A cada movimento grevista, os ataques da mídia dominante se sucedem. Isso acontece porque determinados setores da mídia atuam não como espaços informativos, mas como instrumentos discursivos das elites.
Abaixo, um imaginado (ou nem tanto) manual prático da velha mídia brasileira sobre como cobrir uma greve. Baseado em fatos reais:
1. Para tentar esvaziar a greve:
1.1. Diga que a greve é “de vanguarda” e que os trabalhadores não foram devidamente consultados;
1.2. Caso você seja obrigado pelos fatos a admitir que houve uma Assembléia Geral, diga que a Assembléia teve pouca participação;
1.3. Diga que a Assembléia que definiu a greve teve grande quantidade de discordantes;
1.4. Faça todo o possível para mostrar os trabalhadores como simples massa de manobra das lideranças sindicais
1.5. Ignore o fato de que as lideranças sindicais são eleitas pelos próprios trabalhadores;
1.6. Ignore a obrigação legal que as lideranças sindicais têm de convocar uma Assembléia Geral para votar uma proposta de greve;
1.7. Afirme, reafirme e repita quantas vezes for possível que a greve está esvaziada, estando ela como estiver.
2. Para pressionar o governo contra os grevistas:
2.1. Escreva que os grevistas estão provocando o governo;
2.2. Diga que o resultado das mobilizações vai demonstrar “quem realmente manda” no governo;
2.3. Garanta que o governo perderá força se ceder às exigências dos grevistas;
2.4. Ameace: escreva que ceder é demonstrar fraqueza, e que governos fracos não se sustentam no poder;
2.5. Coloque a sociedade contra o movimento, fazendo o governante ver que perderá votos na próxima eleição caso ceda.
3. Coloque a sociedade contra o movimento:
3.1. Destaque todos os prejuízos que o cidadão “de bem” terá com a greve;
3.1.1. Se for uma greve de professores, ressalte os danos às férias escolares, ao vestibular e ao aprendizado das crianças;
3.1.2. Caso alguma manifestação dos grevistas interrompa o trânsito, faça imagens do congestionamento, e não esqueça de falar que os “trabalhadores” foram prejudicados por não conseguirem chegar às empresas onde trabalham.
4. Na hora das entrevistas:
4.1. Evite ao máximo entrevistar grevistas. Se precisar fazê-lo, pouco espaço, e apenas no final da matéria;
4.2. Entreviste muitos “populares” prejudicados pela greve;
4.2.1. Se for uma greve de professores, entreviste diretores de escolas preocupados, pais desesperados, e não hesite em procurar desesperadamente crianças que adorariam estar na escola, mas não podem estudar por causa da greve;
4.2.2. Caso alguma manifestação dos grevistas interrompa o trânsito, entreviste motoristas tensos e anti-greve, mas não esqueça de variar com outros que afirmam “até concordarem” com as reivindicações, mas que também precisam ir trabalhar.
5. Na hora da redação da matéria:
5.1. Comece o texto sempre com os problemas que a greve (“os grevistas”) causa à população;
Obs.: Nos casos em que é possível aproximar ações dos grevistas de atos “criminosos”, os transtornos à população devem ceder o primeiro posto e serem transformados em uma segunda questão a ser colocada no texto;
5.2. Esforce-se para mostrar posicionamento das instituições do governo contra a greve;
5.3. As reivindicações dos grevistas devem aparecer em um ou dois parágrafos, no máximo, no fim da matéria;
5.4. Possíveis denúncias dos grevistas devem aparecer sempre acompanhadas de “suposto” ou derivados.
6. Glossário subjetivo:
Grevista = vagabundo
População = desrespeitada
Greve = vagabundagem
Mobilização = baderna
Empresas = coitadinhas
Reivindicações = privilégios
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