Editora: Caros
Amigos
ISBN:
978-85-86821-83-7
Páginas: 390
Opinião: bom
“Ao contrário do que, honesta e
sinceramente, acreditaram muitos dos que participaram ativa ou passivamente do
golpe de 64, este correspondeu para as Forças Armadas não ao restabelecimento
da hierarquia e da disciplina, ao contrário, ao agravamento de sua subversão.”
(Nelson
Werneck Sodré – em “A história militar do
Brasil”)
“Por ordem minha, não começa uma guerra
civil no Brasil”.
(João
Goulart, ao negar a oficiais da aeronáutica, fieis a ele, a autorização que
pediam para bombardear as tropas de Mourão Filho que avançavam de Minas Para o
Rio)
“Os professores, intelectuais, atores e
jornalistas foram os primeiros a sofrer. Porque as ditaduras, a primeira coisa
que golpeiam, é a cultura.”
Truculência e besteirol
Na invasão da Universidade de Brasília,
militares confiscaram como indícios de subversão comunista: O vermelho e o negro, romance do
escritor francês Stendhal (1783-1842); e, maior prova de comunização
apresentada à imprensa, uma bandeira da China que encontraram hasteada na faculdade
de educação – só que a bandeira era do Japão, em homenagem a crianças japonesas
que ali expunham gravuras. (...)
O golpe sai vencedor, autoridades
organizam em Porto Alegre uma exposição com material dito subversivo,
apreendido em casas de esquerdistas e militantes em geral. Lá esta um livro bem
antigo, e ao lado a legenda: “livro subversivo em chinês”. Era uma bíblia, em
hebraico.
“Os jornalões não continham a euforia e
se derramavam em bajulação aos militares. É impressionante como transformavam a
ilegalidade em legalidade. Alguns exemplos:
“Feliz a nação que pode contar com
corporações militares de tão altos índices cívicos”. (O Estado de Minas, dia 5)
“A Revolução democrática antecedeu em um
mês a revolução comunista”. (O Globo,
dia 5)
Pontes de Miranda diz que Forças Armadas
violaram a constituição para poder salvá-la!” (Jornal do Brasil, dia 6)”
“A hostilidade empresarial contra João
Goulart aumentou em setembro de 1962, quando o congresso brasileiro aprovou a
Lei de Remessa de Lucros, que Goulart sancionaria em janeiro de 1964. A nova
lei restringia a remessa de lucros para o exterior a 10% do capital registrado.
A aproximação das eleições brasileiras, em
outubro de 1962, elevou a participação norte-americana em nossos assuntos
internos. O Instituto Brasileiro de Ação Democrática, Ibad, despejou milhões de
dólares nos bolsos dos conservadores. Segundo Philip Agee, ex-agente da CIA, os
fundos estrangeiros regaram as campanhas de oito candidatos aos governos dos
onze estados onde houve eleições, quinze candidatos ao Senado, 250 candidatos à
Câmara e mais de quinhentos candidatos às Assembleias Legislativas.
O resultado não compensou. A bancada “da
esquerda” aumentou. E a enxurrada de dólares originou Comissão Parlamentar de
Inquérito. Descobriu-se que o dinheiro entrava pelo Royal Bank of Canada, Bank
of Boston e First National City Bank; e que empresas como Shell, Coca-Cola, IBM
e Texaco colaboraram.
Os planos para derrubar Goulart ganharam
velocidade. Vernon Walters falava com militares. Lincoln Gordon estabelecia
linha direta entre, de um lado, as agências financeiras e o governo dos Estados
Unidos e, de outro lado, os governos estaduais de oposição. Gordon considerava
como “ilhas de sanidade administrativa” as atuações de governadores como Carlos
Lacerda (Guanabara) e Adhemar de Barros (São Paulo). O dinheiro de empréstimos
negados a Goulart chegava aos cofres de seus adversários.
O assassinato de Kennedy em 1963 e a
ascensão de Lyndon Johnson empurraram a diplomacia norte-americana para um
velho estilo, mais truculento, em relação à América Latina. A política do novo
secretário-assistente para Negócios Interamericanos, Thomas Mann, a Doutrina
Mann, foi expressa num artigo do New York
Times no início de março de 1964:
“Os Estados Unidos não mais procurariam
punir as juntas militares por derrubarem regimes democráticos.”
Em trágica sequência, os governos eleitos
democraticamente foram caindo e dando lugar a ditaduras militares de
extrema-direita.”
“A revista Pif Paf durou pouco. Na oitava edição, a contracapa continha a
“advertência”:
“Quem
avisa, amigo é: se o governo continuar deixando que certos jornalistas falem em
eleições; se o governo continuar deixando que determinados jornais façam
restrição à sua política financeira; se o governo continuar deixando que alguns
políticos teimem em manter suas candidaturas; se o governo continuar deixando
que algumas pessoas pensem por sua própria cabeça; e, sobretudo, se o governo
continuar deixando que circule esta revista, com toda sua irreverência e
crítica, dentro em breve estaremos caindo numa democracia”.
Os militares apreenderam a tiragem. A
revista acabou.”
POVO, NÃO: POPULAÇÃO
Na Folha,
logo na primeira semana após a vitória dos golpistas, passamos a grafar
“golpe de 1º de abril”. Logo o editor de política, Francisco de Célio César, o
França, nos repassou a ordem superior para grafar “Revolução Democrática de 31
de Março”, mas podíamos abreviar para “Revolução de 31 de Março”.
Com
o tempo, outros termos entrariam no índex. Nada de camponês: agricultor. Nada
de povo: população. Não havia dúvidas sobre qual era o ator principal que
vieram tirar de cena. (Mylton Severiano)
E Jango estava bem no Ibope
A pedido da Federação do Comércio do
Estado de São Paulo, o Ibope realizou pesquisa, durante os últimos dez dias
antes do golpe, na maior cidade do país – aquela que, segundo os golpistas,
saiu às ruas em peso para apoiar a deposição de Jango. Os índices colhidos
entre 20 e 30 de março de 1964 mostravam, ao contrário, significativo apoio dos
paulistanos ao governo.
Mais de 80% dos quinhentos eleitores
entrevistados sabia dos decretos de Jango: encampação das refinarias de
petróleo; desapropriação de terras às margens de açudes, ferrovias e rodovias
federais; e tabelamento de alugueis – medidas aprovadas por 64%.
No dia 26 de março, o Ibope concluiu outra
pesquisa: metade dos eleitores de oito capitais votariam em Jango à reeleição.
Não há notícia de que tais pesquisas tenham sido publicadas na época.
“Anistia é um ato pelo qual o governo
resolve perdoar generosamente as injustiças e crimes que ele mesmo cometeu.”
(Barão de Itararé)
“A ascensão das massas, as greves, as
reivindicações, a politização das classes populares, tudo quanto faz parte de
um processo democrático estava sob o crivo dos militares de direita, dos
conservadores, da imprensa grande a serviço das forças do atraso. Não estavam
gostando nada daquilo que para um democrata é natural e para eles não passava
de desordem.”
“A verdadeira força dos governos não esta
em exércitos ou armadas, mas na crença do povo de que eles são claros, francos,
verdadeiros e legais. Governo que se afasta desse poder não é governo – mas uma
quadrilha no poder.” (Trecho da peça Liberdade,
Liberdade, que veio a ser proibida)
“Linha-dura
é pessoa rude, estúpida, curta de inteligência, teimosa (...). Agora, nosso pessoal radical de direita não
tinha ideologia nenhuma. Queria simplesmente ser contra.”
(General
Moraes Rego, que após o golpe, como tenente-coronel, serviu no gabinete militar
de Castelo Branco)
“Com leis draconianas, intimidando e cassando,
impedindo o voto popular, baixando sua própria constituição, o regime se fixa e
inventa um novo sinônimo para ditadura: “estado de exceção”.”
“O AI-1, editado em 9 de abril de 1964,
estipulava o prazo de 60 dias, isto é, 9 de junho, como limite para cassar
mandatos e suspender por dez anos os direitos políticos de quem pudesse
atrapalhar o governo militar. Obviamente, os primeiros cassados foram Jango,
Brizola, Jânio Quadros, Luiz Carlos Prestes e Juscelino – este, por ser forte
candidato a eleição presidencial, em 1965, embora tivesse dado importante apoio
à indicação de Castelo.
Rolaram as cabeças de dois governadores,
Arraes, de Pernambuco, e Seixas Dória, de Sergipe (curiosamente, eleito pela
UDN, União Democrática Nacional, de direita); mais 50 deputados, a maioria do
PTB (nenhum da UDN). O expurgo atingiu 49 juízes, cerca de 1.400 civis e 1.200
militares.”
Abaixo a inteligência!
Expulsaram os
maiores crânios do país
Era ou não era uma era de obscurantismo?
Cientistas de renome internacional são
cassados, humilhados, presos. O que fizeram com o físico nuclear Mário
Schenberg dá ideia. Schenberg (1914-1990) tinha, entre seus feitos, importantes
contribuições para a astrofísica. Pois bem. Em 1964, antes de levá-lo preso, de
pijama, o delegado depredou seus livros e objetos de arte. Seria depois
aposentado compulsoriamente e proibido de entrar no campus da Universidade de
São Paulo – um cientista mundialmente respeitado.
Expulsaram do país: Leile Lopes,
consolidador da física teórica no Brasil; Jayme Tiommo, outro importante
pesquisador da física; Warwick Kerr, maior especialista do mundo em genética de
abelhas; Roberto Salmeron, dos primeiros a estudar raios cósmicos no Brasil;
Luís Hildebrando Pereira da Silva, autoridade internacional em malária; Josué
de Castro, médico, geógrafo, um lutador contra a fome, traduzido em 25 línguas
e duas vezes indicado para o Nobel da Paz; Celso Furtado, estudioso do
subdesenvolvimento, economista brasileiro mais conceituado no exterior; Paulo
Freire, educador traduzido em 28 línguas, homenageado com estátua em Estocolmo,
capital da Suécia. (...)
Na década de 60, Manguinhos, agora
Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, defende a criação de um Ministério da Ciência
para fortalecer a pesquisa. Mas chega a ditadura militar e interfere no
instituto já em 1964, nomeando diretor o médico Rocha Lagoa, que seria seu
carrasco em 1973, no episódio batizado de Massacre de Manguinhos pelo professor
Herman Lent, uma de suas vítimas e grande pesquisador da doença de chagas.
Ministro da Saúde de Médici, Rocha Lagoa cassou os direitos políticos dos dez
principais pesquisadores da Fiocruz, com base no Ato Institucional 5, AI-5,
alegando que exerciam atividades “de cunho comunista”. A perseguição redobra
com o AI-10, que praticamente os proíbe de trabalhar no Brasil. (...)
A produção científica no Brasil sofre
perdas inestimáveis. Manguinhos era instituição de excelência e referência em
tecnologia para o Brasil todo, inclusive para instituições não voltadas para o
campo da saúde. O esvaziamento não se restringe aos cassados:
“Estende-se a todos os estagiários que
saíram junto, e cerca de 150 novos pesquisadores que poderiam ter sido
formados. O massacre não foi só de pessoas, mas do conjunto da atividade
científica da instituição”, diz Paulo Gadelha, pesquisador da história do
Massacre de Manguinhos.
Castelo: é mesmo um terror
Até o chefe do golpe de Estado e primeiro
presidente do regime militar, general Castelo Branco, ficou irritado com o “IPM
da feijoada”. Escreveu ao general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar, uma
carta que entre outras críticas dizia:
“Por que a prisão do Ênio (Silveira, dono
da editora Civilização Brasileira, do Rio de Janeiro, que lançava livros de
esquerda)? Só para depor? A repercussão é contrária a nós, em grande escala. O
resultado esta sendo absolutamente negativo. (...) Há como que uma preocupação
de mostrar ‘que se pode prender’. Isso nos rebaixa. (...) Apreensão de livros.
Nunca se fez isso no Brasil. Só de alguns (alguns!) livros imorais. Os
resultados são os piores possíveis contra nós. É mesmo um terror cultural.”
Até então a polícia federal havia
apreendido cerca de 17.000 volumes de 35 obras consideradas subversivas. Ênio
Silveira ainda seria preso por duas vezes, uma delas incomunicável por 29 dias.
O prende e solta
Estima-se que a Força Pública (depois PM),
a Polícia Civil e os militares das três armas prenderam cerca de 50.000 pessoas
em todo o país, nos primeiros meses após a queda de Jango.
O governo militar agia à margem do sistema
legal. Como recurso de intimidação, seus agentes faziam detenções temporárias,
muitas vezes com espancamentos ou tratamento violento durante algumas horas e,
antes que pedidos de habeas corpus
fossem apresentados, liberavam os presos. Passado algum tempo, repetia-se tudo
outra vez.
Caíram em cima dos estudantes e
trabalhadores
Segundo a estudiosa norte-americana Martha
Huggins, “o objetivo final da ‘limpeza’
era previsível desde o início. Em 2 de abril de 1964 (...) três governadores
estaduais favoráveis a Goulart foram depostos e detidos (...), quase dez mil
funcionários públicos foram demitidos de seus cargos, 122 oficiais das Forças
Armadas foram obrigados a reformar-se, e 378 líderes políticos e intelectuais
foram despojados de seus direitos civis pela cassação, que os impedia de votar
e serem votados durante dez anos”.
A UNE, cuja sede no Rio foi invadida por
tropas e incendiada no mesmo dia do golpe, em 1º de abril, o governo militar
extinguiu oficialmente. E criou outra estrutura estudantil controlada pelo
Ministério da Educação, sob orientação de Flávio Suplicy de Lacerda. Seu
ex-presidente Jean Marc Von der Weid lembra que a entidade organizou
clandestinamente um referendo nacional, para saber se os estudantes apoiavam a
nova ordem ou uma UNE ilegal:
“Aproximadamente 98% dos estudantes
votaram pelo apoio à organização ilegal.”
Para controlar os sindicatos, bastou ao
governo militar recorrer à legislação, herança do Estado Novo. As normas
permitiam ao Ministério do Trabalho intervir e afastar seus dirigentes e nomear
outros, sem possibilidade de recurso. O ministério ainda podia anular eleições
e vetar candidaturas. Organizações intersindicais paralelas e independentes,
como o CGT, o governo extinguiu por decreto.
“Lemos em Platão e Aristóteles, filósofos
gregos do século 4 a.C.:
“... os tiranos são ditadores que ganham o
controle social e político pelo uso despótico pelo uso da força e da fraude. A
intimidação, o terror e o desrespeito às liberdades civis estão entre os
métodos usados para conquistar e manter o poder. A sucessão nesse estado de
ilegalidade é sempre difícil”.”
Um helicóptero despeja ácido, clima de
pânico
Em 21 de junho de 1968, o Jornal do Brasil publicou crônica do
jornalista José Carlos Oliveira sobre a invasão da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, na véspera: ... “moças e
rapazes deitados de bruços, com a cara enfiada na grama; moças forçadas a andar
de quatro diante de insolentes soldados da PM; dezenas de estudantes encostados
a um muro e com as mãos segurando a nuca, ou na mesma atitude, mas deitados de
bruços”.
Nos dias 19 e 20 de junho, o campus esteve
agitado. Na quinta-feira, 400 estudantes foram retirados de uma assembleia na Faculdade
de Economia e levados ao campo do Botafogo, palco das cenas que chocariam o
país. Comentando a crônica do colega, Zuenir Ventura disse que “a descrição de soldados urinando sobre
corpos indefesos ou passeando o cassetete entre as pernas das moças”
constituía “uma alegoria da profanação”.
Nesse clima acordou na sexta a Cidade
Maravilhosa. O ministro da Educação Tarso Dutra tinha prometido receber os
estudantes, que marcharam sob a liderança de Vladimir Palmeira, mas encontraram
o pátio do ministério cercado. Ali começou a “batalha campal”.
Com paus e pedras, os estudantes ainda
atacaram a embaixada dos Estados Unidos, em protesto contra os acordos
MEC-USAID, que previam a introdução de novo modelo de educação, baseado em
moldes estadunidenses. Isolados no último andar, funcionários da embaixada
atiravam contra os estudantes. Eles tentam correr, mas estão cercados; de um
lado, agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e da Polícia
Federal; de outro, a PM. Um helicóptero despeja ácido. Clima de pânico.
Parecia Paris, mas não era
O centro vira praça de guerra pela hora do
almoço naquela Sexta-feira Sangrenta.
Bombas de gás lacrimogênio chovem. O povo não se intimida. Quem sai do trabalho
adere à luta, indignado com a agressividade policial. Bancários, comerciários,
funcionários públicos. Do alto de um edifício, atiram cubos de gelo. E tudo
passa a servir de munição aérea: garrafas, cinzeiros, cadeiras, vasos, até uma
máquina de escrever.
No solo, luta-se com paus e pedras;
barricadas erguidas com material de construção protegem contra os chutes,
cacetadas e tiros. Estendeu-se por quase dez horas o maior combate de rua
travado pelo povo contra a ditadura. Quatro pessoas morreram, entre elas um
policial atingido por um tijolo. Mil presos pelo Dops.
As cenas naquele 21 de junho pareciam
espelhadas nas agitações parisienses de maio, com uma diferença: aqui lutava-se
contra algo concreto – um governo cada vez mais intolerante.
Passeata dos 100.000
Menos de uma semana depois da Sexta-feira Sangrenta, na quarta-feira
26 de junho, as ruas do centro do Rio ficaram, por decisão do governo, sem
policiamento – ou seja, sem incidentes.
O povo se moveu cantando o Hino da
Independência, emocionando-se nos versos:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Era a passeata dos 100.000, multidão
assombrosa, impensável naqueles dias. Marchavam artistas, intelectuais,
religiosos, sindicalistas, mães de estudantes, o povo carioca. À frente, os
líderes estudantis Vladimir Palmeira e Luís Travassos, presidente da clandestina UNE.
Uma comissão levou reivindicações a Costa
e Silva, que as negou em bloco. No dia 17 de julho, o governo proibiu toda
manifestação pública. Então, boa parte da estudantada concluiu que, contra a
ditadura, só restava a luta armada.
“Quando ouço falar em cultura, saco logo
meu revólver.”
(Joseph Goebbels, ministro da informação
e propaganda da Alemanha nazista)
“Em 16 de abril de 1968 estoura a greve
dos metalúrgicos de Contagem, sob o comando de Ênio Seabra: 1.600 operários
param. A Delegacia Regional do Trabalho (DRT) declara a greve ilegal. Mas, em
efeito cascata, com poucos dias os grevistas passam de 6.000.
O ministro do trabalho, coronel Jarbas
Passarinho, vai a Minas e, numa assembleia, diz que, se houver luta, perderá
quem tiver menos força. Resultado da ameaça: a greve se expande. O governo
recua, propõe reajuste de 10%, como abono. Mais dez empresas aderem à greve. O
aparato policial-militar é grande. Mas a greve só para quando Costa e Silva
anuncia a extensão do abono a todos os trabalhadores brasileiros.”
“A Oban (Operação Bandeirantes) foi
alimentada financeiramente por uma “caixinha”, administrada pelo então ministro
da fazenda Delfim Netto. Ele “passou o chapéu” em almoço para quinze
empresários e banqueiros. Por sugestão de Gastão Bueno Vidigal, dono do banco
mercantil e organizador do encontro, cada grupo ali representado contribuiu com
100.000 dólares.
Assim nasceu a Oban, poderosa organização
à margem da lei, clandestina, com carta branca para agir impunemente,
desvinculada de qualquer organismo oficial, formada por militares de diversas
patentes, no começo apenas do II Exército; e investigadores, delegados da
Polícia Civil e da Polícia federal. Como financiadores citava-se, entre outras
empresas, grupos Ultra, Ford, General Motors. (...)
A Oban logo mostrou serviço. Entre o fim
de setembro e começo de outubro de 1969, seus agentes produziram no corpo do
preso Virgílio Gomes da Silva as seguintes lesões, descritas em exame
médico-legal: escoriações em todo o rosto, braços e joelhos; escoriações
circulares, nos punhos direito e esquerdo (algemado); equimoses (manchas
causadas por hemorragia sob a pele) no tórax e abdômen; hematomas na mão
direita e na polpa escrotal; internamente, hematoma intenso e extenso na calota
craniana; fratura com afundamento do osso frontal; hematomas em toda a
superfície do encéfalo; hematoma sob quatro costelas esquerdas; fratura de três
costelas direitas.
Virgílio, comandante da operação de
sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, morreu por traumatismo
crânio-encefálico causado por instrumento contundente. Qual? Taco de beisebol?
Barra ou cano de ferro? Com o tempo, “aperfeiçoariam” o método, combinando
espancamento com choque elétrico, pau-de-arara, empalamento e todo tipo de
sevícia ao gosto de cada torturador.
A Oban trabalhava assim. E não dava
satisfação a ninguém, nem ao temível Dops. A tortura se tornaria como que uma política
de Estado.”
(...) “O resultado da votação na Câmara,
contra a licença para processar o deputado Moreira Alves, constituiu ótima
oportunidade para o governo mostrar força. A 13 de dezembro de 1968, o
presidente se reuniu com o Conselho Nacional de Segurança Nacional no Palácio
das Laranjeiras, Rio, para votar o quinto Ato Institucional, redigido pelo
ministro da justiça, Gama e Silva.
Dos 23 presentes, apenas o vice Pedro
Aleixo ficou contra. Sugeria o estado de sítio como alternativa. Justificou
que, por aquele caminho, estariam “instituindo um processo equivalente a uma
ditadura”. A palavra ditadura estava na boca de outros conselheiros, como o
coronel Jarbas Passarinho, que no entanto, considerando-a “inevitável”,
pronunciou a célebre frase: “Às favas, senhor presidente, todos os escrúpulos
de consciência”.”
“Sair das quadras constitucionais é
fácil. Difícil é voltar.”
(General Octávio Costa, assessor de
relações públicas do governo Médici)
“Dinheiro estrangeiro (via empréstimo)
viria mesmo a rodo na ditadura militar, engordando a dívida externa que em 1964
somava pouco mais de 3 bilhões de dólares e era um dos motivos alegados para o
golpe; em 1985, os militares a deixariam nos píncaros dos 100 bilhões de
dólares.”
Stuart Edward Angel Jones: assassinado num
ritual monstruoso
Tinha 26 anos, era bonito como galã de
cinema e, como tantos outros companheiros de luta, largou a universidade para
se dedicar à militância revolucionária. Pertencia ao Movimento Revolucionário 8
de Outubro, MR-8.
Agentes do Cisa, Centro de Informações da
Aeronáutica, assassinaram Stuart à noitinha do mesmo dia em que o prenderam, em
14 de junho de 1971. Foi torturado, amarrado à traseira de um jipe e arrastado
pelo pátio do quartel, com a boca aberta presa ao cano do escapamento. Da
janelinha de sua cela, o preso Alex Polari presenciou o ritual monstruoso que
relataria em detalhes à mãe de Stuart, Zuzu Angel, um ano depois.
Zuzu, apelido da mineira Zuleica Angel
Jones, era desquitada do norte-americano Norman Angel Jones, pai de seus três
filhos, incerto na presença e na participação para o sustento da família. Zuzu
trabalhou duro como costureira até chegar à merecida fama de estrela da alta
costura. Quando Stuart desapareceu, tentou afastar o fantasma da morte, mas a
confirmação veio na carta de Alex Polari.
Os militares, cinicamente, continuaram
colando os cartazes de “Procura-se” com a foto dele. Mas, a essa altura, usando
seu prestígio e o fato de Stuart ter dupla cidadania, Zuzu conquistou a
simpatia de importantes artistas e políticos americanos, como o senador Edward
Kennedy e o secretário de Estado Henry Kissinger. Seu modo criativo de chamar a
atenção para a situação política do país despertou ódio nos órgãos da repressão.
Cinco anos depois da morte de Stuart,
chegaria a vez dela. De acordo com a versão oficial, Zuzu morreu em acidente na
Estrada da Gávea, na saída do Túnel Dois Irmãos, atualmente túnel Zuzu Angel.
Na semana anterior, havia deixado um documento na casa do amigo Chico Buarque
para divulgação caso lhe acontecesse algo anormal:
“Se eu aparecer morta, por acidente ou
outro meio, terá sido por obra dos assassinos de meu amado filho”.”
Da cela, a mãe de Ivan Seixas ouviu o
marido ser torturado até a morte
“De quem é esse presunto”, pergunta um
policial. O outro responde: “Esse era o Roque”.
Roque era o nome de guerra do metalúrgico
Joaquim Alencar Seixas, pai de Ivan Seixas, futuro jornalista. Ivan foi preso
junto com o pai em 16 de abril de 1971, às 10 da manhã, na rua Vergueiro, São
Paulo. Tinha 16 anos. Foram levados para a Oban e torturados juntos, “na mesma
sala”. Foi torturado madrugada adentro e, na manhã do dia 17, levado pelos
policiais para uma mata que mais tarde seria o Parque do Estado. Simulariam um
fuzilamento para fazê-lo falar.
“No caminho, os caras pararam para tomar
café e me deixaram algemado no porta-malas da C14, onde vi a manchete da Folha da Tarde dizendo que meu pai havia
morrido ao resistir à prisão. Tinha a foto dele e tudo o mais”.
Ao voltar para a Oban para mais tortura,
Ivan reencontrou o pai ainda vivo. Joaquim Seixas seria assassinado pouco
depois, por volta das 7 da noite. A mãe de Ivan, presa também, estava logo
abaixo da sala de torturas. E ouviu Joaquim ser torturado até a morte. Soube
que o marido estava morto quando ouviu aquele diálogo entre os dois policiais.
(...) Anos depois, o jornalista Mário
Magalhães encontrou o laudo da necropsia feita no corpo de Virgílio Gomes da
Silva, o comandante Jonas da Aliança Libertadora Nacional. Não há um osso
inteiro, esta escrito: “o único órgão
intacto é o coração”. Não conseguiram destruir o coração de Virgílio.
A viúva de Virgílio, Ilda Martins da
Silva, mulher vigorosa, depois de torturada e separa dos quatro filhos pequenos
(que conseguiu reaver), depois de nove meses de prisão, rumou para Cuba. De lá,
voltou dezoito anos depois, com três filhos formados em engenharia e a caçula
em geologia.
Mário Alves: esfolado vivo e empalado com cassetete
estriado
O jornalista baiano Mário Alves, junto com os
ex-colegas de PCB Jacob Gorender e Apolônio de Carvalho, fundou em 1968 o
Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, PCBR, cuja secretaria-geral
exercia. Agentes do Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro
de Operações de Defesa Interna) o prenderam em 16 de janeiro de 1970 e levaram
ao quartel da Polícia do Exército na rua barão de Mesquita, Tijuca, um dos
centros de tortura do Rio. Os torturadores “capricharam”: esfolaram Mário vivo,
com uma escova de metal. Testemunhou o advogado Raimundo Teixeira Mendes, preso
com ele:
“Depois
de violentamente espancado, torturado com choques elétricos, no pau-de-arara,
afogamentos, etc., manteve a posição de nada responder a seus torturadores...
então introduziram um cassetete de madeira com estrias, que provocou a
perfuração de seus intestinos e a hemorragia que determinou sua morte”.”
Foi o primeiro caso em que a união reconheceu
responsabilidade pelo desaparecimento de um preso político, em 1987.
“O general Adyr Fiúza de Castro, um dos
criadores do Centro de Informações do Exército, CIE, declarou aos
historiadores:
“Quando
decidimos colocar o Exército na luta contra a subversão – que praticamente foi
estudantil e intelectual na sua totalidade, de gente pequeno-burguesa,
grã-fina, pois nunca encontrei um proletário, era tudo gente fina, acostumada a
lençóis de linho –, foi a mesma coisa que matar uma mosca com um martelo-pilão.
Evidentemente, o método mata a mosca, pulveriza a mosca, esmigalha a mosca,
quando, às vezes, apenas com um abano é possível matar aquela mosca ou
espantá-la. E nós empregamos o martelo-pilão”.”
“Muito depressa a Igreja Católica,
apoiadora de primeira hora do golpe militar, descobriu que havia embarcado em
canoa furada. Aos poucos, passam a multiplicar-se os choques até de arcebispos
com o governo. A vala cavada entre os dois se aprofunda depois de 1968. A
igreja, em breve cairá na total oposição à ditadura.”
Arrebentaram Frei Tito por fora e por
dentro
Preso em novembro de 1969 em São Paulo,
acusado de ligações com Carlos Marighella, Tito de Alencar Lima é entregue ao
delegado Fleury e aos capitães Albernaz, Homero e Maurício – este, ao buscá-lo
para “interrogatório”, diz-lhe:
“Você
agora vai conhecer a sucursal do inferno.”
Sofreu cutiladas, pau-de-arara, telefones
(tapas simultâneos com as duas mãos nos ouvidos), choques, cadeira-do-dragão
(de metal, eletrificada, sentavam o supliciado nu e molhavam o chão para
aumentar o choque), pauladas, ofensas religiosas, massacre sexual, queimaduras
de cigarro, corredor polonês.
Deportado para o Chile em 1971, segue para
Roma e Paris, onde recebe apoio dos dominicanos.
Enforca-se a 10 de agosto de 1974, aos 29
anos, enlouquecido pelo trauma das torturas que sofreu nas mãos dos militares.
Em
1973, ficaram famosos dois crimes que envolviam gente poderosa: as mortes de
Aracelli Cabrera Crespo, de quase 9 anos, em Vitória, Espírito Santo; e de Ana
Lídia Braga, 1 ano mais nova, em Brasília, emblemáticos: só poderiam acontecer
num país dominado pelo terror de Estado.
Virariam senhores acima de qualquer
suspeita
Entre os implicados no caso Aracelli
figuravam Dante Michelini Júnior, filho de latifundiário influente nos meios
militares; e Paulinho Helal, de família igualmente poderosa. A menina, que a
mãe mandou entregar um envelope a Jorge Michelini, tio de Dante, foi drogada,
estuprada e morta num apartamento do edifício Apolo, centro da capital
capixaba. Os rapazes, sob efeito de cocaína, lhe destruíram a dentadas os seios,
parte da barriga e da vagina. Levaram o corpo para o bar-boate de Jorge
Michelini, onde o deixaram num freezer por vários dias.
“Quando voltaram a si, não sabiam o que
fazer com o cadáver”, diz o jornalista José Louzeiro, autor de Araceli, Meu Amor (Civilização
Brasileira, 1976).
O corpo pretejou no freezer. Os jovens
jogaram-lhe ácido para dificultar a identificação e o abandonaram num matagal,
nos fundos do Hospital Jesus menino. Segundo Louzeiro, o caso produziu 14
mortes, desde possíveis testemunhas até pessoas interessadas em desvendar o
crime.
“Saia desse hotel que vão te envenenar”
“A ditadura era toda a favor dos
implicados, sobretudo o Dante Michelini, o pai dele era golpista e beneficiário
do regime. Estavam acima do bem e do mal”, diz 35 anos depois o jornalista José
Louzeiro.
Na época, ele era secretário de redação de
Última Hora, no Rio, e preparava o
livro Lúcio Flávio, O Passageiro da
Agonia, sobre um bandido popular, que viraria filme de Hector Babenco.
Conta que a turma da motoca, grupo de playboys de Vitória, tinha certeza da
impunidade. Anos antes, eles se envolveram noutro crime de morte: atropelaram
um guarda de trânsito que ordenou ao grupo para parar. Sequer resultou em
inquérito.
Sobre o caso Aracelli, Louzeiro
entrevistou mais de 40 pessoas. Certa vez o funcionário de um hotel,
pertencente a família Helal, o salvou:
“O senhor não é o autor de Lúcio Flávio? Então saia desse hotel que
vão te envenenar”.
Louzeiro passou a preencher ficha num
hotel e se hospedar noutro. Algo o intrigava: pessoas ouvidas pela polícia
recebiam orientação dos advogados dos acusados. A família contratou os doze
melhores advogados de Vitória. Em 1980, Dante e Paulinho foram condenados, mas
a sentença foi anulada. Em novo julgamento, em 1991, foram absolvidos. E se
tornariam pais de família, católicos, senhores acima de qualquer suspeita,
arremata Louzeiro.
A data da morte de Aracelli, 18 de maio,
pela Lei 9.770, de 17 de maio de 2000, virou Dia Nacional de Combate ao Abuso e
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. (Como um escárnio, Dante Michelini, ainda é o nome de
importante avenida de Vitória)
Ana Lídia: Sufocada sob os estupradores
Tarde de 10 de setembro de 1973. Ana Lídia
Braga sai do Colégio Madre Carmen Salles com um rapaz loiro, alto. Seu corpo
será encontrado no dia seguinte no terreno da universidade de Brasília, UnB.
Esta nu. A perícia apontará morte por sufocação. Os cabelos loiros foram
cortados e se espalhavam pela terra. A boneca Susy, quatro cadernos e alguns
lápis de cor são localizados nas redondezas. A mochila e as roupas jamais apareceriam.
Ana Lídia foi sequestrada pelo próprio
irmão de 20 anos, Álvaro Henrique, 13 anos mais velho, e levada a um sítio em
Sobradinho, perto de Brasília. Um grupo de jovens estuprou e matou a menina.
O sítio pertencia ao senador capixaba Eurico
Rezende, da Arena, Aliança Renovadora Nacional, partido do governo militar. A
censura proibiu a divulgação do resultado das investigações.
Fazia parte da turma, entre outros filhos
de gente graúda, o futuro presidente Fernando Collor, que não participou do
crime. Estavam envolvidos, sim, Eduardo Ribeiro Rezende, filho do senador e
vice-líder da Arena no Senado; e Alfredo Buzaid Júnior, o Buzaidinho, filho de
nada menos que o ministro da justiça de Médici.
Especialistas que acompanharam o caso são
unânimes: houve falhas na investigação. E o crime ficaria impune.
Inferno no paraíso: Cultura “do pau” na luz
e na casa da Vovó
Ao estourar o golpe de 1964, a cultura “do
pau” estava disseminada na polícia. Chegou ao Dops, na Luz, levada pelo
delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury. Também chegou ao Doi-Codi, no
Paraíso, chamado pelos militares de Casa da Vovó.
Os prisioneiros chegavam em sangue,
feridos ou agonizantes. Pendurados no pau-de-arara, recebiam descargas
elétricas. Às vezes ficavam descalços em pisos molhados, o que aumentava a
força dos choques. Recebiam violentos jatos de água e areia.
Furadeiras elétricas perfuravam corpos.
Coronhadas abriam cabeças. Socos, pontapés, afogamento, navalhas rasgando a
carne, queimaduras de cigarro, ataques sexuais: torturas aplicadas pelos homens
de Fleury, listadas em Autópsia do Medo,
livro de Percival de Souza.
“Quando havia homem e mulher, companheiro e
companheira, marido e esposa, ‘ele’ era obrigado a ficar olhando o momento em
que se enfiavam os dedos no ânus dela”.
Crueldade requintada: ao interrogar um
padre, o investigador vestiu-se como religioso. De Bíblia na mão, na escuridão,
ele torturava o padre física, emocional e espiritualmente. Agentes em bando
saíam pelos corredores com uma ratazana pintada de rosa, enquanto tocavam
trombone e bumbo. Tudo era tão aterrorizante que uma mulher afirmou que viu uma
banheira cheia de sangue na diretoria do Dops. O jornalista não conseguiu
confirmar. Mas a banheira de sangue se transformou no pesadelo dessa
prisioneira.
Torturadores obrigavam presos a voltar
para a cela arrastando-se; médicos reanimavam presos para suportar novas
torturas. A ordem era: se matassem alguém, os agentes deveriam sumir com o
corpo, sem sinais de identificação, para o caso de ser achado. No Dops, um
agente arrancou os dedos de um preso com um punhal de lâmina afiada. O
investigador Henrique Perrone levou para casa no bolso do paletó um dedo, que
sua mulher encontrou. No Instituto Médico Legal, a cabeça de um foi costurada
no corpo de outro.
Calcula-se que, entre 1969 e 1973, os
subterrâneos da ditadura provocaram pelo menos 500 mortes.
“A Arena é o partido do “sim”; e o MDB é
o partido do “sim, senhor!”.
(Leonel Brizola, político gaúcho)
O verdadeiro motivo
“Comissão Parlamentar de Inquérito,
dirigida por Alencar Furtado, demonstra que as maiores empresas estrangeiras
instaladas no Brasil investiram aqui um total de 299 milhões de dólares
trazidos de fora, enquanto remeteram para o exterior, só de 1965 a 1975, um
total de 755 milhões em dólares, e, ainda, reinvestiram aqui lucros em
cruzeiros registrados em dólares no valor de 693 milhões. Como negar que somos
um dos principais exportadores de capitais do mundo capitalista? O deputado
pagou caro pela ousadia: foi cassado.”
(Darcy
Ribeiro – em Aos Trancos e Barrancos:
como o Brasil deu no que deu)
Para esconder um fracasso, deixaram morrer
quase 3.000 crianças, só em 1974
“A historiadora Maria Helena Moreira
Alves, explica que o objetivo central da censura num regime autoritário é
esconder os conflitos na tentativa de “construir”, ainda que artificialmente,
uma sociedade estável e homogênea.
Assim, os meios de comunicação – todos –
foram proibidos de noticiar um surto de meningite em São Paulo em 1974.
Nas redações sob censura prévia, os
censores de plantão se encarregaram de vetar as notícias. Nas outras, os
jornalistas sofriam o drama: primeiro, não sabiam de nada; depois, quando
sabiam, era pelo telefonema da censura “proibindo qualquer notícia sobre
meningite”... A notícia se espalhou no boca a boca, devagar e incompleta. Décio
Nitrini conta que a epidemia começou atacando a periferia, atacando as crianças
pobres.
“Só quando atingiu a classe média, centro
e regiões nobres, não dava pra esconder mais, aí o governo fez vacinação em
massa”, recorda Décio.
E por que os militares queriam esconder um
surto de meningite, mesmo à custa da morte de inocentes? Porque mostraria que
não eram onipotentes. A prioridade, como sempre, era mostrar ao povo que
mantinham tudo sob controle.
A liberação da notícia chegou tarde, e com
restrições:
“Continua, entretanto, proibida a divulgação
de matérias alarmistas e tendenciosas, que possam gerar pânico entre a
população.”
Morreram, no auge da epidemia, 2.575 em
São Paulo e 305 no Rio de Janeiro, crianças na quase totalidade. E o povo não foi
avisado. Por causa da censura, para esconder seu fracasso na área da saúde, a
ditadura permitiu que quase 3.000 crianças morressem só em 1974.
“Geisel, que havia assumido o governo com
uma dívida de 10 bilhões de dólares, ao final de seu mandato em 1979 deixaria
uma dívida mais que quadruplicada: 42 bilhões de dólares.”
As guerreiras que pegaram em armas contra a
ditadura
(...) Um dia, o capitão Sebastião de
Moura, codinome Dr. Luchini, ou também Curió, tirou a prisioneira da guerrilha
do Araguaia Dina do cativeiro e a entregou a uma equipe que embarcou num
helicóptero. Aterrissariam nalgum ponto da espessa mata, perto de Xambioá. O
sargento do Exército Joaquim Artur Lopes de Souza, Ivan de apelido, chefiava a
equipe.
“Vocês vão me matar agora?”, perguntou
Dina, ao tocar o solo.
“Não, mais na frente um pouco. Agora só
quero que você reconheça um ponto”, teria respondido Ivan.
Duzentos metros adiante, o grupo para em
uma clareira.
“Vou
morrer agora?”, volta a perguntar a moça.
“Vai, agora você vai ter que ir”,
responde Ivan.
“Então, quero morrer de frente”, pede,
encarando o executor nos olhos.
Ivan se aproxima e, a 2 metros, atira com
a pistola calibre 45, atingindo Dina acima do coração. Ela não morreu no ato e
levou um segundo tiro, na cabeça. Enterraram Dina ali mesmo. O corpo jamais foi
encontrado.
O universo da guerrilha, urbana e rural, é
pontuado de mulheres que se destacaram na luta para livrar o Brasil da ditadura
militar. Sofreram torturas, constrangimentos físicos, sevícias sexuais.
Embrenharam-se na mata empunhando armas. Muitas morreram bravamente encarando
os algozes, como Dina; discursando pela liberdade antes de abatidas; cantando,
perdidas na selva, para espantar a fome e sobreviver a fim de transmitir
ensinamentos aos novatos. Surpreenderam os militares, obrigados a admirar-lhes
a coragem.
Ivan gostava de contar aos colegas de
farda que o último olhar de Dina transmitia mais orgulho que medo. Falou da
guerrilheira como a pessoa mais valente que conheceu, elogiou Dina até quando
ele próprio ia morrer, treze anos mais tarde, assassinado supostamente como
“queima de arquivo”.
“As mulheres são muito mais ferozes do
que os homens”, afirma o general Adyr Fiúza de Castro, um dos criadores do
Centro de Informações do Exército, Cie, que chefiou o Centro de Operações de
Defesa Interna, Codi, no Rio.
Difícil dizer se a percepção do general
Fiúza é a mais acertada. Mas é certo que essas mulheres foram corajosas e
obstinadas em seu objetivo de derrubar a ditadura. Telma Regina Cordeiro
Corrêa, a Lia, escapou de todos os cercos da ditadura no Araguaia. Sozinha,
tentou sair do Bico do papagaio ao ver que a guerrilha havia sido derrotada.
Perdeu-se numa região rochosa, acabou sem comida, sem água. Em meados de 1974,
os militares encontraram o corpo decomposto, com um diário ao lado.
Nas últimas páginas, Lia registra que
passava fome e sede, mas não podia morrer, pois ainda tinha muita coisa a
passar para os outros guerrilheiros. A ponto de sucumbir, cantava a estrofe da
canção dos guerrilheiros:
“Ama a vida, despreza a morte e vai ao
encontro do porvir.”
E seguia adiante. “Não aguento mais”,
foram as últimas palavras escritas, com letra fraca.”
Vendeu caro sua vida: Sônia enfrentou a
patrulha sozinha e acertou dois
A carioca Lúcia Maria de Souza, a Sônia,
cursou medicina e ganhou a estima do povo da mata por atender como parteira. No
livro Operação Araguaia, Taís Morais
e Eumano Silva narram sua saga. Na tarde de 24 de outubro de 1973, Sônia e um
morador saem do acampamento para encontrar dois companheiros. Onze dias antes,
os militares mataram três guerrilheiros.
Sônia não atendeu à regra de evitar
caminhos conhecidos. Escondeu as botinas e foi descalça até um córrego. Ao
voltar, não as encontrou. Aparece uma patrulha com oito homens, chefiada pelo
doutor Asdrúbal – codinome de um major. Ao receber voz de prisão, Sônia saca do
coldre um revólver, que cai porque Asdrúbal a acerta na coxa. Escurece e os
militares desistem de ir atrás do morador, que foge.
Sônia sangra no chão e Asdrúbal
aproxima-se. Acha a moça bonita. A guerrilheira tinha outro revólver escondido:
Asdrúbal leva uma bala no rosto e uma na mão; outro oficial levou o terceiro
tiro no braço. Os militares restantes imobilizaram Sônia, que já tentava
escapar arrastando-se pelo capinzal, sem largar o 38.
“Qual o seu nome?, perguntou um oficial.
“Guerrilheira não tem nome, seu filho da
puta. Tem causa. Eu luto pela liberdade” – respondeu Sônia.
“Se quer liberdade, então toma!”, reagiu
o militar, descarregando ele e companheiros, suas armas. Sônia levou mais de 80
tiros. Deixaram o corpo no local. O povo da região contava essa história variando
as versões, admirado da valentia da moça, como admirados ficaram os militares
que a enfrentaram.
Os generais não podiam alegar que não
sabiam
Os militares prenderam moradores do
Araguaia de forma arbitrária, torturaram, atiraram em guerrilheiros feridos no
chão, executaram prisioneiros, profanaram corpos, abandonaram seus próprios
valores e rasgaram a Convenção de Genebra (1949), que entre outros atos veta a
prisão e a “punição coletiva” de civis.
“Agiram, enfim, segundo a lei da selva,
de acordo com os princípios da barbárie que deveriam combater. Quando tudo
terminou, apagaram as evidências daqueles atos: cremaram arquivos e cadáveres
para que não restasse sinal algum de um ou de outro”, escreve o jornalista Hugo
Studart, em Lei da Selva – Estratégias,
Imaginário e Discurso dos Militares sobre a guerrilha do Araguaia.
No entanto, jamais jornalista algum nem
historiador encontrou qualquer documento sobre quem dava e como dava as ordens
para tantas execuções sumárias. Ao que parece, as ordens teriam sido todas
verbais; e, pelas leis supremas dos militares, as da disciplina e da obediência
à hierarquia, só podiam vir do chefe-mor: o general-presidente.
Os membros da Comunidade de Informações no
Araguaia e das duas equipes de operações especiais tinham grande independência
para atuar. Oficiais subalternos, até mesmo sargentos, tomaram muitas decisões
vitais. Contudo, não agiam contra a vontade de seus superiores, especialmente
os generais.
“Não se pode alegar que no Araguaia alguns
pequenos grupos militares tenham adquirido ‘autonomia’ e cometido os ‘excessos’
por conta própria, sem que os generais em Brasília tenham qualquer
responsabilidade sobre esses atos”, escreve Studart.”
Cem milhões de anos sob as águas
Severo crítico da obra da construção da
usina de Itaipu, Darcy Ribeiro, ministro-chefe da Casa Civil do governo
Goulart, escreveu:
“Deixamos de construir, totalmente em
território brasileiro, uma hidrelétrica de 10 milhões de quilowatts, projetada
até o detalhe e iniciada no governo Goulart, para construir uma de 12 milhões
de quilowatts, metade da qual pertence ao Paraguai (que contribuiu
financeiramente na bilionária construção de Itaipu, com a quantia exata de 1
dólar). Nos anos seguintes se gastariam
vários bilhões de dólares, metade deles emprestados ao Paraguai para serem
pagos com a energia produzida. (...) A maior estupidez da operação, porém, foi
a ecológica. Com ela, estancamos, sem nenhuma necessidade, a mais bela
cachoeira do mundo”.
Darcy se referia ao Salto de Sete Quedas,
as quedas-d’água mais volumosas do planeta, com 300 metros de altura e mais de
100 milhões de anos de idade, que desapareceu em 1982, quando as comportas de
Itaipu se abriram e a inundação cobriu uma imensidão de território.
“Como
é que se chega ao meu nome? Ora, porque fulano é cretino, sicrano é burro,
beltrano é safado! Isso é jeito?”
(General
Ernesto Geisel, comentando que “só num país como o Brasil” um homem como ele
“poderia chegar a presidente da república”)
“... a polícia esta matando a três por
dois. Eu tenho mais medo, hoje, da polícia do que do ladrão”.
(General
Carlos Alberto da Fontoura, chefe do SNI no governo Médici, entrevistado em
1993)
“O Doi (...) é destacamento de operações:
‘Vá lá e faça isso’. (...) Então, o Doi era o braço armado da ‘Inquisição’,
vamos dizer assim. É isso.”
(General
Adyr Fiúza de Castro, que chefiou o Doi-Codi do Rio de Janeiro)
Medo, o editor
Nós somos uma geração de jornalistas
formados no AI-5, na paranoia. Nós somos o medo. Ele escorre por cada linha que
escrevemos. E mancha o papel de vergonha. Nosso jeito de escrever foi moldado
pela grande imprensa – pela autocensura. Nosso trabalho raras vezes tinha um
sentido social. Tinha apenas um sentido prático: sobreviver, de medo. Não
devemos acusar ninguém pelo que não dissemos: com raras exceções, devemos
acusar nós mesmos. Esse número zero de Repórter
poderia ter sido muito melhor. Muito mais verdadeiro. Mas não foi possível:
tivemos medo. E só por isso compreendemos aqueles que se recusaram a colaborar.
Ou até mesmo a falar. São nossos companheiros do medo que nos sufoca.
(Do
editorial do numero zero de Repórter,
novembro de 1977)
Quem disse que generais também não
torturavam?
Prontuário: General Siseno Sarmento
“Quando cheguei à sala, o palco já estava
preparado. Cerca de 10 a 12 homens. O capitão Zamith sentado a uma mesa. No
chão um cobertor ensopado de água. Em cima uma banqueta. Mandaram-me tirar a
roupa e sentar. Eles me amarraram as pernas, em volta da banqueta, junto com os
braços. Colocaram-me uma espécie de grampo nos dedos dos pés, no pênis e nas
orelhas. Zamith disse:
‘Você pode poupar tudo isso se colaborar’.
Respondi que começassem logo com aquilo e
eles rodaram a maquininha. Fui jogado para trás, então os homens começaram a me
espancar com pontapés, eu voava de um lado para outro, e só gritava ‘filhos da
putas, não vou falar’, eles paravam, me colocavam sentado, o Zamith falava:
‘Diz onde esta o Marighella que tudo isso acaba’.
Eu nada dizia e a maquininha rodava, e
tudo se repetia. Foram 6 horas de tortura.
Terceiro dia, terrível. À noite, depois de
umas duas horas de porradas, Zamith dá uma parada. Entra o general Siseno
Sarmento, comandante do I Exército [Rio de Janeiro]. Pensei: ‘Estou salvo, este
homem veio para acabar com esta loucura’.
O general entra, acende um charuto, olha
para mim e pergunta a Zamith:
‘É este o comunista?’
Pega o charuto e apaga na minha carne.
Apagou o charuto umas 4 ou 5 vezes no meu corpo. Como podia um general,
comandante de Exército, rebaixar-se tanto, meu Deus! Acreditei, neste momento,
que seria mesmo morto por aqueles homens”.
Acimar Fernandes, militante da Ação
Libertadora Nacional, ALN: trechos do livro póstumo, inédito, sem título,
guardado por seu filho Karl Marcius.
Eterno golpista, em 1954 Sarmento assinou o
Manifesto dos Coronéis contra Getúlio e Jango. Comandou o I Exército no governo
Médici. Em 1971, foi nomeado para o Superior Tribunal militar, onde ficou até
1977.”
Sinal dos tempos: não respeitavam nem
batina
Jesuíta morreu ao defender mulheres
torturadas. O povo destruiu a cadeia.
Indefesos diante da truculência da
ditadura, inúmeros brasileiros pobres contavam com uma única ajuda: os padres. Era
o caso do jesuíta João Bosco Penido Burnier, mineiro de Juiz de Fora,
missionário entre os bacairis e posseiros de São Félix do Araguaia, Mato
Grosso.
Um dia, o povoado de Ribeirão Bonito rezava
a novena de Nossa Senhora Aparecida. Celebraram a cerimônia principal,
especialmente vindos, dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix, e o padre
Burnier. Um escritor local descreveu:
“Era
tarde de 11 de outubro de 1976. Duas mulheres sertanejas, Margarida e Santana,
estavam sendo torturadas na cadeia-delegacia. (...) os dois foram interceder
pelas mulheres torturadas. Quatro policiais os esperavam no terreiro da
delegacia e apenas foi possível um diálogo de minutos. Um soldado desfechou no
rosto do padre João Bosco um soco, uma coronhada e o tiro fatal. (...) Foi
morrer, gloriosamente mártir, no dia seguinte, festa da Mãe Aparecida, em
Goiânia”.
Casaldáliga acrescentaria detalhes: quando
chegaram, os policiais seguravam um caititu bravo, que usariam para morder as
mulheres. E a bala que matou o padre era do tipo dundum, que explode ao
penetrar no corpo.
Depois da missa de sétimo dia, o povo
seguiu em procissão até a delegacia, libertou os presos e destruiu o prédio. No
lugar ergueu um santuário.
As verdadeiras heranças malditas
Vimos como o imperialismo americano,
jogando bruto contra o bloco socialista e países do “terceiro mundo” em que os
povos cobravam mudanças e governos soberanos, impôs mundo afora ditaduras
servis a Washington. A nossa tratou primordialmente de impedir as reformas que
ali vinham. Porém, não se tratou apenas de impor 21 anos de chumbo, mas também de
preparar o ambiente que, na redemocratização, “possibilitaria ao neoliberalismo
aportar com tudo no território brasileiro, estimulado pelas elites
empresariais, saudado pelas classes médias e engolidos pelos trabalhadores sem
maiores resistências”, como escreveu para Caros Amigos o jornalista Hamilton
Octavio de Souza, professor da Pontifícia Universidade Católica/SP.
Não à toa, os golpistas destruíram a experiência
educacional transformadora pré-1964, aceleraram a privatização do ensino,
criaram “fábricas de diplomas” para formar a intelectualidade neoliberal; em
vez de reforma agrária, de produção de alimentos com proteção ambiental,
concentraram mais terras em menos mãos e passamos a conviver com latifúndios
improdutivos ou do agronegócio exportador e predador do meio ambiente.
Endividaram o país com obras faraônicas;
contribuíram para o saque à Amazônia; aceleraram a deterioração cultural do
povo, em dobradinha com empresários antinacionais, promotores da “baixaria
televisiva” e da alienação, num esquema que perdura. Acabada a ditadura, as
elites avançaram sobre os direitos dos trabalhadores, puseram milhões na
informalidade e aprofundaram o fosso entre a minoria rica e a extensa maioria
pobre ou miserável. O último “general de plantão” nos legará um país cheio de
problemas quando deixar o poder. Violência, desagregação, individualismo,
consumismo, o levar vantagem a todo preço, mediocridade generalizada – muitos
anos de democracia precisam ainda rolar até nos livrarmos dessas heranças
malditas.
“Quem for contra a abertura democrática,
eu prendo e arrebento”.
(General
Figueiredo, em resposta a pergunta sobre como ele enfrentaria os radicais
contrários à abertura)
“O jornal humorístico O Pasquim alcançou tiragens semanais
imensas. Cada número uma capa, cada capa uma opinião:
SOMENTE A
TELEVISÃO
DESLIGADA
SALVARÁ
O BRASIL
“O Pasquim
não se responsabiliza pelas opiniões de seus colaboradores; aliás, nem
pelas suas.”
“O Pasquim
– um jornal de oposição ao governo grego.”
“Se alguém pensa que o Pasquim se atemoriza com ameaças e
pressões, pode tomar nota de uma coisa: é verdade.”
“O importante não é vencer, é sair vivo”.”
Escola elitizada sobre controle político
O golpe de 1964 e a ditadura militar
interromperam e reprimiram a experiência educacional transformadora que
floresceu nos anos 50 e na primeira metade de 60. Os colégios vocacionais e os
programas de alfabetização baseados no método Paulo Freire, que estimulavam a
participação coletiva e a emancipação política, foram banidos do cenário
nacional.
Ao mesmo tempo os governos militares
aceleraram o processo de privatização do sistema educacional. Foram criadas as
“fundações sem fins lucrativos” e as empresas de educação, que rebaixariam o
nível do ensino, aviltaram a profissão de professor e enriqueceram seus donos e
“mantenedores”. As fábricas de diplomas ganharam status de faculdades e universidades.
O sistema privado criado na ditadura
permanece intacto, não apenas vigora até hoje – representa mais de 72% das
vagas oferecidas anualmente no ensino superior – como é também um dos pilares
de formação e sustentação intelectual e política do neoliberalismo. A escola
brasileira, na sua maioria, não gera nem transforma conhecimento, apenas
reproduz o pensamento dominante.
(Hamilton
Octavio de Souza)
“A tirania é o regime que tem menor
duração, e de todos, é o que tem o pior final”.
(Nicolau
Maquiavel, 1469-1527, historiador, poeta e músico italiano)
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