segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Pizzas tóxicas aterrorizam Brasília – por Miguel do Rosário (Cafezinho)

Os capangas entraram em ação.

O relatório da CPI do Cachoeira, apresentado esta semana por seu relator, o deputado federal Odair Cunha (PT-MG), enfureceu os barões da mídia, que não perderam tempo. Seus leões de chácara travestidos de colunistas vociferaram pesadamente contra a audácia do parlamentar petista de tocar nos intocáveis.

Todos, todos, todos os capangas gritaram em uníssono. Noblat, Merval, Dora Kramer, Cantanhede, editoriais, manchetes.

Não vou me estender muito sobre o assunto, nem linkar ninguém. Todos dizem a mesma coisa, fazem as mesmas distorções. Vamos elencar as mentiras mais gritantes:

1. Que a CPI indiciou o tucano Perillo e “poupou” Agnelo. Ora, os próprios jornais onde estes colunistas escrevem publicaram dezenas de denúncias gravíssimas contra o governador de Goiás. Contra Agnelo, não apareceu nada consistente. O Cachoeira foi preso na casa do Perillo, ora bolas!

2. Que um policial disse que não encontrara nada de ilegal nas conversas entre Policarpo e Cachoeira. Ora, a função da CPI é justamente investigar aspectos políticos, o que não compete a um policial comum. O relatório diz, com abundâncias de provas (não há nenhum domínio de fato aqui), que a organização criminosa utilizava a mídia para chantagear políticos e autoridades, visando facilitar seus negócios escusos.

3. Que a CPI fracassou ou acabará em pizza. Uai. A CPI indicia um montão de gente, governador, prefeitos, jornalistas importantes, policiais, altos servidores públicos, e um dos homens mais ricos do país, o proprietário da Delta, Fernando Cavendish. Que pizza é essa?

4. Que a CPI não acrescentou nada ao trabalho da Polícia Federal. Mentira. A CPI vai entregar à PF e ao Ministério Públicos centenas ou milhares de sigilos bancários, telefônicos, fiscais, eletrônicos. A começar do próprio Marconi Perillo. Como assim não acrescentou nada?

5. Que o relatório da CPI representou uma vingança política contra o julgamento do mensalão. Ué, cadê a curiosidade, a sede por justiça, o espírito ético? A mídia e seus colunistas não estão indignados com o esquema montado por Cachoeira, mafioso goiano, e Demóstenes Torres, senador do DEM, o mosqueteiro da ética?

6. Condenaram Dirceu porque uma de suas ex-mulheres conseguiu um empréstimo para comprar o apartamento onde mora. Um empréstimo! Enquanto isso Perillo ofereceu sua própria casa ao maior bandido de seu estado, e ninguém fica indignado?

7. Quanto a Roberto Gurgel, o Jornal Nacional o entrevistou nesta quinta-feira. Vimos um homem debochado, a responder com um sorriso cínico, sem demonstrar nenhum respeito pelo Congresso Nacional e pelo trabalho dos parlamentares que dirigem a CPI.

8. Disseram que a CPI é instrumento de minoria. Balela. CPI é para investigar corruptos, e a CPI interrogou e investigou Perillo, Cachoeira e Cavendish.

9. Que a CPI blindou a Delta. Caramba! A Delta foi declarada inidônea pela CPI, perdeu bilhões em contratos, está sendo processada por diversas instâncias do governo, e não pode mais participar de nenhuma licitação pública. Logo nos primeiros dias da CPI, a presidente Dilma mandou a Casa Civil publicar na internet todos os contratos da Delta com o Executivo. A notícia de que ela ainda é uma das companhias que mais recebe recursos do governo falseia a realidade. Ela recebe por obras já contratadas, em andamento ou já realizadas.

Não cabe à CPI do Cachoeira, à nenhuma CPI, resolver todos os problemas do país. CPI tem de ter foco, e ir fundo nele, e entregar um relatório ao final, que deverá ser encaminhado ao Ministério Público para que este, ajudado pela polícia, faça o seu trabalho, que é investigar.

Agora, é claro que o PT usou a CPI como forma de revidar politicamente ao tratamento que recebeu no mensalão. É do jogo democrático. É a razão de ser da democracia: o povo elege seus representantes também para que estes façam o bom combate político. O sujeito não vota num deputado do PT para vê-lo apanhar de colunistas tucanos. Essa é uma equação simples que a mídia não parece entender. Quando a mídia ataca Lula e o PT, ataca milhões de brasileiros que admiram o ex-presidente e seu partido, e estes mesmos brasileiros, quando votam, quando transferem seu poder para um representante político, o fazem para que este os defendam.

Pelo menos o PT fez o dever de casa e suas acusações são munidas de áudios, vídeos, documentos. Não há nenhuma ilação, nenhum domínio do fato.

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Acho maravilhoso termos um negro como presidente do Supremo Tribunal Federal. Considero Joaquim Barbosa um sujeito íntegro, firme e corajoso. Mas não é um juiz competente. No julgamento do mensalão, vimos um magistrado destilar absurdos lógicos, incongruências jurídicas e agir apenas como acusador. Ele entrou no processo com ânsia de condenar, vestiu alegremente a fantasia de vingador e mostrou-se deslumbrado com as luzes de uma mídia obviamente engajada. Tenho opinião parecida de vários outros juízes. Não sei se os réus do mensalão são inocentes, se usaram crack na adolescência, se batem na mulher, se tem dinheiro em contas no exterior, se já roubaram roupa em lojas de departamento. O que me incomoda é ver juízes elaborando teorias escalafobéticas baseadas numa teoria alemã interpretada de forma indigente. É ver juízes condenando com base em ilações inconsistentes. A CPI do Cachoeira acaba de mostrar que é possível sim obter provas de crimes cometidos por graúdos.

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Todo mundo também deve assistir a este vídeo, com Lewandowski agradecendo ao apoio que recebeu da blogosfera por ter sido o único juiz a resistir às pressões da mídia:

Interessante notar também que, enquanto a nossa mídia continua a guerra para destruir a reputação do ex-presidente Lula, o mesmo prossegue colecionando os prêmios e honras mais importantes mundo afora. Esta semana, Lula recebeu o prêmio Gandhi, por suas contribuições ao desenvolvimento e à paz.

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Lembremos ainda que um dos obstáculos mais fortes para o avanço da reforma agrária no Brasil, além da pusilanimidade do governo federal nesta seara, é o conservadorismo do Judiciário, que historicamente tem sido aliado do latifúndio. O Ministério Público também ajuda o latifúndio, ao blindá-lo contra investigações que resultariam, se levadas ao cabo, em distribuição de terras improdutivas ao povo que dela precisa.

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