A
trajetória do PTB (para quem não lembra, a sigla quer dizer Partido
Trabalhista Brasileiro), de Getúlio Vargas, seu fundador, a Roberto Jefferson,
atual dono da legenda, é emblemática da degradação do sistema
político-partidário no país.
Getúlio criou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)
na década de 40 do século passado, que acaba de ser desmontada em poucos meses
pelo governo Michel Temer, ao implantar na íntegra o projeto de reforma
apresentado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), sob a alegre batuta
do agora ex-ministro Ronaldo Nogueira, do PTB gaúcho (gaúcho como Vargas!),
indicado por Jefferson, que atendeu a todas as antigas reivindicações do
patronato para acabar com os sindicatos, a Justiça Trabalhista e os direitos
dos assalariados.
Ninguém sabia quem era Ronaldo Nogueira, que agora
voltará para o anonimato do baixo clero, mas seu nome será lembrado como o do
ministro do PTB que tentou revogar a Lei Áurea. Houve protestos até da ONU e
Temer foi obrigado a recuar daquela barbaridade que praticamente liberava o trabalho
escravo no Brasil.
Sob o pretexto de “modernizar a legislação
trabalhista” para criar mais empregos, Nogueira apresentou um balanço da sua
gestão na carta em que pediu demissão do cargo na quarta-feira.
“Saímos de um modelo de alta regulação estatal para
uma forma moderna de autocomposição dos conflitos trabalhistas, colocando o
Brasil ao lado das nações mais desenvolvidas do mundo”.
Que beleza, agora somos modernos! O que dirão disso
as “nações mais desenvolvidas”? A quem eles pensam que enganam?
Colocar os trabalhadores para defender seus
direitos em negociação direta com os patrões, sem a intermediação dos
sindicatos e do Estado, é mais ou menos como botar o meu São Paulo para jogar
de igual para igual com o Barcelona, no campo do Barcelona, num jogo sem juiz,
com os direitos de transmissão de TV negociados por Marin, Teixeira, Del Nero e
cia. bela.
Por ironia do destino, no mesmo dia, o ministro do
PTB, que será substituído por outro deputado do PTB, também indicado pelo
inefável Roberto Jefferson, foi obrigado a anunciar que em novembro o Brasil
teve mais demissões do que contratações, com um saldo negativo de 12,3 mil
vagas, justamente no mês em que foi implantada a nova legislação trabalhista.
Em lugar de mais empregos, mais demissões.
Nos primeiros 11 meses de 2017, o saldo foi
positivo em 299,6 mil vagas, bem longe do um milhão de novos empregos
repetidamente anunciados pelo presidente Temer e o ministro Meirelles em seus
discursos e na feérica e milionária campanha do governo “Agora, é avançar”
veiculada dia e noite nos meios de comunicação.
Avançar para onde? A propaganda oficial só não fala
que vivemos num país onde ainda há quase 13 milhões de desempregados e correm,
ou melhor, dormem no Supremo Tribunal Federal 12 ações diretas de
inconstitucionalidade contra a tal “Lei da Modernização Trabalhista”.
De mentira em mentira, de recuo em recuo, estão
criando um Brasil de fantasia nas fake news com carimbos oficiais embaladas na
propaganda pública e privada de que agora tudo vai melhorar.
Bem que poderia ser verdade nesta passagem de ano,
um tempo em que sempre há uma renovação de esperanças, mas os números insistem
em mostrar a realidade e os Maruns da vida nadam de braçada tirando um sarro da
nossa cara.
Se os fatos negam a propaganda, danem-se os fatos.
Vida que segue.
Comentário
Ainda
haveria muito a comentar, especialmente sobre a qualidade dos empregos que
foram criados este ano.
É
o engenheiro que trabalhava em um estaleiro, com conhecimento e valor de
mercado para um salário de dez mil reais, que virou motorista de uber, ganha
mil e duzentos reais, mas para o governo tem “emprego” da mesma forma que
antes.
Para
citar um caso que conheço pessoalmente, uma engenheira mecânica que trabalhava
prestando serviço a uma grande empresa, depois de ficar desempregada por meses,
para não ficar parada hoje trabalha em uma loja de colchões.
Todo
o investimento feito na formação desta pessoa (em universidade federal), toda a
experiência que ela possui como profissional qualificada, tudo foi para o lixo.
Estes
são os empregos que o desgoverno está comemorando.
Ademais,
nossa brilhante equipe econômica desconsidera a quantidade de jovens que está
chegando ao mercado a cada ano em relação aos aposentados que saem, ou seja,
gerar cerca de 300.000 empregos por ano é, proporcionalmente, aumentar a taxa
de desemprego.
Por
fim, ter Roberto Jefferson como presidente de partido é sintomático do estado (terminal)
da política brasileira.
Um comentário:
Gostei do exemplo SPFC x Barcelona...
É uma piada de mal gosto o discurso dos meios, querem mesmo que as pessoas acreditem que a "flexibilização" das leis trabalhistas favoreça a negociação entre empregados e empregadores como se fosse possível o trabalhador se autoempregar em uma empresa. Flexibilização só favorece quem tem esse poder.
Fora Temer!
#foratemer
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