Talvez porque a manifestação não contivesse os manipulados
pela rede globo, não contivesse fascistas, homofóbicos, golpistas, fanáticos
religiosos, racistas, alienados diversos, títeres pedindo golpe militar, talvez
porque não tivesse outdoors espalhados pela cidade (¿bancados por quem,
mesmo?), não tivesse cobertura ao vivo o dia inteiro dos meios televisivos,
talvez porque ainda tivéssemos enfrentado uma bela chuva (com eventuais raios),
talvez porque toda sorte de provocações tenham sido feitas contra o grupo que
protestava e tenham sido respondidas com bom humor, ou talvez por causa disto
tudo somado, uma dessas brasileiras de bem arremessou da varanda de seu
apartamento hoje, do alto de um prédio aqui em Vitória, uma bandeja de vidro
sobre os manifestantes.
Como seu prédio era recuado, por sorte, ela não conseguiu
acertar nenhuma pessoa.
Com certeza a madame que praticou esta tentativa de
homicídio vai dormir se achando uma heroína pelo seu grande feito.
Eu não sei se o fascismo transforma as pessoas em monstros,
ou apenas revela esta face que já estava ali, mas em estado latente.
Daí enquanto caminhávamos, e depois, já parado, fiquei pensando
a que nível uma pessoa pode ser manipulada para chegar ao ponto de cometer uma atrocidade
dessas.
Meditando sobre a principal responsável por envenenar a
mente das pessoas, a grande líder ideológica deste descalabro, a figura
histórica mais emblemática da alienação brasileira, é inescapável chegar a rede
globo.
Quando Lênin, mais de cem anos atrás, disse que “os capitalistas
chamam liberdade de imprensa a compra dela pelos ricos, servindo-se da riqueza
para fabricar e falsificar a opinião pública”, ele resumia a história do
império midiático que a família Marinho viria montar.
Nestes momentos de conflito político as tomadas de posição
se evidenciam, e pra mim é cristalino a correção de minhas atitudes – não
bastasse todo o resto – por estar do lado contrário da Globo. É bom ter lado e
é essencial saber quem esta do seu lado.
E fiquei pensando mais algumas coisas sobre minha trajetória
política, e pude ver que nunca, em nem um mísero momento da minha vida eu
estive do mesmo lado da rede globo. A capitã do fascismo tupiniquim nunca
conseguiu me manipular, me manietar, me corromper, me envenenar, me
lobotomizar, me alienar. Nunca.
É o tipo de coisa da qual eu sequer posso ter orgulho –
posto que seria apenas uma cruel desonra, seria uma chaga irremediável em minha
moral se algum dia tivesse sido diferente.
Com a mácula de estar politicamente do mesmo lado da rede
globo eu não vou pro caixão. Podem escrever em pedra.
E deixo um aviso aos navegantes: se algum dia eu estiver
agindo diferente, que me deem um tiro na cabeça.
P.S.: Pode ser pelas costas.
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