Porque
Trump foi eleito? O mais improvável e despreparado Presidente dos EUA desde
Warren Harding, Presidente de 1921
a 1923, Donald Trump foi um choque e uma surpresa para o
mundo. Porque esse nó-cego foi eleito em um País com sólida experiência democrática e que
já teve padrões do nível de um Roosevelt, de um Eisenhower, de um Clinton?
A resposta é ao mesmo tempo simples e complexa.
Trump foi eleito por causa de uma profunda crise social que se desenrola nos
EUA, provocada pela globalização financeira inventada pelos próprios
americanos, sem medir suas históricas e terríveis consequências.
A globalização financeira ARRUINOU a até então
sólida classe média americana, símbolo, esteio e eixo central da democracia dos
Estados Unidos. Esse mesmo movimento vem desde 1994 arruinando a economia
brasileira, quando foi abandonado o PROJETO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA que deu
ao Brasil um crescimento médio de 7% ao ano entre 1950 e 1980, processo que
transformou o Brasil de uma grande fazenda de café em uma potência geopolítica
e econômica com defeitos, MAS com uma TRAJETÓRIA de desenvolvimento consistente
que construiu uma nação moderna e a 7ª economia mundial.
Voltemos aos EUA. Vou citar um caso emblemático que
conheço de perto. Um executivo americano casado com brasileira era gerente
sênior de uma importante empresa de serviços de informática em São Paulo. Fez
carreira na empresa, nela cresceu. Comprou terreno no Brooklin, bairro de São
Paulo, construiu uma bonita residência, dois carros e a esposa não precisava
trabalhar. Em 2007 sua superior em
São Paulo foi promovida e transferida para a matriz no Texas.
Convidou esse executivo para se transferir também para a matriz com promoção. O
rapaz vendeu a casa em São
Paulo e levou a esposa e dois filhos pequenos para morar nos
EUA, ele já como executivo na matriz. Dois anos depois a empresa foi adquirida por
outra maior, como é usual fizeram um corte de empregados e ele foi despedido.
Já com 46 anos não conseguiu novo emprego no seu
nível e teve que queimar todas suas economias para sobreviver desempregado.
Hoje ele faz faxina de avião, à noite, no aeroporto de Dallas. A esposa, que
nunca havia trabalhado, é caixa de supermercado. Evidentemente que os dois
constam nas estatísticas como empregados, mas com quais empregos?
Esse é um caso muito comum na economia americana do
grande coração do centro-oeste dos EUA. Esse meu conhecido foi eleitor fanático
de Trump, assim como milhões de outros nas mesmas condições, viram seu sonho de
vida desabar em nome da economia de mercado distorcida pelo desprezo do
bem comum para toda a sociedade em benefício de poucos.
A estatística oficial de desemprego nos EUA é
baixa, em torno de 4,4% MAS não reflete a real situação social. Um enorme
número de americanos teve REBAIXAMENTO DE RENDA, aceitando empregos de
sobrevivência abaixo de sua formação e experiência profissional.
Isso ocorreu nos outrora grandes Estados
industriais que se orgulhavam de sua indústria de marcas consagradas em
máquinas operatrizes, máquinas rodoviárias, motores de barcos, tratores, aço,
geradores, compressores, válvulas. Com a globalização desapareceu o coração
industrial de Illinois, Indiana, Michigan, Missouri, Kansas, Ohio, Wisconsin.
Eram empregos que pagavam bem, hoje não existem
mais esses empregos, o antigo ferramenteiro virou chapeiro de lanchonete,
ganhando um quarto do que ganhava.
Ao mesmo tempo aumentou brutalmente o número de
bilionários nos EUA, enquanto a classe média se desintegra. A globalização
financeira que faz de toda a economia um jogo infernal de fusões e aquisições é
responsável pelo processo. Essas fusões, cada uma, gera novos bilionários, mas
na sequência imediata dessas transações é o CORTE DE FOLHA para gerar caixa
para pagar a fusão. Ganham milhões de dólares de comissões os banqueiros de
investimento que fizeram a corretagem da transação. PERDEM no geral os
empregados de todos os níveis. É um processo INFERNAL que está destruindo a
economia mundial.
Os “gurus” neoliberais informam que se criaram
outros empregos no setor de alta tecnologia da Califórnia, mas a proporção é de
um emprego novo para cem perdidos na indústria.
Nos EUA de hoje sete milhões de americanos moram em
CARROS porque não podem pagar aluguel de uma casa, 23 milhões moram em
TRAILERS, casa-carro inventadas para viagens, mas não para moradias permanentes.
Os “foreclousures”, retomadas de casas financiadas por hipotecas já chegaram a
19 milhões desde 2008, pessoas perdem a casa porque não conseguiram pagar
prestações, as casas retomadas ficam fechadas e a venda mas poucos se
apresentam para comprá-las, há bairros inteiros que são “cemitérios de casas”,
essa é a louvada “economia de mercado” dos sonhos das Landau, dos Gustavo
Franco, da turma do INSPER, um pesadelo social irresolvido e que não se
resolverá no ciclo neoliberal infernal que querem transplantar para o Brasil,
um inferno para 4/5 da população, esse é o ninho de Trump, um falso remédio
para um problema real desse ciclo que está liquidando com o tecido social de
muitos países outrora com sociedades equilibradas e hoje cheios de moradores de
rua, drogados, pessoas que abandonaram qualquer ideia de futuro dentro da
sociedade.
O processo pode ser eficiente em termos de
microeconomia, a empresa ganha pela produtividade da maior escala, mas à custa
de despedir funcionários em
TODOS OS NÍVEIS.
É ABSOLUTAMENTE FALSO que essa “economia de
mercado” é algo saudável, não é e não resolverá crises sociais pelo mundo
afora, é um mito e uma quimera, NÃO FUNCIONA como modelo para países
civilizados, é uma IDEOLOGIA maligna pelos seus maus resultados.
O ganho microeconômico, no nível da empresa, não
significa ganho macroeconômico, em termos da sociedade como um todo. Na
degradação dos empregos perde a população porque cai sua renda, aumentam os
custos de saúde pela desagregação das famílias, depressão, alcoolismo, drogas,
tudo causado pela ruptura de estilos de vida e do tecido social. O País como um
todo PERDE e perde muito, jovens não conseguem o primeiro emprego e como os
pais perderam renda já não podem cursar universidade. É um desastre social
imenso, Trump é o remédio desesperado para uma crise real, é o remédio errado para
uma doença verdadeira, para esse enorme grupo de cidadãos que viu seus sonhos
rompidos por um processo autofágico, destrutivo e que a longo prazo significa
PERDA e não ganho para a economia.
Nos anos de ouro da economia americana, de 1945 a 1975, a Divisão Antitruste
do Departamento de Justiça bloqueava nove em cada dez fusões propostas, era o espírito
dos dois Presidentes Roosevelt, Theodore e Franklin, inimigos dos trustes e
cartéis.
Theodore Roosevelt mandou dividir em seis pedaços o
truste Rockefeller, era inimigo de toda concentração de capital que via como
maléfica ao povo dos EUA, isso fez dos EUA de 1900 a 1960 uma sociedade
equilibrada entre o capital e o trabalho, uma sociedade bem resolvida.
Hoje, por causa da globalização financeira, a
concentração passou a ser vista como essencial ao capitalismo, o que é apenas
uma crença ideológica propagada pela onda neoliberal de Friedrich von Hayek. Há
outras formas de organizar uma economia sem mega concentração de capital,
danosa a todos os países e benefício exclusivo aos financistas.
Trump não vai consertar a economia, ele é apenas o
produto de uma realidade que ele não irá mudar porque sequer tem consciência
real do problema, é um primitivo intelectual e pode até agravar a situação com
medidas erradas que não atacam o problema.
Mas a sua motivação por trás do “fechamento” da
economia americana ao globalismo vem de um instinto de que existe um problema
na globalização. Trump é um instintivo e captou a natureza do problema que
pretende enfrentar com ferramentas erradas.
Se ele tivesse consciência não teria permitido, ele
tem poderes legais para tanto, a compra da MONSANTO, empresa líder mundial de
pesquisa em agroquímica, pela BAYER alemã.
A MONSANTO era a maior empresa de Saint Louis,
cidade que conheço bem porque lá trabalhei nos anos 70, fico imaginando como
estão se sentindo seus cidadãos tendo agora como poder local uma empresa alemã
com cultura muito diferente.
O cheiro tóxico do desemprego paira no ar, uma
empresa comprada por outra é virada do avesso, nada fica igual e em pouco tempo
o novo dono muda a cara e a cultura de empresas que são como instituições
profundamente imbricadas na sociedade local.
Atitude muito diferente teve o governo britânico ao
impedir, porque qualquer governo pode impedir, a venda da UNILEVER, empresa
bicentenária e símbolo do capitalismo inglês para um grupo pirata constituído
pelos conhecidos brasileiros do grupo Lemann junto com o americano Warren
Buffet. O Governo britânico disse NÃO e ponto final, mostrou que é Governo e
não serviçal da finança internacional, não vai permitir que uma empresa de tal
importância nacional seja esquartejada por financistas apátridas, essa é uma
questão POLÍTICA e não econômica, é hora de todos os governos se uniram contra
a finança corsária apátrida.
Infelizmente essa consciência não chegou a outros
governos, inclusive o brasileiro, que vem permitindo a compra indiscriminada de
empresas brasileiras por estrangeiros, o que representa uma mega destruição de
valores culturais, relacionamentos e empregos.
Um exemplo claro é a ELETROPAULO que quando foi
privatizada tinha 27.000 empregados, que vestiam a camisa da empresa e tinham
orgulho de trabalhar nessa histórica companhia . O número de empregados era
compatível com seis milhões de consumidores, era a maior distribuidora de
energia elétrica do País.
Hoje essa empresa, controlada por um fundo
financeiro americano, opera com pouco mais de 3.000 empregados e quase tudo é
terceirizado, sem cara, sem alma, sem camisa, tudo é feito na base do
baixíssimo custo, sem investimentos, o único objetivo é mandar dividendos para
a matriz nos EUA, a empresa perdeu a alma, até mudou de São Paulo.
Ao contrário dos que apregoam os gurus neoliberais,
a globalização financeira não é um imperativo econômico, é um OPÇÃO IDEOLÓGICA
e sua aceitação ou não é uma questão política, não é uma onda inevitável. A
China, por exemplo, tira proveito da globalização, mas não se deixa manipular
por essa ideologia. Suas fronteiras são fechadíssimas para tudo que pode
prejudicar o emprego na China ou coloque em risco empresas chinesas. Banco
americano não entra na China, nem seguradoras, nem muita coisa que os
americanos se orgulham de exportar. Os chineses abrem e fecham as válvulas de
sua economia de acordo com seus interesses de Estado e não porque a
globalização é uma “onda inevitável”, os chineses estão vacinados com a
intromissão internacional desde quando estrangeiros retalharam a China em
pedaços no fim do século XIX, dopando seus cidadãos com ópio.
Trump é um remédio, pode ser um purgante, mas não
foi Trump quem criou o problema.
O ciclo infernal da globalização financeira, nome
da NOVA PESTE NEGRA que pode acabar de destruir o mundo, é o problema real,
Trump é apenas um efeito defensivo.
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