quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Jimi Hendrix: o guitarrista legendário - por Marcin Klicki (arte digital - Coolvibe)

O relatório Cunha e a falta de estadistas na República - por Luis Nassif

É sintomático o recuo do deputado Odair Cunha e do presidente do PT, Rui Falcão, em relação ao indiciamento de jornalistas claramente acumpliciados com o crime organizado.

O PT tornou-se um partido invertebrado. No Congresso, a bancada inteira pesa menos que um Álvaro Dias.

E invertebradas são as instituições brasileiras. Instituições têm a Inglaterra, capazes de julgar os abusos de Rupert Murdoch sem receio de que seus magistrados sejam atingidos por ataques pessoais ou que se coloque em dúvida o compromisso das instituições com a democracia.

O próprio relatório inicial de Odair Cunha deixava claro que, ao propor o indiciamento do diretor da Veja em Brasília, Policarpo Jr., não se cogitava em brigas políticas ou em atentados à liberdade de imprensa, mas em combater especificamente alianças de veículos e jornalistas com o crime organizado. Era uma maneira de depurar a mídia e trazer a discussão dos limites da imprensa para uma arena republicana: o Judiciário, e não nas bobagens de um conselho de jornalismo, como se cogitou anos atrás.

Nem isso se consegue.

No Brasil, graças à covardia generalizada das instituições – Judiciário, Executivo, Legislativo e partidos –, a resistência contra essa aliança mídia-crime é individual, voluntarista, sujeitando os resistentes a ataques pessoais devastadores, porque sem limites judiciais.

Na série "O caso de Veja" (https://sites.google.com/site/luisnassif02/) relato com pormenores algumas dessas jogadas. Mostro o massacre sobre a juíza Márcia Cunha, que concedeu liminar contra Daniel Dantas; a armação contra o desembargador que confirmou a liminar; os ataques aos jornalistas que ousaram denunciar a trama. Mostro a parceria da revista com os esquemas de Dantas e Cachoeira. Em vão!

A abertura para as parcerias criminosas surgiu, inicialmente, da falta de limites aos exageros da mídia. O que, no início, era apenas mau jornalismo, tornou-se uma falta de critérios generalizada. Para alguns veículos, abriu-se a brecha para se oferecer como agente de guerras comerciais ou criminosas, como ocorreu na parceria Veja-Cachoeira ou Veja-Dantas.

É um sistema que, hoje em dia, não poupa ninguém, de presidentes de Tribunais a procuradores, de políticos a administradores ou vítimas meramente do mau jornalismo ou de jogadas criminosas.

Quem puder comprar proteção, faça como Ayres Britto. Quem se insurgir contra esse poder devastador, sofra as consequências, como Márcia Cunha.

Quando o indescritível Ministro Luiz Fux diz que o Judiciário não teme ninguém, digo, ele mente: teme o poder dos ataques individualizados da mídia. Teme sim, da mesma maneira que Odair Cunha, Rui Falcão, Ayres Britto e outros.

Só se melhorará a mídia com limites institucionais definidos pelo Judiciário ou pelo Legislativo, não pelo voluntarismo de pessoas que terminarão destruídas pelo poder avassalador da prática da difamação em larga escala.

Mas há falta generalizada de estadistas em todos os poderes da República.

Comentário
É difícil discernir o que há em maior quantidade: covardia, omissão, safadeza. A retirada destes nomes têm um preço - basta saber que Roberto Gurgel há quase 100 dias sentou em cima de um processo contra a Roseana Sarney e esta esperando ver o que acontece para dar seu parecer. E o papaizinho dela, personagem mui honesto vai influir para que nada aconteça com a filhinha. Com este acordo espúrio, Gurgel também escapa (uma mão lava a outra).
É triste, triste demais saber que o único político que se posiciona como homem, sem rabo preso, sem medo no congresso é Fernando Collor. 
Que país é este?

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Fotografia - por Cvonck

O Brasil real e a imprensa nativa: um desencontro marcado - por Roberto Amaral (Blog do Nassif)

"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo [Lula]".
Maria Judith Brito, presidente da Associação nacional de Jornais

Em qualquer análise à nossa grande imprensa (ela prefere chamar-se de ‘mídia’), lamentável é a necessidade de repetir, cem vezes repetir e continuar repetindo, que o objeto de nossos ‘meios’ não é informar (já ninguém cobra isenção), mas manipular a informação, e fazê-lo de forma aética, porque escondida, negada, negaciada. A grande imprensa, senhorial, travestida no papel de vestal, toma partido, distorce os fatos segundo seus interesses econômicos-políticos, posando de imparcial. Aliás, penso que a questão de fundo já não é a manipulação, o partis pris, mas a insistência em apresentar-se como isenta, na tentativa de conquistar abono social para sua má conduta. Julga-se acima do bem e do mal, acima das leis e do Estado, mas, ao contrário da mulher de César, não é séria, nem parece ser séria.

É clássico, conhecido até pelos alunos dos primeiros períodos dos cursos de Comunicação Social (meus alunos pelo menos sabiam), o mecanismo de construção da realidade mediante a criação de ‘fatos’, pois, ‘real’ não é o evento assim como ocorreu, mas o evento narrado (a ‘notícia’), real ou não.

 Entre nós, esse processo já virou prática cediça, e, uma vez conhecido,  a mais ninguém engana. Funciona assim: um órgão da auto-intitulada ‘grande imprensa’ veicula um texto criado em sua ‘cozinha’ a partir de simplesmente nada ou de ilações, o que dá no mesmo, e nos dias imediatos, cada um à sua vez, os jornalões seguem repetindo aquela matéria já como se ela fosse uma ‘notícia’, e o ‘fato’, isto é a  matéria inventada, passa a ter vida. Em regra, ou a ‘denúncia’  é lançada por um jornalão e repicada na revistona, ou começa na revistona (é o caso recente) e termina nos jornalões. Termina, em termos. Pois essas matérias, de extrema falsidade, de um jornalismo que, se tivesse cor, seria a marrom, não foram criadas como obra jornalística, mas simplesmente para alimentar ações políticas, de uma oposição sem capacidade de criar fatos, como docemente nos informa dona Maria Judith, com a alta responsabilidade de presidente da ANJ. Aí, então, eis o ritual, um indefectível senador, sempre presente na mídia televisiva, aparece denunciando a ‘gravidade dos fatos apontados pela mídia’, e sua ‘denúncia’ volta a alimentar a mídia.

Quais são os fatos, desta feita?

A revistona em edição de setembro último, com base numa conversa que o Sr. Valério teria tido com uma terceira pessoa não identificada, afirma, em matéria de capa, que o ex-presidente Lula comandava o ‘mensalão’. A ‘reportagem’, como previsto, vira notícia nos jornalões, nos quais é repetida sem nada lhe haver sido acrescentado, a não ser pelo Estadão (manchete), ao aduzir que o inefável Valério, em depoimento que teria dado ao Ministério Público Federal (inquérito que não tem o mínimo trecho transcrito), teria citado Lula, Palocci e Celso Daniel, relembre-se, o prefeito de Santo André assassinado em 2002, fato volta e meia retomado pela mídia com lances de sensacionalismo. Segundo o jornalão paulista o Planalto teria pedido a ajuda dos cofres de Valério para calar pessoas que não identifica, as quais estariam fazendo chantagem contra quem não diz. A seguir, a pauta volta para a revista.

Sem citar fonte, como sempre, Veja, a inexcedível, ‘descobre’, na edição seguinte, que os chantageados seriam o ex-presidente Lula e o ministro Gilberto Carvalho. E volta o carrossel da irresponsabilidade jornalística: a ‘matéria’ inventada’ vira notícia reproduzida por Estadão, Globo e FSP, até o momento em que um hoje obscuro deputado pernambucano asilado em SP é filmado no protocolo do Ministério Público, em Brasília, pedindo abertura de inquérito contra o ex-presidente.

A propósito dessa manipulação grosseira que procurei descrever em poucas linhas, chega-nos em nosso socorro a jornalista Suzana Singer, a ombudsman da FSP, em sua coluna de 11 do corrente, acusando, com sua autoridade, a imprensa de servir de porta-voz do Sr. Valério, ao reproduzir,  sem critério e acriticamente, os recados ameaçadores’ do operador do chamado ‘mensalão. Estariam, assim — as palavras são minhas–, o vetusto Estadão e seus colegões participando de uma chantagem?

Cedo a palavra à brava Suzana:

“É fundamental também deixar claro para o leitor que o empresário mineiro [Valério] não falou com a imprensa – a Veja não diz que o entrevistou, o Estado não publicou transcrições do depoimento e a Folha reproduziu os concorrentes”.

Eis o corpus delicti de nossa imprensa.

Onde mais estará a tragédia republicana? Em uma oposição sem rumo, nau soprada pelos ventos dos empresários da Comunicação, ou em uma mídia que assume o papel de partido político, renunciando ao seu ofício primário de informar? A essa altura ainda será possível (mesmo aos ingênuos de carteirinha) identificar o dever/direito de informar como a missão da imprensa, ou isso é mesmo uma só balela, das muitas que nos pregam, como a ‘isenção’ da Justiça e do Estado na sociedade de classes?

A construção também se dá pelo inverso: a imprensa altera favoravelmente os fatos que lhe desagradam. Na cobertura das últimas eleições, construindo, como “o recado das urnas” a existência de uma oposição reanimada no Norte-Nordeste (manchete de O Globo, 30.10.2012), ou escolhendo como vitorioso o senador Aécio Neves, papagaio de pirata das vitórias do PSB. O mesmo O Globo, já antes, em 2010, dera exemplo primoroso dessa alienação ao garantir, em caderno especial, que o governo Lula havia sido um total fracasso, muito embora a realidade (Ora, a realidade…) mostrasse o presidente com aprovação superior a 80%… Se não podemos mudar a realidade, dir-se-ão os editores do jornal, podemos pelo menos negá-la. Os veículos mais desapegados da realidade (falo da revista paulista e do diário carioca) parecem tratar seus leitores como aquele protagonista de ‘A vida é bela’, que ilude seu filho colorindo-lhe o mundo, para que ele não perceba o contexto em que está vivendo (a dura realidade de um campo de concentração).

Perguntará um rodriguiano ‘idiota da objetividade’: — Mas é possível os meios de comunicação desconsiderarem a opinião pública? Respondo-lhe: esse trabalho político-ideológico é apoiado em um tratamento da informação como um ‘produto’, que visa a um nicho específico do mercado; a família Marinho, por exemplo, oferece, por meio do ‘Jornal Nacional’ (TV Globo), do Globo, da Globonews e do Valor, diferentes produtos, cada um matizado em função do público-alvo. O jornal impresso atende a algo como 300 mil pessoas que partilham, grosso modo, de valores semelhantes àqueles esposados pela cúpula do partido, isto é, da imprensa. Cada um fala à sua militância.

Na vida real, todavia, não há como iludir os eleitores: o ex-presidente deixou o poder consagrado, enquanto seu antecessor posa como um rei no exílio; Dilma foi eleita e os partidos da base do governo ganharam em algo como 16 das 26 capitais em disputa, e, entre elas, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, e Natal, Recife,  Fortaleza e São Luiz no Nordeste.

Às vezes é duro encarar os fatos.

Fotografia - por DJ Designer Lab

Poderosos e “poderosos” no mensalão – por Paulo Moreira Leite (Época)

Num esforço para exagerar a dimensão do julgamento do Supremo, já tem gente feliz porque agora foram condenados “poderosos…”

Devagar. Você pode até estar feliz porque José Dirceu, José Genoíno e outros podem ir para a cadeia e cumprir longas penas.

Eu acho lamentável porque não vi provas suficientes.

Você pode achar que elas existiam e que tudo foi expressão da Justiça.

“Poderosos?” Vai até o Butantã ver a casa do Genoíno…

Poderosos sem aspas, no Brasil, não vão a julgamento, não sentam no Supremo e não explicam o que fazem. As maiores fortunas que atravessaram o mensalão ficaram de fora, né meus amigos. Até gente que estava em grandes corrupções ativas, com nome e sobrenome, cheque assinado, dinheiro grosso, contrato (corrupção às vezes deixa recibo) e nada.

Esses escaparam, como tinham escapado sempre, numa boa, outras vezes.

É da tradição. Quando por azar os poderosos estão no meio de um inquérito e não dá para tirá-los de lá, as provas são anuladas e todo mundo fica feliz.

É só lembrar quantas investigações foram anuladas, na maior facilidade, quando atingiam os poderosos de verdade… Ficam até em segredo de justiça, porque poderoso de verdade se protege até da maledicência… E se os poderosos insistem e tem poder mesmo, o investigador vira investigado…

Poderoso não é preso, coisa que já aconteceu com Genoíno e Dirceu.

Já viu poderoso ser torturado? Genoíno já foi.

Já viu poderoso ficar preso um ano inteiro sem julgamento sem julgamento?

Isso aconteceu com Dirceu em 1968.

Já viu poderoso viver anos na clandestinidade, sem ver pai nem mãe, perder amigos e nunca mais receber notícias deles, mortos covardemente, nem onde foram enterrados? Também aconteceu com os dois.

Já viu poderoso entregar passaporte?

Já viu foto dele com retrato em cartaz de procurados, aqueles que a ditadura colocava nos aeroportos. Será que você lembrou disso depois que mandaram incluir o nome dos réus na lista de procurados?

Poderoso? Se Dirceu fosse sem aspas, o Jefferson não teria dito o que disse. Teria se calado, de uma forma ou de outra. Teriam acertado a vida dele e tudo se resolveria sem escândalo.

Não vamos exagerar na sociologia embelezadora.

Kenneth Maxwell, historiador respeitado do Brasil colonial, compara o julgamento do mensalão ao Tribunal que julgou a inconfidência mineira. Não, a questão não é perguntar sobre Tiradentes. Mas sobre Maria I, a louca e poderosa.

Tanto lá como cá, diz Maxwell, tivemos condenações sem provas objetivas. Primeiro, a Coroa mandou todo mundo a julgamento. Depois, com uma ordem secreta, determinou que todos tivessem a vida poupada – menos Tiradentes.

Poderoso é quem faz isso.

Escolhe quem vai para a forca.

“Poderoso” pode ir para a forca, quando entra em conflito com sem aspas.

Genoíno, Dirceu e os outros eram pessoas importantes – e até muito importantes – num governo que foi capaz de abrir uma pequena brecha num sistema de poder estabelecido no país há séculos.

O poder que eles representam é o do voto. Tem duração limitada, quatro anos, é frágil, mas é o único poder para quem não tem poder de verdade e depende de uma vontade, apenas uma: a decisão soberana do povo.

Por isso queriam um julgamento na véspera da eleição, empurrando tudo para a última semana, torcendo abertamente para influenciar o eleitor, fazendo piadas sobre o PT, comparando com PCC e Comando Vermelho…

Por isso fala-se em “compra de apoio”, “compra de consciências”, “compra de eleitor…” Como se fosse assim, ir a feira e barganhar laranja por banana.

Trocando votos por sapatos, dentadura…

Tudo bem imaginar que é assim mas é bom provar.

Me diga o nome de um deputado que vendeu o voto. Um nome.

Também diga quando ele vendeu e para que.

Diga quem “jamais” teria votado no projeto x (ou y, ou z) sem receber dinheiro e aí conte quando o parlamentar x, y ou z colocou o dinheiro no bolso.

Estamos falando, meus amigos, de direito penal, aquele que coloca a pessoa na cadeia. E aí é a acusação que tem toda obrigação de provar seu ponto.

Como explica Claudio José Pereira, professor doutor na PUC de São Paulo, em direito penal você não pode transferir a responsabilidade para o acusado e obrigá-lo a provar sua inocência. Isso porque ele é inocente até prova em contrário.

O Poder é capaz de malabarismos e disfarces, mas cabe aos homens de boa fé não confundir rosto com máscara, nem plutocratas com deserdados…

Poder é o que dá medo, pressiona, é absoluto.

Passa por cima de suas próprias teorias, como o domínio do fato, cujo uso é questionado até por um de seus criadores, o que já está ficando chato

Nem Dirceu nem Genoíno falam ou falaram pelo Estado brasileiro, o equivalente da Coroa portuguesa. Podem até nomear juízes, como se viu, mas não comandam as decisões da Justiça, sequer os votos daqueles que nomearam.

Imagine se, no julgamento de um poderoso, o ministério público aparecesse com uma teoria nova de direito, que ninguém conhece, pouca gente estudou de verdade – e resolvesse com ela pedir cadeia geral e irrestrita…

Imagine se depois o relator resolvesse dividir o julgamento de modo a provar cada parte e assim evitar o debate sobre o todo, que é a ideia de mensalão, a teoria do mensalão, a existência do mensalão, que desse jeito “só poderia existir”, “está na cara”, “é tão óbvio”, e assim todos são condenados, sem que o papel de muitos não seja demonstrado, nem de forma robusta nem de forma fraca…

Imagine um revisor sendo interrompido, humilhado, acusado e insinuado…

Isso não se faz com poderosos.

Também não vamos pensar que no mensalão PSDB-MG haverá uma volta do Cipó de Aroeira, como dizia aquela música de Geraldo Vandré.

Engano.

Não se trata de uma guerra de propaganda. Do Chico Anísio dizendo: “sou…mas quem não é?”

Bobagem pensar em justiça compensatória.

Não há José Dirceu, nem José Genoíno nem tantos outros que eles simbolizam no mensalão PSDB-MG. Se houvesse, não seria o caso. Porque seria torcer pela repetição do erro.

Essa dificuldade mostra como é grave o que se faz em Brasília.

Mas não custa observar, com todo respeito que todo cidadão merece: cadê os adversários da ditadura, os guerrilheiros, os corajosos, aqueles que têm história para a gente contar para filhos e netos? Aqueles que, mesmo sem serem anjos de presépio nem freiras de convento, agora serão sacrificados, vergonhosamente porque sim, a Maria I, invisível, onipresente, assim deseja.

Sem ilusões.

Não, meus amigos. O que está acontecendo em Brasília é um julgamento único, incomparável. Os mensalões são iguais.

Mas a política é diferente. É só perguntar o que acontecia com os brasileiros pobres nos outros governos. O que houve com o desemprego, com a distribuição de renda.

E é por isso que um deles vai ser julgado bem longe da vista de todos…

E o outro estará para sempre em nossos olhos, mesmo quando eles se fecharem.

Fotografia - por Wanderson Oliveira (Bela fotografia)

Pizzas tóxicas aterrorizam Brasília – por Miguel do Rosário (Cafezinho)

Os capangas entraram em ação.

O relatório da CPI do Cachoeira, apresentado esta semana por seu relator, o deputado federal Odair Cunha (PT-MG), enfureceu os barões da mídia, que não perderam tempo. Seus leões de chácara travestidos de colunistas vociferaram pesadamente contra a audácia do parlamentar petista de tocar nos intocáveis.

Todos, todos, todos os capangas gritaram em uníssono. Noblat, Merval, Dora Kramer, Cantanhede, editoriais, manchetes.

Não vou me estender muito sobre o assunto, nem linkar ninguém. Todos dizem a mesma coisa, fazem as mesmas distorções. Vamos elencar as mentiras mais gritantes:

1. Que a CPI indiciou o tucano Perillo e “poupou” Agnelo. Ora, os próprios jornais onde estes colunistas escrevem publicaram dezenas de denúncias gravíssimas contra o governador de Goiás. Contra Agnelo, não apareceu nada consistente. O Cachoeira foi preso na casa do Perillo, ora bolas!

2. Que um policial disse que não encontrara nada de ilegal nas conversas entre Policarpo e Cachoeira. Ora, a função da CPI é justamente investigar aspectos políticos, o que não compete a um policial comum. O relatório diz, com abundâncias de provas (não há nenhum domínio de fato aqui), que a organização criminosa utilizava a mídia para chantagear políticos e autoridades, visando facilitar seus negócios escusos.

3. Que a CPI fracassou ou acabará em pizza. Uai. A CPI indicia um montão de gente, governador, prefeitos, jornalistas importantes, policiais, altos servidores públicos, e um dos homens mais ricos do país, o proprietário da Delta, Fernando Cavendish. Que pizza é essa?

4. Que a CPI não acrescentou nada ao trabalho da Polícia Federal. Mentira. A CPI vai entregar à PF e ao Ministério Públicos centenas ou milhares de sigilos bancários, telefônicos, fiscais, eletrônicos. A começar do próprio Marconi Perillo. Como assim não acrescentou nada?

5. Que o relatório da CPI representou uma vingança política contra o julgamento do mensalão. Ué, cadê a curiosidade, a sede por justiça, o espírito ético? A mídia e seus colunistas não estão indignados com o esquema montado por Cachoeira, mafioso goiano, e Demóstenes Torres, senador do DEM, o mosqueteiro da ética?

6. Condenaram Dirceu porque uma de suas ex-mulheres conseguiu um empréstimo para comprar o apartamento onde mora. Um empréstimo! Enquanto isso Perillo ofereceu sua própria casa ao maior bandido de seu estado, e ninguém fica indignado?

7. Quanto a Roberto Gurgel, o Jornal Nacional o entrevistou nesta quinta-feira. Vimos um homem debochado, a responder com um sorriso cínico, sem demonstrar nenhum respeito pelo Congresso Nacional e pelo trabalho dos parlamentares que dirigem a CPI.

8. Disseram que a CPI é instrumento de minoria. Balela. CPI é para investigar corruptos, e a CPI interrogou e investigou Perillo, Cachoeira e Cavendish.

9. Que a CPI blindou a Delta. Caramba! A Delta foi declarada inidônea pela CPI, perdeu bilhões em contratos, está sendo processada por diversas instâncias do governo, e não pode mais participar de nenhuma licitação pública. Logo nos primeiros dias da CPI, a presidente Dilma mandou a Casa Civil publicar na internet todos os contratos da Delta com o Executivo. A notícia de que ela ainda é uma das companhias que mais recebe recursos do governo falseia a realidade. Ela recebe por obras já contratadas, em andamento ou já realizadas.

Não cabe à CPI do Cachoeira, à nenhuma CPI, resolver todos os problemas do país. CPI tem de ter foco, e ir fundo nele, e entregar um relatório ao final, que deverá ser encaminhado ao Ministério Público para que este, ajudado pela polícia, faça o seu trabalho, que é investigar.

Agora, é claro que o PT usou a CPI como forma de revidar politicamente ao tratamento que recebeu no mensalão. É do jogo democrático. É a razão de ser da democracia: o povo elege seus representantes também para que estes façam o bom combate político. O sujeito não vota num deputado do PT para vê-lo apanhar de colunistas tucanos. Essa é uma equação simples que a mídia não parece entender. Quando a mídia ataca Lula e o PT, ataca milhões de brasileiros que admiram o ex-presidente e seu partido, e estes mesmos brasileiros, quando votam, quando transferem seu poder para um representante político, o fazem para que este os defendam.

Pelo menos o PT fez o dever de casa e suas acusações são munidas de áudios, vídeos, documentos. Não há nenhuma ilação, nenhum domínio do fato.

*

Acho maravilhoso termos um negro como presidente do Supremo Tribunal Federal. Considero Joaquim Barbosa um sujeito íntegro, firme e corajoso. Mas não é um juiz competente. No julgamento do mensalão, vimos um magistrado destilar absurdos lógicos, incongruências jurídicas e agir apenas como acusador. Ele entrou no processo com ânsia de condenar, vestiu alegremente a fantasia de vingador e mostrou-se deslumbrado com as luzes de uma mídia obviamente engajada. Tenho opinião parecida de vários outros juízes. Não sei se os réus do mensalão são inocentes, se usaram crack na adolescência, se batem na mulher, se tem dinheiro em contas no exterior, se já roubaram roupa em lojas de departamento. O que me incomoda é ver juízes elaborando teorias escalafobéticas baseadas numa teoria alemã interpretada de forma indigente. É ver juízes condenando com base em ilações inconsistentes. A CPI do Cachoeira acaba de mostrar que é possível sim obter provas de crimes cometidos por graúdos.

*

Todo mundo também deve assistir a este vídeo, com Lewandowski agradecendo ao apoio que recebeu da blogosfera por ter sido o único juiz a resistir às pressões da mídia:

Interessante notar também que, enquanto a nossa mídia continua a guerra para destruir a reputação do ex-presidente Lula, o mesmo prossegue colecionando os prêmios e honras mais importantes mundo afora. Esta semana, Lula recebeu o prêmio Gandhi, por suas contribuições ao desenvolvimento e à paz.

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Lembremos ainda que um dos obstáculos mais fortes para o avanço da reforma agrária no Brasil, além da pusilanimidade do governo federal nesta seara, é o conservadorismo do Judiciário, que historicamente tem sido aliado do latifúndio. O Ministério Público também ajuda o latifúndio, ao blindá-lo contra investigações que resultariam, se levadas ao cabo, em distribuição de terras improdutivas ao povo que dela precisa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Encontro - por Morgan Yon (arte digital - Coolvibe)

Na reeleição de Obama, venceu o medo, não a esperança - por Marcelo Semer (Terra Magazine)

Ele não era mais nenhuma novidade e não repetiu o mesmo discurso de esperança e glória.

Não cumpriu parte significativa de suas promessas anteriores e não foi o grande timoneiro da crise.

Ainda assim, Barack Obama reelegeu-se ontem presidente dos Estados Unidos. Venceu na maioria dos estados pêndulos (ora republicanos, ora democratas), assegurou maioria no Colégio Eleitoral e uma apertada dianteira no voto popular.

É certo que os norte-americanos não atribuem a Obama a crise herdada pela desregulamentação dos anos Bush –a farra das grandes instituições financeiras, cujos efeitos são sentidos mundo afora.

Mas talvez tenham tido receio de regressar conscientemente ao buraco negro de uma administração republicana, conservadora, belicista, fundamentalista.

O mundo agradece.

Apesar das frustrações, Obama mantém uma popularidade fora dos Estados Unidos muito superior a que tem lá dentro.

Não por ser o “socialista” que busca implantar um sistema de saúde universal; tampouco por encarnar a figura do homem da paz, que vociferava contra uma Guantanamo à beira da extinção e prometia uma nova política ao Oriente Médio.

Mas em razão do enorme receio do que seria um novo governo republicano, com o legado Bush nas costas. A expansão da “guerra ao terror” ou o terror puro da guerra, a exportação de uma crise quase sem precedentes, a perseguição feroz aos imigrantes, a destruição paulatina das garantias individuais em nome da segurança, o retrocesso moral.

Para quem está do lado de fora, portanto, foi o medo que venceu, não a esperança.

Que Obama possa usar os próximos quatro anos para cumprir, dentro e fora dos Estados Unidos, as promessas de campanha que ainda ficaram pendentes, e fazer jus ao exageradamente precoce e ainda sem justificativa Nobel da Paz que lhe foi ofertado como incentivo.

A começar, por suspender o anacrônico embargo comercial a Cuba.

Que saiba conviver com um país ainda cautelosamente dividido, com estreita maioria no Senado e larga minoria na Câmara dos Deputados –que mistura a expansão do fundamentalismo do Tea Party, com a oficialização do casamento homoafetivo, uma política criminal fortemente repressiva e a liberalização da maconha em alguns Estados.

Mas que, sobretudo, impeça que o país mergulhe novamente nas trevas.

A essa altura da crise mundial, a exportação do conservadorismo e da xenofobia poderiam ser desastrosas.

Fotografia - por Rua direita

Pitacos de Palmério Dória

Epitáfio para a carreira política de Serra: "Morreu como sempre desejou -- no auge da estupidez".
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STF livra o bico de Marconi Perillo. Tucano, não!
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Chefe da "diplomacia" israelense deixa claro que a política para Gaza é a solução final. E o nome dele não é Adolfo.
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No fundo, no fundo, a mídia ainda passa por uma depressão pós-Demóstenes.
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Só agora, depois das condenações, a mídia localiza o autor da teoria do domínio do fato. Que diz que ela não se aplica ao mensalão.
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Cadê os cadernos especiais dos jornalões sobre a onda de violência na maior cidade do país e uma das maiores do mundo?
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Começa a demolição da Daslu. Essas coisas partem o coração de Alckmin.
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Alckmin não tem exatamente um plano contra a violência em São Paulo. Só uma Rota.
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Não dá pra esquecer que a Folha é o que é graças à Rodoviária, uma mina de ouro que Maluf lhe deu.
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"Amar uma pessoa só é antissocial" (general David Petraeus).
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Bida, condenado pela morte de Dorothy Stang, espera anulação do julgamento. Pode contar com o STF. Taradão já está livre, leve e solto.
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Com licença do Stanislaw Ponte Preta, mas esse Ayres Britto tem todas as credenciais de Cocoroca do Ano.
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Dilma avisa na Cúpula Ibero-Americana que contração costuma dar em merda.
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Arrastão no Rodoanel? Não era reserva de assalto tucano?
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Objetivo é deixar Gaza na Idade Média, diz ministro de Israel. Que na verdade quer deixar Gaza na Idade da Pedra Lascada.
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"Bater carteira é um hábito difícil de largar" (Marconi Perillo)
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Alckmin melhora suas marcas: 7 mortos e 3 feridos em apenas 3 horas.
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Governador gay, católico devoto, esquerdista e inimigo da Máfia na Sicília! E ainda dizem que nada muda no mundo.
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Liberdade de imprensa" não é um direito humano, é invenção das empresas de mídia. O direito é "liberdade de expressão", igual para todos.
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Xi Jinping, novo secretário-geral do PC chinês, já requisitou editorial de hoje da Folha.
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A civilização chinesa tem 5 mil anos. Hélio Schwartsman diz que só o futuro dirá o que vai acontecer agora. Aguarde mais uns 1.800 anos.
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Enquanto sonham com a queda de Cristina Kirchner, Lucas Mendes, Caio Blinder e Diogo Mainardi se divertem com o terrorista Netanyahu.
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Você sabia que a mídia ainda funciona como se estivesse na República Velha, que começou em 15.11.1889?
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General David Petraeus pode ser condenado a traçar a própria mulher.
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Feriadão: Região Metropolitano de São Paulo tem 7 homicídios em 7 horas. Para Alckmin, tudo bem: 7 é o seu número da sorte.
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Se os crocodilos choram, por que Ayres Britto não pode chorar?
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Neste momento centenas de milhares de robôs enfrentam a Imigrantes para a prática do lazer.
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O povo europeu, nas ruas, quer que Angela Merkel enfie a austeridade no Reich que a parta.
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Taxas de juros caiu pelo oitavo mês seguido. "Isto é uma vergonha!", espuma Boris Casoy.
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Serra, revigorado, tem todos os requisitos para ser patrono da Nova Arena, partido que seguidores de Jair Bolsonaro pretendem fundar em SP.
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Governo Alckmin, que sempre trabalhou em cima de i don't know, passa a exportar know how de violência para outros Estados.
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Joaquim Barbosa é candidato a presidente apoiado pelo PIB, o "Perfeito Idiota Brasileiro".
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Segunda-feira, vida nova: dia de ler a coluna de Aécio Neves na Folha. Imperdível. Pó parar, como dizia o Estadão.
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Ayres Britto apressou a condenação para não perder o bonde da história universal da infâmia.
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@BlogdoNoblat e os 33 milhões no caso do Incra? Vossa esposa tinha domínio do fato?
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Alckmin, um bombeiro às avessas.
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A imprensa internacional ainda não sabe que José Maria Marin deu o sinal verde para prenderem Vlado. Ainda não sabe.
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Palmeiras cai mas sua torcida sobe pelas paredes.
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Esquenta o mercado de trabalho do Natal absolutamente contra a vontade de Míriam Leitão.
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Gullar quer competir com Quiroga, que deu como certa vitória do Serra em 2010, mas Júpiter e Urano faltaram ao encontro previsto por ele.
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Alckmin e Ayres Britto diminuíram salário dos PMs! Soldado perde 250 paus por mês em soldo de 2 mil. Querem conflagrar de vez o Estado?
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Doutor Julio Abramczyk avisa na FSP: não confunda alergia ao ovo causada pela proteína da clara com alergia ao povo que acomete tucanos.
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Justiça manda soltar Luis Octávio Indio da Costa, que financia as campanhas daquele vice desastrado do Serra. Ele roubou apenas 2 bilhões.
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Estética exagerada abafa o fato de que não há nada sólido por trás da máscara... Não, a FSP não fala de Joaquim Barbosa. Fala da Lady Gaga.
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Não dê pra Joaquim Barbosa "O Homem que Calculava", de Malba Tahan. A vítima pode ser você.
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O que se pode esperar de um futuro presidente do Supremo que "delibera" se vai rir ou não?
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Hora dessas Alckmin vai descobrir que a grande solução para os crimes da madrugada é proibir motoqueiro de usar capacete.
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A SIP é apenas um genérico da CIA.
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As mudanças no comando do PC chinês aguardam o aval de Otavinho Frias.
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Roberto Gurgel e Claúdia Sampaio Marques formam um casal-cabeça. Só pensam na cabeça de Lula.
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Dá pra entender o especial afã de protagonismo de Joaquim Barbosa nos últimos dias. É nesta semana que se decide quem leva o Prêmio Contigo!
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Coisas que entortam a cabeça de Míriam e Sardenberg: Financial Times deu que favelas impulsionam vendas de eletrônicos no Brasil.
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Cem anos de perdão: Carla Cepollina absolvida da morte do coronel Ubiratan, o carniceiro do Carandiru.
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Com a derrota de Mitt Romney, Diogo Mainardi, Caio Blinder e Lucas Mendes adiam -- provisoriamente -- a invasão do Irã.
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Para Hélio Schawartsman, da Folha, guerra entre polícia e crime organizado em SP é fenômeno passageiro. Fenômeno passageiro de 18 anos.
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Parafraseando Marx: se o povo brasileiro não gosta de jornais é porque os jornais não gostam do povo brasileiro.
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A Globo News diz que Mitt Romney é a voz das cavernas nos EUA. Aqui, a voz das cavernas é a Globo News.
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"O PSDB parece uma sala de professores sem nenhum aluno" -- Lula há tempos
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Parafraseando Romário: Ayres Britto calado, quanta poesia!
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Como diria o leitor antes de abrir a Veja: "Vamos meter a mão na merda!".
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Thomas Skidmore conta na Folha que soube do golpe de 1964 na véspera na casa de Lincoln Gordon. Que vantagem. A Folha sabia muito antes.
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Alexandre Garcia está escrevendo livro sobre a era Figueiredo.Título definitivo: "Memórias de um Porca-Voz".
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Membros do STF decidem qual deles vai para a capa da "Contigo!" desta semana.
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Se eleito presidente demo-tucano, Luciano Huck vai abrir seus discursos com um "Mauricinhas e Patricinhos!".
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Antenado com os pobres, PSDB pode lançar chapa puro-sangue para a presidência: Luciano Huck e Thor Batista.
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Com Luciano Huck, PSDB tem afinal seu projeto de renovação: o mauricismo.
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Para Alckmin, ajuda do Exército é desnecessária em São Paulo. Presença do governador no Bandeirantes, também.
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"O país em que eles mandavam não existe mais" -- Ricardo Kotscho sobre a fúria dos Grandes Irmãos da mídia
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A mídia vai jogar tanta merda no ar daqui até 2014 que vai tapar o sol. Melhor: combateremos à sombra.
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Eu sei que Veja quer dar um golpe paraguaio. Não tenho provas. Mas, se não pode ser provado, não poderia ser de outra forma, como diz o STF.
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"Juventude, em si, não produz ideia nova", diz FHC, sem ter qualquer ideia do que está falando.
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Vamos fazer as contas: quantos bilhões se economiza numa Olimpíada sem o Nuzman?
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Renovação do PSDB, recomendada por FHC e Gaspari, passa pela adoção do curupira, aquele que anda pra trás, como símbolo do partido.

Ilha Bela (fotografia - wikipédia)

Comparação infeliz de jornalista estimula preconceito contra gays - por Marcelo Semer (Terra Magazine)

     "Um homem não pode se casar com uma cabra. Pode até manter uma relação estável com ela, mas não pode se casar”.

     Foi esse tipo de argumento que o jornalista José Roberto Guzzo utilizou para se contrapor ao casamento civil igualitário, no artigo que fez da revista Veja um dos trending topics folclóricos da semana.

     Consistente como declarações do deputado Jair Bolsonaro ou espalhafatosa como piadas de Rafinha Bastos, o texto prosseguiu adiante com uma suposta pretensão de defender os homossexuais dos danos praticados por seu próprio ativismo.

     A tendência de olharem para si mesmo como classe à parte, aponta Guzzo, vai na direção oposta à aspiração de serem cidadãos idênticos aos demais.

     A lógica é mais ou menos a mesma do vereador Carlos Apolinário, quando propôs a criação do dia do “orgulho hetero”, na Câmara Municipal de São Paulo, em reação à parada gay.

     E não se distancia, na essência, daqueles que bradam pelo “orgulho branco”, em contraposição à proclamação da consciência negra.

     A comparação, todavia, só reafirma a discriminação, ao desprezar a diferença fundamental que reside na situação de poder ou de vulnerabilidade.

     Os movimentos negros e gays (tal como o feminista, por exemplo) se organizam pela igualdade e procuram se afirmar para combater a discriminação – já o "poder branco" busca, ao reverso, reavivá-la.

     Orgulho hetero, ou qualquer outra xenofobia parecida, nunca quer igualdade, mas supremacia.

     O que esta em jogo é um paralelismo que não existe concretamente. Um olhar formal e abstrato que finge desconhecer a enorme discriminação que mutila quem se encontra à margem.

     Só isso justificaria, por exemplo, o sarcasmo no texto de Guzzo com a crescente agressão homofóbica, sob o singelo pretexto de que no cotidiano da violência urbana, afinal de contas, morrem muito mais heterossexuais.

     Tal qual o "orgulho hetero" se impunha como resgate da moral e dos bons costumes e a deputada Myriam Rios equiparava homossexualidade e pedofilia, a comparação do casamento gay com a zoofilia é aberrante.

     Em todos esses argumentos perpassa, no fundo, a indisfarçável ideia do “homossexualismo” como anormalidade ou desvio – o que pode ser mais anormal no matrimônio, enfim, do que casar com uma cabra?

     E é essa consideração do anormal que vitamina enormemente o preconceito na sociedade.

     Atribuir aos homossexuais a culpa por sua própria discriminação é redobrar a violência contra quem tem sido vítima. É o mesmo que assinalar às cotas a responsabilidade pela sobrevivência do racismo.

     Um cinismo típico que clama pela isonomia apenas quando ela serve de álibi para perpetuar desigualdades.

     É preciso, então, aprender com Boaventura de Souza Santos a destrinchar o aparente paradoxo da emancipação: “temos o direito de ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza”.

     Em outros termos, defender o casamento aos homossexuais é afirmar a igualdade; construir uma política de combater a homofobia é respeitar a diferença.

     Se o próprio jornalista anteviu que a comparação entre casamento igualitário e relação com uma cabra podia ser mesmo ofensiva, defendeu-se antecipadamente com uma emenda tão ruim quanto o soneto:

     “A lei não obriga nenhum cidadão a gostar de homossexuais ou de espinafre”.

     Que mais se pode dizer?

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Fotografia - por Daniel Kukla (site homônimo)

As relações entre Poder e Estado - por André Araújo (blog do Nassif)

PODER E ESTADO - Um Chefe de Estado pode ser poderoso ou fraco em uma Ditadura ou em uma Democracia. Poder é um conceito distinto de Regime. Castello Branco foi um Presidente fraco em um regime autoritário, não queria cassar Juscelino que lhe tinha dado voto para Presidente na eleição no Congresso em 10 de abril de 1964, após Castello ter pedido pessoalmente o voto de JK, que era Senador, na casa do Deputado Joaquim Ramos em Copacabana,  no dia 8 de abril. Apesar disso, Castello com enorme constrangimento foi obrigado a assinar o ato de cassação de Juscelino, obrigado pela linha dura do Exercito. O Presidente Ernesto Geisel foi um Chefe de Estado fortíssimo, só ele dava ordens e quando a linha dura, a mesma que obrigou Castello cassar Juscelino, quis emparedá-lo, através do Ministro do Exercito Silvio Frota, Geisel demitiu o Ministro sem hesitar, da mesma forma que demitiu cara a cara o poderoso Comandante Militar do Sudeste, General Ednardo dÁvila Mello, por causa das mortes de Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho. Geisel veio a S.Paulo, sozinho , entrou no Comando (antigo II Exército) e demitiu pessoalmente o General Ednardo.

Na Democracia, Juscelino foi um Presidente forte. Sofreu duas rebeliões da Aeronáutica (Jacareacanga e Aragarças), recebeu violentos ataques de Carlos Lacerda e enfrentou a todos sem medo e sem hesitação. Quando Lacerda ameaçou fazer um discurso na TV Tupi dizendo que iria derrubar seu governo, JK mandou lacrar os transmissores da emissora, que saiu do ar por 24 horas e proibiu Lacerda de por os pés lá. Jango foi um Presidente fraco. Quando as Forças Armadas se movimentaram para depô-lo, viu-se que ele não tinha qualquer apoio no Congresso, nem sequer no seu circulo palaciano, nem sua segurança pessoal fez um gesto de defesa.

Na Democracia é possível o Chefe de Estado ter mais ou menos poder, depende de vários fatores, de capacidade de articulação de forças, de sagacidade, de faro, de assumir riscos, de colocar pessoas de confiança nos lugares certos, de ter informações precisas e a tempo, de saber escolher auxiliares.

Como Presidente Lula exerceu com capacidade e correção suas funções mas não foi um articulador de poder.  A queda de seu grande companheiro de lutas, o Ministro Chefe da Casa Civil, em junho de 2005, homem responsável mais do que ninguém pela sua vitória e pela formação do seu Governo, sem que se percebesse uma trincheira de defesa armada para blindar o Ministro, foi um evento sintomático. Mais ainda foi a não percepção a partir daquele momento da extrema importância do cargo de Procurador Geral para o jogo de poder que iria envolver sua própria base partidária.

Essa falta de articulação leva a uma situação em que o PT tem o governo, mas não o Poder. Nesse quadro apenas ganhar eleições não significa poder porque os cargos que os eleitos ocupam podem ser revelar frágeis quando não se tem o Poder. Jango tinha o cargo, mas não tinha o Poder.

O que é o Poder numa Democracia? É a articulação de todos os elementos de força e não só a ocupação do cargo eletivo. Poder é a mídia, o Ministério Público, o Judiciário, as grandes Confederações e Associações do empresariado, as alianças diplomáticas com a ordem global, as grandes sociedades civis, OAB, CREA. O Poder é também  com grande peso, uma fonte solenemente ignorada pelo PT, as Forças Armadas, algo que Juscelino jamais negligenciou, sua aliança pessoal com o General Lott durou todo seu mandato, JK pagou apoiando Lott como candidato a seu sucessor mesmo sabendo de suas poucas chances contra Jânio Quadros. Lott tinha controle absoluto do Exército e sem ele Juscelino teria sido deposto por uma UDN fortíssima naquele momento.

O atual julgamento do mensalão revela a máxima desarticulação de poder vista na história republicana posterior a 1946, com exceção do período Jango, que foi o mais desarticulado de todos.

O PT para surpresa de muitos demonstrou quase nenhuma articulação de poder. Quem está defendendo o PT neste momento crucial quando o partido, por sua liderança mais histórica está sob ataque mortal ou será que risco de cadeia é coisa pouca? Só os petistas sinceros estão defendendo o PT e nem todos. Na sociedade civil e nas demais fontes de poder não há nenhuma defesa.

Ora, não é possível governar um grande e complexo País como o Brasil sem a articulação do Poder.

E poder se faz com alianças de palavra empenhada, como a de JK com Lott, mas não só com ele, JK também tinha alianças externas sólidas com a ordem global e com o grande empresariado como bloco político e não apenas com alguns empresários que se fingem de amigos, meros oportunistas de ocasião que na primeira fumaça irão desaparecer, como parece ser o modelo do PT.

Vejo o PT sem alianças, uma política externa opaca, que não sabe bem para onde vai, o PT confia cegamente no voto, mas só o voto não configura Poder, como se viu no julgamento do mensalão.

Para o Poder há também outra armadura que protege, como já sabia Napoleão Bonaparte, inventor através de Joseph Fouché da primeira moderna polícia política. O Poder precisa de um serviço de inteligência de confiança absoluta, o Poder NÃO PODE SER SURPREENDIDO como parece que ocorreu com o julgamento do mensalão. Na realidade há um serviço oficial de inteligência e de grande porte, a ABIN, resta saber se está a serviço do Poder, ao que parece, não.

O jogo do Poder no Brasil navegou plácido nos últimos 18 anos. A transição da Presidência FHC para a Presidência Lula foi civilizada e pacífica, mas essa calmaria não deve iludir os petistas. O jogo do poder no Brasil é pesado e bruto. Da Primeira República de 1889 até hoje a política brasileira conheceu grandes crises do poder: 1891 com o golpe branco de Floriano, a de 1915, com o assassinato do Condestável da República, Senador Pinheiro Machado, a de 1922 com a revolta dos 18 do Forte e início do ciclo tenentista, a de 1924, com o bombardeio de São Paulo ocupada pelos tenentes, a de 1930, com a derrubada do oficialismo, a de 1932 com a Guerra Paulista, a de 1937 com o fechamento do Congresso e a instalação do Estado Novo, a de 1945 com a derrubada do Ditador, a de 1954 com o suicídio de Getúlio, a de 1955 com os dois golpes brancos e queda de dois Presidentes, a de 1961 com a renúncia de Jânio e a Emenda Parlamentarista, a de 1963, com a volta do Presidencialismo, a de 1964 com a derrubada de Jango, a de 1991 com o impeachment de Collor.

São muitas lutas pelo poder em curto espaço de tempo histórico, uma República de apenas 123 anos com tantas reviravoltas políticas, mudanças de regimes, quedas de Presidentes, o Poder é complicado, o Brasil não é um País manso e pacífico.

No vermelho - por Yuehui Tang (arte digital - Coolvibe)

Por que entrei na Veja. E porque saí - por Cynara Menezes (Socialista morena)

No final de 1997, após minha aventura espanhola –economizei um dinheirinho e fui estudar Literatura Espanhola e Hispanoamericana em Madri–, voltei ao Brasil para morar em São Paulo. Desempregada, fui convidada por uma grande amiga a fazer um frila para a revista Marie Claire, onde ela era editora: uma entrevista com o pré-candidato a presidente Ciro Gomes que acabou sendo um dos mais marcantes trabalhos da minha carreira. Ciro abriu a alma, talvez mais do que gostaria, e a matéria de uma revista feminina surpreendentemente repercutiu em todos os jornais.

O sucesso foi tão grande que aquela entrevista, publicada na edição de janeiro do ano seguinte, foi a responsável por minha reinserção no mercado brasileiro após dois anos fora. Fui sondada por alguns veículos e acabei sendo convidada para voltar à Folha de S.Paulo, onde havia trabalhado na sucursal de Brasília, para ocupar uma vaga na editoria de Cotidiano. Meses depois, mudei para a Ilustrada, que almejava quando fui para a Espanha. (Qualquer hora tiro um tempinho para digitar a entrevista com o Ciro e postar aqui para vocês. É muito divertida.)

Sete anos mais tarde, em maio de 2004, eu estava havia apenas três meses trabalhando no Estadão quando a mesma querida amiga me procurou para fazer um convite: iria assumir a editoria de Brasil da revista Veja e queria que eu fosse para lá fazer coisas bacanas, reportagens especiais, entrevistas. “Quem você gostaria de entrevistar?”, ela perguntou. Respondi que sempre quis entrevistar Diego Maradona sobre política. Até hoje acho que seria uma entrevista e tanto. Ela ficou entusiasmada e eu também. Mas e hard news?, perguntei. Este nunca foi meu forte. “Ah, você vai ter que fazer, mas ocasionalmente”. Pensei uns dias e topei. Lembro que até comprei, num sebo de São Paulo, um livro de Oriana Falacci, a grande entrevistadora italiana, para me inspirar…

Costumo dizer que existem dois tipos de repórteres: os que têm boas fontes e apuram muito, mas têm um texto apenas razoável, e os que não têm tantas fontes nem são incríveis apuradores, mas escrevem bem. Eu não tenho fonte nenhuma e apuro o suficiente; o texto é o diferencial. Portanto, o primeiro choque para mim após a estreia na Veja foi que a alentada matéria de capa sobre corrupção que eu e dois colegas apuramos não foi escrita por nós. Eu escrevi o texto inteirinho. E ele foi inteirinho modificado para publicação. Obviamente não recebi aquilo de bom grado, mas uma colega que estava lá há mais tempo me acalmou dizendo que logo eu “pegaria o jeito” para escrever no estilo da revista e não mexeriam tanto no texto.

Bom, hoje sei que nunca iria “pegar o jeito” de escrever da Veja porque, para começo de conversa, não é o meu. Meus textos em geral têm bastante aspas, adoro colocar frases boas de entrevistados e especialistas para dar um colorido. Na Veja, podem reparar, os textos quase não têm aspas, é tudo assumido pelo redator. Além disso, tem uns clichês do tipo “os números impressionam” que eu não conseguiria incluir num texto meu nem que trabalhasse lá durante 100 anos.

Vi, de cara, que tinha entrado numa enrascada, que só piorou quando me destacaram para cobrir a campanha de Marta Suplicy à reeleição em São Paulo. Não havia ninguém no PT que aceitasse falar com a Veja. As fontes das reportagens tinham que ser pessoas, mesmo dentro do partido, de oposição à prefeita. Eu fazia a apuração possível, mas absolutamente nenhum daqueles textos foi escrito por mim. Àquela altura, eu só pensava num jeito de sair da Veja sem ficar desempregada –afinal, eu acabara de entrar no Estadão quando decidi ir para lá. E tinha um filho para criar, não sou nenhuma filhinha-de-papai para me dar ao luxo de ficar sem trabalhar.

Para driblar as dificuldades, minha amiga e chefe escalou outra repórter para trabalhar em parceria comigo: eu fazia a apuração pelo lado petista a partir de uma pauta sugerida por mim e ela redigia o texto e apurava o lado do PSDB, incluindo os obrigatórios elogios ao tucanato, como na reportagem dos políticos “picolés de chuchu”. Quem acompanha meu trabalho há mais tempo sabe que essa é uma pauta tipicamente minha, para tirar sarro de políticos. Foi transformada por Veja em uma peça de bajulação a Geraldo Alckmin –reparem que a reportagem em questão é assinada em dupla com outra pessoa, assim como várias outras do meu curto período na revista.

Algumas alterações foram menos dramáticas: o perfil do advogado Kakay, apesar de nenhuma frase do texto ter sido escrita por mim, pelo menos manteve-se fiel ao que apurei, não tem nada do que me envergonhe ali. A hilária história do “embargo auricular” foi descoberta minha, e já foi citada em vários perfis dele depois. Mas o único texto integralmente meu, desde o título, é a ótima entrevista que fiz com a namorada do senador Eduardo Suplicy, Mônica Dallari. Um furo. Sou, antes de tudo, uma repórter. E minha maior especialidade (é a segunda vez que volto a elas neste texto) sempre foram as entrevistas. Tenho um belo portfólio, modéstia à parte: escritores, políticos, atletas, cineastas.

Em revista, mais do que em jornal, pode acontecer de o redator-chefe modificar um pouco seu texto, isso não é incomum. Mas o difícil de tolerar em Veja, para mim, além de eles mexerem no texto todo, eram as torcidas de raciocínio. Certa vez, fui convocada a colaborar em uma reportagem sobre educação e me pediram alguém para falar sobre cotas. Lembrei de um antigo colega da faculdade que era do movimento negro, liguei para ele e peguei uma frase favorável às cotas. Qual não foi a minha surpresa quando a autora do texto simplesmente transformou a frase dele em contrária às cotas! Fiquei furiosa e felizmente, neste caso, consegui reverter. Mas o pior estava por vir.

Quando as discussões com minha chefe começaram a desandar em gritaria na redação, decidi que estava na hora de sair. Escrevi um e-mail para ela dizendo que preferia manter sua amizade e me demiti da revista. Ela aceitou, me pediu um mês para arranjar outra pessoa e saiu de férias. Neste meio tempo, me pediram uma matéria sobre as dívidas que Marta Suplicy deixaria a seu sucessor na prefeitura de São Paulo, que não eram mesmo coisa pequena. Mas no texto aconteceu algo pelo qual nunca passei em mais de 20 anos de carreira: foi incluída uma frase, entre aspas, que não apurei.

Em 14 anos de Folha de S.Paulo, entre indas e vindas, como repórter fixa ou colaboradora, jamais modificaram um texto meu desta maneira. Em seis anos de CartaCapital, muito menos. Em nenhum lugar onde trabalhei aconteceu algo nem sequer parecido. Está lá a frase, no primeiro parágrafo da matéria: “Parece a madrasta de Cinderela”. Não sei quem disse isto. Eu não a ouvi de ninguém, mesmo porque não tenho ascendência italiana nem conheço ninguém em Roma. Quando minha chefe chegou de férias, me encontrou arrasada. Tenho certeza que, se ela estivesse ali, a frase não teria aparecido magicamente no texto. Detalhe: não me importaria de fazer uma reportagem crítica ao PT ou a quem quer que fosse, desde que eu a tivesse escrito –e que fosse verdade. Isso se chama profissionalismo.

Felizmente, almas boas me ajudaram a sair da Veja logo depois das férias coletivas de final de ano, e em fevereiro eu começaria na revista VIP, onde já havia atuado como colunista, no ano anterior. Passei dois anos e meio na VIP, de onde não tenho nenhuma queixa, pelo contrário. Voltei a ter a coluna, fiz matérias engraçadas e algumas entrevistas bobas com bonitonas da capa, mas também com pessoas interessantíssimas, como o cineasta Hector Babenco, o jogador Zico e o produtor musical Nelson Motta, entre outras. (Com o tempo, postarei elas aqui, na seção vintage do blog.) Ironia: enquanto na Veja o que escrevia era trucidado, na VIP uma coluna minha concorreu ao prêmio Abril de 2006 como melhor texto do ano na categoria artigo.

Uma tarde, na VIP, uma das advogadas da editora Abril entrou em contato comigo para me comunicar que Marta Suplicy estava processando a Veja por conta daquela reportagem, e me perguntou quem foi o “jornalista italiano” que me disse a frase. Perguntei se tinha conhecimento de que as matérias da Veja eram mexidas depois de escritas, e ela me disse que sim. Falei, então, que não fora eu quem apurara aquela história e não tinha falado com jornalista italiano algum. Nunca soube o resultado do processo.

Se você me perguntar: mas isso acontece com todos os jornalistas que trabalham na Veja e eles aceitam, são coniventes com essa prática? Não sei, só posso falar por mim. Não sou o tipo de jornalista que coleciona inimigos. Coleciono amigos, essa é minha natureza. Tenho amigos em todos os lugares em que atuei como repórter, inclusive na Veja. Posso dizer que tem vários jornalistas excelentes na revista, por quem tenho apreço genuíno – minha querida amiga, por exemplo. Mas desprezo o veículo onde trabalham. Tenho razões de sobra para isso. Sinto consideração e carinho por todas as redações por onde passei. Respeito a editora Abril. Veja, não.

E sabem o que é pior disso tudo? Nunca entrevistei Maradona.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Arte digital - por Feng Zhu Design

Os problemas entre o Executivo e o Supremo - por Luis Nassif (blog do Nassif)

Há um problema no modelo institucional brasileiro, especialmente na relação entre as instituições.

O PT venceu as três últimas eleições presidenciais, provavelmente vencerá as duas próximas. Mas em breve metade do comando do velho PT estará na cadeia.

Mais que isso. Há um claro clima de confronto entre parte majoritária do STF (Supremo Tribunal Federal) e o partido. E, por confronto, não se entendam as condenações que se fizeram necessárias, mas os  próprios procedimentos do STF, criando um clima de confronto político.

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No modelo de democracia norte-americana, a Suprema Corte é um órgão eminentemente político, assim como nosso STF. Para ascender a Ministro, os candidatos atuam politicamente, construindo relacionamento e afinidades políticas com quem os indica. O mesmo ocorre na indicação do Procurador Geral da República.

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Cabe à Suprema Corte obrigar ao cumprimento expresso do que determina a Constituição. Mas é evidente que todo julgamento têm aspectos políticos a serem considerados. Daí a necessidade de pactos de governabilidade entre os poderes.

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Nos EUA, é o  Presidente da República que indica os Ministros da mais alta corte e o Procurador Geral da República. Da mesma maneira que no Brasil.

Por lá, são indicados candidatos do mesmo partido do Executivo ou com a mesma afinidade porque todos esses cargos integram o sistema de poder.

Recentemente, o governador Geraldo Alckmin indicou para Procurador Geral do Estado o segundo nome mais votado da categoria. Não atropelou nenhum princípio democrático.

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É evidente que todos os indicados têm responsabilidade maior com o poder que representam. No caso do PGR, têm como atribuição um conjunto de iniciativa, mas não o condão de esconder processos.

Esse modelo – do Executivo indicar o PGR e os Ministros do STF – visa compor um quadro geral de governabilidade, impedindo que esses poderes atuem como adversários políticos. Por lá, a disputa política se dá no voto.

Além disso, há mandatos com prazos delimitados, permitindo a rotatividade nos cargos.

***

O que está ocorrendo, agora, é o seguinte:

Um relator, presidente eleito do STF, que tentou envolver a própria presidente da República, com menção a uma declaração dela totalmente fora do contexto.
O decano do STF, comparando o partido do governo ao PCC.
Um Ministro, Luiz Fux, que, para ser indicado Ministro, prometia até o que não devia: abafar o “mensalão” (“esse eu mato no peito”, era a frase dele, repetida com galhofa pelos colegas de Brasília). No julgamento, condenou até réus que foram absolvidos por um relator implacável.
Um presidente de Supremo capaz de exibir uma ignorância política inadmissível, de condenação da própria política, ao definir como práticas ditatoriais a formação de coalizões e a busca da vitória nas eleições.
Um procedimento de julgamento em bloco (no caso do mensalão petista) que não foi obedecido no caso do mensalão mineiro. E que atropelou toda sistemática de julgamento utilizada até então pelo Supremo. Nova regra? Não. No primeiro julgamento após a suposta mudança - do ator e deputado Stepan Nercessian -, volta-se ao entendimento anterior.

***

Agora, uma revista semanal permite-se acusar – sem provas – um ex-presidente da República de compactuar com um assassinato. E tem-se a nova doutrina do Supremo de que bastam indícios para se condenar.

O modelo brasileiro é copiado do norte-americano. Mas, pelo visto, na indicação do PGR e dos Ministros do STF, Lula e Dilma Rousseff foram pessimamente aconselhados.


Comentário de Ronaldo Souza

Eu e as minhas dúvidas. Talvez sejam um reflexo da minha condição de réu confesso em termos de inocência. É possível, entretanto, que a minha inocência encontre respaldo na história recente. Para isso citaria o que foi feito com os governos de Getúlio e Jango, ambos com grande apoio popular, o que talvez me permita dizer que qualquer semelhança com os atuais (Lula e Dilma) não será mera coincidência.

Por favor, perdoem-me se soar muito forte, mas deixemos de lado a ladainha do “o momento é diferente”, “são outros tempos”, etc. Entre fazer considerações como essas e aceitar passivamente o que estão fazendo (não foi o que fizemos no julgamento (?) e condenação de Dirceu, Genoino e outros?) há uma grande diferença. Podemos argumentar de várias maneiras, inclusive perguntando: o que podíamos fazer? Talvez eu não tenha a resposta, mas o fato é que de fato, nada fizemos.

Depois de ver o vídeo do discurso proferido pelo Senador Fernando Collor (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=g0y9lGS6p7M#!) no Plenário do Senado Federal no dia 30 de outubro de 2012, as minhas dúvidas se tornaram cruéis. Aí vão algumas delas.

Por que será que somente Roberto Requião (PMDB) saiu em defesa de Lula nesse mesmo plenário?
Por que será que com documentação tão robusta contra toda essa máfia o PT se cala?
Por que será que o governo se esquiva?
Por que será que só Collor denuncia as ações dessa corja?
Por que será que a CPI de Cachoeira vai ser encerrada sem nada mostrar?
Por que será que o PT não fez nenhum esforço (de verdade) para conseguir pelo menos o depoimento de Policarpo Jr.?
Por que será que as provas estão TODAS aí e ninguém utiliza?
Por que será que, sem provas, a oposição e a mídia acusam todo santo dia o PT, Lula e o governo?
Por que será que os documentos atingem mortalmente a oposição e a Veja e o PT não usa?
Por que será que ninguém trouxe o livro A Privataria Tucana para o público nas campanhas eleitorais?

Comentário de Vera Lúcia Venturini

E dentro da covardia do governo Dilma em exigir paridade entre os poderes é um nome altamente recomendado pois defendem com galhardia os direitos e posições  de"" nobres cidadãos brasileiros que vários ministros do STF tambem defendem. Se os atuais ministros do STF tem sabedoria jurídica e reputação ilibada por que Tourinho Neto não seria indicado? Pergunta para o Dantas o que ele acha do Gilmar? Pergunta pro Demóstenes o que ele acha do Gurgel? Pergunta pro Civita o que ele acha do Joaquim Barbosa? Pergunta pro Collor o que ele acha do seu primo? Pergunta pro Sarney o que ele acha do decano? Todos terão a mesma posição elogiosa que Cachoeira tem por Tourinho Neto.

Comentário de Leonardo Já

"De qualquer modo, considera-se que esse clima termina com o fim do julgamento. E será apenas um problema a mais para administrar, assim como os problemas enfrentados agora com o setor elétrico."

O PT é uma piada completa e total! Vai morrer por sua própria incompetência e tibieza. Mas esse comportamento covarde e sem visão é algo comum a toda social-democracia, desde a república de Weimar. Os sociais-democratas alemães não enfrentaram a burocracia militar herdada do império, e subestimaram o movimento nazista. Resultado: acabaram tragados pela onda hitlerista que teve o entusiástico apoio de parte considerável das forças armadas.

O PT de hoje acha que bolsa-família, consumismo e "comportamento republicano" vai salvá-lo quando vier a tempestade. Ledo engano...

Comentário de Mário Latino

Esta atitude do PT me lembra uma história.

Quando Granada, o último reduto morisco em Espanha estava por cair, o rei (cujo nome ignoro) fez de conta que nada acontecia, que aqueles selvagens atrás das muralhas não conseguiriam expulsá-lo. E seguiu su a vidinha fatua, de harem, abluções e leitura do Corão... Então veio a derrota e o rei teve que abandonar tudo aquilo que era seu reino. E enquanto fazia isso, grossas lágrimas escorríam por suas faces. Foi quando sua mãe, uma velha morena lhe espetou: Agora chorais como mulher o que não soubeste defender como homem?

Comentário de Gersier

"O Palácio do Planalto não enxerga conspiração em marcha do STF"

E algum dia o Palácio viu alguma coisa?

Com um ministro das comunicações que cumpre o que diz parte da letra do Hino Nacional "deitado eternamente em berço esplêncdido" e um da justiça que não cumpre outra," se ergues da justiça a clava forte,verás que um filho teu não foge à luta", fica realmente difícil enxergar.

Comentário de Jorge Fernandes

Aos que acham que o golpe não virá O golpe já veio, se você não notou é porque está esperando tanques nas ruas e prisioneiros sendo levados de caminhão para campos de concentração, ou seja, você vive nos anos 60. Milicos fechando o congresso e fuzilando os inimigos da pátria é coisa do passado, démodé, o chique hoje é a mídia repetir mil vezes uma "denúncia" e um bando de juízes assinar embaixo. Foi assim em Honduras, foi assim no Paraguai, está sendo assim no Brasil. Exagero? Presunção de inocência é coisa do passado, partidos que pretendam coligar-se para exercer o governo são chamados de quadrilha, partidos que tenham como objetivo ganhar eleições, chegar ao governo e nele ficar o máximo tempo possível são chamados de golpistas e de organizações criminosas pelo STF e comparados ao PCC. Que parte você não entendeu? Dilma continua sendo presidenta e os eleitos vão tomar posse em janeiro, você poderia me dizer, mas, mais uma vez, que parte você não entendeu? Dirceu e Genoino vão para a cadeia em breve, receberão penas maiores que assassinos brutais, Lula está sendo acusado e continuará a ser até que uma acusação qualquer torne-se viável mediante a teoria fascistóide do "domínio dos fatos" e com Lula condenado quanto tempo demorará para ser pedida a cassação do registro do PT? Depois disso alguém dúvida que será julgada a validade dos mandatos conseguidos por candidatos de um partido cujo registro foi cassado? Tudo dentro da lei e com amplo direito a recorrer sob as gargalhadas de Joaquim Barbosa. Competência do TSE - Processar e julgar originariamente: a) o registro e a cassação de registro de partidos políticos, dos seus diretórios nacionais e de candidatos à Presidência e vice-presidência da República.

Comentário de Mauricio Salles

O inimigo do PT são os próprios petistas. Isso é que é lamentável...

Comentário meu

Realmente, tá tudo tranquilo. Os critérios devem continuar os mesmos!!!!
Além do Fux, quem nomeou a Carmen Lúcia? E o Ayres Britto? E o Joaquim Barbosa? E a Rosa Weber? Cezar Peluso? – fora Carlos Alberto Direito e Eros Grau, que me eximo de comentar.
Quanto saber!!! E que reputação!!! Mervais e quejandos que o digam...

Reitero: gente, tá tudo tranquilo!!!!
A antiga cúpula do PT vai para a cadeia. Mas os critérios devem continuar os mesmos (ou seja, não houve erro nas indicações), tá tudo tranquilo!!!
Quem vai para a cadeia é o José Dirceu e o Genoino, por que se importar com eles, não é mesmo? Que se explodam, não é mesmo?
Tá tudo tranquilo, estes critérios da Dilma e do Lula são irretocáveis!!!
Genoino e Dirceu não fizeram nada pelo PT e pelo governo Lula, não possuem história, não são vinculados a esquerda, não foram usados como bode expiatório para atingir o que este projeto progressista (social-democrata) de poder representa.
Tá tudo tranquilo, irretocável.

Certa vez li numa bela coluna da Caros Amigos sobre a história de um jornalista (me foge o nome dele agora) que, ao se deparar com pessoas que agiam de maneira inconveniente, ele perguntava na lata: Você nasceu assim ou foi ficando?
No caso, o artigo explicava que devido ao seu nobre passado com Mino Carta, a revista Veja não nasceu assim (como é hoje). Ela foi ficando.

Pois bem, ao me deparar com um texto deste quilate, só me resta perguntar: A presidente Dilma Roussef nasceu covarde assim ou foi ficando?
Com o nobre passado que ostenta, fatalmente devemos reconhecer: ela não nasceu covarde assim, não. Foi ficando, mesmo.


P.S.: Digo e reitero, José Eduardo Cardozo é similar a Antonio Palocci. Ambos são uma especie de Midas ao avesso. Tudo que tocam, dá merda.