terça-feira, 12 de abril de 2011

Antinomia política

No Brasil, caso clássico, a mesma pessoa que despende loas e mais loas a velha puta chamada democracia, defende arduamente a autonomia do Banco Central. E aí eu pergunto: ¿quem elegeria os diretores do BC quando tal autonomia lhes fosse concedida? ¿Quem controlaria a política econômica do país? ¿Quando algo desse errado, como conseguiríamos substituí-los de lá, já que não teríamos direito a voto para derrubá-los?
Poderia explanar em longas palavras a profunda antinomia de se defender as duas coisas simultaneamente, mas não é necessário: contra a safadeza não há palavras que bastem.

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Cito, para lembrar o grande mestre Saramago, algumas tratativas suas sobre governos e democracia.

“O grande mal que pode acontecer às democracias — e penso que todas elas sofrem em maior ou menor grau dessa doença — é viverem da aparência. Isto é, desde que funcionem os partidos, a liberdade de expressão, no seu sentido mais directo e imediato, o Governo, os tribunais, a chefia do Estado, desde que tudo isto pareça funcionar harmonicamente, e haja eleições e toda a gente vote, as pessoas preocupam-se pouco com procedimentos gravemente antidemocráticos”.


“O que temos chamado de “poder político” converteu-se em mero “comissário político” do poder económico.”


“O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.”


“Na falsa democracia mundial, o cidadão está à deriva, sem a oportunidade de intervir politicamente e mudar o mundo. Actualmente, somos seres impotentes diante de instituições democráticas das quais não conseguimos nem chegar perto.”


“Quando digo que a democracia se suicida diariamente, perde espessura e se desgasta, diminuindo a sua densidade, estou a falar de um sentimento que nos afecta, a nós, cidadãos. Sentimos, e sofremos com isso, que não temos importância no modo como funciona a sociedade.”


“O pior que pode acontecer-nos é resignarmo-nos a não saber. Há que aprender a voltar a dizer não, e a perguntarmo-nos porquê, para quê e para quem. Se encontrássemos respostas para estas perguntas, no melhor dos casos entenderíamos o mundo.”

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