sexta-feira, 9 de maio de 2014

Senador tucano explica tudo: “@#$%$&*@%$%!” - por Laura Capriglione (Yahoo!)

Blogueiro: Senador, senador! O senhor poderia responder a importância que o senhor dá às CPIs?

Senador Aloysio Nunes Ferreira: A importância das CPIs é investigar problemas que ocorrem no âmbito do governo ou mesmo fora do âmbito do governo. É um poder de investigação que o congresso tem.

Blogueiro: E o que o senhor tem a dizer do fato de o seu partido lá em São Paulo ter enterrado 70 [pedidos de abertura] de CPIs? Não ter deixado acontecer nenhuma CPI em São Paulo?

Senador Aloysio: Existem investigações em São Paulo que são muito profundas em relação a essa história do metrô, foram levadas adiante pela Procuradoria do Estado, pela Corregedoria do Estado, pelo Ministério Público, pela Justiça...

Blogueiro: Mas independente disso o seu partido não deixou passar nenhuma CPI. E sobre o suposto envolvimento do senhor...

Senador Aloysio: Vai pra puta que te pariu! Cacete! Vagabundo!


     Então está combinado: quando lhe fizerem uma pergunta incômoda, aja como um homem. Vá para cima. Xingue a mãe de seu interlocutor - serve qualquer das variáveis de meretriz.

     Use todo o vocabulário chulo de que lembrar. Mas tem de vir num jato (nada de ficar pensando).

     Ameace bater. Corra atrás do meliante perguntador e chame a segurança para prendê-lo. Mas, acima de tudo, não responda nada.

     Foi esse script do machão indignado que o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, senador por São Paulo, cotado para vice na chapa do presidenciável tucano Aécio Neves, seguiu ontem ao ser inquirido sobre seu “suposto envolvimento...”.

     Nem precisou que o blogueiro explicitasse envolvimento em quê. Antes da conclusão da frase, o senador arremeteu: “Vai pra puta que te pariu! Cacete!” E seguiu-se uma saraivada de $&@$%*¨&%@$%*¨&%.

     Bonito e fino!

     Aloysio sabia a que “suposto envolvimento” o blogueiro se referia, mesmo sem ele tê-lo mencionado. Segundo Everton Rheinheimer, ex-diretor de vendas da Siemens, disse à Polícia Federal, o senador manteria “estreito relacionamento” com um lobista acusado de pagamento de propinas a políticos, a fim de ajudar a multinacional alemã a ganhar contratos do Metrô e da CPTM (que administra os trens intermunicipais).

     Em vez de responder por que os tucanos, no poder do Estado de São Paulo há 20 anos, barram qualquer CPI sobre o assunto; em vez de defender sua inocência, o senador preferiu partir para a intimidação pura e simples.

     Perseguido por Aloysio e auxiliares até o estacionamento do Senado, o blogueiro acabou detido e ainda teve o celular com que gravou o bate-boca “periciado”, sabe-se lá o que isso quer dizer.

     Ah, mas o blogueiro é conhecido petista. Rodrigo Grassi, apelido Rodrigo Pilha, foi assessor parlamentar da senadora Erika Kokai (PT-DF), que o exonerou quando ele hostilizou o presidente do STF, Joaquim Barbosa, na saída de um restaurante, chamando-o de “tucano” e “autoritário”. Barbosa ignorou-o.

     No caso de Aloysio, não houve gritos, nem acusações por parte do blogueiro. Grassi ainda teve o cuidado de perguntar sobre “o suposto envolvimento” –usa-se suposto quando resta ainda alguma dúvida...

     A gritaria veio, sim, de um Aloysio descomposto, desfigurado e agressivo. Por que será?

     Imagine-se a presidente da Petrobrás, Graça Foster, respondendo com palavras de baixo calão à indagação de parlamentares que investigam a compra da refinaria de Pasadena;

     Ou a presidente Dilma Rousseff, mandando à “puta que o pariu” o dirigente da Força Sindical (Paulinho da Força), que, depois de tomar uns bons tragos da tequila que levou ao ato público de Primeiro de Maio, disse que ela deveria estar confinada no presídio da Papuda.

     Homem público que é, Aloysio já viu de tudo em uma vida que inclui ter sido motorista e guarda-costas de Carlos Marighella, o inimigo público número 1 da Ditadura Militar. Bem antes dos tempos tucanos, em agosto de 1968, o hoje senador integrou o grupo que assaltou o trem pagador da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Os recursos serviriam para sustentar a luta armada contra o regime.

     Por uma carreira tão intensa, é difícil acreditar que Aloysio se tenha deixado excitar assim por um blogueiro desconhecido, que o filmava com um reles iPhone (quem antes conhecia o tal blog “Botando Pilha”?).

     Pois foi exatamente isso o que aconteceu. Flagrado no ato xingatório pelo vídeo divulgado por Rodrigo Grassi (ou Pilha), o tucano ainda tentou manter a pose. Em entrevista a “O Globo” disse:

     Eu não tinha outra atitude que não partir para cima dele para lhe dar um pescoção. Eu fui agredido! Não tenho envolvimento em caso nenhum de metrô. (...) É um bando de vagabundos, cafajestes! Só não dei um pescoção nele porque ele correu mais do que eu!

     Nossa!

     Enquanto isso, o metrô de São Paulo é campeão de superlotação –tente pegar a linha leste-oeste no horário de pico; as panes de trens tornaram-se rotina na cidade; as denúncias de corrupção entre a Siemens e políticos paulistas são apuradas na Europa, mas nada de CPI por aqui; falta água na maior cidade do país porque a Sabesp (estatal do governo do Estado) desperdiça mais de 32% da água limpa que produz e é incapaz de tratar adequadamente o esgoto...

     Explica isso para a gente, senador! Mas sem xingar as mães, por favor.