domingo, 28 de fevereiro de 2010

Resposta as "Palavras do Maj Brig do Ar Renato Claudio Costa Pereira"

E-mail enviado para o Ricardo Boechat, pelo Major Brigadeiro do Ar Renato Claudio Costa Pereira, Ex- Secretário Geral da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional)
Vale perder um tempinho pra ler e entender um pouco mais sobre o reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras, numa conta total que deve chegar próximo dos 50 BILHÕES!!!
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Meu caro Boechat,
Espero que você dê a este meu comentário a mesma atenção com que escutamos o seu comentário no seu muito bom programa todas as manhãs.
Concordo quase sempre com sua visão neste controvertido quadro político em que vivemos, onde as agendas pessoais estão sempre à frente do interesse nacional, ou por pura e simples corrupção ou por projetos de “grupos de interesse” para beneficio próprio.
O Professor Darcy Bessone sempre me dizia que nunca existiu essa figura que chamam de “povo”, mas sim, e apenas, existem esses grupos mais ou menos instrumentados para atingir seus objetivos, ainda que em detrimento de toda uma nação e do seu futuro.
Nesse caso, que podemos batizar de “Contrato Sarkozy/Lula” existem inúmeros e importantes detalhes que nós, bem como toda a população brasileira e francesa não conhecemos suficientemente.
Não se trata apenas de prover recursos orçamentários a um contrato já realizado que, pelo seu valor financeiro, compromete todo um futuro e talvez duas gerações de brasileiros, muitos ainda nem nascidos.
Primeiro, as razões alegadas para tal necessidade são muito nebulosas e, no mínimo, muito estranhas.
“Defender” a Amazônia contra o que? Tráfico de drogas? Ocupação ilegal? Ações militares inimigas?
Tudo isso as nossas Forças Armadas junto com as Forças Policiais e o Ministério Público já o fazem, e pelo visto, satisfatoriamente.
Queiram ou não, só existe, historicamente, uma maneira de defender um território, ou seja, uma ocupação dentro da lei. Quanto mais ocupado mais protegido estará, porque a gente ali instalada defenderá o que é seu, em nome da nação e pressionando governos a ajudá-los nessa tarefa. Foi assim que aconteceu na expansão americana para os territórios do oeste, foi assim com Plácido de Castro na defesa do nosso território do Acre.. Se quisermos defender e proteger a Amazônia então, ocupemos a Amazônia, dentro da lei brasileira antes que estrangeiros o façam dentro das suas leis.
Para a defesa da Amazônia não precisamos nem de submarinos nucleares nem de aviões de última geração . Afinal, quem são esses terríveis inimigos que pretendem atacar aquela região? Se é que eles existem, pode ter certeza que irão devagar ocupando a área e se estabelecendo lá, como os Americanos fizeram com o Texas no fim do século 19. Nesse particular, as ONGs são a estratégia, mas para elas basta a lei brasileira e a Policia, desde que apoiadas por “vontade política”.
É claro que todos vão ter de cumprir a lei, os governos também!
Outro dos motivos alegados para esta corrida armamentista é a defesa e a proteção do famoso “Pré-sal”, senão vejamos:
Primeiro anunciaram a descoberta de jazidas imensas de petróleo. Calcularam a partir do que ainda é misterioso, não só a quantidade de óleo como também “o preço com o qual ele vai ser comercializado”, não sabe Deus quando e com que custo para trazê-lo à superfície. É consenso que ainda que a Petrobrás seja uma das empresas que tem maior experiência em explorar poços profundos, nessa profundidade e “depois” da camada de sal ela é tão inexperiente quanto todas as demais petroleiras conhecidas. Será preciso trabalhar muito e aprender muito ainda. Tudo isso traz consensualmente entre experts internacionais, um prazo de 15 a 20 anos para possibilitar uma exploração tecnicamente viável, apesar de um imenso desconhecimento das condições de viabilidade econômica. Note-se que ainda não existem provas sobre a real quantidade de óleo “esperando” lá em baixo.
Convém refletir que combustível fóssil é poluente por natureza, e com as pressões dos movimentos ecológicos, a tendência é a sua substituição gradual para limpar a atmosfera e retardar o aquecimento global.
As Forças Armadas, especialmente Força Aérea e Marinha de Guerra, receberam esta tarefa a cumprir. Milhares de quilômetros quadrados de mar, onde “se confirmada” a possível exploração dessa “riqueza”, haverá ação militar de inimigos que nos atacarão em guerra total e aberta, para conquistá-la.
Mais uma vez, quem serão estes “piratas” modernos equipados com marinha de guerra e força aérea, equipadas com aeronaves no estado da arte, navios de superfície e submarinos nucleares, equipadas e treinadas na utilização eficiente e eficaz do armamento mais moderno e sofisticado existente no mundo?
Se por acaso tememos uma invasão em grande escala, perpetrada por uma grande potencia nuclear deste, ou de outro planeta, então, esses aviões e esses submarinos servirão tanto quanto serviram o formidável aparelho militar do ditador do Iraque por duas ocasiões em passado recente.
Sempre achei muito engraçado o “temor” do ditador da Venezuela de que a utilização compartilhada de algumas bases militares Colombianas por forças colombianas e americanas fossem utilizadas para um “ataque” à Venezuela.. A tecnologia e o treinamento demonstrados pelas forças americanas no Iraque, deixaram bem claro para todo o planeta que eles poderão “atacar”, se necessário, qualquer ponto da Terra, com máxima força e com mínima perda, a partir das suas bases nos Estados Unidos.
Ainda bem que hoje temos um grande americano como líder dessa capacidade tecnológica e militar!
Precisamos, sim, de uma aeronave capaz de manter nossa Força Aérea capacitada e seu pessoal treinado, e pronto para qualquer sacrifício pela pátria. O mesmo serve à nossa Marinha de Guerra e nosso Exercito, a mais democrática de todas as nossas organizações.
Sim precisamos de aviões de combate, navios de guerra e até tanques e canhões, mas temos de ser muito cuidadosos com o custo a ser imposto a nação brasileira. Nossas forças armadas estudam cuidadosamente e com profissionalismo nossas hipóteses de conflito, e buscam, até mesmo, sem o apoio político, estarem preparadas para essas eventualidades.
Neste contrato “Sarkosy/Lula” ninguém adiantou o ponto mais importante.
E as “armas” com que estes aviões submarinos e helicópteros irão utilizar? Estarão lá, como parte do contrato?
Que armas (canhões, mísseis, torpedos, metralhadoras, bombas, balas, etc...) estarão lá usufruindo dessa “transferência de tecnologia” e em quantidade suficiente para treinamento e reservas de guerra?
Quais os prazos para recebimento dessa tecnologia transferida? Quais as empresas brasileiras que receberão essa tecnologia? Quais as clausulas práticas para comercialização? Qual o envolvimento das nossas universidades, do IME ou do CTA? Etc, etc, etc...
Uma máquina de guerra sem armas serve apenas para enfeite e diversão. Armas são caras e exigem reposição imediata para a manutenção da capacidade militar. Mísseis e bombas, por exemplo, mesmo nas prateleiras dos depósitos envelhecem e perdem capacidade de ação, exigindo manutenção permanente, cuidadosa e cara. Na verdade elas deveriam ser produzidas por nós aqui, depois de termos recebido a tecnologia incorporado essa capacitação à nossa engenharia e ao nosso parque industrial,com prazos e ações muito bem detalhados. Como este acordo/contrato prevê tudo isso?
Ninguém sabe meu caro Boechat!
É constrangedor presenciar nossas Forças Armadas servirem de “banquinho” de campanha eleitoral.
É perigoso perceber que as decisões estão passando ao largo do conhecimento e da razão.
Muita gente tem de explicar direitinho a todos nós o que é isso e o que se pretende afinal.
Finalmente, gostaria de relembrar que as Forças Armadas tem, e devem ter, poder militar, mas sempre utilizá-lo dentro da lei, da ordem e para servir e proteger toda esta nação.

Estarei sempre às ordens para esclarecer qualquer ponto que porventura você queira melhor entender.

Maj Brig do Ar Renato Claudio Costa Pereira
E-mail: rccpereira@gmail.com
Tel: 31 35041004

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Normalmente nem respondo a estas coisas que circulam na net. Desta vez, não me contive.
Discordo frontalmente das opiniões do brigadeiro, quando ele diz que:

1 - O Professor Darcy Bessone sempre me dizia que nunca existiu essa figura que chamam de “povo”, mas sim, e apenas, existem esses grupos mais ou menos instrumentados para atingir seus objetivos, ainda que em detrimento de toda uma nação e do seu futuro.
O povo existe. Ponto. Pode não ter voz, pode ser calado, pode estar alheio, desesperançado com o que ocorre na política. Ou pode estar satisfeito. De fato, o povo não está nos jornais, nas novelas, nas revistas (com as honrosas exceções de sempre: Cartacapital, Caros Amigos, Fórum).
Um exemplo claro desta “falta de povo” foi no “caos aéreo”. Tantas e tantas manchetes e mais manchetes a retratar os atrasos dos voos – que realmente são revoltantes, é claro. Porém, muito mais indignante é o ir e vir habitual da população para o trabalho. E sobre isto, não há absolutamente nenhuma, nenhuma revolta destes mesmos veículos de comunicação (dito PIG) com o escabroso trânsito urbano que diariamente, repito, diariamente, obriga a população humilde a uma dupla jornada, uma no trabalho e outra para ir e voltar, afora as condições humilhantes a que são submetidas: veículos sujos, lotados, quentes, caros, etc. Isto eu nunca vi causar revolta no PIG. Então, realmente o povo não tem voz.
Alguns dizem – na minha opinião com razão – que não existe opinião pública, e sim, opinião publicada.
Agora, dizer que o povo não existe, lá vai uma distância.


2 – A ocupação deve ser feita com pessoas e é isto que garante a segurança do lugar.
O Iraque é cheio de gente. O que não impediu a ocupação deste país...
Só a título de exemplo, o exército mais poderoso do mundo não é o chinês, a despeito de ser, de longe, o mais numeroso.
Outro aspecto: caso ocorra uma invasão, este monte de pessoas que o brigadeiro SUPÕE que defenderão o lugar, farão esta defesa com o que? Paus e pedras?
Mais uma pergunta: as três áreas avaliadas pelos EUA para serem atacadas como vingança pós-11 de setembro, foram o Iraque, uma segunda que não me recordo agora, e terceira foi a tríplice fronteira (entre Brasil, Argentina e Paraguai) que, frise-se, é bem populosa.
Ou seja, a tese do brigadeiro não se baseia nos fatos correntes.


3 - “Defender” a Amazônia contra o que? Tráfico de drogas? Ocupação ilegal? Ações militares inimigas?
Bem, de fato, o brigadeiro está informado que vimos recentemente a reativação da abjeta IV frota pelos Estados Unidos (aquela, mesma, que deu apoio ao escabroso golpe militar, em de abril de 64 em nosso país). Além disso, vemos uma inconteste corrida armamentista em toda a América do Sul, capitaneada, tanto em valores totais, quanto em percentuais, pelo Chile (nossa querida mídia faz querer crer que é a Venezuela o perigo).
Ainda pior de tudo, os EUA estão instalando bases militares na Colômbia – este, sim, um país muito perigoso, que faz fronteira conosco e quer se tornar uma especie de Israel da América Latina. Os EUA também financiam jornalistas – através da CIA – para que falem mal de governos que vão de encontro aos seus interesses. Tais incursões já foram descobertas na Venezuela, Equador e Bolívia.
Ou seja, os EUA não aceitam a democracia destes respectivos países e se infiltram em território alheio tentando derrubar presidentes democraticamente eleitos quando isto lhe convém. A Venezuela é o exemplo inequívoco, em 2002 seu presidente ELEITO foi DERRUBADO por um golpe, e só voltou ao poder devido a pressão popular (interessa muito assistir ao documentário “A revolução não será televisionada”, feito por dois jornalistas estadunidenses, a respeito do golpe – e a participação das empresas de telecomunicações venezuelanas em tal armação).


4 - Se é que eles existem, pode ter certeza que irão devagar ocupando a área e se estabelecendo lá, como os Americanos fizeram com o Texas no fim do século 19. Nesse particular, as ONGs são a estratégia, mas para elas basta a lei brasileira e a Policia, desde que apoiadas por “vontade política
Sempre escuto falar das tais ONG’s na Amazônia. É mais um caso do “enterro de anão”, ou “cabeça de bacalhau”, que ninguém sabe, ninguém viu (pergunte a alguém que já morou no estado do Amazonas – como eu já tive oportunidade de fazer a várias pessoas – para verificar a tal falácia que é este papo de ONG’s).
O problema da Amazônia não é invasão ulterior, tenho certeza. O problema da Amazônia é a destruição a ela causada por nós, brasileiros, e esta destruição se dá por dois motivos principalmente: soja e gado. Ou, chamemos como alguns gostam: o agrobusiness.


5 - Na verdade elas (as armas) deveriam ser produzidas por nós aqui, depois de termos recebido a tecnologia incorporado essa capacitação à nossa engenharia e ao nosso parque industrial,com prazos e ações muito bem detalhados.
Vamos “receber” esta tecnologia como??? Quem vai dar este presente para nós???? Se não COMPRARMOS esta tecnologia, é lógico que ninguém a repassará.
O contrato ainda não foi assinado, mas segundo as esparsas informações que nos chegam, as exigências brasileiras são severas para a transferência de tecnologia, tanto por isto o caça estadunidense e o sueco estão perdendo a disputa, apesar deste último aparentemente ser o melhor dos três. Porque a constituição dos EUA impede a transferência tecnológica de armamentos (o caça dos EUA, claro, tem tecnologia estadunidense, e o sueco tem motor norte-americano).
Afora isto, por questões geoestratégicas, o Brasil escolhe a França como parceiro preferencial no quesito bélico, para ter um aliado diplomático mais firme – ao invés de comprar cada coisa em um lugar e não ter um único aliado potente – e com força para fazer alguma diferença no mundo. É uma opção, não direi aqui que correta ou equivocada. A compra dos submarinos, a escolha da marinha se deu pelos equipamentos franceses. E o governo assim seguiu. Os caças, ao que o major esclarece, a escolha foi do sueco. Não sei se ele considerou os aspectos políticos – que evidentemente contam numa transação como esta.
A ironia é que o major, ao mesmo tempo em que defende a compra do sueco, defende que as coisas devem ser feitas aqui – quando justamente o maior argumento para a compra do caça francês é a maior facilidade na transferência de tecnologia!
Eu, porém, tenho severas dúvidas se a tal transferência de tecnologia irá mesmo, ocorrer, qualquer que seja o caça comprado.
Lembro um caso recente: o governo brasileiro escolheu o modelo japonês de televisão digital, e os japoneses se comprometeram a implantar uma fábrica de semicondutores no Brasil. Não cumpriram a promessa, alegando deficiência técnica por parte da indústria brasileira.
E ficou por isto mesmo.


6 - Sempre achei muito engraçado o “temor” do ditador da Venezuela de que a utilização compartilhada de algumas bases militares Colombianas por forças colombianas e americanas fossem utilizadas para um “ataque” à Venezuela.
Hugo Chávez só assumiu o poder na Venezuela sendo ELEITO – diferentemente de outros DITADORES, como Castelo branco, Costa e Silva, os três da junta militar (!), Médici, Geisel e Figueiredo.
Que ditador é este, que quando perdeu um referendo por 0,8% dos votos acatou o resultado das ELEIÇÕES????????
Que ditador é este, já que todas as suas eleições foram referendadas por observadores internacionais, por todos os países do mundo, pela OEA, pela ONU, etc.?
Que ditador é este que, quando caça as concessões de radiofusão de empresas bandidas, espera que o prazo legal para a qual elas tinham direito de concessão expirasse? Se fosse ditador, chegava lá e tomava de pronto, merecidamente, dado que não eram empresas, eram verdadeiras quadrilhas (novamente oriento a que assistam ao documentário “A revolução não será televisionada”). Se fosse ditador, faria como os gendarmes brasileiros, os bastardos imundos, que caçaram diversos veículos de comunicação (mesmo os que não dependiam de concessão pública – o que Chávez nunca fez), mataram jornalistas (vide o famoso caso Vlado), torturaram a torto e a direito, prenderam e prenderam e prenderam, alheios absolutamente a qualquer decisão da justiça. Chávez nunca fez isto. Seus maiores detratores, entretanto, quando não o fizeram apoiaram quem fez...
O brigadeiro acha “engraçado” o “temor” de Chávez. Nem preciso recorrer a ampla gama de golpes e mais golpes militares promovidos com o apoio precípuo dos EUA na América Latina. Vou ao exemplo mais recente, praticado contra o próprio Hugo Chávez: os EUA JÁ PATROCINARAM um golpe contra ele na Venezuela, em 2002.
Sobre o que a proximidade com os EUA representam, basta que o brigadeiro avalie a pobreza, a miséria, as dificuldades econômicas que a América Central vive. E, a América Central, é justamente a região do mundo em que os EUA mais fizeram o que quiseram, mais isenta de influências externas, que não a dos próprios Estados Unidos.
E a América Central é o desastre que é. Se ele acha que tal presença próxima a nós pode nos beneficiar... Quanto nacionalismo... Graças a Deus, parece que esta visão expressa pelo brigadeiro não parece ser a predominante nas forças armadas – que, com razão, temem os EUA.


7 - O mesmo serve à nossa Marinha de Guerra e nosso Exercito, a mais democrática de todas as nossas organizações.
“Mais democrática de nossas organizações????”. Eu só posso crer que o brigadeiro está fazendo uma piada. Só posso crer.


8 - A tecnologia e o treinamento demonstrados pelas forças americanas no Iraque, deixaram bem claro para todo o planeta que eles poderão “atacar”, se necessário, qualquer ponto da Terra, com máxima força e com mínima perda, a partir das suas bases nos Estados Unidos.
De fato, eles poderão atacar, eles poderão bombardear, eles poderão derrubar o governo, eles poderão fazer muita coisa – mas não ganhar a guerra. Nem preciso recorrer a história recente, como o fiasco do Vietnã. Fico com os desastres atuais: Afeganistão e Iraque. Ou o brigadeiro acha que eles estão tendo sucesso lá????


9 - Que armas (canhões, mísseis, torpedos, metralhadoras, bombas, balas, etc...) estarão lá usufruindo dessa “transferência de tecnologia” e em quantidade suficiente para treinamento e reservas de guerra?
Quais os prazos para recebimento dessa tecnologia transferida? Quais as empresas brasileiras que receberão essa tecnologia? Quais as clausulas práticas para comercialização? Qual o envolvimento das nossas universidades, do IME ou do CTA? Etc, etc, etc...(...)
Como este acordo/contrato prevê tudo isso?
Ninguém sabe meu caro Boechat!

Pois se não sabe da resposta, como escreveu um e-mail inteiro criticando que o melhor caça seria o sueco? Se não sabe quais são foram os termos negociados, como pôde defender um dos caças??? Pode ser, justamente nestes pontos que o caça francês tenha se destacado, ora!!! Eu não sei. Tanto por isto não estou enviando pra Deus e o mundo dizendo que tal caça é o melhor.
Além disso, como se esmiuçar nestes detalhes se o contrato ainda não foi assinado, se ele ainda está em fase de negociação?
E aí poderia se dizer, ah, mas isto não está claro, o governo está escondendo estas informações. Mas se queria o que, que num negócio de tal montante de valor, e envolvendo tecnologia bélica, todo mundo soubesse todos e todos os detalhes de um acordo que ainda está sendo negociado?
É lógico que não, porque isto envolve segurança de estado e é normal que acordos vultuosos, como ocorre em qualquer empresa, ocorram em sigilo. Isto é mais do que comum, não sei como estou tendo que escrever isto.
Vá aos EUA perguntar sobre os detalhes das compras dos seus armamentos antes que os mesmos tenham sido celebrados e verás se obterás resposta.


10 - Outro dos motivos alegados para esta corrida armamentista é a defesa e a proteção do famoso “Pré-sal”, senão vejamos:
Primeiro anunciaram a descoberta de jazidas imensas de petróleo. Calcularam a partir do que ainda é misterioso, não só a quantidade de óleo como também “o preço com o qual ele vai ser comercializado”, não sabe Deus quando e com que custo para trazê-lo à superfície. É consenso que ainda que a Petrobrás seja uma das empresas que tem maior experiência em explorar poços profundos, nessa profundidade e “depois” da camada de sal ela é tão inexperiente quanto todas as demais petroleiras conhecidas. Será preciso trabalhar muito e aprender muito ainda. Tudo isso traz consensualmente entre experts internacionais, um prazo de 15 a 20 anos para possibilitar uma exploração tecnicamente viável, apesar de um imenso desconhecimento das condições de viabilidade econômica. Note-se que ainda não existem provas sobre a real quantidade de óleo “esperando” lá em baixo
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Eu sempre acreditei que o nacionalismo das forças armadas não é nada mais do que fachada, bazófia e dizeres da boca pra fora.
Já tivemos claros exemplos disto ao longo de nossa história. Um grande exemplo foi que, quando os militares assumiram o comando do país à força, qual foi a primeira lei que revogaram? A lei de remessa de lucros, a mais patriótica lei da história brasileira – que obrigava as empresas estrangeiras a repatriar no máximo 30% do lucro obtido aqui, todo o restante deveria ser reinvestido no país. Se eram nacionalistas, por que revogaram uma lei tão nobre como esta???
Quem precisa de exemplo mais evidente do anti-nacionalismo militar que o parágrafo do brigadeiro acima?
Bem, vamos aos fatos: “primeiro anunciaram a descoberta de jazidas imensas”. Queria o que o brigadeiro, que primeiro tirassem o óleo, para depois anunciar a descoberta do mesmo? (talvez acostumado a sombrios governos militares de outros tempos, que não seguiam nem as leis que eles mesmos inventavam, ele não saiba, mas há regras a serem cumpridas hoje, no país, e quando se faz uma descoberta de petróleo, ela TEM de ser comunicada à ANP).
Não se calculam as reservas a partir do que é “misterioso”. A Petrobrás tem amplo conhecimento sobre o assunto, acumulado no decorrer de décadas de exploração, e quando a empresa diz que tal poço tem uma estimativa entre 5 e 8 bilhões de barris, como o de IARA (o primeiro do pré-sal), ela não fala baseada em leviandades. É baseado em experiência, esforço, trabalho, estudo, tecnologia, de uma empresa brasileira, estatal, criada por Getúlio Vargas – aquele que os militares pseudo-nacionalistas queriam derrubar.
Misterioso”, foi o sumiço do jornalista Vladimir Herzog. “Misterioso” foi o sumiço do deputado Rubens Paiva. Misterioso foi o sumiço de Davi Capistrano. Dentre outros tantos e tantos tristes exemplos.
Quando o brigadeiro diz: “Calcularam a partir do que ainda é misterioso, não só a quantidade de óleo como também “o preço com o qual ele vai ser comercializado”, não sabe Deus quando e com que custo para trazê-lo à superfície”, o major chega a ser risível. A mais importante notícia pra o Brasil nos últimos anos, o pré-sal, feita com base nacional, não foi feita com base no “misterioso”, ou com “sabe Deus a que custo para trazê-lo à superfície”, mas sim com base em prognósticos: reservas atuais, consumo, expectativa de crescimento/depreciação de consumo, expectativa de crescimento/depreciação das reservas mundiais, preço projetado, custos operacionais, etc., são variáveis – que tem limites, frise-se, e variáveis estão inseridos em todo e qualquer projeto. Pela “lógica” do brigadeiro, eu jamais poderia começar a construir qualquer tipo de indústria, afinal, como poderei adivinhar o preço do produto quando a fábrica estiver pronta – se estes normalmente seguem preços internacionais? E se os insumos –também seguem preços internacionais – forem mais caros ? Pensando como escreveste, ninguém nunca poderá construir empresa nenhuma, brigadeiro!!!!!
Volto a idéia anterior. Os militares, de nacionalistas, não têm nada. Há um pesadíssimo lobby por parte de empresas petrolíferas multinacionais para que deixemos as coisas como estão: elas podendo se apropriar de nossas riquezas como bem entenderem. Para verem a cara de pau desta turma, três deputados da oposição (dois dos demos e um tucano) apresentaram propostas idênticas contra o monopólio da Petrobras na exploração de óleo do pré-sal, seguindo orientação – como eles mesmos admitiram – de parte de multinacionais (ver http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/09/18/o-lobby-preguicoso/ )
Ou seja, há um pesadíssimo jogo contra a participação do estado na apropriação desta riqueza – que é nossa. Querem que não fique para o Brasil (as multinacionais têm o direito de tentar que o ouro negro fique para elas, e não para nós, é claro – mas nós não podemos deixar que isto aconteça). O que me espanta é que uma pessoa que deveria ser a primeira a defender os interesses do país, um militar, esteja fazendo o jogo das multinacionais (¡elas estão plantando mentiras na mídia dizendo que lá no pré-sal não tem tanto óleo assim! Se lá não tem óleo, porque elas estão tão contrariadas com a mudança na legislação????? ).
Não há nada de “irreal” lá embaixo. Este mesmo lobby, contrário a existência de petróleo em terras brasileiras existiu de quando da criação da Petrobrás. A história se repete. Lembro que Getúlio Vargas se matou poucos dias depois da criação da Petrobrás – justamente por causa da intensa pressão que sofreu por tal ato. Pressão que na época – ironia da história – também era feito pelas multinacionais dos EUA, na época eles eram exportadores de petróleo, portanto não queriam que o Brasil encontrasse a tão sonhada auto-suficiência energética – alcançada agora, no governo Lula.
Há óleo no pré-sal, sim. E muito. Só no campo de Iara, o primeiro do pré-sal, representa cerca de 50% das reservas que encontramos em mais de 50 anos. Acorda, brigadeiro!
Imenso desconhecimento da viabilidade econômica”, não há. Há sim, um “imenso desconhecimento” de quem escreveu este texto - motivado por estar acreditando num “imenso lobby” destinado a retirar esta riqueza brasileira dos brasileiros.
Sobre os “15 ou 20 anos” para “explorar” o pré-sal, outro cálculo redondamente enganado. O óleo começará a ser extraído no máximo daqui a cinco anos (evidente que, aumentará ao longo dos anos), por plataformas já instaladas sobre tais poços.
Outra coisinha: o pico da produção dar-se-á daqui a 15 ou 20 anos, e não da exploração (que é a procura e descoberta dos poços em si), já que a mesma já ocorre hoje. Escrevo isto só para não deixar o texto com termos leigos.


11 - As Forças Armadas, especialmente Força Aérea e Marinha de Guerra, receberam esta tarefa a cumprir. Milhares de quilômetros quadrados de mar, onde “se confirmada” a possível exploração dessa “riqueza”, haverá ação militar de inimigos que nos atacarão em guerra total e aberta, para conquistá-la.
Mais uma vez, quem serão estes “piratas” modernos equipados com marinha de guerra e força aérea, equipadas com aeronaves no estado da arte, navios de superfície e submarinos nucleares, equipadas e treinadas na utilização eficiente e eficaz do armamento mais moderno e sofisticado existente no mundo?
O militar faz pilhéria com si mesmo, ao utilizar termos como “se confirmada”, “riqueza”, “que força”, “pirata”. Tive muita vontade de responder todo o texto com ironia, por causa desta fala, mas me contive.
A riqueza já é confirmada, brigadeiro, hoje se confirma só a magnitude do tamanho, que muito óleo lá existe e que compensa ser explorado, isto já é um fato.
Não vou nem falar das Malvinas, vou me ater ao caso mais famoso. Se o militar se pergunta quem seriam esses “piratas”, basta ver o que os EUA ATUALMENTE fazem com o Iraque – ou brigadeiro, acredita que os yankees invadiram aquele país para “espalhar” a democracia???
O brigadeiro duvida de um ataque como este, sendo que um similar está acontecendo, AGORA, neste exato instante em que escrevo estas palavras, com outra nação. É impressionante. Ele não acredita que isto seja possível, que os EUA inventem uma mentira qualquer como as tais “armas de destruição em massa” que o Iraque NÃO POSSUÍA.


12 - É constrangedor presenciar nossas Forças Armadas servirem de “banquinho” de campanha eleitoral.
Não vi ninguém, absolutamente ninguém observar que o reaparelhamento das forças armadas brasileiras – que, frise-se, estiveram as mínguas em outros governos e estão sendo muito mais bem tratadas neste – possa garantir votos. Ao contrário, até supunha que os militares estariam felizes ao se verem reequipados. É uma visão bastante difícil de ser compreendida.


13 - Finalmente, gostaria de relembrar que as Forças Armadas tem, e devem ter, poder militar, mas sempre utilizá-lo dentro da lei, da ordem e para servir e proteger toda esta nação.
O “sempre” deste parágrafo me trouxe uma pergunta a mente: o golpe militar foi feito dentro da lei?
Graças a Deus, não estamos naquele período, pois, nem este tipo de questionamento feito pelo brigadeiro poderia ser feito (nem mesmo por um militar), e uma resposta como a minha poderia me levar à cadeia, à tortura, ou a morte.
Ainda bem que estes tempos sombrios, onde uma corja fétida de ditadores e torturadores nos governava, acabou.
Melhor que prossigam escrevendo, democraticamente, textos que acredito serem inverossímeis.
Assim, os militares são menos nocivos.

Democraticamente,
Doney C. Stinguel

Bando de torturadores, recrutados entre os criminosos mais eficientes. Dos chefes ao último tira. Dos que formaram o Tribunal de Segurança aos investigadores sem importância. Nomes que dá nojo dizer. Desonra da espécie humana, indignidade vivendo, bestas vestidas de homens, excrescência de podridões, hálito fétido de latrinas. Lama, sujeira, lixo, miséria, chagas podres, carne leprosa, pus de feridas, vômito e escarro, podridão humana, excremento de prostíbulos! Mais vale, amiga, encher a boca de sujeira que pronunciar o nome desses vermes com corações de feras, soltos sobre o Brasil, presença envilecendo a Pátria. Os assassinos! Frios assassinos, covardes assassinos, bestiais e degenerados! Qualquer palavra suja, qualquer imundo substantivo, é doce palavra de poema lírico ao lado desses nomes podres. Leprosos por dentro, a lepra no coração infame.”
(Jorge Amado - Em "Vida de Luís Carlos Prestes - o Cavaleiro da Esperança")

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Os dogmáticos e a realidade - por Redação CartaCapital

A propósito da reportagem de capa desta edição, que discute o papel do Estado, vale acrescentar um capítulo de última hora: os resultados do Banco do Brasil em 2009. Na quinta-feira 25, o BB anunciou lucro de 10,15 bilhões de reais, até o momento o maior já registrado na história do sistema financeiro nacional. Os ganhos cresceram 15,3% em relação a 2008 e foram impulsionados, segundo a instituição, principalmente pelo aumento das operações de crédito.

Mais uma vez a realidade desmente os dogmáticos do liberalismo, em especial os encastelados nas colunas econômicas dos principais jornais brasileiros. Desde a substituição de Antônio Lima Neto por Aldemir Bendine na presidência do BB, em abril do ano passado, essa turma vaticina um futuro sombrio para o banco público. No instante da troca, denunciaram a "intervenção política" e o "aparelhamento" da instituição. Como se sabe, a linha predominante do pensamento liberal nestes tristes trópicos tem pendores pela mistificação e o uso abusivo de clichês. As ações do banco vão despencar, diziam, pois o "mercado" vai perceber a politização. Fiasco. Os papéis do BB andaram em sentido contrário e apresentaram boa valorização.

Em seguida, quando Bendine, por determinação do governo, anunciou uma política agressiva para ampliar a carteira de crédito do banco e tentar conter a seca de financiamento na praça, o mesmo pessoal horrorizou-se: vão quebrar a instituição e criar uma bolha semelhante à que vitimou o setor imobiliário dos Estados Unidos. Os resultados divulgados na quinta 25 outra vez mostraram que os tais analistas entendem tanto do riscado quanto a turma do amendoim que atazana os técnicos do Palmeiras no Palestra Itália. O BB não só foi fundamental para que a economia brasileira sentisse em menor grau os efeitos da crise internacional como sua estratégia, na contramão do resto do setor financeiro, revelou-se lucrativa.

Os ataques à política do BB é uma boa medida de como se dará o debate eleitoral neste ano. Os dogmáticos, como sempre, consideram-se portadores de uma verdade divina e natural. Estranhamente acusam de "ideológicos" os que se dedicam a apenas observar a realidade, numa inversão total de valores. E a realidade indica que bancos públicos e privados fortes, transparentes e em ambiente saudável de competição, tornam o sistema mais virtuoso.

Dependesse desses legionários da boa-fé liberal, o BB, a Caixa e a Petrobras já teriam sido leiloados a preço de banana. Fica a pergunta: com quais instrumentos o Brasil teria enfrentado a crise?

Gov. Zezinho recebe carta de S. Pedro sobre as enchentes - por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/02/24/gov-zezinho-recebe-carta-de-s-pedro-sobre-as-enchentes/

Amarras e catalisadores – por Delfim Netto (CartaCapital)

Creio que poucas pessoas hoje no Brasil deixam de reconhecer que as medidas do governo Lula para neutralizar os efeitos da crise financeira mundial sobre a economia foram mais eficientes que na maioria dos países. A utilização inteligente da política fiscal permitiu reanimar rapidamente a produção industrial em setores-chave, dando sustentação aos níveis de emprego e renda. Foi o que encurtou significativamente o prazo da crise e resultou que os custos brasileiros foram menores do que os da França, Alemanha e Grã-Bretanha, como se pode concluir olhando pelo alto os números apontados num estudo do Banco da Inglaterra.

Esses resultados, conhecidos, funcionam como um poderoso estímulo para a retomada dos investimentos na produção, tanto de empresas do exterior como principalmente dos empresários nacionais. A situação da economia brasileira vem melhorando realmente e nos últimos meses a percepção lá fora é de que as perspectivas de crescimento para os próximos anos são reais e as oportunidades de negócios, muito importantes.

Não importa se algumas pessoas negam essa realidade, atribuindo o renascimento do interesse externo à militância diplomática do presidente Lula. Ele é um ótimo marqueteiro, mesmo, que soube fazer com que os estrangeiros olhem o Brasil com muito bons olhos.

Hoje, estou plenamente confiante de que o Brasil tem todas as condições para sustentar um crescimento anual de 6% a 7%, de forma a chegar lá pela metade do século XXI como um dos cinco países mais desenvolvidos do mundo, num sistema democrático politicamente organizado e com um mercado consumidor interno possante. Afastamos – com a realidade do pré-sal – a dupla ameaça de crises no balanço de pagamentos e no suprimento de energia. Estamos retomando as condições de ampliar a matriz energética limpa, com a superação dos obstáculos para a construção das hidrelétricas (inclusive na Região Amazônica) e com o desenvolvimento tecnológico que permite aumentar as formas de aproveitamento da biomassa na produção de energia e combustíveis renováveis.
Não estamos sozinhos no mundo e, obviamente, nossos concorrentes não vão ficar parados, assistindo o Brasil desfilar. Quando se fala em competir, a primeira coisa que vem à mente é a presença agressiva da China nos mercados mundiais, apoiada em políticas fiscal, cambial e tributária inteligentes, em métodos, digamos, heterodoxos e numa "agilidade" comercial desenvolvida há pelo menos 5 mil anos antes de Cabral nos encontrar.
O Brasil tem duas vantagens realmente importantes que são as autonomias alimentar e energética. A não ser em virtude de grandes saltos tecnológicos, a China não se libertará tão cedo dessas duas limitações.

Temos desvantagens (cuja superação depende apenas de um pouco de inteligência): política cambial desastrosa, carga tributária desnecessária e política de juros que transa com a teratologia. Precisamos enfrentá-las com as devidas cautelas, mas tem de ser a curto prazo. Se não o fizermos vamos destruir nossas cadeias produtivas (como já está acontecendo graças ao real- valorizado) e nunca chegaremos a ser um protagonista respeitado no comércio mundial.
Se considerarmos a competição ao nível do chão de fábrica, a produtividade brasileira é igual ou superior à chinesa. Um equipamento (bem de capital) produzido na China, porém, pode chegar ao Brasil a um preço 15% mais barato, porque ele é subsidiado com uma taxa de câmbio escandalosamente artificial e por instrumentos de crédito que nem sequer bem conhecemos, mas que na verdade são postos depois como prejuízo em bancos estatais. São procedimentos que podem ser usados para quaisquer produtos da indústria chinesa exportados inclusive para o Brasil.

Não é possível, então, continuarmos fingindo que existe uma competição honesta, conhecendo todas essas práticas. E, ainda, impondo à indústria brasileira taxas de juro abusivas, tributação duas vezes superior à chinesa e câmbio punitivo. Para completar, do portão da fábrica para fora, custos difíceis de orçar em razão do estado precário de nossa infraestrutura, que o PAC está tentando consertar.

O legado da CIA no Irã, Afeganistão e Paquistão - por Argemiro Ferreira

http://argemiroferreira.wordpress.com/2010/02/16/o-legado-da-cia-no-ira-afeganistao-e-paquistao/

Privatizações à moda tucana - por Mino Carta (CartaCapital)

Basta que Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República recém-ungida por Lula, faça referências bastante genéricas à natural, inescapável relação entre Estado e Economia, e de pronto o deus nos acuda se estabelece. Quem acompanha a cobertura jornalística, quem lê os editoriais dos jornalões, fica exposto à sensação (à certeza?) de que, se Dilma ganhasse as próximas eleições, o Brasil cairia nas mãos da horda estatizante.

Mauricio Dias, em sua Rosa dos Ventos, agudamente avisou, faz duas semanas, que a divergência quanto à correta interpretação do papel do Estado nos domínios econômicos acabaria por excitar cada vez mais o debate eleitoral. Pois a questão está posta, e ganha tons exasperados, e até anacrônicos, na convicção medieval de que aos barões cabe a propriedade de tudo.

Nesta edição, o confronto já esboçado está na capa. Aqui me agrada recordar certas, fundamentais circunstâncias em que se deram as privatizações celebradas como trunfo do governo de Fernando Henrique Cardoso, entre elas, em primeiro lugar, o desmantelamento da velha Telebrás, leiloada para uma plateia de barões à sombra do martelo de um punhado de extraordinários leiloeiros.

Final de 1998, FHC já reeleito, mas ainda não empossado, para o segundo mandato. Operação entregue aos cuidados do então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, de André Lara Resende, presidente do BNDES, de Ricardo Sergio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil. Entre outros menos qualificados. Grampos variados acabaram por revelar o pano de fundo de uma bandalheira sem precedentes na história pátria.

Foi uma orgia de fitas. Em sua reportagem de capa da edição de 25 de novembro de 1998, CartaCapital dizia: "Fala-se em 27, mas certeza só tem quem participou dos grampos". Ilegais, obviamente, e desde o início do ano destinados a ouvir as conversas do próprio Luiz Carlos Mendonça de Barros, que ainda estava na presidência do BNDES. O que movia os grampeadores, adversários de Mendonção, era buscar as razões da vertiginosa ascensão da Link Corretora de Mercadorias Ltda., dos filhos do grampeado: em quatro meses de atividade tornara-se a terceira operadora no ranking do Índice Bovespa Futuro. "Cerca de 40% desse índice – sublinhava CartaCapital – era composto por ações da Telebrás, empresa sob o comando do presidente do BNDES."

O cerco a Mendonção prosseguiu mesmo quando ele se mudou para o Ministério das Comunicações, e ali, no seu gabinete, as gravações mais significativas, relativas ao leilão da Telebrás, foram executadas entre 21 de julho e 21 de agosto de 98. O próprio governo, pego no contrapé, cuidou de divulgar uma versão da fitalhada, com cópias generosamente fornecidas às semanais Veja e Época. Cópias amplamente manipuladas, para provar a lisura dos comportamentos das figuras governistas chamadas a conduzir a privatização do sistema. Ocorre que outros ouvidos entraram em cena, e tiveram acesso a largos trechos cancelados nas versões oficiais. Os ouvidos de Luiz Gonzaga Belluzzo e do acima assinado, que participaram de uma audição especial, e do então redator-chefe, Bob Fernandes, privilegiado em outra ocasião.

Cito algumas passagens edificantes, que não figuravam nos textos de Veja e Época. De Mendonção para o irmão José Roberto: "O negócio tá na nossa mão, sabe por quê, Beto? Se controla o dinheiro, o consórcio. Se faz aqui esses consórcios borocoxôs são todos feitos aqui. O Pio (Borges, vice-presidente do BNDES) levanta e depois dá a rasteira". De Mendonção para André Lara Resende, novo presidente do BNDES: "Temos de fazer os italianos na marra (Telecom Italia) que estão com o Opportunity (...) fala para o Pio que vamos fechar (os consórcios) daquele jeito que só nós sabemos fazer". De André Lara Resende para Persio Arida, sócio de Daniel Dantas no Opportunity: "Vá lá e negocia, joga o preço para baixo, depois, na hora, se precisar, a gente sobe e ultrapassa o limite".

As pressões chegam ao clímax, e Mendonção propõe: "Temos que falar com o presidente". E Resende: "Isso seria usar a bomba atômica!" E ele a usa: "Precisamos convencer a Previ", recomenda a FHC. A Previ poderia prestar-se ao jogo, como se prestou no caso da privatização da Vale do Rio Doce. O fundo, contava Carta-Capital na reportagem de capa assinada por Bob Fernandes, "parecia compor-se com o grupo capitaneado por Antonio Ermírio de Moraes, à última hora bandeou-se para a nau pilotada por Benjamin Steinbruch". Na manobra para enredar a Previ no caso do leilão da Telebrás, foi decisiva, segundo os trechos omitidos das versões oficiais, a pronta colaboração de Ricardo Sergio, o diretor do Banco do Brasil.

Tal é o bastidor das privatizações à moda nativa, ou melhor, tucana. Ou fernandista, se quiserem. A trupe dos privatizadores abandonou a ribalta faz bom tempo, mas não é arriscado imaginar que viva dias pacatos. O mais ostensivo, no seu bem-bom, é André Lara Resende, hoje dono de uma quinta em Portugal. Devotado aos esportes equestres, freta aviões para importar seus cavalos.

Gov. Zezinho escolhe Dilma para sua vice - por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/02/21/gov-zezinho-escolhe-dilma-para-sua-vice/

Universidade do ABC responde ao Estadão – por Luiz Carlos Azenha (Vi o mundo)

Por sugestão do leitor Rafael Vilela

Demagogia no ensino superior (04/05/2006)
Editorial do Estadão

Pródigo em iniciativas demagógicas, o senador Paulo Paim (PT-RS) conseguiu aprovar mais um projeto delirantemente demagógico na Comissão de Educação do Senado. A pretexto de facilitar o acesso à educação superior de estudantes pobres, o projeto obriga as universidades particulares a oferecer "vagas semigratuitas", por meio da concessão de bolsas a pelo menos 15% de seus alunos. Pela proposta, que foi votada em caráter terminativo, 5% dos estudantes com renda familiar per capita inferior a um salário mínimo e meio terão 80% de desconto no valor da mensalidade. Os demais 10% terão um desconto de 50%. Para compensar as escolas, o projeto as autoriza a promover um "pequeno aumento" na mensalidade dos 85% restantes dos alunos.

Segundo o parlamentar gaúcho, sua iniciativa foi concebida para "ajudar" o País a atingir a meta do Plano Nacional de Educação de ter 30% dos jovens entre 18 e 24 anos em cursos superiores até 2011. "Se não existem recursos financeiros federais e estaduais para a oferta de mais vagas gratuitas (nas universidades públicas), as instituições privadas precisam regular o preço de suas mensalidades de forma a não impedir que uma parcela dos alunos, mesmo minoritária, aprovada para seus cursos, fique excluída por não ter dinheiro para pagar seus estudos", diz Paim.

"O exercício da liberdade de iniciativa na oferta do ensino é limitado pelas condições sociais da clientela. Um pequeno aumento no preço da mensalidade da maioria, somado a uma limitação indolor nos lucros dos empresários, poderá beneficiar cerca de 400 mil estudantes", diz Paim, após lembrar que o projeto beneficia os alunos carentes, "ao invés (sic) de facilitar a prática de protecionismos e clientelismo em matéria de direitos sociais".

Como a maioria das instituições particulares de ensino superior hoje estaria com mais de 40% de suas vagas ociosas, explica o senador, elas poderiam destiná-las para a concessão dos descontos. "É como fazem as companhias aéreas, que têm vagas nos vôos e fazem promoções com preços mais baixos para preenchê-las". Os argumentos são de um primarismo que justificaria cassação de mandato por quebra de decoro. Além do mais, são falaciosos, uma vez que, como o senador está farto de saber, já existe um programa específico de bolsas patrocinado pelo governo federal, o "Universidade para Todos" (ProUni), que vem alcançando excelentes resultados. O ProUni começou a funcionar em janeiro do ano passado e, desde então, já possibilitou o acesso de milhares de jovens de baixa renda a cursos de graduação e cursos seqüenciais de formação específica, oferecendo incentivos fiscais às instituições de ensino que aderiram a ele.

Além disso, ao prever "um mecanismo automático de ampliação de gratuidade proporcional à expansão da atividade privada no ensino superior", o projeto interfere na autonomia administrativa e financeira das universidades particulares, ferindo a Constituição. "A proposta é irresponsável", afirma o vice-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior.

Falaciosa também é a afirmação de Paim, no sentido de que o aumento de custos que seu projeto acarretaria para as instituições privadas representa "uma limitação indolor" de seus lucros, não prejudicando "a rentabilidade dos investimentos". O parlamentar gaúcho se esquece de que muitas delas, pressionadas pelos altos índices de inadimplência e evasão escolar, já reduziram drasticamente o valor das suas mensalidades, nos dois últimos anos.

Portanto, ao obrigá-las a "conceder abatimento do valor contratual para prestação de serviços educacionais" e oferecer "vagas semigratuitas", o projeto pode pôr em risco o equilíbrio financeiro de muitas universidades privadas e confessionais. E quem mais sairá prejudicado com isso serão os próprios eventuais beneficiários do projeto. Isto porque, para sobreviver, muitas instituições não terão outra saída a não ser aumentar o número de alunos por classe e substituir professores com título de mestre e doutor por inexperientes bacharéis em início de carreira, comprometendo a qualidade do ensino, que já é baixa.

O projeto de Paim segue agora para a Câmara onde esperamos que os deputados lhe dêem o destino que merece: a lata do lixo.


As inaugurações de projetos (24/02/2010)
Editorial do Estadão

Ao discursar na cerimônia de sanção da lei que criou a Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em janeiro, o ministro da Educação afirmou que o governo do presidente Lula está batendo o recorde no setor, tendo criado 13 instituições federais de ensino superior, em quase oito anos de gestão. O recorde anterior era do presidente Juscelino Kubitschek, que criou 10 universidades em um mandato de cinco anos. "O governo Lula é o que mais fez pela educação superior", disse o ministro Fernando Haddad, no evento convertido em mais um comício político em favor da candidatura da ministra Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.

De lá para cá, o noticiário da imprensa sobre duas universidades federais mostra que tipo de instituições de ensino superior estão sendo erguidas pelo presidente "recordista".

A primeira é a Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha (UFVJ), em Minas Gerais. Lançada há três anos, com pompa e circunstância, até agora ela só tem dois dos dez prédios previstos. Apesar de até hoje não ter água, refeitório, biblioteca e professores suficientes e precisar suspender as aulas quando chove, há duas semanas Lula fez mais uma "inauguração" na UFVJ, lançando o campus avançado de Mucuri. Na ocasião, o único fato que fugiu do controle dos marqueteiros presidenciais foi o protesto dos estudantes, que acusaram Lula de inaugurar o que não existe. "Somos frutos de uma expansão sem qualidade e sem investimentos", disseram.

A segunda instituição com problemas semelhantes ao da UFVJ é a Universidade Federal do ABC (UFABC), criada em 2004 num dos principais redutos eleitorais do PT e que acabou sendo decisiva para que o partido reconquistasse a prefeitura do município de São Bernardo, o berço político de Lula. A universidade foi criada porque, para o governo, a região necessitava de uma instituição de ensino superior de ponta. Ou seja, uma universidade com "pedagogia inovadora", capaz de alargar as fronteiras do conhecimento científico e tecnológico com base num projeto de caráter interdisciplinar, que foi apresentado como "pioneiro", por conciliar "formação integral com visão histórica da civilização e inserção social no sentido amplo".

Na sua retórica eleitoral, o governo não faz por menos! Porém, o que foi prometido no palanque ainda está longe de ser entregue aos moradores do ABC. Quase seis anos depois, as obras em Santo André estão atrasadas, tendo sido inaugurado, até agora, um único prédio, como sempre, com discurso de Lula. Entre 2005 e 2009, o presidente já participou de cinco solenidades na instituição, sendo a última em agosto passado, quando lançou a "pedra fundamental" do campus de São Bernardo. Até hoje, a obra não passou disso.

O calendário escolar da UFABC vem sofrendo adiamentos e alguns cursos têm sido dados com base na improvisação, pois não estão conectados com a internet. Desde que começou a funcionar, há quatro anos, a instituição já teve quatro reitores, o que mostra a sua desorganização. Os problemas de gestão e logística são tão grandes que enorme quantidade de estudantes está abandonando a UFABC. Dos 4,5 mil alunos selecionados entre 2006 e 2009, apenas 2.617 permanecem frequentando as aulas. Nas três primeiras turmas de história, a taxa média de evasão foi de 42%, uma das mais altas do País.

O mais grave é que o maior número de desistentes é de estudantes "cotistas", para os quais é reservada metade das vagas nos vestibulares. Eles não tiveram o preparo suficiente para acompanhar os cursos. E, como a política de cotas é uma das bandeiras políticas mais vistosas do governo Lula, para tentar reter os cotistas a UFABC ampliou as bolsas de auxílio socioeconômico e para moradia. Cada uma garante R$ 300 ao aluno, ao todo, são cerca de 700 bolsas distribuídas atualmente. Ao ser empossado há três semanas, o novo reitor, Helio Waldman, prometeu reduzir a taxa de evasão para 10%, até 2014, mas não explicou como atingirá essa meta. "Há uma certa lentidão crônica, cuja origem não saberia reconhecer", diz ele.

A afirmação é exemplar, pois mostra o saldo das "inaugurações de projetos que continuam sendo projetos", ou seja, as pedras fundamentais e os esqueletos de obras que o presidente Lula inaugura com muito rojão e discurseira.


Universidade Federal do ABC - um projeto que já é realidade

No dia 5 de julho de 2006, ano de eleições presidenciais, o Estado de São Paulo publicou uma reportagem de título "Universidade do ABC fica no papel". Nela, os leitores do jornal eram informados de que as aulas teriam início "em um prédio improvisado, pois o terreno cedido pela prefeitura de Santo André para virar campus ainda funciona como garagem municipal."

Poucas semanas depois, no dia 14 de setembro do mesmo ano, o jornal publicou o editorial "Demagogia no ensino superior" em que, na mesma tecla, os leitores eram informados de que "a improvisação é tanta que a UFABC vem funcionando provisoriamente num prédio alugado."

Dois dias depois o jornal publicava a carta resposta do Reitor Hermano Tavares, a qual registrava que "Iniciar as atividades acadêmicas de uma instituição nova em instalações provisórias é simplesmente a melhor prática. Foi o que fizeram ITA e Unicamp, para citar apenas dois exemplos. Absurdo seria começar construindo o prédio."

Agora, em 2010, sintomaticamente mais um ano de eleições presidenciais, O Estado de São Paulo volta à carga contra a UFABC em editorial de 24 de fevereiro intitulado "As inaugurações de projetos".

Nele, sempre com a mesma obsessão centrada nos prédios, os leitores são informados de que "as obras em Santo André estão atrasadas, tendo sido inaugurado, até agora, um único prédio". Adiante, o mesmo editorial informa que a pedra fundamental do campus de São Bernardo do Campo foi lançada em agosto do ano passado, mas que "até hoje, a obra não passou disso.". Informa ainda que "a taxa média de evasão foi de 42%" e cita uma frase do Reitor Helio Waldman "Há uma certa lentidão crônica, cuja origem não saberia reconhecer", frase que o editorial associa ao problema da evasão e qualifica de "afirmação exemplar, pois mostra o saldo das inaugurações de projetos que continuam sendo projetos".

Com relação a cada um dos aspectos acima, cumpre registrar:

O "único prédio" a que se refere o editorial é uma torre de 11 andares que tem 14 mil metros de área construída. Com quase 90% das obras concluídas, o próximo bloco a ser entregue agregará ao campus mais 40 mil metros de área construída.

A afirmação de que a obra de São Bernardo do Campo nunca passou do lançamento da pedra fundamental é simplesmente falsa. As licitações de terraplenagem do terreno e da construção do "primeiro prédio" foram concluídas no 2º semestre de 2009, dentro do previsto, e as duas obras já foram iniciadas, como pode ser constatado por uma simples visita ao local.

A informação de que "a taxa média de evasão foi de 42%" parte de uma conta precária, para dizer o mínimo, como explica a carta do Reitor Helio Waldman publicada na mesma edição de 24 de fevereiro do referido jornal e ignorada pelo editorial.

Finalmente, a frase citada do Reitor é colocada completamente fora de contexto, já que ela foi pronunciada em referência às obras de Santo André. Não há nela, portanto, qualquer indício de concordância com a opinião de que a UFABC seja um "projeto que continua projeto".

E ilustramos, com brevidade:

Fosse apenas "um projeto que continua projeto", a UFABC não poderia registrar que com menos de três anos e meio de atividades ela já conta com mais de 400 docentes em regime de dedicação exclusiva, todos eles doutores - fato inédito no ensino superior público federal - que compõem um conjunto de jovens talentos com reconhecimento crescente no meio científico nacional a partir de conquistas como esta: em 2009, a UFABC foi a 3ª demandante de novos projetos de pesquisa junto à FAPESP, atrás apenas da USP e da Unicamp e à frente de todas as outras instituições públicas e privadas do Estado de São Paulo.

Fosse apenas "um projeto que continua projeto", a UFABC não teria os 10 cursos de pós-graduação stricto sensu recomendados pela CAPES, sendo seis em nível de mestrado e quatro de doutorado, todos eles em pleno funcionamento, com cerca de 300 alunos regularmente matriculados e com 30 dissertações de mestrado já defendidas com sucesso.

Fosse ainda "um projeto que continua projeto" a UFABC não poderia registrar que conta com mais de 2.600 alunos de graduação que, até quatro anos atrás, não tinham onde fazer um curso público, gratuito e de qualidade. Ou que a eles se juntarão, nas próximas semanas, mais 1.700 jovens que conquistaram uma vaga em um processo seletivo de âmbito nacional, no qual o Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFABC, com quase 20 mil candidatos apenas na primeira etapa das inscrições, figurou em primeiro lugar na lista de procura dos estudantes que participaram do Sistema de Seleção Unificada do MEC.

A UFABC conta com um projeto pedagógico que é, de fato, ousado, pioneiro e inovador. Sua implantação vem sendo atentamente observada por educadores do Brasil todo, os quais acreditam que ele possa dar contribuição significativa ao ensino superior nacional. Tratá-lo com desdém e ironia, sem entrar no seu mérito, é miopia, como foi a posição adotada pelos que, nos anos 1950, não queriam a criação do ITA com base no famoso bordão "um país que não sabe fabricar bicicletas não pode se arvorar a ambição de fabricar aviões". Ou mesmo dos que, nos anos 1930, faziam restrições à criação da USP e sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, uma ousada inovação para o ambiente acanhado da época. Hoje, um ano de faturamento da Embraer corresponde a vários séculos de orçamento do ITA, e a USP figura entre as 200 melhores Universidades do mundo.

Os riscos em empreendimentos desse porte são consideráveis. Admitimos nossos problemas. Reconhecemos que algumas obras atrasaram, mas estamos lutando para concluí-las, em parceria e com o apoio do MEC. Cada nova turma de alunos da UFABC encontrou melhores instalações físicas do que a turma que a precedeu, tendência que será mantida neste e nos próximos anos. A evasão, também em parte decorrente do medo do novo, é um problema grande a ser combatido. Há que se registrar, todavia, que os indicadores apontam para sua queda.

A UFABC é uma instituição de ensino superior que pratica os melhores valores acadêmicos. Nesse contexto, estaremos sempre abertos ao diálogo e à crítica, inclusive a destrutiva, histérica, míope ou de mau gosto. Mas não podemos permanecer calados diante da crítica vilipendiosa.

Em 2006, o Estadão afirmou que a UFABC não sairia do papel, o que não era verdade. Em 2010, ele diz que a UFABC não passa de um projeto, o que não é verdade. Qual será a nossa maldição de 2014?

Helio Waldman
Reitor da Universidade Federal do ABC

Intervenção federal já! - por Wálter Maierovitch (CartaCapital)

Várias iniciativas anticorrupção foram deflagradas no Distrito Federal para enfrentar os males saídos de uma "caixa de Pandora" descoberta pela Polícia Federal. Essa caixa foi aberta por um colaborador de Justiça em busca de premiação legal e que, em troca dela, oferta provas de tentacular esquema de corrupção sob o comando do governador José Roberto Arruda. A propósito, o direito premial foi intuído em 1877 pelo jusfilósofo alemão Rudolfvon Jhering, que o considerou de emprego indispensável nos séculos vindouros em face do fortalecimento e da ousadia do poder criminal. Não se sabe ter a intuição de Jhering surgido ao comprar um panetone.

Passos largos já foram dados. Por exemplo, o aforamento, pela Procuradoria-Geral da República, de pedido de intervenção federal nos enlameados poderes Executivo e Legislativo do DF. Por seu lado, o Ministério Público distrital ajuizou ação para anulação do plano diretor, com convicção de canalização de obras públicas para as empresas do autodefenestrado vice-governador Paulo Octávio. Além disso, e como medida de segurança social necessária, a cúpula do Superior Tribunal de Justiça, por expressiva maioria, decretou a prisão preventiva do governador Arruda por tentar impedir a busca da verdade pela Justiça. Antes de rumar para a cadeia, Arruda licenciou-se do governo e trilha a mesma estratégia de resistência empregada por Renan Calheiros e José Sarney, bem típica de uma tropical república bananeira.

A decisão sobre a prisão cautelar não foi derrubada liminarmente em habeas corpus liberatório que tramita no STF e cujo exame de mérito ocorrerá em breve. No julgamento, haverá um embate jurídico entre o relator, o ministro Marco Aurélio, e o presidente do Tribunal, Gilmar Mendes, pró-soltura e que já deixou vazar pela imprensa algumas dúvidas sobre a participação de Arruda em tentativa de desvirtuar a apuração.

Revelou-se, porém, que Arruda, por informantes, teve conhecimento antecipado da operação policial e se mexeu. Assim, visitou o ministro responsável pelo inquérito (o mesmo que votou pela sua prisão cautelar), conseguiu peças sigilosas dos autos e colocou o chefe de gabinete do governador Aécio Neves para fazer lobby no gabinete do ministro relator. Será que Arruda seria capaz de corromper testemunhas ou só painéis eletrônicos do Senado?

O STF sinalizou pela inconstitucionalidade do dispositivo da Lei Orgânica do Distrito Federal (Constituição Distrital), que estabelece, como condição para persecuções criminais, a licença do Legislativo. Igualmente inconstitucional é o dispositivo que permite ao atual presidente da Câmara, no caso de vacância por renúncia ou impeachment do governador e do vice, a sua manutenção no cargo até o prazo final do mandato. Pela nossa Lei Maior, aquele que assume o cargo vago tem de marcar eleições dentro de 90 dias. E a escolha cabe aos deputados, na condição de representantes dos cidadãos. Nessa escolha indireta, a Câmara do DF poderá eleger o interino Wilson Lima, ligado a Arruda e a Paulo Octávio. Em síntese e consoante o consagrado escritor Tomasi di Lampedusa, mudar tudo para permanecer tudo como está.

Caso acolhida, a intervenção restabelecerá o equilíbrio necessário à manutenção da forma republicana e do regime democrático. No fundo, resta saber se o STF dará pelo prevalecimento da Constituição ou se preservará um sistema federativo capenga, minado por deslavada corrupção.

Em curso na Câmara e paridos depois de três meses de manobras, os processos de impeachments têm sido usados apenas como fachada de normalidade, na tentativa de afastar a intervenção federal e salvar alguns anéis, ou melhor, evitar um interventor a legislar por decreto, temporariamente. A manter em funcionamento uma casa legislativa com a maioria dos deputados acostumada a trocas, barganhas e vantagens, pode-se esperar qualquer coisa, menos compromisso com o Estado Democrático de Direito e a representação popular.

Não há dúvida de a intervenção significar o oposto da autonomia federativa consagrada na nossa Constituição. Só que ela é instrumento fundamental num sistema democrático de freios e contrapesos. Representa medida excepcional, de segurança do Estado e do equilíbrio federativo. E atende ao interesse imediato do cidadão, que, por evidente, não elegeu representantes para conspurcar ou emporcalhar o Estado Democrático. Nem conferiu mandato para se fraudar o sistema republicano. Isto, pelo controle de territórios e de fontes capazes de levar à obtenção de indevidas vantagens financeiras e políticas.

Pano rápido. Como ensinou um filósofo europeu contemporâneo, "a corrupção é ilícito gravíssimo porque priva de legitimação as instituições democrático-republicanas". Os ministros do STF deveriam pensar nisso.

A esperança venceu o quê mesmo? - por Leandro Arndt

Data estelar: Sol e Plutão em sextil; Lua quarto crescente transita por gêmeos. Enquanto isso, aqui na Terra, o grande mal de anos de governo viciado em crimes impunes é ter difundido desânimo e desencanto nas pessoas idealistas que com tanto ardor apostaram no último reduto de suas esperanças. A propaganda de que a esperança tinha vencido o medo foi de encontro à realidade em que o crime saiu vitorioso sobre as instituições democráticas. Esse não é um fenômeno regional, é toda uma tendência histórica cuja maior ameaça é as pessoas idealistas entregarem de vez suas vidas, desistindo do esforço que continua necessário para que o ponto de mutação se torne concreto. A desistência seria ainda mais nefasta do que tudo que foi testemunhado até aqui, porque disseminaria o mal por várias gerações futuras.
(Jornal Correio Braziliense, 22 de fevereiro de 2010, caderno Hora Livre, p. 2, coluna “horóscopo”, por Oscar Quiroga)



Fiquei estupefato quando um amigo meu me mostrou isso. Não sabia se desatava a rir com tantas bobagens, ou se ficava com raiva de tamanha manipulação. É hábito comum falar em blogues sobre nosso infame PIG, Partido da Imprensa Golpista — algo que procuro não tornar o centro das minhas postagens, e que entretanto por vezes se torna necessário.
Mas, o que mais me impressionou não foi, a princípio, o uso de um “horóscopo” para falar mal do governo Lula (a frase que destaquei não deixa margem a qualquer dúvida). Espero qualquer coisa do PIG. O que me impressionou foi fazerem isso justamente num jornal brasiliense no momento em que o governador do Distrito Federal está preso, às vésperas da renúncia do vice-governador e da posse de um íntimo aliado do governador-detento, tudo em virtude de um grande esquema de corrupção que esse mesmo jornal tentou encobrir, como já foi fartamente comentado na blogosfera. Sim, o Correio Braziliense, que, quando foi deflagrada a operação Caixa de Pandora pela Polícia Federal, disse que houve busca e apreensão no “gabinete anexo” à residência oficial do atual governador-detento, como se não fosse esse o gabinete do próprio governador na residência oficial do governo do Distrito Federal (GDF). A princípio foi isso que me chocou. Em seguida, veio simplesmente a estupefação pela volta à propaganda serrista das eleições de 2002: “Eu tenho medo!”, como já dizia a Regina Duarte. Foi daí que a esperança venceu o medo, e venceu tão fragorosamente que o medo está com medo de voltar a concorrer com a esperança em 2010.

Espero qualquer coisa do PIG, já disse. Mas, afinal, o que ficou após a leitura do “horóscopo” foi uma impressão diversa das anteriores: o vislumbre de uma campanha midiática, já desatada há muito tempo, de volta à guerra fria. Ontem mesmo falavam da morte de um preso em greve de fome em Cuba, sem falar de Guantânamo, das prisões secretas americanas, das guerras sem-fim que esse país promove mundo afora. Não falavam também das valas-comuns na Colômbia, em que milhares de “falsos positivos”, pessoas comuns, mortas e apresentadas como guerrilheiros, foram enterrados. Não, falavam que Lula visitou Fidel e Raul Castro no dia seguinte à morte de um preso em Cuba — e reparem como a morte de um preso em Cuba dá notícia! Quando da Conferência Nacional de Comunicação, o PIG estrepitosamente indundou nossas casas com a grita anticomunista que insistem em tirar do armário. Quando o governo propôs a Ancinav, a mesma coisa, pela simples possibilidade de a Ancine ter uma substituta com mais atribuições. Os exemplos dessa grita são muitos.

A diferença é que, dessa vez, o medo foi implantado no horóscopo. Não acredito que isso tenha mudado o dia de muita gente — mesmo os mais supersticiosos devem ter tido um dia feliz com mais uma postergação da libertação do governador-detento do Distrito Federal. Mas, isso lembra os tempos sombrios da ditadura civil e militar no Brasil, com a qual os jornalões colaboraram ativamente, mas durante a qual alguns jornalistas ainda podiam ousar esconder notícias reais em lugares às vezes inusitados. O que me assombrou mesmo foi ver uma crítica desvairada ao governo Lula ser publicada num hosróscopo, como se precisasse ter sido escondida da censura ou de alguma “tropa de choque” lulista. Pode ter sido um mero rompante astrológico do autor da coluna, mas não duvido que alguém, se apercebendo da existência desse arroubo, venha a dizer que, sob o governo Lula, a imprensa teve de esconder a realidade em “horóscopos”, “receitas de bolo” ou “previsões do tempo”. Quem sabe, inspirando-se nisso, Miriam Leitão, William Waack, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e outros passem a ser “astrólogos”, “chefs”, “meteorologistas”, e sabe-se lá o que mais — ao menos nos livrariam de seus comentários econômicos e políticos. Mas, sei de uma coisa: assim como a blogueira Yoani Sanchez é a prova cabal da liberdade em Cuba, essa coluna política do Correio Braziliense e os horóscopos desses últimos comentadores são a prova cabal da democracia no Brasil. Talvez sejam até mais: a prova cabal de uma ditadura que não é de governos, mas de opiniões — de algumas opiniões.

Gov. Zezinho, o novo Jô, lança campanha de otimismo em SP - por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/02/19/zezinho-o-novo-jo-lanca-campanha-de-otimismo-em-sp/

Os enxadristas – por Mauricio Dias (CartaCapital)

Lula e Aécio fazem um debate político mais sutil, à margem da artilharia pesada disparada por atores coadjuvantes da pré-campanha presidencial. No caso dessa disputa, a imagem surrada de peças se movendo em um tabuleiro de xadrez cai como luva. Vejamos.

Em mais de uma ocasião, entre 2007 e 2008, o presidente da República provocou o governador de Minas Gerais. Sugeriu a ele que abandonasse o PSDB e se filiasse ao PMDB, para viabilizar-se como candidato à sucessão presidencial de 2010. A última vez que falaram sobre isso foi em Belo Horizonte, na sala de estar do Palácio das Mangabeiras.

Aécio recusou, embora em alguns momentos tenha chegado a pensar na hipótese. Esbarrou em vários obstáculos. Um deles é a instabilidade do PMDB mineiro, que ainda sofre, ou sofria, na ocasião, uma influência considerável do ex-governador Newton Cardoso.

Mas será que Lula pretendia mesmo criar uma cobra que pudesse picá-lo? Claro que não. Ao contrário. O metalúrgico-enxadrista tentava plantar um aliado no terreiro do PMDB, parceiro inevitável da campanha de 2010. A chapa Dilma e Aécio não seria insuperável eleitoralmente?
Foi um lance não concluído, mas de preparação espetacular. Posteriormente, o presidente sacou da manga o nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, hoje filiado ao PMDB. Meirelles é uma peça a mais nesse tabuleiro. Aécio preferiu arriscar-se como aspirante a candidato no próprio ninho tucano. Perdeu. O risco, no entanto, era calculado. Para onde se deslocará o eixo de poder no PSDB se o governador Serra candidatar-se e for derrotado? O comando da oposição cairá nas mãos de Aécio e ele se firmará como alternativa insuperável para a eleição de 2014. A idade permite a ele mover-se com mais tempo.

Um adendo ao parágrafo acima: Aécio ainda pode ser procurado no sítio da família em Cláudio, para onde, às vezes, retira-se para descansos. O avô dele, Tancredo, também saía da cena política e ia para lá. Essa pequena cidade no Oeste de Minas é conhecida como a "cidade dos apelidos". Ela própria talvez venha a ser chamada de Colombey-les-Deux-Églises, onde os franceses foram pedir a Charles De Gaulle para voltar e salvar a pátria. Os tucanos irão atrás dele para salvar o PSDB? Aécio Neves já fez pilhéria com essa metáfora política.

Mas ele também poderá voltar à disputa presidencial como vice de Serra? O governador mineiro teria, sem dúvida, muitas chances de aumentar a possibilidade de vitória do governador paulista.

Por receio desse movimento de Aécio, o presidente Lula fez um lance arriscado, surpreendente e, mais uma vez, brilhante. Fez uma mexida inesperada com uma peça não prevista. Lançou o vice-presidente José Alencar como alternativa para disputar o governo de Minas. O nome emblemático de Alencar deve ter abalado o governador, que tem a tarefa de garantir, com a enorme popularidade que tem no estado, a eleição do vice-governador dele, Antonio Anastasia. A partida não terminou. Mas também nem todos os lances desse jogo terão sequência imediata. O resultado da partida, para Lula e Aécio, transcende 2010.

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Andante Mosso

"Virgilizmo"?
O senador tucano Arthur Virgílio vai para o 11º ano consecutivo como líder do PSDB.
Ele assumiu a função em 1999, o mesmo ano em que Hugo Chávez chegou à Presidência da Venezuela.
O pau que dá em Chávez não funciona para ele mesmo?

Ordem unida
Manchetes dos três principais jornais brasileiros no sábado, 20 de fevereiro.
– Petistas decidem radicalizar projeto de governo de Dilma
(O Estado de S. Paulo)
– PT apresenta programa mais radical para Dilma
(Folha de S.Paulo)
– PT aprova programa radical para a campanha de Dilma
(O Globo)
Isso é para assustar os leitores. Nas propostas do PT, é possível colher algumas bobagens políticas, mas não há nada fora das regras democráticas.

Contaminação
O procurador-geral do governo Arruda, no Distrito Federal, é Marcelo Galvão.
Filho do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Ilmar Galvão, o procurador é um dos seis nomes enviados pela OAB para ocupar a vaga de ministro do Superior Tribunal de Justiça.
Marcelo e os demais cinco indicados foram rejeitados pelos ministros do STJ. A OAB terá de fazer uma nova lista.

Tiro no pé
Por iniciativa da Assembleia Legislativa do Amazonas, o Tribunal Superior Eleitoral vai rediscutir o critério de distribuição de vagas para a Câmara dos Deputados.
Prevalece hoje a representação que expressa a população dividida por 513, que é a composição da Câmara, com o mínimo de 8 e o máximo de 70 parlamentares.
A discussão sobre as distorções na representação é recorrente.
Mas estabelecer o critério matemático como razão absoluta tem problemas. O deputado Flavio Dino (PCdoB) lembra que São Paulo, hoje com 70 deputados, poderia chegar a 140 e, com esse número, acabar com a Zona Franca de Manaus, de onde parte a iniciativa do debate.

Será a Benedita?
A reunião do novo Diretório Nacional do PT, marcada para o dia 5, tem um abacaxi para descascar.
Decidirá se a escolha do candidato do partido ao Senado, no Rio, será feita por meio de prévias, por 130 mil filiados, ou se por 400 delegados da convenção.
A definição estabelecerá a vaga disputada pela ex-senadora Benedita da Silva, mais forte nas prévias, e pelo prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, favorito na convenção.
O estatuto, já contestado nesse ponto, indica prévias para cargos majoritários.

Rejeição e simpatia I
Na contramão do porcentual alto de rejeição aos candidatos nos quatro cantos do País, estimulada pela sucessão de escândalos, é baixa a reação aos nomes que, até agora, aparecem como pré-candidatos ao governo de Minas (tabela na edição impressa).
"É quase um caso de amor", brinca Ricardo Guedes, diretor da Sensus.
A pesquisa, realizada por ele em 19 de fevereiro, mostra que mesmo o nome de mais alto porcentual de rejeição na coluna "Não votaria" é pouco superior a 23%.

Rejeição e simpatia II
Tecnicamente, rejeição de até 35% significa que os candidatos estão dentro do jogo político.
"Isto traduz eleição aberta, em que o eleitor aceita a política como representativa de seus interesses. Estados onde rejeições passam de 40% há, em geral, pouca aceitação dos políticos", explica Guedes.
A diferença é que, no primeiro caso, o eleitor escolhe o melhor, no segundo, o "menos pior".

Rejeição e simpatia III
A tabela da pesquisa Sensus também mostra o prestígio do vice-presidente José Alencar no estado onde nasceu e se projetou como empresário.Alencar é um candidato potencial ao governo de Minas Gerais.
Opção de Lula, por razões de coração e de estratégia político-eleitoral.

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Mandona
A Dilma o que é de Dilma

Pouco importa se a ministra Dilma Rousseff, em razão de sua candidatura à Presidência, seja vista como durona.

A oposição tenta colar essa imagem em Dilma e, com isso, causa preocupações entre alguns petistas. Não foi por acaso que Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, do núcleo de coordenação da campanha da ministra, disse que Dilma "deve ser como é", sem negar a fama de durona.

Na cultura machista, discriminadora, qualquer mulher que sair da sombra e ascender profissionalmente tem de ser durona, uma "igual", para se ajustar ao imaginário atrofiado dos homens.

Ao saudar Dilma no Congresso do PT, o presidente Lula disse, sobre ela, que ser "estatizante" e "durona" é "virtude", e não "defeito". É melhor mesmo não distanciar a candidata da ministra. Ela é quem ela é.

O marqueteiro que tenta fazer o político se tornar campeão da simpatia, às vésperas da eleição, deve meditar sobre um alerta do escritor Rabelais, expressão: "O diabo quis ser monge, logo depois ficou bom e voltou a ser diabo".

Retocar a imagem enérgica e valente de Dilma é falsificação de identidade.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Devido à falta de Panetone, Zezinho distribui cheques – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/02/13/devido-a-falta-de-panetone-zezinho-distribui-cheques/

Nem leis, nem justiça – por José Saramago

Em Portugal, na aldeia medieval de Monsaraz, há um fresco alegórico dos finais do século XV que representa o Bom Juiz e o Mau Juiz, o primeiro com uma expressão grave e digna no rosto e segurando na mão a recta vara da justiça, o segundo com duas caras e a vara da justiça quebrada. Por não se sabe que razões, estas pinturas estiveram escondidas por um tabique de tijolos durante séculos e só em 1958 puderam ver a luz do dia e ser apreciadas pelos amantes da arte e da justiça. Da justiça, digo bem, porque a lição cívica que essas antigas figuras nos transmitem é clara e ilustrativa. Há juízes bons e justos a quem se agradece que existam, há outros que, proclamando-se a si mesmos justos, de bons pouco têm, e, finalmente, não são só injustos como, por outras palavras, à luz dos mais simples critérios éticos, não são boa gente. Nunca houve uma idade de ouro para a justiça.
Hoje, nem ouro, nem prata, vivemos no tempo do chumbo. Que o diga o juiz Baltasar Garzón que, vítima do despeito de alguns dos seus pares demasiado complacentes com o fascismo sobrevivo ao mando da Falange Espanhola e dos seus apaniguados, vive sob a ameaça de uma inabilitação de entre doze e dezasseis anos que liquidaria definitivamente a sua carreira de magistrado. O mesmo Baltasar Garzón que, não sendo desportista de elite, não sendo ciclista nem jogador de futebol ou tenista, tornou universalmente conhecido e respeitado o nome de Espanha. O mesmo Baltasar Garzón que fez nascer na consciência dos espanhóis a necessidade de uma Lei da Memória Histórica e que, ao abrigo dela, pretendeu investigar não só os crimes do franquismo como os de outras partes do conflito. O mesmo corajoso e honesto Baltasar Garzón que se atreveu a processar Augusto Pinochet, dando à justiça de países como Argentina e Chile um exemplo de dignidade que logo veio a ser seguido. Invoca-se aqui a Lei da Amnistia para justificar a perseguição a Baltasar Garzón, mas, em minha opinião de cidadão comum, a Lei da Amnistia foi uma maneira hipócrita de tentar virar a página, equiparando as vítimas aos seus verdugos, em nome de um igualmente hipócrita perdão geral. Mas a página, ao contrário do que pensam os inimigos de Baltasar Garzón, não se deixará virar. Faltando Baltasar Garzón, supondo que se chegará a esse ponto, será a consciência da parte mais sã da sociedade espanhola que exigirá a revogação da Lei da Amnistia e o prosseguimento das investigações que permitirão pôr a verdade no lugar onde ela tem faltado. Não com leis que são viciosamente desprezadas e mal interpretadas, não com uma justiça que é ofendida todos os dias. O destino do juiz Baltasar Garzón é nas mãos do povo espanhol que está, não dos maus juízes que um anónimo pintor português retratou no século XV.

Bento XVI inicia beatificação do Gov. Zezinho – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/02/02/bento-xvi-inicia-beatificacao-do-gov-zezinho/

Quantos Haitis? – por José Saramago

No Dia de Todos os Santos de 1755 Lisboa foi Haiti. A terra tremeu quando faltavam poucos minutos para as dez da manhã. As igrejas estavam repletas de fiéis, os sermões e as missas no auge… Depois do primeiro abalo, cuja magnitude os geólogos calculam hoje ter atingido o grau 9 na escala de Richter, as réplicas, também elas de grande potência destrutiva, prolongaram-se pela eternidade de duas horas e meia, deixando 85% das construções da cidade reduzidas a escombros. Segundo testemunhos da época, a altura da vaga do tsunami resultante do sismo foi de vinte metros, causando 600 vítimas mortais entre a multidão que havia sido atraída pelo insólito espectáculo do fundo do rio juncado de destroços dos navios ali afundados ao longo do tempo. Os incêndios durariam cinco dias. Os grandes edifícios, palácios, conventos, recheados de riquezas artísticas, bibliotecas, galerias de pinturas, o teatro da ópera recentemente inaugurado, que, melhor ou pior, haviam aguentado os primeiros embates do terramoto, foram devorados pelo fogo. Dos 275 mil habitantes que Lisboa tinha então, crê-se que morreram 90 mil. Conta-se que à pergunta inevitável “E agora, que fazer?”, o secretário de Estrangeiros Sebastião José de Carvalho e Melo, que mais tarde viria a ser nomeado primeiro-ministro, teria respondido “Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”. Estas palavras, que logo entraram na História, foram efectivamente pronunciadas, mas não por ele. Disse-as um oficial superior do exército, desta maneira espoliado do seu haver, como tantas vezes acontece, em favor de alguém mais poderoso.
A enterrar os seus cento e vinte mil ou mais mortos anda agora o Haiti, enquanto a comunidade internacional se esforça por acudir aos vivos, no meio do caos e da desorganização múltipla de um país que mesmo antes do sismo, desde gerações, já se encontrava em estado de catástrofe lenta, de calamidade permanente. Lisboa foi reconstruída, o Haiti também o será. A questão, no que toca ao Haiti, reside em como se há-de reconstruir eficazmente a comunidade do seu povo, reduzido não só à mais extrema das pobrezas como historicamente alheio a um sentimento de consciência nacional que lhe permitisse alcançar por si mesmo, com tempo e com trabalho, um grau razoável de homogeneidade social. De todo o mundo, de distintas proveniências, milhões e milhões de euros e de dólares estão sendo encaminhados para o Haiti. Os abastecimentos começaram a chegar a uma ilha onde tudo faltava, fosse porque se perdeu no terramoto, fosse porque nunca lá existiu. Como por acção de uma divindade particular, os bairros ricos, em comparação com o resto da cidade de Porto Príncipe, foram pouco afectados pelo sismo. Diz-se, e à vista do que aconteceu no Haiti parece certo, que os desígnios de Deus são inescrutáveis. Em Lisboa as orações dos fiéis não puderam impedir que o tecto e e os muros das igrejas lhes caíssem em cima e os esmagassem. No Haiti, nem mesmo a simples gratidão por haverem salvo vidas e bens sem nada terem feito para isso, moveu os corações dos ricos a acudir à desgraça de milhões de homens e mulheres que não podem sequer presumir do nome unificador de compatriotas porque pertencem ao mais ínfimo da escala social, aos não-ser, aos vivos que sempre estiveram mortos porque a vida plena lhes foi negada, escravos que foram de senhores, escravos que são da necessidade. Não há notícia de que um único haitiano rico tenha aberto os cordões ou aliviado as suas contas bancárias para socorrer os sinistrados. O coração do rico é a chave do seu cofre-forte.
Haverá outros terramotos, outras inundações, outras catástrofes dessas a que chamamos naturais. Temos aí o aquecimento global com as suas secas e as suas inundações, as emissões de CO2 que só forçados pela opinião pública os governos se resignarão a reduzir, e talvez tenhamos já no horizonte algo em que parece ninguém querer pensar, a possibilidade de uma coincidência dos fenómenos causados pelo aquecimento com a aproximação de uma nova era glacial que cobriria de gelo metade da Europa e agora estaria dando os primeiros e ainda benignos sinais. Não será para amanhã, podemos viver e morrer tranquilos. Mas, di-lo quem sabe, as sete eras glaciais por que o planeta passou até hoje não foram as únicas, outras haverá. Entretanto, olhemos para este Haiti e para os outros mil Haitis que existem no mundo, não só para aqueles que praticamente estão sentados em cima de instáveis falhas tectónicas para as quais não se vê solução possível, mas também para os que vivem no fio da navalha da fome, da falta de assistência sanitária, da ausência de uma instrução pública satisfatória, onde os factores propícios ao desenvolvimento são praticamente nulos e os conflitos armados, as guerras entre etnias separadas por diferenças religiosas ou por rancores históricos cuja origem acabou por se perder da memória em muitos casos, mas que os interesses de agora se obstinam em alimentar. O antigo colonialismo não desapareceu, multiplicou-se numa diversidade de versões locais, e não são poucos os casos em que os seus herdeiros imediatos foram as próprias elites locais, antigos guerrilheiros transformados em novos exploradores do seu povo, a mesma cobiça, a crueldade de sempre. Esses são os Haitis que há que salvar. Há quem diga que a crise económica veio corrigir o rumo suicida da humanidade. Não estou muito certo disso, mas ao menos que a lição do Haiti possa aproveitar-nos a todos. Os mortos de Porto Príncipe foram fazer companhia aos mortos de Lisboa. Já não podemos fazer nada por eles. Agora, como sempre, a nossa obrigação é cuidar dos vivos.

Governo de SP lança metrô subaquático – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/02/04/governo-de-sp-lanca-metro-subaquatico/

Ainda o plebiscito – por Marcos Coimbra (Jornal Estado de Minas)

Goste-se ou não de Lula, é preciso reconhecer que o que ele está propondo é um novo modelo de eleição, que só é possível agora. Hoje, depois de oito anos de PT no governo, pode-se fazer a comparação entre ele e o PSDB
À medida que a eleição presidencial vai se aproximando, fica mais claro o projeto de Lula para vencê-la. A menos de 8 meses de sua realização, é mais fácil (talvez até para o próprio presidente) entender onde ele quer chegar.
A ideia de fazer da eleição de 2010 um plebiscito foi explicitada por Lula ainda em 2007, quando anunciou que queria que nela o eleitorado comparasse seu governo ao de Fernando Henrique. Quem achasse que seus oito anos foram melhores, que votasse na candidatura governista. Quem preferisse os de seu antecessor, na oposição.
A bipolaridade que é premissa desse projeto não foi inventada por Lula. De um lado, é assim que o sistema partidário brasileiro se estruturou nos últimos anos. De outro, o processo político concreto que vivemos sinalizou desde muito cedo que as de 2010 repetiriam o padrão.
A todos sempre pareceu que o cenário mais provável seria uma nova confrontação PT-PSDB, apenas havendo dúvida se logo no primeiro turno ou no segundo. A candidatura situacionista esteve em disputa, pois Ciro Gomes reunia intenções de voto suficientes para permanecer como alternativa aos nomes do PT, nenhum com boa largada nas pesquisas. Mas as perspectivas de crescimento de quem quer que fosse o candidato do PT eram maiores.
Tampouco surgiu opção ao PSDB no campo oposicionista. Dos partidos que remanesceram com ele, o DEM seria o único que poderia pensar em um nome, mas nunca se movimentou nessa direção e hoje nem poderia mais pensar no assunto. Seria, portanto, tucana a candidatura, e apenas uma. Quanto a quem, tudo apontava para Serra, mesmo enquanto Aécio permaneceu na disputa.
Para Lula, o fato de as oposições só terem um nome sugeria uma decisão em primeiro turno, que se tornou mais possível quando Marina, depois de provocar algum alvoroço no lançamento de sua candidatura, estacionou nas pesquisas. Não seria muito diferente com qualquer nome tucano, mas Serra facilitava o confronto plebiscitário. Se Aécio fosse candidato, seria mais complicado propor a comparação com FHC, pois o governador de São Paulo integrou o governo passado e foi adversário do próprio Lula em 2002.
Mas qual seria o conteúdo do plebiscito? Ninguém melhor que Lula sabia que não seria apenas uma briga de números, a respeito de indicadores de desempenho governamental. Nem no Brasil, nem em qualquer lugar do mundo se vencem eleições assim.
Outra coisa que o plebiscito não poderia ser seria uma escolha entre Lula e FHC, para que os eleitores dissessem de quem gostam mais. A resposta a essa pergunta já é conhecida e o vencedor é o atual presidente. Não bastassem as comparações da aprovação de ambos, várias pesquisas pediram às pessoas que fizessem a comparação direta: Lula sempre ficou na frente, com larga vantagem.
O relevante, contudo, é que essa escolha não conduz ao voto em Dilma, pois é perfeitamente possível que alguém prefira Lula e ache que Serra é melhor candidato. Não é esse plebiscito, portanto, que o presidente busca.
Goste-se ou não de Lula, é preciso reconhecer que o que ele está propondo é um novo modelo de eleição, que só é possível agora. Hoje, depois de oito anos de PT no governo, pode-se fazer a comparação entre ele e o PSDB, não em torno de nomes ou pessoas, mas do que cada “lado” representa. De fazer um balanço das coisas em que cada um acertou e errou quando teve a oportunidade de liderar uma coalizão para governar e pôr em prática suas propostas e sua visão para o Brasil.
Usando as palavras que ele usaria, o plebiscito que Lula quer não é entre ele e FHC, mas entre o que “nós” (o PT) somos e fazemos e “eles” (o PSDB) são e fazem. Se acontecer como ele pensa, seria a primeira eleição genuinamente partidária de nossa história política, em vez das disputas personalistas que sempre tivemos.
Não importa quem vença. O importante é que teremos, de um lado, um bom e legítimo candidato do PSDB (paulista, ex-intelectual, integrante do governo FHC) e, de outro, uma boa e legítima candidata do PT (técnica do setor público, ex-militante de esquerda, integrante do governo Lula). Sem a combinação de ilusão e medo (como a que deu a vitória a Collor), sem mágicas (como a do Real, que elegeu Fernando Henrique), sem carismas (como o de Lula).
Não era isso que queríamos, uma política em que os partidos são mais importantes que as pessoas?

Comentário:
Apesar de eu ter algumas discordâncias do texto (não acho um dos candidatos bom, muito ao contrário), não deixa de ser salutar se tal visão mostrar-se correta, da próxima eleição ser menos personalista.
Com restrição observo a afunilação em apenas dois grandes partidos. Acredito que tal execução seja um desastre anunciado, como bem demonstra a política estadunidense, que apesar de possuir muitos partidos, só dois possuem de fato importância - e calha que são iguais. Demasiadamente iguais.

Subprefeita da Lapa posa nua e Gov. Zezinho fica furioso – por Tia Carmela e o Zezinho

http://byebyeserra.wordpress.com/2010/02/08/subprefeita-da-lapa-posa-nua-e-gov-zezinho-fica-furioso/

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Eletronet: o lobby foi da Folha - por Luis Nassif

Fecha-se o circuito de um dos grandes lobbies montados recentemente pela mídia.
Acompanhe:

1. A Folha, através do repórter Marcos Aith, traz a manchete bombástica de que um cliente de José Dirceu, Nelson dos Santos – sócio da massa falida da Eletronet – iria receber R$ 200 milhões do governo, caso saísse o Plano Nacional de Banda Larga, em cima da rede de fibras óticas da empresa – que o governo já tinha pegado de volta, sem nada pagar. Atribuiu a operação – que, segundo Aith, beneficiaria Nelson – ao lobby de José Dirceu.

2. No mesmo dia, aqui, se desmontou essa tese. Mostrou-se que, na verdade, governo e Nelson estavam em lados opostos. O governo retirando a rede da Eletronet, sem nada pagar; e Nelson querendo manter o controle da empresa.

3. A matéria era maliciosa e relacionava a caução que o governo teve que depositar no processo movido pelos credores (para poder ficar com a rede de fibras óticas) com os supostos benefícios ao Nelson. Ora, a ação era de credores querendo receber pelo que entregaram, não dos ex-acionistas. De que modo Nelson ganharia R$ 200 milhões? A matéria não explicava. E foi duramente cobrado do Aith, aqui, que mostrasse de que forma se daria o pagamento.

4. No dia seguinte, mudou totalmente o enfoque da matéria – mas sempre colocando a União como cúmplice do Nelson. Agora – na matéria do Aith – a Oi estava querendo adquirir as dívidas dos credores para poder assumir a rede da Eletronet. Do que se aproveitou Aith/Folha para relembrar o caso BrOi, Gamecorp, a assessoria do José Dirceu etc. A matéria foi abatida em pleno vôo por outra – esta, séria – do Estadão, informando que Nelson ganharia R$ 70 milhões, mas só na hipótese da Oi entrar. E a Oi não entrou justamente porque foi barrada pela Eletrobras, em função do PNBL. Ou seja, quem gorou a aventura do Nelson (que assumiu 51% da Eletronet por R$ 1,00) foi o PNBL – o oposto do que Aith/Folha falava. Nelson só ganharia se o plano gorasse.

5. Durante dois dias seguidos, Aith/Folha ficaram com a broxa na mão. Afinal, iriam deixar passar batido a barriga ou abririam as cartas sobre as fontes da informação.

Sem alternativa, na matéria de hoje Aith abre as cartas: a fonte da tal matéria era o próprio Nelson dos Santos.

O empresário diz que a autofalência da Eletronet não é culpa dos sócios privados. “O pedido de autofalência foi feito pela Lightpar [que representa o governo na empresa] e não pela AES [sócia majoritária na época]“, disse Santos à Folha antes da publicação da reportagem.

Aí, o leitor mais desavisado perguntaria: mas a troco de quê o próprio Nelson faria uma denúncia sobre uma operação (o PNBL) que, segundo a própria matéria, o beneficiaria? Mania de suicídio?

Qualquer repórter iniciante, mais que isso, qualquer pessoa medianamente inteligente e intelectualmente honesta se perguntaria porque uma fonte estaria lhe passando informações denunciando uma operação da qual supostamente ela seria beneficiária. Aith não é ingênuo, não é novato e não é despreparado. Mesmo assim, não perguntou.

Não há hipótese de Aith/Folha não saberem que as informações vindas de Nelson dos Santos se destinavam a melar o PNBL. E, sendo assim, seria impossível que o PNBL beneficiasse Nelson e a Eletronet. Então por que insistiram nesse falso escândalo? Aliás, pela própria declaração de Nelson – só agora revelada por Aith – se constata que o repórter já sabia das pendências entre governo e Eletronet antes de saírem as denúncias. Estava informado sobre o imbróglio jurídico e sobre a maneira como a lógica do PNBL contrariava os interesses de Nelson. E reportou justamente o contrário, fazendo o jogo da fonte.

A lógica final é simples.

1. Nelson só receberia R$ 70 milhões se não saísse o PNBL e ele pudesse negociar a Eletronet com as teles. Nesse caso, a candidata pagaria os credores (no lugar do governo pagar), a empresa sairia da falência e ele receberia R$ 70 milhões pela venda.

2. A única arma que ele tinha eram os recibos de pagamentos ao José Dirceu. A maneira que encontrou para torpedear o PNBL foi pegar os recibos do que pagou a José Dirceu, chamar o notório Aith e combinar uma matéria que diria que o pagamento foi para viabilizar o PNBL e beneficiar a ele, Nelson. Com essa jogada primária, pretendia inviablizar o PNBL e depois sair com a história de que o setor privado resolveu o problema, pagando as dívidas da Eletronet em lugar de gastar dinheiro público. E, aí, embolsaria algo entre R$ 70 milhões e R$ 200 milhões, pagos pela compradora.

A última matéria de Aith, em que a trama é deslindada, porque obrigado a abrir a fonte, é um fecho clássico para uma das grandes manobras de lobby contemporâneo.

Segundo a última matéria de Aith, o lançamento do PNBL inviabiliza a Eletronet. Mas poderá beneficiá-la, «caso o governo mude de ideia». Ora, quem pretendia fazer o governo “mudar de ideia”? O escândalo bancado pela Folha.

Agora, o governo sinaliza que não precisará mais da Eletronet, já que as fibras foram transferidas. Mas, segundo os advogados envolvidos no processo, no estatuto da Eletronet está definido que ela será a única gestora da rede por mais 11 anos. Caso o governo mude de ideia, os sócios privados terão de ser indenizados, incluindo Nelson dos Santos.

Mudar de ideia, significa manter a Eletronet como espinha dorsal – algo que o Nelson quer e o governo não quer:

Outro cenário é o de que a controvérsia pela posse das fibras seja resolvida e o governo mantenha a Eletronet como “espinha dorsal” do PNBL.

Nesse caso, a Eletronet, saneada, aumentaria sua receita e faria crescer a participação de Santos. Hoje ela não tem valor, mas, diz Santos, pode passar de R$ 200 milhões caso seja reativada com a Telebrás.

Ou seja, Nelson ganharia de R$ 70 milhões a R$ 200 milhões se o lobby da Folha fosse bem sucedido, as informações distorcidas melassem o PNBL e a Eletronet pudesse ou ser negociada com o setor privada ou ser aproveitada para o plano – a empresa inteira (como pretende o Nelson) e não apenas a rede de fibras óticas (como planeja o PNBL).

Há um agravante. Antes de sair essa matéria, o jornal soltou outro factóide contra a Telebras, acusando um twitteiro de ter vazado a informação – que já era de amplo conhecimento geral – de que o governo iria ressuscitar a Telebrás. É evidente que foi um preparativo para o lobby final de melar o modelo Telebrás, abrindo espaço para a manutenção da Eletronet.

E por que, afinal, Aith/Folha teriam bombardeado a Oi, se ela poderia ser uma futura compradora? Porque, segundo a matéria do Estadão, a venda para a Oi renderia R$ 70 milhões a Nelson. Mas havia outro comprador disposto a pagar os R$ 200 milhões. Aliás, finalmente se descobre de onde sairiam os R$ 200 milhões para o Nelson. Sairiam se o lobby tivesse dado certo e a Eletronet fosse reativada com a Telebras – o que só ocorreria se o PNBL fosse para o espaço.

Hoje ela não tem valor, mas, diz Santos, pode passar de R$ 200 milhões caso seja reativada com a Telebrás.

Em jogo, portanto, de R$ 70 a R$ 200 milhões.

Aliás, não há mais o menor motivo para que Dirceu não revele os termos do contrato firmado com Nelson. Alegou sigilo contratual. Agora, está provado que quem vazou as notas de pagamento a Dirceu foi o próprio Nelson. Então, o acordo de confidencialidade foi quebrado unilateralmente.

É um bom momento para Dirceu colocar a história das suas assessorias em prato limpo.


Folha joga sujo para atacar plano de banda larga do governo e me atingir - por Zé Dirceu (em seu blog)

Fui surpreendido hoje com a manchete de 1ª página da Folha de S.Paulo (“Nova Telebrás beneficia cliente de Dirceu”), extraída da reportagem “Dirceu recebe de empresa por trás da Telebrás”, preparada sob encomenda para atingir dois objetivos:

1) atacar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) do governo federal;

2) levantar suspeitas sobre minha participação em uma disputa que corre na Justiça do Rio de Janeiro, entre os credores da empresa Eletronet, seus sócios privados e o governo, pelo controle do ativo de 16 mil km de fibras ópticas.

Uma disputa, repito, judicial, sobre a qual nem eu nem qualquer cidadão tem condições de interferir. Exista ou não o PNBL e a reorganização da Telebrás, os credores, os proprietários da Eletronet e o governo federal terão que responder pelos passivos e ativos da Eletronet. E cada um poderá ser prejudicado ou beneficiado.

Há que se lembrar que já existe liminar favorável ao governo, concedida pela Justiça do Rio determinando a reintegração de posse de parte dos ativos da Eletronet (as fibras “apagadas” ou não utilizadas atualmente) a empresas do grupo Eletrobrás. Logo, sugerir que minha atuação na consultoria que dei sobre rumos da economia na América Latina tenha algo a ver com uma possível decisão que não cabe ao governo, mas ao Poder Judiciário, é uma ilação descabida e irresponsável do jornal.

Ligar meu nome ao PNBL e a um suposto favorecimento de um dos proprietários da Eletronet apenas porque dei consultoria a ele é típico da Folha, que já vinha atacando o Plano com a teoria conspiratória de que o vazamento de informações privilegiadas sobre ele tem feito subir os preços das ações da Telebrás. O jornal já vinha insinuando que haveria cumplicidade de ONGs e mesmo de membros do governo.

Agora me acusa de estar por trás da criação da Telebrás e, pior, favorecendo uma empresa privada para a qual dei consultoria legal e registrada em contrato. Saí do governo há quase cinco anos. Não tenho impedimento para dar consultorias e não há nada que me ligue a qualquer intervenção ou ação do Executivo federal. Os responsáveis pela ação judicial e pelo PNBL são testemunhas de minha não participação ou intervenção na definição da política da União.

Como em todas as questões importantes do país, manifesto minha posição publicamente em meu blog ou na imprensa. A Folha esconde que meu primeiro comentário no blog é uma reprodução de um post de um site especializado e que o segundo é um artigo de opinião, que não contém nada de comprometedor. Mais do que isso, a Folha finge não entender que minhas opiniões manifestadas no blog e no artigo são contrárias aos interesses das empresas privadas envolvidas no caso Eletronet, e favoráveis à política do governo.

Lamento mais uma vez que meu nome seja envolvido em suspeições e reservo-me o direito de me defender e de não recuar de minha atuação, seja como advogado, seja como militante político.


Comentário: o governo enfrenta uma batalha judicial contra um empresário. A imprensa gorda brasileira consegue afirmar que o governo quer beneficiar o empresário, dando-lhe de bandeja 200 milhões de reais. É o avesso do avesso, como diz um ex-poeta.
Isto é Brasil.