sábado, 30 de março de 2013

Mortal Kombat - Raiden: o deus do trovão - por Esau Murga (Arte digital - Coolvibe)

Requião detona mídia, governo Dilma e o coro sinistro dos tucanos - por Vi o mundo

Senhoras e senhores senadores, venho hoje a esta tribuna para fazer uma confissão: eu confesso que tenho medo de fantasmas. Esse pavor acentuou-se em minha recente viagem à Polônia e à Suécia. Longe do Brasil, sob o frio europeu, com temperaturas nunca acima do zero, frequentando ambientes já antigos antes que Cabral aqui aportasse, elevou-se-me o terror às almas penadas.

A cada notícia do Brasil, especialmente as notícias sobre a economia nacional, sobressaltava-me com o desfile dos espectros que emergiam da tela do computador, da tela da televisão, da tela do celular, das páginas dos jornais, dos boletins e releases dos bancos, corretoras e empresas de consultoria, que a nossa gloriosa mídia usa como fonte primária.

Como no filme “Poltergeist”, um dos clássicos do cinema de terror dos anos 80, as assombrações surgiam, reproduziam-se, envolviam-me. Mesmo que fantasmagóricas, ilusivas, era possível reconhecer as aparições.

E lá vinham os avejões dos irmãos Mendonça de Barros, o Luiz Carlos e o José Roberto. O primeiro, nada amistoso para a circunstância de desencarnado, interpelava a presidente Dilma, acusando-a de impor “condições inaceitáveis” às concessionárias privadas. Nos limites da irresponsabilidade, reivindicava “condições de mercado” para as privatizações petistas, semelhantes às da entrega da telefonia, da Vale, das ferrovias e comezainas da espécie, como diriam os portugueses.

Ainda dando de dedo na presidente, vi esfumar-se o Mendonção, e dá-se o aparecimento de José Roberto. Suas apóstrofes dirigem-se ao “modelo do setor elétrico” do atual governo.

As reprimendas foram tão incisivas que, assustado, vieram-me à lembrança aqueles anos, entre 1995-2002, quando o Brasil quebrou três vezes, e não foi possível ver todos os estragos da débâcle porque houve um apagão, tão denso que jornais, televisões, rádios não puderam noticiar, por falta de luz e, certamente, também para não espalhar o medo antipatriótico entre os brasileiros. Afinal o patriotismo é um recurso à mão, quando faltam razões, como nos exemplifica aquele jornal a serviço do Brasil.
Mal se evaporam os Mendonças, emergem do vazio as barbas brancas de Gustavo Loyola, tantas vezes colocadas de molho. Professoralmente, elas advertem: o Brasil não está preparado para conviver com taxas de juros estruturalmente menores.
Proclamada a nossa incapacidade atávica de se libertar dos usurários, as barbas do ex-presidente do Banco Central desmancham-se em mil fios. Enquanto opera-se o prodígio, coça-me uma pergunta: “Seriam os ares tropicais ou a nossa tão celebrada mulatice responsáveis por essa inabilitação a desenredar-se da agiotagem?”.

Pela janela do hotel em Varsóvia via a neve cair e aquela chuva branca produzia a ilusão de novos fantasmas.

Agora vinham em cortejo, esvoaçando, voltejando, rodopiando, bailando na noite fria, de fraque e cartola, pois era um cortejo de banqueiros, embora, embaçando-se no fundo da cena, parecia-me que alguém vinha a cavalo, pelo porte um puríssimo árabe. Banqueiros, corretores, financistas, ex-presidentes do Banco Central. Enfim, uma finíssima coleção de espectros.

Não consegui identificar todos. Goldfarb? Arida? Lara Rezende? Gustavo Franco? Bacha? Ou aquele lá poderia ser Salvatore Cacciola?

Seja como for, como um jogral ou o coro sinistro de uma tragédia grega, invectivavam contra o ministro Mantega, a presidente Dilma, o PT, o Lula acusando-os de não entender nada de economia, de” ignorantes dos fundamentos macro-econômicos”, de remendões pretensiosos que ultrapassaram os limites dos chinelos, de perdulários, dissipadores da burra pública.

Um deles, não consegui identificar quem, embora uma vozinha miúda o traísse, gritava: “E a inflação? O que é que o PT tem a me dizer da inflação? Hein, hein?”. A que outro fantasma atalhou: “E a inadimplência? E a inadimplência? Não esqueça a inadimplência”.

Quando é que vai parar essa gastança dos trabalhadores? As famílias já estão muito endividadas!”.

E eis que ouço um “oh!” extasiante, comovedor. Os espectros financeiros apartam-se reverentes e, no centro da fantasmagoria, surgem Milton Friedman e Eugênio Gudin, uma visagem tão inesperada que me paralisa. De que profundezas, de que ideias tão fossilizadas ergueram-se?

Pontificais, recitam a litania: corte dos gastos públicos, redução do consumo, enxugamento do crédito e elevação dos juros como mecanismos de combate à inflação, contenção dos aumentos salariais, flexibilização das leis trabalhistas, abertura ilimitada ao capital estrangeiro e à remessa de lucros para o exterior, privatizações, terceirizações, concessões….. …..e, recitando a chorumela, apagaram-se na noite tenebrosa.

Enquanto Friedman e Gudin se desmancham, o coro financeiro, agora encorpado por notáveis da oposição, pelos “especialistas” ouvidos todos os dias pela GloboNews e pela CBN, a cada meia hora, por colunistas multiuso que nada entendem de tudo, o coro de novo extasia-se, deleita-se, inebriado.

À medida que se produz a esfumação, revelasse-me certa confusão, transparece-me que os fantasmas inquietam-se e vejo, tenho a ilusão de ver, que uma nova assombração, toda esbaforida, quer se incorporar ao cortejo, talvez querendo ser o filho nessa trindade. Não deu tempo. Chegou atrasado. E vejo toda a frustração no rosto mal delineado de Maílson da Nóbrega.

Nem bem se dissolve o coro dos financistas, colunistas e avizinhados, vejo formando-se novo préstito cantante. São editorialistas dos jornalões, apresentadores e comentaristas de televisão, economistas e analistas do mercado, e os inefáveis oradores da oposição.

Esvoaçam, adejam sem qualquer graça ou arte, desafinam na cantoria, um cantochão maçante, cujo estribilho repete sem parar, como o corvo de Poe, “contabilidade criativa”, contabilidade criativa”, “contabilidade criativa”.

O coro eleva o tom, vocifera protestos, vergasta o lombo do ministro Mantega com adjetivos contundentes, pontiagudos. Deploram o que chamam de fraude, desonestidade, falta de transparência. Enquanto o pobre ministro e a própria presidente vêem-se na roda, espetados por tanta indignação, eis que surge um estraga-prazeres para espantar os fantasmas. É o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, ele faz voltas em torno dos abantesmas com um cartaz, onde se lê: “Lembrem-se dos anos 90”.

Curioso pela advertência do economista, acuro os ouvidos para entender o que ele diz. Mas o vozerio das assombrações é muito forte, o tom elevado. A muito custo distingo parte do que ele diz. E ele diz: “Não é novidade o uso de receitas não recorrentes para engordar o superávit primário. Assim foi feito nos anos 1990, na “era das privatizações”. Isso não impediu a escalada da dívida pública entre 1995 e 1999. Nesse período a dívida saltou de 29 por cento por cento do PIB para 44,5 por cento”.

Estarreço-me com a revelação. “Contabilidade criativa” nos dois períodos do governo tucano? O PSDB também fez isso? Não posso acreditar”.

Mas, sendo verdade, o editorial do “Estadão”, afirmando que a presidente Dilma, ao fazê-lo, deu “mais uma prova do firme compromisso com o atraso e o subdesenvolvimento” também se aplica ao presidente Fernando Henrique Cardoso? Seria sua Excelência também vanguarda do atraso e do subdesenvolvimento como os Mesquitas, ou seja lá quem hoje é o dono do jornal, disseram?

Doem-me ainda nos ouvidos os agudos da exasperação, da santa fúria do jornalão: “As bases de uma economia saudável, promissora e atraente para empreendedores de longo prazo estão sendo minadas por uma política voluntarista, imediatista, populista e irresponsável, embalada num mal costurado discurso desenvolvimentista”.

Senti pena do couro dos senhores Pedro Malan, Gustavo Franco e outros criativos condutores da política econômica no governo FHC; com que marteladas foram agraciados pelos barões paulistanos.

O constrangimento provocado pelo economista palmeirense, reavivando fatos tão recentes, opera como exorcismo, pulverizando o cortejo fantasmático.

As assombrações, no entanto, não se aquietam. Deixo a Polônia, despeço-me de Varsóvia que, tão coberta de neve, parece-me ilusória, irreal, fictícia para quem acostumado aos trópicos. Na Suécia não faz menos frio. Também Oslo envolve-se na neve.

As noites ermas, frias e escuras são um convite à visitação das almas penadas.

E elas não se fazem de rogadas e logo me assombram, espantam-me, assustam-me. Vejo ajuntamentos de pessoas, desfiles. São imagens muito antigas. Os pelotões passam, os marchadores erguem o braço direito, gritam uma saudação indígena; no alto das mangas de suas camisas, um símbolo, uma letra, o sigma, a décima oitava letra do alfabeto grego, também usada como símbolo matemático, representando somas ou variáveis estatísticas.

Tenho a ilusão de que o sigma desgruda das camisas verdes, gira em um caleidoscópio, e compõe como que uma coroa de letras e transforma-se, agora, em símbolo da mais poderosa usina da idéias conservadoras do Brasil, o think thank Instituto Millenium. A visagem deságua em pesadelo quando o subconsciente traz à memória siglas como IPES, Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática, GPMI, Grupo Permanente de Mobilização Industrial, usinas de idéias antipopulares, antitrabalhistas, antissociais, antidemocráticas, antibrasileiras, anti-humanas.

IPES, IBAD, GPMI, anauê, sigmas…… que pesadelo!

Na derradeira noite sueca, fria, nebulosa, inóspita, os fantasmas se divertem em me pespegar outra pantomima. De novo, um imenso cortejo espectral. Não me é muito difícil distinguir as fisionomias dessas almas aflitas que flutuam entre os fantasmas dos terríveis vikings e o espírito inquieto de Gunnar Myrdal, desolado com o afastamento de suas idéias.

Furando as brumas polares, penso ver plataformas de exploração de petróleo, espalhando-se mar adentro; tenho a ilusão de navios, imensos petroleiros; desorientam-me, em seguida, nova dança de símbolos, logotipos que se sobrepõem, dissolvem-se, anulam-se .

E das águas glaciais, das geleiras tão áridas quanto o ardente Saara ilumina-se um dístico, heráldico: Petrobrax.

À medida que a marca toma conta do campo visual de meu pesadelo, ouço vozes, discursos indignados, e leio manchetes de genuíno e antigo verde-amarelismo em defesa da estatal. E fico confuso com essa troca de papéis entre os fantasmas da pátria tão distante.

Teria ocorrido alguma revolução? Alarmei-me.

Esses foram os últimos espectros que me rondaram e me assombraram no velho continente. Aportado o Brasil, de outra qualidade são os meus espantos.

Aterroriza-me não a contabilidade criativa, e sim a ideologia do superávit primário.

Desassossega-me não o aumento da inflação, e sim corrosão de nossa base industrial, sucateando-se ao céu aberto da incúria governamental.

Alvoroça-me não o crescimento da inadimplência, e sim a fragilidade de uma política econômica que se ancora no consumo, no crédito consignado e na exportação de commodities.

Assusta-me não a expansão dos gastos públicos, e sim a paralisia das obras de infraestrutura; a execução lentíssima, sonolenta do Orçamento da União.

De que têm medo os nossos próceres ministeriais? Intimidam-nos a insepulta Delta ou o libérrimo Cachoeira?

Apavora-me não o desacordo em relação às metas, e sim, as próprias metas, camisa de força imposta pelo mercado, pela financeirização da economia, que certa esquerda transforma bandeira para ser vista como “responsável”, “moderna”.

Argh!!!

Estarrecem-me não as privatizações, e sim o abuso, o desregramento das concessões, superando até mesmo toda fobia privatista de Margareth Thatcher, como se vê agora no caso dos portos.

Assombra-me não o picadinho variado das medidas do Ministério da Fazenda, e sim a falta de uma Política Econômica que se enquadrasse em um Programa para o Brasil, doutrinariamente à esquerda, fundado na solidariedade, na distribuição da renda e dos benefícios do avanço tecnológico, na prevalência, sempre, dos interesses populares e nacionais.

A oposição, a direita sabe o que quer. Não se apoquenta com dúvidas, receios ou escrúpulos; quando muito, disfarça o tom para não assustar, e açucara o óleo de rícino com que, no poder, trata as crises e os interesses conflitantes.

São dessa ordem, são dessa qualidade os meus espantos, os espectros que me assombram, assustam e inquietam. E até quando viveremos nesse tormento, sem rumo, sem qualquer garantia, sem nenhuma segurança?

E a única segurança é um Programa para o Brasil.

Fotografia - por National Geographic

As patifarias cometidas em nome da liberdade de imprensa – por Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

Regular a mídia é vital para torná-la melhor, e falar em ‘censura’ é cinismo paralisador.

E eis que o mundo todo discute os limites da mídia.

A discussão mais rica se dá no Reino Unido. O juiz Brian Leveson fez recomendações depois de ficar mais de um ano ouvindo pessoas de alguma forma envolvidas com a mídia. Políticos, jornalistas, donos de empresas de jornalismo, celebridades cuja privacidade desapareceu, cidadãos comuns cuja vida a imprensa transformou num inferno – Leveson teve material para publicar um relatório de 2 000 páginas.

A recomendação principal: a formação de um órgão regulamentador independente. A auto-regulamentação foi um fracasso, e as provas disso estão no comportamento da própria mídia britânica.

Para ficar num só caso. A ex-rainha dos tabloides, Rebekah Brooks, a queridinha de Rupert Murdoch, está encrencadíssima na justiça britânica. Rebekah está sendo processada sob duas acusações: a) esconder provas no caso de invasão de caixas postais; b) subornar policiais.

Fiscais não se auto-fiscalizam. Exclamação.

Dias depois de divulgado o relatório, o premiê David Cameron se reuniu com editores de jornais.

Cameron, basicamente, disse a eles que se mexam. Se têm alguma proposta a fazer, eis a hora, porque “o relógio está correndo”.

Cameron deixou claro seu apoio à essência das recomendações de Leveson.

1) A independência do novo órgão regulador em relação às empresas de jornalismo. A independência deve ser estendida, naturalmente, a outros centros de poder. O órgão não pode estar sob a tutela nem do Parlamento e nem do governo. Mas de novo: também não pode estar sob o controle das empresas de mídia.

2)  Multas na “casa do milhão de libras”, quando for o caso.

3)  Retificações rápidas e em lugar de grande destaque.

É mais ou menos o que se tem na Dinamarca, conforme já escrevi neste Diário. As reparações são feitas na primeira página dos jornais.

A opinião pública britânica apoia maciçamente o Relatório Leveson. Os ingleses já estavam enojados dos excessos da mídia. Cameron esboçou fazer reparos a Leveson e a voz rouca das ruas se levantou: o senhor tem que defender o povo da mídia, e não a mídia do povo. Cameron então deixou claro que está com Leveson.

No Brasil, vigora a auto-regulamentação.

Funciona?

As próprias empresas colocam freios? Discutem, debatem, prestam contas para a sociedade? Num caso particularmente rumoroso, um repórter tentou invadir o quarto de um político em Brasília. Pode? Não pode? O assunto foi ao menos discutido pela mídia, ainda que fosse para aprovar a conduta do repórter e da publicação?

Liberdade de expressão não é algo que possa ser invocado para garantir que a mídia esteja acima da sociedade – e da lei.

Um juiz americano, numa comparação que ficaria célebre, escreveu que alguém que gritasse fogo num ambiente lotado e fechado não poderia depois invocar a liberdade de expressão para escapar das consequências da tragédia que possivelmente provocaria.

Depois de ver o debate britânico, é lastimável ouvir platitudes como as pronunciadas – sob ampla cobertura – dias atrás pelo juiz Ayres Britto.

Britto, que acaba de se aposentar do STF aos 70 anos, fez a defesa da liberdade de imprensa, mas com uma superficialidade que é chocante, primária, infantil quando contrastada com a mesma defesa da liberdade de imprensa feita pelo seu colega britânico Brian Leveson. “É um direito pleno”, afirmou ele.

Sob Pinochet, ou mesmo sob Geisel, Britto mereceria aplausos. Mas, numa democracia em que uma imprensa livre é um fato da vida, eis uma frase superiormente tola, e que esconde a real pergunta: qual o padrão ético da mídia tradicional brasileira, se é que existe algum?

No Reino Unido, Leveson não caiu na falácia de que liberdade de imprensa significa licença para matar. A sociedade tem que ser protegida dos excessos da mídia. Ou então a mídia presta um formidável desserviço ao interesse público.

O que leva Britto a fugir do real debate – não a liberdade de imprensa, a favor da qual somos todos, vertebrados e invertebrados, mas a melhor maneira de evitar seus excessos?

Britto tem uma história complicada na família.

Em 2009, um genro seu foi flagrado numa conversa comprometedora com um político corrupto. Britto seria um dos juízes no julgamento do político, e o genro usou seu nome.

O caso virou manchete, justificadamente. E Britto, também justificadamente, disse que não podia responder pelo genro.

Britto teria ficado intimidado?

É uma possibilidade. Ele foi o principal responsável pelo fim da Lei da Imprensa, editada na era militar, e diz que aquela é sua maior contribuição ao país. Um instante: ao país? Que Leveson diga mais ou menos o mesmo na Inglaterra — não fará por modéstia e decoro — se compreenderia. Ele enfrentou a ira e o poder de Murdoch, por exemplo.

Britto não é Leveson.

Com o fim da ditadura, a Lei da Imprensa já não causava cócegas a nenhuma empresa jornalística, e também a nenhum jornalista, Era um cadáver jurídico.

Para lembrar: a Lei da Imprensa vigorava quando Paulo Francis caluniou diretores da Petrobras. Mas estes, sabendo o quanto ela era inoperante, foram processar Francis na justiça americana, uma vez que ele fizera as acusações em solo dos Estados Unidos. Francis ficou desesperado ao lidar com uma justiça que exigia provas para assassinato de caráter, e que cobrava pesado pela ausência delas. Morreu disso, segundo os amigos.

A morte de uma lei já morta trouxe um efeito colateral nocivo à sociedade. Sumiu, com a Lei da Imprensa, o direito de resposta. O que significa que a sociedade ficou desprotegida.

Britto se despediu da ativa com esse passivo enorme no currículo, e repetindo lugares-comuns que não reforçam a imagem da justiça brasileira e de seus mais elevados expoentes – a despeito do espaço generoso que os jornais dedicam a seu palavrório oco.

Fotografia - por Arnd Wiegmann (Reuters / Totally Cool Pix)


O acrobata suíço Freddy Nock se equilibra em um cabo no Monte Corvatsch, na Suíça. Nock caminhou cerca de 1.600 metros a mais de 3.300 metros de altitude. 

A República e as multinacionais – por Mauro Santayana (Carta Maior)

O governo brasileiro tem tratado com deferência o Sr. Emilio Botin, dono do Grupo Santander, já investigado pela justiça espanhola, entre outras coisas, por remessas ilegais de dinheiro para o exterior e duvidosas contas na Suíça, pertencentes à sua família desde os tempos do franquismo. Ele comanda um grupo que teve que pegar, direta e indiretamente, no ano passado - em dinheiro e títulos colocados no mercado - mais de 50 bilhões de euros emprestados; demitiu dois mil empregados no Brasil no mesmo período, e teve uma queda de 49% em seu lucro global nos últimos 12 meses, devido, entre outras razões, a provisões para atender a ativos imobiliários “podres” no mercado espanhol.

A mera leitura dos comentários dos internautas espanhóis sobre o Sr. Botin daria, a quem estivesse interessado, idéia aproximada de como ele é visto em seu próprio país, e de como há quem preveja, com base em argumentos financeiros, que a bicicleta do Santander pode parar de rodar nos próximos meses, com a quebra do grupo ou, pelo menos, de seu braço controlador, ainda em 2013.

Nos últimos dez anos, as remessas de lucro para as matrizes de multinacionais – muitas delas estatais controladas direta ou indiretamente por governos estrangeiros – chegaram, no Brasil, a 410 bilhões de dólares, ou pouco mais que nossas reservas internacionais, duramente conquistadas no mesmo período.

Ora, se as multinacionais trazem dinheiro, e contribuem para aumentar o clima de competição em nossa economia, é natural que elas mandem seus lucros para o exterior. O problema, é que, na indústria, na área de infra-estrutura ou de telecomunicações, quem está colocando o dinheiro somos nós mesmos.

O BNDES tem colocado a maior parcela de recursos, e assumido a maior parte do risco, em empresas que mandam, apesar disso, ou por causa disso mesmo, bilhões de dólares para seus acionistas no exterior, todos os anos. Mais de 70% da nova fábrica da Fiat em Pernambuco foi financiada com dinheiro público. A Telefónica da Espanha recebeu do BNDES mais de 4 bilhões de reais em financiamento para expansão de “infraestrutura” nos últimos anos. E mandou mais de um bilhão e seiscentos milhões de dólares para seus acionistas espanhóis, que controlam 75% da Vivo, nos sete primeiros meses do ano passado.

A OI, que também recebeu dinheiro do BNDES, emprestado, e era a última esperança de termos um “player” de capital majoritariamente nacional em território brasileiro, corre o risco de se tornar agora uma empresa portuguesa, com a entrega de seu controle à Portugal Telecom, na qual o governo português – que já dificultou inúmeras vezes a compra de empresas lusitanas por grupos brasileiros, no passado - conserva mecanismos estratégicos de controle.

Empresas estatais estrangeiras, como a francesa ADP (Aeroportos de Paris) ou a DNCS, que montará aqui os submarinos comprados pelo Brasil à França, pertencem a consórcios financiados com dinheiro público brasileiro. Essa é a mesma fonte dos recursos que serão emprestados às multinacionais que vierem a participar das concessões de rodovias (com cinco anos de carência para começar a pagar) e de ferrovias, incluindo o trem-bala Rio-São Paulo.

A Caixa Econômica Federal, adquiriu, por sete mil reais, em julho, pequena empresa de informática e depois nela se associou minoritariamente à IBM. No mês seguinte, depois de constituída a nova sociedade, agora controlada pelos norte-americanos, com ela celebrou, sem licitação, contrato de mais de um bilhão e meio de reais - operação que se encontra em investigação pelo TCU.

Qual é o lucro que o Estado brasileiro leva, financiando, direta e indiretamente, a entrada de empresas estrangeiras de capital privado e estatal em nosso território para, em troca, em lugar de reinvestirem os seus lucros por aqui, continuarem mandando tudo o que podem para fora?

Com a queda dos juros no exterior por causa da crise e da recessão que assolam a Europa e o Japão, existe liquidez bastante para que essas empresas busquem dinheiro lá fora para bancar, pelo menos, a parte majoritária de seus investimentos no Brasil.

Os chineses, por exemplo, têm dinheiro suficiente para financiar tudo o que fizerem no Brasil, sem tomar um centavo com o BNDES. Usar o banco para aumentar o conteúdo nacional nos projetos é inteligente. Mas, se estamos financiando empresas estatais estrangeiras, por que não podemos financiar nossas próprias estatais, não apenas para diminuir a sangria bilionária, em dólares, para o exterior, mas também para regular o mercado e os serviços prestados à população, como já ocorre com os bancos públicos no mercado financeiro?

Não se trata de expulsar ou discriminar o capital estrangeiro. Mas o bom sócio tem que trazer, ao menos, know-how e dinheiro próprio. A China sempre tratou - até por uma questão cultural - com superioridade quem quer investir lá dentro, e cresceu quase dez por cento ao ano, nos últimos 20 anos, porque sempre entendeu ser o mercado interno seu maior diferencial estratégico.

Aqui, continuamos financiando a entrada de empresas estrangeiras com dinheiro público, dando-lhes terrenos de graça, isentando-as de impostos, como se não fôssemos a sétima economia do mundo.

O desenvolvimento nacional tem que estar baseado no tripé capital estatal, capital privado nacional, e capital estrangeiro. Nosso dinheiro, parco com relação aos desafios que enfrentamos no contexto do crescimento da economia, deve ser prioritariamente reservado para empresas de controle nacional, que, caso sejam privadas, se comprometam a não se vender para a primeira multinacional que aparecer na esquina. Quem vier de fora, que traga seu próprio dinheiro, e o invista, preferivelmente, em novos negócios, que possam expandir o número de empregos, a estrutura produtiva e aumentar a parcela de recursos disponíveis para o investimento.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Ilustração - por Digital Inception Studios

Globo usa (e abusa) da justiça para impor volta da censura

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa – por Luiz Carlos Azenha (Vi o mundo)

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas” – tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpetradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.


Azenha: Globo e governo Dilma parecem estar perto da vitória - por por Renato Rovai (revista Fórum)

Azenha anunciou que vai fechar o Viomundo depois de perder ação na justiça movida pela Globo. É uma notícia-bomba. Uma derrota parcial da luta pela democratização no país. E quando alguém perde, outro alguém ganha. Os vencedores são os grandes grupos econômicos de comunicação, mas também uma boa parte do governo que anda mais preocupada com negócios do que em construir políticas públicas que modifiquem a imensa concentração deste segmento.

No momento, estou em Tunis, na Túnisia, cobrindo o Fórum Social Mundial. Antes de vir pra cá estive em Brasília. Conversei com muita gente. E confirmei o que já imaginava. Primeiro, que o governo Dilma não vai mexer no que considera um vespeiro, a regulamentação da comunicação. Segundo, que o ministro Paulo Bernardo deixou de ser apenas uma adversário desta tese. Passou a se um inimigo. E mais do que isso, agora instrumentaliza nossa luta para conquistar ainda mais poder.

Bernardo hoje é o homem dos grandes grupos de comunicação no PT. É o sujeito que livra as teles e a Globo dos “monstros” que querem a regulamentação e a democratização. E o que fazemos, no fundo, o ajuda a ampliar seu poder. Foi neste contexto que seu secretário-executivo, Cezar Alvares, teria dito a frase de que o governo Dilma não faria a regulamentação das comunicações. Aquilo não foi um deslize. Foi a assinatura de um contrato público com o povo da radiodifusão. Foi a Carta ao Povo Brasileiro de Dilma com esses setores. Eles queriam um sinal claro. Bernardo deu.

Mas não é só isso. Paulo Bernardo (e não só ele) também tem se referido a blogueiros como vagabundos e pilantras. E completa a frase com “e o governo ainda sustenta essa gente…”. Convenhamos, isso é bobagem. O que não é bobagem é que ele tem feito pressão pessoal para que ninguém mais apoie os poucos veículos que ainda recebem alguma verba publicitária. (Aliás, se você quer saber o tamanho deste apoio, leia este artigo do Miguel do Rosário.)

Nos Correios, por exemplo, a ordem é clara. Se algum centavo for destinado a esse “povo”, cabeças rolarão. Procure algo dos Correios em qualquer veículo da mídia alternativa ou livre. Mas também procure na Veja, na Globo, na Folha e no Estadão…

Azenha não está anunciando o fechamento do seu blogue por causa da Secom e do Paulo Bernardo. Mas também não está fazendo isso só por causa da Globo. Se a gente tivesse nesta luta pela democratização da mídia, mas não se sentisse sendo usado, talvez ele não tivesse tomado esta atitude.

Espero que ela ainda reflita e que um movimento cidadão o anime a seguir em frente. Azenha nunca teve um centavo de recurso público no seu blogue. E desde que o conheço nunca se mostrou interessado neste tipo de financiamento. Mas ele sonhou junto com muitos de nós que teríamos condição de melhorar a correlação de forças da comunicação no Brasil. Imaginou que tínhamos aliados. E ouviu, como eu, discursos de muitos se comprometendo com a causa.

E com o tempo passando, foi percebendo que só estávamos sendo usados. É este o exato sentimento: usados. E talvez essa sua decisão seja um sinal para um movimento que pode se tornar bastante importante. O Azenha não pode ficar sozinho nisso. É hora de refletir.


Justiça conclui que Ali Kamel não manda na Globo – por Luiz Carlos Azenha (Vi o mundo)
Ali Kamel psicografa ordens dele
(provenientes do inferno, é claro)
Ali Kamel, o nem todo poderoso diretor da Central Globo de Jornalismo, venceu mais uma.

Fui condenado a pagar a ele a indenização de 30 mil reais por uma suposta “campanha difamatória”. O poderosíssimo Viomundo difamou uma das maiores empresas de comunicação do mundo!  Cabe recurso e, obviamente, o dr. Cesar Kloury vai recorrer.

Kamel bate um recorde: 4 vitórias em 4 ações na primeira instância da Justiça carioca. Alguém tem dúvida sobre o resultado dos processos que ele também move contra Luís Nassif e o sr. Cloaca? Nem o Barcelona tem esse aproveitamento!

O fulcro da decisão judicial é de que ele teria sido citado em 28 postagens do Viomundo, que existe desde 2004. Só a versão mais recente do site tem 8.140 post publicados. Ou seja, Ali Kamel foi mencionado em 0,0034% dos posts aqui publicados, na suposta “campanha difamatória”.

Em um trecho da sentença, segundo o Portal Imprensa, a magistrada afirma que eu “teria elaborado uma série de criticas contra matérias publicadas pelos diversos veículos de comunicação vinculados às Organizações Globo, atribuindo-lhe [Nota do Viomundo: Ao Kamel] a responsabilidade pelo conteúdo editorial”.

Para a juíza, segundo o Consultor Jurídico, a vinculação de Ali Kamel com a linha editorial dos meios de comunicação da Globo é uma “falsa afirmação” (grifo meu), já que ele está subordinado a superiores hierárquicos e a empresa possui um Conselho Editorial composto pelos editores dos diversos veículos do grupo, incluindo Kamel.

Em outras palavras, descobriram que o Ali Kamel não manda na Globo, apenas psicografa as ordens do dr. Roberto.  A recente ascensão dele ao cargo de diretor da Central Globo de Jornalismo foi apenas uma coincidência.

Ex e atuais funcionários da Globo: sobre o poder de Kamel, é tudo imaginação da parte de vocês!

Ali Kamel processou Rodrigo Vianna por causa de uma piada. Processou Marco Aurélio Mello por uma obra de ficção. E a mim por atribuir a ele poder que não tem. Porém, como ex-profissionais que atuamos nos bastidores da TV Globo, nas coberturas mais importantes, subordinados diretamente a ele, sabemos muito bem o que ele fez no verão passado.

Foi apenas por acaso, assim, à toa, que pedi a rescisão antecipada de meu contrato com a TV Globo, onde ganhava salário de executivo, com mais de um ano de antecipação. Não queria associar meu nome à falta de poder do Ali Kamel.

Em minha opinião, o texto definitivo sobre as represálias da Globo contra blogueiros, que se deram todas depois das eleições de 2010, foi escrito por Miguel do Rosário, aqui, quando da condenação de Rodrigo Vianna. Um trecho:

É inacreditável que o diretor de jornalismo da empresa que comete todo o tipo de abuso contra a democracia, contra a dignidade humana, a empresa que se empenha dia e noite para denegrir a imagem do Brasil, aqui e no exterior, cujos métodos de jornalismo fazem os crimes de Ruport Murdoch parecerem estrepolias de uma criança mimada, pretenda processar um blogueiro por causa de um chiste!

PS do Viomundo: Obrigado a todos os que manifestaram solidariedade. É o que nos dá força. A sentença abre uma possibilidade jurídica interessante: queremos a ata do Conselho Editorial da Globo que decidiu pela cobertura da bolinha de papel, por exemplo!

FHC está vivendo na Versalhes dos Bourbons – por Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

Uma entrevista à revista Época mostra uma mente desconectada inteiramente da realidade.

I rest my case, como o detetive particular Philip Marlowe disse num romance de Raymond Chandler.

Desisto.

Desisto da possibilidade de que FHC e o PSDB se reconectem com a realidade.

A entrevista que FHC concedeu esta semana à revista Época revela um caso perdido.

Os entrevistadores poderiam ter exigido mais dele? Acho que sim. Mas a minha impressão, ao terminar a leitura, é que o entrevistado não tinha nada mais a dar.

Essencialmente, FHC vive num mundo que já não existe. É como se ele, 200 anos atrás, falasse de Versalhes e da corte dos Bourbons, e não da Marselhesa, de Napoleão e de Robespierre.

O modelo de FHC é, ainda, os Estados Unidos, isso quando os americanos vivem um declínio sem precedentes em todos os aspectos – econômico, financeiro, militar, corporativo e moral.

Pior: as loas aos Estados Unidos aparecem na mesma semana em que se completam dez anos da invasão do Iraque.

O mundo vai ficando, você percebe pela cobertura dos dez anos, com o mesmo sentimento de culpa parecido com o que emergiu pós-segunda guerra em relação aos judeus: como nós pudemos deixar isso acontecer?

Um país destruído, milhares de crianças mortas mortas por bombas ou por falta de medicamento, casos crescentes de má formação congênita em bebês como efeito colateral – e todo esse martírio com base em informações comprovadamente mentirosas segundo as quais o Iraque tinha armas de alto poder destrutivo.
Como deixamos isso acontecer com as crianças iraquianas?
Não tinha, e mesmo ali, no fragor da decisão de invadir, os serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Inglaterra – as duas potências que comandaram o extermínio dos iraquianos – tinham já dados que colocavam sob imensa dúvida a existência de tais armas.

Ainda nestes dias, um veterano americano tornado inválido no Iraque também comoveu o mundo ao anunciar o suicídio: uma bala lhe tirou todos os movimentos.

E FHC evoca os Estados Unidos, o exaurido, sinistro modelo americano que levou destruição a virtualmente todas as partes até que não restasse outra vítima que não eles mesmos.

É só ver o que o modelo americano está fazendo, hoje, dentro dos próprios Estados Unidos: as neofavelas (acampamentos precários de gente que perdeu a casa), o desemprego, as constantes chacinas de desequilibrados armados porque a indústria das armas alimentada a paranoia de que sem revólveres ou rifles você está perdidamente desprotegido.

O mundo fala em desigualdade social, do novo papa ao novo presidente da China. O mundo entende que reduzi-la é fundamental para o futuro da humanidade.

E FHC fala com enlevo do país que disseminou as bases do 1% versus 99%, a pátria em que um candidato à presidência foi pilhado falando que não liga para metade da população – 47% — porque são pobres.

Fala ainda em “sentimento mudancista”, mas não em relação ao universo e sim a um ambiente interno que traria as sementes do triunfo de Aécio 10% Neves em 2014.

I rest my case.


Comentários
Da referida entrevista, eu só tive estômago para ir (ainda fui muito longe) até a terceira pergunta publicada (se foi isto quer conseguiram selecionar, imagine o que não prestou...).

ÉPOCA – Como o senhor vê o cenário atual, com Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves praticamente já colocados como candidatos, além da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição?
Fernando Henrique Cardoso – Estão se desenhando aí quatro candidatos. Provavelmente, segundo turno. Sempre houve segundo turno depois que saí. É provável que haja de novo. Como vai ser, sabe Deus! Falta muito tempo. Porque isso foi precipitado, não entendo. Nunca vi o governo precipitar a eleição.

Comentário I
“Sempre houve segundo turno depois que saí”. FHC seletivamente omite que só havia dois candidatos competitivos na época, só por isto não houve segundo turno (convenhamos que à época também não era desejo da imprensa marrom que houvesse outro postulante – hoje arranjar algum outro candidato competitivo, que ao menos consiga levar a disputa para o segundo turno, é motivo de desespero para os jornalões e revistonas). Se FHC continuasse sendo competitivo, ele teria voltado e se candidatado contra Lula em 2006 ou Dilma em 2010. Por que não o fez? Porque sabe que tomaria uma surra nas urnas. Já o presidente Lula vive a confortável situação entre poder ser o eleito (o que seria uma falha estratégica clara, de personificação de um projeto progressista, o que é sempre um erro), ou de ver reeleita sua pupila (ou seu poste). O melhor dos mundos pra ele.
“Nunca vi o governo precipitar a eleição”. Talvez FHC tenha se esquecido que em seu governo houve uma admitida compra de votos para que ele pudesse se reeleger, pelo valor (desatualizado) de 200 mil reais, numa época em que o STF, o MP e algumas outras instituições, delicadamente resolveram se calar (ou se fazer de surdas e cegas).

ÉPOCA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou Dilma para abafar, no PT, as expectativas de que ele pudesse ser candidato?
FHC – Ele não precisaria. Fez porque gosta de campanha.

Comentário II
Se o Lula gostasse tanto de campanha, por que não se lançaria ele próprio candidato, ora? É consabido que, se fosse seu desejo, ninguém no PT o impediria – e a população o elegeria, é líquido e certo. FHC deixa escorrer a baba da mágoa, já que Lula possui ampla admiração do povo, enquanto FHC possui ora asco, ora indiferença.

ÉPOCA – Por que ninguém tem um projeto alternativo?
FHC – Projeto é uma ideia complicada. O que está aí está se esgotando. Começam a despontar críticas. Há um sentimento mudancista, mas ainda sem dar conteúdo à mudança. Não sei se no povo. Mas entre as pessoas que leem jornal, sim. Inclusive empresários. Para vencer a eleição, tem de chegar embaixo.

Comentário III
“Projeto é uma ideia complicada”. É desalentador ler algo assim. O que o PSDB fez nos últimos 10 anos??? Já que não estava no poder, por que não se preparou, porque não projetou, não esboçou um futuro desejado? Não tendo a responsabilidade de tocar a máquina governamental, é muito mais fácil pensar o futuro.
Mas, de fato, é muito complicado para a oposição ter projeto, pois seu maior líder esta muito mais preocupado com as noitadas do Rio de Janeiro do que em se preparar para governar o país. Aí fica difícil, mesmo.
Ainda mais: “Mas entre as pessoas que leem jornal, (querem mudança) sim”. É lógico que alguns destes querem mudança: são os lobotomizados pela imprensa marrom, os guiados pela sórdida grande mídia brasileira.
Por fim, a última pérola, esta literária: “Há um sentimento mudancista” (Sic). Desnecessário comentar a tragédia com a língua portuguesa. Mas tudo bem, ele é um (pseudo) intelectual, mesmo. A imprensa marrom não vai se importar (provavelmente vai até aplaudir) o escárnio. 
Sendo avaliado por qualquer pessoa minimamente séria, FHC, este sujeito mesquinho, vendilhão da pátria, feitor de um dos três piores governos da história do Brasil (junto com Artur Bernardes e Collor de Mello – que possuía a mesma ideologia, frise-se), não resiste a menor análise. FHC é um embuste, sobre qualquer aspecto que se avalie. Seu governo foi tão ruim, mas tão ruim, que é ele (e não o Lula) o maior cabo eleitoral do PT.
A pior coisa que pode acontecer para o PT seria a morte de FHC - todo mundo fica bonzinho depois que morre. Enquanto esta múmia prosseguir viva, o PT não vai perder uma eleição presidencial.

Fotografia - por James L. Amos (National Geographic)

Para entender a Lei dos Meios – por Luis Nassif (Blog do Nassif)

Ainda há uma notável confusão sobre a Lei dos Meios.

Qual a razão do PT e setores de esquerda pretenderem sua promulgação, se ela não impõe nenhuma forma de censura aos meios de comunicação?

Qual a razão dos grupos de mídia a temerem, se não haverá restrições ao que publicam?

Para entender essa confusão, é necessário saber o seguinte:

A Lei dos Meios dispõe apenas sobre concessões públicas, TVs abertas, TVs a cabo e rádios.

Ela terá que legislar obrigatoriamente sobre a chamada propriedade cruzada, impedindo grupos de mídia de controlarem - em uma mesma localidade - emissoras de TV, rádios e jornais. É uma proposta que afeta diretamente as grandes redes nacionais e os grandes grupos regionais.

Ela deverá legislar, também, sobre o formato das redes de emissoras. Hoje em dia, por exemplo, grande parte da rede Globo é de terceiros. Mas a Globo controla rigidamente a programação e os modelos comerciais. Ou seja, exerce o poder de fato sobre a rede. A discussão da Lei dos Meios certamente obrigará a se rever o formato dos contratos entre emissoras e afiliadas.

A maioria das concessões regionais está em mãos de políticos. Se alguém exigir a Ficha Limpa para manter as concessões, grande parte delas terá que mudar de mãos.

Hoje em dia, as emissoras tratam as concessões como propriedade privada, inclusive sublocando espaços ou vendendo os direitos de concessão. O que explica uma rede como a CNT valer R$ 700 milhões? Ora, o espaço concedido, que não é dela. Certamente a Lei jogará luz sobre essa confusão de concessionários tratarem as concessões como ativos próprios.

Nunca as concessões de emissoras foram tratados dentro do regime de serviços públicos. Como serviço público, elas teriam obrigações adicionais, como o respeito à pluralidade, a prestação de serviços de utilidade pública etc.

Em suma, são esses pontos que explicam as várias posições em relação à Lei dos Meios.

Um encontro com o destino - por Lior Arditi (Arte digital - Coolvibe)

Entrevista com o representante oficial da Coréia do Norte no mundo ocidental



Comentário
Sem querer defender ou criticar o regime norte-coreano – regime que para mim esta longe de ser comunista, muito ao contrário, é um regime feudal (dentre outros, basta ver sua sucessão para comprovar o que digo), – é muito importante que ao menos ouçamos a sua versão da história (notoriamente silenciada pelos meios de comunicação ocidentais).

Mesmo não concordando com tudo o que ele disse, é evidente que há muitas coisas embasadas em sua fala.

De qualquer modo, é bom que se propague este tipo de informação, pois, como escrevi aqui recentemente, a máquina de guerra, o complexo industrial-militar dos EUA esta desesperado para abrir outra frente de batalha (o inimigo em si importa menos, o importante é começar a guerra). Não importa o fiasco do Iraque e do Afeganistão, os abutres querem sangue, querem petróleo, querem território, querem tudo. E ai de quem ficar na frente.

P.S: A entrevista é em espanhol, mas na maior parte do tempo é compreensível. 

terça-feira, 26 de março de 2013

Ilustração - por Saturno Butto (Empty Kingdom)

As viagens de FHC e Lula e a escandalização seletiva – por Hugo Carvalho (blog do Luis Nassif)

Um ex-presidente brasileiro está rodando o mundo, em viagens patrocinadas por empresas e corporações que cresceram e ganharam muito dinheiro em seu período de governo. Nestas viagens, a presença do ex-presidente ajuda as empresas patrocinadoras a captar investimentos e ganhar mercados.

As empresas amigas também patrocinam palestras deste líder político no Brasil e contribuem com fundos milionários para o Instituto que leva seu nome e destina-se a preservar sua memória.

Se este ex-presidente se chamasse Luiz Inácio, suas atividades no exterior seriam manchete da Folha de S. Paulo, colocando-o sob suspeita de atuar como lobista de empresas sujas.

Mas estamos falando de Fernando Henrique Cardoso, que também viaja fazendo palestras, a convite de empresas, ONGs e instituições diversas.  A diferença mais notável entre eles (há muitas outras) é que FHC vai lá fora para falar mal do Brasil.

Nas asas do Itaú, seu patrocinador master, Fernando Henrique esteve no Paraguai em 2010, no dia em que o banco inaugurou a operação para tomar o mercado no país vizinho.

O Itaú também o levou a Doha e aos Emirados Árabes ano passado, como informou a imprensa financeira, com a intenção de morder parte dos 100 milhões de dólares que o Barwa Bank tem para investir no mercado imobiliário brasileiro.

A Folha estava lá (mas não diz quem pagou a viagem da colunista Maria Cristina Frias)  “FHC vai ao Oriente Médio com Itaú para atrair investimento”, ela escreveu.  Zero de suspeição ou malícia. O jornal  não se preocupou em saber se a embaixada brasileira alugou impressoras para apoiar o ex-presidente em sua missão, mas registrou direitinho o que ele disse lá sobre o governo brasileiro atual: Corrupção cresceu em relação a meu governo, diz FHC. Com esse papo, o ex deve ter atraído investimentos para o Chile.

FHC também falou mal do Brasil quando foi à China, em maio passado, de novo pelas asas do Itaú (nem parece que é um banco, deve ser uma agência de viagens). Reclamou do ajuste do câmbio, da falta de planejamento, e fez o comercial do patrocinador: “Baixar a taxa de juros (no Brasil) é importante, mas tem que olhar as consequências”, ele disse aos chineses. O Estadão resumiu no título a visão de Brasil que FH passou em Pequim: “Não se pode crescer a qualquer custo, diz FHC”.

Em novembro  do ano passado, a casa americana  JP Morgan pagou FHC para falar do Brasil sem sair de casa: “O Brasil está pagando o preço por não ter dado continuidade aos avanços implementados”, ele disse, numa palestra para investidores estrangeiros em São Paulo.

Na edição deste sábado, a Folha sugere ao Ministério Público que promova uma ação para alguém devolver “gastos indevidos” com horas extras de motoristas e deslocamento de funcionários,  nas embaixadas por onde Lula passou. Mas não se comove com o fato de a estatal paulista Sabesp ter pingado R$ 500 mil na caixinha do Instituto FHC (ah se fosse o Visanet...).

Fernando Henrique ainda era presidente da República, em 2002, quando chamou ao Palácio da Alvorada os donos de meia dúzia empresas para alavancar o instituto que ainda ia criar: Odebrecht, Camargo Corrêa, Bradesco, Itaú, CSN, Klabin e Suzano. A elas se juntaria a Ambev. Juntas, pingaram 7 milhões no chapéu de FH. Mas foi o Tesouro que pagou o jantar, descrito em detalhes nesta reportagem da revista Época.

     Todos à mesa eram gratos à FHC pelo Plano Real e não se duvide de que alguns tenham coçado o bolso por idealismo. Mas se a Folha utilizasse o mesmo relho com que trata Lula, teria registrado que os Itaú e Bradesco eram gratos pela maior taxa de juros do mundo; a Ambev deve seu monopólio ao CADE dos tucanos; a CSN é a primogênita da privataria e quase todos ali deviam algum ao BNDES.

FHC e seu instituto prosperaram. No primeiro ano como ex-presidente ele faturou R$ 3 milhões em palestras (“o critério é cobrar metade do que cobra o Bill Clinton”, explicou, modestamente, um assessor de FHC). A primeira palestra, de US$ 150 mil de cachê, que serviu de parâmetro para as demais, foi bancada pela Ambev. O IFHC já tinha R$ 15 milhões em caixa e planejava gastar o dobro disso nas instalações.

O IFHC abriga o projeto Memória das Telecomunicações (esqueçam o que ele escreveu, mas não o que ele privatizou), patrocinado naturalmente pela Telefónica de Espanha.

Todas as empresas citadas neste relato são anunciantes da Folha de S. Paulo e estão acima de qualquer suspeita enquanto anunciantes. Apodrecem, aos olhos do jornal, quando se aproximam de Lula.

Eis aí o segundo recado da série de manchetes: afastem-se dele os homens de bem. O primeiro recado, está claro, é: mãos ao alto, Lula!

A Folha também se considera acima de qualquer suspeita. Só não consegue mais disfarçar o ódio pessoal que move sua campanha contra o ex-presidente Lula.


Comentário

Não é que a Folha não consiga disfarçar agora: nunca nem tentou fazê-lo. É um jornal de extrema direita, abjeto, cínico, mentiroso, sempre foi.

Quanto as viagens, é mais do que óbvio que uma viagem bancada por empresas de determinado ramo de negócios constitui-se num lobby – um lobby admitido, de antemão, todo mundo sabe e espera o que virá dali. Algumas empresas aproveitam da grande popularidade internacional que o presidente Lula possui para tentar ingressar em novos mercados. Isto é mais do que claro, é um jogo de interesses explícito. Já o FHC, coerente com o que sempre fez e com a história que ostenta, quando é convidado a fazer palestras, sai a falar mal do Brasil mundo afora.

De fato, não poderia ser diferente: ele se sente em casa em Roma, Nova York, Paris. Pena que nesses lugares – diferentemente do presidente Lula – ele seja tratado como o cão servil e irrelevante que é.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Fotografia - por Marsel Van Oosten (500 px)

Um veterano da Guerra do Iraque se vinga de Bush - por Kiko Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

Tomas Young e sua mulher Claudia

Nos 10 anos da invasão iraquiana, o ex-soldado e ativista Tomas Young anuncia seu protesto mais contundente: o suicídio.

Tomas Young tinha 22 anos quando se alistou no exército americano. Foi dois dias depois dos ataques às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Tomas, que era de Kansas City, não foi o único jovem a tomar essa decisão naquele momento.

O que ele não contava é que, menos de três anos depois de ingressar na corporação, fosse parar no Iraque. No dia 4 de abril de 2004, seu comboio foi atacado por insurgentes na cidade de Sadr. Uma bala de um rifle AK-47 se alojou em sua espinha e outra em seu joelho. Ele nunca mais pôde andar – e, por causa de complicações gradativas, acabou tendo os demais movimentos comprometidos, entre outros problemas. Hoje sobrevive graças aos cuidados de mulher, Claudia Cuellar.

O acidente transformou Young num dos mais contundentes ativistas contra a Guerra do Iraque. Em 2007, sua história foi contada no documentário Body of War, que mostra de maneira crua seu dia-a-dia. (Você pode assistir na íntegra aqui)

Tomas Young está com raiva de George W. Bush e vai se vingar. Como?

Se matando.

Ele anunciou que quer morrer em abril ou maio. Nas próximas semanas, vai parar de tomar medicamentos e abrir mão da alimentação parenteral. Disse que a deterioração de seu corpo o impede de fazer de outro jeito e que não quer que sua mulher participe diretamente desse ato – ministrando uma overdose de pílulas para dormir, por exemplo. Claudia, assim como as pessoas próximas do casal, apoia a decisão. “Quando eu partir, quero estar alerta e consciente”, afirmou para o jornalista Chris Hedges. “Quem quiser pode me ligar para se despedir. É uma maneira mais justa de tratar as pessoas do que deixar uma nota de suicídio”.

Na verdade, ele deixou mais que uma nota: uma carta aberta endereçada a Bush e seu vice Dick Cheney, de um “veterano que está morrendo”. Young os acusa de “crimes de guerra colossais, pilhagem e finalmente assassinato.”
Bush e Cheney: “Crimes de guerra, pilhagem e assassinato”

Eis alguns trechos:

Eu escrevo essa carta em nome de maridos e mulheres que perderam seus entes queridos, em nome das crianças que perderam seus pais, em nome de pais e mães que perderam filhos e filhas.

Eu não estaria escrevendo esta carta se tivesse sido ferido em combate no Afeganistão. Eu não teria que ficar na minha cama, o meu corpo cheio de analgésicos, minha vida desaparecendo, e lidar com o fato de que centenas de milhares de seres humanos, incluindo crianças, inclusive eu, foram sacrificados por vocês pela ganância de companhias de petróleo, por sua aliança com os xeques do petróleo na Arábia Saudita, e por suas visões insanas de império.

Eu não entrei no exército para ir para o Iraque, um país que não teve participação nos ataques do 11 de Setembro e não era uma ameaça a seus vizinhos, muito menos aos Estados Unidos. Eu não entrei no exército para para “liberar” iraquianos ou desativar fábricas fantasiosas de armas de destruição em massa ou para implantar o que vocês cinicamente chamaram de “democracia” em Bagdá ou no Oriente Médio.

Nós fomos usados. Nós fomos traídos. Nós fomos abandonados. Você, senhor Bush, se diz um cristão. Mas mentir não é pecado? Matar não é um pecado? Roubo e ambição egoísta não são pecados? Eu não sou um cristão. Mas eu acredito no ideal cristão. Eu acredito que o que você faz para o menor de seus irmãos você faz para si mesmo, para sua própria alma.

Meu ajuste de contas está por vir. O de vocês vai chegar. Espero que vocês sejam levados a julgamento. Mas, principalmente, eu espero que vocês encontrem a coragem moral para enfrentar o que fizeram para mim e muitos outros que mereciam viver. Espero que antes que seu tempo na Terra termine, como o meu está agora para terminar, vocês encontrem a força de caráter para estar diante do público americano e do mundo, e em particular do povo iraquiano, e implorar por perdão.

Comentário

Fiquei chocado com o texto, especialmente com esta pungente carta do veterano de guerra.

Só não gostei do título, não há vingança nenhuma, será apenas mais uma morte em vão de tantas outras que o complexo industrial militar (e seu representante político maior, o partido republicano) conseguirá.

Neste exato instante desta terra de loucos em que vivemos, este mesmo complexo continua agindo, desesperado para arranjar outra guerra, quiçá contra o Irã, quiçá contra a Coréia do Norte, quiçá contra quem quer que seja. Na verdade, não importa muito quem é o inimigo. A necessidade é tê-lo (e combatê-lo - em nome da paz, é claro).

Quanto as consequências da guerra, quem se importa? Os senhores da guerra continuam por aí. Com uma fome insaciável.

domingo, 24 de março de 2013

Maravilha de Mulher-maravilha - por Sérgio Birault (Ilustração - Zupi)

Os olhos do mundo são adestrados para não ver Israel, mas... - por Robert Fisk (The Independent / Pátria Latina)

Será o quê? Tragédia, farsa ou turismo? Obama é turista, diz o Davy Crockett da vanguarda do jornalismo norte-americano e rei-filósofo do New York Times (codinome T. Friedman). Mas não, Friedman errou. O vencedor do Prêmio Nobel de Belos Discursos terá de ser, no mínimo, um superturista – com 10 mil guias turísticos israelenses e norte-americanos armados a cercá-lo, só em Jerusalém. O caso é que, Sr. Presidente… há o muro. Não. É “O Muro”. Falo daquela paliçada otomana de cada lado da Porta de Damasco.

Mas, claro: se realmente chegar à Gruta da Manjedoura, Obama não terá como não ver – será que fechará os olhos? Nem uma espiadinha? – o muro real (codinome: barreira/cerca de segurança). É verdade: Berlusconi declarou que não viu. Mas até Mussolini perceberia, pelo menos o gigantismo fascista daquele muro. É. As coisas são o que são. O presidente excepcional deve “engajar” o público jovem. Por sobre as cabeças dos donos do mundo, levar “A Palavra” aos jovens. O caso é que os jovens, da variedade israelense e palestina, não dão sinal de confiar muito naquela conversa.

Mas Obama dá dó. Que outro estadista, antes de viajar a Israel, reuniria grupo seleto de líderes da comunidade judaica dos EUA e prometeria – de fato, insistiria, ansioso por convencer – que não tomaria iniciativa alguma, que não se preocupassem?

HUMILHAÇÃO

Todos lembramos a Humilhação de Santo Barack. Quando falou das fronteiras de 1967 na Casa Branca, e Netanyahu interrompeu-o e lhe disse que não, não. Que esquecesse. E Obama lá ficou, sentado, miseravelmente, parecendo um trapo vivo, triturado pela Britadeira Benjamin. Fim de papo, então, sobre fronteiras de 1967 e Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU. Mas, afinal… Obama ouve os conselhos do conselheiro que se revelou o maior fiasco da política externa dos EUA desde Joseph Kennedy: o muito aclamado zero à esquerda, inutilidade além de qualquer esperança, Dennis Ross.

Teremos de tolerar os clichês de sempre, é claro, tanto de Santo Barack como dos sapos do brejo da imprensa. Esse infame processo de paz tem de ser posto “de volta nos trilhos”, ou talvez ouçamos falar do “mapa do caminho” – o qual, parece, jamais é posto “de volta nos trilhos”, porque trem não anda em tapetes vermelhos de pistas de aeroportos. E não esqueçam o Irã, sobre o qual nosso herói dirá a todos os israelenses que vir que “todas as opções estão sobre a mesa”. E por que, santo deus, “sobre a mesa”?!

MÍSSEIS NUCLEARES

É claro que as opções estão em bunkers, talvez, até, nos não mencionáveis, indizíveis silos nos quais a Britadeira Benjamin mantém trancados seus mais de 250 mísseis nucleares. Mas, aí, alguém nos lembrará de todos os Macbeths salpicados pela região. Não o degolador de Riad, é claro, porque, esse, é amigo da gente, mas, com certeza o doido de Teerã; ou Mursi, aquela coruja; ou o outro, no palácio presidencial em Damasco; e mais aquele bando de salafistas Calibãs – ou serão Talibãs? – na espreita para destruírem a civilização ocidental (da qual Israel faz parte, ou já não faz?).

Oh yes, vai ser briga de foice no escuro, se Obama não prestar atenção. Os israelenses esconderam os palestinos bem longe, atrás de O Muro; e o único líder palestino histórico (esqueçam Abbas) que Obama verá será o velho Grande Mufti, sentado ao lado de Hitler numa fotografia no memorial do Holocausto, como se al-Husseini tivesse contagiado, com nazismo, todos os palestinos, para sempre.

E Blair? Será que dará as caras? Deus nos proteja de Blair! Já corre sangue de Cristo demais no Oriente Médio, sem aquele Dr. Fausto por lá! E fica-se a conjecturar se alguém se atreverá a dizer que ali vivem palestinos, sob ocupação de israelenses incondicionalmente apoiados por Santo Barack e seus escudeiros. Mas talvez ele cite o “processo de paz”, talvez tente. O “redeslocamento” da política externa dos EUA. É. Como o “redeslocamento” de Napoleão, fugindo de Moscou; ou como o “redeslocamento” dos britânicos, de Dunquerque. Fica-se com pena dos palestinos. E dos israelenses.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Consequência da traição - por Jose Pardo (Arte digital - Coolvibe)

Ministério Público, da vanguarda ao atraso – por Mauricio Dias (Rosa dos ventos – CartaCapital)

Está na pauta do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) a proposta para a criação do auxílio-moradia e o pagamento de verbas indenizatórias em relação ao auxílio-saúde recebido pelos membros do Ministério Público da União e dos estados.

Aprovado, o benefício alcançará cerca de 20 mil procuradores e, por discutível isonomia, beneficiará os juízes em número igual ou superior. Esse privilégio se soma ao vale-alimentação e ao plano de saúde já existentes.

A criação do auxílio-moradia, no valor aproximado de 3 mil reais mensais, trará embutido o princípio da retroatividade de cinco anos.

Quem estiver interessado faça as contas. Antes, porém, sente-se para suportar o susto provocado por essa retroatividade: 3 mil reais por mês viram 36 mil anuais; multiplicado pelos 60 meses referentes aos cinco anos retroativos, o resultado se transforma em 180 mil, sem contar a correção. Agora basta multiplicar pelos integrantes do MP. E não se pode esquecer, posteriormente, de fazer a mesma conta para a Magistratura. Esse princípio de equiparação, segundo a ministra Eliana Calmon, foi estabelecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Justiça, neste caso, em causa própria.

A enaltecida ministra, vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), recebeu, em setembro, 84 mil reais do citado auxílio-alimentação. Naquele mês, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o contracheque dela registrou salário de R$ 113.009,50.

Com a mesma coragem com que denunciou juízes corruptos ou, segundo ela, “bandidos de toga”, a ministra respondeu publicamente ao jornal: “O Ministério Público já recebe esse vale-alimentação sem questionamento algum. O Conselho Nacional de Justiça entendeu o processo de equiparação e isso levou ao pagamento”.

Data venia, a magistrada não se saiu bem quanto a esse privilégio. Sobre esse ganho, cerca de mil reais por mês, não incide Imposto de Renda. O Leão é manso. Não ruge nem morde essa gente.

O procurador-geral da República paga vale-alimentação a todos os membros do Ministério Público da União, sem que haja lei prevendo tal benefício. A Constituição fixa a remuneração dos integrantes do MP como “parcela única”, o subsídio. O pagamento seria, portanto, ilegal.

Tudo indica que isso se transformou numa artimanha para contornar as decisões da Presidência e do Congresso. Ou seja, inconformados com o aumento oficial que recebem, articulam aumento sobre o aumento. Tudo em causa própria.

A ministra Eliana Calmon errou também quando disse que o MP vem recebendo o vale, isso sem questionamento algum. Há quem questione, sim.

Luiz Moreira Lima, conselheiro do CNMP, que travou e venceu, praticamente isolado, a luta com Gurgel e asseclas para ser reconduzido à função, tenta fazer prevalecer a lei. Ele pediu vista e, ao avaliar a instituição auxílio-moradia, desmontou esse sistema alternativo criado para driblar o aumento oficial.

Essa situação mostra mais um retrocesso nos princípios republicanos. O Ministério Público ganhou vida nova com a Constituição de 1988. Tornou-se uma instituição de vanguarda do Estado brasileiro na luta contra velhos vícios da República. Há exceções, mas a regra não durou muito.

O corporativismo renasce recrudescido numa das mais importantes instituições da República.

Justiça: Tarda e falha

A Justiça brasileira é historicamente dominada pela lerdeza e pelos interesses.

Não é obra do acaso. Favorece isso a lentidão dos magistrados (que dispõem de um generoso período de férias) e um Código de Processo Penal que, manejado por bons advogados, pode ser driblado infinitamente. Bom advogado exige muito dinheiro. Acesso exclusivo dos ricos. Nesse caso, só os pobres vão para o inferno. Ou seja, as prisões brasileiras. Isso não é retórica. Eis uma prova:

Um dos mais hediondos crimes praticados no Brasil faz 40 anos.

No dia 18 de maio de 1973, o corpo de Araceli Cabrera Crespo, de 8 anos, foi achado nos fundos do Hospital Infantil de Vitória (ES).

Assassinada, sofreu abuso sexual e foi desfigurada com ácido para dificultar a identificação do corpo. Os responsáveis eram integrantes de famílias capixabas influentes e, pelo menos, outras duas pessoas morreram por denunciar os criminosos. Identificados, sim. Punidos, não.

A data da morte de Araceli tornou-se oficialmente o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

Comentário

Bem, de fato o caso Araceli é uma vergonha trágica, de fato não se fez justiça, mesmo. Inclusive o nome da avenida a beira-mar da principal praia de Vitória é o do pai de um dos assassinos – pessoa então muito poderosa, como se pode observar.

Até hoje ninguém teve colhões para ao menos mudar o nome da avenida. Fica lá, sendo repetida diariamente, como um escárnio a justiça e a memória da criança estuprada e morta.

É uma lástima.

Fotografia panorâmica criativa - por Kerem Elver e Daniel Krassowski (Inspiration Hut)

O legado de Hugo Chávez para a América Latina – por Roberto Amaral (Carta Capital)

Em 14 anos promoveu 17 eleições (a 18ª travar-se-á no dia 14 de abril ainda em torno de sua legenda) e ganhou nada menos de 16! Mas é um ‘ditador’, diz o Departamento de Estado dos EUA e o repetem nossos jornalões, reproduzindo suas matrizes ideológicas.

Convocou por plebiscito uma Constituinte autônoma e a confirmou em referendo. Nossa democracia, vencida com tanta dor a ditadura (cujos crimes só agora começam a ser oficialmente apurados!), teve de se conformar com um Congresso ordinário (inchado até com senadores biônicos) autoinvestido de poderes constituintes.

A Constituição da ‘ditadura’ chavista – caminhando para a democracia direta –, incorpora avanços impensáveis ainda hoje no Brasil. Além da iniciativa popular legislativa, do plebiscito e do referendo (consultivo, revocatório, aprovatório e abrogatório), introduziu a revogação de mandatos, inclusive o do presidente. Chávez, ainda, inovou, ao submeter seu mandato a referendo (2004).

Mas, asseveram os comentaristas, o ‘regime chavista’ era (e prossegue sendo com Maduro) uma ‘ditadura’. Democracia mesmo, bem esta é a do grande ‘irmão do Norte’, onde Al Gore ganha as eleições no voto e quem toma posse é Bush…

No Brasil democrático, a ‘Constituição cidadã’ do Dr. Ulysses foi contestada desde o primeiro dia pelos seus avanços sociais, tarefa a que se devotaram Sarney, Collor e FHC, em nome da chamada governabilidade. Hoje, é um texto sem caráter, colcha de retalhos, mutilada por 71 emendas (e outro tanto em andamento…) que derrogaram a maior parte das conquistas sociais e os dispositivos que protegiam o interesse nacional. O que sobrou de avanço, sofre a condenação da direita, ecoada pela grande imprensa. Bom exemplo é a impossibilidade de cumprir a ordem do art. 220 da CF (aquele que regula os meios de comunicação de massa).

Acostumados com a leniência de nossos governos, dos partidos, do Legislativo e do Judiciário – todos acovardados diante do monopólio da informação – os grandes meios dizem que Chávez era um ditador porque enfrentou o que não ousamos enfrentar aqui: o monopólio da informação manipulada. Lá, os poderosíssimos grupos RCTV e Globovision. Não se informa (ora, informar não é o objetivo da grande imprensa!) que esses grupos de mídia foram instrumento fundamental (e evidentemente inconstitucional e ilegal) no golpe de Estado de 2002, contra Chávez, articulado pela embaixada dos EUA e o grande empresariado venezuelano. Como aqui em 1964, o golpe de lá também foi perpetrado em nome da democracia. Lá, o ‘democrata’ Pedro Carmona, presidente da Federação Venezuelana de Câmaras de Comércio (Fedecámaras), assim que instalado no Miraflores, atribuiu a si mesmo poderes extraordinários para determinar a dissolução da Assembleia e o recesso do Judiciário e da Procuradoria…

Seria esse o regime que prometia livrar a Venezuela da ‘ditadura chavista’. A diferença entre o nosso longevo golpe de 1964 e o venezuelano de 2002 é que lá o povo reagiu e depôs os golpistas. O resto é história contada e sabida.

No Brasil, a direita – e ela é a mesma aqui, ali e acolá –, responde com arreganhos a toda e qualquer iniciativa, seja mesmo puramente acadêmica, teórica, de democratização dos meios de comunicação, oligopolizados do ponto de vista empresarial e monopolizados do ponto de vista ideológico. Hoje um poder acima do Estado, e da Constituição, irresponsável porque inimputável, poder que ninguém ousa controlar. Pois uma das exigências da democracia é o encontro da liberdade com a responsabilidade. Uma não pode ser maior do que a outra.

Não se quer muito. Agora mesmo, no México, o governo festejadamente democrático de Peña Nieto criou um Instituto Federal de Telecomunicações com poderes para regular a concorrência nos mercados de telefonia e radiodifusão. Terá sido acometido de algum vírus chavista? Se essa regulação caminhar no sentido da democratização, o alvo poderá vir a ser o Grupo Televisa, que detém 70% da audiência mexicana. Nessa hipótese de ‘mau exemplo’, o México continuará sendo considerado uma democracia?

O merecido conceito brasileiro de democracia representativa estável resistiria, na voz dos monopólios, a qualquer tentativa de democratização dos meios de comunicação de massa?

Fala-se, agora, que Maduro, indicado vice na forma da Constituição venezuelana, não poderia permanecer no cargo após a morte do titular. No Brasil, o colégio eleitoral (que substituiria o povo no direito de eleger o presidente), elegeu Tancredo, e, com sua morte, o Congresso, passando por cima do presidente da Câmara dos Deputados, deu posse ao vice-presidente José Sarney (também e não por acaso ex-presidente do partido da ditadura, é impossível deixar de lembrar).

A história da Constituinte condicionada e da posse do vice no lugar do presidente morto antes de seu juramento no Congresso e de instalar-se no Planalto, remonta a negociações de próceres do PMDB com os militares que teriam dado origem a compromissos para assegurar a transição do poder militar para o poder civil, monitorado por aquele. Um dos compromissos teria sido o da convocação de um congresso constituinte, em vez de uma Constituinte autônoma; outro, inimputabilidade dos crimes da ditadura.

Não nos enganemos. A direita, no Brasil e no mundo, jamais teve apreço pela democracia, embora alegue sua defesa sempre que promove golpes-de-Estado. As razões para a guerra midiática antichavista são objetivas: a Venezuela possui uma das maiores reservas petrolíferas do mundo, reservas que sobreviverão quando secarem as do Oriente Médio, depredado pelas grandes potências. Em seu rastro, a pobreza de milhões (em contraste com a riqueza obscena de suas classes dominantes) e os milhões de vítimas de um genocídio permanente, sustentado pela fome e pelas guerras impostas pelo imperialismo.

Para as elites venezuelanas, corruptas, pérfidas, o petróleo serviria tão só para o seu enriquecimento e fausto, pois os lucros eram aplicados em Miami, sua verdadeira capital. Quanto mais o país exportava petróleo – e importava tudo porque nada era investido na produção de alimentos ou na industrialização – o povo, as grandes massas, a maioria da população, os mulatos e os mestiços, pobres porque povo mestiço, viviam na pobreza abjeta, sem emprego, sem educação, sem saúde, sem nada porque também sem esperança. Que fez o ‘caudilho’, coronel ‘populista’, ‘demagogo’? Desviou os lucros da PDVSA para a melhoria das condições de vida da população, da população pobre, em detrimento, salve ele!, de suas elites alienadas e forâneas, em detrimento dos poderosos, inclusive dos poderosos empresários da mídia, em prejuízo inclusive de uma corporativismo sindical corrupto.

Cedo, Chávez compreendeu a importância da união cooperativa dos Estados latino-americanos, o que sempre irritou as metrópoles. Daí a tentativa de desmoralizar seu bolivarianismo. Estreitou as relações econômicas com a Argentina (que socorreu com a compra de seus títulos desvalorizados), ajudou Cuba e diversos pequenos países do Caribe (fornecendo petróleo subsidiado), cooperou com a Bolívia e o Equador. Promoveu aproximação sem precedentes entre a Venezuela e o Brasil (com FHC, com Lula, com Dilma), cujos efeitos econômicos a burguesia indígena, se tivesse um mínimo de autonomia ideológica, saberia reconhecer. Mas ao contrário, combateu o quanto pôde o ingresso da Venezuela no Mercosul, projeto sabidamente do interesse da região e do Brasil.

Não, não fez a revolução social, mas governou tendo sempre em vista a emancipação econômica da Venezuela e a melhoria da qualidade de vida de sua gente, propostas inaceitáveis pela direita (defesa do país e promoção dos interesses dos pobres), eis as razões de seus conflitos com os EUA e a oposição dos poderosos internos. Uma oposição de ódio, ódio de classe, ódio étnico, ódios hepáticos e ódio puro ódio. Mas eis, igualmente, a razão de suas sucessivas vitórias e a esperança de que o semeado frutificará, regado que é pelo apoio popular.

Fotografia com arte monocromática - por Vassilis Tangoulis (Fine Art Photography)

Horrores reais, amores falsos - por Aldo Pereira (Folha)

Maria Teofilatto (?892-?927) teria 14 anos quando o papa Sergio 3º a engravidou. Marozia, como a celebrizaram, deve ter tido especial orgulho de ver coroado como João 11, aos 20 anos (ou 21), o filho tido de Sérgio. Cinco outros descendentes dela chegariam a papa.

Amantes e três sucessivos maridos colaboraram. Mas também, claro, não lhe faltaram adversários: outro de seus filhos a manteve encarcerada (ou enclausurada) até ela morrer, ninguém sabe quando nem como nem onde.

Na época, sucessão papal fascinava famílias aristocráticas ramificadas pelos impérios, reinos, principados, ducados e outras casas do xadrez político europeu. Antes de 1059, apenas potentados laicos nomeavam papas, e o primeiro conclave data de 1276.

No processo de intrigas e extorsões da sucessão papal, assassinato era solução costumeira de impasse. Bonifácio 6º, sucessor de Formosus, morreu após 15 dias de pontificado. "Causa mortis" oficial, gota. O imperador Lamberto di Spoleto nomeou para sucedê-lo o dócil Estêvão 6º.

Motivada por inesquecidos rancores, a imperatriz Agiltrude logo exigiu que Estêvão convocasse um sínodo para julgar Formosus. Estêvão mandou exumar o cadáver (sepultado oito meses antes), paramentá-lo e sentá-lo no trono.

A "defesa" nem conseguiu absolver o réu nem livrá-lo de agravamento da pena: ter decepados os três dedos que todo papa estende para abençoar com a mão direita. Como achasse pouco infamante esse desfecho, Agiltrude mandou exumar de novo o cadáver e despejá-lo no rio Tibre.

Passados alguns meses, Lamberto fez as pazes com os aristocratas que tinham patrocinado Formosus. Na reviravolta, Estêvão acabou deposto e estrangulado. Antigos aliados de Formosus descobriram seu corpo, que um monge recolhera do Tibre e sepultara. Encerraram por fim o caso, então, com terceira exumação e quarto sepultamento.

A cultura de horror se manteria enquanto os papas puderam preservar poder temporal nos Estados papais, ricos territórios da Itália doados pelo imperador franco Pepino, o Breve (ou "o Baixinho", 714-761). O encolhimento dos Estados papais se completaria em 1929, quando Benito Mussolini os delimitou com o nome oficial italiano de Santa Sede (Stato della Città del Vaticano), que no latim oficial é Sancta Sedes (Status Civitatis Vaticanæ).

Até que Pio 9º o aposentasse em 1864, o carrasco Giovanni Battista Bugatti (1779-1869) supliciou em Roma 516 pessoas condenadas por delitos comuns e políticos (conspirar contra o papa era crime de lesa-majestade). E por que não? Pois Agostinho e Tomás de Aquino não aprovaram pena capital?

Bugatti a infligia com forca, machado, guilhotina e marreta (para afundamento de crânio seguido de degola), e às vezes subsequente esquartejamento. Embora não aplicada no século 20, a pena de morte vigeu na Constituição da Santa Sé até ser abolida por Paulo 6º em 1969.

A renúncia de Bento 16 e subsequente sucessão mostram hoje o papado menos arrogante e malevolente, mais compatível com a conduta e o sentimento genuinamente humanitários de tantos católicos. Mas regras anacrônicas ainda contradizem o preceito de amor ao próximo.

É desamor favorecer propagação de doenças e procriação irresponsável com proscrição de camisinha e pílula. Impor celibato clerical. Endossar misoginia paulina para interditar o sacerdócio à mulher. Incitar ódio a homossexuais. Dificultar a promissora pesquisa de células-tronco. Negar voz e prestação de contas aos fieis.

Tradição valida autoridade, sim. Mas qual tradição?

Chapeuzinho Vermelho - por Admira Wijaya (Arte digital - Coolvibe)

Sem Chávez – por Leandro Fortes (CartaCapital)

Não tenho dúvidas de que a História irá fazer bom juízo de Hugo Chávez, o comandante de uma revolução pacífica e democrática, a desmembrar e expor em praça pública o complexo e cruel pacto de permanência das elites locais. Antes de Chávez, a Venezuela não existia no mapa geopolítico mundial, parecia ser anexo na América do Sul, um país-satélite dos Estados Unidos, a ponto de amar mais o beisebol que o futebol. Uma elite que tinha Miami como um condomínio de luxo, ao qual voltavam às sextas-feiras, depois do trabalho, empresários, políticos, cidadãos.

Minha fé na justiça da História reside não só no argumento da força popular renascida entre a massa, essa palavra endurecida, e um governante mestiço, meio índio, meio nada. Essa “ninguendade”, sobre a qual se debruçou Darcy Ribeiro, a explicar o significado filosófico das misturas étnicas de base lusitana da qual descendemos quase todos nós, brasileiros, assim como do matiz hispânico vem a “nadiedad” de Chávez e da imensa nação de esquecidos que o elegeu e o manteve firme no poder, até que, morto o comandante, se enrolaram na bandeira venezuelana e foram chorar, aos milhões, em todas as cidades do país.

Antes de Chávez, a Venezuela mantinha-se dentro de uma estrutural social paralisante, dentro da qual os privilégios do petróleo, maior riqueza do país, eram distribuídos entre apenas 1% da população. Em pouco mais de uma década, o líder bolivariano tirou, de um universo de 24,6 milhões de pessoas, 5 milhões delas da pobreza absoluta.

Universalizou a saúde e a educação, criou mercados subsidiados de alimentos, ensinou política aos pobres, tirou os arreios da Venezuela em relação aos Estados Unidos e, certa vez, na sede da ONU em Nova York, diante das câmaras, disse o seguinte sobre o lugar que George W. Bush havia ocupado antes de sua fala: “Ainda cheira a enxofre”. Tinha cojones, o comandante.

Hugo Chávez fez trocentas eleições livres na Venezuela, todas monitoradas por observadores estrangeiros e, mais ainda, por uma mídia sequiosa de sangue, mas é uma tarefa inútil bater nessa tecla. Fixar a pecha de “ditador” em Chávez foi uma tentativa do Departamento de Estado americano e da mídia em geral para iniciar o processo de demonização do presidente venezuelano. Nem é preciso dizer na nossa triste contribuição nesse processo, dando notícia de como Chávez era perigoso para o mundo livre, branco e cristão. Embora Chávez, o índio, o negro, o zé-ninguém, acreditava em um socialismo baseado nas origens do cristianismo. Então, tinha que ser “ditador”, mesmo, já que a fé em Cristo impedia que lhe imputassem, também, a pecha de “comunista”.

A reação dos conservadores a Chávez, confesso, me interessava mais do que a figura do presidente, a histeria da direita latino americana, a forma primária como a propaganda contra o presidente venezuelano se disseminava pelo noticiário da mídia brasileira, as opiniões de bonecos de ventríloquos disfarçados de especialistas, o ódio dos liberais contra a erradicação de privilégios.

Chávez combateu a todos, e a todos venceu. Tinha o riso largo dos vencedores, não disfarçava o desprezo pela tibieza de seus adversários, dos que lhe acusavam de ser um tanto caricato em seu uniforme militar. Estes mesmos que, no entanto, eram suficientemente espertos para entender o significado daquela farda. Chávez deu ao Exército de onde veio um novo significado de Pátria, onde estão todos, não somente uns.

Não sou ninguém, nem tenho conhecimento o suficiente, para prever o futuro da Venezuela. Mas uma coisa é certa: ela nunca mais será a mesma depois de Chávez.