diante da foto patética do fernando gabeira, envelhecido e barrigudo como eu, trepado num caminhão de som e discursando a favor do golpe, em copacabana, alguém aqui no foicebook bradou: “gabeira está gagá!”
gabeira está gagá?
acho que não. o juízo generoso do internauta desenterrou uma história de amarga memória dos anos 70. não me agrada escrever sobre essas coisas, mas vai que eu morro de uma hora para a outra e isso se esvai na poeira do tempo...
dias após o assassinato de vladimir herzog no doi-codi, o correspondente da veja na bahia, talvane guedes da fonseca, militante do partidão, publicou um artigo num jornal local corroborando a tese dos milicos: vlado não fora assassinado, mas se suicidara.
a veja mandou à bahia o editor paulo totti – um dos jornalistas mais dignos que conheci – para averiguar que cazzo havia levado talvane a escrever aquilo. generoso, incapaz de fazer um julgamento apressado a respeito de quem quer que fosse, o gaúcho totti voltou a são paulo e, cheio de cuidados, disse a um grupo de jornalistas da revista: “a única explicação que encontro para o caso é que o talvane pirou”.
ao ouvir aquilo, renatão pompeu obtemperou: “desculpe, totti, mas pirar pirei eu, que passei oito meses num hospício tomando haloperidol na veia todos os dias. talvane não pirou. talvane é um filho da puta.”
todo esse relambório hiperbólico é para dizer o seguinte ao caríssimo seguidor do foicebook que acha que o gabeira está gagá. não está.
gagá estou eu, às portas dos setenta anos. gabeira virou um filho da puta.
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