quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Omissões, responsabilidades, e a metáfora no mar de lama tóxica da Samarco... - por Bob Fernandes (TV Gazeta)


     Um mar de lama tóxica soterrou Bento Rodrigues, povoado mineiro. Por ora, 8 mortos e dezenas de desaparecidos.

     O mar de lama, que escorre para o Espírito Santo enquanto se discute responsabilidades, é, também por como se dá o debate, uma metáfora.

     Em seu blog, o jornalista Alceu Castilho disseca a enxurrada tóxica do distrito de Mariana. E começa pelo começo, dando nome aos bois.

     Cinquenta por cento da Samarco, mineradora que opera as duas barragens que se romperam, pertencem à Vale. E 50% à anglo-australiana BHP Billiton.

     A Vale é controlada pela Valepar, com 1/3 do capital total ou 53,9% do capital votante:

     - 5,3% para o governo federal, 5,3% do BNDESpar, 14,8% de investidores brasileiros, 16,9% na Bovespa e 46,2% com investidores estrangeiros.

     A metade anglo-australiana somada aos investidores estrangeiros da Vale leva a Samarco a ter mais da metade de suas ações em poder de estrangeiros.

     Na Valepar, Fundos administrados pela Previ, a Bradespar, do Bradesco, a japonesa Mitsui, o BNDESpar... e acionistas menores como o Opportunity.

     Há dois anos, em 2013, um laudo já alertava: a barragem estava condenada.

     Condenada estava no governo anterior de Minas, condenada seguiu no atual... condenados à morte, desaparecimento, dezenas.

     Condenadas estão águas e bioma no caminho do mar de lama e metáforas que escoa entre Bento e o Espírito Santo.

     Escassa atenção se dá ao que aponta Alceu Castilho: o choque entre modelos distintos de apropriação de territórios e de recursos naturais.

     Um modelo, sempre exibido como exótico, respeita a natureza, e o modo de vida das pessoas.

     Outro modelo, o de predação extrativista, esgotável, agora simbolizado pela Samarco.

     Seis dias depois das barragens rompidas, governos, partidos, empresas e executivos, experts e néscios... seguem duelando.

     Omitindo-se ou se esquivando do mar de lama. E assim dando ainda mais consistência à metáfora.

     A propósito: no exato dia da irrupção da enxurrada de lama, a Câmara de Eduardo Cunha arquivou projeto que obrigaria a contratação de Seguro contra...rompimento de barragens.

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