Na esteira da cruzada moralista rebrotou com mais força do que em 1994 a campanha pela
privatização das empresas estatais brasileira, agora não por uma razão
econômica como no governo FHC e sim por questões morais, PARA EVITAR A
CORRUPÇÃO.
Jornalistas políticos
e comentaristas de economia malham a tecla da privatização de todas as estatais
para evitar corrupção, o que serve como uma luva para o ultra neoliberalismo
que quer a privatização por razões ideológicas, na esteira de que o MERCADO é
sempre melhor que o Estado. As correntes assim se encaixam, os moralistas e os
neoliberais se dão as mãos para juntos liquidarem com as empresas estatais e
venderem tudo o que o Estado criou a partir dos anos 50 e no caso do Banco do
Brasil e Caixa antes da própria República, com a finalidade de promover o
desenvolvimento de um País que patinava na estagnação.
Alguns gurus
econômicos de vários candidatos são privatistas fanáticos, alguns candidatos
são eles próprios de fé privatizante e assim pode-se considerar que a cruzada
moralista deu um reforço aos ideólogos do mercado na atual crise política
brasileira – uma ideia que estava no arquivo da história dos anos 90 é
ressuscitada fora de época, não há no mundo uma onda privatista renovada, as
prioridades e os desafios de hoje são de outra natureza, a Era Thatcher acabou,
mas esqueceram de avisar aos privatistas brasileiros congelados no tempo.
Os grandes alvos
são a PETROBRAS, o BANCO DO BRASIL, a ELETROBRAS, a CAIXA ECONÔMICA e o BNDES,
instituições de Estado, fundamentais para o desenvolvimento econômico
brasileiro desde os anos 50 e através desses instrumentos o Brasil já teve a
maior taxa de crescimento médio de um País na segunda metade do Século XX e a
maior taxa em um único ano, com crucial participação das grandes estatais,
locomotivas desse desenvolvimento.
A REFERÊNCIA INTERNACIONAL
Das vinte maiores
empresas de petróleo do mundo, 13 são estatais e elas detém 91,4% das reservas
mundiais. Na própria Europa companhias petrolíferas estratégicas se mantem
estatais e nem se pensa em privatizá-las, como a STATOIL da Noruega. As quatro
primeiras petroleiras do ranking das 20 maiores são estatais (Sinopec, China
National Peroleum, Saudi Aramco, Petro China).
Na Europa grandes
empresas estatais são eixos da economia de países ricos e de economia sólida.
As estatais fizeram parte da formação econômica da Europa operando dentro do
modelo de COMBINAÇÃO entre Estado e mercado nas circunstâncias de cada época,
havendo ainda o caso de grandes multinacionais privadas com forte participação
do Estado, caso da RENAULT, embora geridas como se fossem empresas privadas.
Empresas como a
EdF, a grande companhia de energia elétrica da França, a ENEL, companhia
elétrica da Itália, a SNCF, a companhia das ferrovias francesa, a Deutsche
Bahn, a companhia ferroviária alemã, FS, a companhia ferroviária da Itália, o
padrão das ferrovias por toda a Europa é de empresas estatais, assim como
bancos, empresas de energia e de telecomunicações, na Suécia são 49 empresas
estatais com valor de mercado de 60 bilhões de dólares, submetidas ao Serviço
Nacional de Auditoria, padrão de referência no mundo.
A França tem em
conjunto com Itália, Espanha e Alemanha o AIRBUS GROUP, segunda maior empresa
aeronáutica do mundo, onde os governos têm 26% do capital e através de acordo
de acionistas o efetivo controle da empresa, bem como a RAI, maior rede de televisão
e rádio da Itália. França e Itália tem larga tradição de grandes e eficientes
empresas estatais como eixo da economia.
Na Alemanha o
Estado da Baixa Saxônia controla a VOLKSWAGEN, uma das maiores fabricantes de
automóveis do mundo, o grupo inclui AUDI e PORSCHE, e o Estado federal alemão
controla a Deutsche Telekon, a grande empresa de telecomunicações que inclusive
tem forte participação na British Telecom. O Estado federal tem 15% da DT e o
banco de fomento estatal KfG tem 16% da DT, o que dá ao Estado o controle
efetivo dessa mega empresa.
O Estado federal
alemão é dono do grande banco de fomento KfG, financiador de exportações
alemãs, além de banco de fomento, a Alemanha tem também uma rede de 11 bancos
regionais controlados por Estados federados, importantes para a economia alemã.
A Coreia do Sul
tem estatais que controlam a energia, as ferrovias, o petróleo e as
telecomunicações, o Estado direciona também as grandes empresas privadas como a
POSCO, a maior siderúrgica sul coreana e coordena de forma central os grandes
conglomerados.
No México a
energia elétrica é estatal através da COMISSION FEDERAL DE ELECTRICIDAD e
obviamente a PEMEX, primeira estatal de petróleo do mundo.
No Chile é estatal
a CODELCO, a maior produtora de cobre do mundo e eixo central da economia
chilena, O Chile é um pais paladino da economia de mercado na América Latina,
MAS não abre mão do controle estratégico de sua maior matéria prima de
exportação, o cobre, sob absoluto controle do Estado chileno sobre a maior empresa
do Pais.
No Japão o Estado
controla a maior parte das ferrovias, a telefonia, o tabaco.
Países com 40 a
50% da economia estatizada são a Polônia, Singapura, Israel, Noruega, Suécia,
Hungria, Romênia, Áustria, Malásia, nem aqui cite-se países menores.
Na Holanda o
Estado controla o maior banco, o ABN e a maior parte dos serviços públicos.
Mesmo nos EUA,
referencia do neoliberalismo, há setores que permanecem estatais como a geração
de energia hidroelétrica (TVA), o financiamento à agricultura e às exportações,
a grande maioria dos transportes coletivos nas áreas metropolitanas, os portos
e aeroportos, o transporte ferroviário de passageiros (AMTRAK), o saneamento em
geral, o financiamento a exportação (EXIMBANK), o financiamento à construção
naval (MARITIME COMMISSION), o financiamento à exportação de equipamentos,
materiais e serviços bélicos (DEFENSE COOPERATION AGENCY). Na imensa malha
rodoviária americana há raríssimas concessões de rodovias para firmas privadas,
é quase 100% gestão estatal com ou sem pedágio.
O gigantesco
sistema de seguro de hipotecas residenciais, dividido em várias empresas, é de
controle estatal, a Fannie Mae, maior dessas seguradoras, pagou em 2014
dividendos de 124 bilhões de dólares ao Tesouro dos EUA. Há seguradoras específicas
para hipotecas de imóveis de baixa renda e de veteranos de guerra (Ginnie Mae),
todas com recursos do Tesouro, há plena noção de que certos setores da economia
precisam do Estado, os EUA não operam por ideologia na economia e sim por
pragmatismo, combinando Estado e mercado como pode e deve ser feito, de acordo
com as circunstâncias. Para sair da Grande Depressão de 1933 foi criada a
Reconstruction Finance Corp. que salvou milhares de bancos e empresas com
dinheiro público, puro pragmatismo de Estado e mercado.
No setor agrícola,
a COMMODITY CREDIT CORP., inteiramente estatal, financia os agricultores
americanos com recursos do Tesouro, ao nível de 200 bilhões de dólares por ano.
Mas o principal contraexemplo
da ressurreição dos privatistas é a CHINA, onde 70% das grandes empresas são
estatais e são elas que formam a base do desenvolvimento econômico chinês, o
maior do planeta, são as grandes estatais da energia, da construção civil, dos
transportes que constituem o eixo de expansão internacional do PROJETO NACIONAL
chinês.
Em todo mundo,
inclusive no Brasil, onde a STATE GRID é a maior detentora de linhas de
transmissão e controladora da segunda maior distribuidora do País, a CPFL, a
expansão geopolítica e econômica da China se dá por empresas estatais, na linha
de frente do secular processo de engrandecimento da China como potência
mundial.
A ironia é
trágica. Os privatistas brasileiros querem desestatizar empresas fundamentais
para um projeto nacional de desenvolvimento e os potenciais compradores são
ESTATAIS CHINESAS, que agem no Brasil como parte de um plano de longo prazo do
Estado chinês.
Nossos privatistas
medíocres cegos e antipatriotas, não enxergam o País como um grande projeto
nacional, sua miopia vê apenas a Bolsa de Nova York e a opinião de seus
corretores e agências de rating, aí acaba o mundo deles, o Brasil apenas como
uma plataforma de negócios.
A fórmula AJUSTE +
PRIVATIZAÇÕES nunca levará pais algum ao desenvolvimento, mesmo porque o ajuste
dos neoliberais se limita a cortar benefícios sociais, educação e saúde e nem
sequer toca nos altos salários, nas aposentadorias precoces, nas crescentes
mordomias das corporações, é o AJUSTE POR BAIXO somado à venda do patrimônio
nacional a preço de fim de feira para cobrir o orçamento e garantir o pagamento
dos juros da dívida pública. Mas até isso não é racional, uma vez vendido o
patrimônio, como em 1996, nada garante finanças públicas sadias para frente,
vende-se a mobília para pagar o almoço, mas no dia seguinte também precisa de
almoço e jantar e aí não tem mais o que vender, é uma política insustentável.
Não fica de pé
também o único exemplo de privatização virtuosa, o da telefonia, as grandes
mudanças no setor se deram por causa da gigantesca evolução tecnológica de
telefonia fixa para celular, o que aconteceria com ou sem privatização, é uma
questão de tecnologia e não de ideologia, telefonia celular não é um monopólio
natural e é um setor competitivo em todo o mundo por sua própria natureza,
aconteceria no Brasil mesmo sem privatização da Telebrás.
A QUESTÃO DAS
EMPRESAS ESTRATÉGICAS
Na maioria dos
países do mundo há um conjunto de empresas consideradas estratégicas porque são
indutoras de desenvolvimento, de pesquisa, de formação de pessoal e há um
consenso de que essas empresas precisam ser estatais porque cabe ao Estado
combinar as esferas da ação do Estado e da ação do mercado. O mercado só
funciona com a moldura do Estado e o mercado não tem a capacidade de sozinho
conduzir o País. A crise de 2008 nos EUA demonstrou que o mercado provocou a
crise e coube ao Estado resgatá-lo, o que nos EUA foi feito com o plano TARP a
um custo de 780 bilhões de dólares, algo que só o Estado pode fazer.
Os candidatos a
Presidente que acolhem em seus palanques esses “privatistas de proveta”
personagens tragicômicos pelo seu anacronismo histórico estão divorciados do
que pensa povo brasileiro, que não são os rentistas dos Jardins e do Leblon que
abraçam as teses “de mercado”, o povo brasileiro é muito mais que um grupinho
de rapazes da Bolsa.
A QUESTÃO DA
CORRUPÇÃO
Os privatistas de
palanque invocam a questão da corrupção como razão de privatização.
Mas a corrupção
não se faz apenas nas empresas estatais. O Estado brasileiro tem Ministérios,
Agências e uma multiplicidade de instancias e órgãos ondem a corrupção pode se
exercer, independentemente de existirem ou não empresas estatais, a corrupção é
um processo nascido da ineficiência da administração pública, para acabar a
primeira é preciso corrigir a segunda. As estatais europeias funcionam com
razoável eficiência porque tem normas de controle bem estabelecidas, o que
diminui a margem para a corrupção.
A questão da
corrupção se limita através de REGRAS DE CONTROLE e não de extinção de empresas
estatais. Na realidade os privatistas estão se aproveitando da onda de
inquéritos para justificar privatizações injustificáveis como PETROBRAS,
ELETROBRAS e BANCO DO BRASIL, empresas que nasceram e cresceram com razoável
eficiência por longo tempo e são um patrimônio institucional do povo e do
Estado, não são apenas bens físicos.
OS PRIVATISTAS DA
ERA FHC
Os “economistas do
Real” que foram os privatistas de 1996 ressuscitaram vinte anos depois para
assessorar alguns candidatos de centro-direita com as MESMAS teses hoje sob revisão
em todo o mundo. As privatizações da Era Thatcher deixaram de ser uma
unanimidade até mesmo na Inglaterra onde se cogita uma onda de reestatizações.
O neoliberalismo
de Thatcher tinha como fundamento que com a economia de mercado triunfante
todos ganhariam. Não foi esse o resultado. O neoliberalismo por todo o lado
aumentou exponencialmente a DESIGUALDADE SOCIAL, criando novas e grandes
tensões MESMO NAS ECONOMIAS DESENVOLVIDAS da Europa e dos EUA. A eleição de
Trump nos EUA é um dos resultados desse processo de REGRESSÃO SOCIAL, onde uma
outrora classe média tornou-se pobre por causa dos EXCESSO DA CONCENTRAÇÃO DE
RENDA E DA GLOBALIZAÇÃO, produto do ultra neoliberalismo de mercado. Há um
reexame em nível mundial do neoliberalismo como fonte de bem-estar e
prosperidade, há sérias críticas nos países centrais, as promessas dos
neoliberais enriqueceram os banqueiros e financistas, mas prejudicaram e muito
o povo, o equilíbrio social, o emprego, o futuro dos jovens.
Os privatistas da
Era FHC, aqueles que chegaram ao governo de Fusca velho e saíram de Mercedes
novos, voltam com as mesmíssimas teses de 1994, sem adaptação aos novos tempos,
sem uma reflexão ou revisão de teorias hoje velhas. Os Aridas e Landaus não
trocaram de camisa e de penteado, com uma exceção, André Lara Resende fazendo
jus ao sobrenome soube enxergar erros e distorções da Era FHC que trouxe para o
Governo desde então os “economistas de banco” que desgraçaram a economia
brasileira no rumo da desigualdade e da perda do caminho do desenvolvimento com
suas teses de rentistas.
O impressionante é
que essas almas penadas ainda encantam candidatos desligados da realidade
brasileira onde ATINGIMOS UM ABISMO SOCIAL INÉDITO que não existia nem nos anos
50 ou 60, uma situação onde 30 milhões de brasileiros estão razoavelmente bem
de vida e 180 milhões estão de mal a pior, sendo que 30 milhões são miseráveis
no fundo do poço.
Nessa
impressionante repescagem de ideias velhas os candidatos da centro-direita apresentam
as privatizações como único projeto, não tem um grande plano de obras de infraestrutura,
de saneamento, de moradia popular, de projeção internacional do Brasil, acham
que a fórmula “ajuste com privatização” funcionará – a fórmula que fez a Grécia
afundar ainda mais em uma crise que ao invés de diminuir se consolida na
estagnação, fórmulas contestadas até pelo FMI.
Um grande País
precisa de um grande projeto nacional onde o plano de desenvolvimento é
múltiplo e abrangente na infraestrutura, na produção, na inclusão social. Privatização
não é ferramenta para o desenvolvimento, especialmente em países carentes onde
muito há para ser feito e as necessidades da população tem pressa, o Estado tem
um papel fundamental e o mercado sozinho não pode e nem lhe cabe resolver todas
as carências seculares.
Os eleitores
brasileiros têm uma percepção negativa de candidatos abraçados a privatistas,
plataformas onde a privatização é o eixo central irão para o limbo da Historia,
o eleitor intuitivamente vê nessa mensagem um engodo e nela não embarca.
Aos candidatos
abraçados com neoliberais congelados aviso, PRIVATIZAÇÃO NÃO É REMÉDIO para a
crise brasileira, é a bandeira dos Lemman, dos fundos abutres de Nova York, dos
banqueiros de investimentos de Londres, dos rapazes do Boletim FOCUS, do banco
J. P. Morgan, dos advogados internacionais, da Câmara de Lobistas Brasileiro
Americana de Nova York que dará o titulo de HOMEM DO ANO ao Ministro da Fazenda
que patrocinar privatizações, um bom negócio onde o único perdedor será o povo brasileiro.
O eleitor que
fique atento aos candidatos que dizem PRIVATIZAÇÃO É A SOLUÇÃO.
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