Nassif
Creio que o imbroglio está chegando ao fim. Não importa, para mim pelo menos, se a Justiça prenderá ou não o Daniel Dantas e sua camarilha. Pelo que conheço de nosso querido Brasil - e até de outros países ditos mais desenvolvidos - ninguém irá para a cadeia por crimes “limpos”. Talvez apenas e tão somente o Delegado Protógenes que, por ter curso superior e ser Delegado (não se esqueça do significado da palavra - tem delegação Federal) tem direito a prisão especial, etc e tal. O fato inegável é que a sujeira está vindo à tona e mancha reputações, atinge inapelavelmente a grande mídia e seus jornalistas mais famosos, políticos e juízes, ministros e presidentes. Isso não tem mais volta! Nunca mais a Veja, a Folha, e outros jornalões serão os mesmos, nunca mais a internet e seus blogs deixarão de ocupar o espaço perdido por esses meios de comunicação impressos. Foi com muita pena que fui deixando de assinar a Veja e a Folha, já há algum tempo. Foram anos de convivência, às vezes até por mais anos de que meus casamentos!
É impressionante como uma pessoa, até pelo seu lado negro, invertido, pode causar mudanças tão profundas numa sociedade, como está acontecendo com Daniel Dantas e o Brasil. Acho que temos que bater no fundo do poço de lama para que de lá saiamos mais limpos. “Fundo de poço de elevador tem mola”, dizia uma grande amiga, parafraseando seu analista. Tomara que nosso fundo de poço também tenha.
Tinha que ser eleito presidente, primeiro, um sociólogo, professor da USP e da Sorbonne, cheio de distinções, de mestrados, doutorados e pós-doutorados e exilado pela ditadura; tinha que ser eleito depois um operário nordestino, um legítimo representante dos migrantes, dos ‘bahianos” para os paulistas, dos “paraibas” para os cariocas, sem distinções nem curso superior e ex-preso político e vítima de toda espécie de preconceitos.
Tinha que ter acontecido a privataria “no limite da irresponsabilidade”, a emenda da reeleição comprada por duzentos dinheiros cada voto; tinha que ter acontecido o “valerioduto” inventado pelo seminarista tucano Azeredo e que envolveu absolutamente o PT, já na qualidade de “telhado” e não mais de “pedra” e que levou de roldão o homem-forte e principal eleitor do Lula.
Parece que tudo faz sentido: a esquerda tomou o poder no país, primeiro com meu ídolo de juventude, depois com meu ídolo da fase adulta. Mais uma vez a esquerda reviveu no Brasil, quebrada, de muletas e esparadrapos, representada pelos partidos paulistas PSDB e PT, ambos surgidos nas noites no Spazio Pirandello, na emblemática Rua Agusta, onde os “reis do ié-ié-ié” da ditadura desciam à 120 por hora… E onde os políticos tomavam seus vinhos e cervejas, paqueravam suas amantes e alegravam nossos olhos com a volta do povo ao poder com as eleições diretas.
Tudo agora está ficando de cabeça para baixo: o bandido condenado solto e o delegado de polícia já com data marcada para ser preso, por essas manobras inexplicáveis do destino, na mesma data em que se (des)comemora os 45 anos do advento do golpe de direita de 1964.
Disso tudo sairá um Brasil melhor. Mesmo porque pior vai ser impossível.
Estou exausto. Tenho vontade dar um tempo e me alienar na arte. Submergir. Não aguento mais tanta hipocrisia, tanta mentira, tanta inversão de valores. E nem posso usar o verbo “cansar” pois me foi roubado por Hebes e D’Ursos.
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