Fiz uma extensa monografia, com mais de duzentas páginas, tendo como assunto a terceirização.
É algo que todos os trabalhadores com um mínimo de experiência no mercado de trabalho sabem, mas o estudo comprova inapelavelmente que tal prática trabalhista – um subproduto do neoliberalismo – depaupera ainda mais a já diminuta remuneração dos trabalhadores brasileiros; mitiga (quando não elimina) os benefícios sociais; promove uma insegurança jurídica absurda para os proletários; aumenta a instabilidade no emprego; facilita relações autoritárias no trabalho; majora a jornada de trabalho sem contrapartida no salário; os expõe aos serviços mais sujos, degradantes e perigosos, etc.
Excetuando alguns raros casos (onde o conhecimento envolvido nas atividades efetivamente requer um grau maior de domínio da mesma), a terceirização é uma estrutura abusiva e predatória, de inspiração escravista/servil, focada na redução de custos – e não no aumento da qualidade ou especialização no foco do trabalho executado, conforme apregoam os viciosos lobistas do capital.
Devido a toda esta problemática, a rotatividade nesses sub-empregos (ou Mc empregos como alcunha Naomi Klein na obra “Sem Logo”) é altíssima e, por conseguinte, aumenta-se a insegurança na execução das atividades devido à falta de experiência dos trabalhadores em suas ocupações. Quando o proletário finalmente adquire a experiência que permite executar suas tarefas com maior eficiência e segurança, ora é substituído porque “a gata” (como alcunham com justificável desprezo estas empresas de fachada) perdeu o contrato e será substituída por outra, ora porque o próprio trabalhador conseguiu uma ocupação melhor (ou menos pior).
Normalmente mal qualificados, mal remunerados, em trabalhos exaustivos, estressantes e sem perspectivas, com benefícios sociais mínimos, a terceirização pode ser definida, em resumo, como o horror.
Agora, o governo golpista e seus asseclas – em projeto estritamente coerente com todo o desmonte que promovem no (limitado) tecido social brasileiro – querem ampliar ainda mais algo que já é sumamente lesivo aos trabalhadores.
Isto bem me lembra o dramaticamente necessário livro “O povo brasileiro” de Darcy Ribeiro (friso que, quem não leu esta obra, não leu nada):
“As causas desse descompasso (do nosso desenvolvimento) devem ser buscadas em outras áreas. O ruim aqui, e efetivo fator causal do atraso, é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus. Não há, nunca houve, aqui um povo livre, regendo seu destino na busca de sua própria prosperidade.
O que houve e o que há é uma massa de trabalhadores explorada, humilhada e ofendida por uma minoria dominante, espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da ordem social vigente.”
É a isto que se resume as reformas (trabalhista, previdenciária, etc.) que a direita golpista aboletada no poder pretende nos impor.
Tal contexto me lembrou também duas pichações em Bogotá, descritas no poético O Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano:
Uma, pertinho da Universidade Nacional:
Deus vive.
Embaixo, com outra letra:
Só por milagre.
Um pouco afastado dali a admoestação era distinta:
Proletários de todos os países, uni-vos!
Embaixo, com outra letra:
(Último aviso.)
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