sexta-feira, 25 de outubro de 2019
Trecho 3 de Anti-Dühring, de Friedrich Engels (Boitempo)
“No momento
em que a sociedade se apossa dos meios de produção e os utiliza para a produção
mediante socialização imediata, o trabalho de cada qual, não importando quão distinto
seja seu caráter especificamente útil, é de antemão e diretamente trabalho
social. Nesse caso, a quantidade de trabalho social contido num produto não precisa
primeiro ser aferida por alguma via indireta: a experiência cotidiana indica
diretamente a quantidade que, em média, se faz necessária. A sociedade pode
simplesmente calcular quantas horas de trabalho estão contidas numa máquina a vapor,
num hectolitro de trigo da última colheita, em cem metros quadrados de tecido
de determinada qualidade. Nesse caso, portanto, nem pode lhe ocorrer a ideia de
expressar as quantidades de trabalho depositadas nos produtos numa medida
apenas relativa, oscilante, insuficiente, que antes era incontornável como
quebra-galho – num terceiro produto, enfim –, e não em sua medida natural,
adequada, absoluta, que ela já conhece de modo direto: o tempo. Da mesma forma, não ocorreria à química expressar os pesos
atômicos de modo relativo, pela via indireta do átomo de hidrogênio, no momento
em que tivesse condições de expressá-los de modo absoluto, em sua medida adequada,
a saber, em peso real, em bilionésimos ou quadrilionésimos de grama. Portanto, sob
os pressupostos colocados, a sociedade não atribui valores aos produtos. Ela
não expressa de modo enviesado e sem sentido o fato simples de cem metros quadrados
de tecido exigirem, digamos, mil horas de trabalho para ser produzidos dizendo
que eles valeriam mil horas de
trabalho. Todavia, também nesse caso a sociedade deverá saber quanto trabalho
cada objeto de uso necessitará para sua confecção. Ela terá de organizar o
plano de produção segundo os meios de produção, entre os quais figuram
especialmente as forças de trabalho. A utilidade dos diversos objetos de uso, ponderados
entre si e em relação às quantidades de trabalho necessárias para sua
confecção, determinará em última análise o plano. As pessoas resolvem tudo de maneira
bem simples, sem a interveniência do tão aclamado “valor”[h].
O conceito
de valor é a expressão mais universal e, em consequência, mais abrangente das condições
econômicas da produção de mercadorias. No conceito de valor, está contido o embrião
não só do dinheiro, mas também de todas as formas mais desenvolvidas da
produção e da troca de mercadorias.
No fato
de o valor ser a expressão do trabalho social contido nos produtos privados já reside
a possibilidade da diferenciação entre o trabalho social e o trabalho privado contido
no mesmo produto. Assim, se um produtor privado continuar a produzir à maneira
antiga enquanto o modo social de produção progride, ele terá uma sensação bem palpável
dessa diferença. O mesmo acontece quando o conjunto dos confeccionadores
privados de determinado gênero de mercadorias produz uma quantidade delas que excede
a demanda social. No fato de o valor de uma mercadoria só poder ser expresso em
outra mercadoria e só poder ser realizada na troca por ela reside a possibilidade
de a troca nem mesmo acontecer ou não tornar efetivo o valor correto. Por fim,
ingressa no mercado a mercadoria específica chamada força de trabalho,
determinando-se seu valor, como o de qualquer outra mercadoria, segundo o tempo
de trabalho socialmente necessário para sua produção. Portanto, na forma-valor
dos produtos está contida embrionariamente toda a forma de produção
capitalista, o antagonismo entre capitalistas e trabalhadores assalariados, o
exército industrial de reserva, as crises. Querer abolir a forma de produção
capitalista mediante a instituição do “valor verdadeiro”[159]
significa, por conseguinte, querer abolir o catolicismo mediante a instituição
do “verdadeiro” papa[160] ou querer instituir uma
sociedade em que os produtores finalmente dominariam seu produto mediante a
execução consequente de uma categoria econômica, que é a expressão mais
abrangente da escravização do produtor por seu próprio produto.
Tendo a
sociedade produtora de mercadorias desenvolvido a forma do valor inerente às mercadorias
como tais até a forma de dinheiro, logo aparecem à luz do dia diversos embriões
ainda ocultos no valor. O efeito seguinte e mais essencial é a generalização da
forma da mercadoria. O dinheiro impinge a forma de mercadoria também aos
objetos até ali produzidos para o consumo próprio direto, arrastando-os para dentro
da troca. Desse modo, a forma de mercadoria e o dinheiro penetram na economia
doméstica do sistema comunitário socializado diretamente para a produção, rompe
um vínculo comunitário após o outro e dissolve o sistema comunitário num
aglomerado de produtores privados. O dinheiro substitui primeiramente, como se
pode observar na Índia, o cultivo comum do solo pelo cultivo individualizado; mais
tarde, pela repartição definitiva, ele dissolve a propriedade comum da terra de
cultivo em sua forma de redistribuição periodicamente reiterada (por exemplo,
nas propriedades rurais às margens do rio Mosela, de modo incipiente também na
comunidade russa); por fim, ele pressiona pela distribuição da posse comum
ainda restante da floresta e da pastagem. Independentemente de outras causas
fundadas no desenvolvimento da produção que também colaboraram nesse ponto, o dinheiro
permanece o meio mais poderoso em termos de incidência sobre o sistema
comunitário. (...)
Anteriormente
(no item VI da seção “Economia política”[161]),
vimos que é uma contradição em si falar em valor do trabalho. Visto que, sob
certas condições sociais, o trabalho não gera só produtos, mas também valor, e
esse valor é medido pelo trabalho, este não pode ter um valor específico, assim
como o peso em si não pode ter um peso específico nem o calor uma temperatura
específica. Porém, a característica de toda a confusão social que matuta sobre
o “verdadeiro valor” é imaginar que, na atual sociedade, o trabalhador não
estaria recebendo o “valor” cheio do seu trabalho e que o socialismo teria sido
vocacionado para resolver isso. Disso faria parte, então, em primeiro lugar, descobrir
qual é o valor do trabalho, e este se descobre quando se tenta medir o trabalho
não pela sua medida adequada (ou seja, pelo tempo), mas pelo seu produto. O
trabalhador deve receber o “resultado cheio do trabalho”[162].
Não só o produto do trabalho, mas também o próprio trabalho deve ser
diretamente permutável pelo produto, isto é, uma hora de trabalho pelo produto
de outra hora de trabalho. Isso, porém, de imediato apresenta um senão bastante
“duvidoso”. O produto inteiro é
distribuído. A função progressiva mais importante da sociedade, a acumulação, é
subtraída da sociedade e confiada às mãos e à arbitrariedade dos indivíduos. Os
indivíduos podem fazer com seus “resultados” o que quiserem; na melhor das
hipóteses, a sociedade permanecerá tão rica ou tão pobre como sempre foi.
Portanto, os meios de produção acumulados no passado só foram centralizados nas
mãos da sociedade para que todos os meios de produção que vierem a ser acumulados
no futuro sejam de novo fragmentados nas mãos dos indivíduos. Afrontamos nossos
próprios pressupostos; chegamos a uma pura absurdidade.
O que se quer
é trocar o trabalho líquido, a força de trabalho ativa, pelo produto do trabalho.
Nesse caso, ele é mercadoria, tal e qual o produto pelo qual se pretende trocá-lo.
Nesse caso, o valor dessa força de trabalho de modo algum é determinado pelo seu
produto, mas pelo trabalho social nele corporificado, ou seja, conforme a atual
lei do salário. Mas é justamente isso que não deve acontecer. O que se quer é que
o trabalho líquido, a força de trabalho, seja permutável pelo seu produto cheio
– o que quer dizer que ele seja permutável não pelo seu valor, mas pelo seu valor de
uso; o que se quer é que a lei do valor vigore para todas as demais
mercadorias, mas seja revogada para a força de trabalho. Essa confusão que
anula a si mesma é que se oculta atrás do “valor do trabalho”.
Portanto,
a “troca de trabalho por trabalho segundo o princípio da estimativa igual” é, na
medida em que ela faz sentido, a trocabilidade de produtos de trabalho social igual
uns pelos outros, ou seja, a lei do valor é a lei fundamental exatamente da produção
de mercadorias e, portanto, também da forma suprema dela, da produção capitalista.
Ela se impõe na atual sociedade do mesmo modo singular como conseguem se impor
as leis econômicas numa sociedade de produtores privados: como lei natural inerente
às coisas e relações, que atua cega e independentemente da vontade e da iniciativa
do produtor. Ao alçar essa lei à condição de lei fundamental de sua comuna
econômica e exigir que esta a execute com plena consciência, o sr. Dühring faz
da lei fundamental da sociedade vigente a lei fundamental de sua sociedade
fantasiosa. Ele quer a sociedade vigente, só que sem suas mazelas. Ao fazer
isso, ele se move exatamente no mesmo terreno que Proudhon. A exemplo deste,
ele quer eliminar as mazelas que resultaram da evolução da produção de
mercadorias para a produção capitalista fazendo valer para elas a lei
fundamental da produção de mercadorias, cuja ação justamente ocasionou essas
mazelas. A exemplo de Proudhon, ele quer abolir as consequências reais da lei do
valor mediante consequências fantasiosas.
Mas, por
mais altivo que seja o porte com que nosso moderno Dom Quixote monta seu
majestoso Rocinante, o “princípio universal da justiça”[163],
seguido do seu valoroso Sancho Pança, Abraham Enss[164],
em sua expedição de cavaleiro andante na conquista do elmo de Mambrino, o
“valor do trabalho”, receamos, mesmo, que ele nada trará para casa além da já
tão familiar bacia de barbeiro[165].”
a Enunciei, já em 1844, que
a referida ponderação de utilidade e dispêndio de trabalho na decisão a ser
tomada quanto à produção é tudo o que resta do conceito de valor da economia
política numa sociedade comunista (Deutsch-Französische
Jahrbücher, p. 95 [Friedrich Engels, “Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie”,
em Karl Marx e Friedrich Engels, Werke,
v. 1, p. 499]). Porém, a fundamentação científica dessa tese, como se vê, só se
tornou possível mediante O capital de
Marx. (Nota de Engels.)
159
Eugen Dühring, Kritische Geschichte, cit.,
p. 78. Weitling,
a quem Engels reiteradamente toma como ponto de comparação na crítica a
Dühring, também utilizou o conceito de “valor verdadeiro” (Wilhelm Weitling, Garantien, cit., p. 51). (N. E. A.)
160 Karl Marx, Das Kapital, cit., p. 65 (MEGA-2 II/6, cit., p. 116) [ed. bras.: O capital, Livro I, cit., p. 162]. (N. E. A.)
164 Abraham Enss, Engels Attentat auf den gesunden
Menschenverstand oder Der wissenschaftliche Bankerott im Marxistischen
Sozialismus. Ein offener Brief an meine Freunde in Berlin (Grand-Saconnex/Suíça,
1877). (N. E.
A.)
165
Alusão ao romance de Miguel de Cervantes Saavedra, El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha [ed. bras.: O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha,
trad. Sérgio Molina, São Paulo, Editora 34, 2011-2, 2 v.]. (N. E. A.)
ENGELS, Friedrich. Anti-Dühring:
a revolução da ciência segundo o senhor Eugen Dühring. São Paulo: Boitempo,
2015, pp. 343-346.
Trecho 2 de Anti-Dühring, de Friedrich Engels (Boitempo)
“ (...) De
acordo com isso, está claro qual é o papel histórico que o poder desempenha no desenvolvimento
econômico. Em primeiro lugar, todo poder político está baseado originalmente
numa função social, econômica e se intensifica à medida que, pela dissolução
dos sistemas comunitários originais, os membros da sociedade são convertidos em
produtores privados, ou seja, tornam-se ainda mais estranhos aos administradores
das funções sociais comuns. Em segundo lugar, depois que o poder político ganha
autonomia em relação à sociedade, convertendo-se de servidor em senhor, ele
pode atuar em duas direções. Ou ele atua no sentido e na direção do
desenvolvimento econômico regular (nesse caso, não há conflito entre ambos e o
desenvolvimento econômico é acelerado), ou ele atua na contramão desse desenvolvimento
(nesse caso, com poucas exceções, ele sucumbe regularmente ao desenvolvimento
econômico). Essas poucas exceções são casos isolados de conquista, nos quais os
conquistadores mais rudimentares exterminaram ou desterraram a população de um
país e devastaram ou deixaram deteriorar-se as forças produtivas com as quais
não sabiam o que fazer. Foi o que fizeram os cristãos na Espanha moura com a
maior parte das instalações de irrigação, nas quais estava baseada a agricultura
e a jardinagem altamente desenvolvidas dos mouros. Toda conquista por um povo
mais rudimentar obviamente perturba o desenvolvimento econômico e destrói numerosas
forças produtivas. Porém, na esmagadora maioria dos casos de conquista duradoura,
o conquistador mais rudimentar se adapta à “situação da economia”[67] mais avançada
que resulta da conquista; ele é assimilado pelos conquistados e, na maior parte
das vezes, precisa adotar inclusive a língua deles. Porém, excetuando os casos
de conquista, onde o poder estatal interno de um país se tornou antagônico ao seu
desenvolvimento econômico, como até agora aconteceu em certo patamar com quase
todo poder político, a luta terminou, todas as vezes, com a derrubada do poder
político. Sem exceção e implacavelmente, o desenvolvimento econômico seguiu seu
caminho – já mencionamos[68] o último e mais contundente exemplo disso: a
Grande Revolução Francesa. Se, conforme a teoria do sr. Dühring, a situação
econômica e, com ela, a constituição econômica de determinado país dependem
simplesmente do poder político, não há como vislumbrar por que, depois de 1848,
Frederico Guilherme IV não conseguiu, apesar do seu “magnífico exército”[69],
enxertar as guildas medievais e outras esquisitices românticas[70] nas ferrovias,
nas máquinas a vapor e na grande indústria em franco desenvolvimento no seu país;
ou por que o czar da Rússia[71], que evidentemente é muito mais poderoso, não
só não consegue pagar suas dívidas, como nem mesmo tem como sustentar seu “poder”
sem continuamente pedir empréstimos à “situação da economia” da Europa ocidental.
Para o sr.
Dühring, o poder é o mal absoluto, e o primeiro ato de poder foi, para ele, a
queda em pecado, sendo que toda sua exposição é uma pregação lamurienta sobre a
contaminação de toda a história pregressa com o pecado original, sobre a
falsificação infame de todas as leis naturais e sociais gerada pelo poder, essa
força diabólica. Porém, o sr. Dühring não diz uma palavra sequer sobre o outro papel
desempenhado pelo poder na história (um papel revolucionário), sobre o fato de
ele ser, nas palavras de Marx, a parteira de toda sociedade velha que está prenhe
de uma sociedade nova[72], a ferramenta com que o movimento social se impõe e
despedaça formas políticas enrijecidas e mortas. Só muito a contragosto ele admite
a possibilidade de que, para derrubar a economia de espoliação, talvez o uso da
força seja necessário – infelizmente! Porque todo uso da força desmoraliza
aquele que faz uso dela[73]. E isso é dito apesar do forte impulso moral e
espiritual resultante de cada revolução vitoriosa! E isso é dito na Alemanha,
onde um confronto violento, que pode inclusive ser impingido ao povo, pelo
menos teria a vantagem de eliminar a subserviência que penetrou na consciência
nacional em decorrência da humilhação da Guerra dos Trinta Anos! E esse modo de
pensar apagado, anêmico e sem vigor, próprio de um pregador, tem a pretensão de
impingir-se ao partido mais revolucionário que a história conhece?”
67 Eugen Dühring, Kritische Geschichte, cit., p. 231. (N. E. A.)
68
Cf. p. 47 e 141. (N. E. B.)
69
Frase de efeito extraída da saudação de ano-novo de Frederico Guilherme IV ao
Exército alemão no dia 1o de janeiro de 1849 (Preussischer Staats-Anzeiger, Berlim, n. 3, 3 jan. 1849). Essa
expressão foi usada a partir de 1849 no movimento revolucionário dos trabalhadores
para caracterizar o militarismo prussiano. Ver também Karl Marx, “Eine
Neujahrsgratulation”, Neue Rheinische
Zeitung, Colônia, n. 190, 9 jan. 1849. (N. E. A.)
70
No dia 9 de fevereiro de 1849, o governo prussiano promulgou um decreto
referente à instituição de conselhos corporativos e a diversas alterações na
ordem geral das corporações e outro sobre a instituição de tribunais
corporativos, com os quais ele, de fato, anulou a liberdade de comércio e
indústria proclamada em 1808, restaurando a legislação semimedieval das
corporações. Já em 1849, Marx caracterizou esses decretos como “duas ordens
corporativas, que fazem jus às do ano de 1500” (Karl Marx, “Die Thronrede”, Neue Rheinische Zeitung, Colônia, n.
235, 2 mar. 1849). (N. E. A.)
71
Alexandre II. (N. E. A.)
72
Karl Marx, Das Kapital, cit., p. 782;
MEGA-2 II/6, cit., p. 674 [ed. bras.: O capital,
Livro I, cit., p. 821]. (N. E. A.)
73 Eugen Dühring, Cursus der Nationalund Socialökonomie,
cit., p. 348-9. Idem, Cursus der
Philosophie, cit., p. 335. (N. E. A.)
Trecho de Anti-Dühring, de Friedrich Engels (Boitempo)
“Enquanto
na França o furacão da Revolução varria o país, na Inglaterra ocorria uma
revolução silenciosa, mas nem por isso menos portentosa. O vapor e a nova maquinaria
instrumental transformaram a manufatura na grande indústria moderna e, desse modo,
revolucionaram todo o fundamento da sociedade burguesa. O ritmo sonolento do
desenvolvimento da época da manufatura converteu-se num verdadeiro Sturm und Drang [intempestivo e impetuoso
] [20] da produção. Com rapidez cada vez maior, tornava-se
efetiva a divisão da sociedade em grandes capitalistas e proletários sem posses,
entre os quais, no lugar do antigo estamento médio estável, uma massa inconstante
de artífices e pequenos comerciantes (a parte mais flutuante da população) era levada
a uma existência instável. O novo modo de produção se encontrava apenas no
começo de seu ramo ascendente; ele era, todavia, o modo de produção normal, dependendo
das circunstâncias o único. Porém, já naquela época, ele gerou mazelas sociais
gritantes: aglomeração de uma população sem lar nos piores locais de residência
das grandes cidades; dissolução de todos os vínculos tradicionais de origem, de
submissão patriarcal, de família; excesso de trabalho, especialmente no caso de
mulheres e crianças, em escala assustadora; desmoralização maciça da classe
trabalhadora repentinamente lançada em relações inteiramente novas[21]. Em meio a isso, entrou em cena como reformador
um fabricante de 29 anos, um homem dotado de um caráter de singeleza tão infantil
que chegava às raias do sublime e, ao mesmo tempo, um líder nato de pessoas
como poucos. Robert Owen[22] se apropriara da
teoria dos iluministas materialistas segundo a qual o caráter do ser humano
seria o produto, por um lado, de sua organização inata e, por outro, das
circunstâncias que o envolvem durante todo seu tempo de vida, mas especialmente
durante o período do seu desenvolvimento. Na Revolução Industrial, a maioria
dos seus colegas de estamento nada mais via além de confusão e caos – a
situação propícia para aproveitar-se da falta de clareza e enriquecer rapidamente.
Owen viu nela a oportunidade para aplicar sua tese favorita e, desse modo, pôr
ordem no caos. Ele já havia tentado isso exitosamente em Manchester como dirigente
de uma fábrica de quinhentos trabalhadores[23]. De
1800 a 1829, dirigiu a grande tecelagem de algodão de New Lanark, na Escócia, na
qualidade de sócio-gerente. Caminhando no mesmo sentido que havia seguido
antes, só que com maior liberdade de ação, ele obteve um êxito que lhe rendeu
notoriedade em nível europeu. Owen transformou uma população que aos poucos
atingiu a cifra de 2,5 mil pessoas – população esta originalmente composta dos
elementos mais variados e, em sua grande maioria, fortemente desmoralizados – na
colônia-modelo perfeita, na qual embriaguez, polícia, juiz, processos, assistência
aos pobres, necessidade de ação caritativa eram coisas desconhecidas. E ele fez
isso apenas proporcionando às pessoas circunstâncias humanamente dignas e,
sobretudo, mandando educar com cuidado a geração em crescimento[24]. Ele foi o inventor dos jardins de infância e
foi ali que os introduziu pela primeira vez[25]. A
partir do segundo ano de vida, as crianças entravam na escola, onde se
entretinham de tal maneira que ficava difícil levá-las novamente para casa.
Enquanto seus concorrentes tinham jornadas de trabalho de 13 a 14 horas diárias,
em New Lanark se trabalhava apenas 10,5 horas[26]. Quando
certa vez uma crise do algodão obrigou a parar a fábrica por quatro meses, os
trabalhadores continuaram a receber seu salário integral[27].
Nesse processo, o estabelecimento mais que duplicou seu valor e, até o último
momento, gerou lucros abundantes para os proprietários.
Owen
não se contentou com tudo o que havia conseguido. A seu ver, a existência que
ele tinha proporcionado a seus trabalhadores não era nem de longe humanamente
digna: “As pessoas eram minhas escravas”[28]. As
circunstâncias relativamente favoráveis em que ele as havia colocado ainda estavam
muito longe de permitir-lhes um desenvolvimento integral e racional do caráter
e do entendimento, para não falar de uma atividade vital livre.
Ainda
assim, a parcela trabalhadora dessas 2,5 mil pessoas produziu tanta riqueza real
para a sociedade quanto, meio século antes, nem uma população de 600 mil pessoas
teria conseguido gerar. Perguntei a mim mesmo: o que é feito da diferença entre
a riqueza consumida por 2,5 mil pessoas e aquela que 600 mil teriam de consumir?[29]
Estava
claro qual era a resposta. Essa riqueza foi usada para gerar para os donos do estabelecimento
5% de juros sobre o capital investido e, além disso, mais de 300 mil libras
esterlinas (6 milhões de marcos) de lucro[30]. E o que
valia para New Lanark valia em escala ainda maior para todas as fábricas da
Inglaterra. “Sem essa nova riqueza criada pelas máquinas não teria sido
possível fazer as guerras para derrubar Napoleão e sustentar os princípios
sociais aristocráticos. E esse novo poder foi criado pela classe trabalhadora.”[31] Em consequência, pertenciam-lhe também seus
frutos. As novas e poderosas forças produtivas, que até ali só serviram para o
enriquecimento de alguns indivíduos e a escravização das massas, ofereceram a
Owen o fundamento para uma nova formação social e estavam destinadas, como
propriedade comum de todos, a operar somente para o bem-estar comum de todos.
Dessa
maneira, o comunismo de Owen surgiu como puro negócio, como fruto, por assim dizer,
do cálculo comercial. E ele sempre manteve o mesmo caráter voltado para a dimensão
prática. Em 1823, por exemplo, Owen propôs a eliminação da miséria irlandesa
mediante colônias comunistas e anexou cálculos completos referentes a custos de
instalação, gastos anuais e rendimentos estimados[32].
Desse modo, no seu plano definitivo para o futuro, a elaboração técnica dos
detalhes foi efetuada com um conhecimento de causa tal que, uma vez admitido o
método proposto por Owen para a reforma da sociedade, pouca coisa haveria a dizer
do ponto de vista especializado contra a instalação em seus detalhes.
O
passo à frente na direção do comunismo foi o ponto de mudança na vida de Owen. Enquanto
apareceu como simples filantropo, ele só colheu riqueza, aplauso, honra e fama.
Era o homem mais popular da Europa. Era ouvido com simpatia não só pelos seus
colegas de estamento, mas também por estadistas e príncipes. Porém, quando começou
a destacar-se com suas teorias comunistas, a coisa mudou de figura. A seu ver, havia
três grandes obstáculos que, em especial, obstruíam o caminho para a reforma
social: a propriedade privada, a religião e a forma atual do casamento[33]. Ele sabia o que o aguardava quando os atacou: a
proscrição geral pela sociedade oficial, a perda de toda a sua posição social.
Owen, porém, não pôde ser dissuadido de atacá-los incondicionalmente, e
aconteceu o que ele havia previsto. Banido da sociedade oficial, silenciado
pela imprensa, empobrecido pelos seus ensaios comunistas malsucedidos na
América do Norte, pelos quais sacrificara todo o seu patrimônio[34], ele se voltou diretamente para a classe dos trabalhadores
e permaneceu ativo no meio dela por mais trinta anos. Todos os movimentos
sociais, todos os progressos reais que foram feitos na Inglaterra visando ao
interesse dos trabalhadores estão vinculados ao nome de Owen. Foi ele que
conseguiu aprovar, em 1819, após cinco anos de esforços, a primeira lei
restritiva ao trabalho de mulheres e crianças nas fábricas[35].
Foi ele que presidiu o primeiro congresso no qual as trade unions [sindicatos de trabalhadores] de toda a Inglaterra se
uniram numa única grande cooperativa sindical[36].
Foi ele que introduziu, como regras de transição para a organização
inteiramente comunista da sociedade, as sociedades cooperativas (cooperativas de
consumo e de produção) – que, desde então, pelo menos fornecem a prova de que
tanto o comerciante como o fabricante são pessoas bastante dispensáveis[37] – e os bazares do trabalho, instituições para a
permuta de produtos do trabalho por meio de um papel-moeda cuja unidade era a
hora trabalhada; trata-se de instituições que necessariamente fracassariam, mas
que anteciparam o banco de troca proudhoniano, o qual surgiu muito tempo depois,
e que se diferenciaram dele por não representarem a panaceia para todos os males
da sociedade, sendo apenas um primeiro passo para uma transformação bem mais
radical dela[38].”
20
Referência ao movimento pré-romântico que dominou a literatura alemã entre as décadas
de 1760 e 1780 e ao qual pertenceram Herder, Goethe e Schiller, entre outros. (N.
E. B.)
21
Engels descreveu esse desdobramento em seu escrito Die Lage der arbeitenden Klasse in England (Leipzig, 1845), p.
3-229 (MEGA-2 I/4, cit.) [ed. bras.: A
situação da classe trabalhadora na Inglaterra segundo as observações do autor e
fontes autênticas, trad. B. A. Schumann, São Paulo,
Boitempo, 2008]. (N. E. A.)
22 Nas exposições
seguintes sobre Owen, Engels se baseou no escrito de Robert Owen, The Revolution in the Mind and Practice of
the Human Race; or, the Coming Change from Irrationality to Rationality (Londres,
1849).
Na
apreciação de Owen, Engels enfatizou, em especial, os aspectos que o
evidenciavam teoricamente como representante dos interesses da classe
trabalhadora e atestavam sua estreita ligação com o movimento trabalhador e o
traço prático de suas aspirações. Para Dühring, a característica fundamental da
atitude de Owen era contar com o apoio de príncipes e governos, reputando suas
concepções pedagógicas como insignificantes. Dühring chamou a teoria do
dinheiro por horas trabalhadas de “quimera” (Eugen Dühring, Kritische Geschichte, cit., p. 302),
negando também os méritos de Owen na questão da cooperativa e das associações
de consumo.
Marx
já havia apontado para a conexão entre o materialismo e o socialismo (ou
comunismo) franceses em 1845, em A sagrada
família, nominando Owen como um daqueles que desenvolvem a teoria do
materialismo “como a base lógica do comunismo” (Friedrich Engels e Karl
Marx, Die heilige Familie, cit., p. 208
[ed. bras. A sagrada família, cit., p.
150]).
Owen
partiu do pressuposto de que as faculdades inatas do ser humano e as circunstâncias
que o cercam se influenciam reciprocamente e que o ser humano deve modificar,
antes de tudo, as circunstâncias sociais, criando uma nova sociedade sobre a
base da propriedade comum. Dado que Owen considerava o ser humano um ser
natural e social, mas não historicamente concreto, determinado por sua condição
de classe, sua visão antropológica permaneceu abstrata, apelando a todas as
classes e camadas. Indo além do pensamento iluminista burguês, ele considerou
de saída a grande produção baseada em máquinas como base de transformações
sociais e, desse modo, chegou perto de conhecer um dos principais pressupostos da
nova configuração socialista. (N. E. A.)
29 Idem: “And yet the working part of this population of
2,500 persons was daily producing as much real wealth for society, as, less
than half a Century before, it would have required the working part of a
population of 600,000 to create. I asked myself what became of the difference between
the wealth consumed by 2,500 persons and that which would have been consumed by
600,000”. (N. E. A.)
31 Ibidem, p. 22: “If this new wealth had not been created by
machinery, imperfectly as it has been applied, the wars of Europe, in Opposition
to Napoleon, and to support the aristocratic principles of society, could not
have been maintained. And yet this new power was the creation of the working
classes”. (N. E. A.)
32 Robert Owen, Report of the Proceedings at the Several
Public Meetings, Held in Dublin. On the 18th March, 12th April, 19th April,
and 3rd May (Dublim, 1823), p. 109-25. (N. E. A.)
33
Esse enunciado era um dos conhecimentos fundamentais de Owen, que ele repetiu a
partir de 1820 em quase todas as suas publicações. (N. E. A.)
34
Em abril de 1825, Owen adquiriu a colônia New Harmony no estado norte-americano
de Indiana. Essa colônia havia sido fundada em 1815 pelo pregador Johann Georg Rapp,
natural de Württemberg, Alemanha. Owen estabeleceu primeiro uma sociedade
preliminar (preliminary society), visando
aprimorar o caráter e as condições de vida dos seus membros e prepará-los para
a criação da comunidade comunista. No início de 1826, ela decidiu transformar-se
em comunidade comunista. No dia 5 de fevereiro de 1826, foi fundada a New Harmony
Community of Equality [Comunidade da Igualdade Nova Harmonia]. Seus princípios
supremos eram, consoantes à Constituição, igualdade plena de direitos para
todos os adultos e igualdade de deveres em conformidade com a capacitação
física e intelectual, propriedade comum e união cooperativa nas questões sociais
e no entretenimento. Entre as diversas pessoas que afluíram para New Harmony, encontravam-se
famosos cientistas, mas também elementos variados e apenas poucos
trabalhadores, faltando de saída, portanto, o fundamento econômico
correspondente ao sistema fabril. Ademais, a transformação precoce numa
comunidade comunista e a impossibilidade de gerir econômica e politicamente o
gigantesco empreendimento, bem como discórdias internas, levaram ao fracasso do
experimento em 1827. Falharam também os esforços de Owen para criar grupos comunistas
menores nas terras em torno de Harmony. (N. E. A.)
35
Seus primeiros esforços pela melhoria das condições de trabalho das crianças e
dos demais empregados nos diversos ramos da indústria têxtil – que ele havia
formulado pela primeira vez num meeting de
fabricantes escoceses em janeiro de 1815, em Glasgow – foram descritos por Owen
em sua autobiografia, The Life of Robert
Owen, cit., v. 1, p. 113-4. […] A despeito da rejeição pelos fabricantes,
Owen empreendeu, no período subsequente, múltiplos esforços para tornar pública
a sua proposta – uma lei que limitava o trabalho infantil – e apresentá-la ao
Parlamento. […] O projeto de lei apresentado em junho de 1815 por iniciativa de
Owen só foi transformado em lei em julho de 1819, em forma atenuada. A esfera de validade dessa lei (“An Act to Make Further Provisions for the
Regulation of Cotton Mills and Factories, and for the Better Preservation of the
Health of Young Persons Employed Therein”, em The Statutes of the United Kingdom of Great Britain and Ireland (Londres,
1819), p. 418-9) ficou restrita à indústria algodoeira. Ela proibiu o trabalho infantil
abaixo de nove anos de idade (a proposta original de Owen previa um limite de idade
de doze anos, ao passo que o projeto de lei previa dez anos) e fixou para
pessoas com menos de dezesseis anos uma jornada de doze horas (em Glasgow, Owen
havia exigido a jornada de 10,5 horas para todos os trabalhadores, bem como a aquisição
prévia de certos conhecimentos escolares e domésticos por parte das crianças
como pressuposto para a admissão ao trabalho na fábrica). O projeto e a lei foram
publicadas no anexo à autobiografia de Owen. É possível que essa publicação tenha
servido de fonte para Engels (A Supplementary
Appendix to the First Volume of The Life of Robert Owen. Written by Himself (Londres,
1858), v. 1., p. 23-6, 31). (N. E. A.)
36
No início de outubro de 1833, teve lugar em Londres uma conferência de
delegados dos sindicatos e sociedades cooperativas (National Conference of Trade
Unions, “Union Shops” and Co-operative Societies), em cuja preparação e execução
Owen teve participação decisiva. Ele deu início ali à fundação de uma união nacional
de sindicatos e cooperativas (Grand National Moral Union of the Productive
Classes of the United Kingdom), que deveria colocar sob seu controle a produção
e encaminhar uma reconfiguração social fundamental com meios pacíficos. A união
dos sindicatos aconteceu em fevereiro de 1834, numa conferência em Londres, com
a fundação da Grand National Consolidated Trades Unions, na qual foram
aprovados também seu programa e seu estatuto. O acirramento das represálias da burguesia
e a falta de clareza sobre os métodos e os objetivos, bem como dificuldades
organizacionais, levaram à dissolução do grande sindicato em agosto de 1834. (N.
E. A.)
37
Como resultado da agitação promovida pelos adeptos de Owen, formou-se, no final
da década de 1820, um movimento de consumo que se disseminou rapidamente. Os meios
para construir as lojas foram obtidos a partir de pequenas contribuições
semanais. Primeiro, foram comprados e vendidos os meios de vida que os trabalhadores
mais precisavam. Com o êxito crescente, uma parte do lucro foi utilizada para produzir
vestuário e mercadorias industrializadas em pequena escala, sendo que a
produção era levada a efeito pelos membros mediante pagamento de salário de aprendiz.
A maior parte das cooperativas organizou escolas diurnas para as crianças e
noturnas para os adultos. No verão de 1829, após retornar da América do Norte,
onde seus planos haviam malogrado, Owen viu nas associações de consumo a
possibilidade de organizar uma produção associada à reconfiguração abrangente
da sociedade. Seu objetivo era organizar os produtores em associações de
consumo e formar um mercado no qual se pudesse trocar diretamente trabalho por
trabalho, devendo servir como parâmetro de valoração o tempo que um trabalhador
com habilidade mediana levava para produzir um produto. (N. E. A.)
38
Os bazares do trabalho (equitable
labour-exchange-bazaars [bazares de troca equitativa de trabalho]) foram
criados em várias cidades da Inglaterra pelos adeptos de Owen e pelos
socialistas ricardianos (John Gray, William Thompson, John Francis Bray). Em
1820, já existiam tais instituições que remontavam a uma tradição ligada por muito
tempo ao movimento sindical. Os bazares forneciam mercadorias em troca de bônus
de trabalho ou dinheiro-trabalho. Esses recibos que designavam o valor dos
produtos prontos fornecidos pelos produtores eram calculados com base no trabalho
despendido para sua confecção. Com isso, os promotores desses bazares
procuraram propagar as vantagens de uma troca não vinculada com a
forma-dinheiro, encarando-na como um meio de transição pacífica para o
socialismo. O primeiro bazar do trabalho fundado por Owen (Institution of the
Industrious Classes) funcionou de setembro de 1832 até meados de 1834.
Pierre-Joseph
Proudhon, no contexto de sua concepção pequeno-burguesa de socialismo,
desenvolveu um programa de reforma social voltado para mudanças na esfera da
circulação e para a generalização da produção simples de mercadorias, cujo teor
era um sistema de troca e crédito baseado na reciprocidade. Em fevereiro de
1849, ele fundou um banco de troca (Banque du Peuple [Banco do Povo]), que
deveria conceder crédito sem juros a cooperativas de trabalho produtivo e organizar
uma troca “justa” e “equitativa”. A instituição malogrou depois de cerca de
dois meses sem ter feito nenhum negócio.
Já
em 1846, Engels caracterizou os planos de Proudhon para uma troca sem dinheiro
como “os labour bazaars ou labour markets, [que] há muito já
existiram na Inglaterra e foram dez vezes à bancarrota” (carta de Friedrich Engels
ao Comitê Comunista de Correspondência em Bruxelas (Paris, 16 set. 1846), em
MEGA-2 III/2, Berlim, Dietz, 1979, p. 36). Em seu escrito Zur Wohnungsfrage, Engels indicou, em 1872, que o banco de troca proudhoniano,
“antes de Proudhon inventá-lo, [...] já faliu – e não foi só uma vez – na Inglaterra
com o nome de Labour Exchange Bazaar” (MEGA-2 I/24, Berlim, Dietz, 1984, p.
19-20) [ed. bras.: Sobre a questão da
moradia, trad. Nélio Schneider, São Paulo, Boitempo, 2015, p. 53]. (N. E. A.)
ENGELS, Friedrich. Anti-Dühring:
a revolução da ciência segundo o senhor Eugen Dühring. São Paulo: Boitempo,
2015, pp. 249-99.
domingo, 22 de setembro de 2019
A moral neopentecostal
No
meio deste charco imundo, talvez o que exista de mais putrefato seja a pretensa
“moral neopentecostal”.
Quando
há um beijo gay em um quadrinho, que tem classificação indicativa para maiores
de 16 anos, eles se assanham feito uma fera na selva.
São
os pretensos “cidadãos de bem”, os supostos “defensores da família”: justamente
os maiores canalhas, os sujeitos mais putrefatos, mais infectos, mais degenerados
do país, que ainda se arrogam como portadores de virtudes que só os tão hipócritas quanto eles conseguem enxergar.
Percebam
que diante deste assassinato, nem um mísero destes “defensores da família”, nem
um destes falsos profetas que representam exatamente o inverso do que Cristo
pregava, abre a boca pra falar nada. Nada.
A
Agatha não tinha família? Não merecia defesa esta CRIANÇA DE OITO ANOS QUE FOI
FUZILADA a mando deste genocida neopentecostal chamado Witzel?
Onde
estão os protestos dos “defensores da família”? Onde está a indignação
moralista?
Para
estes leprosos por dentro, o fato de esta inocente criança ter sido assassinada
não é problema nenhum. Problema haveria se ela daqui a alguns anos quisesse
beijar outra menina.
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