A propósito da reportagem de capa desta edição, que discute o papel do Estado, vale acrescentar um capítulo de última hora: os resultados do Banco do Brasil em 2009. Na quinta-feira 25, o BB anunciou lucro de 10,15 bilhões de reais, até o momento o maior já registrado na história do sistema financeiro nacional. Os ganhos cresceram 15,3% em relação a 2008 e foram impulsionados, segundo a instituição, principalmente pelo aumento das operações de crédito.
Mais uma vez a realidade desmente os dogmáticos do liberalismo, em especial os encastelados nas colunas econômicas dos principais jornais brasileiros. Desde a substituição de Antônio Lima Neto por Aldemir Bendine na presidência do BB, em abril do ano passado, essa turma vaticina um futuro sombrio para o banco público. No instante da troca, denunciaram a "intervenção política" e o "aparelhamento" da instituição. Como se sabe, a linha predominante do pensamento liberal nestes tristes trópicos tem pendores pela mistificação e o uso abusivo de clichês. As ações do banco vão despencar, diziam, pois o "mercado" vai perceber a politização. Fiasco. Os papéis do BB andaram em sentido contrário e apresentaram boa valorização.
Em seguida, quando Bendine, por determinação do governo, anunciou uma política agressiva para ampliar a carteira de crédito do banco e tentar conter a seca de financiamento na praça, o mesmo pessoal horrorizou-se: vão quebrar a instituição e criar uma bolha semelhante à que vitimou o setor imobiliário dos Estados Unidos. Os resultados divulgados na quinta 25 outra vez mostraram que os tais analistas entendem tanto do riscado quanto a turma do amendoim que atazana os técnicos do Palmeiras no Palestra Itália. O BB não só foi fundamental para que a economia brasileira sentisse em menor grau os efeitos da crise internacional como sua estratégia, na contramão do resto do setor financeiro, revelou-se lucrativa.
Os ataques à política do BB é uma boa medida de como se dará o debate eleitoral neste ano. Os dogmáticos, como sempre, consideram-se portadores de uma verdade divina e natural. Estranhamente acusam de "ideológicos" os que se dedicam a apenas observar a realidade, numa inversão total de valores. E a realidade indica que bancos públicos e privados fortes, transparentes e em ambiente saudável de competição, tornam o sistema mais virtuoso.
Dependesse desses legionários da boa-fé liberal, o BB, a Caixa e a Petrobras já teriam sido leiloados a preço de banana. Fica a pergunta: com quais instrumentos o Brasil teria enfrentado a crise?
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