lula fez um governo melhor. O Fernando Henrique Cardoso fez as bases, mas Lula e Dilma construíram os canais conosco.

Valor: E o senhor acha que a Dilma vai dar continuidade?
Zancaner: A Dilma foi muito clara quando esteve aqui, em Araçatuba. A linha é de continuar a política de Lula.

Valor: O senhor esteve com ela?
Zancaner: Sim, conversei com ela. Sinto que a maioria do setor, mesmo com os problemas com o MST, tem afinidade com a ministra e um diálogo muito bom. O governador [que deixou o cargo na sexta-feira] Serra é mais fechado, não temos diálogo com ele.

Valor: O senhor tem diferenças ideológicas com o atual governo e com a ministra Dilma?
Zancaner: Fui fundador da UDR de Araçatuba, em 1988. Sou muito amigo do Ronaldo Caiado. Tenho divergências ideológicas tanto com Lula quanto com a ministra. Tenho divergência em relação ao MST, nessa questão dos direitos humanos, do ministro Vannuchi, a quem sou muito crítico. Acho que nessa questão da anistia, o que passou, passou. Mas se quer revisar a anistia, quem sequestrou, assaltou banco, quem matou também tem que ser julgado. Tem que ter equidade.

Valor: Quer dizer que esse apoio ao governo Lula e à Dilma é uma questão pragmática?
Zancaner: É uma questão pragmática, do nosso negócio. O governo, por exemplo, se preocupa com a desnacionalização do setor, o que é importante para nós. Nessa questão é importante ter equilíbrio, é interessante o capital estrangeiro vir porque melhora o preço dos nossos ativos. E nós precisamos desse capital. Mas precisa ter equilíbrio. O custo de capital deles é muito menor por causa dos juros que eles encontram lá fora.

Valor: O governo poderia oferecer juros mais baixos, no patamar do americano?
Zancaner: Poderia ser juro mais barato do BNDES.

Valor: A ministra Dilma defende o fortalecimento dos grupos nacional do setor de etanol. Qual seria a maneira de fazer isso além de aumentar a oferta de financiamento?
Zancaner: Por que a Petrobras não pode participar dos grupos nacionais? O governo deverá fortalecer e tem condição de dar sustentação dos grupos nacionais para dar equilíbrio ao capital nacional. Hoje, o capital estrangeiro já tem 25% de toda a produção de cana do Brasil.

Valor: Como poderia ser essa participação da Petrobras?
Zancaner: A Petrobras tem mais chance de entrar na produção de etanol, na usina. A empresa já faz contratos de exportação com o Japão, já tem estrutura de distribuição.

Valor: O senhor defende que a Petrobras plante cana ou seja proprietária de terras?
Zancaner: Não, seria uma participação só nas usinas.

Valor: Os usineiros sempre foram adversários do PT. O senhor acha que contraria a tendência?
Zancaner: Temos deputados do PSDB, DEM, PP, PPS. Eles têm atividade conosco. Acredito que o Serra vá sinalizar qual é a política para o setor, o que ele quer para o etanol. O Alckmin [ex-governador de São Paulo do PSDB Geraldo Alckmin] dialogava com o setor, fez um rearranjo do ICMS do setor, fez a lei das queimadas, mas o Serra modificou e diminuiu o prazo para reduzir as queimadas.

Valor: O senhor acha o governo Lula bom, para além do seu setor?
Zancaner: Sou um sujeito de direita, sou a favor da livre iniciativa, mas tenho sensibilidade social. O Bolsa Família mudou o Nordeste. Tinha gente sem dinheiro para comer ou para comprar uma pasta de dente. A situação fora de São Paulo, do Sudeste, é muito diferente. O Brasil ainda tem muita miséria.

Valor: E o senhor tem pretensões políticas?
Zancaner: Por enquanto não tenho nenhuma.


Comentário
Até a direita em estado puro, (esta direita, a despeito dos inúmeros e inúmeros gravíssimos erros que comete, alguma coisa produz é bom que se frise) reconhece os avanços do governo.
Estamos em outro patamar, de fato.
É só não fechar os olhos.

Crescimento consolida índice de desemprego em nível mais baixo – por Sergio Lamucci (Valor)

O mercado de trabalho dá sinais de forte aquecimento em 2010. Em fevereiro, a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas ficou em 7,1%, feito o ajuste sazonal, a mais baixa da série histórica iniciada em 2001, segundo a Rosenberg & Associados. A geração de empregos é bastante significativa, com intensa criação de postos com carteira assinada, e há indícios de escassez de mão de obra qualificada em segmentos como a construção civil. A expectativa generalizada é de que a taxa média de desemprego neste ano ficará abaixo dos 7,9% de 2008, até hoje a menor da série – há quem aposte num número na casa de 7%, como a economista Luiza Rodrigues, do Santander.
Com a consolidação de um crescimento mais elevado e menos volátil nos últimos anos, a desocupação parece ter mudado estruturalmente de patamar, rodando bem abaixo dos cerca de dois dígitos que se observavam até 2006. Para a maior parte dos analistas, essa força no mercado de trabalho ajuda a pressionar a inflação, sendo um dos fatores que levarão o Banco Central a elevar os juros neste mês.
A forte geração de empregos é um dos pontos que chamam a atenção neste ano. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que faz o raio-X nas seis principais regiões metropolitanas e capta também o que se passa no setor informal, o estoque de ocupados em fevereiro aumentou 3,5% em relação ao mesmo mês de 2009. “Na média dos três meses anteriores, o número de ocupados em fevereiro subiu 2,2%. A alta neste ano ficou bem acima da sazonalidade do período”, diz Luiza.
O supervisor técnico da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sérgio Mendonça, ressalta que o crescimento recente da economia se dá com mais força em setores ligados ao mercado interno, como serviços, comércio e construção civil. São segmentos que empregam bastante, diz ele, observando que está em curso uma retomada das contratações na indústria, também nos setores mais dependentes do mercado doméstico. “Outra boa notícia é o aumento expressivo dos postos com carteira assinada.”
O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, diz que o aumento da ocupação espalhou-se por vários setores, com destaque para a construção civil, “em franca expansão”. Pela PME, o número de ocupados no setor cresceu 8,1% sobre fevereiro do ano passado. No setor de serviços, a alta foi de 3,5% e na indústria, de 2,1%.
Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro e fevereiro também retratam a pujança no começo do ano. No primeiro bimestre, o saldo entre contratações e demissões no segmento formal ficou positivo em 390,8 mil vagas. Na construção civil, foram gerados 89 mil postos formais no período, um número expressivo, que ocorreu após o resultado significativo de 2009 – no ano passado, houve a criação de 297.157 vagas no setor, com as demissões superando as contratações apenas em dezembro, mês em que tradicionalmente há perdas de postos de trabalho. “Esse é um setor em que já falta de mão de obra qualificada”, diz a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara.
No Índice Nacional dos Custos da Construção (INCC) de março, o grupo mão de obra subiu 0,4%, alta pouco expressiva, mas que foge à sazonalidade do indicador. Em março de 2008, o aumento desse grupo foi de 0,15% e em março de 2009, de 0,1%. As maiores elevações desses custos costumam aparecer em maio, refletindo os dissídios da categoria. Em São Paulo, a data-base é 1º de maio.
Um dos fatores que explicam o bom momento do mercado de trabalho é a expectativa de que a demanda doméstica continuará firme em 2010 e, possivelmente, também em 2011, ainda que a um ritmo um pouco mais fraco do que neste ano, diz o economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos. Com a perspectiva de um crescimento expressivo do PIB, entre 5,5% e 6%, as empresas fazem mais contratações, para atender à demanda crescente.
Números da Sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV), apontam para alta de 14,6% na capacidade instalada em 2010, a maior em oito anos. Camargo também aponta uma mudança estrutural recente que colabora para a maior formalização do mercado de trabalho brasileiro. Com a entrada em vigor em 2007 da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que instituiu o Supersimples, ficou mais barato para empresas de menor porte registrarem os funcionários.
Em fevereiro, a taxa de desemprego ficou em 7,4% na série original (que não retira as influências sazonais), bastante inferior aos 8,5% do mesmo mês de 2009, período em que o Brasil sofria bastante com a crise. Os analistas destacam que a taxa ficou num nível baixo mesmo com o forte aumento do número de trabalhadores em busca de emprego. A população economicamente ativa (PEA) avançou 2,2% sobre fevereiro de 2009, ritmo bem superior ao 1,1% de janeiro. Com o aquecimento da economia, mais pessoas se dispõem a procurar trabalho, numa redução do chamado desalento. Romão vê uma redução estrutural do nível de desemprego no país, dado o crescimento mais forte que se consolidou nos últimos anos.
Com a expansão significativa do emprego e da renda, vários analistas veem pressões inflacionárias provenientes do mercado de trabalho. Para este ano, Luiza prevê uma alta de 5,5% da massa salarial real, resultado da combinação de um aumento de 3% do rendimento acima da inflação e de 2,4% da ocupação. Em 2009, a massa salarial aumentou 3,1%. O consumidor fica mais propenso a aceitar aumentos de preços, e os serviços (como cabeleireiro, aluguel, conserto de automóvel, mensalidades escolares) ficam mais pressionados.
No Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), os serviços subiram 6,85% nos 12 meses até março, acima da alta de 5,09% do indicador “cheio”. Thaís e Camargo veem na situação no mercado de trabalho um fator importante para o BC elevar juros.
Romão também vê um mercado aquecido, mas faz algumas qualificações. Se o quadro é apertado na construção civil, parece haver alguma folga na indústria de transformação, avalia. Nesse segmento, observa, as contratações subiram com força a partir de agosto do ano passado, mas ainda faltam 211,2 mil vagas para que se recuperem os postos formais perdidos na crise, especialmente entre novembro de 2008 e março de 2009.
Para ele, a taxa média de desemprego neste ano ficará em 7,7%, mais alta que os 7% ou 7,1% estimados por Luiza. Romão trabalha com uma taxa um pouco mais alta, por acreditar que o número de pessoas em busca de emprego vai crescer com força. Ele aposta numa alta de 2,8% para a PEA, abaixo dos 3,2% do número de ocupados, mas um crescimento elevado. Com isso, a taxa média de desemprego não cai tanto nas contas de Romão.
Em 2008, o BC divulgou estimativas de qual seria a “taxa natural de desemprego” no Brasil – aquela que não acelera a inflação. Dependendo da metodologia adotada, ela ficaria entre 7,4% e 8,5%. A taxa dessazonalizada em fevereiro, de 7,1%, já está abaixo até mesmo do piso dessas projeções, o que indicaria situação de pleno emprego.
A taxa natural de desocupação é um conceito bastante controvertido, atacado por economistas como o ex-ministro Antonio Delfim Netto, que aponta as “variâncias gigantescas” que aparecem nas estimativas. Luiza acha que se trata de um conceito válido, mas acredita que o número pode ter caído para 7% ou um pouco menos. O trabalhador hoje é um pouco mais qualificado, o que o torna mais produtivo, diz ela. Romão observa ainda que, no Brasil, a informalidade é grande e o rendimento médio é muito baixo. Com isso, é mais difícil afirmar que a taxa está num nível que acelera a inflação.

A China e a resistência cambial – por Luiz Gonzaga Beluzzo (Valor)

A partir do segundo trimestre de 2009, o comércio mundial começou a emergir (+ 0,5%) do mergulho profundo em que se lançou entre o 4º trimestre de 2008 (-7,8%) e o 1º trimestre de 2009 (-10,7%). Essa modesta estabilização do comércio mundial foi promovida, sobretudo, pelas importações dos países asiáticos que cresceram 7,2% no período enquanto as importações dos países desenvolvidos continuaram a se contrair.
Estudos sobre a evolução do comércio mostram que o plano anticíclico de US$ 580 bilhões (cerca de 12% do PIB) colocado em prática pelo governo chinês impulsionou a demanda doméstica e teve impacto importante nas economias vizinhas. Coreia e Cingapura elevaram as despesas públicas em infraestrutura e estimularam a expansão do crédito. Os efeitos benéficos da estratégia chinesa destinada a enfrentar a crise não pouparam os exportadores de commodities, felizes beneficiários da recuperação dos preços e volumes dos bens destinados ao comércio exterior.
Apesar dessas ações virtuosas, um dos temas do momento é a resistência da China diante das sugestões ou das súplicas para que deixe o yuan flutuar. São cada vez mais frequentes as queixas dos que se julgam prejudicados pela agressiva “invasão chinesa” nos mercados de manufaturas. Não são poucos os países que apontam a “resistência cambial” dos asiáticos como o maior obstáculo à almejada correção dos desequilíbrios de balanço de pagamentos que afligem gregos e troianos no jogo da economia global.
O Tesouro americano ameaça colocar a etiqueta de “manipulador da moeda”, no Império do Meio, ainda que uma fração importante do superávit comercial chinês tenha origem nas exportações das empresas americanas para os Estados Unidos. Seja como for, muitos países estão incomodados com teimosia dos asiáticos que não parecem dispostos a abandonar as políticas de subvalorização de sua moeda.
Os chineses, todos sabem, seguiram a cartilha de seus antecessores asiáticos na busca da industrialização rápida e da graduação tecnológica. Adotaram políticas agressivas de comércio exterior com o objetivo de sustentar estratégias de crescimento acelerado. A busca de saldos comerciais expressivos, com rápido crescimento das exportações, tem o propósito de permitir taxas de acumulação de capital elevadas, acompanhadas forte expansão do crédito e do investimento domésticos.
Nos países asiáticos e, com menor intensidade, na China, o aumento da participação das exportações de manufaturas foi acompanhado por um aumento correspondente na geração do valor agregado manufatureiro mundial. Isso tem uma implicação importante: o valor das exportações se elevou com a maior integração da economia ao comércio internacional e induziu o crescimento da renda interna. Nesse caso, pode-se concluir que houve um “adensamento” das cadeias produtivas domésticas que permitiram a apropriação do aumento das exportações pelo circuito interno de geração de renda e de emprego.
Essas políticas são desdenhosamente chamadas de neomercantilistas porquanto colocam ênfase na obtenção de um saldo comercial favorável e na acumulação de reservas. Na visão contemporânea, tais práticas afetam negativamente o comércio internacional, na medida em que perpetuam desequilíbrios nos balanços de pagamentos de outros países e subtraem liquidez às transações globais.
Em um mundo em que são fortes as assimetrias de poder econômico e financeiro entre as nações, as práticas neomercantilistas permitiram o avanço tecnológico e produtivo das economias em desenvolvimento. Apoiadas em políticas de crédito generosas, as estratégias neomercantilistas alentaram a rápida expansão do investimento industrial e, no caso da China, financiaram a expansão da infraestrutura. A acumulação de reservas elevadas – capturadas por meio dos saldos comerciais – garante o atendimento da demanda por liquidez em moeda forte e assegura a estabilidade da taxa de câmbio.
A revista “The Economist” diz que, depois da crise cambial e financeira de 1997, é compreensível que os países asiáticos desejem manter reservas elevadas para defender suas moedas de futuros ataques. Mas afirma, corretamente, que as operações de esterilização – mediante a colocação de títulos públicos para absorver o “excesso” de liquidez gerado pela formação de reservas – vão se tornando cada vez mais onerosas.
Muitos países da região, inclusive a China, estão estimulando empresas e famílias a adquirir ativos no exterior, como formas de evitar os efeitos monetários da expansão das reservas. Desde 2000, algumas economias asiáticas tornaram-se – no fluxo anual de capitais – credoras líquidas, ajudando a financiar os déficits do balanço em conta corrente dos Estados Unidos.
A economia mundial, depois do forte deslocamento do capital produtivo das últimas décadas, está com capacidade excedente em quase todos os setores. A recessão desencadeada pela crise financeira iniciada em 2007 agravou o problema da capacidade sobrante e são ainda tênues os sinais de recuperação da demanda para os setores mais atingidos. Uma fração importante da nova capacidade criada pelos dois últimos ciclos de expansão está localizada na Ásia. Essa circunstância vai tornar ainda mais acirrada a luta pela conquista de mercados e mais difícil o ajustamento da conta corrente nos países deficitários, particularmente o dos Estados Unidos.
O realinhamento entre o dólar e o yuan, segundo os otimistas, promoveria a ativação das fontes de crescimento domésticas na China e, consequentemente, a moderação da estratégia exportadora chinesa, compensada por um reequilíbrio da conta corrente americana. Mas, os advogados da valorização imediata do yuan (e, consequentemente, da desvalorização do dólar) parecem ignorar as dificuldades da transição de uma economia “exportadora de manufaturas” para uma economia apoiada na expansão da demanda doméstica. As lideranças chinesas sabem que a mudança, se ocorrer, será lenta, gradual e segura.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve mensalmente às terças-feiras.

sábado, 3 de abril de 2010

Um duplo propósito – por Francisco Viana (terra magazine)

Com este título o ex-ministro Maílson da Nóbrega, na busca de atacar o terceiro Programa Nacional de Direito Humanos, do governo Lula, que segundo ele, "contém um amontoado de idéias autoritárias", comete um duplo atentado contra a história, em sua coluna na revista Veja.

Primeiro, escreve que Marx se inspirou em Rousseau e Proudhon na sua crítica à propriedade privada. Rousseau nunca foi um revolucionário. Nunca pretendeu extinguir a propriedade privada. O que advogava era um contrato social nascido da soberania do corpo social, isto é do conjunto da sociedade. Claro, era uma tese avançada para a época, tanto que inspirou a Revolução Francesa.

Mas nem Rousseau, nem Robespierre jamais ambicionaram abolir a propriedade privada. Proudhon também não ambicionava extinguir a sociedade privada e, sim, democratizá-la. Ou seja construir uma sociedade de proprietários. Por isso, Marx com ele rompeu.

Segundo, Marx não "pregou a abolição da propriedade privada e sua coletivização sob controle do proletariado" como escreve o ex-ministro. Na realidade, aquele que ficou conhecido pela política econômica do feijão com arroz, trata a ciência marxiana da mesma forma prosaica, para ser elegante, com que tratou, no passado negócios da economia.

Ao debruçar-se sobre a história e constatar que a luta de classes era o elemento dominante, Marx concluiu pela necessidade de superação da propriedade privada como caminho para a emancipação humana da necessidade do trabalho. A classe operária seria responsável pela transição por uma razão concreta. A propriedade privada dos meios de produção não poderia viver sem a sua antítese, que é o operariado.

Ao contrário, o operariado só poderia emancipar-se e emancipar a humanidade se abolisse a sua antítese, a burguesia proprietária dos meios de produção e, consequentemente, da oferta de trabalho. Seria o começo da história humana, o fim da pré-história.

Essa é em síntese a visão marxiana sobre a candente questão da propriedade. Mas, vale lembrar que Marx inovou apenas na teoria revolucionária. Aliás, nunca fez segredo disso: buscava a verdade, não a novidade.

Na prática, e isso o ex-ministro se sabe faz questão de esquecer, a condenação da propriedade privada tem as suas raízes no cristianismo. Foram os cristãos que primeiro ergueram a voz para condená-la. No Renascimento, floresceram três grandes utopias. Uma revolucionária que levou o teólogo Thomas Müntzer a liderar os camponeses alemães contra os príncipes, senhores da terra.


A rebelião foi feita em nome de Cristo, ocorreu entre 1524 e 1525, custou a vida de 130 mil camponeses, a grande maioria brutalmente chacinada. Thomas More, celebre autor da utopia, também era cristão, mas condenou a propriedade privada. Ou a miséria gerada pelas contradições do capitalismo mercantil no século XVI. Por fim, Campanella, também cristão e, inclusive padre, na sua Cidade do Sol, é veemente na condenação da propriedade privada, acusando-a de corromper os valores essenciais do evangelho.

Tudo isso é história. O fio condutor das críticas à propriedade privada encontra-se na constatação de que a comunidade está acima dos interesses particulares. Em síntese, o poder emana da comunidade, não dos detentores dos meios de produção. O debate em torno deste tema perpassa todo o debate político que vai do renascimento ao século XIX.

E envolve dos liberais aos revolucionários. Um debate que continua atual e que no Brasil dos dias atuais significa uma democracia autêntica, não mais uma democracia de poucos para poucos.

Por que a realidade histórica é apresentada hoje com as roupas de gala do anacronismo? A razão é simples. Há uma tendência em curso no Brasil, muito evidente em parte da mídia, sobretudo em meio a colunistas, de tentar associar reformas sociais ao fantasma do autoritarismo.

O objetivo é claro: semear o incerteza quanto aos rumos do governo, nesse momento em que Lula se prepara para fazer a ministra Dilma sua sucessora. É um movimento em três frentes. Há o movimento protagonizado por colunistas como Nóbrega, tentando confundir um tema profundo, a questão da propriedade, com a profundidade de um pires, o arremedo de explicação da teoria Marxiana.

Soma-se um movimento para rotular a candidata de Lula como terrorista, quando na verdade ela e sua geração foram combatentes pela liberdade. Por fim, alinha-se a tendência de ver autoritarismo por toda parte.

Trata-se de um exercício de ficção para confundir a opinião pública. Pelo visto não tem tido resultado. A economia cresce, o empresariado se fortalece, parcerias públicas e privadas se tornam rotineiras e, o que é mais saudável, vive-se em um ambiente de absoluta tranqüilidade institucional.

O cidadão percebe onde está a verdade, no sentido da realidade dos fatos, e onde está a ficção, a manipulação dos fatos. Tanto que o governo conta com a aprovação de 8 em cada 10 brasileiros. Nada contra artigos como o do ex-ministro Nóbrega, mas seria de bom tom, inclusive por respeito aos leitores, a Veja abrir-se para visões divergentes. Esse seria o verdadeiro caminho para uma imprensa democrática. Mostrar os dois lados de uma mesma realidade. Mostrar um lado só é doutrinação.

Marx foi um grande jornalista. Os opositores do governo Lula teriam muito a aprender com ele. Se assim o fizerem, aprenderão pelo menos a lidar com a robustez dos fatos e a dialética. Não mais recorreriam às máscaras de vidro de fazer da história das idéias políticas mera ficção. Jornalismo é pluralidade, é diálogo. Não o anacronismo do monólogo.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Márcia Denser: Os professores e a real face de Serra (Congresso em Foco)

Desta vez eu canto a bola, coleguinhas & hidrófobos demotucanos, até porque aqui, de Sampa, a porta da realidade não é a Rede Bobo, tampouco as chamadas dos jornalões Folha e Estadão, mas a realidade circundante, a cotidiana, a realidade dos fatos ao meu redor, a mais pedestre e epidérmica. Ei-la: dia 19/3, sexta-feira, tipo 15h, casualmente, desci do metrô na Avenida Paulista (esquina com Brigadeiro Luís Antonio). Metrô lotado, inclusive por professores estaduais que iam à manifestação da categoria. À saída da Estação, eles foram entusiasticamente aplaudidos pelo distinto público circunstante (including me), aquela multidão que habitualmente se espalha pelos corredores e escadas rolantes. Pensei: algo definitivamente está mudando.

Mas existem outras portas da realidade (e da percepção) – os blogueiros do bem da web – Azenha, Eduardo Guimarães, André Lux, Miguel do Rosário, Nassif, Argemiro Ferreira de Nova York, Altamiro Borges, Paulo Henrique Amorim, Celso Lungaretti (que vez-em-quando escreve aqui) e sobretudo ultimamente os editoriais da Agência Carta Maior.

By the way, aviso aos coleguinhas & hidrófobos demotucanos: estou realmente prestando um serviço ao leitor de Congresso em Foco, pois não adianta procurar no site. Os editoriais on-line são renovados dia-a-dia, às vezes a cada doze horas (tipo celular de traficante) e não há arquivo disponível.

“Com arrocho sobre o funcionalismo que presta serviços à população –em especial, áreas da educação e saúde, cujos salários não foram sequer corrigidos pela inflação; com taxa de homicídio em alta no setor da segurança pública; com níveis de aprendizado que fazem um aluno de SP concluir o ensino médio sem ter assimilado nem mesmo o que se espera de uma criança ao final da 8º série; com a aura de gestor eficiente dissolvida nas inundações de verão deste ano em SP; com um legado político cujo símbolo maior é o desmoralizado prefeito de SP, Gilberto Kassab, Serra deixa hoje o governo do Estado para assumir oficialmente o papel de líder da oposição conservadora ao governo Lula. Uma frente de sindicatos e organizações populares saudará o bota-fora do candidato demotucano com manifestações na Av. Paulista, nesta quarta-feira.” (Carta Maior – 31/03)

“76% dos brasileiros consideram o governo Lula ótimo ou bom. Desse total, 33% declaram voto em Dilma; 32% em Serra. Detalhe: 42% do eleitorado ainda não sabe que Dilma é a candidata de Lula, embora nos levantamentos espontâneos 23% já manifestem intenção de votar na ministra, num candidato de Lula ou nele próprio. O Datafolha, naturalmente, não avalia se o eleitor sabe que Serra é o líder da oposição conservadora a Lula e ao seu governo, detalhe que o candidato demotucano procura dissimular de maneira sebosa e oportunista. Esse esclarecimento pedagógico caberá à propaganda eleitoral e ao próprio Presidente Lula.” (Carta Maior – 29/03)

“É fato que a categoria (dos professores), de 230 mil pessoas, ganha pouco e não teve nos últimos anos nem direito à reposição da inflação. Existe, pois, uma demanda material, antes de ser ‘ideológica’. A verdade é que José Serra dispensa aos grevistas exatamente o mesmo tratamento de que julga ser vítima. Demoniza, desqualifica, não reconhece os professores como interlocutores e parte de conflitos próprios do jogo democrático. Recusa-se a conversar porque são petistas, porque estão a serviço da campanha adversária.Deve ser fácil governar São Paulo tendo a Assembléia Legislativa a seus pés. Mas, sempre que a política não se desenrola entre quatro paredes, com atores previsíveis, Serra se revela inábil. Em 2008, sua condução desastrosa da greve da Polícia Civil, recusando-se ao diálogo, desembocou numa batalha campal com a PM a poucas quadras do Bandeirantes. Desde então, pode-se dizer que Serra não aprendeu nada.” (Folha pag.2 –até tu?! — sobre a greve do professorado paulista que tem assembléia hoje às 15 h em frente ao Palácio dos Bandeirantes; CartaMaior, 26/03)

“Exceto sob Vargas, São Paulo quase sempre subordinou a federação a seus interesses, o que ocorreu de forma visceral sob FHC. Isso deixa marcas de ressentimento e aprendizado. A plutocracia paulista tem hegemonia quando mandam os ‘livres mercados’ — leia-se, seus interesses hegemônicos calcificados; perde espaço quando o planejamento estatal reacomoda interesses regionais e redistribui os benefícios dos fundos públicos, como ocorre agora com o PAC. Serra, independente do que ele diz que pensa, ou do que os seus amigos pensam que ele pensa, é o representante do conservadorismo paulista que não une o Brasil; aliás não une nem o PSDB -vide Aécio. O ‘desenvolvimentismo de boca’ do governador de SP –ironia de Maria da Conceição Tavares– na verdade nunca passou de um fiscalismo engajado na defesa da hegemonia quatrocentona, contra as urgências do restante do país.” (Carta Maior e a difícil tarefa da coalizão demotucana de transformar um cavalo de tróia da plutocracia paulista em presidente de todos os brasileiros, 15/03)

Ouvi no rádio que os professores, através do seu sindicato, serão processados judicialmente por Serra & Asseclas “por usarem a greve com fins eleitorais”. Mas é claro que existe, não exatamente “um fim” (apoiar outro candidato), como querem Serra & Asseclas, antes um “oportunismo eleitoral normalíssimo” – você não usaria se estivesse na pele deles? – cujo objetivo óbvio seria obter um aumento do agora ex-governador. Ou seja, descer o cacete nos manifestantes e depois processá-los judicialmente, este é o modus operandi exemplar dum candidato a presidente que, em ano eleitoral, até por razões estratégicas, deveria mostrar sua face mais amável?

Então como será – parafraseando o título dum texto de Ivan Ângelo – sua face horrível?

*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A Ponte das Estrelas (1990), Toda Prosa (2002 – Esgotado), Diana Caçadora/Tango Fantasma (2003,Ateliê Editorial, reedição), Caim (Record, 2006), Toda Prosa II – Obra Escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suiça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos – O Vampiro da Alameda Casabranca e Hell’s Angel – foram incluídos nos 100 Melhores Contos Brasileiros do Século, sendo que Hell’s Angel está também entre os 100 Melhores Contos Eróticos Universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUCSP, é pesquisadora de literatura, jornalista e curadora de Literatura da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.

Os anos mais felizes de nossas vidas - por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/03/31/os-anos-mais-felizes-de-nossas-vidas-1/

Governador Zezinho faz operação heróica para salvar vida de professores – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/03/31/gov-zezinho-faz-operacao-para-salvar-vida-de-professores/

O bê-a-bá da manipulação jornalística – por Luis Nassif

Dois anos atrás, apenas jornalistas captavam as maneiras de manipular a informação. Hoje, tornou-se um conhecimento assimilado pelos melhores leitores.

Por Renato Lira

Nassif e malungos.

Algumas constatações minhas (como se fosse surpresa) para confirmar o que está escrito no post do Jorge Furtado:

Na CBN:

“Partidos de oposição farão representação no TSE contra Lula e Dilma, acusando-os de ação eleitoreira por ocasião do lançamento do PAC 2″.

A reportagem da CBN ouviu os líderes dos 3 partidos: PSDB, DEM e PPS. Pelo governo a reportagem disse apenas que “o governo nega a intenção eleitoreira do evento”. Mas sonora de governo,para rebater as críticas da oposição, nada.

Outra da CBN:

“Erenice Guerra, nova ministra da Casa Civil responde a acusação de confeccionar dossiê contra políticos de oposição e contra Ruth Cardoso”.

Aquele pantomima fajuta do dossiê, lembram?

Outro dia, uma repórter da CBN fez o seguinte relato de uma inauguração onde estavam presentes Lula e Dilma, no Rio :

“A todo momento ouviam-se os cantos de ‘Olê, Olê, Olá, Dilmá, Dilmá…”

O tom da repórterda CBN era nitidamente direcionado a que o ouvinte fosse levado a entender de que era um palanque eleitoreiro do governo, e não uma solenidade de inauguração de uma obra do PAC.

Outra:

“O governo contesta os números da oposição, afirmando que 40% das obras do PAC estão prontas e a maioria das outras estão em andamento, mas segundo o site .
Contas Abertas, só 11% estão prontas ou em andamento”.

E tome sonora com um diretor do Contas Abertas.

Vale lembrar que o Contas Abertas é ligado ao PPS, criado por membros do PPS, alguns deles aparecem em gravações do Durval Barbosa, pegando grana do mensalão do DEM. Um dos moços chegava às gargalhaas ao pegar a grana.

Atualmente, a CBN vem fazendo uma série sobre as escolas técnicas federais, sempre destacano aspectos negativos, sempre com críticas, como se nada prestasse nas escolas técnicas federais.
Uma que vi no Jornal Hoje… de hoje, na Globo:

O helicóptero da Globo entra ao vivo sobrevoando a obra do rodoanel inaugurada esta semana pelo Serra, uma ponte sobre a Represa Billings, se não me engano.

Não me lembro da Globote filmado nem com minicâmera nenhuma obra do PAC.

Obras gigantescas, como as da transposição do rio São Francisco, ou da ferrovia Transnordestina. Para a Globo e o resto do Partido da Mídia-Latrina, essa obras ou não existem, ou são irrelevantes diante das monumentais obras demotucanas em Sampa.

Quando fala do PAC, o partidoda mídia ou diz que é obra inacabada ou “vetada” pelo TCU por “indícios de superfaturamento” com os habituais contorcionismos matemáticos para dar veracidade às “denúncias”.

É bom que saibamos que o TCU não veta nada, apenas dá pareceres ou recomendações; que o TCU é composto em sua maioria por ex-senadores de partidos hoje na oposição, especialmente o DEM; que “indício” não é certeza, e que, por isso mesmo, não se pode, nem se deve, paralisar obras por causa de “indícios”.

E por aí vai a toada do finalmene assumido Partido de Oposição da Mídia, ou PIG, Partido da Mídia-Latrina, cada um que escolha a denominação.

EVOÉ!!!