quinta-feira, 28 de maio de 2009

Você, contribuinte de São Paulo, financia Fernando Henrique - por PHA

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=11342 - por Paulo Henrique Amorim

Ciro Botelho e a privatização da Petrobrás - por PHA

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=11347 - por Paulo Henrique Amorim.

As 10 vezes que FHC tentou privatizar a Petrobrás - por PHA

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=11125 - por Paulo Henrique Amorim

As visões sobre os gastos públicos - por Luis Nassif

Há uma maneira muito simplória - e maliciosa - de tratar a carga tributária.
A carga tributária brasileira é asfixiante para quem paga impostos. E quem paga é a maioria das pequenas, micro e médias empresas, dos assalariados, de quase todos os profissionais liberais. Há uma economia subterrânea enorme, presente não apenas no submundo - bingos, roubo de medicamentos, liminares de combustíveis, as jogadas com direito de lavra, títulos públicos vencidos - como nos maiores setores - engenharia fiscal, fundos offshore.
Por outro lado, há três sorvedouros da arrecadação fiscal. O maior deles, as taxas de juros pornográficas praticadas historicamente, acentuadas após 1994 e mantidas no governo Lula. É a maior e a mais inútil conta pública, pois provoca uma acentuada concentração de riqueza, transferência de fundos para o exterior, globaliza a riqueza sem gerar benefícios internos. Só agora, com a crise internacional e as taxas de juros internas caindo, esse capital será carreado para atividades produtivas.
Há um segundo sorvedouro que é o dinheiro mal gasto na máquina pública. Existem funções essenciais no Estado, um ensaio de melhoria de gestão mas que não foi aprofundado. Parte do aumento do gasto dos últimos anos destinou-se a melhorar a situação de carreiras essenciais do Estado, como educação, saúde e segurança. Mas permanece um enorme desperdício, a falta de sistemas de avaliação, não apenas no âmbito federal mas dos estados. A rigor, os únicos setores com avanços excepcionais em todos os níveis foram os ligados diretamente à arrecadação de impostos.
E há um terceiro gasto, mais nobre, que reverte para a população, na forma de serviços (educação, saúde, segurança) ou transferências diretas (Previdência e programas sociais).A sanha tributária pega todas as instâncias, o governo federal - com o aumento brutal do Pis-Cofins no início do primeiro governo Lula -, o governo Serra - com a substituição tributária que bateu direto nas pequenas e micro empresas beneficiárias da Lei Geral -, e as Secretarias da Fazenda em geral.
Qual o problema de iniciativas como o do Instituto Millenium? Aborda apenas o lado das receitas, sem entrar nem de leve no lado das despesas e, principalmente, dos juros. Nada fala sobre a evasão fiscal proporcionada pelos fundos offshore.
Do lado dos representantes do funcionalismo público, há a grita contra os juros. Mas nada em relação ao próprio desempenho, abraçando causas legitimadoras, como a implantação de programas de gestão e avaliação que legitimassem de vez o trabalho, separando as vocações públicas dos acomodados. Há uma nova geração de gestores públicos, que vem sendo formada desde os anos 90. Mas há um discurso ainda preponderante contra sistemas de avaliação, considerando programas de gestão como uma forma de exploração da mais valia.
Em todo esse jogo, o único setor a avançar decididamente, com ferramentas modernas, modos de avaliação, medição de resultados, aprimoramento constante é justamente o setor social, não apenas no âmbito do governo (Bolsa Família) como do setor privado (Instituto Ayrton Senna) entre outros.
É o único setor que fugiu dessa dicotomia radical entre privado e público, que colocou como foco o cidadão. Os funcionários públicos contrários a sistemas de avaliação pouco se lixam para o objetivo final do Estado: o atendimento ao cidadão.
Os primatas que se consideram liberais - padrão Ali Kamel - pouco entendem da lógica de programas tipo Bolsa Família, não apenas como elemento de integração social como de criação de mercado. É um programa que seria assinado por qualquer liberal de boa formação.
Uma proposta consistente contra a efetivamente alta carga de impostos, deveria trabalhar de forma sistêmica:
1. Propor métodos de avaliação do serviço público. Com as metas será possível dizer quanto se poderá reduzir as despesas (e os impostos) sem afetar os programas essenciais.
2. Uma crítica consistente a esse sangramento do orçamento através da taxa Selic e dos fundos offshore.
3. O reconhecimento dos programas de transferência social e daqueles voltados à população (saúde, educação e segurança) como centrais de qualquer política pública.
4. O avanço de reformas permitindo que o investimento em infraestrutura seja conduzido por parcerias público-privadas.

A pedidos: quem é o Juiz Ali Mazloum - por PHA

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Uma sentença polêmica - por Luis Nassif

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A sentença Mazloum e a defesa de Dantas - por Luis Nassif

A defesa do banqueiro Daniel Dantas, condenado por ter participado de tentativa de suborno de policiais federais que atuaram na Satiagraha e investigado por supostos crimes financeiros no caso, informou que usará a decisão de Mazloum para tentar anular a condenação e as investigações.

Da Folha
Procuradores divulgam nota contra decisão de juiz
Defesa de Daniel Dantas usará decisão de Mazloum para tentar anular processos
Texto diz que telefonemas entre delegado, procurador e magistrado não são “motivo para lançar suspeição sobre a lisura da conduta”
FLÁVIO FERREIRAFERNANDO BARROS DE MELLODA REPORTAGEM LOCAL
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) divulgou ontem uma nota contra trecho do despacho do juiz federal Ali Mazloum sobre a existência de telefonemas entre celulares e gabinetes do delegado Protógenes Queiroz, do procurador da República Rodrigo de Grandis e do juiz federal Fausto De Sanctis na Operação Satiagraha.
Segundo a nota, a realização dos telefonemas “não é motivo para lançar suspeição sobre a lisura da conduta destas autoridades públicas, uma vez que tais contatos são necessários para o esclarecimento acerca de medidas requeridas no curso de investigações criminais”.
O procurador De Grandis defendeu ontem a comunicação entre autoridades nas apurações criminais. “Conversar com o delegado que preside as investigações é comum e regular. Enfim, o Ministério Público é destinatário dessas investigações. Seria absurdo, irregular, anormal, o fato de o procurador ou o delegado conversarem com o investigado”, disse ele.
A decisão de Mazloum abriu um processo criminal contra Protógenes pelo suposto vazamento de informações sigilosas. No despacho, o juiz determinou o envio de ofícios ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e ao Conselho Nacional do Ministério Público, para que as autoridades sejam investigadas em virtude das ligações.
A defesa do banqueiro Daniel Dantas, condenado por ter participado de tentativa de suborno de policiais federais que atuaram na Satiagraha e investigado por supostos crimes financeiros no caso, informou que usará a decisão de Mazloum para tentar anular a condenação e as investigações.
“Não só para ilustrar a ilegalidade da investigação, como também para confirmar que a acusação de corrupção é uma fraude”, afirmou Andrei Schmidt, advogado de Dantas.
O juiz Mazloum informou que não iria se manifestar sobre as afirmações da ANPR.
Comentário
As seguintes pessoas e órgãos, de maneira direta ou indireta, têm ajudado na defesa de Daniel Dantas: Gilmar Mendes, Ali Mazloum, Nabarrete, Conjur, Veja (através de Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo), Suzana Camargo.
No caso de Ali, sua decisão levantou como indícios de crime telefonemas de jornalistas ao delegado e procuradores, juízes e policiais conversando entre si por telefone. Queria que fosse como? Por pombo correio?

terça-feira, 26 de maio de 2009

A Folha e o caso Milton Zuanazzi - por Cido Araújo (Blog do Nassif)

Quando o mais fraco vence

De vez em quando a caixa de entrada do Outlook nos reserva alguma supresa. Como este release com o título “Juiz Condena Folha por Leviandade e Sensacionalismo”.
Claro que a decisão não é final, que a Folha deve recorrer etc e tal. De toda forma, é um alento saber que neste país nem sempre o lado mais forte ganha todas. A sentença também é importante para lembrar que nunca é tarde para a imprensa refletir sobre sua conduta ética e sobre o papel que pretende exercer na sociedade.
A íntegra do release é a seguinte:
“A Folha de S.Paulo e a jornalista Renata Lo Prete foram condenadas a pagar R$ 139.500,00 a Milton Zuanazzi, ex-presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a título de indenização por danos morais. A ação se refere a uma série de notas difamatórias publicadas em 20 de julho de 2007 na coluna Painel, editada por Lo Prete.
O jornal afirmou que a Anac mantinha relações “promíscuas” com as empresas de aviação, sugerindo que, no interior da Agência, Zuanazzi seria a pessoa encarregada de defender os interesses da Gol. Segundo a Folha, essa suposta interferência teria feito a Anac liberar a pista do aeroporto de Congonhas onde, três dias antes da publicação da nota, havia ocorrido o acidente com o avião da TAM.
Na ação, Zuanazzi lembra que não foi a Anac quem liberou a pista, mas a Infraero. E ressaltou que a Folha, buscando eleger um culpado pela crise aérea, produziu contra ele acusações que jamais conseguiu provar.
Após a analisar as razões de Zuanazzi e a defesa do jornal, a juíza Maria Lúcia Boutros Buchain Zoch Rodrigues, da Vara Civil do Fórum de Porto Alegre (RS), concluiu que a Folha foi “irresponsável”, “leviana” e “sensacionalista”, dando ganho de causa ao ex-presidente da Anac.”
A seguir, a parte final da sentença:
É de ressaltar-se o fato de que o texto foi publicado apenas três dias após a ocorrência daquele acidente, como parte do conjunto de manifestações que a imprensa nacional produziu na ocasião. E que de alguma forma ele vincula o desastre à atuação da ANAC e a uma suposta ligação escusa, de seus dirigentes com duas empresas aéreas: a GOL e a TAM.
Ora, naquele contexto, a afirmação de que Zuanazzi era GOL é suficiente para que se identifique a clara intenção da jornalista de dizer que ele, corrompido pela companhia aérea a fim de receber vantagens indevidas, funcionalizava seus atos para beneficiar aquela empresa. Posto que subliminarmente, resta claro que o texto induz à crença de que entre as causas do grave acidente estaria a corrupção dos agentes da ANAC - entre eles o autor.
E a irresponsabilidade de uma notícia assim veiculada torna-se ainda mais grave quando dirigida a um leitor tomado pela comoção que aquela tragédia sem precedentes na história da aviação brasileira causou.
Foi como colocar gasolina na fogueira em que se constituía o sentimento dos brasileiros naquela ocasião, especialmente os parentes e amigos das vítimas, já tão destroçados pelo acontecimento.
Foi expor o autor, não só a um abalo de imagem como ao risco de linchamento, evidenciado no relato da testemunha João Elias Bragatto, que transcrevo (fl. 584):
“PA: Se o depoente sabe do constrangimento sofrido pelo autor no aeroporto e se ele sabe a que ele aliaria esse constrangimento? T: Isso foi um fato lamentável que foi presenciado, né? Dele e a esposa serem agredidos no aeroporto em função dessa matéria. Estava ali um grupo de pessoas fazendo um manifesto contra a TAM e esse grupo partiu para… Tal assassino, tal ladrão. Foram essas as palavras que deu para ouvir, porque era muita gente e partiram para cima dele.
“J: Presenciou? T: Presenciei o fato. Eu estava… O meu colega estava lá dentro do aeroporto e eu tinha ido estacionar o carro. Nesse percurso já estava a tal… Aí ele me relatou, ‘Ó, é o Milton que está ali e o pessoal…’, mas deu para ouvir todas as pessoas, inclusive a mulher dele eu achei que tinha sido agredida. Mas depois disse que não foi, o pessoal… De uma bandeirada que ela levou.
“J: Esse fato foi após a publicação desta matéria? T: Após a publicação. Acho que foi uns cinco ou seis meses depois da publicação, se não me engano. Não vou precisar data porque… É que foram depois outras notícias e essa foi a que me gravou mais”.
E nem se diga, como as rés fizeram, que o autor, por ser homem público, sujeito à vigilância no desempenho de suas funções e à crítica jornalística, pudesse, só por isso, ser submetido a acusações daquela natureza. A imputação de atos de corrupção, feita sem qualquer base concreta, por conta de supostos comentários alegadamente protegidos pelo sigilo da fonte, ultrapassou o âmbito da mera crítica jornalística. Mormente quando feita por um veículo de informação com a importância institucional da Folha de São Paulo - cuja influência em todo o País é consabida.
A leviandade que se revela em uma notícia assim produzida não pode abrigar-se sob o manto da liberdade de imprensa - um valor que, se por um lado deve ser resguardado com efeito, de outro impõe àquele que o exercita que o faça com maturidade e equilíbrio, nem de longe observados pelas rés no trato de uma tragédia daquela proporção.
Forçoso dizer o óbvio: para que pudessem estabelecer conexões como as que fizeram - entre as companhias aéreas, a atuação do demandante e o acidente -, as rés, necessariamente, haveriam de ter provas do afirmado. E não tinham.
Nem lhes adianta invocar, da maneira quase irônica como o fizeram, o surrado argumento do “sigilo da fonte”, contradizendo a proposição de que fariam prova da alegada corrupção.
Aliás, nisso cometeram mais uma leviandade, que agrava sobremaneira o ilícito por elas praticado: reiteraram aqui, em juízo, que as informações que publicaram eram verdadeiras; que “o conteúdo do relatório final da CPI do Apagão Aéreo bem demonstra a promiscuidade das relações entre a ANAC e as empresas privadas do setor aéreo e confirma as informações divulgadas pelas rés, inclusive quanto ao autor” (fls. 50 e 97). Em outras palavras, que o autor, como disseram, era GOL. Contudo, os elementos que trouxeram nada sinalizam a respeito de qualquer irregularidade que este tenha cometido.
É surpreendente que as rés inclusive tenham tentado, com destaques em amarelo e algumas transcrições, indicar passagens do relatório da CPI como provas em seu favor. Só quem não lesse aquele documento poderia acreditar que ali existe algo que possa ser chamado de prova da corrupção atribuída ao autor. Não há nada, absolutamente nada, senão referências à INFRAERO e à submissão de obras e serviços desse órgão a interesses de empreiteiros. A promiscuidade citada pela jornalista foi cogitada, sim, mas como presente na relação entre os administradores da INFRAERO e seus contratados (fl. 361), não entre as empresas aéreas e a ANAC, como ela afoitamente anunciara. A menção a dúvidas sobre a probidade da atuação dos dirigentes da ANAC foi feita apenas na introdução do relatório, como parte do histórico da instauração daquela CPI, não havendo, na seqüência, qualquer conclusão ou asserção naquele sentido. Houve, ainda, referência a voto do autor em um julgamento administrativo (fls. 147 e 157) e várias críticas sobre a atuação da ANAC - mais especificamente ao comportamento de uma diretora daquela agência (fls. 162, 169-170, 172-181, 183 e 187-188). Mas nenhuma atribuição de ato de improbidade a Mílton Zuanazzi; nada que o vinculasse à GOL, como asseverado pela Folha e pela jornalista.
Resta, assim, uma imputação vazia, com sua imensurável capacidade destrutiva, que se tornou tanto maior pela indiscutível respeitabilidade do agente - a Folha de São Paulo - e pelo momento em que foi lançada: três dias após o acidente da TAM.
Obviamente, porque refoge aos limites desta lide - que não versa sobre mera crítica à gestão do autor como Presidente da ANAC -, não me cabe aqui avaliar se houve, ou não, falhas na atuação dele à frente daquele órgão, ou, em tendo havido, ser por conseqüência ele contribuiu, ou não, para a crise que a aviação brasileira enfrentou naqueles tempos.
A questão aqui tratada é do ilícito a ele atribuído e seu link, como causa do acidente ocorrido com o airbus da TAM - afirmação feita sem qualquer substrato, como a prova dos autos, de forma cabal, hoje demonstra.
Não tenho dúvida, pois, de que em vez de apenas narrar fatos verídicos e de interesse público, como alegado pelas rés (fl. 49), a coluna por elas publicada utilizou-se de um sensacionalismo barato, da pior espécie, que causou ao autor um profundo dano moral.
Nem é preciso discorrer sobre a prova desse dano, por cuidar-se de hipótese clássica, já examinada tanto em doutrina como em jurisprudência, de aferição que se faz in re ipsa - compreensível por qualquer um que se coloque na posição do ofendido.
Passo, pois, desde logo, a quantificar a indenização a ele devida, que, dada à alusão feita pelas rés em preliminar, vale sublinhar, não se sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa (Súmula nº 281 do STJ).
E nessa tarefa, observo que a Folha de São Paulo é periódico de circulação nacional, cuja enorme credibilidade que detém é fator que exacerba o dano por ela provocado - na medida em que empresta ao potencial de convencimento dos leitores a mesma proporção dessa credibilidade.
Por outro lado, o autor, como as próprias rés fazem questão de frisar, é homem público. Teve ampla e tradicional atuação política e administrativa no Estado do Rio Grande do Sul, mercê dos cargos que ocupou como Vereador do Município de Porto Alegre, Secretário Estadual e Presidente de instituições como CEEE e CRT - fatos incontroversos. E na época da publicação exercia importante cargo em nível federal - o que amplia o público alvo da notícia, e, por consequência, o potencial agressivo do ilícito por meio dela cometido.
Examinando, ainda, pela perspectiva de precedentes jurisprudenciais do Tribunal de Justiça deste Estado, cito o caso abordado na Apelação Cível nº 70009617283, em que uma magistrada, que teve inseridas nos autos de processo eleitoral declarações acerca de seu envolvimento amoroso com o filho do Presidente de Diretório Municipal de um partido político, obteve, a título de reparação por dano moral, 250 salários mínimos.
Face a esse referencial, parece óbvio que a imputação e o tamanho da divulgação verificadas no presente caso justificariam, pelo menos, quinhentos salários mínimos a título de reparação.
Isso sem contar a capacidade econômica de pelo menos uma das ora rés - empresa jornalística de grande porte -, em comparação com a que se presume ser a dos demandados naquele precedente - dois profissionais autônomos da advocacia.
Na mesma linha a analogia que se faça com o fato julgado na Apelação Cível nº 70001201532, que versou sobre crítica feita pela imprensa à decisão de um magistrado. O valor arbitrado também foi equivalente a 250 salários mínimos.
Ocorre que, na inicial, o autor sugere valor equivalente a trezentos salários mínimos (fls. 15, in fine, e 16). E assim, ao sequer indicá-lo como quantia mínima, o que fez foi limitar seu pedido a esse patamar.
Diante disso, embora a meu juízo a conduta das rés devesse comportar arbitramento maior, não tenho como procedê-lo.
Por consequência, considerados os aspectos que devem nortear a fixação - a intensidade do sofrimento causado ao autor, as condições econômicas e sociais de ambas as partes e o caráter pedagógico e preventivo da condenação -, arbitro a indenização devida pelas rés em R$ 139.500,00, valor equivalente, nesta data, a trezentos salários mínimos.
ANTE O EXPOSTO, JULGO A AÇÃO PROCEDENTE, para condenar a EMPRESA FOLHA DA MANHÃ e a jornalista RENATA LO PRETE, solidariamente, a pagarem a MÍLTON ZUANAZZI, indenização por dano moral que fixo em R$ 139.500,00 (cento e trinta e nove mil e quinhentos reais), a serem corrigidos pelo IGP-M, quando do pagamento, desde a data desta sentença, e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, estes deste a data do ato ilícito (qual seja a da publicação da matéria, ocorrida em 20 de julho de 2007), nos termos da Súmula 54 do STJ.
Custas pelas rés, que pagarão, ainda, verba honorária que, na forma do § 3º do art. 20 do CPC, fixo em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação.
Registre-se e intimem-se.
Porto Alegre, 15 de abril de 2009.
MARIA LUCIA BOUTROS BUCHAIN ZOCH RODRIGUES,
JUÍZA DE DIREITO.

Cheio de fumaça contra a democracia - por Luis Nassif

Pelo sistema atual, se uma Medida Provisória não for votada, tranca a pauta de votações do Congresso.
Para mudar esse dispositivo, tinha que se mudar a Constituição. Mas o presidente da Câmara, Michel Temer, resolveu praticar o ativismo legislativo, e mudou por conta própria a interpretação constitucional - segundo ele, com beneplácito do Planalto.
Segundo ele, emenda demoraria muito. Aí ele descobriu um “ovo de Colombo” e deu sua interpretação para a Constituição - que será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal do Gilmar Mendes.
A interpretação de Temer - segundo entrevista ao Estadão - é o princípio da igualdade absoluta entre os Poderes, como central para o Estado Democrático. Se, com MP, o Executivo trancava a pauta do Legislativo, então o princípio da igualdade ficava prejudicado.
E se as MPs não forem votadas no prazo de 120 dias? Problema do Executivo, que tem que colocar sua base para votar. Com isso, o Executivo ficará refém do Legislativo. E não é um Legislativo qualquer, como bem lembrou a Maria Cristina Fernandes. É o Legislativo de Sarney e Temer.
Posso estar sendo pessimista, não gosta de dar ouvidos a teorias conspiratórias. Mas há claramente um movimento não só de enfraquecimento do Executivo, mas de subversão institucional. Um dos motivos da queda de Jango foram suas loucuras populistas. Mas o motivo central foi o enfraquecimento absoluto do Executivo, que o obrigou a toda sorte de barganhas.
Tem-se o “ativismo” do Supremo Tribunal Federal, através de seu presidente, investindo contra todas as formas autônomas de poder - dos juízes de primeira instância ao Ministério Público, passando por censura a jornalistas que não compartilham do pensamento único.
Agora, o Legislativo - através de Temer - tomando as rédeas nos dentes e tornando o Executivo cada vez mais refém das barganhas políticas, em um momento em que a crise exige ação rápida do governo.
No mesmo Legislativo, a CPI dos Grampos investindo contra princípios básicos do processo judicial.
Há um cheiro de fumaça no ar que não me agrada.
Depois do ativismo do Judiciário, agora é o ativismo da Câmara. O estilo atrabiliário de Gilmar Dantas começa a contaminar outros poderes. O mau exemplo do presidente do Supremo Tribunal Federal, invadindo outros poderes, começa a ser seguido pelo presidente da Câmara Federal, Michel Temer. O federalismo brasileiro está virando uma casa da mãe Joana.

CPI da Privatização - Folha (*) denuncia: Gabrielli - por PHA

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=11104

O comentarista da globo, Gilmar e Paulo Lacerda - por Luiz Carlos Azenha

http://www.viomundo.com.br/opiniao/o-comentarista-da-globo-gilmar-e-paulo-lacerda/

O IDP, o IPES e o uso do Supremo - por Luis Nassif

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/25/o-idp-o-ipes-e-o-uso-do-supremo/#more-30765

As operações de carry trade - por Luis Nassif

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/22/as-operacoes-de-carry-trade/

Permutando o STF - por Luis Nassif

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/22/permutando-o-stf/

Grande imprensa: riscos para a campanha de Serra - por Luis Nassif

http://blogln.ning.com/group/midia/forum/topics/grande-imprensa-riscos-para-a

Ser paulista - por Luis Nassif

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/23/ser-paulista/#more-30745
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/24/ser-paulista-2/#more-30754

O Dono do Mundo - por Luis Nassif

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/24/o-estilo-diamantino-no-cnj/#more-30753

A udenização do PSDB - Valor Econômico

Certa feita, o ex-governador Leonel Brizola disse que “o PT é a UDN de macacão”. Essa frase não se explicava apenas pela notória destreza verbal do caudilho gaúcho e pela histórica rivalidade de seu trabalhismo decadente com o obreirismo emergente do PT. Ela também se justificava pela crítica à postura de oposicionismo contumaz e desleal, associada a um empedernido moralismo, que marcava o partido de Lula na época em que a conquista do governo federal ainda se encontrava algo distante.
(…) Mas a UDN e suas lideranças não atuavam de forma isolada nesta sua estratégia de oposicionismo desleal. Elas contavam com a sustentação política de setores da sociedade que se identificavam com sua perspectiva elitista liberal-conservadora. Para esses setores, Vargas e o favorecimento dos setores mais pobres da população por meio de políticas sociais eram anátemas: cumpria extirpar a eles e às práticas imorais de trato da coisa pública que supostamente lhes acompanhariam.
(…) Com o declínio das lideranças e partidos conservadores mais tradicionais, que sucumbiram ao fisiologismo rasteiro, tornando-se inclusive base de sustentação do governo Lula, o eleitorado mais consistentemente conservador viu-se órfão. E fez sua opção mais de forma negativa que positiva.
Se há um sentimento que tem animado o espírito político conservador hoje no Brasil, este é o do antipetismo (e uma variante sua, o antilulismo). E nenhuma outra agremiação tem incorporado melhor este papel de anti-PT e anti-Lula do que o PSDB (com a sugestiva exceção mineira). Ao tornar-se estuário deste conservadorismo social e político, os tucanos têm adotado - sobretudo na cena nacional - um discurso e uma postura cada vez mais conservadores e elitistas. É a forma encontrada de reter o novo eleitor - esse direitista “tucano novo”. O curioso disto é que talvez nenhum partido seja mais próximo do PT em sua origem histórica e no perfil de seus formuladores do que o PSDB. Mas a disputa eleitoral da democracia prega peças: ela força os partidos para onde os eleitores estão. Isto talvez explique o processo de udenização pelo qual passam os tucanos.
Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da PUC-SP e da FGV-SP.
Por Danilo Morais
A defesa de um autoritarismo instrumental caracterizava a UDN, o que parece uma contradição em termos, dada também a defesa do liberalismo de forma doutrinária por essa organização. Entretanto, pelo conceito de práxis liberal, a forma como a teoria liberal foi e é reinterpretada e posta em prática pelos atores políticos que a defendem no Brasil, que Wanderley Guilherme dos Santos (ver SANTOS, Wanderley Guilherme, Décadas de Espanto e uma Apologia Democrática, Rio de Janeiro, Rocco, 1998) compreende esta pretensa contradição. A defesa do autoritarismo, para a UDN, é uma alternativa para “estabilizar” (reprimir) os conflitos sociais e, após isso, estabelecer novamente o regime democrático, sobre as rédeas da tradicional elite política e econômica.
Hoje, os herdeiros diretos desta tradição política são o PSDB e o DEM. Wanderley Guilherme dos Santos já havia de alguma forma visualizado isso em 1998, dada a transformação do autoritarismo instrumental, que em sua forma tradicional foi abandonado e a atualização do liberalismo doutrinário, na concepção neoliberal abraçada pelos dois partidos, que defendem, segundo entendo, uma forma de democracia liberal elitista.
Em trabalho de 2004, fiz a seguinte interpretação:
“Santos parece concordar (…) que a ordem liberal clássica, que não foi nem está presente em nosso país, não é condição necessária para a ampliação e aprofundamento de nossa democracia, sendo mesmo um obstáculo para este processo em seu ideário pretensamente atualizado, o neoliberalismo. Este neoliberalismo nada mais é no Brasil que uma nova roupagem para o velho liberalismo doutrinário descrito como parte da práxis liberal de nossas elites.” (Morais, Danilo de Souza “A práxis liberal, o domínio da cidadania regulada e a emergência da nova cidadania”, mimeo, 2004 p.10)
Assim sendo, a interpretação de Cláudio Couto está bem fundamentada, porém, o alinhamento do PSDB com a tradição udenista remonta a constituição do governo de FHC e não a oposição ao governo Lula. Esta sintonia entre PSDB e a tradição udenista fica apenas mais evidente com a oposição tucana ao governo petista, pois emerge na memória política nacional o papel que mais desempenhou a UDN, qual seja: a de partido de oposição liberal às medidas de ampliação dos direitos de cidadania, utilizando para isso práticas golpista.

Um vivo na roda - por Eduardo Guimarães

Na última segunda-feira, participei do programa Roda Viva, da TV Cultura, que entrevistou o senador tucano pelo Paraná, Álvaro Dias. Fui convidado pela produção do programa para enviar perguntas e comentários via Twiiter e chat da página da emissora na internet. Essas perguntas, feitas pelos três twitters convidados pelo programa, caíam diretamente no computador da jornalista Lia Rangel, que as repassava ao mediador, Heródoto Barbeiro.
Tive dificuldade de avaliar se valeu a pena perder uma tarde de trabalho profissional remunerado para participar graciosamente do programa. Concluí que valeu apenas por eu ter podido ver as entranhas do polêmico Roda Viva e da própria TV Cultura, que há anos vem sendo acusada de ser usada politicamente pelos governos do PSDB paulista.
Pela participação que tive no programa, penso que não valeu. Consegui ter apenas uma única pergunta emplacada, e quem a veiculou - pois a bancada de três twitters (que integrei) não tinha permissão para se manifestar verbalmente - foi o mediador. E, como se não bastasse, aquela bancada foi tratada com desprezo pela produção do programa, que nem se deu ao trabalho de apresentar as três pessoas que abriram mão de seus afazeres para estar ali.
A pergunta que fiz, e que aqueles que acompanharam o programa pelo Twitter e pelo chat puderam ler, foi a seguinte:
Senador [Álvaro Dias], por que esse ímpeto investigativo do PSDB [de se empenhar tanto para criar a CPI da Petrobrás] não se reproduz no governo Serra, que veta todas as CPIs [da oposição na Assembléia Legislativa paulista]?
O mediador do programa, Heródoto Barbeiro, recebeu minha pergunta em seu computador repassada pela jornalista Lia Rangel (alguém se lembra da participação dela nos bastidores do Roda Viva durante as entrevistas de Gilmar Mendes e de Protógenes Queiroz?). Contudo, o mediador distorceu a pergunta omitindo a menção ao governo Serra, mudando para “governos do PSDB”.
O senador tucano, autor do requerimento da CPI da Petrobrás no Senado, pôde mentir e distorcer os fatos com grande desenvoltura graças à leniência da bancada de entrevistadores, que, diante de respostas do senador como a de que não poderia falar pelos governos do PSDB nos Estados quando bloqueiam CPIs, foi poupado de maiores questionamentos.
Só vendo por dentro o Roda Viva pude verificar esse tipo de distorção, que só não foi maior talvez por que eu, de lá da segunda bancada, não podendo falar limitava-me a fazer caras e bocas e a dar sorrisos irônicos. Cheguei, em certo momento, a fazer menção de levantar e deixar o programa, mas, sob o olhar temeroso da evidentemente séria jornalista Lia Rangel, optei por ser educado e não causar tumulto.
Não foi por outra razão que, ao fim do programa, quando Lia veio até os “twiters” (eu, o filho de Wladimir Herzog e um estudante do Mackenzie) para gravar o que o programa chama de “bastidores”, a produção cortou a energia dos holofotes, das câmeras e tudo mais, de forma que aquela edição do Roda Viva ficou sem aqueles “bastidores” que são sempre apresentados pela internet.
No entanto, durante o intervalo comercial do segundo bloco do programa, Lia gravou comigo uma entrevista relâmpago sob o pedido de que eu dissesse o que estava achando. Respondi a ela que estava presenciando uma “comédia”, que o PSDB tenta sabotar o Brasil para eleger Serra e que, por isso, aquele homem que ali estava, bem como seu partido, constituíam uma ameaça ao país.
Álvaro Dias e todo o resto dos que ali estavam ouviram claramente o que eu disse, pois estávamos todos separados por poucos metros de distância num ambiente fechado e que, naquele momento, mergulhara num estrepitoso silêncio.
Para mim, ficou cristalino o uso político que os governos tucanos de São Paulo vêm dando à TV Cultura durante os últimos 15 anos. É um abuso a utilização do dinheiro dos impostos dos paulistas para manter uma emissora pública que foi colocada a serviço de um partido político, o PSDB.
Tudo aquilo de que a oposição tucano-pefelê e a mídia acusam reiteradamente a TV Brasil (de ser “tevê do Lula” e outras bobagens) vale apenas para a TV Cultura, que, por estar sendo usada ilegalmente como arma política, afirmo que está sendo gerida como se fosse de propriedade do PSDB de São Paulo. Em vez de CPI da Petrobrás, o Congresso Nacional deveria fazer uma CPI da TV Cultura.

Um país de pernas para o ar - por Jose de Abreu (blog do Nassif)

Nassif
Creio que o imbroglio está chegando ao fim. Não importa, para mim pelo menos, se a Justiça prenderá ou não o Daniel Dantas e sua camarilha. Pelo que conheço de nosso querido Brasil - e até de outros países ditos mais desenvolvidos - ninguém irá para a cadeia por crimes “limpos”. Talvez apenas e tão somente o Delegado Protógenes que, por ter curso superior e ser Delegado (não se esqueça do significado da palavra - tem delegação Federal) tem direito a prisão especial, etc e tal. O fato inegável é que a sujeira está vindo à tona e mancha reputações, atinge inapelavelmente a grande mídia e seus jornalistas mais famosos, políticos e juízes, ministros e presidentes. Isso não tem mais volta! Nunca mais a Veja, a Folha, e outros jornalões serão os mesmos, nunca mais a internet e seus blogs deixarão de ocupar o espaço perdido por esses meios de comunicação impressos. Foi com muita pena que fui deixando de assinar a Veja e a Folha, já há algum tempo. Foram anos de convivência, às vezes até por mais anos de que meus casamentos!
É impressionante como uma pessoa, até pelo seu lado negro, invertido, pode causar mudanças tão profundas numa sociedade, como está acontecendo com Daniel Dantas e o Brasil. Acho que temos que bater no fundo do poço de lama para que de lá saiamos mais limpos. “Fundo de poço de elevador tem mola”, dizia uma grande amiga, parafraseando seu analista. Tomara que nosso fundo de poço também tenha.
Tinha que ser eleito presidente, primeiro, um sociólogo, professor da USP e da Sorbonne, cheio de distinções, de mestrados, doutorados e pós-doutorados e exilado pela ditadura; tinha que ser eleito depois um operário nordestino, um legítimo representante dos migrantes, dos ‘bahianos” para os paulistas, dos “paraibas” para os cariocas, sem distinções nem curso superior e ex-preso político e vítima de toda espécie de preconceitos.
Tinha que ter acontecido a privataria “no limite da irresponsabilidade”, a emenda da reeleição comprada por duzentos dinheiros cada voto; tinha que ter acontecido o “valerioduto” inventado pelo seminarista tucano Azeredo e que envolveu absolutamente o PT, já na qualidade de “telhado” e não mais de “pedra” e que levou de roldão o homem-forte e principal eleitor do Lula.
Parece que tudo faz sentido: a esquerda tomou o poder no país, primeiro com meu ídolo de juventude, depois com meu ídolo da fase adulta. Mais uma vez a esquerda reviveu no Brasil, quebrada, de muletas e esparadrapos, representada pelos partidos paulistas PSDB e PT, ambos surgidos nas noites no Spazio Pirandello, na emblemática Rua Agusta, onde os “reis do ié-ié-ié” da ditadura desciam à 120 por hora… E onde os políticos tomavam seus vinhos e cervejas, paqueravam suas amantes e alegravam nossos olhos com a volta do povo ao poder com as eleições diretas.
Tudo agora está ficando de cabeça para baixo: o bandido condenado solto e o delegado de polícia já com data marcada para ser preso, por essas manobras inexplicáveis do destino, na mesma data em que se (des)comemora os 45 anos do advento do golpe de direita de 1964.
Disso tudo sairá um Brasil melhor. Mesmo porque pior vai ser impossível.
Estou exausto. Tenho vontade dar um tempo e me alienar na arte. Submergir. Não aguento mais tanta hipocrisia, tanta mentira, tanta inversão de valores. E nem posso usar o verbo “cansar” pois me foi roubado por Hebes e D’Ursos.

Festa na Paulista: Lula Cai - por Celso Marcondes (Cartacapital)

“COM CRISE, CAI APROVAÇÃO DE LULA”: esta é a manchete desta sexta-feira, 20 de março, da Folha de S.Paulo. No alto dá página, de ponta a ponta da capa. A matéria, que ocupa mais três das páginas nobres do jornal, apresenta os resultados de nova pesquisa do Datafolha, realizada entre 15 e 19 de março. Ela dá conta que da pesquisa de 28 de novembro até esta, a porcentagem de brasileiros que avaliam o governo Lula como “ótimo e bom” caiu de 70 para 65%, enquanto as que consideram “regular” foram de 23 para 27% e as que acham que o governo Lula é ruim ou péssimo subia de 7 para 8%.

Na primeira página interna com a matéria, o título é “APROVAÇÃO A LULA CAI PELA 1.a. VEZ NO SEGUNDO MANDATO”. Outros gráficos mostram também que cresceu o número de brasileiros que tomaram conhecimento da crise econômica mundial (de 72 para 81%) e que diminuiu o índice daqueles que aprovam o desempenho da equipe econômica do governo (de 61 para 53% de ótimo e bom).

Chama a atenção um gráfico inédito na história do instituto: ele compara, ilustrando com fotos dos dois, cara a cara, o desempenho do presidente Lula com o do presidente Obama. Ficamos sabendo que o americano tem um porcentual de 44% de ótimo/bom contra 43 de Lula. O texto não explica se foi o Datafolha quem fez a pesquisa sobre a popularidade de Obama. O articulista supõe que não, que a pesquisa é de algum instituto americano, feita com critérios, metodologia e datas diferentes. Porém, mesmo querendo crer que o Datafolha tivesse realizado o levantamento de norte a sul dos EUA, ficaria a certeza de que a comparação é absolutamente descabida, por vários motivos, entre eles o de que um começou o mandato há menos de três meses e o outro há mais de seis anos. Talvez a relação mais sensata fosse a que comparasse os índices de aprovação de FHC em seus momentos de crise com os de Lula, mas isso já seria querer demais do jornalão paulista.

A segunda página dedicada à pesquisa diz no título que o “PESSIMISMO COM O EMPREGO ATINGE RECORDE” – antes eram 44% os que achavam que ia aumentar, agora são 59%. Seguem- se, entre outros, gráficos mostrando que este passa a ser o principal problema do País e que caiu de 71 para 65% o índice de brasileiros que entendem que não correm o risco de serem demitidos.

Já a terceira página dedicada aos resultados da pesquisa traz como manchete “SERRA LIDERA COM FOLGA, DILMA VOLTA A SUBIR”. E aí vem outra novidade: em vez de usar como referência para a análise o período entre as pesquisas de novembro e março, como fizera nas páginas anteriores, para destacar melhor a ascensão de Serra é usada como base de comparação a pesquisa de março de 2008, mostrando uma subida do governador paulista de 38 para 41% - isso se não for levada em conta a margem de erro da pesquisa, dita de 2%. .Se a base de referência fosse novembro, poder-se-ia ver com clareza que Dilma subiu de 8 para 11%, enquanto Serra mantinha-se em idênticos 41%. Ou seja, Dilma subiu em plena crise. Mas aqui também seria querer demais que o jornal destaca-se este fato.

A sensação que fica ao terminar de ler a muita extensa cobertura é de que a Folha deveria ter distribuído como brinde para seus leitores juntamente com esta edição um pacote com fogos de artifício e outro com confetes e serpentinas. Bastaria juntar os quatro títulos das cabeças de página. Repetindo:
“COM CRISE, CAI APROVAÇÃO DE LULA”.
“APROVAÇÃO A LULA CAI PELA 1.a. VEZ NO SEGUNDO MANDATO”
“PESSIMISMO COM O EMPREGO ATINGE RECORDE”
e, para fechar com chave de ouro,
“SERRA LIDERA COM FOLGA, DILMA VOLTA A SUBIR”.

Não faltou na pesquisa, outra novidade, uma pergunta mais que importante: você concorda com a frase ( de 4 meses atrás) do presidente Lula de que a crise será apenas “uma marolinha”? Ficamos sabendo que, em novembro, 42% concordavam com ela, agora são 35%. Ah, bom.

De fato, a edição desta sexta-feira da Folha, muito diferente de todos os outros grandes jornais do País, nos dá uma importante contribuição para a compreensão dos alcances da crise econômica e das limitações do atual governo para enfrentá-la. Poderei passar o final de semana com mais dados para reflexão.

O policial e a doméstica - por Leandro Fortes (Cartacapital)

O máquina de moer reputações acionada dentro da Polícia Federal para punir o delegado Protógenes Queiroz tem funções seletivas. Desde a prisão do banqueiro Daniel Dantas, em julho de 2008, a cúpula da PF dedica-se integralmente a tentar indiciar criminalmente Queiroz, acusado de vazamentos e práticas ilegais durante a Operação Satiagraha. Mas nem todo mundo recebe o mesmo tratamento. A Corregedoria-Geral da PF, órgão responsável por investigar os crimes cometidos por policiais federais, arquivou, sem publicidade nem vazamentos, em 29 de janeiro, um processo de tortura supostamente praticada por ninguém menos que o delegado Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da instituição.

Corrêa foi acusado de deter ilegalmente e torturar, à base de chutes, pauladas, socos e eletrochoques, a empregada doméstica Ivone da Cruz, em 21 de março de 2001, nas dependências da Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Ivone, então com 39 anos, trabalhava na casa de uma mulher identificada apenas como Ocacilda, também conhecida pelo apelido de “Vó Chininha”, avó da mulher do delegado, Rejane Bergonsi. Presente durante um assalto à casa da patroa, Ivone acabou apontada como suspeita de cumplicidade com os criminosos, embora nenhuma prova ou evidência tenha sido levantada contra ela até hoje. Corrêa era, então, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF em terras gaúchas.

Embora o combate ao tipo de crime cometido na casa de Vó Chininha, então com 90 anos, seja de competência exclusiva das polícias estaduais, Corrêa achou por bem tomar as dores da família, logo depois de avisado do assalto pela mulher, por telefone, na manhã do dia 20 de março de 2001. Sem autorização ou mandado judicial, o delegado atropelou a autoridade da Polícia Civil do Rio Grande do Sul e colocou uma equipe da DRE no encalço de Ivone da Cruz, na manhã do dia seguinte. A empregada foi encontrada em casa, um barraco no fundo da residência de uma amiga, num bairro de Alvorada, município pobre e violento da Grande Porto Alegre. Estava em companhia dos quatro filhos, todos menores de idade.

Os dois policiais, lembra Ivone, chegaram em uma caminhonete de luxo branca, a qual ela iria reconhecer, depois, como uma Blazer. Ambos se identificaram como policiais civis, mas não apresentaram carteiras nem distintivos. Para Ivone, afirmaram estar ali para levá-la à 8ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, onde, na madrugada do dia 20 de março, ela tinha comparecido para falar, como testemunha, do assalto à casa de Vó Chininha. Naquela oportunidade, ela contou ao delegado civil Fernando Rosa Pontes que dormia no chão de uma sala, ao lado do quarto da idosa, quando foi acordada por dois homens armados. Eles roubaram dinheiro e objetos da casa. Depois, foram à cozinha comer e beber, antes de fugirem.

O delegado Pontes registrou a ocorrência e avisou Ivone da possibilidade de ela ser chamada à delegacia novamente para, no caso de haver prisões de suspeitos, fazer reconhecimentos. Quando foi abordada pelos dois policiais da Blazer branca, Ivone pensou nisso. Foi essa, aliás, a justificativa apresentada pela dupla. Apreensiva, ela deixou as crianças com a amiga e seguiu no carro. Quando o automóvel parou, ela percebeu, de cara, duas coisas. O lugar não era a 8ª DP. Nem havia suspeito nenhum para ser reconhecido.

A doméstica foi levada a uma sala, nos fundos de um pátio, na Superintendência da PF, em Porto Alegre, onde um relógio na parede marcava meio-dia. Um círculo formado por quatro homens a aguardava. “A primeira coisa que fizeram foi me puxar pelos cabelos e me jogar de cara no chão”, conta. “Eu quis olhar para quem me bateu e levei um tapa forte na cabeça.” Em seguida, diz a empregada, foi algemada e colocada de joelhos. Seguiram-se, então, por aproximadamente seis horas, sessões de pancadas na cabeça, chutes, socos e violentos choques elétricos. “Eles tinham uma maquininha que encostavam nas minhas costas”, lembra Ivone. “A dor era tanta que desmaiei duas vezes”, afirma. Assim mesmo, não confessou crime algum.

O relógio da parede marcava 18 horas quando, moída de pancada e apavorada, segundo conta, foi colocada em uma cadeira e a fizeram assinar um termo de declarações que começa pelas linhas seguintes: “Aos 21 (vinte e um) dias do mês de março do ano de 2001, na Sede da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal, no Estado do Rio Grande do Sul, onde presente se encontrava o Delegado de Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa”. O documento tem uma página e meia. Trata-se de um arrazoado de informações isentas de novidades prestadas por Ivone da Cruz, na condição de testemunha, em termos semelhantes aos do depoimento prestado por ela na Polícia Civil.

Estranhamente, o termo, além de assinado por Corrêa e pela escrivã Aline Guerra Menchaca, tem também a assinatura de duas testemunhas. Três vizinhas de Vó Chininha, ouvidas como testemunhas pelo delegado Corrêa na Superintendência da PF, uma no mesmo dia, e outra, dois dias depois, não contaram com essa cautela. Uma delas, identificada apenas pelo nome de José Pessoa (RG 1016484378/SSP-RS), segundo Ivone, tinha a aparência de um mendigo. “Pegaram ele na rua, para falar que eu não tinha apanhado”, afirma. A outra testemunha foi o agente federal Gilberto Antônio Fritsch Feijó. Em seguida, Ivone foi deixada em um ponto de ônibus, com o dinheiro da passagem e um aviso: se denunciasse a tortura, os filhos pequenos sofreriam as consequências.

Ouvido agora por CartaCapital, Corrêa declarou, em entrevista gravada no gabinete dele, ter interrogado todas as testemunhas no mesmo dia. Trata-se de uma contradição com o conteúdo do processo, e não é a única. A Polícia Federal, embora tenha sido reiteradamente solicitada, negou-se a disponibilizar a sindicância sobre a acusação de tortura contra Corrêa. De acordo com a assessoria de imprensa da corporação, a Corregedoria-Geral não podia “abrir uma exceção”, embora o processo estivesse arquivado. CartaCapital, contudo, teve acesso a todos os documentos graças ao advogado de Ivone da Cruz, Volnei Oliveira, que a atende gratuitamente em Alvorada.

Corrêa ouviu, além de Ivone, apenas uma testemunha no dia 21 de março, Elisabete da Rosa Abruzzi. Ela disse ter visto a empregada ir ao encontro de um carro parado, em atitude suspeita, em frente à casa de Vó Chininha. Outras duas vizinhas, as irmãs Nara e Julia Formanski Casagrande, foram ouvidas no dia 23 de março. “Foram todas no mesmo dia, no mesmo ambiente, separadas apenas por uma divisória fininha”, insiste o diretor-geral, apesar dos registros oficiais das datas no processo. Todas, segundo ele, também contaram com as chamadas “testemunhas de leitura”, como no caso de Ivone da Cruz. Não é, porém, o que consta nos documentos enviados à Justiça Federal.

Nos autos do Ofício 230/01, de 27 de março de 2001, Corrêa assinou o documento de remessa dos depoimentos ao delegado Fernando Pontes, da 8ª DP, no qual ele trata de produzir uma informação estratégica, haja vista a denúncia de tortura feita por Ivone, na mesma delegacia, uma semana antes. Temia, ainda, a possibilidade de ser processado por invadir a competência da Polícia Civil para atender a uma demanda familiar. Assim escreveu Corrêa: “Conforme contato telefônico mantido, no qual, diante do acúmulo de serviço dessa Delegacia, V.Sa. solicitou que procedêssemos na oitiva (interrogatório) das pessoas envolvidas”.

Justamente naquele ano de 2001, antes de ir trabalhar na casa de Vó Chininha, Ivone havia chegado de Espumoso, no interior do Rio Grande do Sul, onde nasceu. Recém-separada, viajou à capital em busca de um emprego para sustentar os filhos. Logo depois de chegar a Porto Alegre, foi a um posto de saúde para se tratar de uma forte dor de cabeça, diagnosticada como sintoma de glaucoma, doença caracterizada pelo aumento da pressão ocular, capaz de cegar, no caso de não haver tratamento. Medicada, a empregada passou a usar um colírio para controlar a pressão nos olhos e foi aconselhada a evitar estresse. Dois anos depois de passar pelo interrogatório da PF, Ivone ficou completamente cega. Começou a perder a visão, afirma, no dia seguinte às torturas.

“Quando ela chegou em casa, estava toda roxa e em pânico”, conta Elisiane da Cruz, 24 anos, filha mais velha de Ivone. Na época, com 17 anos, Elisiane carregou a mãe para dentro de casa e percebeu que ela havia levado uma surra. Além disso, a empregada reclamava de uma dor insuportável na cabeça e de dificuldade de enxergar. Naquele momento, a menina tomou uma atitude rara e corajosa, contrária à vontade a mãe, e decidiu denunciar a tortura. No dia 22 de março, a filha levou a empregada outra vez à 8ª DP. Lá, Ivone da Cruz acusou Corrêa de tê-la torturado para forçar sua confissão.

O diretor-geral da PF alega só ter entrado no caso porque, ao tomar conhecimento do assalto, soube, também, da impossibilidade de a Polícia Civil agir porque, naquela madrugada do assalto, tinha outras prioridades. “Existia praticamente um clamor no prédio, porque Vó Chininha era como uma avó para todos os moradores”, afirma. “Então, liguei para o delegado e solicitei fazer as oitivas, com a autorização dele”, conta. Apesar de ser uma atitude estranha deslocar agentes federais para buscar e interrogar uma empregada doméstica já interrogada pela Polícia Civil, a justificativa de Corrêa poderia até ser plausível, não fosse um detalhe.

Da 8ª DP, Ivone foi encaminhada ao Departamento Médico Legal (DML) do Rio Grande do Sul. Um laudo, assinado, em 23 de março, pelos médicos Jorge Modjen da Silveira e Jorge Lazlo, constatou diversas escoriações na região lombar da empregada, segundo eles, provocados por “instrumentos contundentes”. O documento do DML forçou a Polícia Civil a abrir um procedimento de investigação interna, apesar de as supostas torturas terem sido realizadas nas dependências da Polícia Federal.

Por quase quatro anos, o processo de apuração da denúncia contra Corrêa tramitou lentamente pela burocracia policial do Rio Grande do Sul. Em 4 de fevereiro de 2005, o delegado D’Artagnan Tubino, da Corregedoria-Geral da Polícia Civil, decidiu ouvir, finalmente, o colega Fernando Pontes, da 8ª DP, responsável pela abertura do inquérito relativo ao assalto na casa de Vó Chininha. Pontes, então, desmontou o argumento primordial de defesa do delegado federal. Declarou “nunca ter solicitado” a Corrêa ouvir os envolvidos no crime, muito menos na sede da Superintendência da PF. Disse, apenas, ter uma “vaga lembrança” de ter sido solicitado um encaminhamento qualquer à PF, por razões que ele também disse não se recordar.

O relatório final do delegado D’Artagnan Tubino, com novos depoimentos tomados com as testemunhas ouvidas pela PF, foi encaminhado à Justiça Federal do Rio Grande do Sul, em 13 de maio de 2005, quando Corrêa ocupava o cargo de secretário nacional de Segurança Pública, em Brasília. No texto, Tubino explicita a denúncia de tortura. Segundo ele, Ivone “foi algemada, espancada na cabeça e levou choques no estômago e nas costas”. Mas, inexplicavelmente, retirou do documento a parte do depoimento do delegado Fernando Pontes, da 8ª DP, onde ele dizia jamais ter combinado coisa alguma com Corrêa sobre levar os depoentes para a Superintendência da PF.

Foi a vez, então, da Corregedoria Interna da PF, no Rio Grande do Sul, começar a investigar a denúncia contra Corrêa, por requisição do Ministério Público Estadual. Em 6 de julho de 2005, a promotora Dirce Soler encaminhou um pedido de investigação à Justiça Federal, tanto por conta da tortura como por causa da intromissão de Corrêa no caso. Ficou particularmente irritada ao saber que Corrêa entrou na história por ser marido da neta da vítima. “Ora, essa revelação, por si só, demonstra a necessidade de que as investigações sejam procedidas no âmbito da Polícia Federal!” – escreveu, assim mesmo, exclamativa, a promotora.

No dia 20 de dezembro de 2005, após pouco mais de dois meses de trabalho, o delegado federal encarregado pela investigação, Sandro Caron de Moraes, produziu um relatório minguado, de duas páginas. Nele, faz um resumo acrítico e favorável à tese de Corrêa, de intromissão na investigação para “garantir a integridade das provas”. Por determinação do Ministério Público Federal, Ivone da Cruz foi reinquirida em 17 de agosto de 2006 para fazer o reconhecimento visual dos diversos agentes federais lotados na DRE da Superintendência da PF, quando da denúncia de tortura. Inútil, porque a empregada, àquela altura, estava completamente cega. “Meu Deus, como é que eu, sem enxergar, poderia reconhecer alguém?”, pergunta Ivone, os olhos opacos virados para o teto, ao se lembrar do episódio.

Incapaz de reconhecer os agressores, a doméstica passou seis anos à espera de ter a causa reconhecida na Justiça. Em vão. Em 11 de junho de 2007, o procurador da República Ipojucan Corvello Borba requereu o arquivamento do caso, por falta de provas. Borba reconheceu “a gravidade dos fatos”, mas nada pôde fazer com uma investigação feita pela PF, justamente a corporação acusada de patrocinar a tortura.

O caso foi enviado ao então corregedor-geral da PF, em Brasília, delegado Ivan Lobato, em setembro de 2007, ainda na gestão do delegado Paulo Lacerda, mas poucos dias antes da posse de Corrêa como diretor-geral. “Ele (Lobato) deveria ter arquivado imediatamente o processo, mas deixou, deliberadamente, o assunto em aberto”, acusa Corrêa. De fato, o arquivamento só ocorreu depois de Lobato deixar o cargo, ao fim do mandato de três anos, inerente à função. Para o lugar dele, o diretor-geral indicou um amigo dileto, o delegado Valdinho Caetano. E o assunto foi encerrado.

Caetano tomou posse como corregedor-geral da PF em 5 de dezembro de 2008. Encontrou, segundo ele, 685 sindicâncias a serem analisadas, além de outros 200 procedimentos administrativos, para aplicação ou não de processos disciplinares, como era o caso de Corrêa. Para limpar a pauta, o corregedor organizou um mutirão e, no meio do trabalho, garante ter se surpreendido com a tal sindicância relativa à denúncia de tortura. “Nunca tinha ouvido falar no caso”, afirma Caetano, amigo de longa data de Corrêa, com quem se formou delegado na mesma turma de 1995 da Academia de Polícia de Brasília.

Informado por Caetano da sindicância, inusitadamente, segundo o corregedor, encontrada entre a papelada da repartição, Corrêa conta ter avisado, posteriormente, ao ministro da Justiça, Tarso Genro, do arquivamento do processo. A decisão, sem novo pedido de investigação, segundo o corregedor-geral, foi baseada no arquivamento do caso pela Justiça Federal. Procurado por CartaCapital, Genro desmentiu essa versão. De acordo com a assessoria de imprensa do ministro, ele só tomou conhecimento do fato ao ser avisado por CartaCapital. Assim, foi se informar sobre o processo com o diretor-geral na quinta-feira 19. Depois, declarou, via assessoria: “Confio nas decisões do Ministério Público e do Poder Judiciário”.

Em um bairro poeirento de Alvorada, onde vive há oito anos, entrevada em um quarto, sob efeito de calmantes, Ivone da Cruz se mantém alheia às contradições das autoridades. Sobrevive com um salário mínimo da aposentadoria do INSS. Segundo ela, depois de ser torturada, nunca mais conseguiu trabalhar, por causa das dores de cabeça, da depressão e, finalmente, da perda de visão. Para tentar uma indenização, o advogado Volnei Oliveira teria de provar a relação entre a perda da visão e a tortura, tese prejudicada pelo arquivamento do processo. “A injustiça é pior do que a cegueira”, reclama Ivone, baixinho, com os punhos fechados sobre os olhos, numa tentativa inútil de esconder as lágrimas e a dor.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A tirania teocrática no Irã - por Wálter Fanganiello Maierovitch (Cartacapital)

No Irã, o guindaste passou também a ser usado nos enforcamentos. E o corpo do condenado permanece durante horas pendurado nas alturas. Uma exibição pública de origem medieval, voltada para difundir o medo. Entre os 192 Estados membros da ONU, o Irã é o segundo que mais promove a execução da pena capital. A China está em primeiro lugar, detém o recorde de 5 mil mortes, apenas em 2006.

Por ocasião da Assembleia-Geral das Nações Unidas de 18 de dezembro de 2007, o Irã refutou a resolução da moratória sobre a pena capital. Ficou ao lado de outros 54 Estados membros, a incluir Israel e EUA, onde 38 estados federados adotam tal pena.

A moratória acabou aceita por 104 países e 29, entre os presentes, abstiveram-se de votar. Hoje, 59 países mantêm a pena capital, e 25 executam rotineiramente essa forma de “homicídio legal”. No planeta, 2008 fechou o ano com 2.390 execuções de condenados.

A situação iraniana agrava-se pelo fato de a maioridade estar estabelecida em 9 anos de idade para as mulheres e em 15 anos para os homens. Portanto, uma criança do sexo feminino de 9 anos pode ser enforcada. Também poderá casar-se, daí a ocorrência, na visão ocidental, dos chamados matrimônios sob coação. E são muitos no Irã.

Não surpreendeu ter o Irã aderido à Convenção da ONU sobre Direitos da Infância. É que a redação dada ao artigo 49 da supracitada convenção não mudava as suas regras. Segundo o artigo 49, veda-se a aplicação de pena de morte para quem cometeu crime quando menor de idade. Ora, nada mudou, pois na aplicação da sharia xiita, não são executados menores de idade.

Até o fechamento desta coluna, 150 iranianos com menos de 18 anos aguardavam no corredor da morte a chamada dos carrascos incumbidos da preparação dos enforcamentos. Em 2008, o Irã enforcou oito menores de 18 anos. Quando da guerra contra o Iraque de Saddam Hussein, 80 jovens condenados à morte puderam trocar a pena pelo combate, no papel de “bucha de canhão”.

Por outro lado, os presídios iranianos encontram-se abarrotados, e os presos em condições desumanas. A Amnesty International alertou que “entre os reclusos estão acusados por crimes de opinião, políticos, homossexualismo e adultério”. Pior, o mesmo juiz que investiga é, como regra, aquele que julga. E não precisa julgar conforme as provas.

A jornalista Zahra Kazemi, com dupla nacionalidade (iraniana e canadense), ficou incomunicável durante cinco anos no temido cárcere de Evin, reservado a presos políticos e localizado na periferia de Teerã. Em 2003, comunicou-se ter sido encontrada morta na cela. No mesmo cárcere, está a jornalista Roxana Saberi, de 32 anos, e a ativista de direitos humanos Esha Momeni, de 28. Ambas possuem dupla cidadania (iraniana e norte-americana) e se encontram condenadas por espionagem, em processos “armados” para exploração política.

Há pouco mais de três meses, Roxana fora presa em flagrante com uma garrafa de vinho comprada de contrabandista. Para a sua surpresa, a acusação mudou para espionagem, pois a sua licença de jornalista não havia sido renovada pelo Ministério da Cultura e a Guarda do Islamismo; e ela atuava como freelancer.

Roxana, de mãe japonesa e pai iraniano, fugiu, em 1979, para os EUA, em face da Revolução Islâmica. Já foi miss Dakota do Norte (1998) e esteve em greve de fome. Ressabiado, o pai fala em profunda depressão. Em Paris, a organização Repórteres Sem Fronteira promove manifestações em favor de Roxana.

As jovens são permanentemente vigiadas pela polícia de proteção aos bons costumes, da qual provém Ahmadinejad. São presas por participar de festas clandestinas, ingerir bebida alcoólica, escutar música americana e “namoros expansivos”. Na reincidência, os pais são responsabilizados.

Em 1º de maio, apesar das pressões internacionais, realizou-se o enforcamento da pintora Delara Darabi, de 23 anos. A acusação era de ter matado a prima, de 58. Na ocasião, Delara tinha 17 anos. Em 2005, confirmou-se a condenação, apesar de sua negativa e de a perícia oficial haver demonstrado que os golpes fatais, dados com punhal, haviam sido desferidos por pessoa destra. E ela era canhota.

Delara conseguira um adiamento em 20 de abril. Isto porque pegaria mal para Ahmadinejad participar da Conferência sobre Racismo da ONU com as mãos tingidas de sangue. Tão logo voltou, deu-se o enforcamento, sem comunicação oficial ao advogado e à família.

Como se percebe, sem tocar nas questões sobre Holocausto, aniquilamento de Israel e armas atômicas, o presidente Lula, no que tange ao seu grande prestígio internacional, teve sorte com o adiamento da visita de Ahmadinejad ao Brasil. Agora, resta torcer pela eleição, em junho, de Mir-Hossein Mousavi, um moderado reformista.

O aprendiz de Torquemada - por Marco Antonio (blog do Nassif)

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/05/14/o-aprendiz-de-torquemada/#more-30573

A operação abafa do PT - por Leandro Fortes (Cartacapital)

http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=4054