sábado, 27 de fevereiro de 2010

Os enxadristas – por Mauricio Dias (CartaCapital)

Lula e Aécio fazem um debate político mais sutil, à margem da artilharia pesada disparada por atores coadjuvantes da pré-campanha presidencial. No caso dessa disputa, a imagem surrada de peças se movendo em um tabuleiro de xadrez cai como luva. Vejamos.

Em mais de uma ocasião, entre 2007 e 2008, o presidente da República provocou o governador de Minas Gerais. Sugeriu a ele que abandonasse o PSDB e se filiasse ao PMDB, para viabilizar-se como candidato à sucessão presidencial de 2010. A última vez que falaram sobre isso foi em Belo Horizonte, na sala de estar do Palácio das Mangabeiras.

Aécio recusou, embora em alguns momentos tenha chegado a pensar na hipótese. Esbarrou em vários obstáculos. Um deles é a instabilidade do PMDB mineiro, que ainda sofre, ou sofria, na ocasião, uma influência considerável do ex-governador Newton Cardoso.

Mas será que Lula pretendia mesmo criar uma cobra que pudesse picá-lo? Claro que não. Ao contrário. O metalúrgico-enxadrista tentava plantar um aliado no terreiro do PMDB, parceiro inevitável da campanha de 2010. A chapa Dilma e Aécio não seria insuperável eleitoralmente?
Foi um lance não concluído, mas de preparação espetacular. Posteriormente, o presidente sacou da manga o nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, hoje filiado ao PMDB. Meirelles é uma peça a mais nesse tabuleiro. Aécio preferiu arriscar-se como aspirante a candidato no próprio ninho tucano. Perdeu. O risco, no entanto, era calculado. Para onde se deslocará o eixo de poder no PSDB se o governador Serra candidatar-se e for derrotado? O comando da oposição cairá nas mãos de Aécio e ele se firmará como alternativa insuperável para a eleição de 2014. A idade permite a ele mover-se com mais tempo.

Um adendo ao parágrafo acima: Aécio ainda pode ser procurado no sítio da família em Cláudio, para onde, às vezes, retira-se para descansos. O avô dele, Tancredo, também saía da cena política e ia para lá. Essa pequena cidade no Oeste de Minas é conhecida como a "cidade dos apelidos". Ela própria talvez venha a ser chamada de Colombey-les-Deux-Églises, onde os franceses foram pedir a Charles De Gaulle para voltar e salvar a pátria. Os tucanos irão atrás dele para salvar o PSDB? Aécio Neves já fez pilhéria com essa metáfora política.

Mas ele também poderá voltar à disputa presidencial como vice de Serra? O governador mineiro teria, sem dúvida, muitas chances de aumentar a possibilidade de vitória do governador paulista.

Por receio desse movimento de Aécio, o presidente Lula fez um lance arriscado, surpreendente e, mais uma vez, brilhante. Fez uma mexida inesperada com uma peça não prevista. Lançou o vice-presidente José Alencar como alternativa para disputar o governo de Minas. O nome emblemático de Alencar deve ter abalado o governador, que tem a tarefa de garantir, com a enorme popularidade que tem no estado, a eleição do vice-governador dele, Antonio Anastasia. A partida não terminou. Mas também nem todos os lances desse jogo terão sequência imediata. O resultado da partida, para Lula e Aécio, transcende 2010.

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Andante Mosso

"Virgilizmo"?
O senador tucano Arthur Virgílio vai para o 11º ano consecutivo como líder do PSDB.
Ele assumiu a função em 1999, o mesmo ano em que Hugo Chávez chegou à Presidência da Venezuela.
O pau que dá em Chávez não funciona para ele mesmo?

Ordem unida
Manchetes dos três principais jornais brasileiros no sábado, 20 de fevereiro.
– Petistas decidem radicalizar projeto de governo de Dilma
(O Estado de S. Paulo)
– PT apresenta programa mais radical para Dilma
(Folha de S.Paulo)
– PT aprova programa radical para a campanha de Dilma
(O Globo)
Isso é para assustar os leitores. Nas propostas do PT, é possível colher algumas bobagens políticas, mas não há nada fora das regras democráticas.

Contaminação
O procurador-geral do governo Arruda, no Distrito Federal, é Marcelo Galvão.
Filho do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Ilmar Galvão, o procurador é um dos seis nomes enviados pela OAB para ocupar a vaga de ministro do Superior Tribunal de Justiça.
Marcelo e os demais cinco indicados foram rejeitados pelos ministros do STJ. A OAB terá de fazer uma nova lista.

Tiro no pé
Por iniciativa da Assembleia Legislativa do Amazonas, o Tribunal Superior Eleitoral vai rediscutir o critério de distribuição de vagas para a Câmara dos Deputados.
Prevalece hoje a representação que expressa a população dividida por 513, que é a composição da Câmara, com o mínimo de 8 e o máximo de 70 parlamentares.
A discussão sobre as distorções na representação é recorrente.
Mas estabelecer o critério matemático como razão absoluta tem problemas. O deputado Flavio Dino (PCdoB) lembra que São Paulo, hoje com 70 deputados, poderia chegar a 140 e, com esse número, acabar com a Zona Franca de Manaus, de onde parte a iniciativa do debate.

Será a Benedita?
A reunião do novo Diretório Nacional do PT, marcada para o dia 5, tem um abacaxi para descascar.
Decidirá se a escolha do candidato do partido ao Senado, no Rio, será feita por meio de prévias, por 130 mil filiados, ou se por 400 delegados da convenção.
A definição estabelecerá a vaga disputada pela ex-senadora Benedita da Silva, mais forte nas prévias, e pelo prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, favorito na convenção.
O estatuto, já contestado nesse ponto, indica prévias para cargos majoritários.

Rejeição e simpatia I
Na contramão do porcentual alto de rejeição aos candidatos nos quatro cantos do País, estimulada pela sucessão de escândalos, é baixa a reação aos nomes que, até agora, aparecem como pré-candidatos ao governo de Minas (tabela na edição impressa).
"É quase um caso de amor", brinca Ricardo Guedes, diretor da Sensus.
A pesquisa, realizada por ele em 19 de fevereiro, mostra que mesmo o nome de mais alto porcentual de rejeição na coluna "Não votaria" é pouco superior a 23%.

Rejeição e simpatia II
Tecnicamente, rejeição de até 35% significa que os candidatos estão dentro do jogo político.
"Isto traduz eleição aberta, em que o eleitor aceita a política como representativa de seus interesses. Estados onde rejeições passam de 40% há, em geral, pouca aceitação dos políticos", explica Guedes.
A diferença é que, no primeiro caso, o eleitor escolhe o melhor, no segundo, o "menos pior".

Rejeição e simpatia III
A tabela da pesquisa Sensus também mostra o prestígio do vice-presidente José Alencar no estado onde nasceu e se projetou como empresário.Alencar é um candidato potencial ao governo de Minas Gerais.
Opção de Lula, por razões de coração e de estratégia político-eleitoral.

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Mandona
A Dilma o que é de Dilma

Pouco importa se a ministra Dilma Rousseff, em razão de sua candidatura à Presidência, seja vista como durona.

A oposição tenta colar essa imagem em Dilma e, com isso, causa preocupações entre alguns petistas. Não foi por acaso que Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, do núcleo de coordenação da campanha da ministra, disse que Dilma "deve ser como é", sem negar a fama de durona.

Na cultura machista, discriminadora, qualquer mulher que sair da sombra e ascender profissionalmente tem de ser durona, uma "igual", para se ajustar ao imaginário atrofiado dos homens.

Ao saudar Dilma no Congresso do PT, o presidente Lula disse, sobre ela, que ser "estatizante" e "durona" é "virtude", e não "defeito". É melhor mesmo não distanciar a candidata da ministra. Ela é quem ela é.

O marqueteiro que tenta fazer o político se tornar campeão da simpatia, às vésperas da eleição, deve meditar sobre um alerta do escritor Rabelais, expressão: "O diabo quis ser monge, logo depois ficou bom e voltou a ser diabo".

Retocar a imagem enérgica e valente de Dilma é falsificação de identidade.

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