domingo, 28 de setembro de 2014

Borda - por Mikko Lagerstedt (Fotogafia - site homônimo)


Uma democracia que se volta contra o povo - por Leonardo Boff (Carta maior)

Uma grita geral da mídia corporativa, de parlamentares da oposição e de analistas sociais conservadores se levantou contra a Política Nacional de Participação.  

     Uma grita geral da mídia corporativa, de parlamentares da oposição e de analistas sociais ligados ao status quo de viés conservador se levantou furiosamente contra o decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação Social. O decreto não inova em nada nem introduz novos itens de participação social.

     Apenas procura ordenar os movimentos sociais existentes, alguns vindos dos anos 30 do século passado, mas que nos últimos anos se multiplicaram exponencialmente a ponto de Noam Chomsky e Vandana Shiva considerarem o Brasil o país no mundo com mais movimentos organizados e de todo tipo.

      O Decreto reconhece esta realidade e a estimula para que enriqueça o tipo de democracia representativa vigente com um elemento novo que é a democracia participativa. Esta não tem poder de decisão apenas de consulta, de informação, de troca e de sugestão para os problemas locais e nacionais.

      Portanto, aqueles analistas que afirmam, ao arrepio do texto do Decreto, que a presença dos movimentos sociais tiram o poder de decisão do governo, do parlamento e do poder público laboram em erro ou acusam de má fé. E o fazem não sem razão. Estão acostumados a se mover dentro de um tipo de democracia de baixíssima intensidade, de costas para a sociedade e livre de qualquer controle social.

      Valho-me das palavras de um sociólogo e pedagogo da Universidade de Brasília, Pedro Demo, que considero uma das mentes mais brilhantes e menos aproveitadas de nosso país. Em sua Introdução à sociologia (2002) diz enfaticamente: ”nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis “bonitas”, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Político (com raras exceções) é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniguados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima…Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação”(p.330.333).

      Não faz uma caricatura de nossa democracia, mas uma descrição real daquilo que ela sempre foi em nossa história. Em grande parte possui o caráter de uma farsa. Hoje chegou, em alguns aspectos, a níveis de escárnio. Mas ela pode ser melhorada e enriquecida com a energia acumulada pelas centenas de movimentos sociais e pela sociedade organizada que estão revitalizando as bases do país e que não aceitam mais esse tipo de Brasil.

      Por força da verdade, importa reconhecer, que, entre acertos e erros, ele ganhou outra configuração a partir do momento em que outro sujeito histórico, vindo da grande tribulação, chegou à Presidência da República. Agora esses atores sociais querem completar esta obra de magnitude histórica com mais participação. E eles têm direito a isso, pois a democracia é um modo de viver e de organizar a vida social sempre em aberto – democracia sem fim – no dizer do sociólogo português Boaventura de Souza Santos.

      Quem conhece a vasta obra de Norberto Bobbio um dos maiores teóricos da democracia no século XX, sabe das infindas discussões que cercam este tema, desde o tempo dos gregos que, por primeiro, a formularam. Mas deixando de lado este excitante debate, podemos afirmar que o ato de votar não é o ponto de chegada ou o ponto final da democracia como querem os liberais. É um patamar que permite outros níveis de realização do verdadeiro sentido de toda a política: realizar o bem comum através da vontade geral que se expressa por representantes eleitos e pela participação da sociedade organizada.

      Dito de outra forma: é criar as condições para o desenvolvimento integral das capacidades essenciais de todos os membros da sociedade. Isso no pensar de Bobbio – simplificando uma complexa discussão – se viabiliza através da democracia formal e da democracia substancial. A formal se constitui por um conjunto de regras, comportamentos e procedimentos para chegar a decisões políticas por parte do governo e dos representantes eleitos. Como se depreende, estabelecem-se regras como alcançar a decisões políticas, mas não define o que decidir.

      É aqui que entra a democracia substancial. Ela determina certos conjuntos de fins, principalmente o pressuposto de toda a democracia: a igualdade de todos perante a lei, a busca comum do bem comum, a justiça social, o combate aos privilégios e a todo tipo de corrupção e não em último lugar a preservação das bases ecológicas que sustentam a vida sobre a Terra e o futuro da civilização humana.

      Os movimentos sociais e a sociedade organizada, podem contribuir poderosamente para essa democracia substancial. Especialmente agora que devido à gravidade da situação global do sistema-vida e do sistema-Terra se busca de um caminho melhor para o Brasil e para o mundo. Com sua ciência de experiências feita, com as formas de sobrevivência que desenvolveram em 500 anos de marginalização, com suas tecnologias sociais e com seus inventos, com suas formas próprias de produzir, distribuir e consumir, em fim, tudo aquilo que possa contribuir na invenção de outro tipo de Brasil no qual todos possam caber, a natureza inteira incluída.

      Uma democracia que se nega a esta colaboração é uma democracia que se volta contra o povo e, no termo, contra a vida. Daí a importância de secundarmos o Decreto presidencial sobre a Política Nacional de Participação Social, tão irrefutavelmente explicada em entrevista na TV e em O Globo (16/6/2014) pelo Ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência Gilberto Carvalho.

Fotografia de crianças palestinas - por AFP/Yahoo!

Gaza, Israel – Crianças palestinas brincam no meio de escombros destruídos por ataque israelense durante ofensiva.

Picadinhas

“Não podemos colocar mais carga sobre o cidadão brasileiro” – Pastor Everaldo falando sobre impostos, não sobre dízimos.
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A vida é um comercial de margarina sem a parte da felicidade ao acordar.
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Tenho umas pessoas pra indicar ao diálogo com o Estado Islâmico.
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A vocação do político de carreira é fazer de cada solução um problema. (Woody Allen)
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Tomei tanto café hoje que tô mais ligada que o Jobson em dia de jogo.
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Quem viveu o governo FHC não digita 45 nem no microondas.
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O ódio emburrece.
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Mantenha distância de quem tenta diminuir suas ambições. Pessoas verdadeiramente grandes fazem você sentir que você também pode se tornar grande. (Mark Twain)
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Marina volta atrás e diz que o Badoo é a rede social do momento.
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The Voice Brasil é o reality que escolhe a pessoa que será menos famosa que um BBB.
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“Quem não teve condições de administrar a nossa maior empresa, não tem condições de administrar o Brasil” (Aécio Neves, cujo tio é capaz de administrar um aeroporto público sozinho.)
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Todas as minhas verdades são, para mim, verdades sangrentas. (Friedrich Nietzsche)
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“Vou votar em ciclano pra fulano não ganhar”.
Campeão, isso é a eleição e não o big brother!
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Depois dos setenta anos de idade, se te despertares sem dor é porque está morto. (David Brown)
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Você sabia que o ser humano é o único animal do mundo que, ao ficar bêbado, liga pra(o) ex?
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De bobo só tenho a cara e todo o resto.
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Duracell uma ova! A única pilha que nunca acaba é a pilha de louça.
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Marina acha que é dona das manifestações de junho de 2013. Pelo visto nos comícios dela, aquela multidão tomou Doril.
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Quero andar na ciclofaixa, amor
Que venha
Pois ficar engarrafado, amor
É lenha
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E hoje você acordou perdendo ganhando ou ganhando perdendo?
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A favor dos toques singelos: “Falando em tragédia, parabéns pela nova tatuagem”.
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A esquerda tá tão dividida, mas tão dividida, que esta quase em nível atômico, se separar mais um pouco explode..
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Tutorial de Classe Média para Eike Batista:
- Bote capinha no botijão.
- Remende a chinela com prego
- Peça a senha do wifi
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Você acha que não existe nada pior que carro de som de candidato. Aí aparece a carreata do candidato.
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Geralmente, uma pessoa odeia você por 3 motivos: 1) Ela vê você como uma ameaça. 2) Ela se odeia. 3) Ela quer ser você.
Eventualmente existe a possibilidade de você ser detestável, mesmo.
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Agora só resta à mídia torcer ardentemente pela hecatombe universal.
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Vitória do Palmeiras com boa atuação do Valdívia e ainda por cima sem sair machucado ou expulso, só pode dar em uma coisa: Dilúvio em SP.
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Armínio Fraga afirma que não cortaria gastos sociais. Pelo menos não até 1° de Janeiro de 2015.
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O Valdívia nada mais é do que aquele marido alcoólatra que vive batendo na mulher, mas que de vez em quando aparece com um buquê de rosas.
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Dez minutos de Marina em horário eleitoral num eventual segundo turno podem ser fatais para o equilíbrio sonoro do planeta.
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Desconfio de pessoas alegres pela manhã.
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A mídia que esconde que o país que saiu do mapa da fome é a mesma que anuncia e garante o fim do mundo todo santo dia.
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Presidente da CBF quer revanche contra a Alemanha. Eu tenho um nome para isso: masoquismo.
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Palmeiras - 25
Vitória - 24
Criciúma - 24
Coritiba – 23
Aécio - 18
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Haverá algum homem que não se sentirá terrivelmente ferido se vier a saber o que os seus mais fiéis amigos pensam dele no seu íntimo? (Friedrich Nietzsche)
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Outra grande derrotada desta corrida eleitoral é Andréa Neves, a Margaret Thatcher de MG. Tem tudo de pior que a Dama de Ferro tinha.
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Infeliz daquele que, nos primeiros instantes de uma ligação amorosa, não acredita que ela vai ser eterna. (Benjamin Constant)
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Marina precisa urgente de nova aplicação de Soros na veia.
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Viva cada dia de sua vida como se fosse o último, pois um dia desses vai ser mesmo. (Alfred Newman)
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Quando a mídia ouve alguém falar em soberania nacional, saca o seu revólver.
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Todos nós nascemos originais e morremos cópias. (Carl J. Jung)
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Desemprego chega a 5% em agosto, a menor taxa registrada para o mês. Chora, Miriam Leitão, chora.
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Feliz é quem se reencontra com prazer ao despertar, reconhecendo-se como a pessoa que gosta de ser. (Paul Valéry)
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Aguarda-se até o fim das eleições sensacional troca de gentilezas entre próceres do PSB e Marina Silva.
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Os jovens têm aspirações que nunca são alcançadas, os idosos têm lembranças que nunca aconteceram. (Hector Hugh Munro)
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Sardenberg, Jabor e Mainardi vão pedir revisão no Índice de Bem-Estar Global. Não admitem que os brasileiros sejam o quinto povo mais feliz.
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Na arte só tem importância os que criam almas, e não os que reproduzem costumes. (Eça de Queirós)
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O clima no mundo não está legal. Mas entre PSB e Rede está muito pior.
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Não se preocupe em evitar as tentações – à medida que você envelhecer, elas o evitarão. (Laurence J. Peter)
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Fernando Meirelles vai fazer remake de Ensaio Sobre a Cegueira com Marina Silva no papel de Cegueira.
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O amor não se pode definir e talvez esta seja a sua melhor definição. Sendo em nós limitado o modo de explicar, é infinito o modo de sentir. Nem tudo o que se sabe sentir, se sabe dizer: o gosto e a dor não se podem reduzir a palavras. Os que amam não tem livre espírito para dizerem o que sentem; e sempre acham que, o que sentem é muito mais do que dizem. O mesmo amor entorpece a ideia e lhe serve de embaraço. Os que não amam mal podem discorrer sobre uma impressão que ignoram; os que amaram são como a cinza fria, onde só se reconhece o efeito da chama, e não a sua natureza; ou também como o cometa, que depois de girar a esfera, sem deixar vestígio, desaparece. (Matias Ramos da Silva de Eça Aires)
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Austeridade cria onda de suicídios na Europa, revelou ontem o programa Milênio, da GloboNews. A onda que Marina e Aécio querem importar.
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O homem está construído sob o mesmo tipo ou modelo geral que qualquer outro mamífero. (Charles Darwin)
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A candidatura de Marina Silva não resistiu aos apoios de Caetano Veloso e Diogo Mainardi.
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Só conservamos, na velhice, uma espinha arqueada que se dobra ante os novos fatos, quando nos mantivemos curvados durante a vida para evitar os choques dolorosos com a realidade. (Sigmund Freud)
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Toga justa no mundo jurídico: Fux quer fazer da coisinha bonitinha do pai desembargadora de qualquer jeito.
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O homem é o único animal que pode permanecer, em termos amigáveis, ao lado das vítimas que pretende engolir, antes de engoli-las. (Samuel Butler)
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Vou ali, fazer uma solda na rachadura da minha vizinha. Volto.
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By Zombozo Kropotkin, Palmério Dória e adicionais.

Jimmy Sangue-frio - por Kuang Hong (Arte digital - Coolvibe)


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Arte digital - por Piofoks (Deviantart)

Tudo continua bem - Vladimir Safatle (Folha de S.Paulo)

     Na semana passada vimos mais uma intervenção brutal da Policia Militar de São Paulo na desocupação de prédios vazios no centro da capital. Nada que não tenha se tornado um clássico em nossa cidade: espancamento, gás lacrimogêneo, fogo. Tudo isso para tirar 200 famílias que viviam em um prédio desocupado havia dez anos.

     Em uma imagem sintomática que passou na televisão, um policial entra no prédio e afirma: “Isso aqui mostra bem que eles estavam preparados para enfrentar a gente”.

     No caso, “isso aqui” era uma pilha de cocos. Como se sabe, cocos são artefatos bélicos de última geração com poder de letalidade amedrontador. Pergunto-me como o poder público permitiu que tais famílias portassem tantos cocos sem registro de porte de armas.

     No entanto, vejam vocês, estamos em campanha eleitoral e nada disso parece ter o menor significado para a maioria dos postulantes a cargos políticos.

     Nada sobre o absurdo de existir uma cidade eivada de prédios vazios enquanto parte de sua população continua sem moradia por, muitas vezes, ser incapaz de aguentar os aumentos de aluguel resultantes de especulação imobiliária descontrolada.

     Nada sobre uma polícia que reiteradamente mostra tratar a população que luta por condições mínimas de vida digna como uma manada de porcos pronta para o abate.

     O nível de uso da violência canina para a defesa da propriedade de alguns poucos e de seu rentismo é tal que ficamos frente até mesmo de pátrias do liberalismo, como o Reino Unido.

     Lá, que não é nenhuma república comunista, vale a lei da casa vazia, que permite a pessoas sem moradia ocupar imóveis vazios que servem apenas para a especulação. A coesão social mínima passa por cima do direito à propriedade de alguns.

     Mas isso não será objeto de debate por parte de nossos candidatos mais importantes a cargos eletivos.

     Eles estão mais preocupados em cantar as “grandes conquistas do passado”, em pregar lutas contra a corrupção dos seus inimigos (enquanto dizem que a corrupção dos seus amigos “não é bem assim”) ou em pregar cândidas uniões nacionais (entre o dono do imóvel e as famílias expulsas? Bem, o dono do imóvel agradece).

     Assim, nos preparamos para uma espécie de não-eleição que mostra, no fundo, o esgotamento da capacidade de agir politicamente por parte dos principais atores nacionais.

     Nesse regime de esgotamento, sabemos que o sofrimento dos que só tem cocos para se defender continuar onde sempre esteve, ou seja, no silêncio absoluto.

Fotografia - por Krystle Wright (Inspiration Hut)

Danilo Gentili é mais que um rematado idiota, é um covarde – por Nirlando Beirão (CartaCapital)

Não satisfeito, ele se une a gente como Roger, que se vangloria de um QI à altura do Everest e escora sua sabedoria no exílio passado na América, onde deve ter feito estágio na Ku Klux Klan

Luciana humilha o escorpião, perdão, anfitrião
      Acabou A Grande Família, depois de 13 anos quase ininterruptos, e acabou em grande estilo, com artimanha de metalinguagem, o último capítulo brincando de ficção em dobro. Deixa saudade. Vai embora, na Globo, a longeva família suburbana e fica, no SBT, a molecagem subintelectual de The Noite. Danilo Gentili é um rematado idiota e, não satisfeito, ainda se cerca de sumidades anedóticas como aquele Roger, sempre um Ultraje.

      Gentili construiu sua, hum, notoriedade graças ao episódio que este colunista testemunhou: a suposta agressão por parte de guarda-costas de Sarney, durante a comemoração da vitória de Dilma Rousseff em 2010, num hotel de Brasília. Na verdade, foi o varapau vira-latas que, no acotovelo da multidão, se arremessou sobre o ex-presidente, com aquela grosseria que caracteriza o padrão Pânico de provocação e desrespeito. Já o Roger vangloria-se de um QI à altura do Everest, que ele prefere sonegar à tevê, e escora sua sapiência nos anos de autoexílio na América, onde, a julgar pelo que diz, deve ter cumprido um proveitoso estágio na Ku Klux Klan.

     Bastaram 20 minutos, nesta semana, para que ruíssem estrepitosamente o arcabouço ideológico e a fraude ética que sustentam todo aquele esforçado exercício de gracinhas e de torpezas. Luciana Genro, candidata do PSOL à Presidência, aceitou submeter-se ao risco mais do que previsível do deboche. Atrevida, a moça. Sua firmeza desarmou os engraçadinhos. Sua sinceridade levou-a a recomendar ao, bem, entrevistador: “Se tu estudar um pouquinho...”

     As redes sociais extrapolaram o episódio, mas na verdade Luciana disse-o sem agressividade. O, vá lá, anfitrião, em resposta humilhada, postou uma montagem relacionando a candidata ao ídolo dele, Adolf Hitler. Mostrou que, além de idiota, é um covarde.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Fotografia - por James P. Blair (National Geographic)

Picadinhas

O melhor presidente do Palmeiras foi a Parmalat.
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Animado com o último Ibope, Aécio faz como os EUA no Vietnã: declara a vitória e bate em retirada.
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Só existe uma coisa melhor do que fazer novos amigos: conservar os velhos. (Elmer Letterman)
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A equipe econômica de Marina é a versão sonhática da Torre de Babel.
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Sucesso é conseguir aquilo que você quer. Felicidade é gostar daquilo que você conseguiu. (Jackson Brown Jr)
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Se avistares um gigante, observa a posição do sol e repara se o que vês não é a sombra de um anão. (Frederich Novelis)
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Efeito Luciana Genro: Aécio foi visto em algum lugar da Pauliceia chamando urubu de meu louro.
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A felicidade que preciso não é a de fazer o que quero, mas a de não fazer o que não quero. (Jean-Jacques Rousseau)
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Ah olhos, não há olhos, mas fontes carregadas de lágrimas; ah vida, não há vida, mas uma forma viva de morte; ah mundo, não há mundo, mas uma massa de erros públicos, amalgados e repletos de crime e maldade! (William Shakespeare)
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Marina discutiu ontem no jantar com banqueiros fórmulas de eliminar entraves ao desenvolvimento sustentável, como um tal de povo.
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Talvez algum dia a solidão venha a ser adequadamente reconhecida e apreciada como mestra da personalidade. Há muito que os orientais o sabem. O indivíduo que teve experiência da solidão não se torna vítima fácil da sugestão das massas. (Albert Einstein)
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Eike Batista vai procurar um posto Ipiranga só pra cadastrar os km de vantagem.
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O Greenpeace que apoia a Marina esta pedindo para o brasileiro esquecer o Pré-sal e apostar no Pré-sol... Assim a Chevron fica com o Pré-sal.
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O filme “Noé” em São Paulo foi cancelado devido à falta de água.
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“A história dos grandes acontecimentos do mundo não é mais do que a história dos seus crimes.” (Voltaire)
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Ferrari: Só a palavra é suficiente para proporcionar um arrepio de excitação aos entusiastas mais casuais de automobilismo. (Luca di Montezemolo)

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Marina Silva renovou estoque de lágrimas na farmácia Divina pra deter queda livre de pontos no Datafolha.
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Os mortos não precisam levantar. São uma parte da terra agora, e a terra nunca pode ser conquistada, sobreviverá a todos os sistemas de tirania. Aqueles que nela entraram de maneira honrada, já alcançaram a imortalidade. (Ernest Hemingway)
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Meu domingo foi tão chato que mais parecia um quadro do Domingo Show do Geraldo.
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Garotinho escrachando a globo: o sujo falando do mal lavado.
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Eike Batista matando pernilongos com raquete elétrica e achando o máximo.
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Todas as pesquisas são iguais perante os indecisos. (Dodó Macedo)
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Aécio paquera Marina: você quer ser a biruta do meu aeroporto?
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“Só para assinantes” é o novo “fiado só ao lado”.
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Apenas vos falta um ser, e tudo esta despovoado. (Lamartine)
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Realmente Marina é a voz da mudança. A depender do público... muda a opinião.
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Daquilo que sabes conhecer e medir, é preciso que te despeças, pelo menos por um tempo. Somente depois de deixada a cidade verás a que altura suas torres se elevam acima das casas. (Friedrich Nietzsche)
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A verdadeira filosofia, o que nos dá uma ideia da perfeição, é dar absoluta independência ao espírito. (Chauteland)
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Não Floyde! Já me mandaram 3 vezes um artigo que diz que a CIA matou Eduardo Campos. O mesmo autor já escreveu artigos dizendo que o Obama é gay.
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A felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido. (Marxwell Maltz)
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O otimista proclama que vivemos no melhor dos mundos. O pessimista teme que seja verdade. (James Branch Cabell)
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O mensalão do PSDB completou impunes 16 anos de idade, já pode até tirar título de eleitor. Será que vai votar no Aécio?
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Viver é desenhar sem borracha. (Millôr Fernandes)
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Experiência é o nome que cada um dá aos seus erros. (Oscar Wilde)
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Pastor Everaldo se diz o candidato da “família”. Interessante, já que o santinho cometeu a covardia de agredir com chutes e socos sua ex-mulher, que chegou a ter o tímpano perfurado pelas agressões.
Mas deve ter sido tudo em nome de Deus, é claro.
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A juventude é rápida nos sentimentos e fraca nos julgamentos. (Homero)
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O homem vem à terra para uma permanência muito curta, para um fim que ele mesmo ignora, embora, às vezes, julgue sabê-lo. (Albert Einstein)
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Em Minas Gerais, Aécio tem maior rejeição do que Dilma e Marina. Não foi lá que o tucano fez duas gestões exemplares? Expliquem-me, por favor.
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Meu Deus protegei-me de meus amigos! Dos meus inimigos eu me encarregarei. (Voltaire)
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Passamos o dia da Árvore. Fiquei plantado dentro de casa o fim de semana inteiro pra comemorar.
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1 leitor vale mil seguidores.
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Neca: Aonde você vai a essa hora?
Marina: Sei lá. Flexibilizar uma lei contra a escravidão por aí.
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Descoberto o motivo dos tucanos serem contrários a ciclovias em SP: não poderão cobrar pedágio.
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Enfim o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome! Alguém viu isso em letras garrafais nas manchetes de algum grande jornal do país?
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O homem casa porque está fatigado, a mulher porque é curiosa. Todos os dois se decepcionam. (Oscar Wilde)
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O eleitor, obrigatoriamente, tem que ser qualificado. O candidato, não. (Max Nunes)
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O engavetamento de cabeças na campanha de Marina já virou piada até no Estadão. O Imposto Sobre as Grandes Fortunas durou 24 horas.
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Não te esqueças que na noite escura, até a tua sombra te abandona. (Humberto de Campos)
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Gente que foi pra rua ano passado, protestou, quebrou agência do Itaú e agora vai votar na Marina: Dilma deveria ter criado o Bolsa Coerência!
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As mulheres querem ser amadas, e quando se as ama, dizem-se atormentadas e aborrecidas. (Anatole France)
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Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente. (Érico Verissimo)
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Peruas paulistanas entram em guerra. De um lado, as peruas sonháticas. Do outro, as peruas de bico dourado. Não vai ficar pena sobre pena.
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Que ironia, o artilheiro do Brasileirão é boliviano e o artilheiro da Europa é brasileiro, mas joga pela Espanha. Tem como piorar?
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Cuidado com a fúria de um homem paciente. (John Dryden)
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No Fla-Flu o fluminense sequer precisou recorrer ao STJD, o juiz já resolveu dentro de campo, mesmo.
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-- Mas Santinha, por que a senhora censurou o Muda Mais?
-- Alguém lá do alto falou e disse: “Censura!”
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Quando (e se) eu chegar a idade do Papai Joel, que Deus me abençoe com uma barriga semelhante. Barriga é caráter!
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O soco que Genro deu no Aécio, acertou FHC no estômago! Nocaute!
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Newsweek: Americano inventa o Dia sem Whatsapp e é jurado de morte.
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ESPN: Del Nero desiste de presidência da CBF e vira garoto propaganda do Viagra.
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A política externa de Marina consiste basicamente em desinventar meio mundo.
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“Não penso de modo algum que estou mais perto agora, do que quando tinha 15 anos. Eu ainda não sei o que realmente quero, ou como eu realmente sinto. Às vezes eu acho que já vi muito. Às vezes absolutamente nada, e às vezes acho que esqueci o que estava procurando.” (Robert Smith)
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Os mineiros esperaram 12 anos, trabalhando em silêncio, para acertar as contas com os Irmãos Neves.
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Civilização é um depósito ativo formado pela combustão do presente com o passado. (Cyrill Connolly)
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Nunca entendi as pessoas que se lembram da infância como uma época idílica. (Bill Watterson)
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É uma espécie de esnobismo intelectual que faz as pessoas pensarem que podem ser felizes sem dinheiro. (Albert Camus)
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Merece toda solidariedade a apresentadora do RJ-TV que se sentiu obrigada a assegurar o padrão Globo de honestidade após a entrevista ao vivo com Garotinho. A vida é dura.
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Quando alguém me entende, fico besta. (Hilda Hilst)
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Na semana passada Henry Kissinger publicou seu décimo quarto livro. Antes ele competia com o império soviético. Agora com o Gabriel Chalita.
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As recordações são os únicos belos astros que adornam as noites da velhice. (Antônio Feliciano de Castilho)
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Pela primeira vez em 514 anos, Brasil vence a fome estrutural. Essa é a notícia de destaque em todos os jornais do mundo. Menos no Brasil. (Bruno Ribeiro).
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“Aquele que não pode recordar-se do passado, está condenado a repeti-lo. (George Santayana)
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Deus deu-nos nossos parentes, mas teve a bondade de nos deixar escolher nossos amigos. (Ethel Munford)
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Espere o melhor, prepare-se para o pior e receba o que vier. (Provérbio chinês)
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Marina, FHC também achou que ia enterrar a Era Vargas. Hoje é apenas um retrato na parede do iFHC.
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Quem se mata de trabalhar merece mesmo morrer. (Millôr Fernandes)
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Aprendi a não fazer nenhum caso de opiniões a que falte o fundamento dos fatos. (Charles Darwin)
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Coro em mesa de boteco LGBT do Baixo Augusta: “Marina, eu não me engano, teu coração é Feliciano!”.
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Os maiores acontecimentos e pensamentos são os que mais tardiamente são compreendidos. (Friedrich Nietzsche)
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O bom da Eliane Cantanhêde é a ausência de sutileza. Ela passou sem escala do aecismo delirante ao marinismo desvairado com a maior isenção.
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Os cem primeiros anos são os mais duros. (Wilson Mizner)
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São perfeitamente felizes os homens que, sem ter qualquer relação com as ciências especulativas e práticas, têm como único guia a natureza – a qual não possui nenhum defeito e nunca deixa que se percam os que seguem fiel e exatamente os seus passos, sem a pretensão de sair dos limites da condição humana. (Erasmo de Roterdã)
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Globo chama Cid Moreira de volta para alavancar a audiência do JN.
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Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram. (Alexandre Graham Bell)
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Você não viu nada na Era FHC: os sonháticos têm como meta básica a desmoralização completa da palavra “modernidade”.
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No fundo, Fátima Bernardes, Patrícia Poeta e Ana Paula Padrão tem um sonho: virar Ana Maria Braga e ter um Louro José pra chamar de seu.
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Sem focinheira, quase não reconhecem Arnaldo Jabor na portaria da TV Cultura.
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“Nunca acredite em seus amigos quando lhe pedirem para ser sincero com eles. Eles só esperam que você os confirme na boa ideia que têm de si mesmos. (Albert Camus)
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Vou ali, ver se minha vizinha me reconhece vestido. Volto.
*
By Zombozo Kropotkin, Palmério Dória e adicionais.

Papel de parede - por Fantasy backgrounds

De volta ao BC independente, desta vez o de Gustavo Franco em 1999, por J. Carlos de Assis – por José Carlos de Assis (Jornal GGN / Blog do Nassif)

     Gustavo Franco foi demitido do Banco Central em 1999 por incompetência. Depois de manter artificialmente elevada, desde o Plano Real, a taxa de câmbio – para combater a inflação à custa do sistema produtivo interno -, mergulhou o País numa crise de balanço de pagamentos de proporções gigantescas, e que nos levaria de cócoras ao FMI. Pouco antes de ser demitido teve a ousadia de dobrar a taxa básica de juros para, supostamente, evitar as consequências maiores da crise que ele própria havia produzido- o que pareceu um excesso mesmo para Fernando Henrique, que o via como gênio raça.

     Agora recebo de um amigo um artigo de Gustavo Franco com uma defesa apaixonada da independência do Banco Central. Não pode ser em interesse próprio, pois ele já não é mais presidente do BC. Mas passa-me pela cabeça em que terrível situação FHC e seu ministro da Fazenda, Pedro Malan, estariam metidos se, em 1999, estivesse em pleno vigor uma lei de independência do BC. Não só isso. O sucessor de Franco, Francisco Lopes, fez em questão de semanas uma trapalhada ainda maior, e teve também que ser demitido, desta vez com desonra.


     Portanto, os tucanos têm a mais aguda experiência brasileira em matéria de violar a independência da diretoria do BC. Não entendo como a querem estipular por lei. Já Marina é outra coisa. Ela tem a chave suprema da governança pública que é a de “governar com os melhores”. Com algum “melhor” na presidência do BC, nunca será necessário demiti-lo em nome do interesse público. Franco não seria o melhor. Nem Lopes. Não foram indicados por Marina. Porém, desde que seja Marina a indicar o presidente do BC, o País poderá dormir tranquilo com sua estabilidade monetária.

     Mas entremos no conteúdo do artigo de Gustavo Franco. Meu amigo, procurando me convencer dos argumentos independentistas dele, destacou o seguinte trecho: "Temos aqui um problema clássico de governança. O BC não tem minoritários, mas possui cerca de 180 milhões de “preferencialistas”, que são os “acionistas” sem direito a voto que carregam papéis ao portador, emitidos em pequenas denominações pelo BC, de aceitação obrigatória fixada em lei, cujo valor é fixado livremente no comércio. Quem zela pelo preferencialista?"

      Quem zela pelo preferencialista - o qual, aliás, deve ser apropriadamente chamado de cidadão -, só pode ser o Estado, que tem, em última instância, a soberania da moeda. O dinheiro é um título dívida pública monetária; não é dívida do BC, que não tem patrimônio para isso. É uma obrigação genérica do Estado. Uma emissão monetária confronta ativos da sociedade, bens e serviços, e só se efetiva enquanto valor se alguém quiser tomar o dinheiro emprestado do BC/Governo ou se quiser vender para ele bens e serviços. Se ninguém quiser tomar o dinheiro emprestado do BC, o dinheiro fica lá no caixa do banco, nulificado, como se não tivesse havido emissão.

     A obrigação do BC é prover dinheiro num nível suficiente para garantir a circulação de bens e serviços na sociedade, com uma margem de crescimento anual. Entretanto, como o sistema capitalista evolui em ciclos de boom e depressão, o BC deve prover mais dinheiro na recessão e depressão, e menos dinheiro nos picos da atividade econômica. Isso significa cobrir o déficit do tesouro nas fases recessivas, comprando títulos públicos emitidos pelo tesouro, e enxugar moeda no boom, vendendo títulos. Daí a necessidade de um BC articulado com os tesouros nacionais. Um BC politicamente dependente da soberania do Estado.

     Não compreendo como os profetas brasileiros do banco central independente não se miram nas experiências do Banco Central Europeu, o mais independente do mundo, e do FED, o banco central americano, certamente dependente do setor político. Isso não tanto pela questão do mandato por tempo definido mas pelas atribuições: o FED, estatutariamente, tem que responder não só pela estabilidade da moeda mas pela promoção do máximo emprego, e já houve caso em que o presidente foi demitido antes do fim do mandato. Já o BCE tem a mais larga experiência de incompetência no gerenciamento da moeda produzindo na Europa a maior recessão da história recente com mandatos permanentes.

     De um ponto de vista filosófico, a moeda tem valor, e é universalmente aceita num determinado marco nacional porque é com ela que se pagam tributos, conforme Abba Lerner. Para pagarmos tributos, que é uma obrigação universal dos cidadãos, temos que adquirir moeda, seja pelo trabalho direto, seja pelo trabalho indireto (vendendo bens e serviços). Esse valor se ancora em três funções básicas, a saber, reserva de valor, padrão de preços e instrumento de transação. A inflação afeta basicamente a função de reserva de valor. O Governo deve velar para a preservação do valor da moeda mas não pode garantir isso de forma absoluta pois é o setor privado, na forma do jogo de oferta e de procura de bens e serviços, que determina em última instância a evolução dos preços.

     Não obstante, não há um título privado substitutivo da moeda a não ser por algumas de suas formas marginais na economia paralela. E a função de preservação do valor foi assumida pelos títulos da dívida pública dos governos, que pagam juros. Esta tem também uma função crucial de dar lastro à acumulação do capital no sistema capitalista. Isso gera uma situação tão complexa que, caso a economia não cresça, e os juros da dívida pública, como entre nós, seja de 11%, o patrimônio financeiro dos investidores em títulos públicos terá crescido de uma ano para outro 11% sem qualquer correspondência com a economia real. Isso é justo? E em que medida as gerações futuras terão que arcar com o pagamento de uma renda que não foi obtida pelo trabalho, mas pela especulação?

     Um BC politicamente orientado deve promover uma expansão monetária que pelo menos acompanhe a evolução das taxas básicas de juros. Isso significa que o fluxo de produção de bens e serviços deve ser acompanhado pelo fluxo de juros da dívida pública. Se a economia estancar, os juros devem ser zero ou negativos (o BCE está adotado essa política, mas tardiamente; produziu o que se chama “armadilha de liquidez”, pela qual há dinheiro disponível nos bancos mas ninguém toma emprestado porque não há perspectiva de demanda dos bens e serviços produzidos pelo investimento novo. Contra isso, o único remédio é uma política fiscal expansiva, o que acaba de ser admitido por um membro do BCE, contra a política fiscal alemã.)

     Resumindo a história: ao contrário do que Gustavo Franco pensa, o problema não é de mandato definido para o presidente e a diretoria do BC. Se ele estivesse exercendo mandato definido em 1999 ele seria demitido de qualquer forma pois certos desastres econômicos são insuportáveis: como dizia o liberal Mário Henrique Simonsen, “inflação fere, mas desequilíbrio de balanço de pagamentos mata”. O problema é de função do BC. O banco não está gerindo título privado, como uma empresa, mas uma função vinculada à soberania nacional e ao bem estar social da população como um todo. Não é uma agência qualquer. Na essência, é um braço institucional do Tesouro Nacional.

     Creio que Franco tem dificuldades de ver isso porque não é capaz de deduzir relações financeiras de fatos financeiros. No prefácio que fez da magnífica autobiografia de Hjalmar Schart, que se tornaria nos anos 30 o banqueiro de Hitler, Franco se referiu a ele como “um grande liberal”. Esqueceu-se de comentar o que aparece na própria biografia, a saber, o desempenho prático de um genial financista heterodoxo, inspirado pelo New Deal americano, que foi capaz de construir uma engenharia financeira pela qual o Tesouro alemão quebrado foi financiado por empresas privadas líquidas mediante um título nominalmente emitido por quatro grandes empresas (títulos Mefo) mas bancado em último instância pelo mesmo Tesouro quebrado. Belo liberal!

J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

Fotografia - por Bruce Dale (National Geographic)

A Semiótica da Imobilidade e a Democracia Palhaça - por Reinaldo Melo (Inquietas Leituras / Jornal GGN)

     Lúcia Santaella, em seu livro A Assinatura das Coisas, afirma que "o mundo não está dividido entre coisas, de um lado, e signos de um outro. Isto quer dizer: não há nada que não possa ser um signo, ou melhor, tudo é signo, ou melhor ainda, todas as coisas têm a sua própria assinatura." 

      Coerente com sua própria teoria, a professora, uma das maiores especialistas em semiótica do Brasil, posta em seu Facebook uma análise sobre as ciclofaixas na cidade de SP: 

     Coadunando a mensagem com a teoria, pode-se afirmar que vemos um signo cujo significado revela como são discutidas as questões coletivas em nossa sociedade: por meio do ponto de vista individualista, que produz um unilateralismo em que se fecha o olhar para a multiplicidade mais óbvia do mundo que o rodeia.

      A mensagem poderia passar por imperceptível, como qualquer outro comentário de alguém que vê o mundo com o fígado, mas, por ser de uma professora PHD que já lecionou em Berlim, é de se espantar com o fato de que intelectualidade e sensatez não são irmãos siameses.

      Primeiramente a falta de compostura para com o prefeito de uma cidade, chamando-o de pintor de ruas e dizendo que as ciclofaixas foram encomendadas do "diabo em pessoa". Interessante, como a professora estabelece a política de criação de ciclofaixas como uma política demoníaca.

      Um dado importante: em 2012, morreram na cidade de SP 52 ciclistas, um por semana. Fora os casos de atropelamento. Em Março de 2013, a mídia deu destaque para o caso do ciclista David Santos Souza, que teve seu braço arrancado. O motorista não o socorreu e jogou o braço num córrego.  
O ciclista David Santos Souza
     Certamente, a professora se utilizou apenas do seu olhar unilateral de motorista de uma sociedade em que as grandes cidades são estruturadas para comportar o símbolo mor do individualismo contemporâneo, o automóvel, oprimindo e excluindo qualquer cidadão que se locomova por outros meios: o pedestre, o ciclista, os passageiros de ônibus.

      A professora recomenda ao prefeito o estudo ("só um pouquinho") de semiótica para o conhecimento de efeitos das cores em nosso sistema nervoso central, dizendo que a cor vermelha da ciclo faixa se caracteriza como poluição visual. E destila o fel da incompreensão afirmando que é uma propaganda política de um partido político cuja cor característica é vermelha. E para completar tal azedume, a cereja do bolo é asseverar que São Paulo não é uma cidade como a capital holandesa Amsterdam para que haja ciclofaixas a torto e a direito.

      Santaella deveria deixar de analisar o fato através de sua semiótica estática e estudar um pouquinho mais para constatar que a cor vermelha foi estabelecida pelas normas nacionais de  trânsito, no intuito de chamar a atenção do motorista mesmo, não se compondo como poluição visual. De onde se conclui também que não se caracteriza como propaganda política partidária.

      Ao mesmo tempo, o sentimento de vira-lata também surpreende, vindo de uma estudiosa como Santaella. A elite paulistana sempre teve a Europa como modelo em educação, política, arte, etc. Afirmar que São Paulo não é Amsterdam é dizer que as políticas de lá nunca dariam certo aqui porque não temos a "evolução" do europeu.
      A mensagem de Lúcia Santaella poderia passar como algo inocente, como apenas uma expressão natural de uma cultura mal humorada do paulistano que nunca está contente com nada do que é feito em sua cidade, mesmo que seja algo positivo. Mas revela-se como algo gravíssimo: ao se discutir política se enfoca mais no caráter privado do que no público.

 
     Dane-se o fato de morrer um ciclista atropelado por semana, que se exploda as mais de 4600 pessoas que morrem por causa da poluição de veículos em São Paulo, que se seja indiferente ao efeito estufa e com a desertificação da região metropolitana paulista. 

 
     Este desprezo pelo bem comum é consequência da visão torpe e individualista de parte do eleitorado que discute a política partidária com as enzimas do fígado. 

 
     Não é à toa que uma recente pesquisa demonstrou que os candidatos favoritos para ocuparem uma cadeira na Câmara dos Deputados sejam Tiririca, Marcos Feliciano e Paulo Maluf.

 
     O eleitor de Tiririca mal sabe de sua trajetória nestes quatro anos em que exerceu o cargo de deputado, mas se seduz com a estratégia de riso que o candidato adota em sua campanha, ou seja vota-se no candidato por que ele causa o riso zombando da política, a única ciência capaz de engendrar caminhos para o bem estar coletivo. Troca-se o voto pelo riso individual, anulação da política ou de qualquer reflexão ou conhecimento sobre ela.
A brasília de tiririca
      No caso de Marcos Feliciano, desemboca-se na mesma gravidade, sem a "inocência" humorística de Tiririca. 

 
     Feliciano ficou famoso por conta de sua postura frente à presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, onde obstruiu projetos que favoreciam minorias, ao mesmo tempo dando declarações racistas, homofóbicas e machistas, contrastando com o cargo que ocupava. 

 
     O eleitor de Feliciano combina sua visão fundamentalista com a visão sobre a política: para ele não há diferença entre o seu moralismo e o Estado. Um deputado tem de aliciar, subornar, chantagear o Estado para que este se torne imóvel em sua obrigação: formular políticas para uma sociedade heterogênea e multicultural. Com a eleição de Feliciano e, consequentemente, com o aumento da bancada evangélica, o que se estabelece é a crise do Estado, prestes a se transformar num templo em que uma parcela religiosa da sociedade impede que políticas públicas e laicas, que favorecem todo o coletivo, sejam barradas e até revogadas.
Feliciano e o fundamentalismo na política
      O eleitor de Paulo Maluf é o retrato perfeito que vemos por meio das afirmações da professora Santaella: o bordão "foi Maluf que fez" coaduna com a visão de progresso que o paulista possui. Concreto, asfalto e viadutos foram a herança que Maluf deixou através de suas gestões pautadas pela visão futurista utópica de uma São Paulo sempre em movimento. A cidade feita para o carro e para o cidadão de bem. Se há engarrafamento, Maluf projeta um viaduto ali, um minhocão aqui para resolver o fluxo. Há problemas de ordem social, salientando as contradições do projeto futurista com os anseios dos mais pobres? Não há o porquê de se preocupar, Maluf botará a Rota na rua. 

 
     Além do fascismo claro, há ainda a indiferença para com o fato de Maluf ser réu em vários processos de corrupção e não poder sair do país por estar sendo caçado pela Interpol. A indignação seletiva é um dos traços de um povo que elege aqueles que fazem faltar água nas torneiras, mas que se ferramenta do ódio contra políticos preocupados com a diminuição da taxa de poluição e da imobilidade urbana.
Paulo Maluf, símbolo da indignação seletiva do paulistano
      Tal natureza do eleitor e das figuras centrais destas eleições é consequência de uma visão publicitária ideológica, que quer atingir o indivíduo eleitor como mero consumidor a escolher um candidato conforme seus desejos íntimos e sua visão unilateral do mundo. Mas isso fica para outro texto.

 
     O que se pode concluir é que candidatos e eleitores são signos que fazem da política algo totalmente surreal. Há uma imobilidade do pensamento crítico e reflexivo que poderia contribuir com a construção de uma sociedade harmônica, mas o que se vê é uma indiferença para com os problemas sociais e com as decisões que possam solucionar alguns desses problemas. E quando não há a indiferença, depara-se, constantemente, com o fel destilado contra qualquer mecanismo que queira discutir ou resolver tais questões.

 
     A professora Santaella, dentro de seu véu de cidadã crítica, não percebe que seu discurso favorece a armação de um circo no palco das discussões sobre políticas públicas e faz com que a democracia seja vista através da miopia que favorece os donos do picadeiros, fazendo de nós, PHD's ou não, nos verdadeiros palhaços dessa ilusão de (semi)ótica chamada democracia.