Há tudo sobre Aécio Neves: a corrupção foi
toda gravada, comprovada, de onde o dinheiro saiu, para onde foi, até com
células rastreadas (!). Nos grampos ele entrega toda a tramoia, ameaçando até de
matar a “mula” caso ela se dispusesse a delatá-lo.
Perrela, o senador da fazenda onde foram
presos 450kg de pasta base de cocaína (em outros termos, mais de 4 toneladas de
cocaína pura), diz em diálogo grampeado com Aécio que “só trafica”.
Os dois milhões da propina que Aécio
recebeu da JBS foram justamente para uma empresa do Perrela, onde o dinheiro foi
devidamente lavado. Todos os crimes, reitero, devidamente comprovados.
Ambos continuam no congresso, como se nada
houvesse acontecido. Perrela nem incomodado foi. Segue incólume, sequer foi
chamado para se explicar sobre o crime que confessou praticar de tráfico de
drogas, muito menos do de lavagem de dinheiro.
Na decisão em que foi reconduzido ao
senado, Aécio ainda recebeu elogio de ministro do STF: teria uma “carreira
elogiável”.
Nós bem
sabemos de qual tipo de “carreira” Aécio entende.
Não seria necessário, mas há um grampo de outro
senador que também ajuda a contextualizar a triste história política de nosso
país. Romero Jucá – outro paladino da moral que prossegue todo serelepe e ileso
no congresso – nos elucida sobre um “grande acordo nacional, com supremo com
tudo”.
Concatenando estes fatos pode-se saber
porque Aécio, Perrela e Jucá estavam livres, leves e soltos para votar na “deforma”
trabalhista que visa destruir os já parcos direitos dos trabalhadores brasileiros.
Estes bandidos prestam serviço à corrupta,
inepta, e vergonhosa burguesia brasileira. Por isso estão soltos. É a estes
interesses que eles e outros, como Serra, Sarney e afins representam. Por isso –
e só por isso – se dão ao luxo de fazer o que fazem, por isso seguem impunes, roubando,
destruindo, conspirando, corrompendo por décadas. A Casa-Grande sabe quem defende
e representa na integralidade suas ambições.
Lula, conquanto tenha feito inúmeras e
inúmeras concessões, não é deste métier, nem nunca será. As deploráveis
nomeações do petista para o STF ou de Meirelles e sua trupe para o BC, por
exemplo, são erros imperdoáveis, mas não o tornam um sangue-puro da nossa elite.
É de corar o que o PT fez e – especialmente – o que deixou de fazer para conseguir alguns segundos de exposição positiva
no Jornal Nacional, mas por mais que tenha se esforçado, nunca será um deles. A
burguesia brasileira não se sente representada pelo retirante nordestino que
vendia chiclete na rua aos nove anos de idade. É impossível. Mesmo que esta elite
nunca tenha ganhado tanto dinheiro justamente em seu governo – já que quando os
trabalhadores alavancam sua renda, os empresários também majoram seus ganhos (o
contrário é que não é verdadeiro).
Grampearam o Aécio por pouco tempo e pegaram
de tudo um pouco. Já o ex-presidente e sua família foram investigados por anos.
Em todo este período, talvez a fala mais emblemática seja a da falecida Dona
Marisa, em conversa com o filho, mandando os coxinhas enfiarem as panelas no cu.
Há também outra, do Lula dizendo que o STF estava “acovardado”.
Neste ponto, ele errou feio.
Para deixar Aécio, Perrela, Jucá, Renan,
Serra, etc., soltos, enquanto se condena Lula, não se pode atribuir tal pecha. Há
de se ter alguma coragem para fazer algo de tão obviamente errado. Ou, mais
especificamente, há de se ter uma boa cara-de-pau – nem que seja para cometer
uma injustiça.
Quanto ao processo específico do Lula, invertendo
tudo, não coube a acusação provar que o apartamento era do Lula, mas a defesa
provar de quem é o apartamento. E provou. De maneira inacreditável, foi a
defesa que investigou e descobriu que os direitos econômico-financeiros de
todos os apartamentos do condomínio em que está o tríplex foram repassados a um
fundo da Caixa Econômica Federal em 2010 – pelo fato de a OAS estar em
recuperação judicial. Ou seja, a OAS sequer pode vender o triplex, sequer pode passá-lo
adiante, pois há um débito da construtora com a Caixa Econômica. Para que
qualquer coisa seja feita com o ap., só se a Caixa for informada, concorde com
a venda e receba por ela. É, pois, simplesmente impossível que o triplex seja
usado para qualquer tipo de propina.
A acusação, mais preocupada em ganhar
holofotes e mídia (que se convertem em palestras bem rentáveis para os
acusadores com a fama que ganham, claro), mais preocupada em caluniar e fazer powerpoints, mais preocupada em fazer
política por meio judicial, não sabia de nada disso. Eles nem sabiam que o
apartamento está vinculado à Caixa. Já tendo chegado à conclusão antes de investigarem,
mais preocupados em dar vazão as suas convicções sem provas, se prestaram a
fazer uma acusação patética que não resistiu a um esforço investigativo – que
teve de ser feito por parte da defesa.
Lula nunca dormiu uma noite no
apartamento. Não pode usar, não pode vender, não pode alugar. Não é dele. Simples
assim. Mas Moro diz que é. Se embasa em delações de pessoas que se (e apenas
se) entregassem Lula, teriam suas penas de décadas reduzidas a um nada. Nas “provas”
que o juizeco arrola, há uma reportagem de “O Globo” e um contrato sem
assinatura (!). A escritura, que é documento oficial, foi desconsiderada. O
fato de o tríplex estar no meio de um processo de recuperação judicial da OAS e
por isso não poder ser repassado sem anuência da Caixa, idem.
Para que fique claro, portanto, nunca
houve um processo contra o Lula. Houve a apenas a formalização da condenação
que já estava previamente decidida muito antes de ele virar réu.
Esta
condenação não se dá por conta de uma simplória “maldade” do Moro, mas especialmente
por conta de algo mais refinado. A grande burguesia, através dos meios de
comunicação, promove uma intoxicação ideológica contínua, atacando quem não representa
seus interesses na integralidade. Esta intoxicação encontra território fértil
para se desenvolver na aristocracia do funcionalismo público brasileiro que é o
judiciário.
Como disse Goebbels, uma mentira repetida
mil vezes torna-se verdade. Foram mais de cem mil vezes contra o Lula. Especialmente
por isso ele foi condenado.
De qualquer modo, isto não exime a
responsabilidade do carrasco. Como bem disse Luis Nassif, “em
um país em que os absurdos são renovados diariamente, embora esperada, a
sentença de Sérgio Moro é indecente, humilhante. Sua declaração inoportuna, de
que não sentiu “satisfação pessoal” tem a mesma sinceridade de Jack, o
Estripador, chorando em cima das vísceras da sua última vítima”.
Nesta elucidativa foto as provas são abundantes.
Está tudo aí, cristalinamente exposto, um resumo da política brasileira dos
últimos tempos. A única dúvida que resta – a qual não se pode dar um juízo
definitivo – é saber qual dos dois é pior.
Aécio
é tão honesto, correto e coerente quanto Moro. São o retrato perfeito da moralidade
da burguesia brasileira. Os dois se merecem.
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